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COMENTÁRIO

Os transtornos de humor, entre eles a depressão, são enfermidades mentais altamente


prevalentes na população idosa. Contudo, apesar de sua importância e prevalência, muitas
vezes o transtorno depressivo no idoso acaba sendo subdiagnosticado ou, quando
diagnosticado, acaba sendo tratado de forma inadequada, visto que muitos pacientes
idosos são polifarmácia, o que gera receio de interações medicamentosas e acaba fazendo
com que alguns profissionais evitem chegar numa dose de medicação que seria adequada,
o que termina levando esse idoso a não receber um tratamento adequado.

Acresce que é importante sempre ressaltar, assim como foi discutido em sala de aula, que a
depressão ou a tristeza/sentimento de solidão, não são características que devem ser
consideradas normais do processo de envelhecimento e merecem a devida atenção, pois
comprometem de maneira significativa a qualidade de vida do paciente idoso, tendo
também um enorme impacto funcional, além de ser um fator de risco também para o
desenvolvimento de quadros demenciais.

Existem inúmeros fatores que podem atuar em conjunto e servirem como gatilhos para o
desenvolvimento do transtorno depressivo na população idosa. Assim, trata-se de um
processo multifatorial que pode ter relação tanto com fatores genéticos, como também com
eventos que ocorrem ao longo da vida do paciente idoso como o luto pela perda de entes
queridos, o abandono (muitos idosos acabam morando sozinhos), doenças incapacitantes
que geram dependência, isolamento social, entre outros. Ademais, a própria mudança de
papel social que muitas vezes é estigmatizada na população idosa pode ter um fator de
contribuição como gatilho para o desenvolvimento de um transtorno depressivo.

Todavia, apesar de muito comum, muitas vezes o transtorno depressivo no idoso acaba
sendo subdiagnosticado, entre outros motivos, pelo fato de em algumas situações ele se
apresentar de maneira atípica. Podem não preencher os critérios diagnósticos de depressão
do DSM-V. Por isso, no paciente idoso, é muito importante uma avaliação global, não só dos
aspectos do humor dele, mas também de aspectos comportamentais ou cognitivos e
possíveis sintomas somáticos, além da avaliação do impacto disso na funcionalidade, na
forma como se relaciona com as pessoas e na forma como vê a vida (sendo muito
importante ressaltar que a depressão aumenta a chance de suicídio entre os idosos).

Destarte, trazendo o tema para a avaliação da paciente entrevistada (R. M. C.) é importante
resgatar na história clínica dela o fato de ter perdido peso antes de ter sido diagnosticada
com a neoplasia, visto que a depressão é uma das principais causas de perda de peso
involuntária no idoso. Apesar dela ter justificado que foi à nutricionista, é importante avaliar
também a história pregressa, se já teve eventos anteriores onde perdeu muito peso ou se a
própria perda de peso mais recente, apesar da dieta, tem relação com o quadro depressivo
e com os traumas vivenciados. Além disso, ela relata insônia e precisa usar medicações
para conseguir dormir. Não tem conseguido participar de muitas atividades sociais como
participava na sua antiga cidade após ter se mudado, o que pode ser um fator de risco para
a sensação de solidão e para agravar um quadro depressivo no futuro.

Outro fator importante a ser observado e que serve de alerta é que a paciente alegou, ao
longo da entrevista, não ser adepta à psicoterapia que é um instrumento essencial no
tratamento, sendo importante orientá-la sobre o acompanhamento com um psicólogo,
ressaltando a importância de uma abordagem multidisciplinar, pois só medicações para
dormir ou antidepressivos não são suficientes, isoladamente, para tratar por completo essa
enfermidade, sendo fundamental também estimulá-la a retornar às atividades sociais e
buscar mais interação social, para diminuir o isolamento, além de atividades físicas
orientadas por profissional.

Por fim, podemos perceber que apesar de nos testes de rastreio para depressão usados
(Escala de Depressão geriátrica de Yesavage) ela ter pontuado pouco, a mesma alega
problemas para dormir e que muitas vezes é atacada por um quadro depressivo importante
e sentimento de solidão, sendo por isso importante não levarmos apenas em consideração
critérios objetivos para o diagnóstico da depressão no idoso, sendo importante sempre uma
avaliação ampla. Apesar disso e do susto quanto ao diagnóstico que recebeu, ela mostra
muito otimismo quanto ao seu quadro, muita vontade de viver e mostra-se muito grata.

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