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A MÚSICALIZAÇÃO COMO MEIO DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGOGICA NA

EDUCAÇÃO
Fabio Agnes da Paz
Curso de Pós Graduação em Psicopedagogia

Resumo
Este artigo apresenta a importância da música como ajuda cognitiva no processo de
ensino aprendizagem, que é o objetivo de estudo da Psicopedagogia, sua aplicação e seus
benefícios no desenvolvimento do indivíduo. A música com maior ou menor intensidade está
na vida do ser humano, ela desperta emoções e sentimentos de acordo com a capacidade de
percepção que ele possui para assimilar a mesma. O objetivo do artigo é mostrar que a música
não é somente uma associação de sons e palavras, mas sim, um rico instrumento que pode
fazer a diferença nas instituições de ensino, pois ela desperta o indivíduo para um mundo
prazeroso e satisfatório para a mente e para o corpo que facilita a aprendizagem e também a
socialização do mesmo.

Palavras-chave: Musicalização, Psicopedagogia, Educação, Música

Introdução
A Psicopedagogia, interessa a todo aquele que se dedica à Educação, na medida em
que possibilita uma análise das teorias relacionadas com as ações de aprender e ensinar,não
apenas no sentido da prática didático-pedagógica, mas no substrato epistemológico que delas
se origina para a formação do sujeito “aprendente”. Nutre-se de conhecimentos oriundos,
sobretudo da Epistemologia Genética, da Psicologia Social e da Psicanálise. A Educação
Musical utiliza os elementos sonoros para desenvolver a capacidade aural nos indivíduos.
Através do estudo de instrumentos, da gramática musical e da composição, é possível
desenvolver a criatividade e a coordenação motora, favorecer a socialização e estimular os
processos mentais de aprendizagem.

1 Psicopedagogia: descrição e abrangência de atuação

A Psicopedagogia é entendida como uma área de estudo relacionada à aprendizagem


escolar, tanto no que diz respeito ao seu desenvolvimento normal, quanto às dificuldades que
possam apresentar no percurso. Pode estar ou não ligada aos problemas de ordem neurológica,
auxiliando na identificação das dificuldades de aprendizagem e oferecendo opções de
intervenção, com o objetivo de que haja uma diminuição ou solução destes problemas,
evitando assim conseqüências indesejadas, como a multirrepetência, o fracasso escolar e a
evasão.

As intervenções psicopedagógicas têm um caráter multidisciplinar devido à


complexidade e diversidade dos problemas de aprendizagem, buscando conhecimento em
diversas outras áreas de conhecimento, principalmente, na psicologia e na pedagogia. Sua
proposta é integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de distintas ciências
humanas, visando adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao
aprender, segundo Beuclair (2004).

Para que os objetivos da intervenção psicopedagógica sejam cumpridos, é preciso que


todos os envolvidos com o processo de ensino-aprendizagem reflitam sobre a situação-
problema. E refletir sobre os problemas de aprendizagem consiste em procurar compreender a
forma como o aluno está utilizando os elementos do seu sistema cognitivo e emocional para
aprender. Significa também pensar as relações que se estabelecem entre o aluno e o
conhecimento, as quais são apresentadas pelo professor e pela escola.

A abrangência de atuação da Psicopedagogia é bem ampla e envolve, além do


ambiente escolar, oferecendo um atendimento individual ou grupal, os campos das empresas,
hospitais e pode estar presente em quaisquer instituições onde existam grupos de pessoas
reunidas necessitando superar as dificuldades de relacionamento, pois segundo Beuclair
(2010), a função de um psicopedagogo institucional é:

[...] fomentar e avaliar ações quanto à aprendizagem do indivíduo no contexto


grupal, facilitando a construção e o compartilhamento do conhecimento
coletivo, incentivando novas formas de relacionamentos, criando harmonia
entre gestores e colaboradores, podendo atuar junto ao profissional de RH,
assumindo um papel importante, avaliando e controlando a aprendizagem,
favorecendo a qualidade nos processos de recrutamento, seleção e
organização de pessoal, bem como, levantando o diagnóstico organizacional,
dando subsídios significativos e perfis específicos, estabelecendo princípios
didáticos aos treinamentos. É utilizar possibilidades criativas e eficazes
através da reflexão grupal e assim, conseguir, uma real transformação do
indivíduo, e isso é aprendizagem.
Apesar de ser ampla a abrangência de atuação da Psicopedagogia, o enfoque deste
trabalho será voltado exclusivamente para a área da aprendizagem escolar.

2 Música e sua relevância


Uma das expressões artísticas mais antigas da humanidade é a música. Através dela o
indivíduo pode se expressar, se comunicar e interagir com o mundo. Alvarez (2008), afirma
que:
Muitos filósofos dedicaram especial atenção à música em seus estudos e a
consideraram desde sempre uma parte importante da educação. Platão
afirmava que “o ritmo e a harmonia chegam a todas as áreas d’alma e toma
posse delas, outorgando graça ao corpo e mente que apenas se encontram em
quem tenha sido educado de forma correta.” Aristóteles também promoveu a
educação musical integral, pois estava convencido de que “alcançamos uma
certa qualidade de personalidade graças a ela”. Confúcio considerava que a
música exercia influência tanto pessoal como política: ‘O homem superior
pretende promover a música como meio de aperfeiçoamento da cultura
humana. Quando a música prevalecer e conduzir as pessoas para seus ideais e
aspirações, contemplaremos o panorama de uma grande nação’.

Como bem expôs Lyra (2009), “a música é uma arte rítmica, que se define por sua
progressão no espírito e, portanto, ocupa um lugar imaterial no tempo”. Existem registros
muito antigos de instrumentos musicais que foram feitos com o objetivo de imitar os sons da
natureza, dos pássaros, do trovão, do vento nas árvores e dos animais da floresta. Na Bíblia,
no Antigo Testamento, são citados alguns instrumentos musicais, já no primeiro livro, o de
Gênesis, no capítulo 4, como a harpa e a flauta.

Ouvir música pode provocar sensações, emoções, lembranças de momentos vividos e


sentimentos multiformes. Existem muitos estudos na área da musicoterapia que comprovam a
eficácia de seu efeito terapêutico na cura de várias doenças, pois a música interfere na saúde
física, mental e emocional do homem, podendo atuar melhorando o sono, o humor, atenuando
a ansiedade e o stress, que são males muito recorrentes neste conturbado século XXI.

Diante do poder da música e da relação que se tem direta ou indiretamente com ela,
fica clara a sua abrangência em todas as idades da vida humana, como afirma Gainza (1988,
p. 22-23): “A música e o som, enquanto energias estimulam o movimento interno e externo do
homem, impulsionam-no à ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas de
diferente qualidade e grau”.
A linguagem musical vem sendo apontada, por um número cada vez maior de
especialistas em todo o mundo, como uma das áreas do conhecimento mais importantes a
serem estudadas no desenvolvimento da criança, pois a aprendizagem musical contribui para
o desenvolvimento cognitivo, psicomotor, emocional e afetivo e, principalmente, para a
construção de valores pessoais e sociais de crianças, jovens e adultos, melhorando a agilidade
cognitiva, a capacidade de administrar informações em conflito e de escolher aquela que
melhor se aplica a cada situação.

O estudo de um instrumento musical, com a utilização da leitura de partituras,


desenvolve a memória, a concentração e, ao tocar, melhora o controle motor, a coordenação e
a expressividade emocional, podendo preparar o indivíduo para uma variedade de funções
perceptuais e executivas, levando a um melhor desempenho e competência cognitiva, segundo
Perret (2009).

A percepção da música, dos sons musicais e dos diversos timbres que existem, é
assimilada de forma bem individualizada, varia de pessoa para pessoa, pois cada um traz suas
próprias memórias e vivências, conforme afirma Gainza (1988):

Um objeto sonoro ou instrumento musical qualquer tende a penetrar no


campo auditivo dos sujeitos que se encontram dentro do seu raio de ação. As
diferentes pessoas, segundo sua idade, educação e estado psicofísico, reagirão
de maneira característica, mostrando menor ou maior atração ou apetite pelo
“alimento” sonoro que está ao seu alcance ou lhes é oferecido, realizando o
ato de absorção e internalização com diferentes graus de concentração,
continuidade e finura.

Entende-se que ampliar a compreensão da música enquanto tipo privilegiado de


linguagem no processo ensino-aprendizagem favorecerá o exercício da docência, bem como
auxiliará a atuação psicopedagógica, influenciando para uma melhora cognitiva do educando,
pois ao mexer com as emoções, torna a aprendizagem mais prazerosa e eficaz.

3 O que é Musicalização ?
Para Bréscia (2003) a musicalização é um processo de construção do conhecimento,
que tem como objetivo despertar e desenvolver o gosto musical, favorecendo o
desenvolvimento da sensibilidade, criatividade, senso rítmico, do prazer de ouvir música, da
imaginação, memória, concentração, atenção, auto-disciplina, do respeito ao próximo, da
socialização e afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de
movimentação.

As atividades de musicalização permitem que a criança conheça melhor a si mesma,


desenvolvendo sua noção de esquema corporal, e também permitem a comunicação com o
outro. Weigel (1988) e Barreto (2000) afirmam que atividades podem contribuir de maneira
indelével como reforço no desenvolvimento cognitivo/ lingüístico, psicomotor e sócio-afetivo
da criança, da seguinte forma:

Desenvolvimento cognitivo/ lingüístico: a fonte de conhecimento da criança são as


situações que ela tem oportunidade de experimentar em seu dia a dia. Dessa forma, quanto
maior a riqueza de estímulos que ela receber melhor será seu desenvolvimento intelectual.
Nesse sentido, as experiências rítmico musicais que permitem uma participação ativa (vendo,
ouvindo, tocando) favorecem o desenvolvimento dos sentidos das crianças. Ao trabalhar com
os sons ela desenvolve sua acuidade auditiva; ao acompanhar gestos ou dançar ela está
trabalhando a coordenação motora e a atenção; ao cantar ou imitar sons ela esta descobrindo
suas capacidades e estabelecendo relações com o ambiente em que vive.

Desenvolvimento psicomotor: as atividades musicais oferecem inúmeras


oportunidades para que a criança aprimore sua habilidade motora, aprenda a controlar seus
músculos e mova-se com desenvoltura. O ritmo tem um papel importante na formação e
equilíbrio do sistema nervoso. Isto porque toda expressão musical ativa age sobre a mente,
favorecendo a descarga emocional, a reação motora e aliviando as tensões. Qualquer
movimento adaptado a um ritmo é resultado de um conjunto completo (e complexo) de
atividades coordenadas. Por isso atividades como cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas,
pés, são experiências importantes para a criança, pois elas permitem que se desenvolva o
senso rítmico, a coordenação motora, fatores importantes também para o processo de
aquisição da leitura e da escrita.

Desenvolvimento sócio-afetivo: a criança aos poucos vai formando sua identidade,


percebendo-se diferente dos outros e ao mesmo tempo buscando integrar-se com os outros.
Nesse processo a auto-estima e a auto-realização desempenham um papel muito importante.
Através do desenvolvimento da auto-estima ela aprende a se aceitar como é, com suas
capacidades e limitações. As atividades musicais coletivas favorecem o desenvolvimento da
socialização, estimulando a compreensão, a participação e a cooperação. Dessa forma a
criança vai desenvolvendo o conceito de grupo. Além disso, ao expressar-se musicalmente em
atividades que lhe dêem prazer, ela demonstra seus sentimentos, libera suas emoções,
desenvolvendo um sentimento de segurança e auto-realização.

É importante salientar a importância de se desenvolver a escuta sensível e ativa nas


crianças. Mársico (1982) comenta que nos dias atuais as possibilidades de desenvolvimento
auditivo se tornam cada vez mais reduzidas, as principais causas são o predomínio dos
estímulos visuais sobre os auditivos e o excesso de ruídos com que estamos habituados a
conviver. Por isso, é fundamental fazer uso de atividades de musicalização que explorem o
universo sonoro, levando as crianças a ouvir com atenção, analisando, comparando os sons e
buscando identificar as diferentes fontes sonoras. Isso irá desenvolver sua capacidade
auditiva, exercitar a atenção, concentração e a capacidade de análise e seleção de sons.

O educador também pode gravar sons e pedir para que as crianças identifiquem cada
um, ou produzir sons sem que elas vejam os objetos utilizados e pedir para que elas os
identifiquem, ou descubram de que material é feito o objeto (metal, plástico, vidro, madeira)
ou como o som foi produzido (agitado, esfregado, rasgado, jogado no chão). Assim como são
de grande importância as atividades onde se busca localizar a fonte sonora e estabelecer a
distância em que o som foi produzido. Para isso o professor pode pedir para que as crianças
fiquem de olhos fechados e indiquem de onde veio o som produzido por ele. Posteriormente o
educador pode trabalhar os atributos do som: Altura, intensidade, duração e timbre.

Os atributos do som podem ser trabalhados por meio de comparação, diferenciando um


som agudo de um grave, forte de um fraco, ou longo de um curto. Mas é mais interessante o
uso de jogos musicais, como por exemplo, o Jogo do Grave e Agudo (baseado no Morto
Vivo, só que usa um som agudo para ficar em pé e um grave para abaixar, o som pode ser
produzido por um instrumento, por apitos com alturas diferentes ou pela voz). O jogo de
Esconde-Esconde onde as crianças escolhem um objeto a ser escondido, e uma delas se retira
da classe enquanto as outras escondem o objeto. A criança que saiu retorna para procurar o
objeto e as outras devem ajudá-la a encontrar produzindo sons com maior intensidade quando
estiver perto, e menor intensidade quando estiver longe. O som poderá ser produzido com a
boca, palmas, ou da forma que acharem melhor. Essa brincadeira leva a criança a controlar a
intensidade sonora e desenvolve a noção de espaço.
Para trabalhar a noção de duração o educador pode pedir para que as crianças desenhem o
som. Não é desenhar a fonte sonora, mas sim descrever a impressão que o som causou, se foi
demorado ou breve, ascendente ou descendente. Por fim, para se trabalhar o timbre o
educador pode pedir para que uma criança fique de costas para a turma enquanto estes cantam
uma canção, ao sinal do professor todos param de cantar e apenas uma criança continua, a que
estava de costas deve adivinhar quem continuou. Existem diversos outros jogos que podem
ser realizados.

Através dessas atividades o educador pode perceber quais os pontos fortes e fracos das
crianças, principalmente quanto à capacidade de memória auditiva, observação, discriminação
e reconhecimento dos sons, podendo assim vir a trabalhar melhor o que está defasado. Bréscia
(2003) ressalta que os jogos musicais podem ser de três tipos, correspondentes às fases do
desenvolvimento infantil:

a) Sensório-Motor (até os dois anos): São atividades que relacionam o som e o gesto. A
criança pode fazer gestos para produzir sons e expressar-se corporalmente para
representar o que ouve ou canta. Favorecem o desenvolvimento da motricidade.
b) Simbólico (a partir dos dois anos): Aqui se busca representar o significado da música,
o sentimento, a expressão. O som tem função de ilustração. Contribuem para o
desenvolvimento da linguagem.
c) Analítico ou de Regras (a partir dos quatro anos) : São jogos que envolvem a
estrutura da música, onde são necessárias a socialização e organização. Ela precisa
escutar a si mesma e aos outros, esperando sua vez de cantar ou tocar. Ajudam no
desenvolvimento do sentido de organização e disciplina.

A duração das atividades deve variar conforme a idade da criança, dependendo de sua
atenção e interesse. Além disso, vale lembrar que é preciso respeitar a forma de expressão de
cada um, mesmo que venha a parecer repetitivo ou sem sentido. É importante que a criança
sinta-se livre para se expressar e criar.

4 Intervenção psicopedagógica via música

A música é uma linguagem da arte que toca as emoções com simplicidade e eficácia,
sem que se tenha a necessidade de um estudo profundo, sabendo-se que todos conseguem
sentir e perceber seus efeitos, desde os indivíduos mais cultos aos mais iletrados. Assim, é
possível haver uma união entre esta linguagem da arte e a Psicopedagogia, objetivando uma
melhora no desempenho cognitivo em alunos que necessitam de intervenção psicopedagógica.

Numa intervenção psicopedagógica com a utilização da música, através do estudo de


um instrumento musical, deve-se ter grande cuidado com o que se espera do aluno em termos
musicais. Muitas vezes ele sofre com exigências descabidas de perfeição na execução de seus
instrumentos, tirando o próprio prazer que a música deve proporcionar ao intérprete.

Sobre tal questão, Gainza (1988, p. 101) admite: “O objetivo específico da educação
musical é musicalizar, ou seja, tornar um indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro,
promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical”.

Observa-se muitas vezes que algumas pessoas executam seus instrumentos


mecanicamente, sem que haja um envolvimento emocional com o que está sendo tocado,
numa preocupação única de simplesmente acertar as notas escritas na partitura. Professores de
música devem estimular a sensibilidade e percepção de seus alunos para que a música que
está sendo executada toque primeiro a sensibilidade deles, como um convite sonoro para que
penetrem no mundo dos sons, estimulando a imaginação, para que aqueles que a ouvirão
sintam a sensibilidade da interpretação musical e também sejam tocados por ela, pois, ainda
segundo Gainza (1988, p. 95):

Educar-se na música é crescer plenamente e com alegria. Desenvolver sem


dar alegria não é suficiente. Dar alegria sem desenvolver tampouco é educar.
Embora o aspecto do desenvolvimento propriamente dito encontre-se
associado principalmente ao conhecimento das técnicas pedagógicas, o
segundo aspecto, chame-se prazer, alegria, plenitude, participação ou
motivação, relaciona-se mais de perto com aquilo a que chamamos intuição
ou espírito pedagógico.

Uma intervenção psicopedagógica que tenha como ferramenta o estudo de um


instrumento musical deve ser criteriosa com relação ao professor de música que atuará como
mediador. É preciso que o psicopedagogo dê ciência a este professor do objetivo do estudo da
música para que todos possam atuar com o foco da melhora cognitiva do aluno, sem que haja
exigência de técnicas instrumentistas perfeitas, pois o objetivo é que este estudo do
instrumento seja algo que proporcione felicidade e paz, trazendo equilíbrio emocional e não
ansiedade na formação de um músico virtuoso que executa sua música de maneira perfeita.
5. Inteligência musical – de Howard Gardner

A teoria das inteligências múltiplas sugere que existe um conjunto de habilidades,


chamadas de inteligências, e que cada indivíduo as possui em grau e em combinações
diferentes. Segundo Gardner (1995, p. 21): “Uma inteligência implica na capacidade de
resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou
comunidade cultural”. São, a princípio, sete: inteligência musical, corporal-cinestésica,
lógico-matemática, lingüística, espacial, interpessoal e intrapessoal. A inteligência musical é
caracterizada pela habilidade para reconhecer sons e ritmos, gosto em cantar ou tocar um
instrumento musical.

Gardner (1995) destaca ainda que as inteligências são parte da herança genética
humana, todas se manifestam em algum grau em todas as crianças, independente da educação
ou apoio cultural. Assim, todo ser humano possui certas capacidades essenciais em cada uma
das inteligências, mas, mesmo que um indivíduo possua grande potencial biológico para
determinada habilidade, ele precisa de oportunidades para explorar e desenvolvê-la. “Em
resumo, a cultura circundante desempenha um papel predominante na determinação do grau
em que o potencial intelectual de um indivíduo é realizado” (GARDNER, 1995, p, 47). Sendo
assim, a escola deve respeitar as habilidades de cada um, e também propiciar o contato com
atividades que trabalhem as outras inteligências, mesmo porque, segundo o autor, todas as
atividades que realizamos utilizam mais do que uma inteligência.

Ao considerar as diferentes habilidades, a escola está dando oportunidade para que o


aluno se destaque em pelo menos uma delas, ao contrário do que acontece quando se
privilegiam apenas as capacidades lógico-matemática e lingüística. Além disso, na avaliação é
preciso considerar a forma de expressão em que a criança melhor se adapte.

Campbell e Dickinson (2000, p.147) ao comentarem sobre a inteligência musical,


resumem os motivos pelos quais ela deve ser valorizada na escola:
a) Conhecer música é importante.
b) A música transmite nossa herança cultural. É tão importante conhecer Beethoven e
Louis Armstrong quanto conhecer Newton e Einstein.
c) A música é uma aptidão inerente a todas as pessoas e merece ser desenvolvida.
d) A música é criativa e auto-expressiva, permitindo a expressão de nossos pensamentos
e sentimentos mais nobres.
e) A música ensina os alunos sobre seus relacionamentos com os outros, tanto em sua
própria cultura quanto em culturas estrangeiras.
f) A música oferece aos alunos rotas de sucesso que eles podem não encontrar em parte
alguma do currículo.
g) A música melhora a aprendizagem de todas as matérias.
h) A música ajuda os alunos a aprenderem que nem tudo na vida é quantificável.
i) A música exalta o espírito humano.

Considerações Finais

Evidenciou-se através deste estudo que as diversas áreas do conhecimento podem ser
estimuladas com a prática da musicalização. De acordo com esta perspectiva, a música é
concebida como um universo que conjuga expressão de sentimentos, idéias, valores culturais
e facilita a comunicação do indivíduo consigo mesmo e com o meio em que vive. Ao atender
diferentes aspectos do desenvolvimento humano: físico, mental, social, emocional e espiritual,
a música pode ser considerada um agente facilitador do processo educacional, e auxilia os
alunos com dificuldades de aprendizagem, que é o objetivo deste estudo. Nesse sentido faz-se
necessária a sensibilização dos educadores para despertar a conscientização quanto às
possibilidades da música para favorecer o bem-estar e o crescimento das potencialidades dos
alunos, pois ela fala diretamente ao corpo, à mente e às emoções.

A presença da música na educação auxilia a percepção, estimula a memória e a


inteligência, relacionando-se ainda com habilidades lingüísticas e lógico-matemáticas ao
desenvolver procedimentos que ajudam o educando a se reconhecer e a se orientar melhor no
mundo. Além disso, a música também vem sendo utilizada como fator de bem estar no
trabalho e em diversas atividades terapêuticas, como elemento auxiliar na manutenção e
recuperação da saúde.

As atividades de musicalização também favorecem a inclusão de crianças portadoras


de necessidades especiais. Pelo seu caráter lúdico e de livre expressão, não apresentam
pressões nem cobranças de resultados, são uma forma de aliviar e relaxar a criança,
auxiliando na desinibição, contribuindo para o envolvimento social, despertando noções de
respeito e consideração pelo outro, e abrindo espaço para outras aprendizagens.

A música harmoniza o homem, conduzindo-o a padrões mais saudáveis de


pensamento, sentimento e ação. Portanto, o estudo musical constitui-se importante ferramenta
na intervenção psicopedagógica, podendo ser utilizado no auxílio a indivíduos com
dificuldades de aprendizagem, especialmente as relacionadas à cognição, como as de
concentração e memorização.

Referências:
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BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva.
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