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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO


FEDERAL DE RONDÔNIA
CAMPUS PORTO VELHO ZONA NORTE
PÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E
TECNOLÓGICA

Trabalho de Conclusão de Curso

PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Aluna(o): Yasmim Prata Villar Marcelino1


Orientadora: Raquel Furtunato Da Silva2
Polo: Porto Velho Zona Norte

1. Eixo Tecnológico: Turismo, Hospitalidade e Lazer


2. Curso Técnico: Guia de turismo
3. Disciplina: História de Rondônia
4. Tema: Além dos trilhos e cemitérios: uma proposta decolonial para a formação técnica
e pedagógica do discente que cursa o Ensino Técnico em Guia de Turismo em Porto
Velho/RO.

5. Objetivo:
 Objetivo Geral: Estabelecer um diálogo sobre o conceito de decolonialidade, na
disciplina de História e Cultura Regional prevista no Curso Técnico em Guia de
Turismo, para os discentes relacionando os aspectos técnicos da futura profissão ao

1
Mestranda em História da Amazônia pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e graduada em
Licenciatura em História. Currículo Lattes: Disponível em: http://lattes.cnpq.br/1817851784497505. Acesso em:
13 out. 2023.
2
Pedagoga pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e Mestra em Educação pela Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT). Currículo Lattes: Disponível em: http://lattes.cnpq.br/0804161905152343. Acesso em: 13
out. 2023.

1
modo de apresentar e perceber a história regional à população e aos turistas.

 Objetivos Específicos:
 Visitar os pontos turísticos da cidade de Porto Velho e apresentar outros
lugares considerados importantes para pensar a história local sob a perspectiva
decolonial;
 Registrar por meio de fotografias e vídeos os lugares visitados;
 Socializar a experiência com a coletividade sobre a história local e os patrimônios
considerados históricos, bem como aqueles que ainda não foram “consagrados” como
patrimônio histórico cultural, e ainda, elaborar um texto sobre esse momento;

6. Motivação/Justificativa:

O presente projeto de intervenção pedagógica justifica-se pela necessidade de dialogar


e apresentar a história regional, sob a perspectiva teórica decolonial, aos discentes do Curso
Técnico em Guia de Turismo, tendo em vista que é necessário valorizar a história e a cultura
local e enfrentar as injustiças históricas e narrativas que foram apagadas.
O Curso Técnico em Guia de Turismo é ofertado pelo Instituto Estadual de
Desenvolvimento da Educação Profissional de Rondônia (IDEP)3. A última turma foi aberta
no ano de 2023 no final do mês de março. Os estudantes são matriculados a partir do 1º ano
do Ensino Médio ou precisam ter concluído o Ensino Médio, com as aulas ministradas na
modalidade presencial. O respectivo curso apresenta a carga horária de 800 horas, e é
oferecido no período vespertino a partir das 13h30 às 17h30. O curso tem duração de 12
meses e o critério de seleção do candidato é por ordem de inscrição, porém só garante o
acesso à vaga quem cumprir com todos os requisitos para o ingresso.
Os futuros guias turísticos terão como responsabilidade planejar e organizar a
execução de roteiros e itinerários turísticos, além de conduzir as visitas e prestar informações
turísticas do contexto local, regional e nacional (CNCT, 2008) 4. Nesta perspectiva, a
disciplina História de Rondônia está presente no currículo do Curso Técnico que nos
possibilita sistematizar e pensar de forma crítica sobre a dificuldade que existe no cenário

3
Curso Técnico em Guia de Turismo – IDEP. Disponível em: Educação Profissional - CURSOS TÉCNICOS
PRESENCIAIS - Inscrições até 17/03 - Porto Velho - Governo do Estado de Rondônia - Governo do Estado de
Rondônia (rondonia.ro.gov.br). Acesso em: 01 out. 2023
4
Catálogo Nacional de Cursos Técnicos – CNCT. Disponível em: Catálogo Nacional de Cursos Técnicos |
CNCT (mec.gov.br). Acesso em: 01out. 2023

2
educacional de Porto Velho, no sentido de dialogar sobre a temática.
Nas escolas de educação básica o ensino de História de Rondônia está defasado em
todos os segmentos. No Ensino Médio, o objetivo dos estudantes é ser aprovado no Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM). No ENEM o conhecimento de História de Rondônia não
é destacado, mesmo nos vestibulares das universidades privadas e públicas da região. Tal fato
ocorre porque o assunto é pouco visto e cobrado em sala de aula. Prova disso é que a
prioridade de ensino da Secretaria de Educação do Estado de Rondônia é com as disciplinas
de Português e Matemática, como demonstra os dados do Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB)5.
Os diálogos articulados dentro das Universidades têm como os principais referênciais
teóricos, professores/pesquisadores titulares da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), o
Dante Ribeiro da Fonseca e o Marco Antônio Domingues Teixeira que publicaram um livro
juntos sob o título “História Regional: Rondônia”6, e vale a pena acrescentar o livro “A nossa
História Rondônia7, a obra foi escrita pelo professor Walfredo Tadeu Vieira da Silva 8 que atua
como docente de História na Escola Estadual João Bento da Costa no município de Porto
Velho.
Neste sentido, considera-se que mesmo havendo pesquisadores que dedicam a sua
escrita acadêmica a pesquisar a História de Rondônia, ainda sim a produção é escassa. Logo, a
socialização desse conhecimento, produzido para a comunidade local, não é compartilhado
em sua totalidade. O que resulta em um conhecimento raso sobre a história local e a
dificuldade em construir uma consciência histórica capaz de compreender as tensões do
processo historiográfico do Estado de Rondônia.
Se perguntarmos a alguma pessoa natural do estado sobre o que ela conhece da
História de Rondônia, ela possivelmente apontará os principais pontos turísticos da cidade de
Porto Velho, como a Estrada de Ferro Madeira Mamoré9, o Museu Ferroviário Madeira

5
Disponível em: http://pactopelaaprendizagem.seduc.ro.gov.br/ideb. Acesso em: 1 out. 2023
6
TEIXEIRA, Marco Antônio Domingues; FONSECA, Dante Ribeiro da. História regional: Rondônia. 4. ed.
Porto Velho: Rondônia, 2003.
7
SILVA, Walfredo Tadeu Vieira da. A Nossa História Rondônia. Editora: Mundial Gráfica, 2011.
8
Walfredo Tadeu Vieira da Silva nasceu em Porto Velho, casou-se, formou-se em História pela Universidade
Federal de Rondônia – UNIR e é Pós-Graduou em História do Brasil e Metodologia do Ensino Superior.
Disponível: Professor da capital lança livro sobre História de Rondônia - Municípios - Gente de Opinião
(gentedeopiniao.com.br) . Acesso em: 12 out.2023.
9
A Estrada de Ferro Madeira Mamoré conhecida popularmente por Ferrovia do Diabo é construída a partir do
Tratado de Petrópolis assinado em 1913 pelo Brasil e Bolívia, que vendeu o território do Acre pertencente a
Bolívia para o Brasil. A ideia era promover o progresso. As obras foram iniciadas em 1907 e finalizada em 1912,
mas o empreendimento não logrou êxito. A construção da ferrovia tinha como finalidade aumentar a produção da
colheita da borracha devido ao alto culto da matéria-prima no mercado mundial. Disponível em: Madeira
Mamoré, a ferrovia do Diabo | Biblioteca Nacional (bn.gov.br) . Acesso em: 13 out. 2023.

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Mamoré10, o Palácio Presidente Getúlio Vargas11 e a Catedral Sagrado Coração de Jesus. Mas
ela não conseguirá explicar o aspecto histórico que a consagra como um patrimônio histórico
cultural valoroso para os portovelhense.
O objetivo é ampliar a discussão e apresentar outros lugares e narrativas sobre a
formação e constituição desse território no campo historiográfico a partir de outras vozes e
olhares.

7. Fundamentação Teórica:

Quando se fala da História de Rondônia docentes/pesquisadores da região partem da


história da economia, da hidrografia e de outros eventos que culminaram na criação da
capital, Porto Velho. Por este ângulo, é possível listar uma série desses eventos, como por
exemplo, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré (1907-1972), o Ciclo da Borracha (1879-1945),
a criação do Território do Guaporé (1943) e a abertura da rodovia BR-364 (1961).
Esses eventos são resultados de um processo histórico marcado por tensões e relações
de poder estabelecidas por diferentes sujeitos sociais que contribuíram para narrar à escrita da
história local e ao mesmo tempo formar a consciência histórica da população rondoniense.
Na perspectiva de Ferreira e Oliveira (2019) dificilmente a história local será objeto de
estudo nos livros didáticos, visto que o livro didático é considerado uma ferramenta didática
relevante para a mediação da reflexão teórica e da escrita, mas não a única. É preciso saber
usar e articular o livro didático com o planejamento da aula. Seguindo esta lógica, implica
lembrá-los que a história local não necessariamente seja a história do Estado de Rondônia, ela
pode ser da cidade, ou, da capital que é produzida a partir do lugar social que as pessoas estão
inseridas.
Sobre a consciência histórica devemos pensar que é tudo aquilo que o ser humano
aprendeu ao longo do tempo sobre o seu lugar de pertencimento. É uma narrativa construída
com base na única história dando lugar ao eurocentrismo, a racionalidade, sem dar destaque

10
O Museu Ferroviário Madeira Mamoré reúne objetos da “Ferrovia do Diabo” que foi construída no início do
século XX. O tombamento Estadual da Ferrovia Madeira Mamoré reconhecida como patrimônio se deu em 28 de
setembro de 1989. O tombamento da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré como Patrimônio Cultural Brasileiro foi
homologado pelo Iphan em 28 de dezembro de 2006, através da portaria 108. Disponível em:[AQUI
(univap.br) . Acesso em: 13 out. 2023.
11
O Palácio Presidente Getúlio Vargas foi inaugurado em janeiro de 1954 e é considerado um dos prédios mais
imponentes do estado. O palácio foi a sede administrativa de todos os governadores do Território de Rondônia
até ano de 2015. Atualmente o prédio abriga o Museu da Memória Rondoniense. O espaço é dedicado para
narrar as histórias dos governadores, expor peças arqueológicas, obras de Artes, fotografias, jornais, livros e
compõe o Centro de documentação histórica de Rondônia. Disponível em: SEMDESTUR - Secretaria
Municipal de Indústria, Comércio, Turismo e Trabalho (portovelho.ro.gov.br). Acesso em: 13 out. 2023.

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ou mérito aos que realmente doaram suas vidas à construção do Estado de Rondônia
(MARTINS, 2019). A consciência histórica está atrelada ao âmbito da memória, que pode ser
individual, coletiva, de lutas, de relatos ao decorrer da jornada da vida, a memória é uma
ferramenta do conhecimento (GIL, 2019).
Diante do que já foi posto, é imprescindível retomar que a ideia central consista em
desenvolver um projeto de intervenção pedagógica, tendo como base o diálogo proposto pelo
pensamento decolonial. O decolonial é a luta contínua, não apagando o que já foi dito, mas
abordando sobre o que foi feito e não dito (FONSENCA; VIANA, 2020).
Em Porto Velho-RO há diversos memorialistas como Yêdda Pinheiro Borzacov 12,
Amizael Gomes da Silva13, Anísio Gorayeb Filho14 e entre outros que dão inteligibilidade à
escrita da história da capital, mas sob uma perspectiva do seu lugar social. Há memórias que
não são contadas por esses sujeitos que narram ou escrevem a história e que são silenciadas
por diferentes grupos.
Por isso, há a preocupação em dialogar e fazer reflexões sobre a história local com os
alunos do Curso Técnico em Turismo, para que esses futuros profissionais ampliem o senso
crítico em torno do seu objeto de trabalho uma vez que movimenta a economia da cidade e do
estado, pois é o seu conhecimento sobre o campo histórico, patrimonial, gastronômico e
político da região (CANANI, 1999).
Desse modo o profissional Guia de Turismo precisa obrigatoriamente ter
conhecimento histórico, geográfico, econômico e boa oratória, além de estar devidamente
cadastrado no Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) 15 e “exercer as atividades de
acompanhar, orientar e transmitir informações a pessoa ou grupos, em visitas, excursões
urbanas, municipais, estaduais, interestaduais, internacionais ou especializadas” (BRASIL,
1993, Art.2º).
A profissão de Guia de Turismo é regulamentada pela Lei n. 8.623, de 28 de janeiro de
12
Nascida em 1939 em Porto Velho – RO, Yeda Pinheiro Borzacov é considerada uma das principais referências
quando é falado da História de Porto Velho. Ela é Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de
Rondônia – UNIR. Atualmente ainda preside o Memorial Governador Jorge Teixeira e publicou vários livros
sobre o Estado de Rondônia. Disponível em: Personalidade: Yeda Pinheiro Borzacov (alorondonia.com.br).
Acesso em: 11 out. 2023.
13
O professor Amizael nasceu em 25 de abril de 1941.Ele é maranhense mais radicou-se em Rondônia no início
da década de 1950, época que o Território Federal de Guaporé vivia seus melhores momentos econômicos como
o Ciclo do Diamante. Amizael faleceu no dia 05 de março de 2003 aos 62 anos de idade. Ele atuou na política e
tornou-se um importante historiador sobre a formação histórica do Estado de Rondônia. Disponível em:
AMIZAEL GOMES DA SILVA – Brasil – Poesia dos Brasis – Maranhão – Rondônia -
www.antoniomiranda.com.br . Acesso em: 11 out. 2023.
14
Foi historiador, economista e memorialista. Anysio Gorayeb faleceu no ano de 2021 aos 66 anos de idade em
decorrência da Covid -19. Disponível em: Nota de pesar: Anísio Gorayeb - OAB Rondônia (oab-ro.org.br).
Acesso em: 12 out. 2023.
15
Embratur. Disponível em: Embratur. Acesso em: 12 out. 2023.

5
199316, e Decreto 946, de 1 de outubro de 199317.Na cidade de Porto Velho/RO não é
realizado concurso público para essa profissão o que demonstra um certo descaso com a
cultura por parte do Estado. São realizados processos seletivos entre o setor privado e público
para a contratação desse profissional. Para a prestação de serviços ao setor de turismo é
preciso que a pessoa física ou jurídica se cadastre no (Cadastur) de forma online. As pessoas,
que atuam como Guia Turístico em Porto Velho/RO, não tem especialização acerca do
assunto, em sua maioria. Diante da falta do profissional qualificado é que surge a necessidade
em ofertar o Curso Técnico em Guia de Turismo no Estado pelo Instituto Estadual de
Desenvolvimento da Educação Profissional (IDEP).
Diante do exposto, é necessário pensar o patrimônio histórico que é composto por
todos os bens materiais ou naturais que foram construídos ou preservados ao longo do tempo.
O patrimônio tem forte ligação com a cultura e a identidade local, além de possuir elementos
essenciais para entender como aquela sociedade se desenvolveu, sendo também um
instrumento de pesquisa. Nesse projeto de intervenção pedagógica, será dado o destaque a
alguns patrimônios históricos “consagrados” e “não consagrados” a fim de que seja definido
um diálogo sob outros olhares e vozes na perspectiva decolonial.
Em site oficial18 é publicizado que o Museu Memória Rondoniense – MERO - não é
tombado em nenhuma das três esferas do poder público. Entretanto, se foi tombado
municipalmente, não há um registro no livro de tombos, pois não está disponível para
consulta.
O Museu Memória Rondoniense – situado no Palácio Getúlio Vargas e conhecido
como MERO19 - foi fundado anteriormente ao próprio prédio da antiga sede do Poder
Executivo Estadual (OLIVEIRA, 2021). De acordo com a memorialista, Yêdda Pinheiro
Borzacov (2007) o museu foi criado pelo Decreto de nº 427 de 12 de novembro de 1964. A
maior parte do acervo foi doada pelo médico, Ary Tupinambá Penna Pinheiro20, o museu foi
16
Lei n. 8.623, de 28 de janeiro de 1993 – Regulamenta a profissão de Guia de Turismo. Disponível em: Lei
8623 (planalto.gov.br). Acesso em: 12 out. 2023.
17
Decreto 946, de 1 de outubro de 1993. Disponível em: D 946 (planalto.gov.br) . Acesso em: 12 out. 2023.
18
Site da Prefeitura de Porto Velho. Disponível em:
https://sempog.portovelho.ro.gov.br/artigo/25481/prefeitura-de-porto-velho-visita-o-museu-palacio-da-memoria-
ron doniense-para-consulta-ao-tombamento-do-patrimonio-historico-do-municipio. Acessado em 11 set. 2023.
19
Patrimônios Históricos de Porto Velho: Veja curiosidades sobre o Palácio Getúlio Vargas. Disponível
em: https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2019/08/17/patrimonios-historicos-de-porto-velho-veja-curiosidades-
sobre- o-palacio-getulio-vargas.ghtml. Acesso em 11 set. 2023.
20
Ary Tupinambá paraense de Bragança faleceu no dia 20 de junho de 1993. Ele foi Bacharel em Ciências
Físicas e Naturais, recém-formado pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, o mais lendário médico de
Rondônia chegou a Porto Velho em 12 de maio de 1937. Por mais de meio século foi o médico cirurgião que
mais operava. Além do seu vasto conhecimento na área médica, dedicava-se aos estudos da antropologia,
zoologia e botânica. Ary Tupinambá é pai de Yedda Borzacov. Disponível em: Comunicação - História de
Rondônia: conheça o médico Ary Pinheiro, que atendia pacientes em casa, não cobrava consultas e recebia carne

6
inaugurado em 05 de maio de 1965 no aniversário do Marechal Cândido Rondon.
O que muita gente não sabe - inclusive a própria população - é que o museu não é
tombado como patrimônio, e possivelmente este desconhecimento provém de um
silenciamento social. Segundo Candido (2009) antes de tornar-se museu e também Palácio,
nas barrancas onde se encontra o Museu Memória Rondoniense, existia uma igreja católica
que foi destruída por um grande ciclone tropical em 02 de outubro de 1917. Fontes
iconográficas provam esse evento, pois mostram as ruínas da igreja, como bem descrevem os
autores Antônio Cândido21e Mário de Andrade22 ao destacarem esse momento.
O Jornal Alto Madeira de 191423 reforça que a única igreja construída para os fiéis
católicos era a Capela Santo Antônio do Madeira24, porém, para os cidadãos portovelhenses a
estrada era longa. No entanto, houve diversas tentativas de criar-se uma igreja na cidade, a
primeira que deu certo foi a Catedral Sagrado Coração de Jesus25 criada em 1927.
Outro patrimônio que é pouco citado ou referenciado pelos teóricos é o Cemitério dos
Inocentes26. Em pesquisas recentes, realizadas pelo Sebrae em parceria com a Secretaria de
Indústria e Comércio, Turismo e Trabalho – SEMDESTUR, não mencionam o Cemitério dos
Inocentes como patrimônio histórico tombado do estado de Rondônia, ou seja não dão a
visibilidade que merece no campo histórico e cultural em seu projeto – O melhor de PVH –
Terra de bravos pioneiros.
A princípio, Borzacov (2007) enfatiza que o cemitério dos Inocentes foi tombado pela
Lei nº 265, 26 de dezembro de 1984. Entretanto, segundo os sites oficiais do Estado de

de caça como gratidão - Governo do Estado de Rondônia - Governo do Estado de Rondônia (rondonia.ro.gov.br).
Acesso em:11 out. 2023.
21
Disponível em: https://www.gentedeopiniao.com.br/colunista/antonio-candido/grilaram-a-praca-padre-joao-
nicoletti. Acesso em: 01 out. 2023.
22
Em seu livro o “ Turista Aprendiz”, Mário de Andrade, ressalta sobre Porto Velho no tempo da Estrada de
Ferro Madeira Mamoré. Disponível em: O_turista_aprendiz.pdf (iphan.gov.br). Acesso em: 12 out. 2023.
23
Alto Madeira – Jornal Independente. Notas e Informações. Alto Madeira – Jornal Independent. Porto Velho,
02 ago. 1914Disponível em: Alto Madeira (RO) - 1917 a 1989 - DocReader Web (bn.br). Acesso em 11 out.
2013.
24
Capela do Santo Antônio reconhecida como patrimônio histórico. O seu decreto de tombamento é: Decreto
nº 3125, 03 de dezembro de 1986. Disponível em: Porto Velho – Capela de Santo Antônio de Pádua |
ipatrimônio (ipatrimonio.org) . Acesso em: 11 out. 2023.
25
A Catedral Sagrado Coração de Jesus é considerada um marco arquitetônico (românica) no município de Porto
velho. O prédio está localizado na rua Dom Pedro II, no Bairro Caiari. No ano de 1927 inicia a sua construção na
capital portovelhense. Disponível em: Edificações e Monumentos Históricos de Rondônia - Aleks Palitot.
Acesso em: 12 out. 2023.
26
O Cemitério dos Inocentes é tombado pela Lei Municipal de nº 71, de 21 de novembro de 1985 e Artigo nº 264
da Constituição Estadual de Rondônia de 1989. Esse cemitério é um dos mais antigos da cidade de Porto Velho –
RO, construído em 24 de janeiro de 1915 no bairro Mocambo. Como os primeiros corpos enterrados naquele
espaço teriam sido de duas crianças gêmeas o local ganhou nome de Cemitério dos Inocentes. No cemitério estão
sepultados em torno de 35 mil pessoas em jazidos ou gavetas, grandes nomes importantes da sociedade local
estão sepultados ali. O Ary Tupinambá, Joaquim Vespasiano Ramos, Miguel Chakian, e dentre outros.
Disponível em: Porto Velho – Cemitério dos Inocentes | ipatrimônio (ipatrimonio.org) . Acesso em: 11 out. 2023.

7
Rondônia e da capital27 a criação do cemitério foi feita pelo Major Guapindaia. Na época,
Major Guapindaia, militar reformado do Exército Brasileiro, teria prometido que o nome da
primeira pessoa a ser sepultada ali, também seria o nome do local. Como os primeiros corpos
enterrados naquele espaço teriam sido de duas crianças gêmeas, o local ganhou o nome de
Cemitério dos Inocentes. Partindo desse princípio, não seria exagero afirmar que há uma
inconsistência de informaçãoes e datações a respeito do ano de tombamento do cemitério,
pois essa falta de transparência mobiliza uma série de questões em torno do apagamento
histórico do patrimônio em questão.
De acordo com a tese da Profa. Doutora Mara Genecy Centeno Nogueira (2016) 28,
essa informação está equivocada. Na visão desta autora, o cemitério dos Inocentes criou-se a
partir da mãe de santo Dona Esperança Rita, uma mulher, mãe de santo de uma religião de
matriz africana e criadora do Terreiro Santa Bárbara da capital. Pimentel (2013) destaca que
Dona Rita chegou a Porto Velho junto com seu marido para trabalhar na Estrada de Ferro
Madeira Mamoré no ano de 1911, ela era filha de Iansã.
Antes de ser criado o cemitério dos Inocentes, é preciso trazer à baila outro
monumento histórico de Rondônia que é a Madeira Mamoré a fim de aprofundar o
conhecimento histórico regional. Para trabalhar na Estrada de Ferro, foram despachados
diversos indivíduos: mulheres prostitutas e deserdados para Santo Antônio do Madeira. A
cadeia de Santo Antônio era muito próxima ao rio, muitos morreram afogados e levados pela
correnteza, pois tentavam fugir pela precariedade do local (TEXEIRA, 2020).
Outra curiosidade que não é muito comentada se refere aos marinheiros desonrados da
Revolta da Chibata e despachados para Santo Antônio. Ao chegarem, eles foram instalados na
prisão, e não apenas isso, com eles, vieram muitas prostitutas para serem vendidas nos
seringais. Dona Esperança Rita, que era uma mulher de proeminência social, foi buscar e
acolher as mulheres que seriam vendidas no seringal sem clemência da sociedade e dos
representantes políticos locais, pois a ignorância que permeia até mesmo nos dias de hoje,
faziam com que as pessoas da cidade tivessem receio e medo dela por conta de sua religião de
matriz africana. Várias lavadeiras vieram acompanhar a Dona Esperança Rita e
posteriormente mães de santo fundadoras do bairro Triângulo (FERREIRA, 2023).
A Dona Esperança com a sua cultura Maranhense e de matriz africana enterrou
crianças gêmeas no local do cemitério, colocando o nome de cemitério dos Inocentes. A

27
Cemitério dos Inocentes. Disponível em: Prefeitura de Porto Velho. Acesso em: 11 out. 2023.
28
NOGUEIRA, Mara Genecy Centeno. Entre Categas e Mundiças: os primeiros cemitérios oficializados de
Porto Velho (RO). Revista M. Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.413-442, 2016. Disponível em: 8139-Texto do Artigo-
38934-1-10-20180927 (1).pdf. Acesso em: 12 out. 2023.

8
questão é que para delimitar o espaço, sendo filha de Iansã, plantou no terreno pés de
mangueiras16, pois não havia muro. Então, toda narrativa da qual não é explorada e ressaltada
sobre o cemitério dos Inocentes dizem que foi o Major Guapindaia que o criou.
Outro elemento importante a se ressaltar é sobre os campos de concentração. O Doutor
29
e Professor Marco Antônio Domingues Teixeira (2020) expõe que a Arigolândia era um
bairro de jovens nordestinos com o destino de ir para os seringais na Amazônia. Na década de
1940, esses jovens eram conduzidos por policiais armados para seu alojamento, que, também
com as palavras do professor Abnael Machado denomina o espaço como “Campo de
concentração”. O local possuía arames farpados e era diariamente vigiado por uma segurança
máxima. Esse apelido foi dado pelos amazonenses, mas o nome tem diversos significados e
contextos diferentes. O que se sabe é que uma ave, ao avistar um campo lavrado, destrói tudo
que vê pela frente.
Ante o exposto, apesar desse conhecimento histórico local não ser publicizado,
durante a realização deste projeto de intervenção pedagógica, iremos apresentar essas
narrativas aos discentes do Curso Técnico em Guia de Turismo em seu processo formação e
qualificação para o mundo do trabalho sob a perspectiva decolonial ampliando o seu
conhecimento histórico sobre a cidade de Porto Velho.

8.Público – Alvo: Discentes do Curso Técnico em Guia de Turismo vinculado ao


Instituto Estadual de Desenvolvimento da Educação Profissional do Estado de Rondônia
(IDEP).

9.Organização parceiras/ Apoiadoras: Instituto Estadual de Desenvolvimento da Educação


Profissional do Estado de Rondônia (IDEP), Museu Memória Rondoniense (MERO) e
Secretaria Municipal de Indústria, Comércio, Turismo e Trabalho (SEMDESTUR).

10.Descrição da atividade:

1ª Etapa: O conteúdo será dialogado pelo professor (a) responsável pela disciplina História de
Rondônia, com ênfase nos patrimônios históricos do município de Porto Velho. Será
importante o docente ter a formação base em Licenciatura em História. A discussão teórica
será realizada em sala de aula, abordando o conceito de decolonial.

29
O professor é vinculado ao Departamento de História da Universidade Federal de Rondônia – UNIR. É Doutor
em Ciências do Desenvolvimento Socioambiental, Mestre em História e Graduação em História.

9
2ª Etapa: Visita técnica aos seguintes patrimônios históricos: Estrada de Ferro Madeira
Mamoré, o Museu Ferroviário Madeira Mamoré, o Palácio Presidente Getúlio Vargas, Bairro
Arigolândia, Catedral Sagrado Coração de Jesus e o Cemitério dos Inocentes.

3ª Etapa: Consiste em pensar sobre a história local sobre a perspectiva (de)colonial através
dos textos que serão dialogados e compartihados na sala de aula, com o inuito de refletir sobre
a teoria e a prática. O passeio terá a duração de 4 horas durante o período matutino.

11. Recursos Necessários:


11.1 Material didático: caderneta e caneta para as anotações.
11.2 Equipamentos e instrumentos: bonés e protetores solares.
11.3 Recursos humanos: água, fruta e lanche (pausa para alimentação).

12. Desenvolvimento da Atividade:

No primeiro momento a atividade será desenvolvida dentro da sala de aula em círculo.


Sob uma leitura dirigida pelo professor, cada discente irá acompanhar no texto a leitura e a
explicação. O texto socializado para discussão é “Desafios Decoloniais hoje 30” do autor
Walter Mignolo. O objetivo dessa atividade é que todos participem e tragam para o diálogo
suas proposições.
No segundo momento após os discentes terem compreendidos o conceito “decolonial”
será realizada a visita técnica. Essa atividade consistirá em realizar um passeio guiado pelo
docente com a colaboração do Guia de Turismo. Os discentes precisam estar uniformizados
portando uma caderneta, caneta e uma câmera fotográfica. Devemos relembrar que para
visitar alguns patrimônios históricos é preciso de agendamento prévio, como por exemplo, o
MERO, o agendamento é feito através do formulário que está disponível em sua rede social,
no caso o Instagram.
No terceiro e último momento do desenvolvimento da atividade, o docente e o Guia de
Turismo apresentarão os patrimônios históricos. Ao narrar suas histórias, eles farão uma
mediação entre o conceito decolonial por meio de perguntas organizadas pelo docente. Os
alunos após anotarem as informações irão compartilhar uma pequena produção textual sobre a

30
MIGNOLO, Walter. Desafios Decoloniais hoje. Epistemologias do Sul, Foz do Iguaçu/PR, 1(1), pp. 12-32,
2017 Disponível em: moliveira,+772-2645-1-CE.pdf . Acesso em: 12 out. 2023.

10
visita técnica realizada e o que aprenderam com a atividade desenvolvida.

13. Forma de avaliação da atividade:

A atividade será avaliada de modo processual considerando a participação e a


interação dos discentes no diálogo sobre a formação do conceito decolonial e sua relação com
o patrimônio histórico visitado. Compreendemos a avaliação como um ato pedagógico que
proporciona a reflexão, a crítica e a relação com a teoria e a prática na formação pedagógica e
técnica dos futuros Guias Turisticos. Dessa forma levaremos em conta todo o processo de
reflexão teórica e prática, ou seja, o feedback (FERNANDES, 2006).

14. Resultados Esperados:

O resultado esperado para este projeto de intervenção pedagógica é que haja, mesmo
que minimamente, um inquietamento por parte dos discentes em reconhecer outras narrativas
e dialogar com a ideia de (de)colonização em suas atividades técnicas, compartilhando outras
narrativas.

15. Apresentação do plano: (link do YouTube do vídeo de apresentação)

REFERÊNCIAS
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