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I – DOS FATOS:
O presente feito trata-se de uma ação civil pública, cujo réu teria utilizado um outdoor na
Avenida Ferreira Viana próximo ao shopping da cidade de Pelotas, querendo prejudicar a imagem
das profissionais de enfermagem. Ocorre que, diferentemente do que foi narrado na inicial, o réu
proprietário do motel utilizou o outdoor apenas como meio para atrair clientes ao estabelecimento,
não tendo intenção de difamar ou diminuir a imagem das profissionais.
II – PRELIMINARMENTE:
1. Inépcia da inicial
No art. 330 do código de processo civil há uma defesa de natureza processual peremptória,
na qual seu acatamento poderá ensejar o indeferimento da petição inicial. Sendo assim, a inépcia da
inicial possui como requisito:
I – for inepta;
II – […]
Nesse viés, antes mesmo dos fatos serem abordados, já na qualificação da legitimidade
passiva, há conclusões ilógicas. Como relacionar a ENFERMEIRA presente na mensagem
publicitária a PRODUTOS deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos,
fraudados, nocivos à vida ou à saúde, presunção ocasionada por meio do artigo utilizado (que
corresponde a COISAS que não correspondem ao que fora divulgado):
Isto posto, a parte Autora traz conclusões ilógicas, pois a enfermeira presente na propaganda
não é um PRODUTO ofertado pelo estabelecimento. Então, não há ligação direta, isto é, a
enfermeira supostamente erotizada não está diretamente relacionada às atividades ou serviços
oferecidos pelo motel.
Além disso, questões como o Direito à igualdade e Direito do consumidor também são
levantadas sem decorrer de nenhuma conclusão lógica, as quais serão pormenorizadas abaixo.
III – DO MÉRITO
O Código Civil de 2002 normatiza a reparação de quaisquer danos, sejam morais, sejam
materiais, causados por ato ilícito, conforme trata o Artigo 186 do referido diploma, abaixo transcrito:
"Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito".
No entanto, o Réu não praticou qualquer ato contra a parte autora, uma vez que não violou
nenhum direito materialmente expresso na legislação brasileira. Além disso, não houve nenhuma
prova concreta anexada à inicial de que a propaganda ocasionou dano à profissão de enfermeira,
ainda que exclusivamente moral.
Ante ao exposto, resta claro que o Réu não cometeu qualquer ato ilícito em relação à parte
autora, muito menos ato que pudesse ensejar sua responsabilidade civil nos termos pleiteados na
exordial.
Não obstante o Artigo 186 do Código Civil Brasileiro traga a delineação do que seja o ato
ilícito, nota-se que este não aventa em seu conteúdo acerca da normatização do dever de indenizar,
ou seja, não trata da responsabilidade civil, entretanto tal matéria encontra-se disciplinada pelo
Artigo 927 do mesmo Código, que assim determina:
"Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo."
Dessa forma resta explícito que, em casos como o em tela, onde inexistente a ocorrência de
Atos Ilícitos nos moldes do Artigo 186, ou abusivos nos moldes do Artigo 187, inexiste a obrigação
de reparação, conforme inteligência do dispositivo cível acima posto, ao contrário do que intenta
fazer crer a exordial dos presentes autos.
À vista disso, é possível relacionar o tema à Teoria Pura do Direito do austríaco Hans Kelsen,
a qual afirma-se livre de quaisquer considerações ideológicas, sem emitir juízo de valor ou debate
moral sobre qualquer sistema jurídico, ou seja, a análise da “norma jurídica” não é afetada por
nenhuma concepção da natureza do direito justo. Logo, ainda que a parte Autora tenha trazido à
exordial um debate moral válido nos tempos atuais ─ o qual, também, não foi transgredido pelo réu e
será pormenorizado abaixo ─ em nada o converte em um ato ilícito, isto é, não gera vinculação
jurídica entre uma norma e um ato de vontade objetivo, pois não há um fundamento anterior e
superior que assim o autorize.
Mediante todo o exposto, fica nítido que, no atual processo, o Réu não tem legitimidade para
responder pelo pedido de ressarcimento atinente ao dano moral alegado, pois além de não ter
cometido ato ilícito não há provas concretas dos supostos danos morais causados à profissão de
enfermagem, ou seja, sem evidências substanciais.
2 - Do Direito do Consumidor
Toda a publicidade que procura promover o consumo de produtos e serviços possui apelos à
imaginação e às emoções do consumidor, visto que não se limita apenas a informar, e sim a
convencer por meio do interior do indivíduo.
Com isso, ao contrário do que alega a parte Autora, nesse caso inexiste publicidade
enganosa ou abusiva, pois os serviços prestados condizem com a propaganda do estabelecimento.
Apesar de não estarem diretamente centrados em questões de gênero, ainda é possível relacionar
os estudos de Luis Rosenfield acerca do ensino jurídico e da democracia com o tema. O autor
exemplifica como podem ser nocivas as situações onde é perpetuada uma censura com base em
convicções pessoais de “certo” e “errado”. Há um julgamento moral realizado pelos próprios
indivíduos, e embora sempre aconteçam e façam parte da dialética democrática, acabam por
dificultar a análise como um todo. O enfraquecimento da liberdade de expressão, acarretado por
determinados preceitos éticos e morais individuais, culminam no abandono ao debate e à reflexão.
3 - Do Direito à igualdade:
Diferente do que foi exposto na inicial ao alegar uma violação ao princípio da igualdade
abordado pelo Art. 5º:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade
o Direito à Igualdade não foi violado no ato, pois em nenhum momento as profissionais
representadas no outdoor do motel foram tratadas de modo desigual.
Os responsáveis pelo motel usaram a imagem das profissionais para promover seus serviços
como ESTABELECIMENTO, mas não há nenhuma indicação de que a profissão usada no outdoor
foi tratada de forma diferente em relação às outras pessoas ou profissões que já tiveram sua
imagem usada em publicidade, não havendo também qualquer indicativo de que eles tenham sido
discriminados em função do seu sexo.
Portanto, não há motivo para dizer que o direito à igualdade foi violado. Em suma, embora a
imagem tenha sido questionável e suscetível a interpretações ambíguas, é preciso garantir que não
houve qualquer tipo de violação ao direito à igualdade, seja ela legal ou material.
Sendo assim, se pode relacionar com as ideias de Jean Paul Sartre que defende
veementemente a ideia de que as pessoas devem ter liberdade de agir de acordo com as suas
próprias preferências, mesmo que sejam consideradas imorais ou reprováveis pela sociedade. Ele
destaca a importância de permitir que as pessoas expressem suas próprias identidades e gostos
mesmo que elas não sejam socialmente aceitas. A autenticidade individual é fundamental e a
imposição de normas rígidas sobre o que é socialmente aceitável inibe a liberdade e autenticidade
pessoal, Sartre acreditava que cada indivíduo deve ser livre para definir seu próprio sentido de
valores e significados na vida independente das convenções sociais. Então usando as ideias de
Sartre, o motel poderia usar a enfermeira como propaganda no outdoor, já que não há nenhuma lei
ou norma que proíba isso.
Alega o Autor, ainda que de forma absurda e infundada, estar sofrendo abalo moral,
requerendo, embora sem apresentar fundamentação ou prova, a condenação do Réu ao pagamento
de indenização a título de danos morais, supostamente amargados. NADA MAIS ABSURDO,
conforme se depreende de todo o alegado até o presente momento.
À vista disso, muito embora inexistam danos atinentes à esfera moral do Autor, e uma vez
que, conforme exaustivamente debatido na presente, inexiste, no caso em tela qualquer ato ilícito do
Réu, resta evidentemente explicitada a inexistência de nexo causal entre conduta do Réu e os danos
alegadamente amargados – e não comprovados - pelo autor, e dessa maneira, igualmente
inexistente o dever de indenizar.
Assim sendo, A LIDE EM TELA NÃO TEM REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA PLEITEAR
A INDENIZAÇÃO DE DANO MORAL, e tão pouco se trata de dano presumido, sendo necessário,
portanto, preencher os requisitos da Responsabilidade Civil, qual seja, o dano, o nexo de
causalidade e a culpa.
Desta forma, deve o Autor provar o devido dano moral SUPOSTAMENTE provocado pela
parte ré, inclusive quanto à conduta ilícita deste, não apenas alegá-lo de forma vaga e imprecisa. De
acordo com o art. 373, inc. I, do CPC, a incumbência de provar fato constitutivo do direito do autor
pertence a ele mesmo, da qual este não parece comprovar.
No caso dos autos, o Autor não logra êxito sequer em comprovar, as condições e
consequências do alegado abalo moral, assim como falha ao comprovar a existência de culpa do
Réu quanto ao fato gerador do dano, pelo que sequer poder-se-ia falar em nexo causal entre fato e
dano.
O conjunto probatório juntado pela parte autora aos autos é insuficiente para comprovar a
existência de seu direito. É sabido que à parte autora cabe provar todos os fatos constitutivos de seu
direito, alegados na inicial, conforme o art. 373, inc. I, do CPC, ônus este do qual não se
desincumbe.
Em verdade, o que pretende a parte autora é ver reconhecido um direito que não lhe
cabe, com base em provas fracas e insuficientes, produzidas de forma unilateral, utilizando-se
de meio pretensioso e que enseja má-fé. Além disso, é válido destacar que a própria “prova”
mencionada mostra que há uma notificação por E-MAIL, a qual NÃO ocorreu. No próprio documento
juntado há controvérsias, pois mostra um print da rede social WHATSAPP (e não e-mail como
mencionado), sem ao menos aparecer o nome da parte ré. Então, desde já, se impugna os
documentos, uma vez que esta sequer recebeu tais mensagens
Ademais, a parte Autora sequer colocou fotos dos danos ocasionados, o que fica impossível
saber se a profissão de enfermeira fora realmente prejudicada, atrapalhando assim a instrução da
lide em tela, aproveitando-se da oportunidade para prejudicar o réu.
Desta forma, merecem ser impugnados todos os documentos trazidos aos autos por força
da exordial, visto que produzidos de forma unilateral com o intuito totalmente pretensioso de
prejudicar o Réu na presente lide, além de não corresponderem à realidade fática, nos termos da
fundamentação acima exposta, reiterando-se ainda pela improcedência total da presente ação.
V – LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
Conforme captura de tela anexada (lavrada em cartório), feita por Francisco Pereira Pinto -
um participante do grupo de whatsapp do Sindicato de Enfermagem - percebe-se a litigância de
má-fé da presidente Cláudia Ribeiro da Cunha Franco.
Dessa forma, requer-se que seja condenado o Autor nas penas de litigância de má-fé, nos
termos do art. 80 e 81 do CPC, os quais dispõem:
Conforme já exposto, o Autor ingressou com a ação alterando a verdade dos fatos com o
objetivo de prejudicar o réu por motivos PESSOAIS, utilizando-se do poder de tutela de direitos
COLETIVOS, trazendo ao Judiciário fatos infundados e inverídicos.
No caso em tela, o Autor abusa do exercício de ação e de faculdades processuais, pois, sua
atuação não tem a finalidade de fazer prevalecer um direito que se acredita existente, nem se cuida
de construção de teses sobre assuntos em relação aos quais reina discórdia nos tribunais, a
exemplo de uma matéria de direito, de interpretação jurídica, complexa e de alta indagação.
Aliás, para fins informativos, chega a ser impressionante a capacidade da parte autora de
criar um cenário caótico, utilizando-se de meios confusos para, assim, infortunadamente, prejudicar
o Réu. Como citar diversos artigos com argumentos que em nada condizem com o processo atual -
tratando-se de mais uma pretensão infundada de uma parte beligerante, emoção possivelmente
catalisada pelo fato da representante do sindicato ser inimiga declarada do réu.
Nestes termos.
OAB 101.555