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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 24.196 - ES (2006/0101994-6)

RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER


RECORRENTE : SINDICATO DOS SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO NO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
ADVOGADO : SIMONE PAGOTTO RIGO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROCURADOR : PEDRO SOBRINO PORTO VIRGOLINO E OUTRO(S)
EMENTA

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. AÇÃO


COLETIVA. DIREITOS COLETIVOS. IMPETRAÇÃO DE DOIS MANDADOS DE
SEGURANÇA POR DUAS ENTIDADES REPRESENTATIVAS DA MESMA
CATEGORIA PROFISSIONAL. MESMA CAUSA DE PEDIR. IDENTIDADE
PARCIAL DE PEDIDOS. CONTINÊNCIA. CONFIGURAÇÃO.
I- O aspecto subjetivo da litispendência nas ações coletivas deve ser visto sob a
ótica dos beneficiários atingidos pelos efeitos da decisão, e não pelo simples exame das
partes que figuram no pólo ativo da demanda. Assim, impetrados dois mandados de
segurança por associação e por sindicato, ambos representantes da mesma categoria
profissional, os substituídos é que suportarão os efeitos da decisão, restando, assim,
caracterizada a identidade de partes.
II - Em face da identidade parcial de pedidos, em razão de um ser um mais
abrangente que o outro, configura-se a continência, que é espécie de litispendência parcial.
III - Inviável, porém, a reunião de processos, tendo em vista que já julgado um
deles (Súmula 235/STJ), impondo-se, por conseqüência, a extinção parcial do presente writ
na parte em que apresenta o mesmo pedido.
Recurso ordinário parcialmente provido, para determinar o retorno dos autos ao e.
Tribunal a quo, para que julgue o mandamus.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros
Laurita Vaz, Arnaldo Esteves Lima, Napoleão Nunes Maia Filho e Jane Silva (Desembargadora
convocada do TJ/MG) votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 13 de dezembro de 2007 (Data do Julgamento).

MINISTRO FELIX FISCHER


Relator

Documento: 747236 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/02/2008 Página 1 de 4
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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 24.196 - ES (2006/0101994-6)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Trata-se de recurso ordinário


interposto pelo SINDICATO DOS SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO NO ESTADO
DO ESPÍRITO SANTO - SINDIJUDICIÁRIO, com fulcro no art. 105, II, "b", da Constituição
da República, em face de v. Acórdão do e. Tribunal de Justiça do Espírito Santo que, julgando o
mandamus, acolheu preliminar de litispendência para julgar extinto o processo sem resolução de
mérito. O julgado restou assim ementado:
"MANDADO DE SEGURANÇA - CESSAÇÃO DE
DESIGNAÇÃO JUÍZES DE PAZ - DUAS AÇÕES MANDAMENTAIS -
ENTIDADES REPRESENTATIVAS - SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL -
MESMO PEDIDO E CAUSA DE PEDIR - PRELIMINAR LITISPENDÊNCIA:
ACOLHIDA.
1. Existindo duas ações mandamentais ajuizadas por
entidades representativas de classe, com o mesmo objeto e mesma causa de
pedir, por autores que embora não se correspondam fática ou fisicamente,
para efeito de litispendência, devem ser entendidas como as mesmas partes,
uma vez que defendem interesses das mesmas pessoas.
2. Extinção do processo sem julgamento de mérito" (fl. 177).

Sustenta o recorrente, em síntese, a inexistência de litispendência entre as duas


ações coletivas, uma vez não configuradas a identidade de partes e de pedidos.
O Estado do Espírito Santo apresentou contra-razões (fls. 240-251).
A d. Subprocuradoria-Geral da República opina pelo provimento do recurso, em
parecer assim ementado:
"EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE
SEGURANÇA. LITISPENDÊNCIA.
1- A inexistência de comprovação de que os substituídos de
Sindicato sejam os mesmos da Associação de Classe, aliado a divergência
de atos atacados, afasta a litispendência das impetrações.
2- Parecer pelo provimento do recurso ordinário, para,
afastada a preliminar de litispendência, o Tribunal capixaba prossiga no
exame do mérito da segurança" (fl. 263).

É o relatório.

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 24.196 - ES (2006/0101994-6)

EMENTA

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. AÇÃO COLETIVA. DIREITOS
COLETIVOS. IMPETRAÇÃO DE DOIS
MANDADOS DE SEGURANÇA POR DUAS
ENTIDADES REPRESENTATIVAS DA MESMA
CATEGORIA PROFISSIONAL. MESMA CAUSA DE
PEDIR. IDENTIDADE PARCIAL DE PEDIDOS.
CONTINÊNCIA. CONFIGURAÇÃO.
I- O aspecto subjetivo da litispendência nas ações
coletivas deve ser visto sob a ótica dos beneficiários
atingidos pelos efeitos da decisão, e não pelo simples
exame das partes que figuram no pólo ativo da demanda.
Assim, impetrados dois mandados de segurança por
associação e por sindicato, ambos representantes da
mesma categoria profissional, os substituídos é que
suportarão os efeitos da decisão, restando, assim,
caracterizada a identidade de partes.
II - Em face da identidade parcial de pedidos, em
razão de um ser um mais abrangente que o outro,
configura-se a continência, que é espécie de
litispendência parcial.
III - Inviável, porém, a reunião de processos, tendo
em vista que já julgado um deles (Súmula 235/STJ),
impondo-se, por conseqüência, a extinção parcial do
presente writ na parte em que apresenta o mesmo
pedido.
Recurso ordinário parcialmente provido, para
determinar o retorno dos autos ao e. Tribunal a quo, para
que julgue o mandamus.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Atendidos os pressupostos de


admissibilidade, conheço do recurso.
Inicialmente, ressalto que anteriormente esta e. Quinta Turma julgou outro
recurso ordinário (RMS nº 16.906- fls. 159-164) nestes autos, o qual foi interposto pela ora
recorrente contra v. acórdão que, rejeitando a mesma preliminar de litispendência (fls. 105-106),
reconheceu a conexão com o writ acima referido (MS nº 100.01.000222-6) e determinou a
extinção do presente mandamus. O recurso ordinário, porém, foi provido para determinar o
prosseguimento deste writ. O novo julgamento no e. Tribunal a quo culminou com o acolhimento

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da preliminar de litispendência, ora debatida.
O SINDIJUDICIÁRIO impetrou, em 07.05.2001, o presente mandado de
segurança contra os Atos Especiais nº 12/01 e 13/2001 do e. Presidente do Tribunal de Justiça do
Espírito Santo, que, respectivamente, cessou os efeitos de todos os atos de nomeação dos Juízes
de Paz no Estado do Espírito Santo e determinou aos Juízes de Direito que designassem, por
portaria, Juízes de paz e respectivos suplentes com a percepção dos emolumentos previstos na
Lei Estadual nº 4.380/90.
O pedido do impetrante restou sumariado nos seguintes termos:
"1-Seja concedida Medida Liminar para o fim de assegurar o direito de seus
associados de serem reintegrados ao cargo e de receberem a remuneração devida, de
acordo com o Padrão I do Plano de Cargos e Salários dos Servidores do Poder
Judiciário, conforme versa o artigo 7º da Lei Estadual nº 4.380/90, até decisão final.
2- Seja dado procedência ao presente mandado de segurança,
confirmando-se a liminar deferida..." (fl. 12).

A Associação do Juízes de Paz do Espírito Santo -AJUPES também propôs, em


20.02.2001, mandamus (fls. 72-95) no qual se pleiteava a declaração de nulidade do Ato
Especial nº 13/2001, cujo pedido restou assim redigido:
"a) seja suspenso, in limine e inaudita altera pars, os efeitos do ato especial
nº 013/01, restabelecendo o pagamento dos salários dos impetrantes na forma do artigo 1º
da Lei 5871/99, se abstendo a autoridade coatora de praticar qualquer ato que obste o
recebimento do salário dos juízes de paz do Estado do Espírito Santo.
b) seja, ao final, julgado procedente o pedido, concedendo-se a segurança
aqui pleiteada, e declarando-se nulo de pleno direito o Ato Especial nº 013/01;
................................................................................................................" (fl.
82).

A ordem, nesse último writ, foi denegada sob os seguintes fundamentos:


"EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. JUÍZES DE PAZ.
PRELIMINARES: DE NULIDADE DE CITAÇÃO, DE IMPOSSIBLIDADE
JURÍDICA DO PEDIDO. REJEITADAS. MÉRITO: DECLARAÇÃO DE
NULIDADE DO ATO ESPECIAL Nº 013/01. SEGURANÇA DENEGADA.
Rejeita-se preliminar de nulidade de citação porque editado
Ato Especial nº 013/2001, devendo ser dirigida a impetração contra o
Presidente do Eg. Tribunal de Justiça.
Rejeita-se preliminar de impossibilidade jurídica do pedido
porque juridicamente possível a impetração do 'mandamus', objetivando
restabelecer e recompor o estado de direito lesado ou violado por ato ilegal
da autoridade, para para verificação de haver alegação de violação a
direito líquido e certo.
Mérito: 'a legalidade do ato administrativo, cujo controle
cabe ao Poder Judiciário, compreende não só a competência para a prática
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do ato e de suas formalidades extrínsecas, como também os seus requisitos
substanciais, os seus motivos, os seus pressupostos de direito e de fato,
desde que tais elementos sejam definidos em lei como vinculadores do ato
administrativo'. (in Direito Administrativo Brasileiro, ed. RT).
Não sendo o ato impugnado auto-executável e não contendo
nenhum conteúdo ou mandamento que possa ser executado contra os
impetrantes, denega-se a segurança" (MS nº 100.01.000222-6, Publicado em
02/02/2004) (foi grifado).

Em razão, pois, destes dois mandados de segurança, o e. Tribunal a quo entendeu


configurada a litispendência.
Estabelecem os §§ 1º e 2º do art. 301, do CPC:
"§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz
ação anteriormente ajuizada (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973).

§ 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma


causa de pedir e o mesmo pedido (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1973)."
Exige o Código de Processo Civil, para a caracterização da litispendência, a
tríplice identidade de partes, causa de pedir e pedido.
Quanto ao elemento subjetivo, em ambas ações, os autores são substitutos
processuais dos associados e buscam a tutela de direitos coletivos.
O aspecto subjetivo da litispendência nas ações coletivas deve ser visto sob a
ótica dos beneficiários atingidos pelos efeitos da decisão, e não pelo simples exame das partes
que figuram no pólo ativo da demanda.
Destaco, do v. acórdão recorrido, os seguintes trechos nos quais se transcreve
lições doutrinárias que corroboram o entendimento:
".......................................................................................................................
..
O Professor Kazuo Watanabe, analisando a matéria, afirma que
'ingressando a associação em juízo, é como se os próprios associados estivessem a agir.' (A
tutela dos interesses difusos, Editora Max Limonad, 1984).
(...)
No mesmo sentido, encontram-se os ensinamentos do Professor Antônio
Gidi, nas sua obra Coisa Julgada e Litispendência em Ações Coletivas, editora Saraiva,
página 219, senão vejamos:
'Em que pese o fato de as pessoas não serem empiricamente
as mesmas, entendemos que, para efeito de legitimidade, litispendência,
efeitos da sentença e sua imutabilidade (autoridade da coisa julgada),
juridicamente trata-se da mesma parte. Por outro giro, as partes são
consideradas as mesmas pelo direito positivo, muito embora, empiricamente,
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no mundo naturalístico, não o sejam.'
............................................................................................"
(fls. 186/187).

Não acolho o argumento da d. Subprocuradoria-Geral da República, segundo o


qual "para o reconhecimento da litispendência, com espeque na identidade de partes,
mister concluir que todos os substituídos pelo SINDIJUDICIÁRIO também o fossem pela
AJUPES".
Necessário, neste ponto, distinguir se o direito líquido e certo se enquadra na
categoria dos direitos coletivos ou individuais homogêneos.
Segundo o Código de Defesa do Consumidor, coletivos são "os transindividuais
de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica-base"; individuais homogêneos
são os "decorrentes de origem comum" (art. 81, II e III).
O conceito legal não é suficiente para distinguir, abstratamente, as duas
categorias, sendo necessário o exame" do direito afirmado (causa de pedir) e da tutela
processual requerida" (GIDI, Coisa julgada e litispendência em ações coletivas), porém,
como destaca ADA PELLEGRINI (In O processo coletivo do consumidor), um ponto de
distinção entre as duas categorias é que, no direito individual homogêneo "a solução não é
necessariamente una para todas as pessoas, que podem ter sua pretensão individual
acolhida ou rechaçada por circunstâncias pessoais". "Trata-se, aqui", - continua - "de um
feixe de interesses, que pode ser tratado coletivamente, sem prejuízo da permanência da
tutela clássica, individualizada para cada qual".
Nesse contexto, a invalidade do ato atacado neste writ atingirá igualmente todos
os indivíduos que foram afetados com as suas destituições do cargo. Portanto, tratando-se de
direito coletivo, desnecessária a filiação concomitante de todos os substituídos, visto que o
não-associado ou não-sindicalizado poderá valer-se da sentença genérica, proferida na ação
coletiva, para individualizar o seu direito.
No que se refere aos pedidos, como se viu acima, esses guardam identidade
apenas no que se refere ao Ato Especial nº 013/01. A relação estabelecida, portanto, é de
continente e conteúdo que, no sistema do Código de Processo Civil, integra a chamada
continência.
A continência, que na verdade é uma espécie de litispendência parcial, tem

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previsão legal no artigo 104 do CPC, e ocorre "entre duas ou mais ações sempre que há
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo,
abrange o das outras."
Segundo Cândido Rangel Dinamarco '[..] o objeto do processo consiste
exclusivamente no pedido formulado pelo demandante. É ali que reside a pretensão cujo
reconhecimento e satisfação o demandante quer' (In Instituições de Direito Processual Civil.
2 vol. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.).
Destaco, sobre o tema, trecho do voto proferido no MS nº 11.371-DF (DJU de
01.06.2006):

"Apesar de existência de adminículos doutrinários no sentido de: a)


considerar continência apenas em relação a um pedido específico, que deveria ser mais
amplo, e não enfocando a totalidade dos pedidos formulados (DIDIER JR, Fredie. Direito
Processual Civil. 1 vol. 5. ed. Salvador: JusPODIVM, 2005, pg 144) e b) sustentar a
influência da ordem cronológica da propositura das demandas (continente e contida) na
caracterização da litispendência ou continência (PIZZOL, Patrícia Miranda. A
competência no Processo Civil. São Paulo: RT, 2003, pg 296), mister transcrever o
magistério de Cândido Rangel Dinamarco:
'Com esses contornos, a continência costuma ser apontada
como uma litispendência parcial . Em parte, a demanda de maior extensão
coincide com a demanda menos ampla. Na parte que a excede, ela é
somente conexa a ela.
Pragmaticamente, a lei trata a continência no mesmo plano
da conexidade, furtando-se a impedir o prosseguimento simultâneo das duas
causas apesar do parcial bis in idem (litispendência parcial) e associando a
ela os mesmos efeitos processuais que a conexidade ocasiona. Vigem
portanto os mesmos preceitos que regem esta, no tocante à admissibilidade
do litisconsórcio, prorrogação da competência, reunião de processos etc.
Poder-se-ia até cogitar de uma disciplina diferente do sentido
vetorial da vis attractiva , de modo que a causa continente atraísse sempre a
contida, independentemente da ordem cronológica na propositura de cada
uma delas ou na efetivação da citação do demandado - mas sequer isso
acontece e as mesmas normas referentes à conexidade valem de igual modo
em relação à continência.'

Portanto, na continência, há, sem dúvida, a ocorrência da litispendência


parcial, mas conforme exposição doutrinária, sem gerar extinção processual, porquanto, a
sistemática do Código de Processo Civil elegeu o caminho da reunião dos processos como
efeito decorrente da continência, identificando o instituto com a conexão.
Oportuno mencionar, outrossim, que a doutrina tradicional sustenta ser a
continência um fenômeno quantitativo, levando em conta os elementos objetivos da
demanda como um todo.
Neste sentido, Patrícia Miranda Pizzol afirma: 'As causas contida e

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continente se diferenciam apenas quantitativamente, v. g. uma ação de indenização onde
se pleiteiam lucros cessantes (causa contida) e outra ação de reparação de perdas e
danos, englobando também os lucros cessantes (causa continente).' (PIZZOL, Patrícia
Miranda. A competência no Processo Civil. São Paulo: RT, 2003, pg 295) .
De igual pensar, Dinamarco sustenta: 'Uma demanda envolve a outra em
uma relação de continência (a) quando traz um petitum relativo a dois ou mais bens ou a
um bem de maior extensão e a segunda, a um bem só ou a uma parcela do todo [...]'
(DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 2 vol. 3. ed. São
Paulo: Malheiros, 2003.)
Por fim, Celso Agrícola Barbi, ao conceituar o instituto da continência,
expressa: 'Como se vê, a diferença entre as ações é apenas no objeto e, mesmo neste, não
é qualitativa, mas sim quantitativa. Como por exemplo, podem-se lembrar duas ações entre
as mesmas pessoas, relativas a um contrato de mútuo: em uma delas, cobra-se uma
prestação, isto é, uma parte dele; na outra, cobra-se todo o mútuo. Logo, esta última
contém a primeira' (Barbi, Celso Agrícola, Comentários ao Código de Processo Civil.1 vol.
11. ed. Forense, 2002).

Ocorre, aqui, um obstáculo que impede a reunião de processos. É que o outro


mandamus, como visto, já foi julgado, tendo, inclusive, já transitado em julgado o acórdão. Nos
termos do enunciado da Súmula 235/STJ, "a conexão não determina a reunião dos processos,
se um deles já foi julgado".

Em face da impossibilidade de reunião dos processos, e para que não haja


possibilidade de decisões antagônicas sobre o mesmo objeto em diferentes processos, deve ser
extinto, sem resolução de mérito, este mandamus na parte em que se impugna a Resolução nº
013/2001, conforme já decidiu a e. Terceira Seção, como se vê:

"MANDADO DE SEGURANÇA. POLICIAL MILITAR.


EX-TERRITÓRIO. RONDÔNIA. QUADRO DE PESSOAL. EXTINÇÃO.
SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. TRANSFORMAÇÃO. ART. 89 DO ADCT.
LEI ESTADUAL Nº 1.063/2002.
I- No caso em apreço, não há litispendência em relação a
ação civil pública na qual um dos objetos da demanda é a incorporação da
Gratificação de Representação de Secretário de Estado, porquanto não há a
mesma identidade de partes. Verifica-se, tão-somente, a conexão parcial,
sendo inviável, na espécie, a reunião de processos. Extinção do writ neste
ponto.
(...)
Segurança parcialmente concedida."
(MS 8670/DF, 3ª Seção, de minha relatoria, julgado em
08.11.2006, DJ 11.12.2006 p. 320).

Portanto, reconhecida a continência e a impossibilidade de reunião dos processos,


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dou provimento parcial ao recurso para que o e. Tribunal a quo prossiga no julgamento do
mandamus apenas no que se refere ao pedido de reintegração no cargo dos substituídos.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2006/0101994-6 RMS 24196 / ES

Números Origem: 100010005351 200301491829

PAUTA: 04/12/2007 JULGADO: 13/12/2007

Relator
Exmo. Sr. Ministro FELIX FISCHER
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PEDRO BARBOSA PEREIRA NETO
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : SINDICATO DOS SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO
ADVOGADO : SIMONE PAGOTTO RIGO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROCURADOR : PEDRO SOBRINO PORTO VIRGOLINO E OUTRO(S)

ASSUNTO: Administrativo - Servidor Público Civil - Reintegração

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, deu parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Arnaldo Esteves Lima, Napoleão Nunes Maia Filho e Jane
Silva (Desembargadora convocada do TJ/MG) votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 13 de dezembro de 2007

LAURO ROCHA REIS


Secretário

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