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1. INTRODUÇÃO
Aula lúdica
(Ferramentas: macetes, anedotas, linguagem corporal, emoção)
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Usaremos o termo “lúdico” não no sentido de jogo, mas de divertido, jocoso. Segundo Joan Huizinga “o
latim cobre todo o terreno do jogo com uma única palavra: ludus. [...] Convém salientar que jocus, jocari,
no sentido especial de fazer humor, de dizer piadas, não significa exatamente jogo no em latim clássico.
[...] Esta base semântica está oculta em ludi, no sentido de escolas, provavelmente a “prática”.
(HUIZINGA, 2007, p. 41)
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manifestar-se em aula, não apenas com o sentido prosaico de jogo, mas no sentido de
divertido.
Ademais, o humor como diz Le Breton (2009) possui uma íntima ligação com o
afetivo.
linguagem não somente falada, mas expressa por todo o corpo, pois como preconizado
por Le Breton (op. cit., p. 39) “os inumeráveis movimentos corporais empregados nas
foram foco de nossa problemática, visto que nem sempre o inequívoco para o
técnicas didáticas ou ferramentas utilizadas pelos professores, pois não podemos pensar
em mudanças do processo educacional sem antes identificá-las, visto que, mudanças são
prementes, mas sem desconsiderar os pontos positivos existentes. A nosso ver, é lícito
mudar.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 PROBLEMA
quisto, e com isso manter sua posição profissional. Em que consistem as técnicas
a conexão com o conteúdo tem relevância? Será que este uso realmente estimula o
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A educação intencional refere-se à influência em que há intenções e objetivos definidos
conscientemente, como é o caso da educação escolar e extra-escolar. Há uma intencionalidade, uma
consciência por parte do educador quanto aos objetivos e tarefas que deve cumprir, seja ele o pai, o
professor [...]. Há métodos, técnicas, lugares e condições específicas prévias criadas deliberadamente para
suscitar idéias, conhecimentos, valores, atitudes, comportamentos. (LIBÂNEO, 2008, p. 17-18).
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Acreditamos que o professor enfadonho possui um laço afetivo mais restrito com o
aprendizagem. Entretanto, por motivos que analisamos alhures, e que são complexos e
emoção sobre a cognição. Não descartamos a condição sine qua non dos estudos
aproximação. Há quem defenda que deva existir uma distância entre docente e discente,
conduta que não compactuamos. Acreditamos na relação afetiva como meio de apurar a
emocional tem que ser de tristeza, em uma festa, de alegria. Mas em sala de aula, qual é
o comportamento social simbólico aceito? Mais uma vez é em Le Breton que nos
apoiamos:
Viver em sociedade, inserido em uma cultura determina não apenas uma língua
inserindo sobre as crianças e “tocando” em seus sentimentos, mesmo que de forma não
intencional.
presente e futura do aluno pode sofrer interferência de seus meios sociais, notoriamente
que se faz em sala de aula? Será que é somente aprender conteúdos, a função basilar da
escola, mesmo que seja como introduziremos os conhecimentos para que estes se
construtivista na estruturação das interações educativas na aula, Zabala nos lembra que:
alunos. Grandes estudiosos de vanguarda da área da educação e suas áreas afins, como a
potencial empático do jovem frente aos grupos sociais aos quais pertence, é uma das
mais claras habilidades que o cidadão e profissional do futuro terão que adquirir, visto
que este potencial pode ser um diferencial em um mundo onde é cada vez mais evidente
Silveira:
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ampliação das capacidades inter e intrapessoais. O professor então tem que, através de
exemplos, promover com suas ações didáticas um ensino de práticas sociais adequadas.
Essa preocupação é patente naquilo que nos lembra Antônio Carlos Gil:
relevância. A autora Ana Aranha (ARANHA, 2006, p. 262) critica e escola tradicional3
e rígida, fazendo uso das palavras de Dewey, que “fez severas críticas à educação
concluiu que a escola não pode ser uma preparação para vida, mas é a própria vida”.
Sendo esta, segundo Pedro Demo, que se interessa pelo campo da aprendizagem como
aprendizagem, segundo Sonia Oliveira e Cleomar Gomes (2008). Para esses autores o:
[...] brincar é uma atividade inerente ao ser humano. O significado dos jogos,
dos brinquedos e das brincadeiras e sua relação com o desenvolvimento e a
aprendizagem há muito tempo vêm sendo investigados por pesquisadores de
várias áreas do conhecimento com diferentes contribuições. (OLIVEIRA &
GOMES, 2008)
2.3 METODOLOGIA
pesquisador. Como nos orienta Uwe Flick: “De modo diferente da pesquisa quantitativa,
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A pedagogia que esteve mais presente na realidade educativa do século XX foi a chamada “tradicional”.
De certo modo ocorreu o mesmo nos séculos XIX, XVIII, XVII e em todos os anteriores, embora os
conteúdos das respectivas pedagogias tradicionais tenham variado. Aquilo que é educativamente
tradicional em uma época difere do que é tradicional em outra, e parte do que foi muito inovador em um
momento, se a experiência vai mostrando sua funcionalidade, com o tempo já passa a fazer parte das
tradições estabelecidas. (TRILLA, 2006, p. 19).
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cercar as informações dos mais diversos pontos de vista dos docentes e seu respectivo
diretor.
coleta de dados serão: questionários objetivos com discentes de duas séries do ensino
fundamental II e uma série do ensino médio com intuito de promover uma inquirição
alunos (sem que eles saibam como); entrevista gravada com o diretor da instituição de
ensino.
deste aluno com seus colegas e com os professores; uma análise de como este aluno se
auto-avalia em relação às suas notas; o perfil do professor que ele mais gosta,
A entrevista com os docentes será gravada e analisada. Não foi feita uma escolha
aleatória dos docentes escolhidos para entrevista, pelo contrário, foram os docentes
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citados nas entrevistas dos alunos. Um ponto meritório é estes professores não saberem
lúdico — ponto este fundamental para ser confrontado com a resposta dos discentes
para perceber a intencionalidade desta ferramenta; a visão do docente do uso lúdico para
para ser confrontado com a resposta dos discentes para perceber a intencionalidade
lúdico em suas aulas questionou-se dos mesmos o vínculo desta ludicidade com o
professor e aluno.
completo com os alunos e uma entrevista com cada professor citado, demonstramos
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professor. Após isso, fizemos uma análise desta visão do aluno com as respostas destes
Tabela 1 – Nome (fictício) do(a) professor(a) que os alunos mais gostam – 6ª série4
Professor Paizão Engraçado Inteligente Triste Brigão Amigo
Alfa 4 7 7 3
Beta 4
Subtotal 4 11 7 0 0 3
5
Tabela 2 – Nome (fictício) do(a) professor(a) que os alunos mais gostam – 7ª série
Professor Paizão Engraçado Inteligente Triste Brigão Amigo
Gama 2 4 1 5
Delta 1
Beta 8
Alfa 1 2
Épsilon 3
Zeta 2 1
Subtotal 2 18 2 0 0 8
Tabela 3 – Nome (fictício) do(a) professor(a) que os alunos mais gostam – 1ª série do EM
Professor Paizão Engraçado Inteligente Triste Brigão Amigo
Zeta 20 1
Epsilon 6
Delta 1 2
Gama 2 6
Alfa 1 1
Zeta 1
Subtotal 2 21 16 0 0 2
Tabela 5 – Alunos que tiram ou não as melhores notas com os professores qua mais gostam
Número de Alunos Percentual
Sim 47 48,95%
Não 49 51,05%
ensino fundamental foi um dos mais citados pelos alunos, que justificaram estes votos
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6ª série do ensino fundamental equivale ao 7º ano pela Lei nº 11.274 de 2006
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7ª série do ensino fundamental equivale ao 8º ano pela Lei nº 11.274 de 2006
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com citações como: “é a disciplina que eu mais estudo”; “É divertida e com a aula assim
ferramentas de aprendizagem discente, o mesmo respondeu que: “Fazem parte sim, com
informações, acho que facilita a aprendizagem. Mas isso não pode ser desrespeitoso”.
respondeu:
leciona biologia há dezoito anos — da 1ª série do ensino médio (Tabela 3). Quando os
alunos justificam seu voto a este professor, dizem: “ele explica a matéria de forma
conteúdo sabendo o que está fazendo, o macete, a brincadeira é sempre bem vinda”.
Idéia esta, que vem ao encontro com a dos autores, inclusive enfatizando a idéia da
titubear, respondeu:
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Eu acredito que sim porque hoje em dia a gente percebe uma grande
dificuldade de se relacionar com o outro. Ser lúdico, ser amoroso e na hora
que precisa ser duro, demonstra que o professor é um ser humano e não um
repetidor de conteúdo que está ali na frente como se fosse uma máquina,
onde você liga um programa e ele vai repetindo.
médio (Tabela 3). Recebeu de seus alunos as seguintes citações, quando questionados
do motivo de seu voto, disseram, entre outras coisas: “o professor passa muita
entender a matéria”.
Epsilon nos fala sobre o lúdico em relação à formação pessoal do aluno: “Eu
acho que o momento em que o aluno está em sala de aula não é apenas para absorver
então eu acredito que o lúdico não apenas serve para passar o conteúdo”. Um detalhe
interessante observado é que este professor é admirado pela inteligência, mesmo assim
forma lúdica, Epsilon responde afirmativamente, justificando: “Eu acho que é muito
concentração do aluno”.
médio (Tabela 3). Recebeu de seus alunos o adjetivo de inteligente e paizão, sendo as
citações em destaque aferidas a ele: “ele nos faz pensar de forma lógica e raciocinar”;
[...] eu vejo que com uma brincadeira, ou alguns tipos de memorização, que
está sendo usado aqui como macete, o aluno se sente mais seguro e tira uma
barreira dele em relação à matemática, que tem muitas fórmulas que ele não
utiliza no seu dia-a-dia. Ele prefere uma coisa mais do seu cotidiano, mais do
seu dia-a-dia.
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Desde que a brincadeira não saia do assunto. O importante é que a aula seja
agradável, pois sempre que a aula é agradável o aluno ‘se liga’ mais, então a
brincadeira o macete o artifício que ele use para que a aula se torne mais
agradável é favorável. Entretanto, nunca fugindo do assunto.
Sobre o uso de macetes o diretor argumenta: “Eu acho que o problema está no
termo ‘macete’ que não precisa ser necessariamente um artifício para decoreba, pode
muito bem fazer parte de um conhecimento. Antigamente macete era uma forma de
Talvez, isto seja um fator que força o professor a ser bem quisto perante os alunos.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
acrescentou subsídios às nossas idéias. Todavia, uma pesquisa deste tipo, não apenas
Acreditamos que o lúdico pode ser utilizado de forma intencional de cognição discente,
no entanto, cremos que esta ação não pode ser desconectada ao conteúdo que será
alunos, entretanto, podemos concluir que o lúdico está presente em todos os níveis da
escolar. Entretanto, na presente pesquisa, isto não aconteceu. Não houve sequer um
“brigão” ou “triste”. Quando falamos em gostar do professor, não queremos dizer que
um aluno só aprende com professores que gosta, mas percebemos que por vezes até em
de professores, a presença do lúdico tem que ser uma condição sine qua non para gênese
REFERÊNCIAS
ARANHA, Ana. O que as escolas precisam aprender. Época. São Paulo, n. 466, p. 90-
101, 23 abr. 2002.
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
GIL, Antônio Carlos. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2007.
HUIZINGA, Joan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5 ed. São Paulo:
Perspectiva, 2007.
PIMENTA, Selma G. Docência no ensino superior. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
SILVEIRA, Emerson S. Sociologia das emoções. Sociologia: ciência e vida, São Paulo,
n 23, p. 18-27, abr. 2009.
ZABALA, Antonio. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.