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EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO PARA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE

É sabido que, a educação corresponde ao grande responsável pela


transformação da sociedade, abrangendo tanto a educação da sala de aula quanto
àquela concebida desde a infância transmitida pelos pais fundamentando uma visão
de mundo.
Observa-se ainda a existência de muitos outros fatores que influenciam
(positiva ou negativamente) a educação, porém, a escola constitui ao principal
veículo que em função do poder de articulação dos educadores e da concepção de
educação que eles possuem, são capazes de plantar idéias transformadoras no
aluno.
Por essa razão é de fundamental importância o desenvolvimento de uma
prática pedagógica voltada para a formação do cidadão.
Em conformidade com Paulo Freire (2000, p.80), é uma contradição um ser
consciente de seu inacabamento não buscar o futuro com esperança, não sonhar
com a transformação, enfim, não buscar a construção de um mundo onde todos
possam realizar-se com autonomia.
Cabe à educação problematizar o futuro para que a utopia de um mundo
melhor não se perca. Dizer que a educação vai suprimir todas as injustiças,
opressões, e assim mudar completamente a sociedade suprimindo todas
heteronomias, é ingenuidade, da mesma forma que dizer que a educação não pode
realizar mudança alguma. Temos que estar conscientes do nosso condicionamento,
mas não somos determinados, há possibilidade da transformação. "A compreensão
da história como possibilidade e não determinismo, seria ininteligível sem o sonho,
assim como a concepção determinista se sente incompatível com ele e, por isso, o
nega" (FREIRE, 1999, p. 92). Ao se reconhecer a possibilidade e manter vivo o
sonho, o papel histórico da subjetividade, de transformar, recriar o mundo, adquire
papel relevante. Como não estamos determinados, estamos abertos ao "inédito
viável" (idem, p. 98). O poder de se autodeterminar é necessário para que o sujeito
fuja do determinismo, esteja aberto ao inédito viável e, assim, possa ser autônomo.
Freire (ibid, p. 99) insiste no que ele chama de humanização como vocação
ontológica do ser humano, ou ser mais. Essa "vocação" não é um a priori, mas é
algo que vem sendo construído pelo homem ao longo da história. A vocação para
ser mais é expressão da natureza humana que se constitui na História e precisa de
condições concretas sem as quais será distorcida. "Esta vocação para ser mais que
não se realiza na inexistência de ter, na indigência, demanda liberdade,
possibilidade de decisão, de escolha, de autonomia" (FREIRE, 2003a, p.10).
Ou seja, a indigência, a pobreza, a insuficiência de recursos materiais, limitam
a possibilidade de decisão, limitam a liberdade, e assim, limitam a autonomia. Por
esse motivo, uma educação que busca formar para a autonomia deve estar
preocupada com a transformação dessas condições concretas que limitam a
autonomia. Essa transformação tem caráter político, por isso a educação está
vinculada indissociavelmente com a política.
Uma educação que vise formar para a autonomia deve encarar o futuro como
problema e não como inexorabilidade, a História como possibilidade e não como
determinação. O mundo não apenas é, ele está sendo, o papel dos homens no
mundo é de quem constata e intervém. A constatação só faz sentido se eu não
apenas me adaptar, mas tentar mudar, intervir na realidade. A conquista do poder de
ser autônomo exige a transformação das condições heterônomas que o limitam. Por
isso, é preciso que a compreensão do futuro como problema, que a vocação para
ser mais em processo de estar sendo, sejam fundamentos para a rebeldia de quem
não aceita as injustiças do mundo. A autonomia encerra em si certa rebeldia, na
medida que implica a não aceitação passiva e acrítica do mundo.
Para que as condições concretas que limitam a autonomia sejam
transformadas, é preciso reinventar o mundo de hoje e a educação é indispensável
nessa reinvenção. Essa reinvenção do mundo exige comprometimento. Da mesma
forma que não é possível entrar na chuva sem se molhar, não é possível educar
sem revelar a própria maneira de ser, de pensar politicamente. Por isso a
importância da coerência entre o que se diz e o que se faz. Freire (idem, p. 110) nos
diz que o professor não pode ser um sujeito de omissão, mas de opções. Como
experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no
mundo, o que implica além do conhecimento dos conteúdos, um esforço de
reprodução ou desmascaramento da ideologia dominante. Neutra em relação à
ideologia dominante a educação não pode ser.
Ressalta-se que, os interesses dominantes procuram promover uma
educação cuja prática é imobilizadora e ocultadora de verdades. Mas os fatalismos
que procuram deixar as coisas como estão devem ser negados, eles ajudam a
manter uma situação que é imoral e heterônoma. A prática educativa que propomos
deve ser uma tomada de posição frente ao mundo no sentido de transformá-lo para
que condições heterônomas sejam superadas, para que se estabeleçam relações e
condições que possibilitem a autonomia.
Um bom projeto educativo sempre foge dos espaços destinados para a sua
execução. Isso ocorre porque o ser humano pode aprender e descobrir coisas em
qualquer espaço, apresentando ainda a capacidade de ampliar sua compreensão
dos fatos e objetos, mesmo sob pressão. A sala de aula, aquele local que os
ocidentais acreditam há séculos ser o lugar de produção do conhecimento, não é o
único local possível para essa ocorrência. A consciência disso, no entanto, é o que
diferencia um projeto que defende ser a educação uma maneira de doutrinar
pessoas de um projeto político libertador, no qual educar é uma maneira de
transformar a realidade para melhor.
Falar sobre educação no Brasil é tratar de projetos distintos; o Estado tem um
e a sociedade espera e luta por outro. Infelizmente, a proposta experimentada e
vivida atualmente por todos não é exatamente a que leva ao melhor resultado. O
que vemos é uma distorção de princípios básicos da Educação. Um desvirtuamento
que atinge pessoas desde as primeiras séries do ensino fundamental até o término
de sua jornada dentro das salas de aula. Estamos diante de um projeto político de
desmantelamento da educação pública, que combina a desqualificação do ensino
com a falta de valorização dos profissionais responsáveis pela tarefa de levar o
conhecimento à sociedade, os professores.
Num plano geral não se consegue ter uma idéia exata de como o Estado
investe na falta de educação. A melhor maneira de entender a diferença entre esses
projetos políticos para o sistema educacional público é valendo-se de exemplos do
cotidiano das escolas, vividos por professores e alunos em estados e municípios da
federação. São as determinações dos governos locais que orientam as ações
pedagógicas a serem implementadas nas escolas. Enquanto se discute
financiamento da educação pública no âmbito nacional, muitos estados e o Distrito
Federal lançam mão de estratégias no campo legal para corroborar seus projetos.
Lutar pela melhoria do cotidiano é uma tarefa não apenas de
responsabilidade dos sindicatos de classe. Toda a sociedade deveria mobilizar-se
por isso, ainda mais quando o bem resultante, a Educação, é parte essencial do
processo de construção do cidadão, do sujeito consciente de seus direitos e
deveres.

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