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2 Vl'r, por exemplo, dua~ versões dest~ posição d:ís~i ca: C ross & Wootlcy, I ~64; White.
1992 .
.\ A <]Uest:io permite difi.-reJHt:S abordng,o.:n~: escolho aq ui discutir um aspccw importante
'Iuc é o dos se mido~ do ve rbo ser (o u melhor, das s igniflc~çõts d u st·r).
ti Fcrrrari , 2003b, p.393. Ver outras pa~sagcns dos diálogos que pC>tlcriam ~cr interp reta-
da~ dc:ste modo: Fédon 79A, 71mru 28A, 51D-52A. Filebo 58E-59C.
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Aras do III Colóquio Internacional de lv!emfísica
9 Frcrc, 1987.
1O C:ouloubarilsis, 1986; Marq ues, 1990.
l 1 Diógenes Laércio IX, 21-23; Capizú, 1975.
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A1as do II I Colôtp lio lmcrnacional de Mc1afísica
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At~~ do III Colóquio lmcrnacional dl· 1\lctafisica
Uma das quesrõcs que sustcnram a reoria dos dois mundos é o modo
como se inrerprera os scnridos ou usos do verbo ser cm cenas passagens
cruciais rais como o final do livro V da República, de cuja argumenração
passo a apresenrar uma síntese rápida. Sócrares quer diferenciar os fi lósofos
dos amanres de espetáculos (e sons); os segundos não distinguem a beleza
em si dos objetos belos; negam o belo cm si; por isso, limiram-se à opinião
e não têm acesso à ciência; ele avisa que vai combarê-los, rendo em visra a
defesa da polêmica resc (q ue na verdade é uma proposra polírica) segundo
a qual o governante (ou dirigente polírico) deve ser filósofo. Em função
I 7 Rrprí/Jiim V1 5 I OA8- I O- Conscmi rias também cm allrm~r. disse cu. que (:1 segunda
seç:io) csr.í dividid:~ em verdade e não (v(;rdadc) c que o que é semclhamc es t:í para
atluilo co m relação a q u e~ scmelh:mt(;. assim como o opin:ívcl está pa ra o cognoscí-
vd? - ~ Kal Ê8ÉÀOl5 àv aino cpava t, ~ ô Êyw 01\lPTlOSa t CxÀI")8EÍÇX TE Kal ~-~~. W5
TO oo~aOTOV rrpos TO yvwoTÓv, oihw TO OIJOIW8Ev rrp05 TO~ WIJOIW81];
dessa diferenciação, inserida numa argumentação retórica que visa persu-
adir seus inrerlocurores {leitores) de que o fllósofo deve governar, Sócrares
estabelece, passo a passo, que há cit:ncia de algo; que há ciência de algo que
é; que quem não sabe não sabe algo, portamo, ao não saber, nega o objew
da c iência .. . etc. 18 (texto 3):
l 8 ... Que "'o que é.. é rowlmcnrc dc1crminado (o u seja. o belo cm si é ahsolutamemc
bdo c causa de ru do o que é belo): que "'o que é c não é" é parcialmc1nc dc1erminado
(ou seja. as coisas belas s~o rclativamt.:nrc belas); que o objcro da cpi.rtlmc é "o que é",
o qLH: é cst:ívcl (repouso). o que é scm pre o mesmo (idem itb de}; que o objcw da ddxn
é "o que é c n:ío é", o que é insdvcl (movimenro), o que é sempre outro (alteridade};
temos aí. implicit:lllH'IHC, a conllgurac;:~o dos cinco gêneros maiores que será ana lisada
no Sofimt.
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At:ts do lll Colóquio lnrcrnacional de 1\lcrafísica
19 Kahn. 2003.
20 O"Bricn. 199); Dixs:tur, 1991.
21 Ver Ferrari, 2003a, p.378. n. 20. q LH: f.·w; um apanhado r:ípido das posições mais
rccenrcs.
22 Ver discu~s:ío 1.:nrrc Aubcnquc c Hrunsçhwig. cm Cassin. 1992.
decidir sobre a possível ênf:1sc ou necessidade lógica de um ou ourro desses
aspectos.
Quanto à passagem em questão, no li vro V da RepiÍblica, num a rti go
de 1988. sobre Parmênides c Platão, C harles Kahn se posiciona de modo
muito claro, partindo da perspectiva que ele chama de verirariva (t,eridi-
cal). Ele co nsidera que Platão introduz a terminologia do ser de modo
mais ou menos informal, para falar do que é real ou verdadeiro, como
objcro de conhecimento; passa então aos diversos usos predicativos. para
o
culminar com a desig nação da forma inteligível como EOTIV, num sen-
tido técnico próprio. Kahn propõe que os usos predicativos recebem uma
sobre-significação vcriraciva, pelo conrraste com o parecer (ou aparecer)
(<jJcxÍveo6cxt), e que o uso onmlógico Forte aparece no fina l da passagem,
na oposição cnrre o objeco do conhecimento e o nada (ouÕÉv). Pela ordem
das pergu ntas levantadas po r Sócra tes, ele considera que se pode exclu ir o
semido existencial para Õv, embora adm itindo que a existência esteja sem-
pre pressuposta; o que ;ugumenta é que a existência não é o que esd e m
questão neste momento, mantendo, assim, coe re nrcm~.:nte, a prioridadt: do
scmido predicativo até o final.
Em síntese, segundo Kahn, o verbo ser, mesm o no seu uso abso-
luto, deve sempre ser lido c m perspectiva predicariva. n Considero que seu
trabalho te m o grande mé rito de induzir a uma espécie de " limpeza do
campo" interpretativo, ao questionar significações rida!> automaticamente
como verdadeiras, tal como o sentido cxi!.rencial, isolado e fone, do verbo
ser. Enrrcmnro, por outro lado, a hipcnrofla dos parâmetros ling ísricos
e gramaticais, na leitura do texto pl:uôn ico, pode levar a imped ir que se
perceba o foco dos problemas ftlos6flcos, mesmo que isso não aconteça
necessariamente no livro de Kahn. O artigo mais recente de Leslie Brown,
por exemplo, coloca em perspectiva crítica alguns excessos que Kahn , trinta
anos depois, na inrroduçiio da úlrima edição do seu livro sobre "rhe verb
to be" , acaba por admitir, de algum modo, amenizando certas posições do
livro de 1973. Um dos pomos simples, mas dec isi vos, a meu ver, é reco-
nhece r a disparidade dos critérios utilizados: o uso predicativo é um recorre
simático e o sentido existenc ial é semântico. O próprio Kahn, cm otmos
2)4
Aras do III Cnlc'lCiuio lnrcrnaciorul de Metafísica
26 Vlasros. 1973.
27 Gonzaks, 1996. p.26 1. Ele observa que o próprio Kahn parece pressupor csra separa·
ç:ío ao rcjcit;u· tão taxa rivamcnrc a leitura existencial para a passagem de Repúblim V.
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Atas do III Colót]uio lnt crn.tcion:tl de Mc:tal'bic.:a
Referências
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óe TWV rrpá~swv KOl ow~áTwv KO:i exÀÀ~Àwv KOIVWVÍÇI ITOVT<XXOÜ cpavTaÇó
IJEVO TTOÀÀcX <jlaÍvw9at ,ÉKOOTOV.
30 A qucsúio dependt::, também cntr<' our rns, do modo com() inrtrprc tamos. no livro VII
da Rrpríb/icn, as passagens qut: 1r:Ham do problema em rcrm()S"qua nrirati vo~". de que
n:io trnto :tqui.
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Aras do I II Colcíquio IIH<:rnacional de Mewfísica
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