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INSTITUTO SUPERIR DE MUTASA

UNIDADE ORGÂNICA DE CHIMOIO

CADEIRA DE DOENCAS TRANSMISSAO

Malaria

Discentes:

Carolina da Sandra M. Chissano

Fátima Alima Assane Carlos

Gídio Lambane Belo

LICENCIATURA EM SAÚDE PÚBLICA 2º ANO

Chimoio, Outubro de 2021


INSTITUTO SUPERIR DE MUTASA

UNIDADE ORGÂNICA DE CHIMOIO

CADEIRA DE DOENCAS TRANSMISSAO

Malaria

Discentes:

Carolina da Sandra M. Chissano

Fátima Alima Assane Carlos

Gídio Lambane Belo

Docente:

Dr. Casanova A. M. Mpuhua

LICENCIATURA EM SAÚDE PÚBLICA 2º ANO

Chimoio, Outubro de 2021


Sumário
Introdução........................................................................................................................................4
Objectivo Geral:...........................................................................................................................4
Objectivos Específicos:................................................................................................................4
Historial da malária..........................................................................................................................5
A malária até ao século XX.........................................................................................................5
Os anos 40: a Segunda Guerra Mundial, o DDT e a Organização Mundial de Saúde (OMS)....7
Conceito:..........................................................................................................................................9
Epidemiologia..................................................................................................................................9
Ocorrência e distribuição (endemicidade)...................................................................................9
Padrões de endemicidade da malária.........................................................................................10
Classificação da malária baseada nas taxas de esplenomegalia e parasitária................................11
Quadro clinico...............................................................................................................................12
Modo de transmissão.....................................................................................................................13
A Patologia....................................................................................................................................13
Ciclo de Vida.................................................................................................................................14
Ciclo biológico do parasito no mosquito...................................................................................14
ESPOROGONIA....................................................................................................................15
Ciclo biológico do parasito no homem......................................................................................18
ESQUIZOGONIA..................................................................................................................19
Classificação clínica da malária.....................................................................................................21
Diagnóstico....................................................................................................................................22
Diagnóstico em Moçambique....................................................................................................22
Prevenção da Malária....................................................................................................................23
Intervenções de controlo de Vector........................................................................................25
O tratamento..................................................................................................................................26
O Programa Nacional de Controlo da Malária..............................................................................28
Conclusão......................................................................................................................................31
Bibliografia....................................................................................................................................32
Introdução
A malária é uma doença infeciosa transmitida através da picada de mosquitos que afeta humanos
e outros animais e é causada por um parasita do género Plasmodium. Se não for tratada pode
causar graves problemas, podendo ser fatal principalmente em crianças, grávidas e pessoas que
vivam fora das zonas endémicas.
Apesar de ser considerada uma doença que afeta principalmente os trópicos, tem o potencial para
infetar países onde já foi endémica no passado. A verdade é que a erradicação da malária é um
objetivo da Organização Mundial de Saúde há muitos anos, mas, devido a fatores como o
aparecimento de resistências aos medicamentos e inseticidas, ainda não foi alcançada. Isto,
somado aos casos importados (devido a viagens a áreas endémicas) e a alterações climáticas,
contribui para a possibilidade de alastramento da malária a mais zonas do globo.
Por tudo isto, torna-se importante dar a conhecer um pouco sobre a doença de forma a que se
adotem as medidas corretas, tanto profiláticas como de tratamento.

Objectivo Geral:
o Compreender a história natural da malária, as formas Profiláticas e Terapêuticas usadas
no Combate à Malária;
Objectivos Específicos:
o Definir Malária
o Entender a História da Malária
o Identificar a Etiologia da Malária
o Identificar as Manifestações Clinicas da Malária
o Evidenciar o Ciclo de Vida da Malária
o Avaliar como e feito o Diagnostico Da Malária
o Classificar clinicamente a Malária
Historial da malária
O presente subcapítulo pretende expor, de modo sucinto, o historial biomédico da malária,
destacando alguns factos e desenvolvimentos no controlo da doença em referência, nas
sociedades europeia e norte-americana. A parcialidade desta análise, ao privilegiar a bibliografia
mais acessível à investigadora, exclui as sociedades asiáticas, onde, por exemplo, a utilização da
planta artemisinina (ou qinghaosu) já surge registada em textos médicos chineses, há 2000 anos
(Packard, 2007: 115) e que, atualmente, faz parte das terapêuticas biomédicas, sendo considerada
um fármaco decisivo no tratamento da malária.

A malária até ao século XX


A origem da malária tem sido amplamente discutida entre investigadores das ciências
biomédicas, sendo considerada uma das doenças infecciosas mais antigas. A génese e a
transmissão dos parasitas da malária (Plasmodium) têm sido debatidas, com base em
argumentos, designadamente a sua origem não humana, através dos chimpanzés, outros primatas
e galinhas, a sua origem humana ou coespeciação1, o grau de imunidade das populações, a
adaptação dos vetores às condições climáticas e o tipo de fixação das populações, entre outros2
(Webb Jr., 2009: 43-54). A existência de cinco parasitas que, atualmente, infetam os humanos:
Plasmodium malariae, Plasmodium ovale, Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum e
Plasmodium knowlesi. As análises genéticas apontam para que os parasitas tenham evoluído a
partir de África3, com a população dos primeiros hominídeos que divergiram dos grandes
primatas, saindo da savana africana, há 5 milhões de anos (Packard, 2007: 22).
Entre 100 000 e 50 000 a. C., os primeiros homens modernos iniciam a migração que viria a dar
origem aos primeiros euro-asiáticos modernos, deixando para trás vários insetos e animais
tropicais, que serviam de repositório e transmissor, assim como várias doenças tropicais,
nomeadamente a febre-amarela, tripanossomíase, cegueira dos rios e a elefantíase (Webb Jr.,
2009: 42). Os parasitas da malária, transportados no seu sangue, viriam a encontrar, no novo
ambiente, uma vasta variedade de insetos da espécie Anopheles, como vetor de transmissão.
Julga-se que a malária terá afetado as grandes civilizações milenares, havendo documentos
chineses com referências à doença, em 2700 a. C., tábuas de argila da Mesopotâmia, a partir de
2000 a. C., papiros egípcios de 1570 a. C. e textos hindus de 600 a. C. (Cox, 2010: 1).
O crescente contacto entre os povos, por motivos comerciais e militares, assim como a existência
progressiva de aglomerados populacionais que requereram a prática da agricultura de um modo
extensivo e, ainda, a domesticação de animais viriam a alterar a ecologia das regiões e a
imunidade dos indivíduos aos quais os parasitas e os vetores se adaptaram (Webb Jr., 2009, 18-
91). A domesticação de animais e a agricultura criariam uma nova ordem epidemiológica.
Esta doença que, atualmente, possui uma elevada morbimortalidade nos países tropicais
africanos, há menos de um século afetava quase toda a população mundial.
Os ideais iluministas dos séculos XVI-XVIII viriam a criar as bases fundacionais da medicina
científica, que se afirmou, no século XIX, com o reconhecimento da teoria dos germes. Louis
Pasteur, Robert Koch e Joseph Lister são, apenas, alguns nomes dos cientistas que viriam a
fundar a microbiologia, no final do século XIX e a detectar não só os agentes causadores da
tuberculose (R. Koch), da cólera (L. Pasteur e R. Koch) e do antraz (R. Koch e L. Pasteur) como
também as técnicas de esterilização (J. Lister), pasteurização e fermentação (L. Pasteur).
As descobertas do final do século XIX viriam, também, a transformar o rumo da prevenção e
tratamento dessa patologia, quando, em 1880, Alphonse Laveran encontra o parasita da malária
no sangue humano (Packard, 2007: 115) e, dezoito anos depois, Ronald Ross publica um artigo
onde explicita o papel do mosquito anofelino na transmissão da malária, em pássaros (Packard,
2007: 115). Nesse mesmo ano, Giovanni Grassi comprova a transmissão da malária a humanos,
dando início a novos desenvolvimentos no controlo da doença (Packard, 2007:
115), refutando, assim, a teoria dos miasmas, que associava os episódios de febre aos vapores
emanados dos pântanos e das zonas baixas, que provocavam mau-ar (mal-aria).
Conhecido o agente da doença e o seu vetor de transmissão, as medidas de controlo da malária
viriam a polarizar-se entre dois campos: por um lado, aqueles que defendiam que a sua
eliminação passaria por uma reforma social e pelo desenvolvimento agrícola eficaz (Angelo
Celli4 e o coronel S.P. James5 destacaram-se nesta posição), num momento em que as atividades
humanas configuravam a ecologia e a epidemiologia da malária, através das guerras6, da
exploração mineira, da construção de estradas e caminhos-de-ferro, da progressiva
industrialização e dos movimentos populacionais forçados e voluntários (Packard, 2007:11). Por
outro lado, aqueles que defendiam que o controlo da doença passaria por soluções na esfera
biomédica, como a administração de antimaláricos e a utilização de inseticidas e larvicidas, para
eliminar os mosquitos e seus criadouros.
No início do século XIX, a utilização de quinino7, eficaz no tratamento de febres, e a sua
produção em fábricas já se tinham propagado pela Europa, países asiáticos sobre domínio
colonial e Américas, sendo um fármaco indispensável aos exércitos, aos trabalhadores das
grandes construções de caminhos-de-ferro e nas viagens marítimas, entre outros (Webb Jr., 2009:
98-122). No início do século XX, o quinino é, assim, utilizado para o tratamento da malária,
administrado como profilaxia, a par da implementação de medidas de destruição dos mosquitos e
seus habitats, saneamento e drenagem dos pântanos.
Neste período, o controlo da malária privilegiava a intervenção biomédica, em detrimento das
reformas sociais e agrícolas, defendidas por Celli, e, mais tarde, pela designada Escola
Holandesa e Italiana (Nájera et al., 2011: 1).
A Primeira Guerra Mundial foi devastadora para a Europa, situação agravada por várias
epidemias, incluindo a malária. Com a fundação da Sociedade das Nações, em 1919, foi,
também, criada a Comissão da Malária, que procurava definir estratégias para o controlo da
doença, entre os seus estados-membros e nos Estados Unidos da América (Webb Jr., 2009: 145).
Para além da Sociedade das Nações, a Fundação Rockefeller, também, desempenhou um papel
importante no controlo da malária, tendo-a abordado sob uma perspectiva mais ambiental e
entomológica (em paralelo com a administração de antimaláricos8), em que o inseticida Paris
Green foi extensamente utilizado, assim como a drenagem de lagoas e o uso de óleos nos
pântanos de difícil escoamento – o canal do Panamá e o rio Mississipi – para destacar algumas
áreas que sofreram intensas intervenções por parte das autoridades de saúde pública americana
(Humphreys, 2001: 69-78).

Os anos 40: a Segunda Guerra Mundial, o DDT e a Organização Mundial de Saúde (OMS)
Os esforços e investimento público para controlar a malária, nas primeiras décadas dos anos 40,
alcançaram resultados modestos, mas permitiram aos governos e instituições de saúde pública
(incluindo a Comissão da Malária da Sociedade das Nações e a Fundação Rockefeller) conhecer
melhor a doença, através da realização de estudos de vigilância epidemiológica e estudos
entomológicos.
A Segunda Guerra Mundial, com palcos de conflito pela Europa, Ásia e Pacífico, viria a
conhecer um inimigo comum: a malária. O maior ou menor sucesso na frente de combate
dependia da capacidade de garantir que os militares se mantinham livres da doença e que o
ambiente envolvente das bases militares estava vetorialmente controlado (Packard, 2007: 140).
Em 1939, a descoberta do DDT (dichlorodiphenyl-trichloro-ethane) por Paul Mueller, um
químico suíço, viria a revolucionar o controlo da malária não só porque eliminava os mosquitos,
mas também porque a sua ação se prolongava até três meses após a aplicação (Humphreys, 2001:
147), podendo, mesmo, existirem casos em que a pulverização realizada a cada seis meses
inverteria a população anofelina. A Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria viriam a catalisar a
expansão do DDT, quer em contextos militares, quer através de programas de controlo da
malária (Packard, 2007: 147). Em 1945, a cloroquina foi introduzida e passou a integrar as
estratégias de “esterilização” (Humphreys, 2001: 73).
A erradicação da malária, em oposição ao seu controlo, apresentou-se, assim, como um objetivo
alcançável pelos Estados. Aprovado em 1955, na Assembleia Mundial de Saúde, o Programa de
Erradicação da Malária, sob liderança técnica e de coordenação de recursos por parte da OMS
(Nájera et al., 2011: 2), destinou- se, primeiramente, aos Estados-membros, investindo todos os
recursos e esperanças nas atividades de pulverização intradomiciliária com DDT, como
alternativa aos casos de resistência à cloroquina, identificados na Venezuela e na Tailândia, no
final dos anos 50 (Nájera et al., 2011: 3). Como resultado, a campanha realizada impediu a
transmissão, em todas as áreas endémicas de malária na Europa, na maioria das regiões asiáticas
da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), nos Estados Unidos da América e na
maioria dos países das Caraíbas (Krogstad, 1996: 1). Em 1950, a malária era considerada uma
doença endémica, em 143 países. Em 1978, 37 foram declarados livres de malária, 27 dos quais
localizados no continente europeu e americano (Wernsdorfer 1980, apud
Mendis et al., 2009: 2).
No entanto, houve países onde se observou o ressurgimento da malária. Apesar da OMS ter
considerado que as causas estariam relacionadas com as resistências aos antimaláricos e
inseticidas, é de admitir que tenha decorrido da fraca gestão dos programas de controlo da
enfermidade e da falta de formação adequada do pessoal de saúde (causas mais relacionadas com
o âmbito biomédico).
Vários cientistas sociais defendem que, em alguns países, a diminuição do esforço de combate
desta doença assentava em motivações político-econômicas, mormente do controlo de
trabalhadores revoltados e protestos generalizados (Baer, Singer e Susser, 2003: 76-77).
Com este Programa de Erradicação da Malária, Moçambique não alcançou os mesmos resultados
do que os 37 países que foram considerados livres dessa doença.

Conceito:
A malária, mundialmente um dos mais sérios problemas de saúde pública, é uma doença
infecciosa causada por protozoários do gênero Plasmodium e transmitida ao homem por fêmeas
de mosquitos do gênero Anopheles, produzindo febre, além de outros sintomas. Quatro espécies
de plasmódio podem causar a doença: P. falciparum, P. vivax, P. malariae e P. ovale (essa, de
transmissão natural apenas na África). (Ministerio da saude, 2005)

Etiologia

A malária, também conhecida por paludismo é uma doença infecciosa causada por parasitas do
género Plasmodium.

Cinco espécies de Plasmodium podem produzir a doença:

 Plasmodium falciparum
 Plasmodium vivax não afecta o grupo sanguíneo Duffy
 Plasmodium ovale
 Plasmodium maláriae
 Plasmodium Knwolesi (mais nos macacos)

O P. falciparum é de longe a espécie mais comum encontrada por todo o mundo, em áreas
tropicais e subtropicais, e é responsável pelas formas mais graves e pela maioria das mortes por
malária. No entanto, o P. falciparum não é a única espécie que pode causar morte. O P. vivax,
encontrado na Ásia, América Latina e algumas partes de África, como Etiópia e Eritreia, e o P.
knowlesi, encontrado no sudoeste Asiático e regiões florestais, podem levar a morte por malária.
(Tiago, (2009,2017))

A espécie mais frequente em África é o P. Falciparum, sendo responsável por 90% dos casos e
associado a níveis significativos de morbilidade e mortalidade. Esta é também a espécie mais
comum em Moçambique. (Tiago, (2009,2017))
Epidemiologia
Ocorrência e distribuição (endemicidade)
Em África, o nível de endemicidade da malária varia de país para país e, por vezes, de região
para região, dentro do mesmo país. Alguns dos factores responsáveis pelas variações na
endemicidade incluem:

 Condições climáticas /ambientais:


a) Temperatura
b) Altitude
c) Pluviosidade
 Condições socioeconómicas
 Presença de vectores eficazes
 Fraca cobertura
a) Rede sanitária
b) Medidas de prevenção
Uma pluviosidade abundante está associada a uma elevada transmissão da malária, enquanto os
locais situados em elevada altitude e com temperaturas baixas tendem a ser caracterizados por
baixas taxas de transmissão. (Tiago, (2009,2017))

A malária é também um problema socioeconómico, uma vez que interfere negativamente no


desenvolvimento do País, mantendo o ciclo doença/pobreza devido ao elevado absentismo
escolar e laboral bem como a perda de mão-de-obra laboral. (Tiago, (2009,2017))

Padrões de endemicidade da malária


A endemicidade da malária descreve a intensidade da transmissão da malária numa determinada
comunidade ou região e pode ser classificada de acordo com as taxas de parasitas.

Com base na intensidade da transmissão, as regiões podem ser classificadas como sendo:

Zonas de transmissão estável:

 Transmissão durante todo o ano, embora possa ter alguma variação sazonal.
 As crianças maiores e adultos que vivem nessas zonas tem imunidade parcial que os
protege contra malária grave,
 Crianças menores de 5 anos e mulheres grávidas têm pouca ou baixa imunidade e por
conseguinte constituem grupos de risco de malária grave. (Tiago, (2009,2017))
Malária instável:

 Transmissão intermitente, que pode ser anual, bi-anual


 Tendência de ocorrência de epidemia
 Todas as pessoas vivendo nestas áreas têm baixa imunidade (tem mesmo risco de contrair
a doença)
 Imunidade contra malária baixa ou ausente
Zonas livres de malária:

 Não ocorre transmissão de malária


Normalmente, as populações não têm qualquer imunidade para malária e, por isso, são
susceptíveis de contrair a malária grave. (Tiago, (2009,2017))

Classificação da malária baseada nas taxas de esplenomegalia e parasitária


A taxa de esplenomegalia é a proporção (expressa em percentagem) de baços aumentados numa
amostra da população, geralmente crianças de 2 – 9 anos. A taxa parasitária é a proporção de
uma determinada população com parasitas de malária no sangue. Com base nestes dois índices, a
endemicidade da malária pode ser classificada como se descreve na tabela. (Tiago, (2009,2017))

Tipo Índice esplénico Taxa parasitária


Hipoendémica ≤ 10% de crianças dos 2 – 9 ≤ 10% de crianças dos 2 – 9
anos anos
Mesoendémica 11 – 50% de crianças dos 2 – 11 – 50% de crianças com 2 –
9 anos 9 anos
Hiperendémica Constantemente> 50% em Constantemente> 50% em
crianças dos 2-9 anos, com crianças dos 2 – 9 anos;
também alta (> 25%) em
adultos
Holoendémica Constantemente> 75% em Constantemente> 75% em
crianças dos 2 - 9 anos, mas crianças dos 0 - 11 meses
baixa em adultos
Fonte: (Tiago, (2009,2017))

Nas zonas de elevada endemicidade, o nível de imunidade para malária na comunidade tende a
ser elevado e, por conseguinte, a prevalência de infecções assintomáticas de malária é também
elevada. (Tiago, (2009,2017))

Quadro clinico

Os sintomas da malária envolvem a clássica tríade febre, calafrio e dor de cabeça. Sintomas
gerais – como mal-estar, dor muscular, sudorese, náusea e tontura – podem preceder ou
acompanhar a tríade sintomática. Contudo, esse quadro clássico pode ser alterado pelo uso de
drogas profiláticas ou aquisição de imunidade, e muitos desses sintomas podem ou não estar
presentes e até mesmo todos podem estar ausentes. Nos casos complicados, podem ainda ocorrer
dor abdominal forte, sonolência e redução da consciência – podendo levar ao coma nos casos de
malária cerebral. (Ministerio da saude, 2005)

A ausência de parâmetros clínicos específicos que permitam confirmar a infecção justifica a


necessidade de métodos laboratoriais para o diagnóstico da malária. Além disso, a presença da
parasitemia não se relaciona com as manifestações clínicas, isto é, não há associação entre pico
febril e positividade do exame microscópico. Embora os ciclos evolutivos das espécies
causadoras sejam similares, do ponto de vista patológico a infecção malárica apresenta
diferenciações que podem determinar as variações na evolução clínica da doença. A infecção de
indivíduos não imunes pelo P. falciparum pode resultar em forma grave e complicada,
caracterizada pelo acometimento e disfunção de vários órgãos ou sistemas: sistema nervoso
central, sistema hematopoiético, aparelho respiratório, fígado, sistema circulatório, rins e
coagulação sanguínea. Assim, todo paciente portador dessa espécie de plasmódio deve merecer
atenção especial, de modo a receber tratamento imediato, essencial para prevenir tais
complicações. (Ministerio da saude, 2005)

A malária é uma doença parasitária infecciosa febril aguda, de grande impacto social,
principalmente nos países situados nas regiões tropicais e subtropicais. Seu quadro clínico típico
é caracterizado por febre precedida de calafrios, seguida de sudorese profusa, fraqueza e cefaleia
que ocorrem em padrões cíclicos, dependendo da espécie de Plasmodium infectante.
Em alguns pacientes aparecem sintomas prodrômicos vários dias antes dos paroxismos da
doença, como náuseas, vômitos, astenia, fadiga e anorexia (BRASIL, 2014ª, citado por
(Marchesine, 2018)
Apesar dos avanços no conhecimento sobre a doença, a malária continua a ser causa significativa
de morbidade e mortalidade nas áreas onde é prevalente, tendo impacto devastador na saúde e
subsistência das pessoas em todo o mundo, especialmente nas populações mais pobres e
vulneráveis. Nessas populações, a morbidade e mortalidade são ainda muito maiores, devido a
dificuldades e/ou escassez de ações de controle, diagnóstico e tratamento adequados (BRASIL,
2014ª, citado por (Marchesine, 2018).

Modo de transmissão
A infecção é transmitida principalmente pela picada de um mosquito fêmea anófeles infectado.
Para além deste modo de transmissão, a infecção malárica pode também ocorrer por transmissão
acidental via transfusão sanguínea ou ferimento por picada de agulha infectada e a transmissão
congénita de mãe para filho durante a gravidez ou parto. Esta situação é diagnosticada quando se
encontra parasitémia num recém-nascido, nos sete dias após o nascimento, ou mais tarde, se não
houve qualquer outra possibilidade de transmissão para o recém-nascido (pelo sangue ou picada
de mosquito). Apesar da elevada prevalência placentária, a transmissão congénita da malária é
rara. (Tiago, (2009,2017))

A Patologia
A Malária, enquanto doença parasitária do sangue, decorre da simbiose de dois elementos: o
parasita, do género Plasmodium e o vetor, do género Anopheles (mosquito).

Nos humanos, o parasita desenvolve-se e multiplica-se, primeiramente, nas células do fígado,


passando, de seguida, para os glóbulos vermelhos. A sua multiplicação destrói os glóbulos
vermelhos, dando origem a novos parasitas-filhos (designados de merozoítos), que continuam o
ciclo, através da invasão de outros glóbulos vermelhos. Com esta “colonização”, ele desenvolve-
se, consumindo a hemoglobina das células (Packard, 2007: 21). Daí a associação da malária à
anemia.
Todavia, nem todos os merozoítos invadem os glóbulos vermelhos. Alguns diferenciam-se pelas
suas formas masculinas e femininas, conhecidos por gametócitos, que circulam na corrente
sanguínea periférica. A fêmea anofelina (vetor), ao inocular um humano, ingere alguns destes
gametócitos, durante as suas “refeições” de sangue. Estes gametócitos maturam em formas
sexuais e reproduzem- se no estômago do mosquito. Aí, completam os estágios de reprodução
sexual do ciclo de vida do parasita, produzindo novos esporozóitos que invadem as glândulas
salivares do mosquito e infetam, na inoculação seguinte, o novo hospedeiro humano (Packard,
2007: 21).

Para que ocorra a contaminação, o complexo ciclo de vida reprodutiva do Anopheles-fêmea e do


parasita precisam de coincidir, isto é, o parasita da malária (do hospedeiro humano) deve ser
ingerido pela fêmea do mosquito anofelino, durante a sua reprodução sexual, e transmitido a um
segundo humano, após ela estar completa − aproximadamente 14 dias (Packard, 2007: 24).

Após a infeção por P. falciparum ou P. malariae, o hospedeiro poderá sentir os primeiros


sintomas entre 7 a 15 dias, ao contrário de uma infeção por P. ovale e P. vivax, cujo período de
incubação poderá estender-se por várias semanas e meses, devido à forma hepática de
“adormecimento” do parasita.

Vários fatores podem influenciar a transmissão do parasita, ou seja, a capacidade do Anopheles-


fêmea completar o seu ciclo reprodutivo e, consequentemente, infetar. Entre eles, destacam-se os
seus hábitos de alimentação e inoculação (zoófilos, antropófilos, endofágicos ou exofágicos), a
disponibilidade dos mesmos e as condições ambientais para a sua reprodução, nomeadamente a
existência de superfícies de água, o elevado grau de humidade e o nível de salinidade, entre
outros (Sinka et al., 2010: 11-16)

Ciclo de Vida
O ciclo de vida do Plasmodium sp apresenta uma fase sexuada exógena (esporogônio), com a
multiplicação dos parasitos nas fêmeas do mosquito do gênero Anopheles, e uma fase assexuada,
endógena (esquizogônica), com multiplicação no hospedeiro humano. Esta última fase inclui o
ciclo que ocorre nas células do parênquima hepático (esquizogonia tecidual) e o ciclo que se
desenvolve nos glóbulos vermelhos (esquizogonia eritrocítica). (Marchesine, 2018)
Ciclo biológico do parasito no mosquito
A reprodução sexuada (esporogônica) do parasito da malária ocorre no estômago do mosquito,
após a diferenciação dos gametócitos em gametas e a sua fusão, com formação do ovo (zigoto).
Este se transforma em uma forma móvel (oocineto) que migra até a parede do intestino médio do
inseto, formando o oocisto, no interior do qual se desenvolverão os esporozoítos. O tempo
requerido para que se complete o ciclo esporogônico nos insetos varia com a espécie de
Plasmodium e com a temperatura, situando-se geralmente em torno de 10 a 12 dias. Os
esporozoítos produzidos nos oocistos são liberados na hemolinfa do inseto e migram até as
glândulas salivares, de onde são transferidos para o sangue do hospedeiro humano durante o
repasto sanguíneo. (Ministerio da saude, 2005)
ESPOROGONIA

(Continua)
(Continua)
Fonte: UFMG, 2017, citado por (Marchesine, 2018)
Ciclo biológico do parasito no homem
O ciclo assexuado do plasmódio, denominado esquizogônico, inicia-se após a picada do
anofelino, com a inoculação de esporozoítos infectantes no homem. A seguir, os esporozoítos
circulam na corrente sanguínea durante alguns minutos e rapidamente penetram nas células do
fígado (hepatócitos), dando início ao ciclo pré-eritrocítico ou esquizogonia tecidual, que dura
seis dias para a espécie P. falciparum, oito dias para a P. vivax e 12 a 15 dias para a P. malariae.
(Ministerio da saude, 2005)

Durante esta fase, o P. vivax e o P. ovale apresentam desenvolvimento lento de alguns dos seus
esporozoítos, formando os hipnozoítos, formas latentes (dormentes) do parasito responsáveis
pelas recaídas da doença meses ou anos após. Ao final do ciclo tecidual, os esquizontes rompem
o hepatócito, liberando milhares de elementos-filhos na corrente sanguínea, chamados
merozoítos. Ressalte-se que cada hepatócito rompido libera cerca de 2.000 merozoítos quando a
infecção é devida ao P. malariae;10.000, quando devida ao P. vivax e 40.000, quando devida ao
P. falciparum. Os merozoítos irão invadir as hemácias, dando início ao segundo ciclo de
reprodução assexuada dos plasmódios: o ciclo sanguíneo ou eritrocítico. O P. malariae só invade
hemácias velhas (0,1% do total), o P. vivax invade preferencialmente as hemácias jovens e o P.
falciparum, hemácias em qualquer fase evolutiva. (Ministerio da saude, 2005)

Durante um período que varia de 48 a 72 horas, o parasito se desenvolve no interior da hemácia


até provocar a sua ruptura, liberando novos merozoítos que irão invadir novas hemácias. A
ruptura e consequente liberação de parasitos na corrente sanguínea traduz-se clinicamente pelo
início do paroxismo malárico, que se repetirá com o término do novo ciclo (em dois dias, quando
a infecção for devida ao P. falciparum ou P. vivax e em três dias, quando devida ao P. malariae).
Inicialmente, no ciclo sanguíneo, o parasito sofre uma série de transformações morfológicas –
sem divisão celular – até chegar a fase de esquizonte, quando se divide e origina novos
merozoítos que serão lançados na corrente sangüínea, após a ruptura do eritrócito. Assim, no
exame microscópico do sangue pode-se observar variada morfologia do parasito – trofozoítos
jovens (anéis), trofozoítos maduros, formas irregulares, esquizontes jovens e esquizontes
maduros. (Ministerio da saude, 2005)

Após um período de replicação assexuada, alguns merozoítos se diferenciam em gametócitos


machos e fêmeas, que amadurecem sem divisão celular e tornam-se infectantes aos mosquitos. A
função desses gametócitos é reprodutiva, isto é, garantir a perpetuação da espécie. Eles podem
ser de dois tipos, diferenciados microscopicamente nos esfregaços sanguíneos: os
microgametócitos (masculinos) e os macrogametócitos (femininos). (Ministerio da saude, 2005)

ESQUIZOGONIA

(Continua)
(Continua)
Fonte: UFMG, 2017, citado por (Marchesine, 2018)

Classificação clínica da malária


A malária pode apresentar-se como:

 Malária Não Complicada ou


Malária sintomática sem sinais de gravidade ou evidência (clínica ou laboratorial) de disfunção
de órgão vital, com resultado laboratorial que confirma presença de parasitas (TDR ou
hematozoário). Os sinais e sintomas da malária são inespecíficos. (Tiago, (2009,2017))
 Malária Grave/Complicada
Malária sintomática com sinais de gravidade ou evidência (clínica ou laboratorial) de disfunção
de órgão vital, com resultado laboratorial que confirma presença de parasitas (TDR ou
hematozoário).

FALÊNCIA TERAPÊUTICA

Febre ou persistência dos sintomas por mais de 3 dias após o início do tratamento (feito de
acordo com as recomendações) e presença de parasitas da malária no sangue, excluindo as
formas sexuadas (gametócitos). (Tiago, (2009,2017))

Diagnóstico
No caso de uma malária não complicada, ou seja, uma malária sintomática sem sinais de
gravidade ou evidência (clínica ou laboratorial) de disfunção de órgão vital, o doente pode
apresentar cumulativamente, ou não, os seguintes sinais e sintomas: cefaleia, cansaço, dores
articulares, dores musculares, desconforto abdominal e mal-estar geral, seguidos de febre
(temperatura axilar igual ou superior a 37,5ºC), arrepios de frio, sudorese, anorexia, vómitos e/ou
diarreia e agravamento do mal-estar. É frequente observar-se anemia e tosse, em crianças
(MISAU, 2011b, Citado por (Siqueira, 2017)).

Em caso de malária grave, um doente com parasitémia por P. falciparum e sem outra causa óbvia
para a sintomatologia apresenta um ou mais destes achados clínicos ou laboratoriais: prostração,
alteração de consciência ou coma, incapacidadede se alimentar, dificuldade respiratória,
convulsões repetidas, colapso circulatório ou choque, edema pulmonar (radiológico), hemorragia
espontânea anormal, icterícia clínica e evidência de disfunção de outro órgão vital,
hemoglobinúria (urina escura), anemia grave, hiperpirexia (temperatura axilar igual ou superior a
39,5ºC) e insuficiência renal (redução da diurese) (MISAU, 2011b, Citado por (Siqueira, 2017)).
Diagnóstico em Moçambique
Desde 2008 que, em Moçambique, o diagnóstico da malária tem de ser acompanhado por
evidência laboratorial quer através da análise de uma amostra de sangue, em laboratório
(microscopia), quer através da realização de um Teste de Diagnóstico Rápido (TDR). A
prescrição de tratamento com antimaláricos fica, assim, sujeita à obtenção de um resultado
positivo no exame laboratorial ou no TDR, existente em todas as Unidades Sanitárias. De acordo
com a OMS, a utilização da microscopia apresenta várias vantagens, tais como a possibilidade de
identificar e quantificar o parasita, podendo, deste modo, adequar-se o tratamento. (Siqueira,
2017)

Além disso, existem alguns laboratórios equipados com PCR (polymerase chain reaction), que
realiza a deteção molecular e identificação das espécies de plasmódio. Consequentemente, esses
procedimentos requerem profissionais com elevado nível de formação e experiência e Unidades
Sanitárias equipadas com material laboratorial e com energia elétrica (OMS, 2010, Citado por
(Siqueira, 2017)).

Durante o período que antecedeu a introdução dos Teste de Diagnóstico Rápido (TDR), todo o
doente que recorresse a uma unidade sanitária (US) sem laboratório, com um quadro clínico de
febre, cefaleia, diarreia e dores articulares, era diagnosticado com malária (designada de malária
clínica), de acordo com o protocolo da Atenção Integrada às Doenças da Infância (AIDI19),
adotado pelo

Ministério da Saúde. Durante este período, a confirmação do diagnóstico era, apenas, feita
através de análises parasitológicas efetuadas nas escassas unidades sanitárias com laboratório −
298 US, correspondendo a 23,3% (MISAU, 2012a: 20), usualmente localizadas nas sedes dos
distritos. (Siqueira, 2017)

Um inquérito realizado a nível nacional, em Moçambique, com uma amostra de 8 816 menores
de 10 anos, concluiu que a maioria das crianças a quem tinha sido detectada uma infeção por
malária nas amostras de sangue recolhidas não apresentava quaisquer sintomas (malária
assintomática). Nos casos das crianças, em que a malária estava associada a febre, a faixa etária
centrava-se principalmente nos menores de 12 meses (10,6%), com uma tendência para diminuir
até à idade de 7-10 anos (3,3%) (Mabunda et al., 2009: 3-5). Os episódios de malária
assintomática afiguram-se como um grande desafio para o controlo da doença, na medida em que
permeiam a manutenção da transmissão. (Siqueira, 2017)

Prevenção da Malária
 Controlo do vetor

As campanhas da OMS para combater a doença a nível mundial apostam muito na prevenção.
Para além de fazer a divulgação das medidas que ajudam a prevenir a doença, reúne esforços
para fazer o controlo do vetor distribuindo redes impregnadas com inseticidas, pulverizando as
paredes das casas com inseticidas (como é o caso do DDT, de piretroides e organofosfatos) e em
alguns casos fazendo o controlo larvar. O controlo larvar só pode ser feito quando os locais de
reprodução dos mosquitos são reduzidos e facilmente identificados (WHO, 2011a). Para a
pulverização das casas, a OMS recomenda um sistema rotativo com diferentes classes de
inseticidas para zonas onde é feito com frequência. Esta medida é importante porque os
mosquitos repousam nas paredes após se terem alimentado. Quanto ao uso das redes no leito
revela ser uma medida de combate indispensável porque o mosquito normalmente alimenta-se ao
amanhecer e ao anoitecer (WHO, 2011a, citado por (Esteves, 2012)

A prevenção da doença também pode ser feita através do uso de repelentes, tendo em atenção
que os mais eficazes são os que contêm 30% de N, N-dietilmetatoluamida (DEET). Também
contribuem para o sucesso da prevenção ao uso de roupas protetoras, a climatização do ambiente
e o uso de quimioprofiláticos (WHO, 2011ª, citado por (Esteves, 2012)

 Quimioprofilaxia no Homem

Nenhum medicamento profilático é 100% eficaz, portanto devem ser combinados com medidas
pessoais protetoras como o uso de repelente de insetos, roupa que diminua a exposição da pele
ao mosquito, dormir em locais protegidos.

A profilaxia medicamentosa da doença implica o uso de drogas previamente à infeção ou antes


que se manifestem os sintomas clínicos. Os medicamentos disponíveis para a profilaxia são
(CDC, 2011, citado por (Esteves, 2012)

a) Atovaquona + Proguanil (esquizonticidas hemáticos)


b) Cloroquina (esquizonticida hemático)
c) Doxiciclina (esquizonticida hemático)
d) Mefloquina (esquizonticida hemático)
e) Primaquina (esquizonticida tecidual)

Estes medicamentos têm de começar a ser tomados com antecedência, assim como têm de
continuar a ser tomados durante algum tempo após o regresso da zona endémica. (Esteves, 2012)

Intervenções de controlo de Vector


A gestão vectorial integrada (GVI) incorpora várias intervenções de controlo de vector,
selecionadas com base nos factores locais que determinam a transmissão da malária, destacam-se
as seguintes:

a) PIDOM – método mais eficaz no controlo do mosquito adulto, vector da malária, que
pode resultar na redução do nível de transmissão da malária.
b) REMILD – método preventivo eficaz e reduz a picada pelos mosquitos.
c) Gestão ambiental / controlo larval (inclui todos os métodos físicos, químicos e
biológicos) – controlo larval do mosquito vector da malária tem potencial para ser eficaz
sempre que os criadouros alvo estejam bem definidos e sejam limitados em número,
particularmente nas zonas sub e peri-urbanas.
d) Monitoria entomológica – assegura a avaliação da densidade, susceptibilidade dos
vectores da malária e a eficácia residual dos insecticidas usados na PIDOM, Pulverização
Extra Domiciliária (PEDOM) e REMILD.
e) PEDOM – método de controlo de vector em situação de emergência (maior densidade de
mosquito vector da malária)

A PIDOM continua a ser uma prioridade nas intervenções de controlo do vector. O governo de
Moçambique tem realizado a PIDOM desde 1946. Segundo o relatório anual do PNCM, em 2010
foram pulverizadas cerca de 2.3 milhões de casas o que correspondeu a uma cobertura de 71% de
casas pulverizadas, e protegeu 64% do total da população. A PIDOM aumentou de 34 distritos
em 2001, para 54 em 2009 e 62 em 2010. Da lista de insecticidas recomendados pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), e usados para a PIDOM, constam o dicloro-
difeniltricloroetano (DDT), os peritroides e carbamatos. (Siqueira, 2017)

A distribuição de REMILDs teve início em 2000 em crianças menores de cinco anos e mulheres
grávidas. De acordo com os dados do PNCM, desde 2007 à 2010 foram distribuidas 7.6 milhões
de REMILDs. De acordo com o relatório anual de 2010, do PNCM, foram distribuidas 1,525,979
redes em 2010 das quais 916.115 foram dirigidas às mulheres grávidas nas consultas pré-natais,
atingindo uma cobertura de 84.6% de mulheres grávidas.

O controlo larval e a redução de potenciais criadouros não são práticas comuns, existindo apenas
algumas iniciativas em áreas geográficas bastante reduzidas. Esta actividade representa um
grande desafio aos locais de reprodução dos mosquitos, necessitando de um envolvimento multi-
sectorial e comunitário para poder ter algum impacto. (Siqueira, 2017)

Em Janeiro de 2005 foi aprovada a estratégia de Tratamento Intermitente Preventivo (TIP) na


mulher grávida, tendo a sua implementação iniciado Abril de 2006, após um período
preparatório prolongado.

Esta estratégia está sendo actualmente implementada em todo o país através das Consultas
Prénatais (CPN), quer as realizadas nas unidades sanitárias como aquelas realizadas pelas
brigadas móveis. De acordo com as normas nacionais, a estratégia de TIP consiste na
administração de três comprimidos de sulfadoxina-pirimetamina (SP) em três ocasiões separadas
por um intervalo mínimo de quatro semanas. O início de TIP é a partir da 20ª semana de
gestação ou depois que a mulher grávida começa a sentir os movimentos fetais.

Segundo os dados do MIS 2007 e 2008, a proporção de mulheres grávidas que receberam duas
ou três doses de TIP aumentou de 16.2% (MIS 2007) para 43% (MIS 2008), apesar deste
aumento, esta proporção ainda está muito abaixo das metas de 80%. (Siqueira, 2017)

O tratamento
A deliberação de adotar um determinado antimalárico, em detrimento de outro, assenta em duas
esferas de decisão: internacional e nacional. A nível internacional, a OMS, com base na
compilação de estudos de eficácia terapêutica, define um conjunto de recomendações gerais,
atendendo, unicamente, a critérios de eficácia terapêutica, ou seja, à taxa média de cura (superior
a 95%) observada em ensaios clínicos (OMS, 2010: 9). A nível nacional, os Ministérios da Saúde
e os Programas Nacionais de Controlo da Malária, em particular, são responsáveis pelos estudos
de eficiência dos antimaláricos e pela tomada de decisão dos fármacos a adotar, de acordo com o
seu custo/eficácia, a sua posologia, a segurança, os custos associados à introdução de uma linha
terapêutica diferente (formação de profissionais), a aquisição e distribuição dos novos fármacos,
a publicação das suas normas, a criação de material de suporte dessa linha terapêutica) e, em
última análise, a aceitação dos fármacos por parte do consumidor e dos próprios profissionais de
saúde (#24_Consultor). (Siqueira, 2017)
Em 2010, a OMS atualizou as suas linhas orientadoras quanto ao manejo de casos de malária,
recomendando aos países que adotassem uma das linhas de tratamento abaixo indicadas, de
acordo com o seu perfil epidemiológico e os fatores de ponderação atrás descritos.

Tratamento de Malária Não Complicada Tratamento de Malária


1ª Linha de Tratamento 2ª Linha de Tratamento Severa (por ordem de eficácia
terapêutica)
AL=Arteméter-lumefantrina AS=Artesunato + AS=Artesunato IV/ IM
T=Tetraciclina / (Intravenoso /Intra-Muscular)
AS=Artesunato + D=Doxiciclina / AM=Arteméter
AQ=Amodiaquina CL=Clindamiclina (7 dias)
AS=Artesunato + QN=Quinino +
MQ=Mefloquina T=Tetraciclina /
AS=Artesunato + D=Doxiciclina / QN=Quinino
SP=Sulfadoxina- CL=Clindamiclina (7 dias
pirimetamina
DHA=Dihidroartemisinina +
PPQ=Piperaquina
Fonte: OMS (2010), Citado por (Siqueira, 2017)

De acordo com a investigação mais recente, as combinações terapêuticas tendo por base a
artmisinina (ACT), recomendadas pela OMS, permitem não só uma rápida eliminação da
parasitémia como também uma quase imediata redução dos sintomas e da presença dos
gameócitos, diminuindo, assim, a transmissibilidade do parasita (OMS, 2010: 14-15). No
entanto, a OMS desaconselha a utilização da artemisina como monoterapia, uma vez que
potência o aparecimento de resistências a um fármaco com um papel decisivo no manejo de
casos de malária (OMS, 2010: 14). As diretrizes da OMS estendem-se, igualmente, a grupos
considerado vulneráveis, nomeadamente às grávidas, viajantes, mulheres lactantes, doentes
portadores de VIH, doentes com malnutrição severa e a contextos de ajuda humanitária (OMS,
2010, Citado por (Siqueira, 2017).

Para além da quimioterapia, aquando da confirmação de uma infeção por Plasmodium, o


tratamento quimioprofilático para as mulheres grávidas20 faz parte das políticas nacionais de
alguns países, incluindo Moçambique. O maior desafio desta medida refere-se à frequência das
consultas pré-natal, uma vez que a maioria das mulheres raramente completa o tratamento com
as quatro doses. A título de exemplo, em Moçambique, cerca de 40% das grávidas receberam a
primeira dose, 22% receberam a segunda, 10% a terceira e, por fim, menos de 5% receberam a
quarta dose (OMS, 2013, Citado por (Siqueira, 2017).

Recentemente, a OMS adotou duas novas políticas preventivas que incluem o tratamento
intermitente preventivo para crianças com Sulfadoxina-Pirimetamina (SP), a ser administrado no
momento da segunda e terceira doses da vacina DTP21 (mês três e quatro) e do sarampo (mês
nove) e a profilaxia sazonal da malária com Amodiaquina e Sulfadoxina-Pirimetamina (AQ+SP),
para crianças entre os 3 e 59 meses, nas sub-regiões do Sahel, com elevada transmissão da
malária (OMS, 2013, Citadoa por (Siqueira, 2017).

A adoção de novas políticas e procedimentos, apesar de serem processos liderados pela OMS,
integram a consulta de várias instituições públicas, Organizações não Governamentais
internacionais, ligadas à investigação, comunidade científica, em geral, e indústria farmacêutica,
debatendo e implementando estudos de monitoria da eficácia terapêutica dos antimaláricos ou
estudos de resistência dos inseticidas. Reunidas as conclusões baseadas em evidências, cabe aos
Estados integrar os fatores económicos nas suas tomadas de decisão. (Siqueira, 2017)

O Programa Nacional de Controlo da Malária


O Programa Nacional de Controlo da Malária (PNCM) foi criado em 1982, mas só em 1991,
findo o conflito civil, é que são adotadas as três principais estratégias orientadoras da sua ação:
diagnóstico precoce e tratamento, controlo vetorial e educação para a saúde (Ministério da
Saúde, 2006: 8). O PNCM está subordinado à área de Prevenção e Controlo de Doenças (PCD),
na Direção Nacional de Saúde Pública (DNSP), estando as atividades de controlo da malária
descentralizadas a nível provincial (através dos gestores-biólogos do PNCM) e prevendo-se que,
até 2016, o estejam a nível distrital (Ministério da Saúde, 2012, Citado por (Siqueira, 2017)
Para além da equipa multidisciplinar existente no PNCM, há vários grupos técnicos relativos à
malária, que apoiam a conceção de políticas e estratégias bem como outros aspetos operacionais
relacionados com as atividades do PNCM (MISAU, 2012a: 17). A título de exemplo, constatam-
se grupos técnicos para as redes mosquiteiras, para a PIDOM e para a gestão de casos de malária,
entre outros. Os grupos técnicos são compostos por vários parceiros, desde agências Bilaterais e
Multilaterais, Organizações Não Governamentais Internacionais, Organizações Não
Governamentais Locais, instituições governamentais31 e instituições públicas de ensino
(MISAU, 2012, Citado Por (Siqueira, 2017)

Atualmente, e de acordo com o Plano de Monitoria e Avaliação Nacional da Prevenção e


Controlo da Malária 2010-2014, o Ministério da Saúde realiza as seguintes intervenções:
1. “Gestão vetorial integrada através da Pulverização Intradomiciliária (PIDOM) e da
distribuição gratuita de Redes Mosqueteira Tratadas com Inseticida de Longa Duração
(REMILD);
2. Gestão do Meio Ambiente;
3. Manejo imediato e efetivo dos casos de Malária – desde o diagnóstico ao tratamento –
particularmente em crianças menores de 5 (cinco) anos;
4. Disponibilização do Tratamento Intermitente Preventivo (TIP) para mulheres grávidas;
5. Educação para a Saúde e Participação Comunitária para a mudança de comportamentos;
6. Coordenação entre o MISAU e o Instituto Nacional de Gestão das Calamidades (INGC)
para a previsão e deteção atempada de surtos de malária;

7. Reforço da Gestão do Programa, Monitoria e Avaliação, assim como o fortalecimento de


sistemas de saúde, incluindo a pesquisa operacional” (Ministério da Saúde, 2010c: 4).

Muitos progressos no controlo da malária foram reportados pelo PNCM, ao nível da quantidade
e variedade de parceiros, do progressivo aumento do financiamento, da expansão progressiva da
rede sanitária e da existência de algumas infraestruturas críticas para a realização de estudos de
vigilância epidemiológica e entomológica (laboratório de biologia molecular e três insetários).
No entanto, o mesmo organismo reconhece existirem constrangimentos na sua estrutura de
funcionamento, designadamente a dificuldade de harmonização e coordenação de atividades com
os parceiros, insuficientes recursos humanos qualificados, diminuta capacidade técnica a nível
central, provincial e distrital e a fraca planificação integrada (Ministério da Saúde, 2012, Citado
por (Siqueira, 2017)
Enquanto entidade responsável por todas as atividades de controlo da malária que decorrem a
nível nacional, o PNCM tem capacidade de decisão, na medida em que há recursos financeiros
disponíveis num país em que cerca de 30% do orçamento de estado é financiado pela ajuda
externa. Recorrendo aos fundos verticais (programáticos), o PNCM vê o seu poder de decisão
restringido pelas prioridades e modus operandi ditado pelas próprias organizações financiadoras.
(Siqueira, 2017)
Conclusão
No âmbito da realização do presente trabalho concluímos que a malária, importante doença
parasitária há séculos – apesar das ações de controle implantadas há décadas em muitas partes do
mundo –, é também conhecida como impaludismo, febre palustre, maleita e sezão. Dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que seu impacto sobre as populações humanas
continua aumentando: ocorre em mais de 90 países, pondo em risco cerca de 40% da população
mundial – estima-se que ocorram de 300 a 500 milhões de novos casos, com média de um
milhão de mortes por ano. Representa, ainda, risco elevado para viajantes e migrantes, com casos
importados em áreas não-endêmicas.

A malária, também conhecida por paludismo é uma doença infecciosa causada por parasitas do
género Plasmodium. Cinco espécies de Plasmodium podem produzir a doença: Plasmodium
falciparum, Plasmodium vivax, Plasmodium ovale, Plasmodium maláriae e Plasmodium
Knwolesi. Sendo a espécie mais frequente em África é o P. Falciparum. A sua transmissão pode
ocorrer por inoculação de esporozoítos por picada de mosquito, transfusão de sangue infetado
pelo parasita, utilização de seringas que foram contami- nadas por pessoas infetadas e ainda por
transmissão congénita de mãe para filho.

O seu ciclo de vida do ocorre em duas fases: fase sexuada exógena (esporogônio), com a
multiplicação dos parasitos nas fêmeas do mosquito do gênero Anopheles, e a fase assexuada,
endógena (esquizogônica), com multiplicação no hospedeiro humano. A sua prevenção pode ser
feita pela pulverização, uso das redes mosqueteiras, e pelo controle de vector.
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