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De olho nas más influências

(Agamenon Magalhães Júnior)

O provérbio antiquíssimo “As más companhias estragam os bons costumes” tem


paralelos conceituais em outras culturas e idiomas. A sentença está na Bíblia,
Bíblia, citado por São
Pedro; ou por São Jerônimo em suas Epístolas.
Epístolas. No italiano se lê: “As más companhias levam
o homem à forca”. No Brasil, existe a popularizada expressão: “Chega-te aos bons e serás um
deles, chega-te aos maus e serás o pior deles”.
Na literatura, há referências explícitas ao provérbio – como, por exemplo, em Pascal
(Pensamentos),
Pensamentos), enquanto a impossibilidade de que uma pessoa virtuosa sobreviva em má
companhia é expressa com uma sugestiva imagem de Dante. No início do conto A Rapina, Rapina, de
N. S. Leskov, é mencionado um provérbio russo que soa mais ou menos assim: “Com a elite
serás elite, com os malandros te corromperás”.
Documenta um ditado latino: “Será semelhante àquele com quem está”. Seu
significado é obvio e implacável - “se alguém conversa livremente com os maus, nunca
procurei saber quem era, pois é tal e qual aqueles com quem conversa”. Outras expressões
europeias com o mesmo teor semântico se multiplicam para nos alertar sobre os que
influenciam negativamente.
Talvez o maior problema para os pais em relação à independência dos filhos seja
justamente as más influências às quais os garotos estão sujeitos. É inevitável: por mais
preparo que se dê ao adolescente, por mais cuidadosa que seja a família – o “mundo” sempre
dá ao jovem a chance de provar seus valores morais.
Minha rotina em sala de aula me proporciona uma série de aprendizagens para a vida
que é difícil até descrevê-la. Já presenciei a ascensão de muitos garotos e também a queda ou
vacilo de outros tantos.
A escola é um lugar onde se ensina o jovem a socializar-se. A socialização não é o foco
da escola (porque a atitude comportamental é praticada nos muros da escola mas se inicia na
família, no seio de casa, com a orientação dos pais), entretanto faz parte do contexto
educacional fazer com que o jovem conviva com todos os tipos de pessoas – as boas, as ruins,
as imorais, as religiosas... Partindo desse princípio, se vê a força da influência social com um
poder fora do comum.
Proteger totalmente o jovem contra os males sociais por que ele vai passar é
impossível, não dá para separá-lo das pessoas que tentarão desencaminhá-lo.
Cabe à família se manter firma em suas orientações aos filhos, e também compete à
escola o ensinamento embasado na virtude da qual o aluno precisará para sobreviver à “parte
negativa” do mundo. Afora os pressupostos teóricos, na prática a missão se mostra árdua: dar
meios e força para que o jovem diga “não” quando for preciso não é tarefa fácil.
Por isso, cada passo que o jovem dê deve ser medido, analisado e orientado da forma
mais positiva. A família e a escola, quando forem educar os seus, devem se lembrar do
conselho do filósofo francês Montaigne, que mencionou, em um de seus maravilhosos
ensaios, o trabalho de se educar um jovem, porém, se bem encaminhado, o percurso que o
levará aos bons frutos é mais certo do que a estrada para a desgraça, “anda-se com mais
firmeza e segurança nas subidas do que nas descidas”.

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