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MATEUS 3.

1-12
MATEUS 3. 1 MATEUS 3.7
COMENTÁRIO BIBLICO ATOS: “Naqueles dias” era Os antigos supunham que, no ato do nascimento,
uma expressão comum do Veterotestamento, sobretudo certas espécies de víboras iam devorando a mãe por
(mas não exclusivamente) nas profecias concernentes ao dentro até a saída. Eram muito graves ser chamado de
futuro. Muita gente na época de Jesus esperava um “víbora”, mas ser chamado de “filhote de víbora” era
grande líder que trouxesse livramento ao povo de Deus, ainda mais grave – matar a própria mãe, ou pai, era o
saído do deserto, em novo êxodo. No Veterotestamento, mais hediondo dos crimes que se poderia conceber na
em tempos de recrutamento da apostasia nacional, Antiguidade.
alguns profetas (como Elias) julgavam necessário viver MATEUS 3.8
fora dos limites da sociedade. Arrependimento Significava desviar-se do pecado.
WILLIAM HENDRIKSEN – A expressão “naqueles Sabe-se que os próprios fariseus questionavam a
dias” é por demais indefinida, e provavelmente não confissão de arrependimento se o suposto arrependido
signifique mais que “nos dias da peregrinação terrena de continuasse pecando. Os profetas do Antigo
Cristo”. Se João, assim como Jesus (Lucas 3.23), tinha Testamento às vezes descreviam a obediência devida
cerca de 30 anos quando pela primeira vez apareceu em a Deus, ou as futuras bênção de Deus sobre seu povo,
público, e uma vez que ele era mais velho que Jesus em em termos de fruto (imagem natural numa sociedade
cerca de seis meses (Lucas 1.26,36), e já que Jesus agrária: (Isaías 5.2, Isaías 27.6, Oséias 10).
provavelmente iniciou seu ministério no final do ano 26 MATEUS 3.9
d.C., ou no princípio de 27, foi provavelmente durante o Havia entre os judeus o consenso de que eram salvos
verão do mesmo ano que João começou a pregar às como povo porque descendiam de Abraão. A ideia de
multidões. Deus levantar um povo das pedras teria parecido aos
MATEUS 3.2 ouvintes judeus de João Batista mais como mitologia
O povo judeu reconhecia que Deus governa o pagã (coisa de grego) do que realidade propriamente,
Universo num sentido único agora, mas orava todos mas essas palavras enfatizaram que Deus não
os dias para que chegasse um tempo em que seu precisava que Israel cumprisse seu propósito (como
Reino, ou governo, seria estabelecido sobre todos os em Amós 9.7; Gênesis 1.24; 2.9). Alguns estudiosos
povos da terra. também sugerem um jogo de palavras envolvendo
MATEUS 3.3 "filhos" crianças) e “pedras” em aramaico.
Isaías 40.3 faz parte do texto da profecia de um novo MATEUS 3.10
êxodo de todas as nações por entre as quais se A literatura judaica às vezes usava a árvore (como
espalhara, reconduzindo-o em seguida a Jerusalém. tantas outras coisas) para simbolizar Israel. Por vezes
Uma alto-estrada requer ajustamento do terreno que a o Antigo Testamento também emprega árvore em
torne reta e nivelada, e os reis antigos, sobretudo no parábolas de julgamento contra as nações (Isaías
Oriente, sempre esperavam que as estradas fossem 10.33, 34; Ezequiel 31.12-18; Amós 2.9) ou Israel
bem-preparadas antes que eles viajassem por elas. (Isaías 10.18, 19; Jeremias 11.16; Ezequiel 15.6). A
Talvez no interesse da exatidão técnica, Mateus madeira de um grosso tronco de árvore (como o do
suprime aqui a citação de Malaquias feita por Marcos cedro do Líbano) teria sido utilizado em construções,
(Mateus 11.10 – Malaquias 3.11). mas boa parte da madeira das árvores frutíferas da
MATEUS 3.4 Palestina, de tronco fino (oliveira ou figueira) só seria
A dieta de João é a praticada pela camada pobre da utilizada em coisas de pequena monta, ou, com mais
população. Embora a criação de abelhas domésticas frequência, a exemplo do que ocorre nesta citação,
fosse generalizada, João só se alimenta de mel como lenha destinada ao fogo.
silvestre (o mel era normalmente obtido retirando-se MATEUS 3.11
para fora as colmeias e fumigando o enxame, e em Em geral, os escravos de pessoas com elevado status
seguida partindo-se os favos de mel. O mel era então na sociedade gozavam, eles mesmos, de status mais
o único adoçante em uso, sendo considerada, de todas elevado que os homens livres. Ao contrário do
as substâncias, a mais doce ao paladar). Mas os discípulo, que também servia a um mestre, o escravo
essênios e outros israelitas piedoso (2Macabeus 5.27) carregava as sandálias do seu senhor. Aqui João se
recorriam a tais dietas para evitar alimento impuro. queixa de que não era digno de ser nem mesmo
João se vestia como Elias (2REIS 1.8) e outras pessoas escravo de Cristo. Os profetas haviam predito o
que viviam afastadas da sociedade. Aqui a alusão a derramamento do Espírito de Deus à época em que
Elias sugere que o fim está próximo (Malaquias 4.5,6). Deus estabeleceu seu Reino para Israel (Isaías 44.3;
MATEUS 3.5,6 Ezequiel 39.29; Joel 2.28). Também condenaram ao
Os pagãos que desejassem converter-se ao judaísmo fogo os iníquos (Isaías 26.11; 65.15; 66.24; Jeremias
arrepender-se-iam e seriam batizados, mas, neste 4.4; 15.14). Em Mateus 3.11, os iníquos são batizados
passo, João trata o povo judeu nos mesmos termos em ou imersos, no fogo (Mateus 3.10,12), os justos no
que trata o elemento pagão. Espírito Santo.
MATEUS 3.12 normalmente incinerada. Alguns autores também
Porque a mesma palavra grega pode designar descreveram o dia do juízo como uma espécie de
“espírito” e “vento”, o cenário de vento e fogo seara (Jeremias 51.33; Joel 3.12-14), ou o iníquo como
continua a partir de Mateus 3.11. A utilização da palha (Isaías 17.13; Jeremias 13.24; 15) Que o fogo
joeira era um processo conhecido dos judeus da seja “inextinguível”, eis o que aponta para além da
Palestina, sobretudo dos camponeses, que lançavam combustão momentânea da palha, Visando algo
no ar o trigo colhido, permitindo que o vento muito mais horrível (Isaías 66.24), despeito do fato de
separasse os grãos mais pesados da palha mais leve. que a própria tradição judaica estava longe de ser
A palha era inútil para o consumo, sendo unânime no tocante a duração do inferno

MARCOS 1.2-8
MARCOS 1.2,3 salvação. A maioria do povo judeu pensava que se
Os mestres judaicos habitualmente combinavam vários alguém tivesse nascido numa família judia e não
textos ou partes de textos, especialmente se houvesse rejeitasse a lei de DEUS, ele estaria salvo. João
uma palavra-chave ou palavras em comum (aqui, diferentemente dizia que eles tinham que vir para Deus
“preparem o caminho”). Por eles terem tanto da mesma forma que os não-judeus faziam. A ênfase do
conhecimento das Escrituras, não precisavam dizer batismo de João está em que todos os que quisessem vir
quais textos estavam citando, e seguidamente a DEUS teriam que fazer a mesma coisa. O rio Jordão
assumiam o contexto sem citá-lo. Assim, Marcos cita era o local mais apropriado para João ter o povo se auto
aqui tanto Isaías 40.3 – Voz do que clama no deserto: imergindo, mas este local pode também ter evocado a
Preparai o caminho do SENHOR; endireitai no ermo história da salvação de Israel. A chegada de João ao
vereda a nosso Deus; quanto Malaquias 3.1 – Eis que deserto poderia também evocar a história de Israel,
eu envio o meu mensageiro que preparará o caminho especialmente porque Isaías 40.3 predizia o arauto de
diante de mim; de repente, virá ao seu templo o um novo êxodo ali, e muitos judeus esperavam que o
SENHOR, a quem vós buscai, o Anjo da Aliança, a Messias aparecesse como um novo Moisés.
quem vós desejais; eis que ele vem, diz o SENHOR dos MARCOS 1.6
Exércitos; embora ele mencione apenas Isaías. Isaias Algumas outras pessoas nos dias de João se vestiam
faz referência a preparar o caminho para Deus que está como ele e comiam gafanhotos e mel (os Manuscritos
vindo restaurar seu povo. Malaquias faz referência a do Mar Morto até mesmo ofereciam instruções quanto
Deus vindo em julgamento para endireitar as coisas a maneira de comer gafanhotos). Mas o que é mais
entre seu povo. Marcos aplica à Jesus estes textos sobre importante aqui é que o Antigo Testamento enfatiza
Deus. que Elias se vestia dessa forma e que, da mesma forma
MARCOS 1.4,5 que João, não dependia da sociedade para seu sustento
Da mesma forma que outros povos antigos, o povo (conforme 1REIS 17.4,9). O retorno de Elias era
judeu praticava lavagens cerimoniais. A lavagem esperado antes do fim (Malaquias 3.1; 4.5,6). Muitos
cerimonial que era feita uma única vez, entretanto, era judeus criam que desde Malaquias não havia existido
a imersão pela qual tinham que passar os não-judeus um profeta verdadeiro e que os profetas não seriam
quando se convertiam ao judaísmo. Os não-judeus que restaurados até o tempo próximo do fim. Porém,
se convertiam ao judaísmo imergiam-se na água, Marcos quer que entendamos que João é
provavelmente sob a supervisão de um perito religioso. definitivamente um profeta.
A forma de batizar de João enquadra-se neste modelo. MARCOS 1.7
O povo judeu também praticava o “arrependimento” Os discípulos habitualmente serviam seus mestres da
quando fazia algo errado, pedindo o perdão de Deus e mesma forma que os escravos serviam seus senhores,
determinando mudar. (Era comum que os profetas do exceto nas tarefas mais servis, como tirar as sandálias
Antigo Testamento usassem essa ideia hebraica de do seu senhor. João sente-se indigno até mesmo de ser
“voltar-se e fugir” do pecado. Ele envolve mais do que um escravo do Messias.
uma simples “mudança de mente”, que é o sentido MARCOS 1.8
literal do termo grego usados aqui). Mas o exemplo Algumas passagens do Antigo Testamento falam sobre
supremo de arrependimento, ou de dar meia-volta o Espírito sendo derramado como água. Estas
dentro de um caminho errado de vida para um correto, passagens referem-se especialmente ao tempo do Reino
ocorria quando um não-judeu decidia obedecer aos de Deus, quando Deus purificaria seu povo e o ungiria
ensinos do Deus de Israel. Dizer ao povo judeu que ele com poder para falar em seu nome (Isaías 44.3;
tinha que ser batizado ou arrepender-se da mesma Ezequiel 36.25-27; Joel 2.28,29). A tradição judaica nos
forma que os não-judeus o faziam seria ofensivo, dias de Jesus enfatizava ainda que o Espírito iria
porque desafiava a crença judaica dominante acerca da purificar e providenciar unção profética no fim dos
tempos.
LUCAS 3.1-6
LUCAS 3.1,2 As pessoas mais pobres (tal qual a maioria de pessoas
Era costume começar as narrativas históricas datando- no Egito, que era camponesa) possuíam somente uma
as de acordo com os anos das leis e dos oficiais, ambos túnica sobre o corpo; para tais padrões, qualquer um
na historiografia greco-romana e no Antigo Testamento com duas túnicas possuía mais que o necessário. “O que
e, normalmente, na introdução dos oráculos proféticos devemos fazer então?” aparecem em Lucas e Atos
e Livros (Exemplo, Isaías 1.1; 6.1). Lucas, então, mostra como uma questão sobre como ser salvo.
que João começou a pregar em alguma época entre LUCAS 3.12,13
setembro de 27 d.C., e outubro de 28 d.C. Tibério reinou Os coletores de impostos, às vezes, recolhiam um
de 14 d.C., a 37. Herodes Antipaz, filho de Herodes o dinheiro a mais e lucravam com a diferença, embora
Grande, foi tetrarca (governador) da Galileia de 4 a.C., essa prática não fosse legal e era difícil de ser
até 39 d.C. controlada.
LUCAS 3.3 LUCAS 3.14
Aos não-judeus que queriam se converter ao judaísmo Alguns comentaristas acham que estes “soldados” são
era exigido que fossem imersos em água para remover policiais judeus que acompanhavam os coletores de
suas impurezas como gentios. João exigia esse ato de impostos ou mercenários herodianos, mas o mais
conversão mesmo aos judeus. provável é que sejam apenas auxiliares de tropas, não-
LUCAS 3.4-6 judeus, recrutados na Síria por Roma. Embora a grande
Isaías prometeu um novo êxodo em que Deus salvaria legião estivesse parada na Síria, não na Palestina
novamente o povo de israel. Lucas estende as aspas (Cesárea e Jerusalém), a menor parte, sem dúvida,
para além de Isaías 40, possivelmente para concluir com marchava por lá. A frequência da concubinagem ilegal
a visão da salvação de Deus; cf Lucas 2.30. de soldados romanos com mulheres nativas também
LUCAS 3.7 indicava que os soldados não permaneciam em suas
Acreditava-se que as víboras eram seres que comiam guarnições o tempo todo. Os Judeus eram dispensados
seu caminho para fora do útero materno. Então, João do serviço militar devido especialmente ao regimento
chamava a multidão de “filhos das víboras” que era de suas leis. Os soldados ocasionalmente protestavam
bem mais repulsivo que chamar de víboras, serpentes contra os seus salários, criando problemas com o
que fugiam dos campos em chamas. governo; eles eram conhecidos pela extorsão de
LUCAS 3.8,9 dinheiro do povo local que intimidavam ou por acusa-
Os judeus acreditavam que eram salvos pela virtude de los falsamente.
serem descendentes de Abraão, que os tornava o povo LUCAS 3.15-17
escolhido. A ideia do surgimento de pessoas vindas das Os profetas do Veterotestamento declaravam que o
pedras aparece na mitologia grega. Alguns estudiosos final dos tempos os justos seriam dotados com o
sugeriram que João faz um jogo de palavras em Espírito Santo e que o mau queimaria no fogo. Os
aramaico entre os termos “filhos” e “pedra”. judeus, geralmente, viam o Espírito Santo como o
LUCAS 3.10,11 Espírito da profecia, e alguns círculos o viam como uma
força que purificava o povo de Deus da improbidade.

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