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AULA 01
Teoria da Linguagem
Sumário
Apresentação 3
1 Interpretação de texto 3
Questões de fixação 8
2 Tipos textuais 12
Questões de fixação 18
Questões de fixação 29
4 Variação linguística 31
Questões de fixação 36
5 Tipos de Discurso 39
Questões de fixação 45
6 - Funções da Linguagem 47
7 Exercícios 53
Apresentação
Nessa aula, falaremos de alguns elementos essenciais para a resolução de questões de
interpretação de texto, ainda que relacionadas às obras literárias e à própria literatura. É uma
aula densa, com muitas informações e, por isso, conto com a atenção de vocês.,
Vamos lá?
1 Interpretação de texto
Nesta aula vamos ver uma série de dados que são importantes para a boa interpretação
de um texto. Saber identificar gêneros textuais, níveis de significação e outros elementos é o
primeiro passo para entender um texto.
Você me ouve falar o tempo inteiro, e o objetivo é esse mesmo, que todo o conhecimento
linguístico que adquirimos com o passar do tempo faz com que entendamos melhor a nossa
própria língua. Isso significa, necessariamente, que você conseguirá compreender de forma
mais completa os textos, interpretando as ideias de forma completa e mais profunda. Por isso,
vamos falar o tempo inteiro nessa aula sobre estratégias que você pode utilizar para alcançar
uma compreensão melhor com relação à leitura.
Vou sempre bater na mesma tecla para vocês: a leitura é essencial para alcançarmos um
desempenho bom nas relações que se estabelecem com o texto. Quanto mais lemos, mais fácil
se torna entender os implícitos e os explícitos do texto. É uma fórmula batida? Provavelmente
sim. Mas é uma fórmula errada? Não. Disso tenho certeza. Conhecer os gêneros, entender o
que eles envolvem, bem como entender como se dá a construção de um texto é sempre
interessante.
Assim, é interessante entender que o texto é formado por uma grande quantidade de
elementos que nos auxiliam a entender toda essa relação. Veja bem, um texto é bem mais do
que um aglomerado de elementos, como você bem sabe. A ideia, aqui, é entendermos esse
amálgama de elementos que constroem esse elemento de significado chamado texto. Antes de
tudo, preciso destacar alguns elementos interessantes para que você compreenda do que estou
falando. Dentre eles, quero começar com a conceituação de texto. Vejamos:
Dessa forma, compreende-se que há uma trindade envolvida na relação textual que aqui
apresentamos. Essa unidade de sentido é extremamente importante para o nosso futuro, para
quando aprofundarmos a interpretação de texto, em especial a partir de uma relação com o
contexto, por meio da análise do discurso. Essa tríade pode ser entendida como:
É preciso tomar muito cuidado para não colocar no texto intenções que não estão lá.
Por vezes, quando não concordamos com o conteúdo de algum texto, acabamos por conferir
significados a ele que não estão lá. Outras vezes, estamos buscando argumentos para
corroborar alguma ideia nossa e “torcemos” o texto para ficar a nosso favor. Isso é um erro
grave!
Interprete o texto, entenda qual a sua intenção e se for útil para aquele momento, o
acesse. Se não for útil para você, não faça uso dele, pois uma interpretação errônea pode ser
muito prejudicial!
Outro fator interessante de ser pensado, com relação aos textos, é sua classificação com
de tipo de linguagem utilizado. São essencialmente três os tipos de linguagem que encontramos
em textos: a linguagem puramente verbal, muito comum em cobranças dos mais diversos
exames vestibulares; a linguagem visual, formada essencialmente por imagens; e a
linguagem mista, em que encontramos elementos dos dois tipos anteriores. É interessante
notar que temos uma relação clara de possibilidades múltiplas de compreensão e construção
textual.
Texto Verbal
Andarei de bicicleta
Subirei no pau-de-sebo
É outra civilização
De impedir a concepção
Vontade de me matar
Texto não-verbal
Figura 1 – A aeronave 14 Bis de Alberto Santos Dumont (13 set 1906). Fonte: Domínio público
Texto misto
Notamos, nesses textos, que as linguagens são facilmente identificáveis e podem, claro,
fazer completa modificação de entendimento para o texto. É necessário, então que comecemos
nossa relação com a interpretação de texto por meio dessa visão: qual é o tipo de linguagem
que o texto apresenta? Daí, podemos pensar em muitos elementos já para a construção de um
entendimento correto do texto. Sigamos em frente.
Questões de fixação
Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comércio, é muito mansa e boa de
sela, e tudo me induz ao cálculo de que foi roubada, assim que hão sido falhas todas as
indagações.
Quem, pois, apreendê-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos
notícia exata ministrar, será razoavelmente remunerado. Itambé do Mato Dentro, 19 de
novembro de 1899. (a) João Alves Júnior.
Cinquenta e cinco anos depois, prezado João Alves Júnior, tua besta vermelho-escura,
mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó. E tu mesmo, se não estou enganado, repousas
suavemente no pequeno cemitério de Itambé. Mas teu anúncio continua um modelo no
gênero, se não para ser imitado, ao menos como objeto de admiração literária.
Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. Não escreveste apressada e
toscamente, como seria de esperar de tua condição rural. Pressa, não a tiveste, pois o
animal desapareceu a 6 de outubro, e só a 19 de novembro recorreste à Cidade de Itabira.
Não disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste dizê-lo “de todos
os seus membros locomotores”. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa
divisão da crina em duas seções, que teu zelo naturalista e histórico atribuiu com
segurança a um jumento.
Por ser “muito domiciliada nas cercanias deste comércio”, isto é, do povoado e sua
feirinha semanal, inferiste que não teria fugido, mas antes foi roubada. Contudo, não o
afirmas em tom peremptório: “tudo me induz a esse cálculo”. Revelas aí a prudência
mineira, que não avança (ou não avançava) aquilo que não seja a evidência mesma. É
cálculo, raciocínio, operação mental e desapaixonada como qualquer outra, e não
denúncia formal.
Finalmente – deixando de lado outras excelências de tua prosa útil – a declaração final:
quem a apreender ou pelo menos “notícia exata ministrar”, será “razoavelmente
remunerado”. Não prometes recompensa tentadora; não fazes praça de generosidade ou
largueza; acenas com o razoável, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer
mesmo no caso de bestas perdidas e entregues.
Já é muito tarde para sairmos à procura de tua besta, meu caro João Alves do Itambé;
entretanto essa criação volta a existir, porque soubeste descrevê-la com decoro e
propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e alguém hoje a descobre, e muitos
outros são informados da ocorrência. Se lesses os anúncios de objetos e animais perdidos,
na imprensa de hoje, ficarias triste. Já não há essa precisão de termos e essa graça no
dizer, nem essa moderação nem essa atitude crítica. Não há, sobretudo, esse amor à
tarefa bem-feita, que se pode manifestar até mesmo num anúncio de besta sumida.
Assinale a alternativa em que o narrador constrói um juízo de valor acerca de João Alves
do Itambé.
a) “Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa divisão da crina em duas
seções, que teu zelo naturalista e histórico atribuiu com segurança a um jumento.”
b) “Por ser ‘muito domiciliada nas cercanias deste comércio’, isto é, do povoado e sua
feirinha semanal, inferiste que não teria fugido, mas antes foi roubada.”
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque, ainda que essa seja a distratora mais forte, a
ideia de um juízo de valor não está relacionada à indicação de uma característica explícita.
Entende-se por juízo de valor uma ideia construída a partir de uma percepção. Como
quando entendemos que uma pessoa é boa, ruim, e coisas do tipo.
A alternativa B está incorreta, porque nesse trecho não encontramos o juízo de valor
do narrador com relação ao autor do anúncio excelente que foi construído pelo finado João
Alves. É o início do que viria a apresentar esse juízo de valor.
A alternativa D está incorreta, porque nesse trecho não encontramos o juízo de valor
do narrador com relação ao autor do anúncio excelente que foi construído pelo finado João
Alves. É o início do que viria a apresentar esse juízo de valor.
A alternativa E está incorreta, porque nesse trecho temos uma construção de juízo de
valor sobre o autor do anúncio, mas uma inferência de comparação entre o que se constrói
hoje e o que foi construído por João Alves.
Gabarito: C
c) O fato de tanto o autor do anúncio quanto sua besta terem morrido, como apresenta
o narrador, não diminui a importância do texto quanto à forma.
Comentários:
A alternativa B está incorreta, porque realmente o autor apresenta a ideia de que não
temos uma linguagem exatamente condizente com o anúncio. Ainda assim, ele usa essa
relação como importante para a construção do texto.
A alternativa C está incorreta, porque esse ponto é tratado pelo autor. Ele indica que
tanto a besta quanto o autor do anúncio já voltaram a ser pó, clara construção de
eufemismo para o fato de que eles já morreram. Contudo, isso não impede que o estilo de
escrita, assim como sua linguagem, seja exaltada.
A alternativa D está incorreta, porque essa resposta resume claramente o que foi feito
no texto. Ainda que com um tema até certo ponto “bobo”, ainda que importante para quem
escreve, não temos um elogio ao assunto, mas somente à forma.
A alternativa E está correta, porque, ainda que o autor compare os dois momentos de
escrita, em nenhum momento ele prega a ideia de que hoje devemos modificar a nossa
forma de escrita. Cuidado para não embarcar na ideia de que ele pede uma modificação
por apresentar uma relação de comparação.
Gabarito: E
(Questão Inédita – /2021)
a) a besta corriqueiramente fugia de seu dono e normalmente voltava sozinha para ele.
b) o dono do animal desconfia que alguém pegou a besta para realizar trabalho rápido.
c) a besta certamente se perdeu de seu dono e, por isso, ele decide procurá-la primeiro.
d) o dono da besta tem certeza do roubo, mas não quer acusar ninguém incorretamente.
e) o dono da besta prefere, primeiro, procurar e inquirir sobre seu animal perdido.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque não há nenhuma indicação de que a besta fugia
com constância. Na realidade, a ideia é a de que ela poderia ter se perdido, ou ter sido
roubada. O dono, de primeira, prefere esgotar as perguntas àqueles que poderiam tê-la
visto em algum lugar. Somente depois disso, constrói a relação de busca, acreditando
que ela lhe foi subtraída.
A alternativa B está incorreta, porque o dono da besta, no começo da perda, não tem
certeza alguma sobre o que acontece. Na realidade, ele prefere claramente esgotar as
possibilidades dela ter se perdido, antes de desconfiar das pessoas que poderiam tê-la
roubado.
A alternativa C está incorreta, porque o dono acreditava que a besta havia se perdido,
mas não tinha essa certeza. Na realidade, percebe-se que ele prefere esgotar
antecipadamente essa opção antes de acusar alguém de roubo.
A alternativa E está correta, porque a segunda parte do texto aponta para a ideia de
que o dono da besta preferiu encerrar todas as possibilidades que não envolviam roubo,
dado que ele não tinha certeza de que ela havia sido roubada. É interessante notar que
ele pergunta a todos antes de colocar o anúncio.
Gabarito: E
2 Tipos textuais
Eu sempre digo que a melhor forma de pensar os tipos textuais é em forma de conjuntos
que contenham subconjuntos (os chamados gêneros textuais). Veja como isso funciona:
Tomei como exemplo a tipologia narrativa, em que se encaixam muitos tipos de texto,
como veremos no decorrer desse curso. É interessante que percebamos que, dentro do
conjunto maior, que representa a tipologia narrativa, encontramos conjuntos menores, que
representam os gêneros textuais relacionados com a narrativa.
Os primeiros são estudados dentro do que chamamos de linguística textual e têm relação
com sua realização social, ou seja, com a intenção que um autor tem ao escrever aquele
texto e a forma como ele se encaixa em sua relação social.
Os gêneros literários datam da Grécia Antiga e têm relação com o início da produção escrita
ocidental.
Antes de entrarmos nos tipos textuais de forma específica, ainda vale uma questão: os
tipos textuais são considerados abstratos, porque abarcam uma série de textos que
apresentam o mesmo objetivo principal. Os gêneros, por sua vez, são a realização social do
texto, com função dentro da sociedade.
2.1 Narrativo
Na tipologia narrativa, colocamos os textos que têm como objetivo principal narrar um
fato, contar uma história, sempre contendo uma série de elementos, como veremos a seguir.
Além disso, um texto narrativo pode ser entendido como aquele que apresenta uma ação num
determinado tempo e espaço. Normalmente, apresenta-se personagens – humanos ou não
– que protagonizam essas ações. Esse tipo de texto tende a ter uma estrutura padrão,
independente do seu tamanho:
Os exemplos mais comuns são romances, novelas e contos e, por vezes, crônicas.
Além destes tipos de texto, também há aparecimento de textos narrativos em fábulas e lendas,
sejam estas escritas ou orais. A poesia também pode ser narrativa, como a literatura de cordel
ou a poesia épica.
2.2 Argumentativo
Este é o tipo de texto mais importante para os vestibulares. A grande maioria das provas
de redação exigem a produção de textos dessa natureza. O objetivo de um texto argumentativo
é expor um ponto de vista sobre determinado tema ou assunto. Para isso, deve-se utilizar
argumentos que corroborem sua tese acerca do tema proposto. Apesar de ser um texto de
caráter opinativo, tende a aparecer com frequência usando uma linguagem mais formal ou
impessoal.
Via de regra, nessa tipologia, sempre que há defesa de um tema, podemos afirmar que
temos um texto argumentativo. É interessante notar que, quando tempos argumentos (que dão
origem ao nome dessa tipologia), temos tese e, imediatamente, podemos considerar que temos
um texto argumentativo. Não se esqueça disso, porque é interessantíssimo para a construção
da interpretação e compreensão de textos. Atente-se a isso!
Os artigos de opinião e colunas de jornais são os mais comuns, mas muitos ensaios
jornalísticos se estruturam da mesma maneira. Além deles, outros textos opinativos também
podem ser considerados da tipologia: manifestos e abaixo-assinados, por exemplo, também
seguem essa estrutura.
2.3 Expositivo
Diferente do argumentativo, a tipologia expositiva apresenta uma ideia, mas não deve
opinar nem emitir juízo de valor sobre ela. Assim, ao invés de apresentar argumentos para
embasar sua fala, esse gênero faz uso de dados científicos, definições, conceitos, comparação
de informação, entre outros recursos, para sempre informar o leitor acerca de um determinado
tema. Perceba que a informação do leitor é o mais importante para esse caso.
O texto jornalístico é o exemplo mais comum de textos expositivos, uma vez que seu
objetivo é o de transmitir, tanto quanto for possível, uma notícia na integridade dos fatos.
Veja aqui uma comparação de dois textos tratando do mesmo assunto, porém um com
caráter expositivo e outro com caráter opinativo.
2.4 Descritivo
Um texto da tipologia descritiva busca expor ou relatar. Pode-se descrever uma série de
assuntos diferentes: uma pessoa, física e psicologicamente; um objeto; uma obra de arte; um
lugar ou época histórica; um acontecimento. Costumo dizer que qualquer coisa pode ser
exposta por meio de uma descrição. Imagine, claramente, que temos a construção de uma lista
de características de um elemento, por isso que normalmente analisamos os trechos do texto
de forma separada, para vermos como isso ocorre em um determinado texto.
É muito comum encontrar trechos descritivos em outros gêneros literários. Muitos
autores de romances, por exemplo, realizam descrições minuciosas em meio a suas obras
narrativas. Diários e relatos de viagem também são permeados por muitas descrições.
Nestes casos, os textos contêm muitos adjetivos para ajudar a provocar sensações no leitor.
Classificados, currículos e guias de viagem são outros bons exemplos de texto descritivo.
Aqui, dois fragmentos descritivos, um com muitos adjetivos e o outro mais objetivo,
ambos do mesmo texto:
“San Andrés é uma ilha pobre, que carece de San Andrés está fora da rota de furações,
cuidado, mas tem um mar incrível e passeios mas pode ser afetada indiretamente por
surpreendentes. Um destino para aproveitar furacões no Caribe, sofrendo com ventos e
pequenos prazeres, descansar, pegar um chuvas, mais comuns entre agosto e outubro.
bronzeado, fazer compras e curtir paisagens
de tirar o fôlego.”
Fragmentos retirados de Guia de Destinos, s/d.
2.5 Injuntivo
O quinto e último tipo textual, o injuntivo, tem por objetivo instruir ou prescrever. Textos
assim buscam ordenar, persuadir ou orientar o leitor/receptor de alguma maneira. Justamente
por isso, tendem a aparecer com os verbos no modo imperativo. A linguagem desses textos
costuma ser o mais objetiva possível.
Receita de Ambrosia
Ingredientes
- 8 ovos;
- Cravo e canela.
Modo de preparo
Não se esqueça de que todo o conhecimento que você conseguir “arrecadar” sobre os
tipos e os gêneros textuais será essencial para a sua construção como um bom interpretador
de texto, além de um conhecimento interessante com relação à produção desses textos.
Questões de fixação
a) narrativa.
b)descritiva.
c) injuntiva.
d)expositiva.
e) argumentativa.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque, ainda que o texto seja uma narrativa, quando
analisado de forma completa, esse segundo parágrafo apresenta-se claramente caráter
descritivo, muito usado para sustentar a narrativa e dar, a ela, mais detalhes.
A alternativa B está correta, porque, ainda que de forma extremamente poética, o
autor, no segundo parágrafo, parte do anúncio de busca da besta, apresenta claramente
um trecho descritivo do animal perdido. O texto, por ser uma crônica, é claramente
narrativo, contudo, a questão versa sobre o segundo parágrafo somente.
A alternativa D está incorreta, porque não temos, nesse segundo parágrafo, uma
relação explicativa. Na realidade, percebe-se claramente a construção de uma relação
descritiva, dado que o autor do anúncio descreve, de forma lírica, o animal que teria sido
roubado.
Gabarito: B
Historiador holandês Rutger Bregman sustenta que o primado do homem sobre as demais
espécies se deve à cooperação
No início de 2019, Bregman se tornou notícia por ter confrontado uma plateia de
bilionários no fórum de Davos a respeito de seu papel no problema da desigualdade. Em
sua fala, que depois viralizou nas redes sociais, o autor questionou as boas intenções do
evento quando “ninguém levanta a questão da evasão de impostos e dos ricos não estarem
pagando sua parte. É como ir a uma conferência de bombeiros e ninguém falar sobre
água”.
RUTGER BREGMAN: Eu também costumava ter uma visão cínica do ser humano.
Estudava história, que nunca foi uma das ciências sociais mais otimistas. Na maior parte,
O sr. poderia dar exemplos de trabalhos que acredita serem essenciais para
desenvolver a ideia de que seres humanos são naturalmente decentes?
ou bonobo, muitas vezes os animais ganham. Não é inteiramente claro se os humanos são
tão inteligentes assim.
A maior parte das coisas que sabemos, copiamos dos outros. Estou cercado de tecnologias
que não saberia fabricar sozinho e nem sei como funcionam. Esse é nosso superpoder:
nossa capacidade de cooperação. Os biólogos agora acreditam que evoluímos para fazer
isso e chamam isso de “sobrevivência dos mais amigáveis”. Não foi o mais esperto, nem o
mais malvado ou o mais forte, mas o mais amigável que teve mais filhos e passou seus
genes adiante. Isso é bem o oposto do que as pessoas acreditaram por muito tempo, como
a teoria sobre evolução dos anos 70 e 80, quando se falava muito em “gene egoísta”.
à segunda pergunta)
b) “Acadêmicos hoje são altamente especializados, então sabem tudo sobre sua
pequena parte do quebra-cabeças.” (Resposta à primeira pergunta)
c) “Isso é bem o oposto do que as pessoas acreditaram por muito tempo, como a teoria
sobre evolução dos anos 70 e 80, quando se falava muito em ‘gene egoísta’.” (Resposta
à segunda pergunta)
d) “Na maior parte, é o estudo de guerras, guerras, e se não tem guerra, é o período entre
guerras.” (Resposta à primeira pergunta)
e) “Eu também costumava ter uma visão cínica do ser humano. Estudava história, que
nunca foi uma das ciências sociais mais otimistas.” (Resposta à primeira pergunta)
Comentários:
a sua tese é a de que não é a inteligência que nos faz tão diferentes dos demais elementos
da natureza.
Gabarito: A
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por
que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão
sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes
os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
É ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à
noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não
percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada
de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo
a célebre frase: “Até tu, Brutus?”
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo
tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser
bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não
conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os
bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém
desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase
impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de
excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
Com relação aos aspectos tipológicos do texto de Clarice Lispector, pode-se afirmar que
Comentários:
Alternativa A: correta. O texto Das vantagens de ser bobo é uma crônica publicada,
originalmente, no Jornal do Brasil, e apresenta, como características desse gênero, a
leveza da linguagem, o fato dele se ocupar de temas mais cotidianos e corriqueiros, o fato
de ser um texto um pouco mais curto para a leitura rápida e a construção de um humor
leve. A crônica é o que chamamos de gênero da tipologia narrativa.
Gabarito: A
Além de conhecer os tipos textuais e seus respectivos gêneros, para realizar uma boa
interpretação, é preciso compreender as camadas de significado daquilo que se está lendo.
Há, essencialmente, dois modos de compreender os níveis de significação: identificar se a
significação é explícita ou implícita; e identificar se sua linguagem é mais denotativa ou
conotativa.
Essa percepção inicial é extremamente importante para que entendamos o texto a partir
de sua construção como um todo. Isso quer dizer que temos que analisar o texto em vários
níveis, para que pensemos que temos uma construção de sentido e de significado que são
interessantes para a compreensão do texto. Claro que isso está muito relacionado ao que
encontramos nessa aula, no sentido de que temos um início da interpretação e da compreensão
do texto. Não se esqueça disso: estamos construindo uma leitura mais profunda do texto.
Perceba que essa simples frase tem poucas informações externas: somente sabemos
que temos uma pessoa chamada Marcelo, que ele prestou vestibular para medicina na
Unicamp e que ele passou em primeiro lugar, com a maior nota de corte para esse curso nessa
universidade. Notou que essas informações estão explícitas no texto? Isso é significação
explícita. Uma informação explícita no texto está no nível da objetividade, ou seja, não
depende da interpretação do leitor. É aquilo que está expresso de maneira linear objetiva.
Por outro lado, temos algumas informações que são fruto de nossa interpretação e de
nosso “conhecimento de mundo”. No caso dessa simples construção apresentada, percebemos
que a Unicamp é uma das mais importantes universidades do Brasil e que seu vestibular é
extremamente concorrido, principalmente para Medicina. Assim, imaginamos (o que não
realmente precisa ser verdade) que o Marcelo que foi aprovado em primeiro lugar é uma pessoa
inteligente, dado que, para alcançar essa posição, precisará ter tirado notas excelentes em
todas as disciplinas, tanto na primeira quanto na segunda fase do vestibular. São inferências
que fazemos. Aí está o ponto importante: essas são informações de significação implícita,
em que levamos em consideração informações a mais do que aquelas encontradas no texto.
B – Sim. Eu te pego no metrô e vamos juntas. Mas tem que ser cedo, pois amanhã é meu
rodízio.
Dessa classificação, podemos partir para a noção dos textos. Assim, textos de teor
informativo e didático devem tentar ao máximo valorizar o aspecto denotativo. Isto é essencial
para que não haja ruídos nas mensagens e o receptor possa compreender o conteúdo com a
maior clareza possível. Um texto denotativo deve evitar ambiguidades.
Reportagem
O grupo Barbatuques, fundado em 1995 em São Paulo, perdeu seu criador. Fernando
Barboza, conhecido como Fernando Barba, morreu na quinta-feira (4). Fruto da pesquisa
de Barba, o Barbatuques criou técnicas inovadoras de produzir, tocar e ensinar música por
meio da percussão vocal e corporal e da improvisação.
Texto didático
A teoria linguística chamada Gramática Gerativa tem sido desenvolvida por Noam
Chomsky e muitos outros pesquisadores desde 1957. Trata-se de uma teoria que se ocupa
das línguas e da linguagem.
Por sua vez, um texto conotativo é mais carregado de subjetividade, podendo brincar
com as palavras. Em textos literários é muito comum que os aspectos conotativos sejam mais
presentes. Quadrinhos, charges e outras peças de efeito humorístico também tendem a
trabalhar com esse tipo de linguagem, pois muitas vezes a graça da piada está justamente no
duplo sentido. Nestes casos, utilizam-se muitas palavras polissêmicas e jogos de palavras.
Destacamos, ainda, que podemos ter a construção de ambiguidade proposital para que o texto
alcance seu objetivo de comunicação.
CAPÍTULO IX / A ÓPERA
Já não tinha voz, mas teimava em dizer que a tinha. "O desuso é que me faz mal",
acrescentava. Sempre que uma companhia nova chegava da Europa, ia ao empresário e
expunha-lhe todas as injustiças da terra e do céu; o empresário cometia mais uma, e ele saía
a bradar contra a iniquidade. Trazia ainda os bigodes dos seus papéis. Quando andava,
apesar de velho, parecia cortejar uma princesa de Babilônia. Às vezes, cantarolava, sem abrir
a boca, algum trecho ainda mais idoso que ele ou tanto – vozes assim abafadas são sempre
possíveis. Vinha aqui jantar comigo algumas vezes. Uma noite, depois de muito Chianti,
repetiu-me a definição do costume, e como eu lhe dissesse que a vida tanto podia ser uma
ópera, como uma viagem de mar ou uma batalha, abanou a cabeça e replicou:
– A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em
presença do baixo e dos comprimirás, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo
tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimirás. Há coros a numerosos,
muitos bailados, e a orquestração é excelente...
– Quê...
Deus é o poeta. A música é de Satanás, jovem maestro de muito futuro, que aprendeu
no conservatório do céu. Rival de Miguel, Raiael e Gabriel, não tolerava a precedência que
eles tinham na distribuição dos prêmios. Pode ser também que a música em demasia doce e
mística daqueles outros condiscípulos fosse aborrecível ao seu gênio essencialmente trágico.
Tramou uma rebelião que foi descoberta a tempo, e ele expulso do conservatório. Tudo se
teria passa do sem mais nada, se Deus não houvesse escrito um libreto de ópera do qual
abrira mão, por entender que tal gênero de recreio era impróprio da sua eternidade. Satanás
levou o manuscrito consigo para o inferno. Com o fim de mostrar que valia mais que os outros,
e acaso para reconciliar-se com o céu, – compôs a partitura, e logo que a acabou foi levá-la
ao Padre Eterno.
Questões de fixação
(INÉDITA – Celina Gil/2019)
“As cortinas cerraram-se, e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam o
hino misterioso do santo amor conjugal.”
Comentário:
Gabarito: A
(AFA/2019)
b) “Um olhar sobre a história, no entanto, põe em xeque esta visão utópica.” (ref. 2)
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a palavra plugar é utilizada fora do sentido literal (ligar
um aparelho à tomada), significando unir homens.
A alternativa B está incorreta, pois a palavra olhar é utilizada fora do sentido literal (observar
dirigindo os olhos a algo), significando analisar.
A alternativa C está correta, pois a palavra penas é utilizada com seu sentido denotativo,
com significado de penalidade.
A alternativa D está incorreta, pois a palavra marcha é utilizada fora do sentido literal (modo
de andadura de uma pessoa ou animal), significando destino, futuro traçado.
Gabarito: C
(EsPCEx/2018)
Comentários:
Alternativa B está incorreta, pois ‘boca de siri’ é fazer silêncio, ou seja, não está no sentido
literal.
Alternativa C está incorreta, pois ‘boca de sino’ é o nome popular da calça, ou seja, não está
no sentido literal.
Alternativa D está incorreta, ‘boca da noite’ é o mesmo que o início da noite, ou seja, não
está no sentido literal.
Alternativa E está incorreta, pois ‘boca de urna’ é pedir voto, ou seja, não está no sentido
literal.
Gabarito: A
4 Variação linguística
o modo como ela é falada e escrita, entende-se que todos os falantes de português
compartilham de uma só língua. Tanto é assim, que há um acordo ortográfico compartilhado
pela maioria dos países falantes de nossa língua. Oficialmente, sete países têm o português
como sua língua oficial: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e
São Tomé e Príncipe.
Contudo, as diferenças que mais “assustam” os falantes são aquelas encontradas dentro
do próprio país, em que a língua apresenta articulações distintas e diferenças bastante claras.
Notem que temos muito espaço nesse nosso “brasilzão” para que tivéssemos uma mesma
língua em todos os pontos. Por isso, falaremos a seguir sobre as chamadas “variações da
língua portuguesa no Brasil”, identificando alguns conceitos importantes e olhando para as
influências com relação à língua.
Para começar, vamos olhar o que Rocha Lima (2011) aponta como alguns traços que
se podem perceber entre os diferentes grupos falantes:
É claro que essa distinção maior abarca diferenças encontradas dentro de cada estado
e de cada região de forma mais específica. Por exemplo, entre os falares de Pernambuco e os
falares do Ceará haverá diferenças claras, não somente com relação ao vocabulário, mas com
relação a muitos outros elementos da sintaxe e da morfologia. Esse ponto é importante para
que entendamos que as variações não são somente no nível vocabular.
Uma língua pode também sofrer modificações ligadas ao tempo. Modos de escrita de
palavras que caem em desuso e palavras que deixam de ser utilizadas ou são modificadas são
dois bons exemplos disso. Há, porém, outra possível modificação ligada ao tempo: a diferença
de uso da língua entre pessoas de faixas etárias diferentes. Mais uma vez, não são diferenças
somente vocabulares. Por exemplo, observemos o paradigma pronominal do Brasil:
Note que no quadro das conjugações acima, em que usamos o verbo “ir” como
exemplificação, temos a saída de seis conjugações, no primeiro paradigma pronominal, para
Variação histórica
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito
prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas,
mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficava longos
meses debaixo do balaio. E levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar
em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era de tirar o pai da forca, e
não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com
quantos paus se faz uma canoa.
Fragmento de Antigamente, de Carlos Drummond de Andrade
Variação regional
Variação situacional
Variação social
“Pisou na bola,
Tá de sacanagem.
Tá trincado é aquilo,
Se toca vacilão.
Tá de bom tamanho,
Otário fanfarrão.”
Fragmento de A gíria é a cultura do povo, de Bezerra da Silva
Questões de fixação
(Questão Inédita – /2021)
a) diafásica.
b) diatópica.
c) diacrônica.
d) diastrática.
e) educacional.
Comentários:
Gabarito: C
Isso é um desaforo
Vestida de chita
(Luiz Gonzaga)
A música de Gonzagão apresenta, como formas de variação principais, a
a) diafásica e diastrática.
b) diafásica e diatópica.
c) histórica e diatópica.
d) diafásica e a histórica.
e) diastrática e a diatópica.
Comentários:
5 Tipos de Discurso
Uma das características dos textos narrativos, muito importantes para a construção de
textos da língua portuguesa, é a possibilidade de uso de falas de personagens. É o que
chamamos de discursos. Nossa classificação sempre se dá a partir da forma que esses
discursos tomam em uma narrativa, podendo, claramente, variar conforme o texto, ou ser
utilizado de formas diferentes no mesmo texto.
Travessão
Ela escondeu a cabeça nas mãos e soluçou.
Aspas
Idealizada a princípio com propósito histórico, a exposição de Claudia Andujar
ganhou uma dimensão urgente com a definição da nova política, segundo o curador
Thyago Nogueira.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos
no papel.
Já o discurso indireto é definido por Rocha Lima (2011) como aquele em que o autor
encaixa no seu próprio discurso as palavras da personagem, propondo-se tão somente a
transmitir-lhes o sentido intelectual e não a forma linguística que as caracteriza”.
Quaresma foi inflexível; disse que não, que lhe eram absolutamente antipáticas tais
disputas, que não tinha partido e mesmo que tivesse não iria afirmar uma cousa que ele
não sabia ainda se era mentira ou verdade.
Assim como no discurso direto, há a presença dos verbos dicendi, porém, aqui, eles se
encontram seguidos de conectivos de subordinação, ou seja, os verbos referentes à fala
precedem orações que expressam a fala da personagem. É muito comum, como você notará
claramente nos exemplos, que essa oração seja classificada como uma substantiva,
essencialmente objetivas diretas, mas com possibilidades de serem objetivas indiretas.
Cuidado para não se confundir e use seus conhecimentos gramaticais como auxílio na
construção de sentidos de um texto.
Observe que, se este período estivesse em discurso direto, a redação dos termos
destacados seria:
Como é possível observar, não é apenas no uso de aspas ou travessão que está a
diferença entre o discurso direto e indireto. Uma das principais diferenças na transposição
é a alteração do tempo verbal.
Discurso indireto
Discurso direto
“Há uma pessoa que você deve procurar domingo, na igreja, quando for à missa.”
Mudança de pretérito mais que perfeito (indireto) para (pretérito perfeito (direto):
Discurso indireto
Lendo essa carta, Lourenço Camargo afigurou-se receber as últimas palavras do filho;
e lembrou-se quanto fora injusto duvidando da realidade desse casamento de que ali
tinha a prova irrecusável.
Discurso direto
Lendo essa carta, Lourenço Camargo afigurou-se receber as últimas palavras do filho;
e lembrou-se: “Quão injusto eu fui injusto duvidando da realidade desse casamento de
que aqui tenho a prova irrecusável”.
Discurso indireto
Um dia, em que a afilhada fora visitar a madrinha, esta lhe disse que a iria em breve
buscar para sua casa.
Esta modalidade é a mais difícil de ser identificada. Ela consiste numa mistura dos dois
modos anteriores, mas com algumas características próprias. Leia com calma essa parte,
porque é realmente um dos tipos de discurso mais comuns da atualidade, nas construções
literárias e é bastante complicada quanto à compreensão completa.
➢ O estilo de escrita é indireto;
Luísa, na cama, tinha lido, relido o bilhete de Basílio: Não pudera — escrevia ele —
estar mais tempo sem lhe dizer que a adorava. Mal dormira!
Aqui, vê-se que o segundo período, “Mal dormira!”, representa exatamente a fala da
personagem, apenas com alteração temporal para manter o aspecto direto. Se estivesse em
discurso indireto, seria:
Luísa, na cama, tinha lido, relido o bilhete de Basílio. Ele havia escrito que não podia
estar mais tempo sem lhe dizer que a adorava, que mal dormira.
Veja aqui outro exemplo de transposição do mesmo período para todos os tipos de
discurso:
Discurso direto
Ele ficou bestificado com a cidade. Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal e disse:
- Meu Deus, mas que cidade linda! No Ano Novo eu começo a trabalhar.
Discurso indireto
Ele ficou bestificado com a cidade. Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal e disse
que a cidade era linda e que no Ano Novo começaria a trabalhar.
Questões de fixação
(EsPCEx/2016)
b) Omar queixou-se ao pai. Não era preciso tanta severidade. Por que não tratava os
outros filhos com o mesmo rigor?
c) – Isso não pode continuar assim, respondeu ela; – é preciso que façamos as pazes
definitivamente.
d) Uma semana depois, Virgília perguntou ao Lobo Neves, a sorrir, quando seria ele
ministro. Ele respondeu que, pela vontade dele, naquele mesmo instante.
e) Daí a pouco chegou João Carlos e, após ligeiro exame, receitou alguma coisa,
dizendo que nada havia de anormal...
Comentários:
A alternativa B está correta, porque, nessa construção, a pergunta que fecha o trecho
é considerado discurso indireto livre, dado que temos a apresentação clara de uma fala,
mas sem quaisquer indicação de que ela ocorreria.
Gabarito: B
(EFOMM/2017)
b) Minha prima, passada dos quarenta, lamentava que tinha ficado piruá.
c) Minha prima, passada dos quarenta, havia lamentado que ficou piruá.
d) Minha prima, passada dos quarenta, lamentava que teria ficado piruá.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque, nesse caso, o discurso direto já indica que a
prima ficara piruá. Como temos o narrador construindo o discurso que outro já havia dito,
não haveria como não utilizar o pretérito.
A alternativa B está correta, porque, nesse caso, temos a indicação correta de tempos
verbais na reescrita.
A alternativa C está incorreta, porque, nesse caso, o discurso direto já indica que a
prima ficara piruá. Dessa forma, o uso do “havia lamentado”, no pretérito mais que
perfeito, quebra a transposição correta para o discurso indireto.
A alternativa D está incorreta, porque, nesse caso, o discurso direto já indica que a
prima ficara piruá. Dessa forma, o uso do “teria ficado”, no futuro do pretérito, quebra a
transposição correta para o discurso indireto. Além disso, temos a ideia de certeza no
original e a possibilidade na reescrita.
A alternativa E está incorreta, porque, nesse caso, o discurso direto já indica que a
prima ficara piruá. Dessa forma, o uso do “ficará”, no futuro, quebra a transposição correta
para o discurso indireto.
Gabarito: B
6 - Funções da Linguagem
Falar sobre funções da linguagem é falar sobre comunicação. Além disso, é
compreender que não temos textos inocentes, como eu sempre costumo dizer. Isso é essencial
para que compreendamos que os textos são construídos com muitas intenções por trás de si.
Digo isso a vocês, porque, por exemplo, como a função relacionada com o canal é
menos cobrada em questões, pela facilidade de resposta, as pessoas tendem a achar que o
próprio canal é desimportante. Contudo, não se esqueça de que temos claramente a
necessidade de um canal para que a mensagem consiga chegar a seu receptor. Veja todos os
atores como essenciais para nossa análise.
As funções da linguagem textual são divididas em seis possibilidades, cada uma focando
em um partícipe da comunicação: função poética (mensagem), função emotiva (emissor),
função conativa (receptor), função metalinguística (código), função fática (canal) e função
referencial (referente).
poética também se encontra muitas vezes, por exemplo, na publicidade. Se caracteriza pelo
uso constante da linguagem figurada.
Prosa
“Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que
foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da
dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que
me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força
que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.”
Literatura
Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.
Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei
“Oi Ana! Estou morrendo de saudade de você! Que dia você chega? Tenho tanto pra te
contar...”
Publicidade
Campanha política
Slogans:
- Mude!
Literatura
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor
(Fernando Pessoa)
Livros didáticos
di·ci·o·ná·ri·o
1 [LING] Coleção, parcial ou completa, das unidades lexicais de uma língua (palavras,
locuções, afixos etc.), em geral dispostos em ordem alfabética, com ou sem significação
equivalente, assim como sinônimos, antônimos, classe gramatical, etimologia etc., na mesma
ou em outra língua.
O importante aqui não é o que nem como se fala, mas sim estabelecer contato. É
comum aparecer em situações de teste de funcionamento do veículo, cumprimentos e
saudações em geral. Expressões como “alô” ao telefone são um ótimo exemplo de função
fática.
Teste do Canal
O objetivo aqui, portanto, é apenas informar os dados sem opinar sobre eles. Aparece
no texto jornalístico, nos manuais, listas, bulas etc. Diferente da função conativa, não há o uso
do imperativo. O objetivo não é convencer, mas sim informar.
Jornalismo
“O número de trabalhadores sem carteira assinada cresceu 3,8% (mais 427 mil
pessoas) no 4º trimestre de 2018, frente ao ano anterior, segundo a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada nesta quinta-feira (31). Por outro lado, a
quantidade de pessoas que trabalham com registro caiu 1% na comparação anual.”
Tendo construído esse tanto de conhecimento nessa aula, chega a nossa hora de
treinar, né? Fiquem sempre atentos às necessidades contextuais para a construção das
respostas. Não se esqueçam disso.
7 Exercícios
Antes de começar os exercícios, alguns avisos:
➢ Recomendo que os exercícios sejam feitos na ordem em que aparecem, dado que
tentamos montar a lista de exercícios por grau de complexidade de resolução das
questões. Por isso, temos algumas delas que apresentarão textos mais longos, dada a
complexidade da questão.
b) E quando saí fraca pela primeira vez à rua, havia sol cálido e gente na rua.
Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos
cabelos de Capitu, mas então com as mãos, e disse-lhe, — para dizer alguma coisa, —
que era capaz de os pentear, se quisesse.
Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por causa da epidemia, não pôde entregar a
carta a Romeu:
— Fui procurar um frade de nossa ordem de pés descalços, que visita os doentes,
para ir comigo a Mântua (...)
a) Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por causa da epidemia, não pôde entregar a carta a
Romeu, pois fora procurar um frade de sua ordem de pés descalços, que visitava os doentes,
para ir com ele a Mântua (...)
b) Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por causa da epidemia, não pôde entregar a carta
a Romeu, pois foi procurar um frade de sua ordem de pés descalços, que visita os doentes,
para ir com ele a Mântua (...)
c) Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por causa da epidemia, não pôde entregar a carta a
Romeu, pois fui procurar um frade de nossa ordem de pés descalços, que visita os doentes,
para ir comigo a Mântua (...)
d) Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por causa da epidemia, não pôde entregar a carta
a Romeu, pois fui procurar um frade de sua ordem de pés descalços, que visita os doentes,
para ir com ele a Mântua (...)
b) Deve observar não só o conteúdo como também a forma com que a mensagem é
passada.
II. Enumera fatos ocorridos com alguma personagem, sua reação a conflitos e resolução
dos conflitos.
III. Utiliza muitos adjetivos e locuções adjetivas. Busca pintar um quadro de alguma
situação, local ou pessoa.
IV. Se vale de exemplos, dados e informações para corroborar uma ideia que pretende
passar.
V. Deve ser a opção de jornalistas e editores por se comprometer com um relato menos
opinativo e mais objetivo dos assuntos tratados.
São, respectivamente:
6. (EEAR/2019)
7. (SMV/2019)
O relógio
- Mas será que não dá para tomar uma providência? - alguém comentou.
- Bem, o relógio nunca marca a hora certa. Qualquer que seja a providência já será
uma melhora.
- Você tem toda a razão - disse ele. - De fato, já dá para sentir uma melhora.
- Eu não quis dizer “qualquer providência”, assim literalmente. Como é que agora o
relógio pode estar melhor do que antes?
- Bem, antes ele nunca marcava a hora certa. Agora, pelo menos, duas vezes por dia
ele vai estar certo.
AL-DIN, K. N. O relógio. In: Costa, F. M. de. (org.). Os 100 melhores contos de humor da
I - os verbos “comentou” (2º), “falou” (3º) e “disse” (6º) indicam que o interlocutor está com a
palavra no discurso direto.
II - na frase: “O relógio de Nasrudin vivia marcando a hora errada.” (1º), é possível observar
a presença do discurso direto.
III - um exemplo de transposição do discurso indireto para o direto estão presente em:
Nasrudin disse que antes o relógio nunca marcava a hora certa.
IV - o uso das interrogações dá vida ao personagem para o leitor, sendo um dos recursos
que revela a força da narração no discurso direto.
8. (EEAR/2018)
Leia:
Passando para o Discurso Indireto o fragmento acima, de acordo com a norma gramatical,
tem-se:
9. (EsPCEx/2017)
Assinale a alternativa em que o particípio sublinhado está utilizado de acordo com a norma
culta.
10. (EsPCEx/2015)
11. (EEAR/2011)
Leia:
Lúcia pediu: “Está em suas mãos arranjar isso para mim.” O vereador quase caiu da cadeira.
Ficou transtornado. Como poderia fazer aquilo? Não poderia arriscar o cargo! Então a
mulher, espantada com a atitude do vereador, completou, em tom ameaçador, que ele não
teria mais o seu voto. E deu-lhe as costas.
No texto acima, há
12. (EsPCEx/2011)
Quando a intenção do emissor está voltada para a própria mensagem, quer na seleção e
combinação das palavras, quer na estrutura da mensagem, com as mensagens carregadas
de significados, temos a função de linguagem denominada
a) fática.
b) poética.
c) emotiva.
d) referencial.
e) metalinguística.
13. (EEAR/2008)
a)"Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim – Psiu ... Não acorde o menino."
b) "À noite, encontrando-se com sua ex-esposa numa rua erma e escura, parou, olhou para
os lados. Aquele seria um momento para um acerto de contas? Sim!"
c) "Daniela, visivelmente emocionada, falou que havia algum tempo ela tinha encontrado
seu maior tesouro: Marcelo."
14. (EPCAR/2020)
Quando
(CAPPARELLI, Sérgio. 33 ciberpoemas e uma fábula digital. Porto Alegre: L&PM, 2001.)
Analisando a forma como o poema “Quando” foi construído e a linguagem nele empregada,
é correto afirmar que
15. (EPCAR/2020)
Cadê o papel-carbono?
Outro dia tive saudade do papel carbono. E tive saudade também do mimeógrafo a
álcool. E tive saudade da velha máquina de escrever. E tive saudade de quando, no dizer
de Rubem Braga, a geladeira era [5] branca e o telefone era preto.
Os mais jovens não sabem nem o que é papel carbono ou mimeógrafo a álcool. Mas
tive saudade deles, ou melhor, de um tempo em que eu não dependia eletronicamente de
outros para fazer as mínimas [10] tarefas. Uma torneira, por exemplo, era algo simples. Eu
sabia abrir uma torneira e fazê-la jorrar água. Hoje tomar um banho é uma peripécia
tecnológica. Hoje até para tomar um elevador tenho que inserir um cartão eletrônico para ele
se mover. Claro que tem o Google, [15] essa enciclopédia no computador que facilita as
pesquisas (para quem não precisa ir fundo nos assuntos), mas muita coisa me intriga: por
que cada aparelho de televisão de cada casa, de cada hotel tem um controle remoto
diferente e a gente não consegue [20] usá-los sem pedir socorro a alguém?
Olha, tanta tecnologia!... Mas além de não terem descoberto como curar uma simples
gripe, os elevadores dos hotéis ainda não chegaram a uma conclusão de como assinalar no
mostrador que letra [25] deve indicar a portaria. Será necessária uma medida provisória do
presidente para uniformizar tal diversidade analfabética.
Outro dia, li que houve uma reunião em Baku, lá no Azerbaijão, congregando cérebros
notáveis para [30] decifrarem nosso presente e nosso futuro. Pois Jean Baudrillard andou
dizendo, com aquela facilidade que os franceses têm para fazer frases que parecem
filosóficas, que o que caracteriza essa época que está vindo por aí é que o homem, leia-se
corretamente homens e [35] mulheres, ou seja, o ser humano, foi descartado pela máquina.
(Isso a gente já sabe quando tenta ligar para uma firma qualquer e uma voz eletrônica fica
mandando a gente discar isto e aquilo e volta tudo a zero e não obtemos a informação
necessária.)
[40] Deste modo estão se cumprindo dois vaticínios. O primeiro era de um vate mesmo
– Vinícius de Moraes, que naquele poema “Dia da Criação”, fazendo considerações irônicas
sobre o dia de “sábado” e os desígnios divinos, diz: “Na verdade, o homem não era [45]
necessário”. É isto, já não somos necessários.
E a outra frase metida nessa encrenca é aquela da Bíblia, que dizia que o “sábado foi
feito para o homem e não o homem para o sábado”. Isso foi antigamente. Pois achávamos
que a máquina havia sido [50] feita para o homem, mas Baudrillard, as companhias aéreas
e as telefônicas mais os servidores de informática nos convenceram de que “o homem é que
foi feito para a máquina”. Ao telefone só se fala com máquinas, e algumas empresas – esses
servidores de [55] informática – nem seus telefones disponibilizam. Estou, por exemplo, há
quatro meses tentando falar com alguém no “hotmail” e lá não tem viv’alma, só fantasmas
eletrônicos sem rosto e sem voz.
Permita-me, eventual e concreto leitor, lhe fazer [60] uma pergunta indiscreta. Quanto
tempo diariamente você está gastando com e-mails? Quanto tempo para apagar o lixo e
responder bobagens? Faça a conta, some.
Drummond certa vez escreveu: “Ao telefone [65] perdeste muito tempo de semear”. Ele
é porque não conheceu a internet, que, tanto quanto o celular, usada desregradamente é a
grande sorvedora de tempo da pós-modernidade.
Por estas e por outras é que estou pensando [70] seriamente em voltar às cartas, quem
sabe ao pergaminho. E a primeira medida é reencontrar o papel carbono.
(SANT’ANNA, Affonso Romano de. Tempo de delicadeza. Porto Alegre: L&PM, 2009)
b) a citação de escritores e poetas como Rubem Braga (l. 4), Vinícius de Moraes (l. 41) e
Drummond (l. 64), além de servir como argumento de autoridade, indica que se trata de um
texto de caráter literário.
c) os comentários entre parênteses (l. 16 e 17) e (l. 36 a 39) servem para estabelecer um
diálogo direto com o interlocutor, indicando opiniões do locutor em relação ao que ele disse
anteriormente.
Lista 01 – Gabarito
1. D 6. A 11. D
2. D 7. E 12. B
3. A 8. D 13. B
4. C 9. D 14. C
5. B 10. E 15. C
b) E quando saí fraca pela primeira vez à rua, havia sol cálido e gente na rua.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois apenas o uso de uma pergunta não indica necessariamente
uma marca de oralidade.
A alternativa B está incorreta, pois a descrição de uma situação não indica uma marca de
oralidade.
A alternativa C está incorreta, pois a descrição de uma situação hipotética não indica uma
marca de oralidade.
A alternativa D está correta, pois a interjeição “Ah” é típica da oralidade, indicando uma espécie
de suspiro.
Gabarito: D
Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos
cabelos de Capitu, mas então com as mãos, e disse-lhe, — para dizer alguma coisa, — que
era capaz de os pentear, se quisesse.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois não houve mudança do tempo e modo verbal de
“quisesse”.
A alternativa B está incorreta, pois aqui não houve alteração no tempo ou modo verbal.
A alternativa C está incorreta, pois a alteração do “era” não pode ser para “seria”, mas
sim para “sou”
Gabarito: D
Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por causa da epidemia, não pôde entregar a carta
a Romeu:
— Fui procurar um frade de nossa ordem de pés descalços, que visita os doentes, para
ir comigo a Mântua (...)
a) Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por causa da epidemia, não pôde entregar a carta a
Romeu, pois fora procurar um frade de sua ordem de pés descalços, que visitava os doentes,
para ir com ele a Mântua (...)
b) Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por causa da epidemia, não pôde entregar a carta a
Romeu, pois foi procurar um frade de sua ordem de pés descalços, que visita os doentes, para
ir com ele a Mântua (...)
c) Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por causa da epidemia, não pôde entregar a carta a
Romeu, pois fui procurar um frade de nossa ordem de pés descalços, que visita os doentes,
para ir comigo a Mântua (...)
d) Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por causa da epidemia, não pôde entregar a carta a
Romeu, pois fui procurar um frade de sua ordem de pés descalços, que visita os doentes, para
ir com ele a Mântua (...)
Comentários:
- comigo (1ª pessoa do singular) se torna com ele (3ª pessoa do singular).
A alternativa B está incorreta, pois não realiza corretamente a transposição dos verbos “fui” e
“visita”.
A alternativa C está incorreta, pois não realiza a transposição dos termos, apenas elimina o
travessão
A alternativa D está incorreta, pois não realiza corretamente a transposição dos verbos.
Gabarito: A
b) Deve observar não só o conteúdo como também a forma com que a mensagem é passada.
Comentário:
Gabarito: C
II. Enumera fatos ocorridos com alguma personagem, sua reação a conflitos e resolução
dos conflitos.
III. Utiliza muitos adjetivos e locuções adjetivas. Busca pintar um quadro de alguma
situação, local ou pessoa.
IV. Se vale de exemplos, dados e informações para corroborar uma ideia que pretende passar.
V. Deve ser a opção de jornalistas e editores por se comprometer com um relato menos
opinativo e mais objetivo dos assuntos tratados.
São, respectivamente:
Comentário:
O texto do item I. é injuntivo, pois é o gênero que mais se vale do imperativo e é aplicado
na publicidade.
O texto do item III. é descritivo, pois é o gênero com uso mais frequente de expressões
para caracterizar algo ou alguém.
O texto do item V. é expositivo, pois deve se preocupar em não fazer juízo de valor ou
opinar sobre o tema.
Gabarito: B
6. (EEAR/2019)
Comentários:
A alternativa B está incorreta, pois aqui se faz o uso correto de acordo com a norma
culta da expressão “entre mim e (...)”.
A alternativa C está incorreta, pois aqui se faz o uso correto de acordo com a norma
culta da expressão “entre mim e (...)”.
A alternativa D está incorreta, pois aqui se faz o uso correto de acordo com a norma
culta da expressão “entre mim e (...)”.
Gabarito: A
7. (SMV/2019)
O relógio
- Mas será que não dá para tomar uma providência? - alguém comentou.
- Bem, o relógio nunca marca a hora certa. Qualquer que seja a providência já será
uma melhora.
- Você tem toda a razão - disse ele. - De fato, já dá para sentir uma melhora.
- Eu não quis dizer “qualquer providência”, assim literalmente. Como é que agora o
relógio pode estar melhor do que antes?
- Bem, antes ele nunca marcava a hora certa. Agora, pelo menos, duas vezes por dia
ele vai estar certo.
AL-DIN, K. N. O relógio. In: Costa, F. M. de. (org.). Os 100 melhores contos de humor
da
I - os verbos “comentou” (2º), “falou” (3º) e “disse” (6º) indicam que o interlocutor está com a
palavra no discurso direto.
II - na frase: “O relógio de Nasrudin vivia marcando a hora errada.” (1º), é possível observar a
presença do discurso direto.
III - um exemplo de transposição do discurso indireto para o direto estão presente em:
Nasrudin disse que antes o relógio nunca marcava a hora certa.
IV - o uso das interrogações dá vida ao personagem para o leitor, sendo um dos recursos que
revela a força da narração no discurso direto.
Comentários:
A afirmativa I é verdadeira, pois esses são os chamados “verbos discendi”, que indicam
nesse caso a presença do discurso direto, já que não vêm acompanhados da partícula “que”.
A afirmativa II não é verdadeira, pois aqui só há uma narração descrevendo como era o
relógio.
A afirmativa III não é verdadeira, pois aqui não há transposição para discurso direto,
apenas a manutenção do discurso indireto.
Gabarito: E
8. (EEAR/2018)
Leia:
Passando para o Discurso Indireto o fragmento acima, de acordo com a norma gramatical, tem-
se:
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o verbo aqui foi transformado em futuro do pretérito
e o correto seria ter sido transformado em pretérito mais que perfeito.
A alternativa B está incorreta, pois não é preciso que se altere “a moribunda esclarecia”,
apenas a fala da personagem. Além disso, a personagem fala sobre um tempo passado.
A alternativa C está incorreta, pois não se deve alterar os verbos para esses tempos
verbais. O futuro do pretérito não é a escolha correta para esse caso.
A alternativa D está correta, pois para que a transposição seja correta é preciso que se
adicione a palavra “que”, se inverta a ordem dos termos e que os verbos sejam modificados de
pretérito perfeito (ingeri) para pretérito mais que perfeito (tinha ingerido). Lembre-se que “a
moribunda esclarecia” não precisa ser alterado. Altera-se apenas a fala da personagem.
Gabarito: D
9. (EsPCEx/2017)
Assinale a alternativa em que o particípio sublinhado está utilizado de acordo com a norma
culta.
Comentários:
norma, devemos pensar da seguinte forma: em locuções com ter e haver, usamos os
particípios regulares (O preso tinha ganhado a liberdade); e, em locuções com ser e
estar, mais comuns na voz passiva, devemos usar o irregular (A pena fora suspensa pelo
juiz).
Gabarito: D
10. (EsPCEx/2015)
Comentários:
Gabarito: E
11. (EEAR/2011)
Leia:
Lúcia pediu: “Está em suas mãos arranjar isso para mim.” O vereador quase caiu da
cadeira. Ficou transtornado. Como poderia fazer aquilo? Não poderia arriscar o cargo! Então a
mulher, espantada com a atitude do vereador, completou, em tom ameaçador, que ele não teria
mais o seu voto. E deu-lhe as costas.
No texto acima, há
Comentários:
• Discurso direto – Lúcia pediu: “Está em suas mãos arranjar isso para mim.”
Gabarito: D
12. (EsPCEx/2011)
Quando a intenção do emissor está voltada para a própria mensagem, quer na seleção e
combinação das palavras, quer na estrutura da mensagem, com as mensagens carregadas de
significados, temos a função de linguagem denominada
a) fática.
b) poética.
c) emotiva.
d) referencial.
e) metalinguística.
Comentários:
Alternativa A está incorreta, pois na função fática, o foco está no canal de comunicação.
Porém o que está escrito é que o foco é voltado para própria imagem..
Alternativa B está correta, pois a função poética tem como característica o uso de várias
palavras com sentido conotativo. Isso está escrito na parte ‘... com mensagens carregadas de
significado…’.
Alternativa D está incorreta, pois o foco da função referencial é informar algo, e essa
não foi uma das características citadas no texto.
Gabarito: B
13. (EEAR/2008)
a)"Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim – Psiu ... Não acorde o menino."
b) "À noite, encontrando-se com sua ex-esposa numa rua erma e escura, parou, olhou para
os lados. Aquele seria um momento para um acerto de contas? Sim!"
c) "Daniela, visivelmente emocionada, falou que havia algum tempo ela tinha encontrado seu
maior tesouro: Marcelo."
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o travessão no início da fala indica o discurso direto.
A alternativa B está correta, pois aqui há a expressão “Sim!” que é uma fala da própria
personagem em resposta a seu questionamento “Aquele seria um momento para um acerto de
contas?”.
A alternativa C está incorreta, pois a expressão “falou que” indica que aqui há o
aparecimento do discurso indireto.
A alternativa D está correta, pois a expressão “disse-me meu pai” indica discurso direto.
Gabarito: B
14. (EPCAR/202
0) Quando
(CAPPARELLI, Sérgio. 33 ciberpoemas e uma fábula digital. Porto Alegre: L&PM, 2001.)
Analisando a forma como o poema “Quando” foi construído e a linguagem nele empregada, é
correto afirmar que
d) há treze verbos no poema e eles pertencem à linguagem computacional, exceto três deles
que são usados em diversos universos linguísticos.
Comentários:
Gabarito: C
15. (EPCAR/2020)
Cadê o papel-carbono?
Outro dia tive saudade do papel carbono. E tive saudade também do mimeógrafo a
álcool. E tive saudade da velha máquina de escrever. E tive saudade de quando, no dizer de
Rubem Braga, a geladeira era [5] branca e o telefone era preto.
Os mais jovens não sabem nem o que é papel carbono ou mimeógrafo a álcool. Mas tive
saudade deles, ou melhor, de um tempo em que eu não dependia eletronicamente de outros
para fazer as mínimas [10] tarefas. Uma torneira, por exemplo, era algo simples. Eu sabia abrir
uma torneira e fazê-la jorrar água. Hoje tomar um banho é uma peripécia tecnológica. Hoje até
para tomar um elevador tenho que inserir um cartão eletrônico para ele se mover. Claro que
tem o Google, [15] essa enciclopédia no computador que facilita as pesquisas (para quem não
precisa ir fundo nos assuntos), mas muita coisa me intriga: por que cada aparelho de televisão
de cada casa, de cada hotel tem um controle remoto diferente e a gente não consegue [20]
usá-los sem pedir socorro a alguém?
Olha, tanta tecnologia!... Mas além de não terem descoberto como curar uma simples
gripe, os elevadores dos hotéis ainda não chegaram a uma conclusão de como assinalar no
mostrador que letra [25] deve indicar a portaria. Será necessária uma medida provisória do
presidente para uniformizar tal diversidade analfabética.
Outro dia, li que houve uma reunião em Baku, lá no Azerbaijão, congregando cérebros
notáveis para [30] decifrarem nosso presente e nosso futuro. Pois Jean Baudrillard andou
dizendo, com aquela facilidade que os franceses têm para fazer frases que parecem filosóficas,
que o que caracteriza essa época que está vindo por aí é que o homem, leia-se corretamente
homens e [35] mulheres, ou seja, o ser humano, foi descartado pela máquina. (Isso a gente já
sabe quando tenta ligar para uma firma qualquer e uma voz eletrônica fica mandando a gente
discar isto e aquilo e volta tudo a zero e não obtemos a informação necessária.)
[40] Deste modo estão se cumprindo dois vaticínios. O primeiro era de um vate mesmo
– Vinícius de Moraes, que naquele poema “Dia da Criação”, fazendo considerações irônicas
sobre o dia de “sábado” e os desígnios divinos, diz: “Na verdade, o homem não era [45]
necessário”. É isto, já não somos necessários.
E a outra frase metida nessa encrenca é aquela da Bíblia, que dizia que o “sábado foi
feito para o homem e não o homem para o sábado”. Isso foi antigamente. Pois achávamos que
a máquina havia sido [50] feita para o homem, mas Baudrillard, as companhias aéreas e as
telefônicas mais os servidores de informática nos convenceram de que “o homem é que foi feito
para a máquina”. Ao telefone só se fala com máquinas, e algumas empresas – esses servidores
de [55] informática – nem seus telefones disponibilizam. Estou, por exemplo, há quatro meses
tentando falar com alguém no “hotmail” e lá não tem viv’alma, só fantasmas eletrônicos sem
rosto e sem voz.
Permita-me, eventual e concreto leitor, lhe fazer [60] uma pergunta indiscreta. Quanto
tempo diariamente você está gastando com e-mails? Quanto tempo para apagar o lixo e
responder bobagens? Faça a conta, some.
Drummond certa vez escreveu: “Ao telefone [65] perdeste muito tempo de semear”. Ele
é porque não conheceu a internet, que, tanto quanto o celular, usada desregradamente é a
grande sorvedora de tempo da pós-modernidade.
Por estas e por outras é que estou pensando [70] seriamente em voltar às cartas, quem
sabe ao pergaminho. E a primeira medida é reencontrar o papel carbono.
(SANT’ANNA, Affonso Romano de. Tempo de delicadeza. Porto Alegre: L&PM, 2009)
b) a citação de escritores e poetas como Rubem Braga (l. 4), Vinícius de Moraes (l. 41) e
Drummond (l. 64), além de servir como argumento de autoridade, indica que se trata de um
texto de caráter literário.
c) os comentários entre parênteses (l. 16 e 17) e (l. 36 a 39) servem para estabelecer um
diálogo direto com o interlocutor, indicando opiniões do locutor em relação ao que ele disse
anteriormente.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque o autor constrói, com “e tive”, uma relação de
apresentação de suas experiências, sem a utilização, necessariamente, de elementos
conotativos em todas elas.
A alternativa B está incorreta, porque o texto é literário por ser uma crônica e não por
meio das citações de outros autores. É um texto reflexivo sobre as modificações da vida
moderna.
Gabarito: C
1. (AFA/2020)
Em 1934, um redator de Nova York chamado Robert Pirosh largou o emprego bem
remunerado numa agência de publicidade e rumou para Hollywood, decidido a trabalhar
como roteirista. Lá chegando, anotou o nome e o endereço de todos os diretores,
produtores e executivos que conseguiu encontrar e enviou-lhes o que certamente é o
pedido de emprego mais eficaz que alguém já escreveu, pois resultou em três entrevistas,
uma das quais lhe rendeu o cargo de roteirista assistente na MGM.
Prezado senhor:
Gosto mais da palavra roteirista que da palavra redator, e por isso resolvi largar meu
emprego numa agência de publicidade de Nova York e tentar a sorte em Hollywood, mas,
antes de dar o grande salto, fui para a Europa, onde passei um ano estudando,
contemplando e perambulando.
Robert Pirosh
Nova York
Eldorado 5-6024.
(USHER, Shaun .(Org) Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis. Trad. de
2. (AFA/2020)
Trecho da peça teatral A raposa e as uvas, escrita por Guilherme de Figueiredo. A cena
ocorre na cidade de Samos (Grécia antiga), na casa de Xantós, um filósofo grego, que
recebe o convidado Agnostos, um capitão ateniense. O jantar é servido por Esopo e Melita,
escravos de Xantós.
(Entra Esopo, com um prato que coloca sobre a mesa. Está coberto com um pano. Xantós
e Agnostos se dirigem para a mesa, o primeiro faz ao segundo um sinal para sentarem-se.)
XANTÓS (Descobrindo o prato) – Ah, língua! (Começa a comer com as mãos, e faz um sinal
para que Melita sirva Agnostos. Este também começa a comer vorazmente, dando grunhidos
de satisfação.) Fizeste bem em trazer língua, Esopo. É realmente uma das melhores coisas
do mundo. (Sinal para que sirvam o vinho. Esopo serve, Xantós bebe.) Vês, estrangeiro, de
qualquer modo é bom possuir riquezas. Não gostas de saborear esta língua e este vinho?
XANTÓS – Outro prato, Esopo. (Esopo sai à esquerda e volta imediatamente com outro
prato coberto. Serve, Xantós de boca cheia.) Que é isto? Ah, língua de fumeiro! É bom língua
de fumeiro, hein, amigo?
AGNOSTOS – Hum. (Xantós serve-se de vinho) /.../ XANTÓS (A Esopo) Serve outro prato.
(Serve) Que trazes aí?
ESOPO – Língua.
XANTÓS – Mais língua? Não te disse que trouxesse o que há de melhor para meu hóspede?
Por que só trazes língua? Queres expor-me ao ridículo?
ESOPO – Que há de melhor do que a língua? A língua é o que nos une todos, quando
falamos. Sem a língua nada poderíamos dizer. A língua é a chave das ciências, o órgão da
verdade e da razão. Graças à língua dizemos o nosso amor. Com a língua se ensina, se
persuade, se instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se mostra, se
afirma. É com a língua que dizemos sim. É a língua que ordena os exércitos à vitória, é a
língua que desdobra os versos de Homero. A língua cria o mundo de Ésquilo, a palavra de
Demóstenes. Toda a Grécia, Xantós, das colunas do Partenon às estátuas de Pidias, dos
deuses do Olimpo à glória sobre Tróia, da ode do poeta ao ensinamento do filósofo, toda a
Grécia foi feita com a língua, a língua de belos gregos claros falando para a eternidade.
XANTÓS – Agora que já sabemos o que há de melhor na terra, vejamos o que há de pior na
opinião deste 1horrendo escravo! Língua, ainda? Mais língua? Não disseste que língua era o
que havia de melhor? Queres ser espancado?
É a língua que mente, que esconde, que tergiversa, que blasfema, que insulta, que se
acovarda, que se mendiga, que impreca, que bajula, que destrói, que calunia, que vende,
que seduz, é com a língua que dizemos morre e canalha e corja. É com a língua que dizemos
não. Com a língua Aquiles mostrou sua cólera, com a língua a Grécia vai tumultuar os 2pobres
cérebros humanos para toda a eternidade! Aí está, Xantós, porque a língua é a pior de todas
as coisas!
Javier Villafañe busca em vão a palavra que deixou escapar bem quando ia pronunciá-la.
Onde terá ido essa palavra, que ele tinha na ponta da língua?
Haverá algum lugar onde se juntam todas as palavras que não quiseram ficar? Um reino das
palavras perdidas? As palavras que você deixou escapar, onde estarão à sua espera?
b) se assemelha ao texto do redator de Nova York, pois ambos são do gênero carta.
c) nele o escritor se refere às palavras que escaparam antes de serem pronunciadas; elas
estariam, talvez, em um “Reino das palavras perdidas”.
3. (AFA/2019)
Vilma Homero
Ao olhar para o passado, costumamos imaginar que estamos nos afastando dos tempos da
"barbárie pura e simples" para alcançar uma almejada "civilização", calcada sobre 1relações
livres, iguais e fraternas, típicas do homem culto. 2Um olhar sobre a história, no entanto, põe
em xeque esta visão utópica. 3Organizado pelos historiadores Regina Bustamante e José
Francisco de Moura, 4o livro Violência na História, publicado pela Mauad Editora com apoio
da FAPERJ, reúne diversos ensaios que mostram, ao longo do tempo, diferentes aspectos
da violência, propondo uma reflexão mais demorada sobre o tema. 5Nos ensaios reunidos
no livro, podemos vislumbrar como, desde a antiguidade e ao longo da história humana, 6a
violência se insere, sob diversos vieses, nas relações de poder, 7seja entre Estado e
cidadãos, entre livres e escravos, entre homens e mulheres, ou entre diferentes religiões.
"Durante a Idade Média, por exemplo, vemos como a violência se manifesta na religiosidade,
durante o movimento das Cruzadas. 8Ou, hoje, no caso dos movimentos sociais, como ela
acontece em relação aos excluídos das favelas. O sentido é amplo. A desigualdade social,
por exemplo, é um tipo de violência; a expropriação do patrimônio cultural, que significa não
permitir que a memória cultural de determinado grupo se manifeste, também", prossegue a
organizadora. (...) A própria palavra "violência", que etimologicamente deriva do latim vis,
com significado de força, virilidade, pode ser positiva em termos de transformação social, no
sentido de uma violência revolucionária, usada como forma de se tentar transformar uma
sociedade em determinado momento. (...) Essas variadas abordagens vão aparecendo ao
longo do livro.
religioso. Despido de sua humanidade, o réu era declarado 10homo sacer. 11Ou seja, sua vida
passava a ser consagrada aos deuses. 12Segundo a pesquisadora Norma Mendes, "havia o
firme propósito de fazer da morte dos condenados 13um espetáculo de caráter exemplar,
revestido de sentido religioso e de dominação, cuja função era o reforço, manutenção e
ratificação das relações de poder." (...) 14O historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva é
à época, 17deixou claro que a luta pela dignidade humana é um esforço contínuo e, pior de
tudo, lento. (...) 18E, sobretudo, mais de 50 anos depois da II Guerra Mundial, a 19ocorrência
de outros genocídios – Ruanda, Iugoslávia, Camboja etc. – leva a refletir sobre a convivência
entre os homens nesse começo do século XXI." O historiador prossegue: " 20De forma
paradoxal, a globalização, conforme se aprofunda e pluga os homens a escalas planetárias,
21é fortemente acompanhada pelo localismo e o particularismo religioso, étnico ou cultural,
b) “Um olhar sobre a história, no entanto, põe em xeque esta visão utópica.” (ref. 2)
4. (EFOMM/2018)
Rubem
Alves
Era uma família grande, todos amigos. Viviam como todos nós: moscas presas na
enorme teia de aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha lhes arrancava um
pedaço. Ficaram cansados. Resolveram mudar de vida: um sonho louco: navegar! Um
barco, o mar, o céu, as estrelas, os horizontes sem fim: liberdade. Venderam o que tinham,
compraram um barco capaz de atravessar mares e sobreviver tempestades.
Mas para navegar não basta sonhar. É preciso saber. São muitos os saberes
necessários para se navegar. Puseram-se então a estudar cada um aquilo que teria de fazer
no barco: manutenção do casco, instrumentos de navegação, astronomia, meteorologia, as
velas, as cordas, as polias e roldanas, os mastros, o leme, os parafusos, o motor, o radar, o
rádio, as ligações elétricas, os mares, os mapas... Disse certo o poeta: Navegar é preciso, a
ciência da navegação é saber preciso, exige aparelhos, números e medições. Barcos se
fazem com precisão, astronomia se aprende com o rigor da geometria, velas se fazem com
saberes exatos sobre tecidos, cordas e ventos, instrumentos de navegação não informam
mais ou menos. Assim, eles se tomaram cientistas, especialistas, cada um na sua - juntos
para navegar.
- falta-lhes essa sutil capacidade de gostar, que é a essência da vida humana. Perguntados
sobre o porto de sua escolha, disseram que não entendiam a pergunta, que não lhes
importava para onde se estava indo.
Naus e navegação têm sido uma das mais poderosas imagens na mente dos poetas.
Ezra Pound inicia seus Cânticos dizendo: E pois com a nau no mAR/assestamos a quilha
contra as vagas... Cecília Meireles: Foi, desde sempre, o mar! A solidez da terra,
monótona/parece-nos fraca ilusão! Queremos a ilusão do grande mar/ multiplicada em suas
malhas de perigo. E Nietzsche: Amareis a terra de vossos filhos, terra não descoberta, no
mar mais distante. Que as vossas velas não se cansem de procurar esta terra! O nosso leme
nos conduz para a terra dos nossos filhos... Viver é navegar no grande mar! Não só os
poetas: C. Wright Mills, um sociólogo sábio, comparou a nossa civilização a uma galera que
navega pelos mares. Nos porões estão os remadores. Remam com precisão cada vez maior.
A cada novo dia recebem remos novos, mais perfeitos. O ritmo das remadas acelera. Sabem
tudo sobre a ciência do remar. A galera navega cada vez mais rápido. Mas, perguntados
sobre o porto do destino, respondem os remadores: O porto não nos importa. O que importa
é a velocidade com que navegamos.
C. Wright Mills usou esta metáfora para descrever a nossa civilização por meio duma
imagem plástica: multiplicam-se os meios técnicos e científicos ao nosso dispor, que fazem
com que as mudanças sejam cada vez mais rápidas; mas não temos ideia alguma de para
onde navegamos. Para onde? Somente um navegador louco ou perdido navegaria sem ter
ideia do para onde. Em relação à vida da sociedade, ela contém a busca de uma utopia.
Utopia, na linguagem comum, é usada como sonho impossível de ser realizado. Mas não é
isso. Utopia é um ponto inatingível que indica uma direção.
Hoje, ele dizia, as únicas perguntas que são feitas, determinadas pelo pragmatismo da
tecnologia (o importante é produzir o objeto) e pelo objetivismo da ciência (o importante é
saber como funciona), são: Como posso fazer tal coisa? Como posso resolver este problema
concreto particular? E conclui: E em todas essas perguntas sentimos o eco otimista: não
preciso de me preocupar com o todo, ele tomará conta de si mesmo.
Em nossas escolas é isso que se ensina: a precisa ciência da navegação, sem que os
estudantes sejam levados a sonhar com as estrelas. A nau navega veloz e sem rumo. Nas
universidades, essa doença assume a forma de peste epidêmica: cada especialista se
dedica, com paixão e competência, a fazer pesquisas sobre o seu parafuso, sua polia, sua
vela, seu mastro.
E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, por conhecerem
mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. Não posso pensar a missão das escolas,
começando com as crianças e continuando com os cientistas, como outra que não a da
realização do dito do poeta: Navegar é preciso. Viver não é preciso.
O meu sonho para a educação foi dito por Bachelard: O universo tem um destino de
felicidade. O homem deve reencontrar o Paraíso. O paraíso é jardim, lugar de felicidade,
prazeres e alegrias para os homens e mulheres. Mas há um pesadelo que me atormenta: o
deserto. Houve um momento em que se viu, por entre as estrelas, um brilho chamado
progresso. Está na bandeira nacional... E, quilha contra as vagas, a galera navega em
direção ao progresso, a uma velocidade cada vez maior, e ninguém questiona a direção.
E é assim que as florestas são destruídas, os rios se transformam em esgotos de fezes e
veneno, o ar se enche de gases, os campos se cobrem de lixo - e tudo ficou feio e triste.
Sugiro aos educadores que pensem menos nas tecnologias do ensino - psicologias e
quinquilharias - e tratem de sonhar, com os seus alunos, sonhos de um Paraíso.
Assinale a alternativa em que fragmento do texto que, quanto ao tipo textual, pode se
classificar como descritivo.
b) Era uma família grande, todos amigos. Viviam como todos nós: moscas presas na enorme
teia de aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha lhes arrancava um pedaço.
c) Mas para navegar não basta sonhar. É preciso saber. São muitos os saberes
necessários (...)
5. (AFA/2017)
RETRATO
MEIRELES, Cecília. Obra Poética de Cecília Meireles. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1958.
ENVELHECER
Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer
Não quero morrer pois quero ver como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver para ver qual é e dizer venha pra o que vai acontecer
(...)
Pois ser eternamente adolescente nada é mais *démodé com os ralos fios de cabelo sobre
a
Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender
Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr. (...)
www.arnaldoantunes.com.br/new/sec_discografia_sel.php?id=679
Art. 2 – O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental
e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e
dignidade.
Art. 4 – Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência,
crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou por omissão, será
punido na forma da lei.
www.planalto.gov.br/ccvil_03/leis/2003/L10.741.htm
LEITE DERRAMADO
“Um homem muito velho está num leito de hospital. E desfia a quem quiser ouvir
suas memórias. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e
econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois
séculos.”
Não sei por que você não me alivia a dor. Todo dia a senhora levanta a persiana com
bruteza e joga sol no meu rosto. Não sei que graça pode achar dos meus esgares, é uma
pontada cada vez que respiro. Às vezes aspiro fundo e encho os pulmões de um ar
insuportável, para ter alguns segundos de conforto, expelindo a dor. Mas bem antes da
doença e da velhice, talvez minha vida já fosse um pouco assim, uma dorzinha chata a me
espetar o tempo todo, e de repente uma lambada atroz. Quando perdi minha mulher, foi
atroz. E qualquer coisa que eu recorde agora, vai doer, a memória é uma vasta ferida. Mas
nem assim você me dá os remédios, você é meio desumana. Acho que nem é da
enfermagem, nunca vi essa cara sua por aqui. Claro, você é a minha filha que estava na
contraluz, me dê um beijo. Eu ia mesmo lhe telefonar para me fazer companhia, me ler
jornais, romances russos. Fica essa televisão ligada o dia inteiro, as pessoas aqui não são
sociáveis. Não estou me queixando de nada, seria uma ingratidão com você e com o seu
filho. Mas se o garotão está tão rico, não sei por que diabos não me interna em uma casa
de saúde tradicional, de religiosas. Eu próprio poderia arcar com viagem e tratamento no
estrangeiro, se o seu marido não me tivesse arruinado.
BUARQUE, Chico. Leite derramado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 10-11.
6. (AFA/2016)
FAVELÁRIO NACIONAL
Carlos Drummond de Andrade
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
Nos versos: “Mas, favela, ciao, / que este nosso papo / está ficando tão desagradável / vês
que perdi o tom e a empáfia do começo?”, verifica-se a presença das funções de linguagem
a) apelativa e referencial.
b) poética e referencial.
c) metalinguística e apelativa.
d) fática e emotiva.
7. (AFA/2012)
Texto I
O silêncio incomoda
Não suporto mais ver 25tantas tragédias, crimes, violências, falcatruas e tantas
politicagens para a realização da Copa de 2014.
mesma partida.
22Parece haver uma disputa para saber 19quem dá mais informações e estatísticas, e
outra, entre os narradores, 3para saber quem grita gol mais 23alto e 24prolongado. 11Se dizem
16que a imagem vale mais que mil palavras, por que se fala e se grita tanto?
21Outra discussão 27chata, durante e após as partidas, é 8se um jogador teve a intenção
de colocar a mão na bola e de fazer pênalti, e se outro teve a intenção de atingir o adversário.
Com raríssimas exceções, 4ninguém é louco para fazer pênalti nem tão canalha para querer
quebrar o outro jogador.
7O que ocorre, com frequência, é 5o jogador, no impulso, sem pensar, soltar o braço na
cara do outro. O impulso está à frente da consciência. Não sou também tão ingênuo para
achar 17que todas as faltas violentas são involuntárias.
Não dá para o árbitro saber 12se a falta foi intencional ou não. Ele precisa julgar o fato,
e não a intenção. Eles precisam ter também bom senso, o que é raro no ser humano, para
saber a gravidade das faltas. 29Muitas parecem 28iguais, mas não são. Ter critério não é
unificar as diferenças.
Texto II
O ídolo
1Desde que aprende a andar, sabe jogar. Quando criança, alegra os descampados e
os baldios, joga e joga e joga nos ermos dos subúrbios até que a noite cai e ninguém mais
consegue ver a bola, e, quando jovem, voa e faz voar nos estádios. Suas artes de
malabarista convocam multidões, domingo após domingo, de vitória em vitória, de ovação
em ovação.
4 A bola 13o procura, 14o reconhece, precisa dele. No peito de 18seu pé, ela descansa e
se embala. 6Ele 19lhe dá brilho e 20a faz falar, e neste diálogo entre os dois, milhões de mudos
conversam. 11Os Zé Ninguém, os condenados a serem para sempre ninguém, podem sentir-
se alguém por um momento, por obra e graça desses passes devolvidos num toque, 16essas
fintas que desenham os zês na grama, 17esses golaços de calcanhar ou de bicicleta: quando
ele joga o time tem doze jogadores.
A bola ri, radiante, no ar. Ele a amortece, a adormece, diz galanteios, dança com ela,
10
e vendo essas coisas nunca vistas, seus adoradores sentem piedade por seus netos ainda
não nascidos, que não estão vendo 15o que acontece.
22 Mas o ídolo é ídolo apenas por um momento, humana eternidade, coisa de nada; e
quando chega a hora do azar para o pé de ouro, a estrela conclui sua viagem do resplendor
à escuridão. 3Esse corpo está com mais remendos que roupa de palhaço, o acrobata virou
paralítico, o artista é uma besta:
— Múmia!
Às vezes, o ídolo não cai inteiro. 5E, às vezes, 2quando 9se quebra, a multidão 21o devora
aos pedaços.
a) a função poética está presente no texto II, através do uso de linguagem figurada.
d) o fato de Tostão ser um ex-jogador de futebol e estar falando sobre esse esporte – texto
I – caracteriza uma metalinguagem.
8. (Escola Naval/2017)
O dono do livro
Li outro dia um fato real narrado pelo escritor moçambicano Mia Couto. Ele disse que
certa vez chegou em casa no fim do dia, já havia anoitecido, quando um garoto humilde de
16 anos o esperava sentado no muro. O garoto estava com um dos braços para trás, o que
perturbou o escritor, que imaginou que pudesse ser assaltado.
Mas logo o menino mostrou o que tinha em mãos: um livro do próprio Mia Couto. Esse
livro é seu? perguntou o menino. Sim, respondeu o escritor. Vim devolver. O garoto explicou
que horas antes estava na rua quando viu uma moça com aquele livro nas mãos, cuja capa
trazia a foto do autor.
O garoto reconheceu Mia Couto pelas fotos que já havia visto em jornais. Então
perguntou para a moça: Esse livro é do Mia Couto? Ela respondeu: E. E o garoto mais que
ligeiro tirou o livro das mãos dela e correu para a casa do escritor para fazer a boa ação de
devolver a obra ao verdadeiro dono.
Uma história assim pode acontecer em qualquer país habitado por pessoas que ainda
não estejam familiarizadas com os livros - aqui no Brasil, inclusive. De quem é o livro? A
resposta não é a mesma de quando se pergunta: “Quem escreveu o livro?”.
O autor é quem escreve, mas o livro é de quem lê, e isso de uma forma muito mais
abrangente do que o conceito de propriedade privada - comprei, é meu. O livro é de quem
lê mesmo quando foi retirado de uma biblioteca, mesmo que seja emprestado, mesmo que
tenha sido encontrado num banco de praça.
O livro é de quem tem acesso às suas páginas e através delas consegue imaginar os
personagens, os cenários, a voz e o jeito com que se movimentam. São do leitor as
sensações provocadas, a tristeza, a euforia, o medo, o espanto, tudo o que é transmitido
pelo autor, mas que reflete em quem lê de uma forma muito pessoal. É do leitor o prazer. É
do leitor a identificação. É do leitor o aprendizado. É do leitor o livro.
Dias atrás gravei um comercial de rádio em prol do Instituto Estadual do Livro em que
falo aos leitores exatamente isso: os meus livros são os seus livros. E são, de fato. Não
existe livro sem leitor. Não existe. É um objeto fantasma que não serve pra nada.
Aquele garoto de Moçambique não vê assim. Para ele, o livro é de quem traz o nome
estampado na capa, como se isso sinalizasse o direito de posse. Não tem ideia de como se
dá o processo todo, possivelmente nunca entrou numa livraria, nem sabe o que é tiragem.
Mas, em seu desengano, teve a gentileza de tentar colocar as coisas em seu devido
lugar, mesmo que para isso tenha roubado o livro de uma garota sem perceber.
Ela era a dona do livro. E deve ter ficado estupefata. Um fã do Mia Couto afanou seu
exemplar. Não levou o celular, a carteira, só quis o livro. Um danado de um amante da
literatura, deve ter pensado ela. Assim são as histórias escritas também pela vida,
interpretadas a seu modo por cada dono.
a) “Li outro dia um fato real narrado pelo escritor moçambicano Mia Couto.” (1°§)
b) “O garoto reconheceu Mia Couto pelas fotos que já havia visto em jornais.” (3°§)
c) “O livro é de quem lê mesmo quando foi retirado de uma biblioteca, [...]" (5°§)
Já tiveste dias de glória, cadeirinha de outros tempos! Pois bem: desaparece agora, vai
ao fogo e pede que te reduza a cinzas! E mil vezes preferível a essa decadência em que te
achas e até mesmo a hipótese mais lisonjeira de te perpetuarem num museu. Deves preferir
a paz do aniquilamento a glória de figurares numa coleção de objetos antigos, exposta a
curiosidade dos papalvos e as lorpas considerações dos burgueses, mofada e tristonha.
Morre, desaparece, que talvez para que não? — a tua dona mais gentil, aquela para quem
tuas alcatifas tinham mais delicada carícia ao receber-Ihe o corpinho mimosa, aquela que
recendia um perfume longínquo de roseira do Chiraz te conduza para alguma região ideal,
dourada e fugidia, inacessível aos homens...
ARINOS, Affonso. Pelo Sertão. Minas Gerais: Itatiaia, 1981. (Texto adaptado)
(A) Conativa.
(B) Referencial.
(C) Emotiva.
(D) Fática.
(E) Metalinguística.
a) “No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo, Ela não morava num sobrado
como eu, e sim numa casa.” (7º§)
b) “Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse por todo o seu corpo
grosso.” (9º§)
c) “Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai
dono de livraria.” (1°§)
d) “Não era mais uma menina com livro: era uma mulher com o seu amante.” (16º§)
e) “Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura
chinesa.” (4º§)
Minha amiga me pergunta: por que você fala sempre nas coisas que acontecem a
primeira vez e, sobretudo, as compara com a primeira vez que você viu o mar? Me lembro
dessa cena: um adolescente chegando ao Rio e o irmão lhe prevenindo: “Amanhã vou te
apresentar o mar.” Isto soava assim: amanhã vou te levar ao outro lado do mundo, amanhã
te ofereço a Lua. Amanhã você já não será o mesmo homem.
E a cena continuou: resguardado pelo irmão mais velho, que se assentou no banco do
calçadão, o adolescente, ousado e indefeso, caminha na areia para o primeiro encontro com
o mar. Ele não pisava na areia. Era um oásis a caminhar. Ele não estava mais em Minas,
mas andava num campo de tulipas na Holanda. O mar a primeira vez não é um rito que deixe
um homem impune. Algo nele vai-se aprofundar.
Não, não enchi a garrafinha de água salgada para. mostrar aos vizinhos tímidos retidos
nas montanhas, e fiz mal, porque muitos morreram sem jamais terem visto o mar que eu
lhes trazia. Mas levei as conchas, é verdade, que na mesa interior marulhavam lembranças
de um luminoso encontro de amor com o mar.
Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li uma crônica onde um leitor de Goiás
pedia à cronista que lhe explicasse, enfim, o que era o mar. Fiquei perplexo. Não sabia que
o mar fosse algo que se explicasse. Nem me lembro da descrição. Me lembro apenas da
pergunta. Evidentemente eu não estava pronto para a resposta. A resposta era o mar. E o
mar eu conheci, quando pela primeira vez aprendi que a vida não é a arte de responder, mas
a possibilidade de perguntar.
Os cariocas vão achar estranho, mas eu devo lhes revelar: o carioca, com esse modo
natural de ir à praia, desvaloriza o mar. Ele vai ao mar com a sem-cerimônia que o mineiro
vai ao quintal. E o mar é mais que horta e quintal. É quando atrás do verde-azul do instante
o desejo se alucina num cardume de flores no jardim. O mar é isso: é quando os vagalhões
da noite se arrebentam na aurora do sim.
Ver o mar a primeira vez, lhes digo, é quando Guimarães Rosa pela vez primeira, por
nós, viu o sertão. Ver o mar a primeira vez é quase abrir o primeiro consultório, fazer a
primeira operação. Ver o mar a primeira vez é comprar pela primeira vez uma casa nas
montanhas: que surpresas ondearão entre a lareira e a mesa de vinhos e queijos!
O mar é o mestre da primeira vez e não para de ondear suas lições. Nenhuma onda é
a mesma onda. Nenhum peixe o mesmo peixe. Nenhuma tarde a mesma tarde. O mar é um
morrer sucessivo e um viver permanente. Ele se desfolha em ondas e não para de brotar. A
contemplá-lo ao mesmo tempo sou jovem e envelheço.
O mar é recomeço.
(SANT' ANNA, Affonso Romano de. O mar, a primeira vez. In: Fizemos bem em resistir: crônicas
selecionadas. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p.50-52. Texto adaptado.)
b) “Me lembro dessa cena: um adolescente chegando ao Rio e o irmão lhe prevenindo:
'Amanhã vou te apresentar o mar.'” (1º§)
d) “Não, não enchi a garrafinha de água salgada para mostrar aos vizinhos tímidos retidos
nas montanhas, [...].” (4º§)
e) “Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li uma crônica onde um leitor de Goiás
pedia à cronista que lhe explicasse, enfim, o que era o mar.” (5º§)
O governo alemão reconheceu oficialmente nesta sexta-feira (28) ter cometido o crime
de genocídio na Namíbia nos anos 1904 e 1908. Pelo menos 70 mil pessoas morreram
nesses anos, parte do período de domínio colonial alemão sobre o país da África Austral.
Foi a primeira vez que o governo da Alemanha admitiu o crime. O reconhecimento não
tem nenhuma implicação jurídica internacional, mas é carregado de valor simbólico e veio
acompanhado de uma compensação financeira pelos danos causados no período.
A Alemanha fez um acordo com a Namíbia para investir pouco mais de 1 bilhão de
euros em programas de cooperação e desenvolvimento local pelos próximos 30 anos. A
chancelaria alemã remarcou que se trata de um gesto espontâneo, sem o caráter legal de
uma indenização, mas com o qual espera reparar em parte o sofrimento provocado.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e
esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu
olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
a) crônica.
b) conto.
c) novela.
d) fábula.
e) romance.
Lista 02 – Gabarito
1. D 8. E
2. C 9. A
3. C 10. A
4. B 11. D
5. D 12. D
6. C 13. A
7. A
1. (AFA/2020)
Em 1934, um redator de Nova York chamado Robert Pirosh largou o emprego bem remunerado
numa agência de publicidade e rumou para Hollywood, decidido a trabalhar como roteirista. Lá
chegando, anotou o nome e o endereço de todos os diretores, produtores e executivos que
conseguiu encontrar e enviou-lhes o que certamente é o pedido de emprego mais eficaz que
alguém já escreveu, pois resultou em três entrevistas, uma das quais lhe rendeu o cargo de
roteirista assistente na MGM.
Prezado senhor:
Gosto de palavras. 1Gosto de palavras gordas, untuosas, como lodo, torpitude, glutinoso,
bajulador. Gosto de palavras solenes, como pudico, ranzinza, pecunioso, valetudinário. 2Gosto
de palavras espúrias, enganosas, como mortiço, liquidar, tonsura, mundana. Gosto de suaves
palavras com “V”, como Svengali, avesso, bravura, verve. Gosto de palavras crocantes,
quebradiças, crepitantes, como estilha, croque, esbarrão, crosta. 3Gosto de palavras
emburradas, carrancudas, amuadas, como furtivo, macambúzio, escabioso, sovina. 4Gosto de
palavras chocantes, exclamativas, enfáticas, como astuto, estafante, requintado, horrendo.
Gosto de palavras elegantes, rebuscadas, como estival, peregrinação, Elísio, Alcíone. Gosto
de palavras vermiformes, contorcidas, farinhentas, como rastejar, choramingar, guinchar,
gotejar. Gosto de palavras escorregadias, risonhas, como topete, borbulhão, arroto.
Gosto mais da palavra roteirista que da palavra redator, e por isso resolvi largar meu
emprego numa agência de publicidade de Nova York e tentar a sorte em Hollywood, mas, antes
de dar o grande salto, fui para a Europa, onde passei um ano estudando, contemplando e
perambulando.
Robert Pirosh
Quarto 610
Nova York
Eldorado 5-6024.
(USHER, Shaun .(Org) Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis. Trad. de
Comentários:
A alternativa B está incorreta, pois o uso do discurso direto não é responsável por
produzir proximidade. Dado que o autor fala sobre si próprio, numa comunicação direta com
seu interlocutor, o discurso direto poderia ser utilizado mesmo em uma comunicação mais
formal. O estilo de interlocução é própria do gênero textual carta.
A alternativa C está incorreta, pois a conotação predomina no texto, ao caracterizar as
palavras com expressões fora de seus contextos originais e denotativos (palavras crocantes,
quebradiças, crepitantes, por exemplo).
Gabarito: D
2. (AFA/2020)
Trecho da peça teatral A raposa e as uvas, escrita por Guilherme de Figueiredo. A cena ocorre
na cidade de Samos (Grécia antiga), na casa de Xantós, um filósofo grego, que recebe o
convidado Agnostos, um capitão ateniense. O jantar é servido por Esopo e Melita, escravos de
Xantós.
(Entra Esopo, com um prato que coloca sobre a mesa. Está coberto com um pano. Xantós e
Agnostos se dirigem para a mesa, o primeiro faz ao segundo um sinal para sentarem-se.)
XANTÓS (Descobrindo o prato) – Ah, língua! (Começa a comer com as mãos, e faz um sinal
para que Melita sirva Agnostos. Este também começa a comer vorazmente, dando grunhidos
de satisfação.) Fizeste bem em trazer língua, Esopo. É realmente uma das melhores coisas do
mundo. (Sinal para que sirvam o vinho. Esopo serve, Xantós bebe.) Vês, estrangeiro, de
qualquer modo é bom possuir riquezas. Não gostas de saborear esta língua e este vinho?
XANTÓS – Outro prato, Esopo. (Esopo sai à esquerda e volta imediatamente com outro prato
coberto. Serve, Xantós de boca cheia.) Que é isto? Ah, língua de fumeiro! É bom língua de
fumeiro, hein, amigo?
AGNOSTOS – Hum. (Xantós serve-se de vinho) /.../ XANTÓS (A Esopo) Serve outro prato.
(Serve) Que trazes aí?
ESOPO – Língua.
XANTÓS – Mais língua? Não te disse que trouxesse o que há de melhor para meu hóspede?
ESOPO – Que há de melhor do que a língua? A língua é o que nos une todos, quando falamos.
Sem a língua nada poderíamos dizer. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e
da razão. Graças à língua dizemos o nosso amor. Com a língua se ensina, se persuade, se
instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se mostra, se afirma. É com a
língua que dizemos sim. É a língua que ordena os exércitos à vitória, é a língua que desdobra
os versos de Homero. A língua cria o mundo de Ésquilo, a palavra de Demóstenes. Toda a
Grécia, Xantós, das colunas do Partenon às estátuas de Pidias, dos deuses do Olimpo à glória
sobre Tróia, da ode do poeta ao ensinamento do filósofo, toda a Grécia foi feita com a língua,
a língua de belos gregos claros falando para a eternidade.
mercado, e traze-nos o que houver de pior, pois quero ver a sua sabedoria! (Esopo retira-se à
frente com o saco, Xantós fala a Agnostos.) Então, não é útil e bom possuir um escravo assim?
AGNOSTOS (A boca cheia) – Hum. /.../ (Entra Esopo com prato coberto)
XANTÓS – Agora que já sabemos o que há de melhor na terra, vejamos o que há de pior na
opinião deste 1horrendo escravo! Língua, ainda? Mais língua? Não disseste que língua era o
que havia de melhor? Queres ser espancado?
ESOPO – A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início
de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que usam os maus poetas
que nos fatigam na praça, é a língua que usam os filósofos que não sabem pensar. É a língua
que mente, que esconde, que tergiversa, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que se
mendiga, que impreca, que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que seduz, é com a
língua que dizemos morre e canalha e corja. É com a língua que dizemos não. Com a língua
Aquiles mostrou sua cólera, com a língua a Grécia vai tumultuar os 2pobres cérebros humanos
para toda a eternidade! Aí está, Xantós, porque a língua é a pior de todas as coisas!
(FIGUEIREDO, Guilherme. A raposa e as uvas – peça em 3 atos. Cópia digitalizada pelo GETEB – Grupo
de Estudos e Pesquisa em Teatro Brasileiro/UFSJ. Disponível para fins didáticos em
www.teatroparatodosufsj.com.br/ download/guilherme-figueiredo-araposa-e-as-uvas-2/ Acesso em
13/03/2019.)
Javier Villafañe busca em vão a palavra que deixou escapar bem quando ia pronunciá-
la. Onde terá ido essa palavra, que ele tinha na ponta da língua?
Haverá algum lugar onde se juntam todas as palavras que não quiseram ficar? Um reino
das palavras perdidas? As palavras que você deixou escapar, onde estarão à sua espera?
b) se assemelha ao texto do redator de Nova York, pois ambos são do gênero carta.
c) nele o escritor se refere às palavras que escaparam antes de serem pronunciadas; elas
estariam, talvez, em um “Reino das palavras perdidas”.
d) a expressão “na ponta da língua” equivale à expressão do trecho da peça teatral A raposa
e as uvas “é fonte de todas as intrigas”.
Comentários:
A alternativa B está incorreta, pois o texto de Eduardo Galeano não possui a estrutura
de uma carta, como destinatário, saudação e assinatura.
A alternativa C está correta, pois o foco do texto é questionar qual o destino (Haverá
algum lugar onde se juntam todas as palavras que não quiseram ficar?) das palavras nunca
pronunciadas (essa palavra, que ele tinha na ponta da língua?).
à língua, indicando que os conflitos se iniciam pela fala. Assim, as frases não são equivalentes.
Gabarito: C
3. (AFA/2019)
Vilma
Homero
Ao olhar para o passado, costumamos imaginar que estamos nos afastando dos tempos
da "barbárie pura e simples" para alcançar uma almejada "civilização", calcada sobre 1relações
livres, iguais e fraternas, típicas do homem culto. 2Um olhar sobre a história, no entanto, põe
em xeque esta visão utópica. 3Organizado pelos historiadores Regina Bustamante e José
Francisco de Moura, 4o livro Violência na História, publicado pela Mauad Editora com apoio da
FAPERJ, reúne diversos ensaios que mostram, ao longo do tempo, diferentes aspectos da
violência, propondo uma reflexão mais demorada sobre o tema. 5Nos ensaios reunidos no livro,
religioso. Despido de sua humanidade, o réu era declarado 10homo sacer. 11Ou seja, sua vida
passava a ser consagrada aos deuses. 12Segundo a pesquisadora Norma Mendes, "havia o
firme propósito de fazer da morte dos condenados 13um espetáculo de caráter exemplar,
revestido de sentido religioso e de dominação, cuja função era o reforço, manutenção e
ratificação das relações de poder." (...) 14O historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva é um
dos que traz a discussão para o presente, analisando as transformações políticas do último
século. 15"Desde Voltaire até Kant e Hegel, 16acreditava-se no contínuo aperfeiçoamento da
condição humana como uma marcha inexorável em direção à razão. (...) O Holocausto,
perpetrado em um dos países mais avançados e cultos à época, 17deixou claro que a luta pela
dignidade humana é um esforço contínuo e, pior de tudo, lento. (...) 18E, sobretudo, mais de 50
anos depois da II Guerra Mundial, a 19ocorrência de outros genocídios – Ruanda, Iugoslávia,
Camboja etc. – leva a refletir sobre a convivência entre os homens nesse começo do século
XXI." O historiador prossegue: " 20De forma paradoxal, a globalização, conforme se aprofunda
e pluga os homens a escalas planetárias, 21é fortemente acompanhada pelo localismo e o
particularismo religioso, étnico ou cultural, promovendo ódios e incompreensões crescentes.
Na Bósnia ou em Kosovo, na Faixa de Gaza ou na Irlanda do Norte, a capacidade de
22
entendimento 23chegou a seu mais baixo nível de tolerância, e transpor uma linha, imaginária
ou não, entre bairros pode representar a morte." 24Como nem tudo se limita às questões
políticas e às guerras, o livro ainda analisa as formas que a violência assume nas relações de
gênero, na religião, na cultura e aborda também a questão dos direitos humanos, vista sob a
perspectiva de diferentes sistemas culturais.
b) “Um olhar sobre a história, no entanto, põe em xeque esta visão utópica.” (ref. 2)
c) “(...) Na Roma antiga, as penas, aplicadas após julgamento, ganhavam um sentido religioso.”
(ref. 9)
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a palavra plugar é utilizada fora do sentido literal (ligar
um aparelho à tomada), significando unir homens.
A alternativa B está incorreta, pois a palavra olhar é utilizada fora do sentido literal
(observar dirigindo os olhos a algo), significando analisar.
A alternativa C está correta, pois a palavra penas é utilizada com seu sentido denotativo,
com significado de penalidade.
A alternativa D está incorreta, pois a palavra marcha é utilizada fora do sentido literal
(modo de andadura de uma pessoa ou animal), significando destino, futuro traçado.
Gabarito: C
4. (EFOMM/2018)
Rubem Alves
Era uma família grande, todos amigos. Viviam como todos nós: moscas presas na
enorme teia de aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha lhes arrancava um
pedaço. Ficaram cansados. Resolveram mudar de vida: um sonho louco: navegar! Um barco,
o mar, o céu, as estrelas, os horizontes sem fim: liberdade. Venderam o que tinham, compraram
um barco capaz de atravessar mares e sobreviver tempestades.
Mas para navegar não basta sonhar. É preciso saber. São muitos os saberes necessários para
se navegar. Puseram-se então a estudar cada um aquilo que teria de fazer no barco: manutenção
do casco, instrumentos de navegação, astronomia, meteorologia, as velas, as cordas, as polias
e roldanas, os mastros, o leme, os parafusos, o motor, o radar, o rádio, as ligações elétricas, os
mares, os mapas... Disse certo o poeta: Navegar é preciso, a ciência da navegação é saber
preciso, exige aparelhos, números e medições. Barcos se fazem com precisão, astronomia se
aprende com o rigor da geometria, velas se fazem com saberes exatos sobre tecidos, cordas e
ventos, instrumentos de navegação não informam mais ou menos.
Assim, eles se tomaram cientistas, especialistas, cada um na sua - juntos para navegar.
Naus e navegação têm sido uma das mais poderosas imagens na mente dos poetas.
Ezra Pound inicia seus Cânticos dizendo: E pois com a nau no mAR/assestamos a quilha contra
as vagas... Cecília Meireles: Foi, desde sempre, o mar! A solidez da terra, monótona/parece-
nos fraca ilusão! Queremos a ilusão do grande mar/ multiplicada em suas malhas de perigo. E
Nietzsche: Amareis a terra de vossos filhos, terra não descoberta, no mar mais distante. Que
as vossas velas não se cansem de procurar esta terra! O nosso leme nos conduz para a terra
dos nossos filhos... Viver é navegar no grande mar! Não só os poetas: C. Wright Mills, um
sociólogo sábio, comparou a nossa civilização a uma galera que navega pelos mares. Nos
porões estão os remadores. Remam com precisão cada vez maior. A cada novo dia recebem
remos novos, mais perfeitos. O ritmo das remadas acelera. Sabem tudo sobre a ciência do
remar. A galera navega cada vez mais rápido. Mas, perguntados sobre o porto do destino,
respondem os remadores: O porto não nos importa. O que importa é a velocidade com que
navegamos.
C. Wright Mills usou esta metáfora para descrever a nossa civilização por meio duma
imagem plástica: multiplicam-se os meios técnicos e científicos ao nosso dispor, que fazem
com que as mudanças sejam cada vez mais rápidas; mas não temos ideia alguma de para
onde navegamos. Para onde? Somente um navegador louco ou perdido navegaria sem ter
ideia do para onde. Em relação à vida da sociedade, ela contém a busca de uma utopia. Utopia,
na linguagem comum, é usada como sonho impossível de ser realizado. Mas não é isso. Utopia
é um ponto inatingível que indica uma direção.
Mário Quintana explicou a utopia com um verso: Se as coisas são inatingíveis... ora!/Não
é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora/ A mágica presença das
estrelas! Karl Mannheim, outro sociólogo sábio que poucos leem, já na década de 1920
diagnosticava a doença da nossa civilização: Não temos consciência de direções, não
escolhemos direções. Faltam-nos estrelas que nos indiquem o destino.
Hoje, ele dizia, as únicas perguntas que são feitas, determinadas pelo pragmatismo da
tecnologia (o importante é produzir o objeto) e pelo objetivismo da ciência (o importante é saber
como funciona), são: Como posso fazer tal coisa? Como posso resolver este problema concreto
particular? E conclui: E em todas essas perguntas sentimos o eco otimista: não preciso de me
preocupar com o todo, ele tomará conta de si mesmo.
Em nossas escolas é isso que se ensina: a precisa ciência da navegação, sem que os
estudantes sejam levados a sonhar com as estrelas. A nau navega veloz e sem rumo. Nas
universidades, essa doença assume a forma de peste epidêmica: cada especialista se dedica,
com paixão e competência, a fazer pesquisas sobre o seu parafuso, sua polia, sua vela, seu
mastro.
E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, por conhecerem
mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. Não posso pensar a missão das escolas,
começando com as crianças e continuando com os cientistas, como outra que não a da
realização do dito do poeta: Navegar é preciso. Viver não é preciso.
O meu sonho para a educação foi dito por Bachelard: O universo tem um destino de
felicidade. O homem deve reencontrar o Paraíso. O paraíso é jardim, lugar de felicidade,
prazeres e alegrias para os homens e mulheres. Mas há um pesadelo que me atormenta: o
deserto. Houve um momento em que se viu, por entre as estrelas, um brilho chamado
progresso. Está na bandeira nacional... E, quilha contra as vagas, a galera navega em direção
ao progresso, a uma velocidade cada vez maior, e ninguém questiona a direção. E é assim que
as florestas são destruídas, os rios se transformam em esgotos de fezes e veneno, o ar se
enche de gases, os campos se cobrem de lixo - e tudo ficou feio e triste.
Sugiro aos educadores que pensem menos nas tecnologias do ensino - psicologias e
quinquilharias - e tratem de sonhar, com os seus alunos, sonhos de um Paraíso.
Assinale a alternativa em que fragmento do texto que, quanto ao tipo textual, pode se classificar
como descritivo.
a) Ficaram cansados. Resolveram mudar de vida: um sonho louco: navegar! Um barco, o mar,
o céu, as estrelas, os horizontes sem fim: liberdade. Venderam o que tinham, compraram um
barco capaz de atravessar mares e sobreviver (...)
b) Era uma família grande, todos amigos. Viviam como todos nós: moscas presas na enorme
teia de aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha lhes arrancava um pedaço.
c) Mas para navegar não basta sonhar. É preciso saber. São muitos os saberes necessários
(...)
e)Na verdade, a ordem verdadeira é a inversa. Primeiro, os homens sonham com navegar.
Depois aprendem a ciência da navegação. É inútil ensinar a ciência da navegação a quem
mora nas montanhas...
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois aqui se vê uma sucessão de ações, o que caracteriza
um texto narrativo.
A alternativa B está correta, pois nesse caso há uma descrição metafórica da família e
sua relação com a cidade, em que a família é entendida como moscas e a cidade uma aranha
que a ataca.
A alternativa C está incorreta, pois esse trecho faz uma elucubração filosófica, não uma
descrição.
A alternativa D está incorreta, pois esse trecho é levemente dissertativo, trazendo uma
opinião embasada.
A alternativa E está incorreta, pois esse trecho faz uma elucubração filosófica, não uma
descrição.
Comentários: B
5. (AFA/2017)
RETRATO
MEIRELES, Cecília. Obra Poética de Cecília Meireles. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1958.
ENVELHECER
Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer
Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer
Não quero morrer pois quero ver como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver para ver qual é e dizer venha pra o que vai acontecer
(...)
Pois ser eternamente adolescente nada é mais *démodé com os ralos fios de cabelo sobre a
[testa que não para de crescer
Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender
Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr. (...)
www.arnaldoantunes.com.br/new/sec_discografia_sel.php?id=679
Art. 2 – O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e
seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e
dignidade.
Art. 4 – Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência,
crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou por omissão, será punido
na forma da lei.
www.planalto.gov.br/ccvil_03/leis/2003/L10.741.htm
LEITE DERRAMADO
“Um homem muito velho está num leito de hospital. E desfia a quem quiser ouvir suas
memórias. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como
pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos.”
Não sei por que você não me alivia a dor. Todo dia a senhora levanta a persiana com bruteza
e joga sol no meu rosto. Não sei que graça pode achar dos meus esgares, é uma pontada cada
vez que respiro. Às vezes aspiro fundo e encho os pulmões de um ar insuportável, para ter
alguns segundos de conforto, expelindo a dor. Mas bem antes da doença e da velhice, talvez
minha vida já fosse um pouco assim, uma dorzinha chata a me espetar o tempo todo, e de
repente uma lambada atroz. Quando perdi minha mulher, foi atroz. E qualquer coisa que eu
recorde agora, vai doer, a memória é uma vasta ferida. Mas nem assim você me dá os
remédios, você é meio desumana. Acho que nem é da enfermagem, nunca vi essa cara sua
por aqui. Claro, você é a minha filha que estava na contraluz, me dê um beijo. Eu ia mesmo lhe
telefonar para me fazer companhia, me ler jornais, romances russos. Fica essa televisão ligada
o dia inteiro, as pessoas aqui não são sociáveis. Não estou me queixando de nada, seria uma
ingratidão com você e com o seu filho. Mas se o garotão está tão rico, não sei por que diabos
não me interna em uma casa de saúde tradicional, de religiosas. Eu próprio poderia arcar com
viagem e tratamento no estrangeiro, se o seu marido não me tivesse arruinado.
BUARQUE, Chico. Leite derramado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 10-11.
Comentários:
A alternativa B está incorreta, pois o texto Envelhecer faz parte de uma composição
musical, na qual o foco textual está na discussão sobre sentimentos e pensamentos do eu-
lírico. Com isso, a função predominante é a Poética.
A alternativa C está incorreta, pois o texto, escrito em formato de prosa, é marcado pela
visão e pensamento do narrador, de modo que o texto vai além da passagem de informação
ou descrição de cenários, tornando-se reflexivo. Além disso, percebe-se uma cadência implícita
na prosa, marcada pelas frases curtas e excesso de pontuação. Com isso, o predomínio é da
função Poética.
A alternativa D está correta, pois o poema Retrato apresenta eu-lírico, assim como a
exposição de sentimentos e reflexões, havendo ênfase na mensagem de forma lírica, o que
caracteriza a função Poética.
Gabarito: D
6. (AFA/2016)
FAVELÁRIO NACIONAL
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
Nos versos: “Mas, favela, ciao, / que este nosso papo / está ficando tão desagradável / vês que
perdi o tom e a empáfia do começo?”, verifica-se a presença das funções de linguagem
a) apelativa e referencial.
b) poética e referencial.
c) metalinguística e apelativa.
d) fática e emotiva.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois não há uso da função apelativa, dado que não há
intenção de convencer o leitor, nem da função referencial, pois o eu-lírico não passa
informações ou dados reais ao leitor.
A alternativa B está incorreta, pois, embora seja possível identificar o uso da função
poética, pela estrutura em versos e pela presença do eu-lírico, não há função referencial.
A alternativa C está incorreta, pois não há função metalinguística, dado que o foco do
texto não é a linguagem em si, nem há uso da função apelativa.
Gabarito: C
7. (AFA/2012
) Texto I
O silêncio incomoda
Não suporto mais ver 25tantas tragédias, crimes, violências, falcatruas e tantas
politicagens para a realização da Copa de 2014.
Na partida entre Escócia e Brasil, um repórter da TV Globo deu a 6“grande notícia”, 21que
Neymar foi o primeiro jogador brasileiro a marcar dois gols contra a Escócia em uma mesma
partida.
22Parece haver uma disputa para saber 19quem dá mais informações e estatísticas, e
outra, entre os narradores, 3para saber quem grita gol mais 23alto e 24prolongado. 11Se dizem
16que a imagem vale mais que mil palavras, por que se fala e se grita tanto?
Outra discussão 27chata, durante e após as partidas, é 8se um jogador teve a intenção
21
de colocar a mão na bola e de fazer pênalti, e se outro teve a intenção de atingir o adversário.
Com raríssimas exceções, 4ninguém é louco para fazer pênalti nem tão canalha para querer
quebrar o outro jogador.
7O que ocorre, com frequência, é 5o jogador, no impulso, sem pensar, soltar o braço na
cara do outro. O impulso está à frente da consciência. Não sou também tão ingênuo para achar
17que todas as faltas violentas são involuntárias.
Não dá para o árbitro saber 12se a falta foi intencional ou não. Ele precisa julgar o fato, e
não a intenção. Eles precisam ter também bom senso, o que é raro no ser humano, para saber
a gravidade das faltas. 29Muitas parecem 28iguais, mas não são. Ter critério não é unificar as
diferenças.
Texto II
O ídolo
Em um belo dia, a deusa dos ventos beija o pé do homem, o maltratado, desprezado pé,
e, desse beijo, nasce o ídolo do futebol. 7Nasce em berço de palha e barraco de lata e vem ao
mundo abraçado a uma bola.
1Desde que aprende a andar, sabe jogar. Quando criança, alegra os descampados e os
baldios, joga e joga e joga nos ermos dos subúrbios até que a noite cai e ninguém mais
consegue ver a bola, e, quando jovem, voa e faz voar nos estádios. Suas artes de malabarista
convocam multidões, domingo após domingo, de vitória em vitória, de ovação em ovação.
4A bola 13o procura, 14o reconhece, precisa dele. No peito de 18seu pé, ela descansa e se
embala. 6Ele 19lhe dá brilho e 20a faz falar, e neste diálogo entre os dois, milhões de mudos
conversam. 11Os Zé Ninguém, os condenados a serem para sempre ninguém, podem sentir-se
alguém por um momento, por obra e graça desses passes devolvidos num toque, 16essas fintas
que desenham os zês na grama, 17esses golaços de calcanhar ou de bicicleta: quando ele joga
o time tem doze jogadores.
A bola ri, radiante, no ar. Ele a amortece, a adormece, diz galanteios, dança com ela,
10
e vendo essas coisas nunca vistas, seus adoradores sentem piedade por seus netos ainda não
nascidos, que não estão vendo 15o que acontece.
22Mas o ídolo é ídolo apenas por um momento, humana eternidade, coisa de nada; e
quando chega a hora do azar para o pé de ouro, a estrela conclui sua viagem do resplendor à
escuridão. 3Esse corpo está com mais remendos que roupa de palhaço, o acrobata virou
paralítico, o artista é uma besta:
— Múmia!
Às vezes, o ídolo não cai inteiro. 5E, às vezes, 2quando 9se quebra, a multidão 21o devora
aos pedaços.
a) a função poética está presente no texto II, através do uso de linguagem figurada.
d) o fato de Tostão ser um ex-jogador de futebol e estar falando sobre esse esporte – texto I
– caracteriza uma metalinguagem.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois há uso recorrente de figuras de linguagem no texto II,
sendo predominante metáforas (a deusa dos ventos beija o pé do homem) e prosopopeias (A
bola ri, radiante, no ar), e a linguagem figurada caracteriza presença da função poética.
Gabarito: A
8. (Escola Naval/2017)
O dono do livro
Li outro dia um fato real narrado pelo escritor moçambicano Mia Couto. Ele disse que
certa vez chegou em casa no fim do dia, já havia anoitecido, quando um garoto humilde de 16
anos o esperava sentado no muro. O garoto estava com um dos braços para trás, o que
perturbou o escritor, que imaginou que pudesse ser assaltado.
Mas logo o menino mostrou o que tinha em mãos: um livro do próprio Mia Couto. Esse livro é
seu? perguntou o menino. Sim, respondeu o escritor. Vim devolver. O garoto explicou que
horas antes estava na rua quando viu uma moça com aquele livro nas mãos, cuja capa trazia
a foto do autor.
O garoto reconheceu Mia Couto pelas fotos que já havia visto em jornais. Então
perguntou para a moça: Esse livro é do Mia Couto? Ela respondeu: E. E o garoto mais que
ligeiro tirou o livro das mãos dela e correu para a casa do escritor para fazer a boa ação de
devolver a obra ao verdadeiro dono.
Uma história assim pode acontecer em qualquer país habitado por pessoas que ainda
não estejam familiarizadas com os livros - aqui no Brasil, inclusive. De quem é o livro? A
resposta não é a mesma de quando se pergunta: “Quem escreveu o livro?”.
O autor é quem escreve, mas o livro é de quem lê, e isso de uma forma muito mais
abrangente do que o conceito de propriedade privada - comprei, é meu. O livro é de quem lê
mesmo quando foi retirado de uma biblioteca, mesmo que seja emprestado, mesmo que tenha
sido encontrado num banco de praça.
O livro é de quem tem acesso às suas páginas e através delas consegue imaginar os
personagens, os cenários, a voz e o jeito com que se movimentam. São do leitor as sensações
provocadas, a tristeza, a euforia, o medo, o espanto, tudo o que é transmitido pelo autor, mas
que reflete em quem lê de uma forma muito pessoal. É do leitor o prazer. É do leitor a
identificação. É do leitor o aprendizado. É do leitor o livro.
Dias atrás gravei um comercial de rádio em prol do Instituto Estadual do Livro em que
falo aos leitores exatamente isso: os meus livros são os seus livros. E são, de fato. Não existe
livro sem leitor. Não existe. É um objeto fantasma que não serve pra nada.
Aquele garoto de Moçambique não vê assim. Para ele, o livro é de quem traz o nome
estampado na capa, como se isso sinalizasse o direito de posse. Não tem ideia de como se
dá o processo todo, possivelmente nunca entrou numa livraria, nem sabe o que é tiragem.
Mas, em seu desengano, teve a gentileza de tentar colocar as coisas em seu devido
lugar, mesmo que para isso tenha roubado o livro de uma garota sem perceber.
Ela era a dona do livro. E deve ter ficado estupefata. Um fã do Mia Couto afanou seu
exemplar. Não levou o celular, a carteira, só quis o livro. Um danado de um amante da
literatura, deve ter pensado ela. Assim são as histórias escritas também pela vida,
interpretadas a seu modo por cada dono.
a) “Li outro dia um fato real narrado pelo escritor moçambicano Mia Couto.” (1°§)
b) “O garoto reconheceu Mia Couto pelas fotos que já havia visto em jornais.” (3°§)
c) “O livro é de quem lê mesmo quando foi retirado de uma biblioteca, [...]" (5°§)
Comentários:
A alternativa E está correta, porque, ao afirmar que há “histórias escritas também pela
vida”, o autor constrói uma figura de linguagem que apresenta, de forma figurada, a relação
entre a vida e o personagem. Dessa forma, quando usamos figuras de linguagem que
modificam significações, temos uma construção de linguagem conotativa.
Gabarito: E
Já tiveste dias de glória, cadeirinha de outros tempos! Pois bem: desaparece agora, vai
ao fogo e pede que te reduza a cinzas! E mil vezes preferível a essa decadência em que te
achas e até mesmo a hipótese mais lisonjeira de te perpetuarem num museu. Deves preferir
a paz do aniquilamento a glória de figurares numa coleção de objetos antigos, exposta a
curiosidade dos papalvos e as lorpas considerações dos burgueses, mofada e tristonha.
Morre, desaparece, que talvez para que não? — a tua dona mais gentil, aquela para quem
tuas alcatifas tinham mais delicada carícia ao receber-Ihe o corpinho mimosa, aquela que
recendia um perfume longínquo de roseira do Chiraz te conduza para alguma região ideal,
dourada e fugidia, inacessível aos homens...
ARINOS, Affonso. Pelo Sertão. Minas Gerais: Itatiaia, 1981. (Texto adaptado)
(A) Conativa.
(B) Referencial.
(C) Emotiva.
(D) Fática.
(E) Metalinguística.
Comentários:
A alternativa C está incorreta, porque, nesse caso, o autor não apresenta seus
sentimentos, chamando atenção para si, o emissor da mensagem. O que temos é, como visto
em A, tentativa de convencimento do receptor da mensagem.
A alternativa D está incorreta, porque, como o autor não tem a intenção, nesse
parágrafo, de testar o canal de comunicação, não temos função fática da linguagem. O que
temos, como visto em A, é função conativa da linguagem.
A alternativa E está incorreta, porque, como o autor não usa a linguagem para explicar
a própria linguagem, não temos função metalinguística. O que temos, como visto em A, é
função conativa da linguagem.
Gabarito: A
a) “No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo, Ela não morava num sobrado como
eu, e sim numa casa.” (7º§)
b) “Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse por todo o seu corpo
grosso.” (9º§)
c) “Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono
de livraria.” (1°§)
d) “Não era mais uma menina com livro: era uma mulher com o seu amante.” (16º§)
e) “Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa.”
(4º§)
Comentários:
A alternativa A está correta, porque a autora afirma que foi correndo de forma literal, ou
seja, ela realmente correu até a casa da menina. No caso, temos somente linguagem
denotativa nessa construção.
Gabarito: A
Minha amiga me pergunta: por que você fala sempre nas coisas que acontecem a
primeira vez e, sobretudo, as compara com a primeira vez que você viu o mar? Me lembro
dessa cena: um adolescente chegando ao Rio e o irmão lhe prevenindo: “Amanhã vou te
apresentar o mar.” Isto soava assim: amanhã vou te levar ao outro lado do mundo, amanhã te
ofereço a Lua. Amanhã você já não será o mesmo homem.
E a cena continuou: resguardado pelo irmão mais velho, que se assentou no banco do
calçadão, o adolescente, ousado e indefeso, caminha na areia para o primeiro encontro com
o mar. Ele não pisava na areia. Era um oásis a caminhar. Ele não estava mais em Minas, mas
andava num campo de tulipas na Holanda. O mar a primeira vez não é um rito que deixe um
homem impune. Algo nele vai-se aprofundar.
E o irmão lá atrás, respeitoso, era a sentinela, o sacerdote que deixa o iniciante no limiar
do sagrado, sabendo que dali para a frente o outro terá que, sozinho, enfrentar o dragão. E o
dragão lá vinha soltando pelas narinas as ondas verdes de verão. E o pequeno cavaleiro,
destemido e intimidado, tomou de uma espada ou pedaço de pau qualquer para enfrentar a
hidra que ondeava mil cabeças, e convertendo a arma em caneta ou lápis começou a escrever
na areia um texto que não terminará jamais. Que é assim o ato de escrever: mais que um
modo de se postar diante do mar, é uma forma de domar as vagas do presente convertendo-
o num cristal passado.
Não, não enchi a garrafinha de água salgada para. mostrar aos vizinhos tímidos retidos
nas montanhas, e fiz mal, porque muitos morreram sem jamais terem visto o mar que eu lhes
trazia. Mas levei as conchas, é verdade, que na mesa interior marulhavam lembranças de um
luminoso encontro de amor com o mar.
Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li uma crônica onde um leitor de Goiás
pedia à cronista que lhe explicasse, enfim, o que era o mar. Fiquei perplexo. Não sabia que o
mar fosse algo que se explicasse. Nem me lembro da descrição. Me lembro apenas da
pergunta. Evidentemente eu não estava pronto para a resposta. A resposta era o mar. E o mar
eu conheci, quando pela primeira vez aprendi que a vida não é a arte de responder, mas a
possibilidade de perguntar.
Os cariocas vão achar estranho, mas eu devo lhes revelar: o carioca, com esse modo
natural de ir à praia, desvaloriza o mar. Ele val ao mar com a sem-cerimônia que o mineiro vai
ao quintal. E o mar é mais que horta e quintal. É quando atrás do verde-azul do instante o
desejo se alucina num cardume de flores no jardim. O mar é isso: é quando os vagalhões da
noite se arrebentam na aurora do sim.
Ver o mar a primeira vez, lhes digo, é quando Guimarães Rosa pela vez primeira, por
nós, viu o sertão. Ver o mar a primeira vez é quase abrir o primeiro consultório, fazer a primeira
operação. Ver o mar a primeira vez é comprar pela primeira vez uma casa nas montanhas:
que surpresas ondearão entre a lareira e a mesa de vinhos e queijos!
O mar é o mestre da primeira vez e não para de ondear suas lições. Nenhuma onda é a
mesma onda. Nenhum peixe o mesmo peixe. Nenhuma tarde a mesma tarde. O mar é um
morrer sucessivo e um viver permanente. Ele se desfolha em ondas e não para de brotar. A
contemplá-lo ao mesmo tempo sou jovem e envelheço.
O mar é recomeço.
(SANT' ANNA, Affonso Romano de. O mar, a primeira vez. In: Fizemos bem em
resistir: crônicas selecionadas.
a) “Minha amiga me pergunta: por que você fala sempre nas coisas que acontecem a
primeira vez [...]?” (1º§)
b) “Me lembro dessa cena: um adolescente chegando ao Rio e o irmão lhe prevenindo:
'Amanhã vou te apresentar o mar.'” (1º§)
c) “E o irmão lá atrás, respeitoso, era a sentinela, o sacerdote que deixa o iniciante no limiar
do sagrado, [...].” (3º§)
d) “Não, não enchi a garrafinha de água salgada para mostrar aos vizinhos tímidos retidos
nas montanhas, [...].” (4º§)
e) “Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li uma crônica onde um leitor de Goiás
pedia à cronista que lhe explicasse, enfim, o que era o mar.” (5º§)
Comentários:
Gabarito: D
O governo alemão reconheceu oficialmente nesta sexta-feira (28) ter cometido o crime
de genocídio na Namíbia nos anos 1904 e 1908. Pelo menos 70 mil pessoas morreram nesses
anos, parte do período de domínio colonial alemão sobre o país da África Austral.
Foi a primeira vez que o governo da Alemanha admitiu o crime. O reconhecimento não
tem nenhuma implicação jurídica internacional, mas é carregado de valor simbólico e veio
acompanhado de uma compensação financeira pelos danos causados no período.
A Alemanha fez um acordo com a Namíbia para investir pouco mais de 1 bilhão de
euros em programas de cooperação e desenvolvimento local pelos próximos 30 anos. A
chancelaria alemã remarcou que se trata de um gesto espontâneo, sem o caráter legal de uma
indenização, mas com o qual espera reparar em parte o sofrimento provocado.
Comentários:
Gabarito: D
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e
esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu
olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
a) crônica.
b) conto.
c) novela.
d) fábula.
e) romance.
Comentários:
A alternativa A está correta, porque a crônica é marcada claramente pelo uso de uma
temática mais cotidiana, do dia a dia (e muitas vezes inesperada), desenvolvida com uma
linguagem mais leve, que beira ao bom-humor. Dessa forma, percebe-se que a leveza do texto
e do tema encontrado no texto de Rubem Braga nos leva à classificação do texto como uma
crônica.
A alternativa C está incorreta, porque a novela é uma narrativa mais longa do que um
conto e mais curta do que um romance. É marcada pela existência de múltiplos personagens
e de mais de um núcleo da história. Na realidade, o que temos é a construção de uma crônica,
marcada pela temática mais corriqueira e a linguagem mais leve.
Gabarito: A
3. (ITA/2013) adaptada
Escravos da tecnologia
1Não, não vou falar das fábricas que atraem trabalhadores honestos e os tratam de
forma desumana. Cada vez que um produto informa orgulhoso que foi desenhado na
Califórnia e fabricado na China, sinto um arrepio na espinha. Conheço e amo essas duas
partes do mundo. Também conheço a capacidade de a tecnologia eliminar empregos.
Parece o sonho de todo patrão: muita margem de lucro e poucos empregados. Se possível,
nenhum! Tudo terceiro!
2 Conheço ainda como a tecnologia é capaz de criar empregos. Vivo há 15 anos num
meio que disputa engenheiros e técnicos a tapa, digo, a dólares. O que acontece aí no
Brasil, nessa área, acontece igualzinho no Vale do Silício: empresas tentando arrancar
talentos umas das outras. Aqui, muitos decidem tentar a sorte abrindo sua própria start-up*,
em vez de encher o bolso do patrão. Estou rodeada também de investidores querendo fazer
apostas para... voltar a encher os bolsos ainda mais.
3Mas queria falar hoje de outro tipo de escravidão tecnológica. Não dos que dormiram
na rua sob chuva para comprar o novo iPhone 4S... Quero reclamar de quanto nós estamos
tendo de trabalhar de graça para os sistemas, cada vez que tentamos nos mover na
Internet. Isso é escravidão – e odeio isso.
4 Outro dia, fiz aniversário e fui reservar uma mesa num restaurante bacana da cidade.
Achei o site do restaurante, lindo, e pareceu fácil de reservar on-line. Call on OpenTable,
sistema bastante usado e eficaz por aqui. Escolhi dia, hora, informei número de pessoas e,
claro, tive de dar meu nome, e-mail e telefone.
5Dois dias antes da data marcada, precisei mudar o número de participantes, pois tive
confirmação de mais pessoas. Entrei no site, mas aí nem o site nem o OpenTable podiam
modificar a reserva on-line, pela proximidade do jantar. A recomendação era... telefonar ao
restaurante! Humm... Telefonei. Secretária eletrônica. Deixei recado.
7Queriam que avaliasse minha experiência no restaurante. Tudo bem, concordo que
ranking de público é coisa legal. Mas posso dizer outra coisa?
9Quando o garçom ou o “maitre” perguntam se a comida está boa, você fica contente
em responder, até porque eles podem substituir o prato se você não estiver gostando. Mas
quando um terceiro se mete nessa relação sem ser chamado, pode ser excessivo e
desagradável. Parece que todas as empresas do mundo decidiram que, além de exigir
informações cadastrais, logins e senhas, e empurrar goela abaixo seus sistemas
automáticos de atendimento, tenho agora de preencher fichas pós-venda eletronicamente,
de modo que as estatísticas saiam prontas e baratinhas para eles do outro lado da tela, à
custa do meu precioso tempo!
10Por que o OpenTable tem de perguntar de novo o que achei da comida? Eu sei.
Porque para o OpenTable essa informação tem um valor diferente. Não contente em fazer
reservas, quis invadir a praia do Yelp, o grande guia local que lista e traz avaliações dos
clientes para tudo quanto é tipo de serviço, a começar pelos restaurantes.
11O Yelp, por sua vez, invadiu a praia do Zagat (recém-comprado pelo Google),
tradicionalíssimo guia (em papel) de restaurantes, que, por décadas, foi alimentado pelas
avaliações dos leitores, via correio.
atravessadores on-line.
(*) Start-up: Empresa com baixo custo de manutenção, que consegue crescer
rapidamente e gerar grandes e crescentes lucros em condições de extrema
incerteza.
b) Vivo há 15 anos num meio que disputa engenheiros e técnicos a tapa, digo, a dólares.
(Parágrafo 3)
c) Aqui, muitos decidem tentar a sorte abrindo sua própria start-up, em vez de encher o
bolso do patrão. (Parágrafo 3)
d) Parece que todas as empresas do mundo decidiram que, além de exigir informações
cadastrais, logins e senhas, e empurrar goela abaixo seus sistemas automáticos de
atendimento, [...]. (Parágrafo 10)
e) Não contente em fazer reservas, quis invadir a praia do Yelp, o grande guia local que
lista e traz avaliações dos clientes para tudo quanto é tipo de serviço, a começar pelos
restaurantes. (Parágrafo 11)
4. (ITA/1999) adaptada
E ali acomodados, nada os distinguia do resto do nada. Para a grande glória de Deus.
Ele: - Pois é.
a) Poética.
b) Fática.
c) Referencial.
d) Emotiva.
e) Conativa.
Assinale a alternativa que relaciona corretamente um trecho em discurso indireto livre e sua
função
a) Ele pousou a mala no chão e pediu um apartamento. Por quanto tempo? Não estava
bem certo, talvez uns vinte dias. Ou mais. – uma personagem fazer uma citação indireta
daquilo que a outra falou.
b) Quando entrou pela alameda de pedregulhos e parou o carro defronte do hotel, o casal
de velhos que passeava pelo gramado afastou-se rapidamente e ficou espiando de longe.
O velho porteiro que o atendeu no balcão de recepção também teve um movimento de
recuo. – colocar na voz do narrador aquilo que as personagens fazem.
O porteiro examinou-o da cabeça aos pés. Forçou o sorriso paternal, disfarçando o espanto
com uma cordialidade exagerada, Mas o jovem queria um apartamento? Ali, naquele hotel?!
Mas era um hotel só de velhos, quase todos moradores fixos antiquíssimos, que graça um
hotel desses podia ter para um jovem? – Colocar as palavras da personagem no discurso
do narrador.
CAPÍTULO CXVII
A história do casamento de Maria Benedita é curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale
a pena dizê-la. Fique desde já admitido que, se não fosse a epidemia das Alagoas, talvez
não chegasse a haver casamento; donde se conclui que as catástrofes são úteis, e até
necessárias. Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança, e que aqui
lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, — um
triste molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão.
Senão quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe
se a casa era dela.
O padre que me contou isto certamente emendou o texto original; não é preciso estar
embriagado para acender um charuto nas misérias alheias. Bom Padre Chagas! —
Chamava-se Chagas. — Padre mais que bom, que assim me incutiste por muitos anos essa
ideia consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o mal dos outros; não contando
o respeito que aquele bêbado tinha ao princípio da propriedade, — a ponto de não acender
o charuto sem pedir licença à dona das ruínas. Tudo ideias consoladoras. Bom Padre
Chagas!
a) É um trecho de caráter descritivo, com linguagem conotativa, pois conta uma história
nos mínimos detalhes e utilizando metáforas.
d) É um trecho de caráter narrativo, com linguagem conotativa, o que pode ser comprovado
pelo fato de que se trata de uma parábola com o objetivo de conscientizar o ouvinte.
O apanhador de desperdícios
fatigadas de informar.
Prezo a velocidade
Eu fui aparelhado
Amo os restos
de canto.
eu sou da invencionática.
As poesias são, comumente, “poços” de funções da linguagem, tendo, sempre, uma que
prevalece. Dessa forma, tendo em conta a teoria da comunicação, percebe-se a prevalência
da função
a) emotiva.
b) poética.
c) apelativa.
d) referencial.
e) metalinguística.
8. (Questão Inédita – )
Na tirinha de Watterson, percebe-se que Calvin e sua mãe utilizam uma variedade pouco
comum da linguagem para contextos menos monitorados. Infere-se que esse uso ocorre
porque
Comênio, educador tcheco, apresenta a didática em sua obra Didactica Magna como
a arte de ensinar tudo a todos. No Aurélio, dicionário mais usado na língua portuguesa,
defina a didática como técnica de dirigir e orientar a aprendizagem.
a) referencial.
b) emotiva.
c) fática.
d) metalinguística.
e) apelativa.
A Constituição de 1988 determina que livros são produtos isentos de tributação. Desde
2004, a lei 10.865 também libera os livros do pagamento do Cofins e do PIS. Mas se a
reforma proposta por Guedes for aprovada como está, os livros ficarão sujeitos a uma
taxação de 12%, alíquota geral da CBS.
O debate sobre a tributação dos livros opõe, de modo geral, duas visões: a de que,
sendo o livro um produto consumido por uma população de maior renda no país, ele deve
ser taxado; e a de que, como um veículo de promoção da educação e da cultura, o livro
deve permanecer livre de tributos.
(Disponível em <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/08/14/O-plano-de-taxar-livros-num-
mercado-editorial-em-crise> Acesso em 15 jan. 2021)
O texto II apresenta, ainda que de forma implícita, a ideia de que a taxação dos livros
a) será aprovada facilmente pelo Congresso.
Do nosso sangue
Estamos aqui!
Bravos seguimos.
O ano de 2020 foi, sem sombra de dúvida, o mais surreal dos últimos séculos.
Não permitimos o colapso de nosso Planeta Azul, como aconteceu em Krypton, por
exemplo.
Por falar em Planeta, entre todas as surpresas que nos foram impostas, uma delas
passou praticamente despercebida e tem a ver exatamente com o Universo que nos cerca.
Claro que não anunciaram com todas as letras, afinal não queriam criar o caos.
Um pontinho escuro numa tela de radar, voando sobre o oceano numa velocidade
inimaginável.
Ao fundo, os soldados que capturaram a cena, vibram com a conquista, pois sabem
se tratar de um fato inexplicável.
a) a situação pandêmica ainda não se resolveu na Terra e pode haver, ainda, colapso.
b) nenhum dos dois planetas foi destruído, ainda que a muito custo dos habitantes deles.
c) Krypton entrou, segundo o contexto, em colapso, diferente do que ocorreu com a Terra.
d) o planeta fictício de Krypton foi acometido por uma pandemia, assim como a Terra.
Assinale, a seguir, a alternativa em que há uma construção feita a partir de uma figura de
linguagem.
b) “Afinal, quem se importa com extraterrestres quando alguns terrestres são mais
esquisitos que qualquer alienígena?”
c) “Por falar em Planeta, entre todas as surpresas que nos foram impostas, uma delas
passou praticamente despercebida e tem a ver exatamente com o Universo que nos cerca.”
A construção “Mas em 2020 virou notícia velha em poucos dias” tem o objetivo de
b) demonstrar que notícias anteriores a 2020 perderam a importância por serem velhas.
c) comprovar que a pandemia é mais importante do que qualquer outra informação nova.
O grande paradoxo desse contexto atual é que iniciamos a década vivendo uma das
maiores pandemias da contemporaneidade, que desafia nossa própria estrutura social,
econômica e política, e vamos terminá-la, em 2030, tendo que cumprir os ODS (Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável). Firmadas em 2015 pela ONU (Organização das Nações
Unidas), essas metas visam ao desenvolvimento global sustentável e mais justo, questões
que estão colocadas atualmente. Entre as diversas reflexões que a pandemia colocou em
xeque, relativas ao modo que pensamos e vivemos as/nas cidades, gostaria de me deter
especificamente a três, esclarecendo aqui, desde logo, que obviamente não esgoto as
inúmeras variáveis desse complexo amálgama urbano de problemáticas e possibilidades.
Realço, ainda nesse ponto, a importância dos espaços públicos nos bairros, tão
temidos por alguns ante o necessário distanciamento social, mas, ao mesmo tempo,
almejados por tantos outros em razão do longo tempo de isolamento, já que o espaço
público é reconhecidamente o espaço da convivência e da interação entre as pessoas. É
interessante perceber como a falta de espaços públicos de qualidade em nossos bairros
limita a nossa própria qualidade de vida em tempos de pandemia. E não falo apenas da
ausência de espaços verdes, praças e parques — grandes aliados para nossa saúde física
e mental —, mas também das próprias ruas e calçadas, por onde nos deslocamos, sem
acessibilidade, estrutura e incentivos para a mobilidade ativa — a pé ou de bicicleta, meio
altamente recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) durante a pandemia.
Esse período nos faz repensar o papel e a importância do espaço público em nossas vidas.
Em terceiro lugar, está a afirmação — que pode até parecer óbvia — de que é
necessário construir cidades a partir da diversidade. Em artigo publicado no Nexo Políticas
Públicas em dezembro de 2020, os pesquisadores Gilson Santiago Macedo Júnior e
Jéssica Tavares apontam que as cidades foram pensadas a partir da ótica do “padrão”
branco, cis gênero e masculino, o que consequentemente gera desigualdades estruturais
— que só se aprofundam em períodos de crise. A pesquisadora Marina Harkot, vítima da
brutal violência de trânsito urbana, já defendia que a cidade não incentiva mulheres a se
deslocarem de bicicleta: elas não têm “suas necessidades verdadeiramente consideradas
no planejamento e construção das cidades”, não sendo público-alvo dos “interesses
hegemônicos” que as controlam.
a) a sociedade não poderá manter a organização anterior, dado que o meio ambiente está
sendo devastado (dado que temos as referências às ODS).
b) a pandemia colocou em xeque a organização social, fazendo com que passe a haver
uma regressão com relação ao desenvolvimento social.
c) a organização das cidades deverá ser repensada, dado que há uma crise sanitária com
a pandemia de Coronavírus.
d) as pessoas não estão dispostas a mudar a sua vida por conta da pandemia, fato que
pode gerar problemas sérios com relação ao contágio.
Um dos problemas apontados pela autora com relação à construção das cidades, em meio
à pandemia, é a falta de
d) calçadas para que as pessoas possam se exercitar e ter uma vida mais saudável.
Assinale, a seguir, a alternativa em que as palavras indicadas não apresentam dupla grafia.
a) Parênteses e parêntesis.
b) Assobiar e assoviar.
c) Comprimento e cumprimento.
d) Enfarte e Infarto.
e) Beringela e berinjela.
Para o poeta Robert Frost, a vida era um caminho que passa por encruzilhadas
inevitáveis; para Fernando Pessoa, uma sombra que passa sobre um rio. Shakespeare via
o mundo como um palco e Scott Fitzgerald percebia os seres humanos como barcos contra
a corrente. Metáforas como essas nos rodeiam, mas não só quando seguramos um livro
nas mãos. Em nosso uso cotidiano da língua, elas são tão presentes que nem sequer
percebemos. São exemplos “teto de vidro impede a carreira das mulheres”, “a bolha do
aluguel”, “cortar o mal pela raiz”. Considerada a forma por excelência da linguagem
figurada, a metáfora às vezes é tida como mero embelezamento do discurso.
Entretanto, desde 1980, com a publicação do livro Metáforas da vida cotidiana, essa figura
retórica recuperou seu protagonismo. Os autores George Lakoff e Mark Johnson mostraram
que as alegorias desenham o mapa conceitual a partir do qual observamos, pensamos e
agimos. Com frequência são nossa bússola invisível, orientando tanto os gestos instintivos
que fazemos como as decisões mais importantes que tomamos. É muito provável que
aqueles que concebem a vida como uma cruz e os que a entendem como uma viagem não
reajam da mesma forma ante um mesmo dilema. As metáforas são ferramentas eficazes e
de múltiplas utilidades. Ao partir de elementos já conhecidos, nos ajudam a examinar
realidades, conceitos e teorias novas de uma maneira prática. Também nos servem para
abordar experiências traumáticas nas quais a linguagem literal se revela impotente. São
vigorosos atalhos que a mente usa para assimilar situações complexas em que a
literalidade acaba sendo tediosa, limitada e confusa. É mais fácil para nós entender que a
depressão é uma espécie de buraco negro e que o DNA é o manual de instruções de cada
ser vivo.
As figurações dão coesão às identidades coletivas, pois circulam sem cessar até se
incorporarem à linguagem cotidiana. Há alguns anos, os psicólogos Paul Thibodeau e Lera
Boroditsky, da Universidade Stanford (E.U.A.), analisaram os resultados de um debate
sobre políticas contra a criminalidade que recorria a duas metáforas. Quando o problema
era ilustrado como se houvesse predadores devorando a comunidade, a resposta era
endurecer a vigilância policial e aplicar leis mais severas. No entanto, quando o problema
era exposto como um vírus infectando a cidade, a opção era a de adotar medidas para
erradicar a desigualdade e melhorar a educação. Comparações ruins levam a políticas
ruins, escreveu o Nobel de Economia Paul Krugman.
As boas metáforas nos trazem outras perspectivas, fronteiras menos rígidas e novas
categorizações que substituem aquelas já desgastadas.
No terceiro parágrafo, o autor apresenta o uso de metáforas nos Estados Unidos com o
objetivo de
As informações vêm de todo o Brasil, porque ninguém ignora essa curiosa técnica
com que os importunos são despedidos, ou obrigados a sair por uma força de impulsão
mágica e livrar as vítimas de uma presença monótona e sonolenta.
Negros e amerabas varriam suas moradas, mas não sabemos se possuíam crendices
decorrentes. No Brasil houve, ou ainda há no interior do Maranhão, uma Nossa Senhora da
Vassoura.
Luís da Câmara Cascudo. Coisas que o povo diz. Global Editora: São Paulo, 2012.
a) “embora”.
c) “conforme”.
d) “ainda que”.
e) “à medida que”.
As regras do jogo
Os futuros chefes da sociedade aprendiam a vencer jogando o futebol nos pátios dos
colégios e das universidades. Ali, os rebentos da classe alta desafogavam seus ardores
juvenis, aprimoravam sua disciplina, temperavam sua coragem e afiavam sua astúcia. No
outro extremo da escala social, os proletários não precisavam extenuar o corpo, porque
para isso havia as fábricas e as oficinas, mas a pátria do capitalismo industrial havia
descoberto que o futebol, paixão de massas, dava diversão e consolo aos pobres e os
distraía de greves e outros maus pensamentos.
foi substituída por um travessão de madeira em 1875. Nas traves se marcavam os gols,
com pequenos entalhes. A expressão marcar um gol é usada até hoje, embora agora os
gols já não sejam mais talhados nas traves, e sim registrados nos placares eletrônicos dos
estádios. A meta, feita em ângulos retos, não tem forma arqueada, mas ainda a chamamos
de arco em alguns países, e chamamos de arqueiro quem a defende, talvez porque os
estudantes dos colégios ingleses tenham usado como metas as arcadas dos pátios.
Em 1872, apareceu o árbitro. Até então, os jogadores eram seus próprios juízes, e
eles mesmos sancionavam as faltas que cometiam. Em 1880, cronômetro na mão, o árbitro
decidia quando terminava a partida e tinha o poder de expulsar quem se portasse mal, mas
ainda dirigia de fora e aos gritos. Em 1891, o árbitro entrou em campo pela primeira vez,
usando um apito; marcou o primeiro pênalti da história e caminhando doze passos assinalou
o lugar da cobrança. Fazia muito tempo que a imprensa britânica vinha fazendo campanha
a favor do pênalti. Era preciso proteger os jogadores na boca do gol, que era cenário de
chacinas. A Gazeta de Westminster havia publicado uma impressionante lista de jogadores
mortos e de ossos quebrados.
Depois morreu o século, e com ele terminou o monopólio britânico. Em 1904 nasceu
a FIFA, Federação Internacional de Futebol Associado, que desde então governa as
relações entre a bola e o pé no mundo inteiro. Ao longo dos campeonatos mundiais, a FIFA
introduziu poucas mudanças naquelas regras britânicas que organizaram o jogo.
Lista 03 – Gabarito
1. A 10. D 19. C
2. A 11. C 20. C
3. A 12. B 21. B
4. B 13. C 22. A
5. C 14. A 23. B
6. D 15. A 24. E
7. E 16. D 25. B
8. A 17. E 26. C
9. A 18. B
Comentários:
A alternativa A está correta, porque há uso de variação “de vera”, que significa “de
verdade” e o uso da redução “tô”, em lugar de “estou”, uma das marcas de informalidade mais
comuns do nosso idioma. Dessa forma, percebe-se que prevalece, nesse trecho, o uso da
linguagem informal.
A alternativa B está incorreta, porque não temos nenhuma marca de oralidade nesse
trecho, pelo contrário. Até a forma “está” aparece realizada de forma completa, quando na
fala tende a ser reduzida em “tá”.
A alternativa D está incorreta, porque somente o trecho “sei não” poderia, forçando um
tanto, ser entendido como uma relação de informalidade. Isso ocorre pela posição do advérbio
de negação, que normalmente vem posposto ao verbo na informalidade.
A alternativa E está incorreta, porque nessa fala, percebe-se que prevalece a relação
de uso da norma culta. Não temos informalidade. Cuidado para não pensar que a
personificação do “sorriso”, mostrado como inteligente, é uma marca de informalidade.
Gabarito: A
Comentários:
A alternativa A está correta, porque o último quadrinho deixa clara a ideia de que a
mensagem e para o leitor, ainda que todos sejam a esperança. Perceba que a interlocução é
extremamente necessária para que o leitor entenda que não são os personagens a
esperança, mas cada um de nós.
Gabarito: A
3. (ITA/2013) adaptada
Escravos da tecnologia
1Não, não vou falar das fábricas que atraem trabalhadores honestos e os tratam de
forma desumana. Cada vez que um produto informa orgulhoso que foi desenhado na
Califórnia e fabricado na China, sinto um arrepio na espinha. Conheço e amo essas duas
partes do mundo. Também conheço a capacidade de a tecnologia eliminar empregos. Parece
o sonho de todo patrão: muita margem de lucro e poucos empregados. Se possível, nenhum!
Tudo terceiro!
2 Conheço ainda como a tecnologia é capaz de criar empregos. Vivo há 15 anos num
meio que disputa engenheiros e técnicos a tapa, digo, a dólares. O que acontece aí no Brasil,
nessa área, acontece igualzinho no Vale do Silício: empresas tentando arrancar talentos
umas das outras. Aqui, muitos decidem tentar a sorte abrindo sua própria start-up*, em vez
de encher o bolso do patrão. Estou rodeada também de investidores querendo fazer apostas
para... voltar a encher os bolsos ainda mais.
3 Mas queria falar hoje de outro tipo de escravidão tecnológica. Não dos que dormiram
na rua sob chuva para comprar o novo iPhone 4S... Quero reclamar de quanto nós estamos
tendo de trabalhar de graça para os sistemas, cada vez que tentamos nos mover na Internet.
Isso é escravidão – e odeio isso.
4 Outro dia, fiz aniversário e fui reservar uma mesa num restaurante bacana da cidade.
Achei o site do restaurante, lindo, e pareceu fácil de reservar on-line. Call on OpenTable,
sistema bastante usado e eficaz por aqui. Escolhi dia, hora, informei número de pessoas e,
claro, tive de dar meu nome, e-mail e telefone.
5Dois dias antes da data marcada, precisei mudar o número de participantes, pois tive
confirmação de mais pessoas. Entrei no site, mas aí nem o site nem o OpenTable podiam
modificar a reserva on-line, pela proximidade do jantar. A recomendação era... telefonar ao
restaurante! Humm... Telefonei. Secretária eletrônica. Deixei recado.
9Quando o garçom ou o “maitre” perguntam se a comida está boa, você fica contente
em responder, até porque eles podem substituir o prato se você não estiver gostando. Mas
quando um terceiro se mete nessa relação sem ser chamado, pode ser excessivo e
desagradável. Parece que todas as empresas do mundo decidiram que, além de exigir
informações cadastrais, logins e senhas, e empurrar goela abaixo seus sistemas automáticos
de atendimento, tenho agora de preencher fichas pós-venda eletronicamente, de modo que
as estatísticas saiam prontas e baratinhas para eles do outro lado da tela, à custa do meu
precioso tempo!
Por que o OpenTable tem de perguntar de novo o que achei da comida? Eu sei.
10
Porque para o OpenTable essa informação tem um valor diferente. Não contente em fazer
reservas, quis invadir a praia do Yelp, o grande guia local que lista e traz avaliações dos
clientes para tudo quanto é tipo de serviço, a começar pelos restaurantes.
O Yelp, por sua vez, invadiu a praia do Zagat (recém-comprado pelo Google),
11
tradicionalíssimo guia (em papel) de restaurantes, que, por décadas, foi alimentado pelas
avaliações dos leitores, via correio.
atravessadores on-line.
(*) Start-up: Empresa com baixo custo de manutenção, que consegue crescer rapidamente e gerar grandes
e crescentes lucros em condições de extrema
incerteza.
b) Vivo há 15 anos num meio que disputa engenheiros e técnicos a tapa, digo, a dólares.
(Parágrafo 3)
c) Aqui, muitos decidem tentar a sorte abrindo sua própria start-up, em vez de encher o
bolso do patrão. (Parágrafo 3)
d) Parece que todas as empresas do mundo decidiram que, além de exigir informações
cadastrais, logins e senhas, e empurrar goela abaixo seus sistemas automáticos de
atendimento, [...]. (Parágrafo 10)
e) Não contente em fazer reservas, quis invadir a praia do Yelp, o grande guia local que lista
e traz avaliações dos clientes para tudo quanto é tipo de serviço, a começar pelos
restaurantes. (Parágrafo 11)
Gabarito: A
4. (ITA/1999) adaptada
E ali acomodados, nada os distinguia do resto do nada. Para a grande glória de Deus.
Ele: - Pois é.
a) Poética.
b) Fática.
c) Referencial.
d) Emotiva.
e) Conativa.
Comentário:
O objetivo do diálogo é estabelecer contato. Por isso, são utilizadas expressões que não
apresentam conteúdo além de manter o canal de comunicação aberto. A está incorreta, pois
não há mensagem em evidência nesta troca de palavras; C, pois não há uso de linguagem
objetiva ou ausência de opinião; D, pois não há foco nos sentimentos do emissor; E, pois não
há tentativa de acesso ao receptor da mensagem.
Gabarito: B
Assinale a alternativa que relaciona corretamente um trecho em discurso indireto livre e sua
função
a) Ele pousou a mala no chão e pediu um apartamento. Por quanto tempo? Não estava bem
certo, talvez uns vinte dias. Ou mais. – uma personagem fazer uma citação indireta daquilo
que a outra falou.
b) Quando entrou pela alameda de pedregulhos e parou o carro defronte do hotel, o casal de
velhos que passeava pelo gramado afastou-se rapidamente e ficou espiando de longe. O
velho porteiro que o atendeu no balcão de recepção também teve um movimento de recuo.
– colocar na voz do narrador aquilo que as personagens fazem.
c) O porteiro examinou-o da cabeça aos pés. Forçou o sorriso paternal, disfarçando o espanto
com uma cordialidade exagerada, Mas o jovem queria um apartamento? Ali, naquele hotel?!
Mas era um hotel só de velhos, quase todos moradores fixos antiquíssimos, que graça um
hotel desses podia ter para um jovem? – Colocar as palavras da personagem no discurso do
narrador.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois apesar do exemplo ser de discurso indireto livre, a
explicação não é. Essa explicação é para o discurso indireto apenas.
A alternativa B está incorreta, pois aqui não há discurso indireto livre, mas simples
narração. O que se coloca na voz do narrador é a fala ou pensamento de uma personagem
A alternativa D está incorreta, pois essa é a função do discurso direto, não do discurso
indireto livre.
Gabarito: C
CAPÍTULO CXVII
A história do casamento de Maria Benedita é curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale
a pena dizê-la. Fique desde já admitido que, se não fosse a epidemia das Alagoas, talvez não
chegasse a haver casamento; donde se conclui que as catástrofes são úteis, e até
necessárias.
Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes
dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, — um triste
molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão
quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa
era dela.
O padre que me contou isto certamente emendou o texto original; não é preciso estar
embriagado para acender um charuto nas misérias alheias. Bom Padre Chagas! — Chamava-
se Chagas. — Padre mais que bom, que assim me incutiste por muitos anos essa ideia
consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o mal dos outros; não contando o
respeito que aquele bêbado tinha ao princípio da propriedade, — a ponto de não acender o
charuto sem pedir licença à dona das ruínas. Tudo ideias consoladoras. Bom Padre Chagas!
a) É um trecho de caráter descritivo, com linguagem conotativa, pois conta uma história nos
mínimos detalhes e utilizando metáforas.
b) É um trecho de caráter narrativo, com linguagem denotativa, o que pode ser comprovado
pelo uso de palavras ligadas à norma culta, como “choupana” e “ébrio”.
d) É um trecho de caráter narrativo, com linguagem conotativa, o que pode ser comprovado
pelo fato de que se trata de uma parábola com o objetivo de conscientizar o ouvinte.
Comentário:
A alternativa D está incorreta, pois o autor usa de recursos poéticos para passar uma
mensagem, acessando a fábula – típica do gênero narrativo – como veículo para uma
referência moralizante
A alternativa E está incorreta, pois o fato de ser da norma culta não significa
necessariamente dissertativo ou denotativo.
Gabarito: D
O apanhador de desperdícios
fatigadas de informar.
Prezo a velocidade
Eu fui aparelhado
Amo os restos
de canto.
eu sou da invencionática.
As poesias são, comumente, “poços” de funções da linguagem, tendo, sempre, uma que
prevalece. Dessa forma, tendo em conta a teoria da comunicação, percebe-se a prevalência
da função
a) emotiva.
b) poética.
c) apelativa.
d) referencial.
e) metalinguística.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque, ainda que tenhamos o uso da primeira pessoa
do singular, marca da função emotiva, não temos uma construção em que os sentimentos do
eu lírico se sobressaia. A ideia principal do texto está relacionada à forma como o autor
enxerga a escrita da poesia, configurando-se como uma função metalinguística.
A alternativa B está incorreta, porque o texto, ainda que seja uma poesia, não se utiliza
do estilo de escrita para comunicar. Isso quer dizer que a forma como o autor organiza o texto,
não comunica absolutamente nada. A ideia é a de que temos uma construção em que o autor
fala sobre a arte da escrita para ele.
A alternativa C está incorreta, porque o texto não tem nenhuma relação com a noção
de convencimento do receptor acerca de uma tese, argumentando para isso. É importante
entender que não há nenhuma relação com o receptor, mas com o próprio texto.
Gabarito: E
8. (Questão Inédita – )
Na tirinha de Watterson, percebe-se que Calvin e sua mãe utilizam uma variedade pouco
comum da linguagem para contextos menos monitorados. Infere-se que esse uso ocorre
porque
Comentários:
A alternativa A está correta, porque, no último quadrinho, quando Calvin fala sobre o
vocabulário das séries policiais, fica claro que o uso da variante encontrada nos três primeiros
quadrinhos é resultado de uma influência das séries que são assistidas pelos dois em seus
momentos de diversão.
A alternativa C está incorreta, porque não temos nenhuma indicação de que a mãe
deve marcar sua posição de importância na relação com o filho. Isso fica claro, inclusive,
porque o menino utiliza a mesma variante da mãe.
A alternativa D está incorreta, porque não temos indicação de que o uso do vocabulário
sofisticado se relaciona com as aspirações escolares do menino. Na realidade, percebe-se
que os dois são incentivados pelo vocabulário das séries a que assistem comumente.
Gabarito: A
Podem-se encontrar diversas concepções de didática, entre elas, fazendo uma análise
histórica destacam-se entre as que mais aparecem como objeto de estudo a concepção na
Grécia antiga definindo-a como o ato de ensinar, instruir, fazer aprender;
Comênio, educador tcheco, apresenta a didática em sua obra Didactica Magna como
a arte de ensinar tudo a todos. No Aurélio, dicionário mais usado na língua portuguesa, defina
a didática como técnica de dirigir e orientar a aprendizagem.
a) referencial.
b) emotiva.
c) fática.
d) metalinguística.
e) apelativa.
Comentários:
A alternativa C está incorreta, porque não temos intenção, no texto, de testar o canal
de envio da mensagem, para saber se está sendo recebido pelo leitor. Como o texto é
explicativo, percebe-se que prevalece a função referencial da linguagem.
Gabarito: A
A Constituição de 1988 determina que livros são produtos isentos de tributação. Desde
2004, a lei 10.865 também libera os livros do pagamento do Cofins e do PIS. Mas se a reforma
proposta por Guedes for aprovada como está, os livros ficarão sujeitos a uma taxação de
12%, alíquota geral da CBS.
O debate sobre a tributação dos livros opõe, de modo geral, duas visões: a de que,
sendo o livro um produto consumido por uma população de maior renda no país, ele deve ser
taxado; e a de que, como um veículo de promoção da educação e da cultura, o livro deve
permanecer livre de tributos.
(Disponível em <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/08/14/O-plano-de-taxar-livros-num-mercado-
editorial-em-crise> Acesso em 15 jan. 2021)
O texto II apresenta, ainda que de forma implícita, a ideia de que a taxação dos livros
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque não temos nenhuma referência à aprovação com
relação à facilidade ou dificuldade para que ocorra. Perceba que temos uma indicação
somente da possibilidade de aprovação.
A alternativa C está incorreta, porque o autor aponta que a arrecadação pode ser
aumentada com a modificação, contudo não indica que ela é necessária para esse aumento.
A alternativa D está correta, porque o autor apresenta a ideia implícita de que cobrar
mais pelos livros é prejudicial ao apresentar a ideia que o setor de produção está passando
por uma crise. É interessante notar que crise nunca é usado de forma positiva. Cuidado com
as implicitudes de um texto.
Gabarito: D
Do nosso sangue
Estamos aqui!
Bravos seguimos.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque o eu lírico deixa claro, no verso “Não perdoamos
os que deixaram abatidos os nossos”, que o perdão não será possível contra aqueles que
atacam seus iguais.
A alternativa D está incorreta, porque o uso da primeira pessoa do plural, com a ideia
de que “não seremos silêncio”, apresenta-se como uma generalização, incluindo o eu lírico e
aqueles que são seus iguais, acossados por aqueles que querem vender suas terras.
Gabarito: C
Comentários:
A alternativa B está correta, porque o “deixaram a luta” se une ao verso anterior “que
não se renderam e deixaram a vida”, simbolizando aqueles que morreram durante o combate.
Dessa forma, compreende-se que há uma construção clara de eufemismo nesse trecho.
Perceba que esse eufemismo só faz sentido quando conectado ao verso anterior, do qual é
continuidade.
Gabarito: B
O ano de 2020 foi, sem sombra de dúvida, o mais surreal dos últimos séculos.
Não permitimos o colapso de nosso Planeta Azul, como aconteceu em Krypton, por
exemplo.
Por falar em Planeta, entre todas as surpresas que nos foram impostas, uma delas
passou praticamente despercebida e tem a ver exatamente com o Universo que nos cerca.
Claro que não anunciaram com todas as letras, afinal não queriam criar o caos.
Um pontinho escuro numa tela de radar, voando sobre o oceano numa velocidade
inimaginável.
Ao fundo, os soldados que capturaram a cena, vibram com a conquista, pois sabem
se tratar de um fato inexplicável.
Afinal, quem se importa com extraterrestres quando alguns terrestres são mais
esquisitos que qualquer alienígena?
a) a situação pandêmica ainda não se resolveu na Terra e pode haver, ainda, colapso.
b) nenhum dos dois planetas foi destruído, ainda que a muito custo dos habitantes deles.
c) Krypton entrou, segundo o contexto, em colapso, diferente do que ocorreu com a Terra.
d) o planeta fictício de Krypton foi acometido por uma pandemia, assim como a Terra.
Comentários:
contribui para uma construção interessante de leitura do texto. Não se esqueça de que nosso
conhecimento auxilia sempre na construção de significados dos textos em sua interpretação
e compreensão.
Gabarito: C
Assinale, a seguir, a alternativa em que há uma construção feita a partir de uma figura de
linguagem.
a) “(...) demos continuidade a humanidade. Cumprimos o dever que a Natureza nos impôs.”
b) “Afinal, quem se importa com extraterrestres quando alguns terrestres são mais
esquisitos que qualquer alienígena?”
c) “Por falar em Planeta, entre todas as surpresas que nos foram impostas, uma delas
passou praticamente despercebida e tem a ver exatamente com o Universo que nos cerca.”
Comentários:
A alternativa A está correta, porque a Natureza, como um elemento não humano, não
é capaz de forma tão ampla, de impor alguma coisa a alguém. Dessa forma, podemos
interpretar essa figura de linguagem como uma personificação. É possível, ainda, que
vejamos uma metonímia nesse caso.
A alternativa B está incorreta, porque não há, nesse trecho, nenhuma construção
figurada que justifique a existência de uma figura de linguagem. Logo, essa não é a alternativa
correta.
A alternativa C está incorreta, porque não há, nesse trecho, nenhuma construção
figurada que justifique a existência de uma figura de linguagem. Logo, essa não é a alternativa
correta.
A alternativa D está incorreta, porque não há, nesse trecho, nenhuma construção
figurada que justifique a existência de uma figura de linguagem. Logo, essa não é a alternativa
correta.
Gabarito: A
A construção “Mas em 2020 virou notícia velha em poucos dias” tem o objetivo de
b) demonstrar que notícias anteriores a 2020 perderam a importância por serem velhas.
c) comprovar que a pandemia é mais importante do que qualquer outra informação nova.
d) ironizar a possibilidade de existência de vida fora do planeta Terra, como comprova os EUA.
Comentários:
Gabarito: A
O grande paradoxo desse contexto atual é que iniciamos a década vivendo uma das maiores
pandemias da contemporaneidade, que desafia nossa própria estrutura social, econômica e
política, e vamos terminá-la, em 2030, tendo que cumprir os ODS (Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável). Firmadas em 2015 pela ONU (Organização das Nações
Unidas), essas metas visam ao desenvolvimento global sustentável e mais justo, questões
que estão colocadas atualmente. Entre as diversas reflexões que a pandemia colocou em
xeque, relativas ao modo que pensamos e vivemos as/nas cidades, gostaria de me deter
especificamente a três, esclarecendo aqui, desde logo, que obviamente não esgoto as
inúmeras variáveis desse complexo amálgama urbano de problemáticas e possibilidades.
Realço, ainda nesse ponto, a importância dos espaços públicos nos bairros, tão
temidos por alguns ante o necessário distanciamento social, mas, ao mesmo tempo,
almejados por tantos outros em razão do longo tempo de isolamento, já que o espaço público
é reconhecidamente o espaço da convivência e da interação entre as pessoas. É interessante
perceber como a falta de espaços públicos de qualidade em nossos bairros limita a nossa
própria qualidade de vida em tempos de pandemia. E não falo apenas da ausência de
espaços verdes, praças e parques — grandes aliados para nossa saúde física e mental —,
mas também das próprias ruas e calçadas, por onde nos deslocamos, sem acessibilidade,
estrutura e incentivos para a mobilidade ativa — a pé ou de bicicleta, meio altamente
recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) durante a pandemia. Esse período
nos faz repensar o papel e a importância do espaço público em nossas vidas.
Em terceiro lugar, está a afirmação — que pode até parecer óbvia — de que é necessário construir
cidades a partir da diversidade. Em artigo publicado no Nexo Políticas Públicas em dezembro de
2020, os pesquisadores Gilson Santiago Macedo Júnior e Jéssica Tavares apontam que as
cidades foram pensadas a partir da ótica do “padrão” branco, cis gênero e masculino, o que
consequentemente gera desigualdades estruturais — que só se aprofundam em períodos de
crise. A pesquisadora Marina Harkot, vítima da brutal violência de trânsito urbana, já defendia
que a cidade não incentiva mulheres a se deslocarem de bicicleta: elas não têm “suas
necessidades verdadeiramente consideradas no planejamento e construção das cidades”,
não sendo público-alvo dos “interesses hegemônicos” que as controlam.
Ao apontar que a sociedade vive um grande paradoxo, no segundo parágrafo, a autora indica
que
a) a sociedade não poderá manter a organização anterior, dado que o meio ambiente está
sendo devastado (dado que temos as referências às ODS).
b) a pandemia colocou em xeque a organização social, fazendo com que passe a haver
uma regressão com relação ao desenvolvimento social.
c) a organização das cidades deverá ser repensada, dado que há uma crise sanitária com a
pandemia de Coronavírus.
d) as pessoas não estão dispostas a mudar a sua vida por conta da pandemia, fato que
pode gerar problemas sérios com relação ao contágio.
Comentários:
O texto aborda um dos temas mais atuais em nossa sociedade: a organização social
em meio a problemas tão sérios como os trazidos pela pandemia de Coronavírus. O que a
autora afirma, nesse segundo parágrafo, defendendo no decorrer do texto, é que temos uma
relação de problemas que surgem no contexto pandêmico. Podemos entender como
paradoxal exatamente a ideia de que o desenvolvimento da sociedade não será suficiente
para que passemos ilesos pelo problema. Perceba que a autora apresenta a ideia de que até
2030 ainda estaremos resolvendo problemas relacionados à pandemia e à crise que ela traz
em diversos momentos e áreas da sociedade. A tentativa da autora é a de mostrar que os
problemas são muito amplos e não se concentram somente na relação da saúde.
Gabarito: D
Comentários:
A alternativa C está incorreta, porque o texto aponta para a praticidade das coisas e
não para a necessidade de discussão dessas modificações. Perceba que o texto é prático,
apontando para uma relação real e não intelectual.
A alternativa E está correta, porque o título aponta para a relação entre as cidades e o
momento em que vivemos. É interessante notar que temos uma noção, que se fundamentará
no texto, de que o mundo não será mais o mesmo após a pandemia, dado que ela modificou
claramente a vida das pessoas, incluindo sua organização social.
Gabarito: E
Um dos problemas apontados pela autora com relação à construção das cidades, em meio à
pandemia, é a falta de
d) calçadas para que as pessoas possam se exercitar e ter uma vida mais saudável.
Comentários:
Um dos pontos mais importantes abordados pela autora, ao descrever a relação entre
a cidade e o combate à pandemia que assola o mundo é exatamente a ideia de que o
desenvolvimento extremo das cidades acaba por não contribuir com a relação de contato com
o ar puro por meio de espaços abertos nas cidades. Inclusive, a autora indica que temos uma
relação de ausência desse cuidado com as pessoas, ampliando os problemas com relação à
pandemia nessas mesmas cidades. Notem que o foco do texto é apontar os problemas que
deveriam ser resolvidos nessas cidades, inicialmente com a indicação desses mesmos
problemas.
Gabarito: B
19. (Questão Inédita – )
Assinale, a seguir, a alternativa em que as palavras indicadas não apresentam dupla grafia.
a) Parênteses e parêntesis.
b) Assobiar e assoviar.
c) Comprimento e cumprimento.
d) Enfarte e Infarto.
e) Beringela e berinjela.
Comentários:
A alternativa C está correta, porque, ainda que as duas palavras existam em português,
elas apresentam significados diferentes. O primeiro está relacionado à extensão das coisas,
o comprimento das coisas. Por outro lado, cumprimento é quando as pessoas,
educadamente, apertam as mãos, por exemplo. As pessoas cumprimentam-se. Como temos
modificação de significado entre as palavras, não há possibilidade de dupla grafia.
Gabarito: C
Para o poeta Robert Frost, a vida era um caminho que passa por encruzilhadas
inevitáveis; para Fernando Pessoa, uma sombra que passa sobre um rio. Shakespeare via o
mundo como um palco e Scott Fitzgerald percebia os seres humanos como barcos contra a
corrente. Metáforas como essas nos rodeiam, mas não só quando seguramos um livro nas
mãos. Em nosso uso cotidiano da língua, elas são tão presentes que nem sequer
percebemos. São exemplos “teto de vidro impede a carreira das mulheres”, “a bolha do
aluguel”, “cortar o mal pela raiz”. Considerada a forma por excelência da linguagem figurada,
a metáfora às vezes é tida como mero embelezamento do discurso.
Entretanto, desde 1980, com a publicação do livro Metáforas da vida cotidiana, essa figura
retórica recuperou seu protagonismo. Os autores George Lakoff e Mark Johnson mostraram
que as alegorias desenham o mapa conceitual a partir do qual observamos, pensamos e
agimos. Com frequência são nossa bússola invisível, orientando tanto os gestos instintivos
que fazemos como as decisões mais importantes que tomamos. É muito provável que aqueles
que concebem a vida como uma cruz e os que a entendem como uma viagem não reajam da
mesma forma ante um mesmo dilema. As metáforas são ferramentas eficazes e de múltiplas
utilidades. Ao partir de elementos já conhecidos, nos ajudam a examinar realidades, conceitos
e teorias novas de uma maneira prática. Também nos servem para abordar experiências
traumáticas nas quais a linguagem literal se revela impotente. São vigorosos atalhos que a
mente usa para assimilar situações complexas em que a literalidade acaba sendo tediosa,
limitada e confusa. É mais fácil para nós entender que a depressão é uma espécie de buraco
negro e que o DNA é o manual de instruções de cada ser vivo.
As figurações dão coesão às identidades coletivas, pois circulam sem cessar até se
incorporarem à linguagem cotidiana. Há alguns anos, os psicólogos Paul Thibodeau e Lera
Boroditsky, da Universidade Stanford (E.U.A.), analisaram os resultados de um debate sobre
políticas contra a criminalidade que recorria a duas metáforas. Quando o problema era
ilustrado como se houvesse predadores devorando a comunidade, a resposta era endurecer
a vigilância policial e aplicar leis mais severas. No entanto, quando o problema era exposto
como um vírus infectando a cidade, a opção era a de adotar medidas para erradicar a
desigualdade e melhorar a educação. Comparações ruins levam a políticas ruins, escreveu o
Nobel de Economia Paul Krugman.
As boas metáforas nos trazem outras perspectivas, fronteiras menos rígidas e novas
categorizações que substituem aquelas já desgastadas.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque essa visão é aplicada somente para algumas
pessoas, como apresenta o final do primeiro parágrafo. Ao utilizarmos o advérbio
“simplesmente”, construímos uma generalização que não se fixa no texto.
A alternativa B está incorreta, porque o autor apresenta a ideia de que a escolha das
metáforas pode levar a políticas ruins, como ocorre no terceiro parágrafo. Contudo, não há
nenhuma indicação de que essa relação é uma manipuladora. Cuidado com essa
interpretação.
Gabarito: C
No terceiro parágrafo, o autor apresenta o uso de metáforas nos Estados Unidos com o
objetivo de
Comentários:
A alternativa B está correta, porque o problema social é bastante sério e, por isso,
utilizam-se as metáforas para que as pessoas possam compreender melhor os problemas,
indicando a gravidade do problema social.
A alternativa D está incorreta, porque não temos o uso das metáforas como uma forma
de complicação do problema. Na realidade, percebe-se o caminho contrário a esse. São
figuras utilizadas para demonstrar a severidade do problema de uma forma mais fácil de
compreensão do problema social.
A alternativa E está incorreta, porque as duas metáforas são claramente utilizadas para
que as pessoas envolvidas possam entender de forma mais clara como o problema ocorre.
São construções para facilitação e não suavização.
Gabarito: B
Comentários:
Gabarito: A
As informações vêm de todo o Brasil, porque ninguém ignora essa curiosa técnica com
que os importunos são despedidos, ou obrigados a sair por uma força de impulsão mágica e
livrar as vítimas de uma presença monótona e sonolenta.
Comentários:
A expressão serve, de uma forma pouco usual para o momento atual de uso da língua
portuguesa, para indicar que a crendice veio de Portugal e é colocada em prática tanto lá
quanto aqui, no Brasil. É interessante notar que os demais povos que formaram o Brasil, como
indicado no texto, não conheciam essa forma de “espantar” as visitas indesejadas e
enfadonhas. É importante, ainda, notar que o “aquém” se refere ao brasil, dado que é o ponto
de referência do autor, enquanto o “além” indica Portugal. O referencial de comparação é o
Oceano Atlântico.
Gabarito: B
Comentários:
O texto apresenta a origem de uma das técnicas mais sensacionais para a espantar as
visitas quando começam a incomodar aqueles que as recebem: a colocação de uma vassoura
atrás da porta. Segundo o texto, essa medida é histórica e, conforme nos apresenta o
segundo parágrafo, serve para que nos livremos de visitas indesejadas e que sejam sem
graça e enfadonhas. Cuidado com a extrapolação contida na alternativa A, uma vez que o
texto não fala sobre o cansaço das pessoas para se livrarem das visitas. Essa é uma
extrapolação, porque imaginamos a possibilidade de usarmos a técnica nesses casos,
contudo o texto aponta para a ideia de espantar as visitas chatas.
Gabarito: E
A conjunção “como”, encontrada em “Como Silvanus vivia a vida selvagem, primitiva e rústica,
odeia essas ferramentas hostis ao seu império (déteste ces outils hostiles à son empire).”,
apresenta o mesmo valor da encontrada em
a) “embora”.
c) “conforme”.
d) “ainda que”.
e) “à medida que”.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque “embora” tem valor concessivo e não causal,
como ocorre com o elemento “como”, no trecho encontrado no enunciado.
A alternativa D está incorreta, porque “ainda que” tem valor concessivo e não causal,
como ocorre com o elemento “como”, no trecho encontrado no enunciado.
Gabarito: B
As regras do jogo
Ao fim de tantos séculos de rejeição oficial, as ilhas britânicas acabaram aceitando que
havia uma bola em seu destino. Nos tempos da rainha Vitória, o futebol já era unânime não
só como vício plebeu, mas também como virtude aristocrática.
Os futuros chefes da sociedade aprendiam a vencer jogando o futebol nos pátios dos
colégios e das universidades. Ali, os rebentos da classe alta desafogavam seus ardores
juvenis, aprimoravam sua disciplina, temperavam sua coragem e afiavam sua astúcia. No
outro extremo da escala social, os proletários não precisavam extenuar o corpo, porque para
isso havia as fábricas e as oficinas, mas a pátria do capitalismo industrial havia descoberto
que o futebol, paixão de massas, dava diversão e consolo aos pobres e os distraía de greves
e outros maus pensamentos.
Na sua forma moderna, o futebol provém de um acordo de cavalheiros que doze clubes
ingleses selaram no outono de 1863, numa taverna de Londres. Os clubes assumiram as
regras estabelecidas em 1846 pela Universidade de Cambridge. Em Cambridge, o futebol se
havia divorciado do Rugby: era proibido conduzir a bola com as mãos, embora fosse permitido
tocá-la e era proibido chutar os adversários. “Os pontapés só devem ser dirigidos para a bola”,
advertia uma das regras: um século e meio depois, ainda há jogadores que confundem a bola
com o crânio do rival, por sua forma parecida.
Naqueles tempos, ninguém ocupava um lugar determinado no campo: todo mundo corria
alegremente atrás da bola, cada qual ia para onde bem entendesse, e mudava de posição à
vontade. Foi na Escócia que as equipes se organizaram com funções de defesa, meio de
campo e ataque, lá pelo ano de 1870. Naquela época, as equipes já tinham onze jogadores.
Ninguém podia tocar a bola com as mãos, desde 1869, nem mesmo para detê-la e colocá-la
nos pés. Mas em 1871 nasceu o arqueiro, única exceção desse tabu, que podia defender a
meta com o corpo inteiro.
O arqueiro protegia um reduto quadrado: a meta, mais estreita que a atual e muito mais
alta, consistia de dois paus unidos por uma fita a cinco metros e meio de altura. A faixa foi
substituída por um travessão de madeira em 1875. Nas traves se marcavam os gols, com
pequenos entalhes. A expressão marcar um gol é usada até hoje, embora agora os gols já
não sejam mais talhados nas traves, e sim registrados nos placares eletrônicos dos estádios.
A meta, feita em ângulos retos, não tem forma arqueada, mas ainda a chamamos de arco em
alguns países, e chamamos de arqueiro quem a defende, talvez porque os estudantes dos
colégios ingleses tenham usado como metas as arcadas dos pátios.
Em 1872, apareceu o árbitro. Até então, os jogadores eram seus próprios juízes, e eles
mesmos sancionavam as faltas que cometiam. Em 1880, cronômetro na mão, o árbitro decidia
quando terminava a partida e tinha o poder de expulsar quem se portasse mal, mas ainda
dirigia de fora e aos gritos. Em 1891, o árbitro entrou em campo pela primeira vez, usando
um apito; marcou o primeiro pênalti da história e caminhando doze passos assinalou o lugar
da cobrança. Fazia muito tempo que a imprensa britânica vinha fazendo campanha a favor
do pênalti. Era preciso proteger os jogadores na boca do gol, que era cenário de chacinas. A
Gazeta de Westminster havia publicado uma impressionante lista de jogadores mortos e de
ossos quebrados.
Depois morreu o século, e com ele terminou o monopólio britânico. Em 1904 nasceu a
FIFA, Federação Internacional de Futebol Associado, que desde então governa as relações
entre a bola e o pé no mundo inteiro. Ao longo dos campeonatos mundiais, a FIFA introduziu
poucas mudanças naquelas regras britânicas que organizaram o jogo.
Comentários:
Gabarito: C
8 - Considerações Finais