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PORTUGUESA A 01
Gêneros e Tipos Textuais
A COMUNICAÇÃO HUMANA: a personagem aparece medindo a própria cabeça e não
há nenhuma indicação verbal do que ela esteja fazendo,
NOÇÕES DE LINGUAGEM a imagem é que deve abarcar todos os sentidos. No último
quadrinho, em que há presença de linguagem verbal, Mafalda
E LÍNGUA se questiona a respeito da própria capacidade de apreender
Para que possamos iniciar nossos estudos acerca do as informações que serão transmitidas a ela durante a vida.
Se esse quadrinho fosse retirado, certamente o leitor teria
texto, seus tipos e gêneros, é necessário que entendamos
dificuldade em compreender o sentido pretendido, já que o
um pouco o processo de comunicação humana e o uso das
desfecho e a crítica feita pelo quadrinista sobre o excesso e
linguagens.
a superficialidade das informações estão na fala da menina.
A linguagem que utilizamos para nos comunicar é produto Essa heterogeneidade linguística é um elemento típico dos
de uma cultura e, por isso, pode ser transmitida através das quadrinhos, das charges, dos cartuns e da publicidade de
gerações; é considerada uma “capacidade humana”, ou seja, maneira geral, como veremos nos exemplos a seguir.
Divulgação
Texto: “Agora você vê.” / “Agora não.”
Já o exemplo anterior apresenta uma campanha contra o consumo de álcool por quem dirige, patrocinada por uma marca
de automóveis. Para compreender essa propaganda, o leitor precisa mobilizar vários conhecimentos, a fim de construir o
significado pretendido. Nela, há a imagem de duas latas de cerveja, que representam os retrovisores de um carro. No primeiro
quadro, a lata / retrovisor reflete a imagem de uma bicicleta, que estaria atrás do veículo cujo retrovisor é representado.
No segundo, a lata aberta indica que o motorista consumiu a bebida contida ali. Nesse momento, a imagem da bicicleta não
aparece mais, indicando que, ao ingerir uma bebida alcoólica, os sentidos do motorista ficam comprometidos e ele passa a
não mais enxergar os veículos que transitam ao seu redor, podendo provocar, por isso, algum acidente. No plano verbal, os
dizeres “agora você vê” e “agora não” indicam essa alteração causada pela bebida. Tais inferências são acionadas rapidamente
e permitem ao leitor apreender o sentido pretendido no texto.
Quando nos comunicamos, fazemo-lo por alguma razão, com algum objetivo, porque temos algo a dizer a alguém e
esperamos ser compreendidos. Dessa maneira, para que a comunicação se efetive, é necessário que a mensagem faça
sentido, não só para quem a está produzindo, mas também para quem a está recebendo.
Essa ideia de língua como instrumento de interação social pode ser reconhecida na tirinha anterior, em que o garoto
Calvin diz para o seu pai que a língua não é fixa e qualquer palavra pode ter qualquer significado, dependendo de quem
a usa. Logo, como o pai não entenderá o significado das palavras que ele inventou, não poderão mais se comunicar.
Por outro lado, o garoto não sabe que o pai também é detentor de um conhecimento linguístico que ele não compreende
(gírias antigas, por exemplo). Isso mostra como a língua é mutável, adaptável, e como a sua apreensão é importante na
interação sociocomunicativa.
A flexibilidade da língua, que se adapta às situações comunicativas nas quais ela se realiza, relaciona-se com a função
exercida pela linguagem na construção de sentidos no mundo. No poema a seguir, de Manoel de Barros, o tema da atribuição
de sentidos pela língua é abordado de maneira poética, por meio de metáforas. Leia-o.
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LÍNGUA PORTUGUESA
As coisas todas inominadas. • o interlocutor (leitor ou ouvinte), que, diante
Água não era ainda a palavra água. das pistas deixadas no texto, dos conhecimentos
Pedra não era ainda a palavra pedra. mobilizados ou adquiridos e do contexto, pode ser
E tal. capaz de construir os sentidos que concretizam
a comunicação.
As palavras eram livres de gramáticas e
KOCH, Ingedore Villaça. Desvendando os segredos do texto.
podiam ficar em qualquer posição.
7. ed. São Paulo: Cortez, 2011. [Fragmento]
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor. Diante disso, pode-se afirmar que usar a língua é uma
Podia dar ao canto formato de sol.
forma de interagir com o outro, de agir socialmente, e isso
só acontece por meio de textos.
E, se quisesse caber em uma abelha, era
só abrir a palavra abelha e entrar dentro
dela.
Como se fosse infância da língua.
O que é língua
CANÇÃO DO VER – In: Poesia Completa, de Manoel de Barros,
Leya, São Paulo © by herdeiros de Manoel de Barros. Nessa videoaula, vamos discutir os diferentes
SWW1
conceitos de língua.
Para exemplificarmos o que foi dito, observemos os Assim, por não ser coeso, coerente e não apresentar bom
exemplos: nível de informatividade, não haverá, também, por parte
de possíveis interlocutores, sua aceitabilidade. Contudo, se
o contexto no qual esse conjunto fosse veiculado deixasse
entrever uma intenção comunicativa (um anúncio publicitário
ou a apresentação de palavras-chave acerca de determinado
tema em um seminário, por exemplo), ele passaria a
ser considerado um texto, pois atenderia ao princípio
da intencionalidade.
Nesse caso, o texto está correto, é socialmente compreendido, Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando
mas a sua função e seu sentido na situação comunicativa são pra frente. Ou para o lado. Ou para trás. Ou não se toca.
inadequados, e a sinalização pode provocar acidentes, em Parado. Encostado. Sentado. Deitado. De cócoras. Olhando.
vez de preveni-los. Sofrendo. Amando. Calculando. Dormindo. Roncando.
Pesadelando. Fungando. Bocejando. Perregando. Adiando.
assimsessão
Morrendo.
tempo mundo
colibri que
capacidade feriado Em redor, não cessam explosões interjetivas. Coitado!
belo Tadinho... Canalha! Cachorro! Pilantra! Dedo-duro! Bandido!
chá vírgula emprego
texto
para caderno foi brasil arroz
carro jantar
Querido! Amoreco! Peste! Boneco! Flor!
porém
mulher
caderno biblioteca E vêm outras vozes breves, no vão do vaivém:
o
chocolate
hotel
lhe [...]
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LÍNGUA PORTUGUESA
aquelas colocadas de forma clara e evidente na superfície essa frase fosse dita na seguinte situação:
textual – e implícitas – as que não se mostram na superfície, “– Maria, meu irmão Pedro tornou-se triste. Ele fez exame
mas que exigem do leitor manobras intelectuais para serem de direção ontem. Ele se tornou uma pessoa triste.
vistas, reveladas. Em casos como este que está a dificuldade
– Coitado, Ana, foi reprovado?
de compreensão das questões do Enem e de outros
vestibulares. Dada a dificuldade para enxergá-las, será o – Na verdade, não. Mas nem a aprovação o fez feliz;
foco desse capítulo a leitura das informações implícitas. anda triste desde que vovó faleceu.”
Ler implícitos textuais dialoga intimamente com a Percebemos que nesse diálogo há uma expectativa de
habilidade de inferir. A inferência é um mecanismo de leitura inicial que não se sustenta no fim da narrativa.
conclusão, de dedução, por meio das pistas textuais, as quais O contexto da primeira fala leva tanto nós leitores quanto
se mostram em elementos linguísticos, no contexto em que a personagem Maria a entender que Pedro teria sido
o texto foi escrito, no estilo intrínseco ao autor, no gênero reprovado; há uma forte insinuação para isso. Percebemos,
textual e na tipologia predominante, entre outros fatores. entretanto, que não há marcas linguísticas evidentes que
sinalizam a reprovação, não há pressupostos. Tanto é assim
Pressupostos e subentendidos que a expectativa é quebrada, já que na verdade a tristeza se
relaciona à perda do ente querido, e não à reprovação, a qual
A seguir são apresentados os dois mecanismos principais nem existiu, pois Pedro foi aprovado. Na última fala, porém,
de implicitação, para que sejam analisadas quais são as há um pressuposto, o de que era esperado que a aprovação
leituras impossíveis, as possíveis e as eventualmente do exame revigorasse a alegria (por meio da superação da
possíveis em um tecido textual. São dois os implícitos tristeza) no sujeito Pedro; a personagem usa a expressão
principais: o pressuposto e o subentendido. “mas nem”, instaurando esse pressuposto.
Subentendidos
Reinaldo Rocha
A imagem anterior ilustra bem a ideia de que a Uma leitura inadmissível aqui seria a que interpretasse que
comunicação acontece, frequentemente, mais por aquilo o autor do texto defende que cachorros não precisam acessar
que está implícito ou insinuado que por aquilo que está tais bens. Inadmissível porque, no texto que finaliza a
campanha – “Apadrinhe. Igual ao João, milhares de crianças
explícito ou na superfície do texto. O autor desse texto
também precisam de um melhor amigo. Seja o melhor amigo
define subjetivamente o sentimento amoroso e, por meio de uma criança.” –, o advérbio “também” deixa pressupor
do marcador de pressuposição “mesmo quando”, leva-nos que as crianças precisam desses pertences, assim como os
a inferir (pressupor, nesse caso) que irritabilidade não é, cães, ou vice-versa. Em outras palavras, o autor não quer
de fato, um estorvo à prática do amor. A locução “mesmo retirar os bens dos cães, mas mostrar que são necessários
também às crianças. O autor, ainda, ao colocar como melhor
quando” tem valor concessivo, isto é, suaviza uma
amigo qualquer cidadão (e não o cachorro, como é feito no
contradição: poderíamos esperar que, ao estarmos com senso comum), leva-nos a inferir (por subentendido) que
raiva, zangados, não nos preocuparíamos com o cuidar do possibilitar à criança o acesso a bens (inclusão social) é uma
outro; o sentimento amoroso, entretanto, anula essa ideia atitude amiga, altruísta, por isso digna.
ao sempre exigir estar atento ao outro. Disso, surge uma Muitos são os caminhos para a construção eficiente da
insinuação, um subentendido, o de que o amor é talvez um interpretação de textos. A figuratividade e a implicitação
estão nos textos independentemente do gênero. Interpretar,
sentimento mais nobre. Essa ideia está subentendida porque
obviamente, envolve muitos outros conhecimentos, como
não conseguimos atestar ter sido de fato a intenção de quem já dito. Quando falamos sobre redação, por exemplo,
elaborou o texto. Socioculturalmente, contudo, a leitura, a explanamos sobre vários conceitos, como tese, argumentos,
interpretação, é permitida. coesão, coerência, fatores de textualidade, etc., tudo de
maneira a concorrer para uma leitura eficaz de textos.
Texto II O importante é que o leitor, quando colocado sob o teste de
questões, fique atento aos aspectos linguísticos e ao recorte
sinalizado pelos enunciados. Quando nos perguntam, por
exemplo, sobre inferência, a análise será mais abrangente
do que se tivessem nos perguntando especificamente sobre
pressuposição. É importante, enfim, estar sempre lendo,
sejam jornais com sua multiplicidade de gêneros, sejam
as manifestações artísticas – cinema, literatura, música,
teatro –, tudo como forma de adquirir amplo repertório
para perceber as figuras, os temas, os pressupostos e os
subentendidos, bem como o universo interpretativo de
informações a que esses conceitos nos conduzem.
OS GÊNEROS TEXTUAIS
Conforme estudamos até agora, a língua é produto das
ações e interações sociais e históricas e materializa-se por
Divulgação
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