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Gabriel Sousa
As hipoplasias fisiológicas mais comuns são a intensidade e a extensão das alterações celulares.
involução do timo a partir da puberdade e a de gônadas Assim, fala-se em neoplasia intraepitelial cervical
no climatério. Na senilidade, ao lado de hipotrofia (NIC).
também existe hipoplasia de órgãos, por aumento de
apoptose. ◗ Neoplasia: A proliferação celular autônoma, em
geral acompanhada de perda ou redução da
Entre as hipoplasias patológicas, as de maior interesse diferenciação, é chamada neoplasia
são as da medula óssea provocadas por agentes tóxicos
ou por infecções. Disso resulta anemia aplásica (mais “Neoplasia pode ser entendida como a lesão
corretamente, hipoplásica) constituída por proliferação celular anormal,
descontrolada e autônoma, em geral com perda ou
◗ Aplasia: redução de diferenciação, em consequência de
alterações em genes ou proteínas que regulam a
ALTERAÇÕES DA DIFERENCIAÇÃO CELULAR multiplicação e a diferenciação das células.”
◗ Metaplasia: Quando as células de um tecido Nesse contexto, o que diferencia uma neoplasia de
modificam seu estado de diferenciação normal, tem- uma displasia e hiperplasia é exatamente a autonomia
se metaplasia (do grego meta = variação, mudança). de proliferação.
Significa mudança de um tipo de tecido adulto As neoplasias benignas geralmente não são letais nem
(epitelial ou mesenquimal) em outro da mesma causam sérios transtornos para o hospedeiro; por isso
linhagem: um tipo de epitélio transforma-se em outro mesmo, podem evoluir durante muito tempo e não
tipo epitelial; um epitélio, porém, não se modifica em colocam em risco a vida do seu portador. As malignas
tecido mesenquimal. em geral têm crescimento rápido e muitas provocam
perturbações homeostáticas graves que acabam
Metaplasia resulta da inativação de alguns genes (cuja levando o indivíduo à morte.
expressão define a diferenciação do tecido que sofre
metaplasia) e desrepressão de outros (que ◗ Anaplasia: Atipia acentuada e perda completa das
condicionam o novo tipo de diferenciação). características morfológicas de uma célula
caracterizam a anaplasia.
Em princípio, metaplasia resulta de irritação
persistente que leva ao surgimento de um tecido mais O termo diferenciação refere-se à extensão com que
resistente. No entanto, o tecido metaplásico pode as células do parênquima neoplásico assemelhamse às
resultar em menor proteção ao indivíduo: na células parenquimatosas normais correspondentes,
metaplasia escamosa da árvore brônquica no tanto morfológica quanto funcionalmente; a falta de
tabagismo, por exemplo, há prejuízo na síntese de diferenciação é denominada anaplasia.
muco e desaparecimento dos cílios, ambos
importantes como defesa do organismo contra Neoplasias malignas que são compostas por células
infecções. pouco diferenciadas são denominados anaplásicas. A
falta de diferenciação, ou anaplasia, é considerada
uma marca da malignidade. O termo anaplasia
ALTERAÇÕES DA PROLIFERAÇÃO E DA
significa “formar-se para trás”, indicando uma
DIFERENCIAÇÃO CELULARES
reversão da diferenciação para um nível mais
◗ Displasia: Quando há proliferação celular e redução primitivo.
ou perda de diferenciação, tem-se a displasia.
TUMOR X CÂNCER X NEOPLASIA
Os exemplos mais conhecidos são displasias epiteliais,
nas quais ocorrem aumento da proliferação celular e O termo “tumor” é mais abrangente, pois significa
redução na maturação das células, que podem qualquer lesão expansiva ou intumescimento
apresentar algumas atipias celulares e arquiteturais. localizado, podendo ser causado por muitas lesões
(inflamações, hematomas etc.). Neste texto, o termo
A atipia mais importante em displasias é a tumor será empregado como sinônimo de neoplasia,
cariomegalia, por alterações no conteúdo de DNA. que é a lesão expansiva formada por aumento do
número de células.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) atribui às
displasias em epitélios a denominação neoplasias O termo câncer é a tradução latina da palavra grega
intraepiteliais, de baixo ou alto grau, conforme a carcinoma (de karkinos = crustáceo, caranguejo). Foi
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usado pela primeira vez por Galeno (aproximadamente A suspeita de relação entre câncer e inflamação é
138 a 201 d.C.) para indicar um tumor maligno da antiga, tendo Virchow admitido que os tumores
mama no qual as veias superficiais do órgão eram surgiam em tecidos cronicamente inflamados.
túrgidas e ramificadas, lembrando as patas de um
caranguejo. É uma síndrome ocasionada por uma Além de citocinas e de quimiocinas que contribuem
neoplasia maligna. para o crescimento do tumor, inflamação crônica
favorece a carcinogênese também pelo ambiente pró-
Neoplasia pode ser entendida como a lesão oxidante por ela criado, com excesso de radicais livres,
constituída por proliferação celular anormal, os quais aumentam o número de mutações e
descontrolada e autônoma, em geral com perda ou favorecem instabilidade do genoma.
redução de diferenciação, em consequência de
alterações em genes ou proteínas que regulam a Citocinas pró-inflamatórias, PGE2 e radicais livres
multiplicação e a diferenciação das células. reduzem a expressão de proteínas do complexo MMR
(complexo reparador de pareamento errado do
CARCINOGÊNESE DNA), favorecendo instabilidade genômica, detectada
já em estágios pré-neoplásicos no carcinoma
colorretal. Também podem inibir parcialmente a
VIAS DE DISSEMINAÇÃO DE CÉLULAS CANCEROSAS
atividade da p53 e de algumas proteínas envolvidas na
Via linfática: É a principal via de disseminação inicial checagem da formação do fuso mitótico, favorecendo
de carcinomas. Como regra, o primeiro sítio das o surgimento de aneuploidia.
metástases é o primeiro linfonodo na via de drenagem
linfática do tumor, chamado linfonodo sentinela. P53
Carcinogênese
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inibidoras do ciclo celular, como p21, p27 e p57, as O primeiro e o mais conhecido gene supressor de tumor
quais inibem CDK. é o gene do retinoblastoma (gene RB). A pRB existe nas
formas hipo ou hiperfosforilada. Em células em
Sem ativação de CDK, a pRB permanece repouso, a pRB encontra-se na forma hipofosforilada e
hipofosforilada (ativa) e não libera os fatores de fica ligada a fatores de transcrição da família E2F.
transcrição, bloqueando as células em G1 (esse fato Acoplado à pRB, o E2F não se liga ao DNA, não havendo
ilustra a interação e a cooperação entre pRB e p53). transcrição de genes que ativam a replicação do DNA
Essa “parada” de proliferação dá tempo para que os e a progressão do ciclo celular
sistemas de reparo do DNA corrijam o defeito
provocado, impedindo sua propagação nas gerações A pRB perde sua função por: (1) mutações no gene,
celulares seguintes. Caso tais defeitos no DNA não herdadas ou adquiridas. Tais mutações alteram o sítio
possam ser corrigidos, a p53 induz a célula a entrar de ligação da pRB com o E2F e, com isso, este fica
senescência ou em apoptose, esta por estimulação do disponível para se ligar ao DNA e induzir a divisão
gene BAX, prevenindo que a mutação seja transmitida celular; (2) ligação a proteínas de vírus oncogênicos,
às novas células. que ocupam o sítio de ligação da RB com o E2F. A
proteína E7 do HPV, a proteína E1A do adenovírus e o
antígeno T do vírus SV-40 ligam-se à pRB e bloqueiam
sua ligação ao E2F.
PROTEÍNA RETINOBLASTOMA
P16
A p16 inibe a MDM2, permitindo a atuação da p53. A
MDM2 encontra-se hiperexpressa em alguns tumores
humanos. Após agressões variadas ao genoma, ocorre
aumento na síntese de p53, a qual se liga ao DNA e
estimula vários genes cujos produtos reduzem a divisão
celular (parada do ciclo celular), induzem apoptose ou
levam as células à senescência. Por tudo isso, a p53
tem enorme importância na manutenção da
homeostase celular; anormalidades em sua síntese ou
em sua estrutura associam-se a grande número de
lesões proliferativas.
ETAPAS DA CARCINOGÊNESE
Iniciação - o agente carcinogênico induz alterações
genéticas permanentes nas células.
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Por terem ação irreversível, os agentes iniciadores têm verifica em alguns tumores da mama e da próstata.
efeito quando administrados de uma única vez ou em Esses dois são exemplos de que a progressão dos
doses fracionadas (efeitos cumulativo e somatório). O tumores, assim como a carcinogênese como um todo,
iniciador é sempre uma substância mutagênica. é um processo de seleção natural (darwiniano) em que
há predomínio de clones e subclones que adquirem
Nem toda agressão ao DNA leva a transformação propriedades que oferecem vantagens às células
celular, pois os genes de reparo podem corrigir os neoplásicas na proliferação e na invasão.
defeitos ocorridos. A célula atingida pelo iniciador e
cujo defeito no DNA não é corrigido precisa sofrer pelo A iniciação pode ser induzida por uma única aplicação
menos uma divisão para que a iniciação ocorra. de um agente cancerígeno, mesmo que em dose baixa.
A promoção depende de contato mais prolongado com
promoção - a célula iniciada é estimulada a proliferar, o agente promotor, que precisa ser aplicado após o
amplificando o clone transformado. iniciador.]
Além da aquisição de novas características intrínsecas Além da aquisição de novas características intrínsecas
das células tumorais, a progressão dos tumores das células tumorais, a progressão dos tumores
depende também de fatores do hospedeiro. A resposta depende também de fatores do hospedeiro. A resposta
imunitária, por exemplo, tem papel de destaque. Se os imunitária, por exemplo, tem papel de destaque. Se
novos clones celulares adquirem forte antigenicidade, os novos clones celulares adquirem forte
provavelmente são eliminados. antigenicidade, provavelmente são eliminados. O
estado hormonal é outro elemento na evolução das
O estado hormonal é outro elemento na evolução das neoplasias dependentes de hormônios, como se
neoplasias dependentes de hormônios, como se verifica em alguns tumores da mama e da próstata.
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Esses dois são exemplos de que a progressão dos
tumores, assim como a carcinogênese como um todo,
é um processo de seleção natural (darwiniano) em que
há predomínio de clones e subclones que adquirem
propriedades que oferecem vantagens às células
neoplásicas na proliferação e na invasão.
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