Você está na página 1de 17

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA POUSO ALEGRE

JULIANA AQUINO

DA INCLUSÃO DOS ALUNOS AUTISTAS NA EDUCAÇÃO:


Principais dificuldades e caminhos apresentados

POUSO ALEGRE

2023
JULIANA AQUINO

DA INCLUSÃO DOS ALUNOS AUTISTAS NA EDUCAÇÃO:


Principais dificuldades e caminhos apresentados

Trabalho apresentado ao Curso de Direito como requisito parcial


para aprovação da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II,
artigo científico, pela orientanda Juliana Aquino, RA 111.920.830

Professor Orientador: Allan Ramalho

POUSO ALEGRE

2023
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
POUSO ALEGRE

DA INCLUSÃO DOS ALUNOS AUTISTAS NA EDUCAÇÃO:


Principais dificuldades e caminhos apresentados

RESUMO:
A inclusão de alunos autistas na educação é um tema de grande relevância e um grande desafio para a
sociedade atual. Garantir uma educação inclusiva é um direito fundamental, e é necessário enfrentar as
dificuldades e buscar caminhos que promovam uma educação de qualidade para todos. Este artigo
apresenta uma análise das principais dificuldades enfrentadas na inclusão de alunos autistas e explora
as estratégias e abordagens que têm sido adotadas para garantir a participação plena desses alunos no
ambiente escolar. A conscientização e o conhecimento sobre o autismo são fundamentais para que as
instituições de ensino possam criar ambientes acolhedores e oferecer recursos e suportes adequados.
Também é fundamental que haja uma colaboração assertiva entre a escola e as famílias, para que o
aluno se sinta acolhido e se desenvolva em todos os âmbitos. A pesquisa baseou-se em citações de
autores renomados, proporcionando embasamento teórico para a argumentação crítica e reflexiva
apresentada, enquanto a metodologia escolhida para a obtenção dos dados foi uma pesquisa
exploratória qualitativa, que permitiu explorar e compreender o significado atribuído ao tema,
buscando a melhor compreensão do tema apresentado. A conclusão destaca a importância de
promover a inclusão dos alunos autistas na educação, reconhecendo suas habilidades e necessidades
individuais, e buscando o fortalecimento de uma educação inclusiva e igualitária.

Palavras-Chave: Inclusão, Autismo, Educação, Dificuldades, Estratégias.

ABSTRACT:
The inclusion of autistic students in education is a topic of great relevance and challenge in today's
society. Ensuring inclusive education is a fundamental right, and it is necessary to address the
difficulties and seek paths that promote quality education for all. This article presents an analysis of
the main difficulties faced in the inclusion of autistic students and explores the strategies and
approaches that have been adopted to ensure the full participation of these students in the school
environment. Awareness and knowledge about autism are crucial for educational institutions to create
welcoming environments and provide appropriate resources and supports. It is also fundamental that
there is an assertive collaboration of the school and the families, for the student to feel welcome and
develop in every area. The research was based on quotations from renowned authors, providing a
theoretical basis for the critical and reflective argumentation presented, while the methodology chosen
to obtain the data was a qualitative exploratory research, which allowed exploring and understanding
the meaning attributed to the theme, seeking to better understanding of the topic presented. The
conclusion highlights the importance of promoting the inclusion of autistic students in education,
recognizing their abilities and individual needs, and striving for the strengthening of inclusive and
equitable education.

Keywords: Inclusion, Autism, Education, Difficulties, Strategies.


1.INTRODUÇÃO

A educação inclusiva é uma pauta bastante debatida na atualidade e traz consigo inúmeras
problemáticas e diferentes propostas com o objetivo de tornar - na prática - o ambiente escolar, um
local que não apenas acolhe, mas detém dos recursos suficientes para receber aos indivíduos que
possuem alguma deficiência intelectual.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (nº 13.146/2015), a Constituição


Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9.394/1996) e, em São Paulo, na Lei
Estadual nº 16.925/2019, prevê a garantia dos direitos e a inclusão do aluno com deficiência. Contudo
o cenário atual da maioria das escolas aponta na direção contrária, com a ausência de profissionais
formados e capacitados para o apoio e desenvolvimento desses indivíduos, bem como o descaso no
que diz respeito à estrutura adequada para recebê-los.

Nesse artigo trataremos especificamente sobre o TEA (Transtorno do Espectro autista), mais
conhecido como autismo, tal qual é caracterizado como transtorno do desenvolvimento que afeta a
comunicação, o comportamento e as interações sociais. Dentro do espectro existem diferentes
manifestações com suas especificidades, podendo cada uma apresentar variadas ramificações. Os
alunos autistas possuem particularidades que podem dificultar o aprendizado em um ambiente escolar
convencional, exigindo atenção especial e recursos específicos para atender às suas necessidades.

Frente a esse contexto, abordaremos a importância da difusão do conhecimento sobre o tema,


bem como, as práticas educacionais eficazes para promover a inclusão dessas crianças na escola.
Além disso, exploraremos as barreiras enfrentadas pelos educadores e pais na busca da educação
inclusiva para crianças autistas e como superá-las.

Em última análise, o objetivo é propor uma reflexão sobre as inquietantes questões que
envolvem as evidentes lacunas dentro da educação brasileira, e propor alternativas para valorização,
respeito à diversidade e educação que pode mudar o mundo.

A metodologia escolhida para a obtenção dos dados foi uma pesquisa exploratória qualitativa,
que permite explorar e compreender o significado atribuído ao tema, buscando a melhor compreensão
do tema apresentado. Para melhor definir e detalhar, foi necessário a leitura e estudo de artigos
acadêmicos, livros e até mesmo as leis que esmiúçam o assunto, dentre eles, A Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (nº 13.146/2015), a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (nº 9.394/1996) e a Lei Estadual nº 16.925/2019 que estabelecem o
direito à educação inclusiva e à acessibilidade para as pessoas com deficiência, incluindo o autismo. A
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Dutra et al., 2008) é
uma referência importante para o planejamento e implementação de estratégias de inclusão
educacional para alunos com autismo. A política destaca a importância de práticas pedagógicas
inclusivas, do uso de tecnologias assistivas e de estratégias de suporte individualizado para garantir a
igualdade de oportunidades e o acesso à educação para todos os alunos.

Para uma educação inclusiva efetiva, é importante compreender as características e


necessidades específicas dos alunos com autismo. A obra de Kanner (1943) é um marco na história do
entendimento do autismo, e a definição de autismo evoluiu ao longo do tempo. Miller et al. (2007)
discutem a relação entre as dificuldades sensoriais e a comunicação e comportamento dos indivíduos
com autismo, enquanto Bosa (2002) apresenta uma revisão sobre as diferentes interpretações do
autismo ao longo da história.
Baron-Cohen et al. (1985) propuseram a teoria da mente, que sugere que os indivíduos com
autismo têm dificuldade em compreender as intenções e emoções dos outros. Esse conceito tem sido
importante para o desenvolvimento de intervenções educacionais. Muitas outras leituras foram feitas,
para fundamentar uma análise aprofundada, contendo ao final deste artigo todas as referências
utilizadas.

Além destes, foram pesquisados artigos por meio de plataformas de busca, como o Google
Scholar, por exemplo.

1.1 Introdução Ao Autismo: Conceitos E Definições;

Segundo o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição), o


autismo é caracterizado pela presença de déficits persistentes na comunicação social e na interação
social em múltiplos contextos, bem como por padrões restritos e repetitivos de comportamento,
interesses ou atividades. O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição que abrange diversas
manifestações e níveis de gravidade do autismo (APA, 2013). Mello (2007, p. 16) descreve o autismo
como um distúrbio do desenvolvimento que se caracteriza por alterações presentes desde idade muito
precoce, tipicamente antes dos três anos de idade, com impacto múltiplo e variável em áreas nobres do
desenvolvimento humano como as áreas de comunicação, interação social, aprendizado e capacidade
de adaptação.

Kanner (1943), em um dos primeiros relatos sobre o autismo, descreveu a condição como um
distúrbio do contato afetivo, com uma completa ausência de interação social e comunicação. Desde
então, a compreensão do autismo evoluiu significativamente, sendo que, atualmente, entende-se que a
condição é influenciada por diversos fatores, incluindo fatores genéticos, biológicos e ambientais
(Baio et al., 2018).

Há diversas teorias que buscam explicar os mecanismos subjacentes ao autismo. Uma das mais
conhecidas é a teoria da mente, proposta por Baron-Cohen et al. (1985), que postula que as pessoas
com autismo têm dificuldade em compreender as emoções e intenções de outras pessoas. Outra teoria
é a hipótese da integração sensorial, que sugere que os indivíduos com autismo apresentam
dificuldades em integrar adequadamente informações sensoriais (Miller et al., 2007).

Apesar dos avanços na compreensão do autismo, ainda há muito a ser descoberto sobre a
condição. Diversas pesquisas buscam investigar e desenvolver tratamentos mais efetivos para a
condição. É fundamental que a sociedade como um todo trabalhe para entender e apoiar essas pessoas,
garantindo-lhes os direitos e oportunidades necessárias para uma vida plena e inclusiva.

2 DAS DIFICULDADES E DA NECESSIDADE DE ADAPTAÇÃO

Assim, como visto no tópico anterior, ainda há muita pesquisa a ser realizada para que a
inclusão real dos alunos portadores de espectro autista, seja feita. Logo, a inclusão escolar de alunos
com autismo exige um olhar atento e especializado por parte dos educadores de apoio e professores
que atuam em sala de aula. Pois, como dito, apesar dos avanços na compreensão do autismo, ainda há
muito a ser descoberto sobre a condição. Afinal, cada aluno com autismo tem suas particularidades e
demandas específicas que precisam ser atendidas de maneira personalizada para que o processo de
ensino e aprendizagem seja efetivo e inclusivo.

Por consequência, a capacitação e especialização dos educadores de apoio e professores é


fundamental para garantir a inclusão e o sucesso desses alunos na escola. A formação específica em
autismo deve incluir conceitos básicos sobre o transtorno, as principais características dos alunos com
autismo e as estratégias pedagógicas mais eficazes para atender às suas necessidades.

Os educadores de apoio e professores que se especializam em autismo podem contribuir de


forma significativa para o desenvolvimento dos alunos com autismo. A especialização permite aos
educadores de apoio e professores entenderem melhor as particularidades e as dificuldades desses
alunos, bem como as possibilidades de estimulação e aprendizagem.

A capacitação em autismo pode ser feita por meio de cursos de formação continuada,
pós-graduação ou outros tipos de capacitação. Além disso, é importante que os educadores de apoio e
professores tenham acesso a materiais didáticos e recursos tecnológicos que possam auxiliá-los no
processo de ensino e aprendizagem dos alunos com autismo, e assim, para que a especialização em
autismo não se limite apenas a um aprimoramentto técnico e metodológico. Ela também envolve uma
postura mais empática e acolhedora por parte dos educadores de apoio e professores, que devem estar
preparados para lidar com as emoções e as necessidades específicas dos alunos com autismo.

Outro ponto importante é que a especialização em autismo deve ser encarada como um
processo contínuo, já que o conhecimento sobre o transtorno, e as suas diferentes manifestações, está
em constante evolução. Os educadores de apoio e professores devem estar sempre atualizados e
dispostos a aprender e a se atualizar para atender às necessidades dos alunos com autismo.

Para as escolas, a capacitação e especialização dos educadores de apoio e professores em


autismo deve ser encarada como um investimento importante para garantir a inclusão e o sucesso dos
alunos com autismo na escola. Além disso, é fundamental que as escolas ofereçam suporte e recursos
para que os educadores de apoio e professores possam aplicar o conhecimento adquirido em sua
formação. Deste modo, para que possa haver uma real adaptação dos alunos ao sistema educacional, é
necessário haver uma real inclusão destes em sala de aula, não com uma única “fórmula mágica”, mas
respondendo à realidade presente, como emoções conflitantes, por exemplo.

2.1 Educação e Inclusão

A inclusão de alunos autistas na educação regular é um desafio que requer uma abordagem
multidisciplinar. Segundo Fava (2019), a inclusão de alunos autistas na educação deve ser baseada em
uma abordagem centrada no aluno, na qual a escola deve estar preparada para atender às necessidades
específicas de cada aluno, levando em conta suas características e necessidades individuais. Isso pode
incluir a adoção de estratégias pedagógicas específicas, como o uso de imagens e recursos visuais, a
repetição de informações importantes e a redução de estímulos que possam distrair ou sobrecarregar o
aluno. De maneira geral, no entanto, os alunos com autismo geralmente precisam de um ambiente de
aprendizagem estruturado, previsível e visualmente organizado. Eles podem se beneficiar de rotinas
claras, horários e instruções consistentes.
Além disso, os alunos autistas podem precisar de suporte adicional na comunicação e interação
social, incluindo a possibilidade de uso de recursos de comunicação alternativa e ampliada, como
sistemas de comunicação por imagem ou tecnologias assistivas. Os professores e educadores também
devem estar cientes das sensibilidades sensoriais dos alunos autistas e trabalhar para criar um
ambiente de aprendizagem confortável, minimizando estímulos excessivos, como ruídos altos ou luzes
fortes.
Os alunos autistas também podem se beneficiar de atividades e instruções que os ajudem a
desenvolver habilidades sociais, como a compreensão de emoções e a interação com os outros. A
inclusão em atividades extracurriculares e grupos de interesse pode ajudar a promover a socialização e
o envolvimento com a comunidade escolar.
As definições do público alvo devem ser contextualizadas e não se esgotam na mera
categorização e especificações atribuídas a um quadro de deficiência, transtornos, distúrbios e
aptidões. Considera-se que as pessoas se modificam continuamente transformando o contexto
no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a
situação de exclusão, enfatizando a importância de ambientes heterogêneos que promovam a
aprendizagem de todos os alunos (DUTRA et al., 2008, p. 15).

Segundo Ferreira (2018), a inclusão de alunos autistas na educação regular deve ser baseada
em três pilares: adaptações curriculares, metodologias e estratégias pedagógicas adequadas e a
formação dos profissionais envolvidos.

Os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos


recursos pedagógicos e a comunicação que favoreçam a promoção da aprendizagem e a
valorização das diferenças, de forma a atender as necessidades educacionais de todos os
alunos (BRASIL, 2010, p. 24).

É fundamental que haja uma parceria efetiva entre a escola e a família dos alunos com
autismo, para garantir que haja uma comunicação constante e uma compreensão mútua das
necessidades do aluno. Os pais e responsáveis também podem colaborar com a escola, compartilhando
informações sobre o histórico médico do aluno, por exemplo, e auxiliando na elaboração de um plano
de intervenção personalizado.
A colaboração entre os profissionais da educação, como os professores, psicólogos,
fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, é essencial para o sucesso da inclusão de alunos autistas na
educação regular. Essa abordagem multidisciplinar permite uma visão abrangente das necessidades do
aluno, garantindo que as estratégias e intervenções sejam adaptadas de acordo com suas
especificidades.

É importante ressaltar que a inclusão de alunos autistas na educação regular não se trata apenas
de garantir acesso físico à escola, mas também de promover uma participação ativa e significativa no
processo de ensino e aprendizagem. Para isso, é necessário fornecer suportes adequados, tanto na sala
de aula como em outros contextos escolares.

Um dos desafios enfrentados pelos educadores nesse processo é a falta de conhecimento e


formação sobre o autismo. Para superar essa lacuna, é fundamental investir em capacitação e
atualização dos profissionais da educação, proporcionando-lhes informações atualizadas sobre o
autismo, estratégias de ensino, manejo de comportamentos desafiadores e formas de promover a
inclusão e interação social dos alunos autistas.

Além disso, é importante fomentar a conscientização e a sensibilização de toda a comunidade


escolar, incluindo os demais alunos, para que haja compreensão e respeito em relação às diferenças. A
criação de um ambiente acolhedor e inclusivo, livre de estigmatização e preconceito, é essencial para
que os alunos autistas se sintam integrados e valorizados, mas também é válido ressaltar que a
inclusão de alunos autistas na educação regular não é uma abordagem única para todos os alunos.
Cada aluno possui características e necessidades individuais, e é importante adaptar as estratégias e
intervenções de acordo com essas especificidades. A flexibilidade e a personalização são essenciais
para garantir o sucesso da inclusão e o desenvolvimento pleno de cada aluno autista.

O papel dos pais nesse processo é essencial, comunicando com a escola, as necessidades e
peculiaridades que cada aluno portador de espectro autista tem, para que a escola possa também se
adaptar de um modo melhor para que esse aluno seja incluído de modo assertivo.

Portanto, a inclusão de alunos autistas na educação regular é um desafio que requer uma
abordagem multidisciplinar, com a colaboração entre os profissionais da educação e o apoio de toda a
comunidade escolar. É necessário promover a formação dos educadores, a conscientização da
comunidade e a adaptação das práticas pedagógicas, garantindo a individualização e personalização
das intervenções para atender às necessidades específicas de cada aluno autista. A inclusão efetiva e
significativa desses alunos na

A inclusão na educação não deve ser vista como um processo isolado. É necessário que haja
uma mudança cultural e social, para que a sociedade como um todo entenda a importância da inclusão
e trabalhe para tornar as escolas e a sociedade mais inclusivas. Somente assim poderemos garantir que
todos os alunos, independentemente de suas características individuais, tenham acesso a uma
educação de qualidade.
Compreender o autismo é abrir caminhos para o entendimento do nosso
desenvolvimento. Estudar autismo é ter nas mãos um “laboratório natural” de onde se
vislumbra o impacto da privação das relações recíprocas desde cedo na vida. Conviver com o
autismo é abdicar de uma só forma de ver o mundo - aquela que nos foi oportunizada desde a
infância. É pensar de formas múltiplas e alternativas sem, contudo perder o compromisso com
a ciência (e a consciência!) – com a ética. É percorrer caminhos nem sempre equipados com
um mapa nas mãos, é falar e ouvir uma linguagem, é criar oportunidades de troca e espaço
para o nosso saber e ignorância [...] (BOSA, 2002, p. 13).

2. 2 Metodologias aplicáveis para crianças autistas

Existem algumas metodologias que podem ser utilizadas pelos educadores, com o objetivo de
obter sucesso no sistema de aprendizagem de crianças autistas. Dentre as estratégias que vêm sendo
estudadas e desenvolvidas, podemos destacar duas, que tem sido usadas por escolas ao redor do
mundo:

Prompt:

É uma técnica muito simples que consiste no acompanhamento da aquisição da fala através da
repetição das palavras, em que o intermediador irá associar as palavras às imagens, para facilitar o
processamento das informações. Com paciência na condução das atividades, o professor irá mediar a
absorção do conhecimento e estimular que o aluno se torne protagonista do seu próprio conhecimento.
Como descreve no trecho abaixo:
O objetivo principal dessa metodologia é ensinar comportamentos e habilidades aos
indivíduos com dificuldades para que eles se tornem independentes e inseridos na
comunidade. Para que isso seja possível, os profissionais utilizam técnicas para o
desenvolvimento da comunicação, das habilidades sociais, de brincadeira, acadêmicas e de
autocuidados (...). O Prompt faz parte da técnica comportamental e tem o objetivo de ajudar a
criança a emitir as respostas corretas. A ajuda deve ser dada de acordo com o nível de
independência que a criança apresenta. Ela pode ser oferecida imediatamente após a instrução,
durante a resposta da criança e depois de uma resposta incorreta (Figueiredo, 2014, p. 48 e
55).

Picture Exchange Communication System (Pecs):

Outro método bastante utilizado é a troca de figuras, conforme descrito por Bondy e Frost:

“1) Fazer pedidos através da troca de figuras pelos itens desejados;


2) Ir até a tábua de comunicação, apanhar uma figura, ir a um adulto e entregá-la em sua mão;
3) Discriminar entre as figuras;
4) Solicitar itens utilizando várias palavras em frases simples, fixadas na tábua de
comunicação;
5) Responder à pergunta: o que você quer?;
6) Emitir comentários espontâneos “ (Bondy; Frost, 2001, apud Mizael; Aiello, 2013, p. 624).
Essa atividade também estimula o exercício da oralidade, e das funções necessárias para as
interações sociais, como a emissão de opiniões e interpretação do contexto.

É interessante também que o educador adote uma rotina fixa, para que seja previsível, e o
máximo organizada possível, já que mudanças acabam se tornando gatilhos para as pessoas dentro do
espectro autista. Além disso, o que também pode ajudar é a personalização de objetos que ajudem na
autorregulação do aluno em crise, como brinquedos sensoriais que ajudam a distrair e acalmar. Podem
também ser utilizados recursos visuais juntamente com as orientações e uma organização de acordo
com o perfil da criança. No cumprimento dessas atividades é indispensável o respeito às
características individuais, privilegiando o afeto, a mediação paciente e a linguagem objetiva,
encorajando o pensamento lógico e criativo.

2.3 A importância da capacitação de educadores de apoio;

A capacitação de educadores de apoio é uma das medidas essenciais para garantir a inclusão
escolar de alunos autistas. A presença de um educador capacitado e sensível às necessidades dos
alunos autistas pode fazer toda a diferença para o sucesso da inclusão escolar. Segundo Farias (2019),
a capacitação dos educadores pode permitir que eles identifiquem as necessidades específicas de cada
aluno autista, adaptem o currículo e a metodologia de ensino, e desenvolvam estratégias de ensino que
atendam às necessidades individuais desses alunos.

A formação dos profissionais da educação possibilitará a construção de conhecimento para


práticas educacionais que propiciem o desenvolvimento sócio cognitivo dos estudantes com
transtorno do espectro autista. (NOTA TÉCNICA N° 24 /2013 /MEC /SECADI /DPEE)

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelos alunos autistas na escola, destacam-se as


dificuldades de comunicação, socialização e adaptação às rotinas e atividades escolares. Muitos alunos
autistas têm dificuldades em se comunicar verbalmente e em compreender as nuances da comunicação
social. Além disso, eles podem ter dificuldades em estabelecer e manter relações sociais com os
colegas e professores, o que pode afetar seu desempenho escolar e sua autoestima.

Outra dificuldade enfrentada pelos alunos autistas é a adaptação às rotinas e atividades


escolares. Segundo Cunha et al. (2018), muitos alunos autistas têm dificuldades em lidar com
mudanças na rotina e em se adaptar a novas atividades. A capacitação de educadores de apoio pode
contribuir para superar essas dificuldades enfrentadas pelos alunos autistas. Segundo Barreto et al.
(2021), a capacitação dos educadores pode incluir treinamento em estratégias de comunicação
alternativa e aumentativa, em habilidades sociais e em estratégias de adaptação do ambiente escolar.
Além disso, os educadores podem aprender a trabalhar em parceria com a família e com profissionais
de saúde para garantir o melhor atendimento aos alunos autistas.

Em resumo, a capacitação de educadores é uma medida importante para garantir a inclusão


escolar de alunos autistas. O conhecimento sobre o assunto facilita as melhores práticas e uma
inclusão efetiva. Para tanto os docentes precisam estar dispostos a aprender e ressignificar seu modo
de ensino para que todas as crianças possam usufruir dos benefícios duradouros da aprendizagem.

3 PARCERIA ENTRE ESCOLA E FAMÍLIA: COMPARTILHANDO INFORMAÇÕES E


ESTABELECENDO METAS

Como visto em tópicos anteriores, a colaboração entre a escola e a família é fundamental para
entender as necessidades específicas de cada criança autista. Neste tópico, será explorada mais a fundo
a importância de tal colaboração. A família possui um conhecimento profundo sobre seu filho, suas
preferências, habilidades e desafios. Compartilhar essas informações com a escola é crucial para que
os educadores possam planejar estratégias de ensino adequadas e adaptadas às necessidades
individuais de cada aluno.

Da mesma forma, a escola também deve compartilhar informações relevantes com a família. Isso
inclui relatórios de progresso, avaliações e observações feitas pelos profissionais da educação. Essa
troca de informações ajuda a manter uma comunicação aberta e transparente entre todas as partes
envolvidas, permitindo que tomem decisões informadas e trabalhem juntas em benefício do aluno.

Além disso, a parceria entre a escola e a família permite estabelecer metas educacionais realistas e
significativas. Ao trabalhar juntos, pais e educadores podem identificar objetivos específicos que
sejam relevantes para o desenvolvimento do aluno autista. Ambas as partes devem ter voz ativa nesse
processo, compartilhando perspectivas e experiências que possam contribuir para a definição de metas
relevantes. Dessa forma, a criança recebe suporte consistente tanto em casa quanto na escola,
impulsionando seu crescimento e sucesso.

Essas metas podem abranger diversas áreas, como habilidades acadêmicas, habilidades sociais,
autonomia e comunicação. A definição conjunta de metas auxilia no alinhamento de esforços e na
criação de um plano de intervenção consistente.

A parceria entre a escola e a família não deve se limitar apenas ao planejamento inicial, mas deve
se estender ao longo do processo de inclusão. Isso envolve o apoio contínuo para garantir que as
estratégias, cuidados e intervenções sejam consistentes em todos os ambientes em que a criança está
inserida.

A comunicação regular entre a escola e a família é essencial para que ambos possam acompanhar
as atualizações, ajustar abordagens e resolver desafios que possam surgir. Essa colaboração contínua
ajuda a monitorar o progresso da criança, identificar áreas que requerem maior atenção e adaptar as
estratégias conforme necessário. Ao trabalhar juntos, escola e família, promovem maior
aproveitamento das técnicas desenvolvidas em sala de aula, e para que os familiares possam
testemunhar os avanços e contribuir para as melhorias.

3.1 Programas de Intervenção e Suporte para a Inclusão Escolar

Tanto a escola como a família necessitam do suporte profissional, pois eles podem fornecer
orientações, treinamentos e recursos para os educadores e pais, auxiliando-os na implementação de
estratégias consistentes e eficazes em diferentes ambientes, tanto na escola quanto em casa. Existem
diversos programas e abordagens de intervenção que podem ser implementados para apoiar a inclusão
de alunos autistas na escola. Esses programas são desenvolvidos por profissionais especializados e
têm como objetivo promover o desenvolvimento global do aluno, estimulando suas habilidades e
minimizando suas dificuldades. Alguns exemplos de programas e abordagens incluem:

a) Intervenção Comportamental: A análise do comportamento aplicada (ABA - Applied Behavior


Analysis) é uma abordagem que utiliza princípios da psicologia comportamental para promover a
aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades nas crianças autistas. Por meio de estratégias
individualizadas, como reforço positivo e modelagem, essa abordagem busca incentivar
comportamentos desejáveis e diminuir comportamentos problemáticos.

"A literatura científica fornece evidências consistentes de que intervenções baseadas na Análise
do Comportamento Aplicada (ABA) têm efeitos positivos significativos na aquisição de habilidades
acadêmicas, sociais e de linguagem, bem como na redução de comportamentos desafiadores em
crianças com transtorno do espectro autista" (Howard et al., 2005).

A ABA é reconhecida por seu foco na aprendizagem individualizada e progressiva. A abordagem


enfatiza o reforço positivo e a modelagem comportamental para promover o desenvolvimento das
habilidades das crianças autistas.
"A ABA é caracterizada por estratégias de ensino altamente estruturadas e individualizadas, que
são eficazes para promover a aquisição de habilidades acadêmicas, como leitura, escrita e
matemática, em crianças autistas" (Howlin, 2005).

No método terapêutico ABA existem algumas etapas para que análise seja realizada de forma eficaz:

1. Avaliação inicial: O processo começa com uma avaliação detalhada das habilidades,
pontos fortes e necessidades do indivíduo autista. Esse processo envolve a coleta de
informações por meio de observações, entrevistas e testes padronizados. A avaliação ajuda
a identificar as áreas de desenvolvimento que precisam ser alvo de intervenção.

2. Definição de metas e objetivos: Com base na avaliação inicial, são estabelecidos


objetivos claros e mensuráveis para o aluno autista. Essas metas são específicas para cada
criança e levam em consideração suas necessidades individuais. Os objetivos podem ser
relacionados a áreas como comunicação, interação social, habilidades acadêmicas,
comportamento adaptativo e autonomia.

3. Análise funcional do comportamento: A ABA utiliza a análise funcional do


comportamento para compreender as razões por trás dos comportamentos problemáticos
exibidos pela criança autista. Isso envolve a identificação das funções ou motivadores que
estão influenciando o comportamento, como a busca por atenção, obtenção de reforço ou
fuga/evitação de situações aversivas. A análise funcional ajuda a desenvolver estratégias
eficazes para reduzir comportamentos problemáticos e substituí-los por comportamentos
mais adaptativos
"A análise funcional do comportamento é uma ferramenta fundamental na ABA. Ela ajuda a
compreender as funções ou motivadores por trás dos comportamentos problemáticos exibidos pelas
crianças autistas, permitindo o desenvolvimento de estratégias eficazes para a redução desses
comportamentos e a promoção de comportamentos mais adaptativos" (O'Neill et al., 1997).

4. Intervenção e planejamento de ensino: Com base nas metas estabelecidas e na análise


funcional do comportamento, são desenvolvidos planos de ensino individualizados. Esses
planos incluem estratégias específicas e técnicas comportamentais para ensinar e promover
habilidades nas áreas-alvo. As estratégias podem incluir o uso de reforço positivo,
modelagem, quebra de tarefas em etapas menores, ensino sistemático e outras abordagens
baseadas na ciência do comportamento.

5. Coleta de dados e monitoramento: Durante o processo de intervenção, os profissionais


de ABA coletam dados sistemáticos para avaliar o progresso da criança em relação às
metas estabelecidas. Esses dados ajudam a monitorar o desempenho, ajustar as estratégias
de ensino conforme necessário e fazer avaliações periódicas do progresso alcançado.

6. Generalização e manutenção: A ABA enfatiza a importância da generalização e


manutenção das habilidades aprendidas em diferentes ambientes e situações. Os
profissionais de ABA trabalham em estreita colaboração com a família e a escola para
garantir que as habilidades sejam transferidas e mantidas fora do ambiente terapêutico,
possibilitando que a criança generalize suas habilidades para a vida cotidiana.

" Os profissionais de ABA trabalham em colaboração com a família e a escola para garantir que
as habilidades sejam transferidas e mantidas em diferentes ambientes e situações" (Smith, 2001).

b) Terapia Ocupacional: A terapia ocupacional auxilia crianças autistas a desenvolver habilidades


sensoriais, motoras e de autocuidado. Essa abordagem visa melhorar a capacidade do aluno de se
envolver em atividades diárias, como se vestir, comer e escrever, além de promover a participação
bem-sucedida nas atividades escolares.
c) Fonoaudiologia: A fonoaudiologia é uma área que trabalha habilidades de comunicação, sendo,
portanto, de grande importância no acompanhamento da criança e adolescente. Dentre seus benefícios,
auxilia para o desenvolvimento da comunicação verbal, minimizando as dificuldades como atraso de
fala, problemas na articulação das palavras e compreensão da linguagem, ajudando a criança a
melhorar a produção e a clareza da fala, e expandir seu vocabulário. Isso facilita a comunicação
efetiva com os outros, promovendo a interação social e a participação nas atividades diárias.

Além da comunicação verbal, o fonoaudiólogo também pode auxiliar no desenvolvimento das


habilidades de comunicação não verbal em crianças autistas. Isso inclui o uso de expressões faciais,
gestos, contato visual e linguagem corporal para se comunicar e compreender os outros. O
fonoaudiólogo pode fornecer estratégias e exercícios específicos para ajudar a criança a desenvolver
essas habilidades e facilitar a interação social.

A linguagem social, que inclui a compreensão de pistas sociais, turn-taking em conversas e o uso
adequado da linguagem em diferentes contextos sociais, é um desafio comum para crianças autistas. O
fonoaudiólogo pode trabalhar no desenvolvimento dessas habilidades, fornecendo orientações e
treinamentos específicos para ajudar a criança a entender e usar a linguagem social de maneira
adequada.

Algumas crianças autistas podem apresentar dificuldades no processamento auditivo, o que pode
afetar sua capacidade de compreender e interpretar adequadamente os sons e as informações auditivas.
O fonoaudiólogo pode realizar avaliações e intervenções para melhorar a capacidade de
processamento auditivo da criança, tornando-a mais receptiva aos estímulos sonoros e facilitando a
compreensão da linguagem falada.

Muitas crianças autistas enfrentam desafios na alimentação, como seletividade alimentar,


dificuldades na mastigação e sensibilidade a diferentes texturas e sabores. O fonoaudiólogo pode
trabalhar em colaboração com outros profissionais de saúde para ajudar a criança a desenvolver
habilidades de alimentação adequadas, superar aversões alimentares e melhorar a coordenação dos
músculos orais envolvidos na mastigação e deglutição.

4 PERSPECTIVAS FUTURAS: AVANÇOS E DESAFIOS PARA A


INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS AUTISTAS;

A inclusão escolar de alunos autistas é uma área em constante evolução, que demanda um
olhar atento aos avanços e desafios que se apresentam. Segundo Mello e cols. (2020), "é importante
compreender que a educação inclusiva não é apenas sobre a matrícula em escolas regulares, mas
também sobre a promoção de uma cultura de inclusão que valorize a diversidade e respeite as
particularidades de cada aluno".

Porém, além da capacitação de profissionais, é necessário avançar no desenvolvimento de


tecnologias e recursos que possam auxiliar no processo de inclusão escolar. Segundo
Kavathatzopoulos e Biniari (2020), "a tecnologia pode desempenhar um papel importante na
promoção da inclusão escolar de alunos autistas, desde recursos que facilitem a comunicação até jogos
e atividades que estimulem o desenvolvimento social e emocional". Outro aspecto a ser explorado é o
preconceito e a falta de compreensão por parte da sociedade em geral. De acordo com Oliveira e
Vasconcelos (2017):
" A conscientização e a sensibilização da sociedade são fundamentais para que a
inclusão escolar de alunos autistas seja uma realidade, garantindo que esses alunos sejam
aceitos e respeitados em todas as esferas da vida social".
Hoje com os avanços tecnológicos que possuímos já existem, já podemos contar com
diferentes atividades que estimulam a interação, a socialização e a alfabetização. A tecnologia
assistida dispõe de hardwares, softwares, hipermídias, hipertextos e uso da internet nos diferentes
aparelhos eletrônicos. Atividades com jogos são recursos pedagógicos que podem promover uma
aprendizagem mais dinâmica e divertida, facilitando a comunicação e interpretação, dentre os
aplicativos que cumprem essa função podemos citar o Scala que é um aplicativo que auxilia no
desenvolvimento da comunicação, possuindo narrativas visuais, gravação de áudio e alteração de
imagens para criação de histórias. Outro programa que também incentiva a socialização é o Software
Aproximar que funciona por meio da exibição de vídeos com a descrição de gestos para a repetição,
possibilitando que o indivíduo visualize a si mesmo repetindo o movimento na tela, bem como
também possui vídeos motivacionais.

Na realidade, o uso de jogos e tecnologias já tem se mostrado uma efetiva fonte de recurso -
especialmente em crianças com TOD - Transtorno do Opositor Desafiador, por exemplo. No caso
específico desta manifestação, o aluno neurodivergente desafiador necessita ainda mais do apoio
escola-família. Como diz Danielle Silva (2022):

Até poucas décadas atrás, uma criança que tivesse resistências contínuas e negativas contra
seus pais ou figuras de autoridade, teria como definição meramente de ser uma criança
“respondona”, ou “mal-criada”¹. Contudo, como consequência da evolução do trabalho da
neurociência, especialmente em crianças e com a primeira publicação do tema no terceiro
volume da Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (“Manual Estatístico e
Diagnóstico de Desordens Mentais”, em tradução livre) em 1980, restou comprovada a tese de
que tal persistência ou oposição ferrenha poderia não ter meramente razão de “caráter” ou
“educação”, mas sim, razão médica.
O TOD: Transtorno do Opositor-Desafiador, ou outras abreviações similares derivadas do
inglês “Oppositional defiant disorder (ODD)”, se caracteriza principalmente por seu papel
negativo do portador em contraponto a uma ordem direta ou figura de autoridade que lhe
contraponha

O uso de técnicas de jogos, com mecanismos de resposta, tem sido grandemente utilizados
para alunos com tal transtorno. Em artigo do portal de educação e saúde JFlowersHealth, é citado o
chamado “treinamento de neurofeedback”, uma nova técnica promissora cujo treinamento busca
desenvolver de modo científico e neurológico o tratamento de diversas neuroatipicidades. Por meio de
uma espécie de resposta visual a um estímulo, o paciente responde de maneira positiva ou negativa,
escolhendo respostas certas que irão lhe gerar mais foco, tudo isso enquanto suas ondas cerebrais são
monitoradas, para que os jogos ali feitos ajudem em seu tratamento. Tal prática pode gerar de modo
muito positivo impactos no campo do Transtorno do Opositor-Desafiador, bem como do autismo de
forma geral, para o desenvolvimento das funções executivas tanto em casa como em esala de aula,
como é o tema deste artigo. Como vai nos dizer o autor da matéria:
Outra maneira de melhorar a função cerebral é através do treinamento de neurofeedback. O
treinamento de neurofeedback pode ser extremamente poderoso e ter resultados
surpreendentes quando concluído para melhorar o funcionamento executivo. Ele trabalha para
melhorar a função, visando partes específicas do cérebro. Este treinamento é incrivelmente
científico e pode ser usado para outras coisas além da função executiva. (JFlowers Health,
2021. p. 5).

O tratamento de neurofeedback tem efeitos positivos na modulação cerebral e potencialmente não


parece trazer nenhum tipo de prejuízo ao portador de autismo. Contudo, por ser um tratamento novo, a
impossibilidade do uso da técnica é ainda grande. Isso pois dois grandes impedimentos travam o
desenvolvimento desta atividade. Sendo eles o preço (ainda extremamente alto no Brasil) e o período
de tratamento (que pode incluir de 40 até 60 sessões para que se tenha um real resultado), o que se
impossibilita no cenário econômico de muitas famílias e escolas.

Mas essa tecnologia demonstra que o corpo docente - principalmente do primário e de


educação infantil - precisa despertar para os avanços na área de educação e da tecnologia de saúde
para que possam de maneira efetiva utilizar os meios que já estão dispostos para facilitação do
processo educativo de crianças e adolescentes autistas. Outro aspecto a ser explorado é o preconceito e
a falta de compreensão por parte da sociedade em geral. De acordo com Oliveira e Vasconcelos
(2017):

" A conscientização e a sensibilização da sociedade são fundamentais para que a


inclusão escolar de alunos autistas seja uma realidade, garantindo que esses alunos sejam
aceitos e respeitados em todas as esferas da vida social".

O autismo possui alguns padrões de comportamentos incomuns para um indivíduo neurotípico,


como agressividade frente a estímulos exagerados, seletividade alimentar, dificuldade de comunicação
assertiva no relacionamento social, e gestos repetitivos que auxiliam na autorregulação. Esses
comportamentos podem ser interpretados incorretamente como rebeldia, desobediência ou lentidão -
como no exemplo do TOD, visto acima - e decorrente disso ainda mais rejeição e exclusão.
Além disso, o conceito de que todas as pessoas autistas são iguais e possuem as mesmas
estereotipias também é uma visão muito comum, e que acaba pré-julgando a capacidade particular de
cada um, e limitando as expressões e características individuais.
Logo, quanto mais o assunto for divulgado no ambiente escolar, menos haverá espaço para o
fomento de preconceitos. A expectativa é que por meio da constante abordagem do tema, os rótulos
sejam desfeitos e contribuam para o maior respeito das pluralidades humanas, juntamente com
práticas condizentes para que esse discurso se concretize na realidade.

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Por fim, é fundamental destacar que a inclusão escolar de alunos autistas não é um processo
fácil e que demanda esforços conjuntos de diferentes áreas, que deve ser enfrentada com continuidade,
comprometimento e trabalho em equipe.

"A inclusão escolar de alunos autistas é uma questão complexa, que exige a
colaboração de diferentes áreas, como saúde, educação e assistência social, além do
envolvimento da família e da comunidade escolar como um todo". (Pimentel e cols. 2018):

O problema da inclusão tanto no ambiente escolar, quanto em outros âmbitos sociais, é sempre
uma questão que precisa permanecer em discussão, para que mais pessoas compreendam que o viver
em sociedade também é estar pronto para conviver e acolher as particularidades de cada indivíduo, e
que este não possui menos importância ou menor capacidade por conta de sua condição. A escola
pode promover ações pedagógicas que envolvam toda a comunidade escolar e incentivam a
valorização da diversidade. Além disso, é importante que os educadores trabalhem a questão do
preconceito em sala de aula, promovendo discussões sobre as diferenças e a importância do respeito às
individualidades.

Dito isso o principal desafio da escola é, por meio da conscientização, capacitação do docente
e recursos disponíveis incentivar a autonomia, conhecimento e independência desses estudantes
promovendo a aprendizagem mútua, o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, além de
estimular a criatividade e a inovação, para crescerem cidadãos capazes de tomar suas próprias
decisões e de relacionar-se com o mundo que os cerca. Assim, a colaboração de diferentes áreas, como
saúde, educação e assistência social, além do envolvimento da família e da comunidade escolar como
um todo, é essencial para garantir que todos os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade e
inclusiva.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). (2013). Diagnostic and statistical manual of


mental disorders (DSM-5®). American Psychiatric Pub.

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BAIO, J., WIGGS, L., CHRISTENSEN, D. L., MAENNER, M. J., DANIELS, J., WARREN, Z., ... &
DOWLING, N. F. (2018). Prevalence of autism spectrum disorder among children aged 8
years—autism and developmental disabilities monitoring network, 11 sites, United States, 2014.
MMWR Surveillance Summaries, 67(6), 1-23.

BAIO, J. et al. Prevalence of Autism Spectrum Disorder Among Children Aged 8 Years - Autism and
Developmental Disabilities Monitoring Network, 11 Sites, United States, 2014. MMWR Surveillance
Summaries, v. 67, n. 6, p. 1-23, 2018.

BAPTISTA, Claudio; BOSA, Cleonice (org.). Autismo e educação: atuais desafios. Porto Alegre:
Artmed, 2002. p. 22-39.

BARON-COHEN, S. et al. Does the autistic child have a “theory of mind”? Cognition, v. 21, n. 1, p.
37-46, 1985.

BATTISTI, Aline Vasconcelo; HECK, Giomar Maria Poletto. A inclusão escolar de crianças com
autismo na educação básica: teoria e prática. Chapecó: Universidade Federal da Fronteira Sul,
Campus de Chapecó, Curso de Pedagogia, 2017.

BARRETO, R. F. et al. Capacitação de educadores de apoio para a inclusão de alunos autistas: uma
revisão integrativa da literatura. Revista de Educação Especial, v. 34, n. 68, p. 829-844, 2021.

BOSA, Cleonice Alves. Autismo: atuais interpretações para antigas observações. In: BAPTISTA,
Claudio; BOSA, Cleonice (org.). Autismo e educação: atuais desafios. Porto Alegre: Artmed, 2002. p.
22-39.

BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: . Acesso
em: 28 mar. 2015.

CUNHA, M. M. et al. A inclusão de alunos com transtorno do espectro autista: estratégias para a
adaptação à rotina escolar. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 24, n. 2, p. 223-234, 2018.

DUTRA, Claudia Pereira et al. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação
Inclusiva. Brasília, jan. 2008. Disponível em: . Acesso em: 22 ago. 2014.

EXECUTIVE Functioning in School. J. Flowers Health, [S. l.], section 2, [2021]. Disponível em:
https://jflowershealth.com/executive-functioning-school/#:~:text=Executive%20functioning%20is%2
0extremely%20important%20and%20is%20used,positive%20effects%20will%20be%20seen%20in%
20the%20classroom.?msclkid=19b2ec9daca811ecb3496645ccbeacd0. Acesso em: 26 mar. 2022.

FAVA, D. D. A. (2019). A inclusão escolar do aluno autista: uma abordagem multidisciplinar. Revista
Educação em Debate, 41(78), 86-95.
FARIAS, G. Capacitação de educadores para inclusão de alunos autistas: reflexões sobre práticas
pedagógicas inclusivas. Revista de Educação Inclusiva, v. 3, n. 1, p. 67-81, 2019.

KANNER, L. (1943). Autistic disturbances of affective contact. Nervous Child, 2(3), 217-250.

KAVATHATZOPOULOS, I. BINIARI, M. (2020). Autistic Spectrum Disorder and the Role of


Technology in Education. In: 2020 IEEE Global Engineering Education Conference (EDUCON).
IEEE, pp. 947-951.

MELLO, A. M. C. (2007). Autismo: o que é, o que causa, como identificar, como tratar.

MILLER, L. J., ANZULEWICZ, D., & NOVAK, C. (2007). The impact of sensory processing
disorders on communication and symbolic behavior in autism spectrum disorders. In Autism
Spectrum Disorders (pp. 63-83).

NOTA TÉCNICA N° 24/2013/MEC/SECADI/DPEE. Política Nacional de Educação Especial na


Perspectiva da Educação Inclusiva: esclarecimentos e sugestões. Brasília, 2013.

OLIVEIRA, R. A. VASCONCELOS, M. M. (2017). Inclusão escolar de alunos autistas: desafios e


possibilidades. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 33, n. 4, p. 1-18.

PIMENTEL, M. L. V. Barbosa, R. T. S. Oliveira, M. M. S. (2018). Inclusão escolar de alunos com


Transtorno do Espectro Autista (TEA): desafios e possibilidades. Revista Educação Especial em Foco,
9(1), 65-84.

Você também pode gostar