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MANUAL

UFCD 3536 - Velhice - ciclo vital e


aspetos sociais- 50 horas
INDICE

Introdução--------------------------------------------------------------------------------------------------------3
Velhice: ciclo vital-----------------------------------------------------------------------------------------------3
Teorias sobre o envelhecimento psicossocial------------------------------------------------------------5
Teorias psicossociais de Eric Erickson, R. Peck e Buhler-----------------------------------------------6
Carreira profissional e os seus ajustamentos------------------------------------------------------------10
Casamento e os seus ajustamentos------------------------------------------------------------------------10
Família e os seus ajustamentos----------------------------------------------------------------------------10
A meia-idade e as tarefas evolutivas----------------------------------------------------------------------11
Aspetos estruturais e funcionais da meia-idade--------------------------------------------------------11
Processo de envelhecimento--------------------------------------------------------------------------------12
Velhice, aspetos sociais: A velhice e a sociedade-------------------------------------------------------13
Mitos da velhice-----------------------------------------------------------------------------------------------15
Aspetos sociológicos------------------------------------------------------------------------------------------20
Problemas sociais da velhice- A pessoa idosa no final do século XX -----------------------------22
Velhice, socialização e papéis sociais---------------------------------------------------------------------25
Velhice o os novos papéis sociais--------------------------------------------------------------------------26
O modo de vida das pessoas de idade--------------------------------------------------------------------27
Processo de envelhecimento/sensibilização à problemática da pessoa idosa-----------------28
Conclusão-------------------------------------------------------------------------------------------------------34
Referencias bibliográficas-----------------------------------------------------------------------------------35

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Introdução
O aumento da esperança média de vida gerou um crescimento acentuado da população idosa, o que
criou problemas, devido à falta de preparação da sociedade para esta realidade. Como se pode verificar,
por exemplo, ao nível dos sectores (Social e da saúde).
Para melhor compreender esta realidade é importante perceber as diversas etapas de desenvolvimento
do ser humano, que se caracterizam por tarefas biopsicossociais que o indivíduo deve cumprir em cada
uma delas para ter êxito. Aceitar os anos a mais não implica negar os papéis sociais e ficar parado, sem
novas funções. Os adultos não podem submeter os idosos ao descaso. Devemos parar, observá-los, escutá-
los, conversar com eles, trocar ideias.
O envelhecimento é um fenómeno universal, irreversível e inevitável em todos os seres vivos e o
organismo humano no decorrer de seu desenvolvimento passa por um processo dinâmico de
transformações.
Todo o indivíduo ocupa uma posição na sociedade a que pertence, com maior ou menor prestígio,
menores ou maiores ganhos, menor ou maior poder. Na realidade são muitos os papéis atribuídos a um só
indivíduo ao longo da sua história de vida, com implicações relativas aos modelos de sociedade. Os papéis
sociais atribuídos ou conquistados têm em vista a interação social e resultam do processo de socialização, e
perceberemos quais os papéis que uma pessoa terá na sua velhice.

Velhice: Ciclo - vital


Velhice e tarefas do desenvolvimento psicológico
O envelhecimento é um fenómeno universal, irreversível e inevitável em todos os seres vivos. No ser
humano, o envelhecimento resulta não só do envelhecimento orgânico da células tecidos e órgãos, com a
diminuição do seu funcionamento e consequente diminuição da sua capacidade de sobrevivência, assim
como a alteração dos seus papéis na sociedade, em geral e na família, em particular e ainda da
representação mental que o indivíduo faz de si próprio e do meio que o rodeia.
Havighurst, um dos mais prestigiados psicólogos do desenvolvimento humano realizou nos anos
quarentas e cinquentas do século XX com outros autores uma série de pesquisas sobre o que denominou o
ciclo de vida. O ciclo vital começa com conceção e termina com a morte, isto é, todo o ser humano nasce,
reproduz-se e morre. Com base nas suas pesquisas e dos seus colaboradores, bem como nos trabalhos de
outros, achou que era adequado um modelo biopsicossocial. Sugeriu uma proposta de tarefas de
desenvolvimento que se caracterizam por tarefas biopsicossociais que o indivíduo deve cumprir em cada
uma delas para ter êxito.

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Percebe-se por tarefas de desenvolvimento aquelas que os indivíduos devem cumprir para garantir o
seu desenvolvimento e o seu ajustamento psicológico e social. São tarefas com as quais as pessoas
satisfazem as suas necessidades pessoais e garantem o desenvolvimento e a manutenção de padrões
sociais e culturais. Desta forma dão sustentação ao progresso social e cultural e em consequência ao bem-
estar do indivíduo. São tarefas comuns naquela etapa em cada parte do mundo, no entanto há
características particulares em decorrência do contexto sócio histórico e das experiências de vida das
pessoas.
As tarefas de desenvolvimento são “lições” que as pessoas devem aprender ao longo da sua existência
para se desenvolverem de forma satisfatória e terem êxito na vida. As tarefas não são estanques em cada
etapa, embora algumas sejam preferencialmente típicas de uma determinada fase. Em cada fase todas se
relacionam entre si e o estrago numa das tarefas pode comprometer o desenvolvimento futuro dessa
tarefa ou de posteriores, isto é, cada fase de tempo da vida é influenciada pelo que aconteceu antes, e o
que se vive hoje afetará os acontecimentos futuros.
Na infância o indivíduo tem como tarefa básica dominar a leitura e a escrita que servirá de instrumento
para a sua independência, para uma comunicação mais ampla e efetiva, que posteriormente facilitarão as
escolhas de formação e profissionalização, entre outras possibilidades. Muitas vezes contingências sejam
elas socioculturais ou económicas, impossibilitam o cumprimento dessa tarefa no momento apropriado do
ciclo da vida. Muitas pessoas não conseguem cumprir a tarefa, outras só irão cumpri-la na adolescência, na
vida adulta ou até mesmo na velhice. Seguramente isso afeta o cumprimento de outras tarefas posteriores
e representa muitas vezes perda de autoestima, redução na sua qualidade de vida, exclusão.
Desta forma, as tarefas da juventude, ou adolescência relacionam-se com as da fase anterior e
prolongam-se para o período posterior, sendo, a tarefa básica a formação pessoal e emancipação. As
tarefas do adulto são: responsabilidades cívicas e sociais; estabelecer e manter um padrão económico de
vida; ajudar os filhos a serem futuros adultos responsáveis e felizes; desenvolver atividades de lazer;
relacionamento com o(a) esposo(a); aceitar e ajustar-se às mudanças físicas da meia-idade e ajustar-se aos
pais idosos. Ao ter em atenção as tarefas de adulto a pessoa está simultaneamente a preparar-se para viver
bem a velhice.
Os idosos têm tarefas que se diferenciam das outras idades, pelo seu carácter funcional, uma vez que
são mais defensivas e preventivas, mas isso não é razão para se ter uma perspetiva negativa da velhice. As
tarefas dos idosos são: ajustar-se ao decréscimo da força e saúde; ajustar-se à reforma; ajustar-se à morte
do(a) esposo(a); estabelecer filiação a um grupo de pessoas idosas; manter obrigações sociais e cívicas
assim como investir no exercício físico satisfatórios para viver bem a velhice.

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Cumprir todas as tarefas é importante, como é importante também que o idoso conte com o apoio da
família, da sociedade e dos profissionais que atuam na área. Desta forma, o idoso poderá ter uma velhice
bem-sucedida e usufruir do prazer de ser e de viver.

Teorias sobre o envelhecimento psicossocial


O envelhecimento é um fenômeno Biológico, psicológico e social que atinge o ser humano na plenitude
da sua existência, modifica a sua relação com o tempo, o seu relacionamento com o mundo e com a sua
própria história.
Segundo a OMS, a terceira idade tem início entre os 60 e 65 anos, o processo de envelhecimento
depende de três classes de fatores principais: biológicas, psíquicas e sociais. São estes fatores que podem
acelerar ou atrasar o aparecimento e o surgimento de doenças e sintomas características da idade madura.
• Teoria da Continuidade
Afirma que o envelhecimento é uma parte integral e funcional do ciclo de vida. O
individuo idoso tem todas as possibilidades de manter todos os seus hábitos de vida,
preferências, experiências, compromissos construídos durante a vida.
• Teoria da Atividade
Existe um consenso sobre a relação entre as atividades sociais e a satisfação vivida. A
velhice deve ser planeada e sucedida pressupondo a descoberta de novos papéis de modo
a manter autoestima para obter maior satisfação na vida. Tudo isto leva à hipótese de que
a sociedade deve conservar a saúde valorizando o avançar da idade.
• Teoria da desinserção
O envelhecimento é acompanhado por um desmembrar entre o indivíduo e a sociedade.
Quando a desinserção é geral, o indivíduo, modifica o seu sistema de valores. A perda do
papel que desempenha na sociedade, a perda de relações pessoais e sociais acabam por
tornar-se situações rotineiras e normais. Verifica-se que a diminuição da satisfação da
vida é proporcional à diminuição das atividades diárias.
Fala-se do envelhecimento como se tratando de um estado tendencialmente classificado de “terceira
idade” ou ainda “quarta idade”. No entanto, o envelhecimento não é um estado, mas sim um processo de
degradação progressiva e diferencial. Afeta todos os seres vivos e o seu termo natural é a morte do
organismo. É, assim impossível datar o seu começo, porque de acordo com o nível no qual ele se situa
(biológico, psicológico, social), a sua velocidade e gravidade variam de indivíduo para indivíduo.

Teorias psicossociais de Eric Erickson, R. Peck e Buhler

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Erickson propõe uma conceção de desenvolvimento em oito estádios psicossociais, perspetivados por
sua vez em oito idades que decorrem desde o nascimento até à morte. Erickson dá especial importância ao
período da adolescência, devido ao facto ser a transição entre a infância e a idade adulta, em que se
verificam acontecimentos relevantes para a personalidade adulta.
Na teoria psicossocial do desenvolvimento, este desenvolvimento evolui em oito estádios, os primeiros
quatro estádios decorrem no período de bebé e de infância, e os últimos três durante a idade adulta e a
velhice. Cada estádio contribui para a formação da personalidade total, sendo por isso todos importantes
mesmo depois de os atravessar. O núcleo de cada estágio é uma crise. A formação da identidade inicia-se
nos primeiros quatro estádios. Erickson perspetivava o desenvolvimento tendo em conta aspetos de foro
biológico, individual e social.

Estádios de desenvolvimento Psicossocial de Erikson

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Robert C. Peck
Os dois últimos estádios de Erikson dão uma definição demasiado geral da idade adulta e velhice e,
portanto, Peck procurou uma definição mais precisa para as questões relacionadas com a meia idade e
velhice. Então, expande a teoria de Erikson, e descreve três ajustes psicológicos importantes para a fase
final da vida:

1. Definições mais amplas do “eu” contra uma preocupação com papéis de trabalho:
São aqueles que definiram as suas vidas pelo trabalho, direcionando o seu tempo
à conquista de méritos profissionais pessoais;

2. Superioridade do corpo contra preocupação do corpo: Aqueles para que o bem-estar físico é
primordial à existência feliz, poderão ficar mergulhados no desespero ao enfrentarem a diminuição
progressiva da saúde, com a chegada da terceira idade, e o surgimento das dores e limitações físicas. Peck
afirma que ao longo da vida, as pessoas precisam de cultivar faculdades mentais e sociais que cresçam com
a idade.

3. Superioridade do “eu” contra uma preocupação com o “eu”: provavelmente o mais duro e mais
importante ajuste para o idoso seja a preocupação com a morte próxima. O reconhecimento do significado
duradouro de tudo o que fizeram ajudará a superar preocupação com o eu e continuarem a contribuir para
o bem-estar próprio e dos outros.

Charllotte Buhler
Estabeleceu uma diferença entre as vidas baseadas apenas na vitalidade e Mentalidade.
Através da sua teoria constata-se, portanto, que as pessoas se desenvolvem também após a juventude.
Uma pessoa permanece jovem na medida em que ainda é capaz de aprender, adquirir novos hábitos e
tolerar contradições.
A Teoria do Curso da Vida Humana de Charlotte Buhler explica que cada fase é definida
a partir de:
• Mudanças em termos de acontecimentos, atitudes e realizações durante o ciclo de vida;
• Forma como são geridos os objetivos pessoais de cada indivíduo.

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Charlotte Buhler define cinco estádios no ciclo de vida:

Idade Fase
0-15 Criança/jovem vive em casa dos pais; não existe autodeterminação dos objetivos
pessoais
15-25 Expansão preparatória e autodeterminação experimental dos objetivos pessoais
25-45 Culminação: autodeterminação definida e específica dos objetivos pessoais
45-65 Autoavaliação dos resultados das tentativas e esforços para alcançar os objetivos

Pessoais
65+ Realização dos objetivos ou sensação de falhanço; as atividades prévias continuam,

nesta fase pode verificar-se o reaparecimento de objetivos de curto prazo centrados

na satisfação de necessidades imediatas.

• Do Jovem adulto à meia – idade


O jovem adulto vai desenvolver o seu “eu” e a maneira como vê o outro. Este desenvolvimento permite
uma separação psicológica dos pais da infância e uma relativa autossuficiência no mundo adulto.
Verifica-se o desenvolvimento de amizades adultas, mais difíceis de serem mantidas, diferentes
daquelas da adolescência. Amizades com pessoas de diferentes idades e de diferentes estatutos sociais.
Desenvolve-se a capacidade para a intimidade emocional e sexual. Aqui temos presente a crise já
referida por Erickson (intimidade vs isolamento). O jovem adulto poderá criar intimidade com outros. A
vertente negativa é o isolamento de quem não consegue partilhar afetos com intimidade nas relações
privilegiadas. As virtudes básicas desta crise são o amor e a filiação.
É nesta idade que se tornam pai ou mãe em termos biológico e psicológicos, isto é engravidar até pode
ser fácil; difícil é ser pai ou mãe. É nesta idade que se forma uma identidade profissional adulta,
encontrando um lugar gratificante no mundo do trabalho. Desenvolvem-se formas adultas de brincar, isto
é, manter-se em contacto com a criança de cada um de nós. Não se deve esquecer que o brincar é a base
do, inventar, do criar, do descobrir, essenciais na atividade artística e científica.
Toma-se consciência da limitação do tempo e da morte pessoal, de forma integrada.
O início da idade adulta varia de um indivíduo para o outro e uma passagem adequada para essa fase
depende da resolução satisfatória das crises da infância e da adolescência.

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É um período de grandes mudanças, no qual a pessoa adquire total maturidade e apresenta o máximo
em seu potencial para a satisfação pessoal. A pessoa deve ser capaz de mudar sempre para atender às
exigências das situações. Esta fase é marcada por várias transições e transformações.

Carreira profissional e os seus ajustamentos


A noção de carreira passa a ser vista como uma responsabilidade dos indivíduos, que para se ajustarem
na estrutura organizacional, passam a desenvolver competências e habilidades que atendam às atribuições
de suas novas funções, além das necessidades e expectativas da organização.

Casamento e os seus ajustamentos


O casamento é um processo que passa por transições, por fases e evolui, ou seja, está em constante
mudança.
Todos os casamentos saudáveis experimentam a mudança e a transição. E isso é o que os mantém vivos
e em crescimento. Algumas fases de crescimento são previsíveis, outras não.
O casamento divide-se cronologicamente:
• Recém-casados (0 - 5 anos), os primeiros anos de profundo conhecimento do novo casal.
• Crescimento (6 - 25 anos), geralmente coincide com a fase ativa dos cônjuges, chegada e
crescimento dos filhos.
• Maturidade (acima de 26 anos), também conhecido como a fase do “ninho vazio”, quando os filhos
começam a sair de casa para se casarem.

Família e os seus ajustamentos

Assim, como o indivíduo, a família passa por estágios de desenvolvimento, conduzindo ao crescimento
e à transição para um novo nível necessário e importante no ciclo vital: formação do casal, família com
filhos pequenos; família com filhos na escola; família com filhos adolescentes, família com filhos adultos.

A meia-idade e as tarefas evolutivas


• Aceitação do corpo que envelhece;
• Aceitação da limitação do tempo e da morte pessoal;
• Manutenção da intimidade;
• Reavaliação dos relacionamentos;
• Relacionamentos com os filhos
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• Relação com seus pais: inversão de papéis, morte e individuação;
• Exercício do poder e posição: trabalho e papel de instrutor;
• Novos significativos, habilidades e objetivos dos jogos na meia-idade;
• Preparação para a velhice.

Aspetos estruturais e funcionais da meia-idade


O envelhecimento é um processo caracterizado de variadíssimas e complexas alterações,
tanto estruturais como funcionais, que conduzem a uma incapacidade progressiva do
organismo de se adaptar ao meio que o rodeia.
O organismo humano no decorrer de seu desenvolvimento passa por um processo
dinâmico de transformações.

Principais desenvolvimentos:
• As mulheres entram na menopausa
• Ocorre uma certa deterioração da saúde física e declínio da resistência e perícia
• Sabedoria e capacidade de resolução de problemas práticos tão acentuados
• A capacidade de resolver novos problemas declina
• Senso de identidade continua a desenvolver-se
• Dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e dos pais idosos pode causar stress
• Partida dos filhos deixa o ninho vazio
• Para alguns, sucesso na carreira e ganhos atingem o máximo para outros ocorreu um esgotamento
profissional

• Procura do sentido da vida assume importância fundamental


• Para alguns, pode ocorrer a crise da meia-idade

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Alguns aspetos visíveis:
• Rugas
• Cabelos brancos
• Redução de agilidade
• Redução de força física
• Falta de firmeza nas mãos e nas pernas
• Perda de sensibilidade no tato
Pode-se salientar que o envelhecimento se concretiza mediante três formas:
• O normal – Ausência de patologia biológica e mental séria
• O patológico – Afetado por doença/ patologia grave
• O envelhecimento ótimo/bem-sucedido – condições favoráveis e propícios ao desenvolvimento
psicológico.

Processo do envelhecimento
• Fatores ligados à idade (as mudanças biológicas que ocorrem ao longo dos anos)
• Fatores ligados à história (mudanças sociais, económicas e políticas, que alteram as condições
concretas de vida das pessoas)
• Fatores ligados aos acontecimentos de vida (variam de pessoa para pessoa relativamente à sua
ocorrência ou não, à sua forma e ao momento em que ocorrem)
Envelhecer acarreta perdas significativas para o indivíduo com a modificação do seu papel na
sociedade: perda da sua ocupação profissional, perda de parentes e amigos, o aparecimento de doenças
crónicas e alterações psicológicas e fisiológicas. Cerca de 85% das pessoas idosas apresentam uma ou mais
das seguintes doenças ou problemas de saúde: artrite; hipertensão arterial; cardiopatias;
comprometimento da audição comprometimentos ortopédicos; cataratas; diabetes; problemas ao nível
visual; alzheimer. O Organismo humano sofre uma contínua redução na capacidade de realizar suas
funções, sendo estas perdas naturais e inventáveis. No entanto, condições ambientais como o estilo de vida
parecem estar diretamente ligadas à forma e velocidade que este processo irá acontecer.

Velhice, aspetos sociais - A velhice e a sociedade


Velhice e envelhecimento: Conceitos e análise
O conceito de velhice remete-nos, para a noção de idade indiciando que a velhice constitui um grupo
de idade homogéneo. A idade não é um fator que pode, por si só, medir as transformações dependentes do

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envelhecimento. As alterações que surgem com a idade dependem também do estilo de vida que cada um
teve ao longo do seu percurso.
As razões apontadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que fundamentam que a idade dos 65
anos serve para definir as pessoas como idosas, vão no sentido de que o avanço da idade aumenta os riscos
do sujeito associando-os às modificações físicas, psíquicas, e sociais influenciadas por fatores intrínsecas e
extrínsecos ao sujeito.

Vários sentidos que o conceito idade pode assumir:


• Idade cronológica: refere-se ao tempo que decorre entre o nascimento e o momento presente.
• Idade Jurídica: Corresponde à necessidade social de estabelecer normas de conduta e determinar
qual a idade em que o sujeito adquire determinados direitos e deveres perante a sociedade.
• Idade física e biológica: Que tem em conta ao ritmo a que cada indivíduo envelhece.
• Idade psicoafectiva: Reflete a personalidade e as emoções de um sujeito, não tendo esta limites
em função da idade cronológica.
• Idade social: relacionada à sucessão de papéis que a sociedade atribui a uma pessoa e que
corresponde às suas condições socioeconómicas.
Associando os fundamentos destas definições constatamos que todas elas incluem, na sua definição, a
influência que a interação do sujeito tem com os padrões de vida que o rodeia e socializa. O fator de idade
não serve para esclarecer quem é velho e quem não o é, alguns parecem velhos aos 45 anos de idade e
outros jovens aos 70 anos. Algumas expressões usadas no domínio comum da sociedade ocidental
mostram a dificuldade em romper com os preconceitos:
• “Tenho rugas, estou a ficar velho…”
• “Já não tenho força para nada”
• “Os anos vão passando”
• “Não fazem de nada e estão a tirar o lugar aos mais novos”
• “O trabalho não anda, estão todos velhos”
• “A juventude, de hoje, não sabe nada. No nosso tempo é que era…”
De uma forma geral, a sociedade vê a velhice como uma fase de declínio intelectual (“a memória está
fraca”, uma fase na qual a demência se instala (estado de confusão esquecimento e mudanças na
personalidade irreversível). É uma fase na qual há uma mudança de estatuto: a reforma. Isto significa mais
tempo livre ou a adoção de novos papéis e uma nova realidade física, económica e social.

As mudanças corporais características da velhice são:

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• A aparência física/cor de cabelo cinzento/branca;
• Órgãos dos sentidos (défice auditivo sobretudo no homem, diminuição da capacidade de
focalização dos objetos e outros);
• Músculos, osso e mobilidade (diminuição do peso e tonicidade muscular, diminuição da altura,
aparecimento de osteoporose);
• Órgãos internos (diminuição da capacidade de funcionamento do coração pela perda da tonicidade
muscular e ainda modificação do sistema imunitário, dado o declínio na produção de anticorpos).
Diversos problemas cognitivos aparecem na velhice e poderão não ser reflexo da idade, mas de fatores,
tais como: depressão, inatividade, efeitos secundários de medicação isolamento social, pobreza, falta de
motivação, falta de cuidados pessoais. No passado eram os mais velhos que desempenhavam o papel de
formadores na transmissão de experiências e conhecimento.
Estas expressões sobre a velhice representam um fenómeno recente, associado às transformações
económicas e sociais provocadas pela Revolução Industrial com início no séc. XVIII. As pessoas mais velhas
transmitem a sabedoria, a experiência inerente aos modos de produção (ensinavam um ofício aos mais
novos).
Após a Revolução Industrial, com o aumento da longevidade, associado ao desenvolvimento científico e
tecnológico, o idoso tornou-se um peso, um obstáculo e um encargo. Com a ajuda da medicina, atualmente
a terceira idade é uma parte considerável da população.
A partir daqui a função social da família perdeu importância dando lugar ao aparecimento de um grupo
de idade – os mais velhos – reconduzindo-o para um estatuto de inutilidade.
A velhice torna-se visível e de expressão pública. Coloca-se, assim, a questão de saber como e quem
assume a responsabilidade deste grupo etário, passando a ser encarando como um fenómeno social
passível de reposta sociais.
A longevidade deve-se à melhoria da qualidade das condições económicas e sociais e ao
aumento dos níveis gerais de higiene e saúde.

Mitos da Velhice - Atitudes, mitos e estereótipos

Estereótipo
Os estereótipos são crenças socialmente partilhadas a respeito dos membros de uma categoria social,
que se referem a suposições sobre a homogeneidade grupal e aos padrões comuns de comportamento dos
indivíduos que pertencem a um mesmo grupo social.

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Existência de essências ou traços psicológicos comuns entre os membros de uma mesma categoria
social.

Estigma social
É uma forte desaprovação de características ou crenças pessoais que vão contra normas culturais. Estigmas
sociais frequentemente levam à marginalização.

Mitos até hoje cercam a condição da velhice:


• Mito de senilidade: Supõe-se que a velhice e a doença andam juntas. A maioria da população idosa
é considerada com uma incapacitada, associando velhice com senilidade ou deterioração mental. A velhice
precisa ser vista como parte do ciclo vital e que envelhecimento começa logo após o nascimento. As
limitações não são doenças.
• Mito do isolamento social: Acredita ser a exclusão, o repouso, a solidão, o melhor para a vida do
idoso. Existe aqui uma confusão que mistura o facto de um idoso não poder mais realizar tarefas produtivas
e remuneradas como se esta fosse a única forma de interação social que se pode produzir.
• Mito da inutilidade: Nasce de uma sociedade capitalista onde as pessoas valem pelo que elas
produzem e pelo que elas conseguem possuir em função disto. É um mito totalmente baseado na produção
material e na ganância.
• Mito da pouca criatividade e da capacidade para aprender: Afirma que as pessoas em idade
avançada não têm mais capacidade. É certo que os idosos contam com maior lentidão e não possuem mais
tanta atenção, memória e agilidade. Porém são capazes e aprender muito, o que se necessita é criar outras
formas de ensino que se voltem para as necessidades e habilidades dos idosos. Não se pode querer que um
idoso que aprenda como uma criança ou um jovem.
• Mito da Assexualidade: nasceu de tabus culturais e de atitudes de muitos profissionais. As pessoas
velhas são julgadas como carentes de desejos sexuais e, no caso de manifestarem este desejo, são tidas
como anormais. Pensa-se que a sexualidade e as relações sexuais estejam reservadas para os jovens e
geralmente a sexualidade é confundida com genitália, e não vista como uma dimensão do ser humano que
está sempre presente.
Um conceito mais recente que define a velhice como uma fase do processo evolutivo vem substituindo
na maioria das sociedades o antigo significado de envelhecer, conceito esse que trazia toda uma carga de
negatividade. A velhice não se constituía objeto de preocupação social, antes, os idosos eram tratados com
atitudes filantrópicas e benevolentes com o intento ocultar os valores negativos que a sociedade que se

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modernizava lhe impunha. Considerava-se os idosos como alguém que existiu no passado, que realizou o
seu percurso psicossocial e espera o momento fatídico para sair da cena do mundo.
Atualmente, a velhice passa a ser objeto de cuidado a atenção especiais, que eram certamente
inexistentes nos últimos dois séculos. A mudança que se observa nas relações que a sociedade estabelece
com a velhice, não se verifica apenas pela mudança de valores, mas pelo aumento de esperança de vida
devido ao progresso da medicina que com todo o seu aparato tecnológico enfrenta as doenças crónicas
favorecendo a longevidade e contribuído dessa forma como um dos fatores para o aumento significativo da
população idosa, principalmente nos países jovens.
O aumento da faixa populacional considerada idosa tem exigido das sociedades e do poder público um
novo e sensível olhar sob a forma de investimento em políticas sociais que contemplam o idoso em suas
necessidades biopsicossociais.
A sociedade e o estado não podem ignorar o idoso, é preciso redefinir as imagens estereotipadas nas
quais a velhice aparece associada à solidão, doença, viuvez, e morte, enfatizando essa fase de vida como
uma condição desfavorável, muitas vezes indesejadas.
Uma boa iniciativa são as Universidades Abertas da Terceira Idade, instituições públicas e privadas que
têm trazido para dentro dos seus espaços um número cada vez maior de idosos que procuram retomar o
seu lugar na sociedade, participando como sujeitos de saber e não apenas como objetos de estudo.
Vários são os preconceitos, mitos e ideias erradas sobre o envelhecer que somado às mudanças, perdas
e incertezas que acompanham esta etapa da vida, transforma-se em verdadeiros fantasmas do envelhecer.
Isso dificulta a relação das pessoas com essa nova imagem, levando-as a rejeitar o envelhecimento como
um processo dinâmico, gradual, natural e inevitável.
Outro preconceito que dificulta ao idoso lidar com o processo de envelhecimento é a associação de
velhice à doença. Nesse sentido, é importante lembrar que o envelhecimento é um processo individual,
único influenciado pela história biopsicossocial do indivíduo.
Mas são poucas as doenças próprias do envelhecer, a pessoa que envelhece adoece como qualquer
outro. O que se recomenda é uma maior atenção à sua saúde física e psíquica e o estímulo ao autocuidado
uma vez que as suas defesas estão diminuídas, ocorrendo maior exposição às doenças.
A ideia de doença incorporado ao imaginário da pessoa que envelhece, leva-a a perceber-se doente e
incapaz, a resignar-se com este estado, negando-se a aceitar os limites naturais e resistindo assim a
descobrir formas mais saudáveis de conviver com eles.
Na medida em que se oferece ao idoso e à sociedade em geral informações sobre o processo natural do
envelhecimento e alternativas para um envelhecer ativo, esse imaginário vai modificando. Essa é uma
tarefa que deve desafiar toda essa população de idosos que ingressa nesse novo século.

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Baseada nas modificações intelectuais que podem ocorrer com o envelhecimento em relação à
memória, tem-se a falsa a ideia de que há uma completa deterioração das funções cognitivas, perdendo
assim, o idoso a sua capacidade de aprendizagem. Este preconceito tem também na sua base, numa visão
ainda hoje deturpada da educação que se destina aos jovens com o objetivo de os preparar para competir
no mercado de trabalho, isto é, para produzir. Por isso, parece tão estranho a figura do idoso a ocupar um
lugar nas salas de aula, nas oficinas, disputando vagas nas universidades e até mesmo no mercado de
trabalho.
Conforme mostram os estudos sobre este aspeto do envelhecimento, a capacidade de aprender na
idade mais avançada não é a mesma que na juventude, contudo é preciso retomar o conceito de diferente
para aceitar a ideia de que os idosos continuam a aprender de outra forma, como outro ritmo, com outros
interesses.
O preconceito em relação à sexualidade é um dos que mais pesam sobre a pessoa que envelhece. Dois
fatores que influenciam estas crenças:
1. A dificuldade em distinguir sexualidade e genitalidade;
2. Que a sexualidade é própria para a juventude.
Uma das formas de reconhecimento do corpo relaciona-se com as primeiras experiências do contacto
do bebé com a mãe o que influencia na aceitação da imagem corporal e na perceção do corpo como fonte
de prazer. Ao envelhecer a imagem desse corpo dececiona na medida em que supõe uma desilusão no
outro. Isto provoca um trauma que é agravado ainda mais pela cultura de valorização da estética e da
imagem física como se vê atualmente. Daí a importância de resgatar outros códigos percetivos e sensoriais
como o código tátil e do contacto com o próprio corpo e o do semelhante. A imagem corporal desfavorável
de si influencia a atividade sexual. Uma outra barreira é a pressão de opinião. A pessoa idosa dobra-se ao
ideal convencional que lhe é proposto. Teme o escândalo, ou simplesmente o ridículo. Torna-se escrava do
que vão dizer. Interioriza as obrigações de decência e de castidade impostas pela sociedade. E sentem
vergonha dos eus próprios desejos.
Sabemos que as modificações fisiológicas que ocorrem com o envelhecimento contribuem para
diminuição das respostas aos estímulos como a ereção do pénis, a lubrificação da vagina e outras. O desejo,
a capacidade de excitar-se e alcançar o orgasmo mantêm-se, para toda a vida numa pessoa saudável,
orgânica e psicologicamente.
A mulher que sempre foi vítima dos mitos e ideias erróneas sobre a menstruação, a gravidez e o parto e
cuja educação rígida a impediu de viver o prazer, vê-se nessa fase da vida, impedida, pela família e pela
sociedade, de exercer o direito à sua sexualidade. Torna-se assexuada. Embora se saiba que biologicamente

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a sexualidade da mulher é menos atingida pela velhice do que a do homem, para elas chegar à menopausa
significa não só parar de reproduzir, mas, abdicar de toda possibilidade de prazer.
Quanto ao homem, a quem foi dado todo o direito ao sexo, envelhecer significa diminuir o seu poder e
isto torna-se mais penoso para ele do que para a mulher. Para ambos, sob pena de serem vistos como
anormais, desejo, prazer, atividades sexuais estão proibidas negando a sexualidade coo uma função
humana que está presente em todas as fases do desenvolvimento com características diferentes em cada
uma elas.
A aceitação das mudanças e a procura de informações sobre o envelhecimento ajudam a diminuir a
influência negativa dos preconceitos sobre a sexualidade uma vez que estes têm maior pode de
interferência do que as modificações decorrentes de idades.
O envelhecimento é um fenómeno universal, normal e gradual, uma vez que implica um conjunto de
transformações que ocorre em todos os seres humanos com a passagem do tempo, independentemente da
sua vontade. Também é irreversível porque apesar de todos os esforços e avanços da ciência nada (até
agora) impede ou reverte o processo de envelhecimento. Por fim é único, inevitável e heterogéneo pois
depende da interação de fatores internos (como o património genético) externos (como o estilo de vida,
educação, ambiente e condições sociais). São estas interações que explicam a diversidade e
heterogeneidade do envelhecimento humano. No ser humano o envelhecimento resulta do
envelhecimento orgânico das células tecidos e órgãos, com a diminuição do seu funcionamento e
consequente diminuição da sua capacidade de sobrevivência, da alteração dos seus papéis na sociedade e
na família e da representação mental que o indivíduo faz de si próprio e do meio que o envolve.
A qualidade de vida dos idosos sofre os efeitos de numerosos fatores, entre eles o preconceito dos
profissionais, familiares e dos próprios idosos em relação à velhice. Há, assim, a necessidade de trabalhar
esses mitos desde infância, através dos meios de comunicação social, nas escolas e nas famílias.

Representações da Morte
Morte pode ser definida como sendo o cessar irreversível de:
1. Do funcionamento de todas as células, tecidos e órgãos;
2. Do fluxo espontâneo de todos os fluídos, incluindo o ar (“último suspiro”) e o sangue;
3. Do funcionamento do coração e pulmões;
4. Do funcionamento espontâneo do coração e pulmões;
5. Do funcionamento espontâneo de todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral (morte encefálica);
6. Do funcionamento completo das porções superiores do cérebro (neocórtex);
7. Do funcionamento quase completo do neocórtex;

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8. Da capacidade corporal da consciência.

Podemos considerar a morte como a maior das crises que o homem enfrenta. Todos nós enfrentamos
crises, algumas superáveis outras não, e embora estejam sempre presentes há uma diferença que interfere
na possibilidade de seu enfrentamento; na terceira idade as perdas aceleram-se, sendo que o tempo para
as superar é menor. Pode ocorrer, no entanto, o idoso sentir-se incapacitado ou frágil para enfrentá-las
instalando-se assim uma crise mais séria. Mesmo considerando que envelhecer e adoecer não sejam
sinônimos, não podemos ignorar que determinadas doenças são mais frequentes em idosos.
Existem as doenças psicossomáticas e ainda as modificações orgânicas que não são doenças, ou seja,
tudo isto se reflete na autoestima. Todos os conflitos gerados por estas situações, geram a preferência da
morte em detrimento pela dor física ou psíquica. Como se não bastasse há ainda o preconceito contra o
envelhecimento, o sentimento de ser um fardo pesado a alguém.

Aspetos sociológicos:
Nas sociedades primitivas os idosos eram venerados, fonte de sabedoria e experiência, hoje houve
inversão de valores, os idosos são marginalizados e perdem a sua valorização social. A sociedade tem
assistido a mudanças em relação à imagem do idoso. Em parte, devido ao aumento da esperança média de
vida e os problemas decorrentes da falta de preparação quanto a que atitudes devem ser tomadas tanto no
que diz respeito a aspetos sociais de atenção a saúdem como a um sistema previdenciário que os apoie. O
ideal não é simplesmente prolongar a vida como a ciência tem feito, mas que haja condições favoráveis a
uma vida digna onde não haja omissão quanto às condições do idoso. A verdade é que a velhice não é um
problema social, mas a forma com que a sociedade tem lidado com ela tem trazido problemas socias. A
possibilidade de ações multidimensionais, tendo em vista as características da velhice e das suas
determinantes biopsicossociais assustam-nos, principalmente a partir do momento da nossa
conscientização que também passaremos por esse processo que nos coloca a uma pequena distância da
morte, responsável de nos banir de uma sociedade que pensamos depender de nós, mas que nos
transcende.
A morte biológica significa o fim do organismo humano, mas o ser social só deixa de existir a partir do
momento em que uma série de cerimónias de despedida é realizada e a sociedade reafirma a sua
continuidade sem ele. Existe grande diferença entre conceitos passados como sinônimos. Envelhecimento,
idoso e velhice distinguem-se quanto aos seus aspetos. O envelhecimento é o processo que ocorre durante
o curso da vida, onde há modificações biológicas, psicológicas e sociais. O ser humano modifica-se
somaticamente do nascimento até à morte. O idoso geralmente é especificado pelo tempo cronológico,

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mas existem questões físicas, funcionais, mentais e de saúde que podem influenciar. O idoso é o resultado
do processo de desenvolvimento do seu curo de vida. Faz parte de uma consciência coletiva. A velhice é a
última fase do processo de envelhecimento. É um conceito abstrato, sendo possível delimitá-la em tempo
ou em características.
Cada pessoa teme mais um certo aspeto da morte. Afirma-se que se deve considerar a morte sob duas
conceções:

1. A morte do outro: o medo do abandono, envolvendo a consciência da


ausência e da separação.
2. A própria morte: A consciência da própria finitude, a fantasia de como será
o fim e quando ocorrerá.

Ao pensar na sua morte, cada pessoa pode relacioná-la a um dos seguintes aspetos:
• Medo de morrer: Quanto à própria morte, surge o medo do sofrimento e da indignidade pessoal.
Em relação à morte do outro é difícil ver o seu sofrimento e desintegração, o que origina sentimentos de
impotência por não se poder fazer nada.

• Medo do que vem após a morte: Diante da própria morte existe a ameaçado desconhecido, do
medo de não ser e o medo básico da própria extinção. Em relação ao outro, a extinção invoca a
vulnerabilidade pela sensação de abandono. O que parece mais temido na morte depende da época de
vida de cada um e das circunstâncias do momento como, por exemplo: o perigo eminente devido a
situações externas de guerras, crimes violência; perturbações internas que ameaçam o sujeito, como
medos e fobias, ou mesmo a morte de alguém. Para alguns a morte amedronta, pois é vista como um fim
ou como perda da consciência idêntica ao adormecer, desmaiar ou perder o controlo. O medo da morte
pode conter também o medo da solidão, da separação de quem se ama, o medo do desconhecido, o medo
do julgamento pelos atos terrenos, o medo que possa ocorrer aos dependentes, o medo da interrupção dos
planos e fracasso em realizar objetivos mais importantes da pessoa. São tantos os medos, que algum sem
dúvida faz parte da nossa vida. Os fatores que mais influenciam, no sentido de conter o medo da morte,
são: a maturidade psicológica do indivíduo, a sua capacidade de enfrentamento, a orientação e o
envolvimento religioso que possa ter e a sua própria idade.
A velhice traz consigo a perspetiva da morte. Mesmo com o aumento da esperança de vida é sempre
um período finito. Esta finitude passa a ser mais consciente com a chegada da velhice. A perda dos amigos,
familiares e de pessoas de referência social reforça esta característica.

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Quando existe uma doença grave, ou outra condição de saúde, incluindo aspetos físicos, mentais e
sociais que gera sofrimento, a morte passa a ser não só uma probabilidade, mas também uma alternativa.

Problemas socias da Velhice - A pessoa idosa no final do séc. XX


O envelhecimento tornou-se uma questão social e urgente. Nas últimas décadas, os avanços da
medicina e a melhoria da qualidade de vida contribuíram para o aumento da expectativa de via e da
população. Esta situação modificou a pirâmide etária, que se estreitou na base (infância e adolescência), e
se alargou no topo (velhice), pelo aumento da expectativa de vida e a diminuição mortalidade infantil.
Contudo, a modernidade é paradoxal: ao mesmo tempo que a expectativa de vida aumenta, os idosos
vivem num mundo estranho para eles. Além de preparar os idosos para essa nova configuração social, a
sociedade deve-se reestruturar e reeducar-se para recebê-los.
A representação da pessoa idosa sofreu modificações através da história devido às mudanças sociais
que reivindicavam políticas sociais para a velhice e à criação de novas categorias adaptadas à condição
moral e “ética” do velho. No séc. XIX, na França, a velhice caracterizava as pessoas que não podiam
assegurar o futuro financeiro, sendo designadas de acordo com a sua posição social: “velho” ou “velhote”
para os despossuídos que não podiam vender o seu trabalho; e “idosos” para aqueles com prestígio e
posses.
Hoje, a representação da velhice é marcada pela inserção do indivíduo de mais idade na produção,
estando vinculada à invalidez e à incapacidade de produzir. O termo “velho”, na maioria das vezes, está
carregado de conotações negativas, sendo empregado para reforçar a exclusão social daqueles que não
produzem mais dentro dos moldes das sociedades capitalistas.
A partir dos anos 60, mudanças em França tornaram os vocábulos “velhos” e “velhotes” pejorativos,
sendo suprimidos dos textos oficiais e substituído pelo termo “idoso”, transformando a representação das
pessoas mais envelhecidas.
Surge, então, um novo vocábulo para designar o grupo: a “terceira idade”, etapa interposta entre a
reforma e a velhice. Entretanto, a colocação de todos os idosos sob o rótulo de terceira idade tem criado
novos recortes como o “velho jovem” e o “jovem velho”. A terceira idade torna-se categoria classificatória
de uma classe heterogénea, disfarçando a realidade social.
Assim, o prolongamento da vida sem a melhoria das suas condições, torna o idoso num estorvo social
face à economia capitalista. As categorias de idade são construções histórias-sociais. A terceira idade é uma
criação das sociedades ocidentais contemporâneas, implicando a criação de uma nova etapa de vida,
acompanhada de agentes, instituições e mercados especializados.

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Os recortes de idade trazem a associação de práticas sociais. Estabelecem direitos e deveres, definem
diferenças entre gerações, distribuem poder e privilégios, o que pode ser percebido na idade para a
entrada e saída do mercado de trabalho, para votar, para casar, para morrer (socialmente), para estudar,
etc.
A idade geracional estabelece-se culturalmente, independentemente da estrutura biológica e dos
estádios de maturidade. A ideia de gerações supõe pessoas que vivenciaram as mesmas épocas, e a
mudança de geração implica mudanças de comportamento, na produção de um memória coletiva e
construção de uma tradição. Os idosos ativos, através das suas práticas socias, contribuem para essa
mudança de comportamento e a criação e uma memória coletiva, a serviço da resistência à velhice e ao
estigma do velho improdutivo e dependente. Numa cultura estruturada no modo produtivo, a saída do
mercado de trabalho modifica radicalmente a vida das pessoas, diminuindo-se a obrigações trabalhistas e
familiares, seguindo-se mais rápido em direção à velhice social. Com a criação da reforma, o ciclo de vida é
modificando em três etapas: a infância e adolescência (tempo de formação), a idade adulta (tempo de
produção), e a velhice (tempo de repouso).
A reforma pode ser recebida de diferentes formas pelos idosos: uns aceitam-na como recompensa
pelos anos em que trabalharam, outros recebem-na de forma negativa, associando-a ao afastamento social
e a perda do papel produtivo, tornando-se um sintoma social do envelhecimento.
Na sociedade atual, prega-se o respeito aos mais velhos enquanto se exige deles um lugar para os
jovens na produção, pois a valorização do profissional é proporcional à sua juventude e capacidade de
produção. Afastando-se do processo produtivo, o idoso torna-se responsabilidade do Estado que lhe paga a
reforma.
Novas estratégias para a transição para a reforma precisam de ser criadas com o objetivo de preparar
as pessoas para a mudança, de forma a se programarem para alcançar novos projetos de vida após a
reforma.
A velhice, na sociedade industrial capitalista, tem ficado à margem dos interesses produtivos. O idoso
tem sido rejeitado, e somente aqueles com prestígio social e de classes favorecidas podem esquivar-se da
marginalidade social através dos seus bens acumulados. Se idoso neste contexto é lutar para continuar a
ser homem, para sobreviver, sendo impedido de lembrar e ao mesmo tempo sofrendo as adversidades de
um ser que gradualmente se desagrega.
A sociedade industrial atribui à velhice a manutenção de papéis sociais do passado, relacionados à força
produtiva, e que são correspondem mais ao idoso. Nesta sociedade, os idosos não podem errar. Deles
esperamos infinita tolerância, perdão, ou uma abnegação servil para a família. Momentos de cólera, de

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esquecimento, de fraqueza são duramente cobrados aos idosos e podem ser o início do seu banimento do
seu grupo familiar.
Na velhice, a dificuldade de realizar tarefas fica mais evidente: as distâncias mais longas, as escadas
mais difíceis de subir, as ruas mais perigosas para atravessar. O mundo torna-se uma ameaça e falhas são
condenadas, tornando o idoso inseguro, com medo da solidão e da marginalização social.
A relação dos familiares com o idoso também se modificou. Representando como frágil, é poupado de
discussões e decisões familiares. Desta forma, é-lhe negado a possibilidade de conflito através da abdicação
do diálogo. Isto contribui para que ele reclame do abandono dos filhos e sinta-se banido e rejeitado.
Ter a consciência de que envelhecer é um processo natural não significa aceitar a velhice. Poucos são os
idosos que conservam a jovialidade do espírito, da alegria de estar vivo, a esperança do futuro, sem
revoltar-se com a nova situação.
Os valores juvenis têm feito com que o idoso se sinta inútil e indesejado, tornando-se depressivo,
ansioso, introspetivo, e reflexivo, pensando no tempo que falta viver. A velhice torna-se ruína, uma vez que
não se conserva os padrões de juventude eternamente.
Tudo isto leva a criação de estereótipos que caracterizam o envelhecimento: ser improdutivo, incapaz
de aprender, doente, exigindo cuidados, inferior ao jovem. Isto cria um abismo e um conflito de gerações
entre jovens e idosos.
O homem tende a abandonar o espaço de trabalho para o espaço doméstico, a mulher tende a adaptar-
se melhor à velhice, pois não se afasta tanto da esfera privada do lar. Elas tendem a conceber a velhice com
tranquilidade, liberdade, e felicidade, sem a autoridade comum dos maridos, e sem preocupação com o
espaço público. Para eles, a velhice tende a traduzir-se pela desobrigação do trabalho, possibilidade de
desfrute e lazer.
Os homens tendem a avaliar a sua idade pela produção no trabalho e as mudanças na saúde, enquanto
as mulheres a avaliam de acordo com as mudanças a nível familiar (saída dos filhos, chegada dos netos,
etc.).
Na velhice é preciso saber refletir sobre o vivido, assumindo novas posturas, como o resgate de valores
e modos de viver ainda não assumido; o rompimento de rotinas, a retomada de planos de vida incompleta;
o resgate de desejos pessoais; o retorno às emoções e sentimentos; e a reconstrução da identidade pessoal
e social com base em novos interesses e motivações. A vida é um “jogo de ganhos e perdas” e o problema
da velhice tem sido não saber tirar proveito desse jogo, pois ao interpretar a vida, em compreender o
outro, em ser sensível e em perceber o que é essencial, em descobrir habilidades, e em dedicar-se ao
outro. Envelhecer não é seguir um caminho já traçado, mas, pelo contrário, construí-lo permanentemente.

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Em função das suas representações sociais sobre a velhice, idosos assumem práticas sociais que
valorizam ou não a si mesmos. Para uns, ser idoso é começar a adoecer, não ver bem, esquecer tudo,
deprimir-se, sentir-se inferior e perder o entusiasmo pela vida.
Para outros, é tempo de novas experiências e conquistas, de convívio com amigos, viagens, ajuda aos
outros e desenvolvimento de capacidades.

Velhice, socialização e papéis sociais

Preparação para a velhice e os papéis de transição:


Da mesma forma que os adolescentes precisam de uma atenção especial para compreender as
mudanças que acontecem na puberdade, os envelhescentes necessitam de cuidados para enfrentar os
impactos sociais e as dúvidas que vêm com a meia-idade, como o medo de envelhecer.
Envelhescência é a fase do desenvolvimento humano que marca a transição entre a idade adulta e a
velhice. Com isso essa fase caracteriza-se por alterações em diversos níveis: físico, mental e social. Esta fase
representa para o indivíduo um processo de distanciamento de formas de comportamento e privilégios
típicos da idade adulta e de aquisição de características que o capacitem a assumir cuidados e
responsabilidades consigo, com sua família, comunidade e com o meio ambiente para o envelhecimento
que se aproxima. A velhice sempre foi um temor para a maioria das pessoas, por aproximá-las da senilidade
e da morte.
Os termos envelhescência e envelhescente marcam justamente este processo de transição entre idade
adulta e velhice, sendo a idade adulta marcada como a fase de formar-se profissionalmente, constituir
família e patrimônio e a velhice como sendo o terço final da vida, marcada pelo declínio físico e a morte. E é
usado para destacar a resistência dos adultos diante da velhice que se aproxima, e os excessos de
procedimentos em busca da juventude eterna numa forma incansável de distanciamento da morte
inevitável

Velhice e os novos papéis sociais:


Caracteriza-se por uma fase de mudança no comportamento, no estilo de vida e de aquisição de novas
competências que capacitem o adulto pré-idoso para assumir outros papéis sociais e postura diante de sua
vida.
Ser velho na nossa sociedade significa deixar de ser economicamente produtivo e, portanto, condição
para ser desconsiderado e abandonado. Muito mais que um destino, a velhice deve ser considerada como
uma categoria social. Deste modo, o idoso reformado deverá reconstruir a sua identidade pessoal através

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da interiorização de novos papéis e da busca de novos objetivos de vida, num processo de redefinição de
sua vida, ao mesmo tempo em que deverá assumir essa nova fase, repensando o estigma de ser inativo
nessa sociedade e estabelecendo novos pontos de referência.

Inserção do Idoso na Família


• Parte do cuidado com os idosos recai sobre a família. O idoso cada vez mais se vê na posição de
procurar não ser um fardo na vida da família. Muitos optam por si mesmos a mudar para clínicas e lares
geriátricos. Amparar esses idosos é um dos desafios da nova sociedade.
• Socialmente, participando: programas de políticas públicas ou privadas, grupos de convivência,
Universidades da Terceira Idade, centros sociais, atividades artísticas, religiosas, congressos, seminários,
debates, etc.
• Demonstram segurança pessoal, cuidam do seu corpo e de sua mente.
• Procuram o equilíbrio afetivo e emocional; namoram, casam de novo, trocam de parceiros.
Sexualidade
• O que interfere na vida sexual do idoso é mais de ordem psicológica e social do que da ordem das
limitações orgânicas. Ao pensarmos na velhice temos que considerar que ela é uma das possibilidades da
condição humana. Há vida na velhice como em qualquer outro momento da existência das pessoas. O sexo,
como as outras instâncias da vida, não deixa de se fazer presente na vida dos idosos. O sexo reinventa-se,
toma novas formas e expressões, não tem mais a exuberância e turbulência de quando se é jovem, mas
mantém toda a carga emotiva e afetiva que, em todo e qualquer relacionamento sexual saudável, se faz
presente independentemente da idade, da raça ou da opção sexual.

Modo de vida das pessoas de idade

Envelhecer difere de indivíduo para indivíduo e também de país para país, assim como de uma região
para outra. Na verdade, o processo de envelhecimento depende em grande parte dos hábitos de vida do
indivíduo e dos seus comportamentos. Este pode ser encarado pelo idoso como o apogeu de uma vida ou
como um estado de decadência.
Velhice é uma fase do desenvolvimento marcada por múltiplas perdas, mortes concretas e simbólicas,
que demandam trabalho de luto. São perdas significativas que fazem parte dessa fase, mas não deixa de
haver possibilidade de aprendizagens e crescimento pessoal, pois a vivência do envelhecer depende tanto
dos recursos internos, quanto das condições de apoio oferecidas pela família e sociedade.

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Vários estudos têm vindo a ser realizados na tentativa de descobrir a melhor forma de alcançar uma
boa qualidade de vida na velhice, isto porque, envelhecer é um processo natural da vida das pessoas, e o
importante será, não tentar parar o envelhecimento, mas sim viver com qualidade todo esse processo.
A prevenção do envelhecimento prematuro, procura evitar a incidência da dependência dos serviços
médicos, procurando-se cada vez mais integrar convenientemente o idoso, de uma forma autónoma, na
sociedade. Uma das soluções encontradas, passa pela atividade física para regular os fatores que
influenciam o envelhecimento como o sedentarismo que conduz a inúmeras doenças crónicas.

Condições de vida
A forma de viver-se a velhice está associada a várias questões que se interligam e que se tornam mais
complexas, porque uma das características desta etapa da vida é a sua heterogeneidade os sujeitos não
envelhecem de maneira igual, construindo suas próprias histórias de vida, com características e
dificuldades diferentes. Portanto, não se deve tratar a velhice de uma forma homogeneizada e que não se
leve em conta as diferenças.
Características de personalidade, competências e habilidades adquiridas ao longo da vida, estilo de
vida, apoio social, entre outras, são variáveis que estão presentes no envelhecimento bem-sucedido e na
qualidade de vida que se pode desfrutar na velhice.
• O envelhecimento é um processo natural que desperta muito medo e fantasias. É importante
ressaltar que o envelhecer com qualidade de vida está presente no desejo de todos, quer intrínseca quer
extrinsecamente, entretanto nem todos conseguem isto. Qualidade de vida na velhice implica em organizar
a vida dentro dos parâmetros definidos pelas limitações físicas e psicológicas.
• Estatuto do Idoso e a OMS (2003), implica garantir assistência à saúde, liberdade de escolha,
amigos, moradia, lazer entre outros. Ao referir-se à qualidade de vida, deixa claro que o conceito refere-se
à perceção do indivíduo quanto à satisfação em quatro áreas: social, afetiva, profissional e saúde. O
objetivo é enfatizar a qualidade de vida do idoso dentro dos parâmetros da velhice saudável, entendendo
assim que é intrínseca, porém também, deve-se considerar o contexto e as preferências do idoso.
Satisfação de viver
É óbvio que a velhice chega, mas há uma diferença muito grande entre envelhecer e envelhecer, o
envelhecer até uma coisa muito bonita, o que significa, experiência, sabedoria, vivência mesmo, o
diferencial dos envelhecimentos está na maneira de se envelhecer, da mente de cada um, já ouvi pessoas
dizerem do orgulho que tem de estarem na terceira idade, que envelhecer é uma dádiva de Deus, pois elas
se sentem felizes por chegarem a tal idade, com a satisfação de estar viva, de que mesmo que seus cabelos
estando brancos devido ao tempo que passou para elas, elas ainda amam a vida. A importância da família,

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o convívio (irmãos, filhos, genros, noras, netos, etc.) e a relação que este convívio tem com a saúde e a
satisfação de vida. A amizade e a vida social na velhice são extremamente importantes, pois evitam o
isolamento e a depressão. Quase todos precisam de atividades sociais, contatos interpessoais através de
encontros, festas, chás e até pequenas excursões. Nesta idade, isso também tende a diminuir. As amizades
e o conversar são gratificantes em qualquer época da vida.

Processo de envelhecimento/sensibilização à problemática da pessoa idosa


Em primeiro lugar, devemos distinguir o idoso rural do idoso urbano. Em segundo lugar, devemos olhar
o idoso no contexto família, incluindo filhos e netos.
Finalmente, deverão ser analisadas as relações sociais complexas fora da família. Assim, o idoso, no
meio rural era uma figura privilegiada, no seio da comunidade. À sua figura estava ligada toda a história
familiar e patrimonial; fossem ricas ou pobres, as famílias mantinham no seu seio idoso. O seu patrimônio
constituía como que uma garantia de assistência à velhice. Embora a divisão do património resultasse de
um sistema de desigualdades no seio de comunidades, a verdade é que o idoso, através do seu património,
estava presente na família e geria os seus bens até ao dia em que morria. Na família, o idoso era ponte de
ligação ou relacionamento com a geração seguinte.
Este modelo rural começou a ser alterado há dois séculos através da industrialização e consequente
crescimento das sociedades urbanos, e a maior parte dos idosos de hoje já fogem ao perfil anterior e
enquadram-se no perfil do que chamamos de idoso urbano. O idoso urbano defronta-se com vários
problemas resultantes de viver na cidade moderna, o maior dos quais é a solidão.
A solidão é mais do que o resultante do abandono a que alguns filhos votam os pais. A fuga dos jovens
para as periferias na procura de uma melhor qualidade de vida e de sucesso material a todo a custo, retira-
lhes tempo para outras ocupações, nomeadamente para o convívio com a família. O idoso é o elo mais
fraco da família, e por isso o primeiro a ser posto no fim da cadeia de relações familiares. A isto há que
juntar o envelhecimento da população urbana. O envelhecimento da população urbana é um fenómeno
relativamente recente e muito intenso, que resulta da ida das novas gerações para bairros novos. Os
cidadãos, nas suas respostas sociais, têm de aceitar que a sociedade tem um dever de gratidão a cumprir
com aqueles que protagonizaram o êxodo rural da década de 60 e que fizeram crescer às cidades. No caso
dos centros históricos, a solução está na sua renovação urbana, de modo a que os jovens se fixem lá.

A reforma:
Traz para os indivíduos um conjunto de perdas que eram valores importantes, tais como o convívio com
os colegas, o “status” social de pertencer a uma organização, o poder de exercer influência sobre os outros,

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assim como a própria rotina enquanto referencial de existência. É uma fase que provoca mudanças e pode
gerar ansiedades no indivíduo, considerando- se a sua história na relação com o grupo social ao qual
pertence. A sua identidade, como pessoa e como ser social, pode ficar ameaçada. É, ainda, um período de
enfrentamento de outra questão: a de ser considerado velho.
• Respostas Institucionais
• Pensar novas respostas
Cada vez mais, torna-se fundamental manter a pessoa idosa no seu meio social tendo em vista o seu
bem-estar física, psíquico e emocional. Desta forma, questiona-se cada vez mais a institucionalização da
pessoa idosa como resposta social prevalente, verificando-se uma tendência para a atuação conjunta dos
vários organismos institucionais, quer a nível nacional como a nível local no sentido de criar respostas
alternativas à institucionalização do idoso. Criaram-se nos últimos anos respostas sociais institucionais
existentes podendo caracterizar-se segundo dois tipos: o acolhimento permanente que engloba os
equipamentos de colocação institucional de idosos, tais como: os lares, as residências e famílias de
acolhimento; o acolhimento temporário, de caráter não institucional, reúne os serviços de apoio e
acompanhamento local dos idosos, tais como: os serviços de apoio domiciliário.
Cada vez mais, as instituições tentam oferecer serviços que promovam um envelhecimento bem-
sucedido, que potenciam a conservação do empenhamento social e do bem-estar subjetivo, conceitos
estes difundidos pelos especialistas nesta matéria.
Nos últimos anos têm vindo a realizar-se vários estudos no sentido de se saber quais os fatores que
mais contribuem para a melhoria da qualidade e diversidade das respostas sociais que permitam uma
maior satisfação das necessidades da pessoa idosa, quer esteja ou não institucionalizada. Os sentimentos
de felicidade, de tristeza e de bem-estar subjetivo não se degradam com a idade e que os idosos não têm
uma satisfação de viver inferior às dos jovens. A variabilidade entre os indivíduos parecem, pelo contrário,
aumentar com o envelhecimento, neste sentido fala-se cada vez mais de velhices e não de velhice, não
existindo assim a velhice, mas antes dando ênfase à existência da heterogeneidade com que cada idoso
vive o seu próprio processo de envelhecimento, sendo este, altamente influenciado pelo suporte social de
que dispõe, permitindo ao mesmo tempo a manutenção da sua participação social, tanto quanto possível.
O isolamento e a ausência das relações com os outros são fatores de predição dos comportamentos
suicidas, que foram também ao encontro dos estudos feitos com idosos. Neste sentido, os equipamentos
sociais têm de basear todas as suas respostas fazendo com o que as pessoas percebam o seu potencial,
promovendo o seu bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da sua vida, o que inclui uma
participação ativa dos seniores nos mais variados domínios da sociedade, intervindo nas questões
económicas, espirituais, culturais, cívicas e até mesmo ao nível da participação das políticas sociais.

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Referências às respostas sociais:
• O bem-estar físico, em que se destacam os aspetos materiais, saúde, higiene e segurança;
• As relações interpessoais, que podem incluir a família, amigos e participação na comunidade;
• O desenvolvimento pessoal, que representa as oportunidades de desenvolvimento intelectual, e
autoexpressão;
• As atividades recreativas que podem subdividir-se em três partes: Socialização, entretenimento,
passivo ou ativo;
• As atividades de caráter espiritual, em que estão envolvidas, a atividade simbólica, religiosa e o
autoconhecimento.
Muitos estudos vêm refletir que a atualidade de vida, ou falta desta nos idosos, depende em grande
medida do facto dos idosos possuírem autonomia para executar as atividades do dia-a-dia, manter uma
relação familiar ou com pessoas significativas para si, ter recursos económicos suficientes e
desenvolver/participar em atividades lúdicas e recreativas continuamente.
As respostas sociais tendem a evoluir, sendo que estudos apontam para:
• O aumento da procura deste tipo de serviços, havendo um elevado nível de procura expressa não
satisfeita (lista de espera) nas valências para idosos;
• Que os atuais centros de convívio poderão evoluir para as chamadas universidades de terceira
idade, tornando-se assim mais dinâmicos, e com uma maior adesão por parte dos idosos, sendo mais
ativos;
• Para que os centros de Dia funcionem todos os dias da semana (fins de semana e férias) e em
horário mais alargado;
• Que os serviços de apoio ao domiciliário tenderão a aumentar, assim como os serviços tenderão a
funcionar todos os dias, mesmo no horário noturno;
• Que os lares tenderão a diminuir, tornando-se cada vez mais especializados em grandes
dependestes e idosos com demência;
• Que irão surgir mais residências, versões mais reduzidas (até 25 utentes) e melhorados os lares;
• Que o trabalho como idoso irá ser cada vez mais especializado e exigente;
• Para que exista um aumento bastante significativo de atividades de animação para sénior.
Tendo em conta os estudos realizados nesta área que vieram contribuir para encarar de forma
diferente o processo de envelhecimento, bem como, as problemáticas que se colocam, a necessidade de
uma formação específica e contínua dos recursos humanos destas instituições e equipamentos sociais, quer
ao nível das chefias, quer ao nível dos seu colaboradores, tornam-se fundamentais. Essa formação deve ser
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específica e contínua, uma vez, numa sociedade em constante mudança vão surgindo novas realidades e
novas problemáticas que este tipo de serviços deverá dar resposta. Assim, é necessário que as instituições
e equipamentos sociais tenham um espírito de abertura suficiente face ao exterior, no sentido de estarem
em pleno contato com o meio, sendo capazes das necessárias adaptações, quer ao nível das políticas
socias, quer ao nível das respostas que efetivamente prestam. Assim, e só assim, este tipo de serviços e
equipamentos sociais poderão colocar o utente, o cliente no centro de toda a sua atuação, sendo este o
princípio primordial de toda e qualquer resposta social, de acordo com as novas orientações. Embora os
apoios sociais e financeiros dirigidos aos idosos se continuem a revelar insuficientes no nosso país, parece-
nos relevante salientar algumas formas de equipamentos disponíveis, nomeadamente:
• Lares dos idosos: equipamentos coletivos de alojamento permanente ou temporário, destinados a
fornecer respostas a idosos que se encontrem em risco, com perda de independência e/ou autonomia. A
insuficiência de lares de idosos estatais tem dado origem a uma verdadeira proliferação de lares privadas
(que visam essencialmente fins lucrativos), que muitas vezes funcionam clandestinamente e sem as
condições que confiram aos idosos o mínimo de dignidade.
• Lares para cidadãos dependentes: constituem respostas residenciais a idosos, que apresentam um
maior grau de dependência (acamados).
• Centros de dia: constituem um tipo de apoio dado através da prestação de um conjunto de
serviços dirigidos a idosos da comunidade, cujo objetivo fundamental é desenvolver atividades que
proporcionem a manutenção dos idosos no seu meio sociofamiliar.
• Centros de Convívio: são centros a nível local, que pretendem apoiar o desenvolvimento de um
conjunto de atividades sócio recreativas e culturais destinados aos idosos de uma determinada
comunidade.
Apesar das respostas sociais nem sempre correspondem ao desejável, vai-se notando uma crescente
preocupação em implementar respostas inovadoras, destacando-se recentemente:

O Apoio Domiciliário
Consiste na prestação de serviços, por ajudantes e/ou familiares no domicílio dos utentes, quando
estes, por motivos de doença ou outro tipo de dependência, sejam incapazes de assegurar temporária ou
permanentemente as satisfações das suas necessidades básicas e/ou realizar as suas atividades diárias. É
um tipo de apoio que conquistou muito adeptos, na medida em que se caracteriza pela prestação de um
serviço de proximidade com cuidados individualizados e personalizados. Além disso, é preservada a família
e a casa constituem para o idoso um quadro referencial muito importante para a sua identidade social.

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Acolhimento familiar
Consiste em apoios dados por famílias consideradas idóneas que acolhem temporariamente idosos,
quando estes não têm família natural ou tendo-a não reúne estas condições que proporcionem um bom
desempenho das suas funções.

As Colónias de Férias e o Turismo Sénior


São prestações sociais em equipamentos ou não, que comportam um conjunto de atividades que
pretendem satisfazer as necessidades de lazer e quebrar a rotina, proporcionando ao idoso um equilíbrio
físico, psíquico, emocional e social.
O Termalismo
É uma medida que visa permitir aos idosos em férias tratamentos naturais, reduzindo assim o consumo de
medicamentos. Proporciona também a deslocação temporária da sua residência habitual, permitindo deste
modo o contacto com o meio social diferente, promovendo a troca de experiências, que quebram ou
reduzem o frequente isolamento social.

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Conclusão
O ser humano pode envelhecer como um sábio ancião ou permanecer nos estágios infantis
do psiquismo. Autonomia e independência são, portanto, resultantes do equilíbrio entre o
envelhecimento psíquico e biológico. A singularidade individual torna-se mais
exuberante quando se avaliam ambas as dimensões, biológica e psíquica, associadas ao
contexto familiar e social, ou seja, a integralidade do indivíduo.
O processo de envelhecimento é, portanto, absolutamente individual, variável, cuja
conquista se dá dia após dia, desde a infância. A velhice bem-sucedida é consequência de
uma vida bem-sucedida.

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Referencias bibliográficas
Hutz, C; Bandeira, D. & Trentini, C. (2018). Avaliação Psicologica e da Personalidade. Artmed editora.
Paúl, Constança. (2006). Psicologia do envelhecimento. In Firmino H.; Pinto, L.C.;
Serra, A. V. (2006). Que significa envelhecer? In Firmino H.; Pinto, L.C.; Leuschner
A.; Barreto J. Psicogeriatria (pp.21-33). Coimbra: Psiquiatria Clínica;

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