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CENTRO DE EMPREGO DA MAIA

Velhice – Ciclo Vital e Aspetos


Sociais

Carla Pereira

2016

Técnico/a de Apoio Familiar e de


Apoio à comunidade
CENTRO DE EMPREGO DA MAIA

Índice
Introdução-----------------------------------------------------------------------------4

Velhice – ciclo vital

 Velhice e tarefas do desenvolvimento psicológico-----------------------------5


 Teorias sobre o envelhecimento psicossocial-----------------------------------7
 Teorias psicossociais de Eric Erickson, R. Peck e Buhler---------------------9
 Do jovem adulto à meia-idade---------------------------------------------------11
 Tarefas evolutivas do jovem adulto
 Mudança no campo dos interesses e no sistema de valores
 Casamento e seus ajustamentos
 Carreira profissional e seus ajustamentos
 Família e seus ajustamentos
 A meia-idade e as tarefas evolutivas---------------------------------------------12
 Aspetos estruturais e funcionais da meia-idade--------------------------------12

Velhice - aspetos sociais


 A velhice e a sociedade-----------------------------------------------------------14
 Velhice e envelhecimento: Conceitos e análise
 Mitos da velhice
 Início da velhice e aptidões da velhice
 Negatividades da velhice
 Isolamento e solidão na velhice
 Atitudes, mitos e estereótipos----------------------------------------------------17
 Definições
 Ideias pré-concebidas
 Atitudes relacionadas com a pessoa idosa
 Mitos e estereótipos – perigos potenciais
 Representações da morte---------------------------------------------------------23
 Problemas sociais da velhice-----------------------------------------------------26
 Reconhecimento, perspetiva e reflexão sobre
problemas que se colocam à pessoa idosa na atualidade
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 a situação no princípio do século


 a velhice e o pós-guerra
 A pessoa idosa no final do século XX -----------------------------------------28

Velhice – socialização e papéis sociais


 Aspetos sociais da velhice--------------------------------------------------------30
 Socialização e papéis sociais
 Preparação para a velhice: os papéis de transição
 Velhice o os novos papéis sociais

Velhice – socialização e papéis sociais

 O modo de vida das pessoas de idade-------------------------------------------32


 As condições de vida
 A satisfação de viver
 Processo de envelhecimento/sensibilização à problemática da pessoa idosa-
----------------------------------------------------------------------------------------34
 O ser velho no ciclo da vida
 Ser velho hoje, no meio rural e no meio urbano
 A reforma
 Coabitação/conflito de gerações
 Respostas institucionais
 Pensar novas respostas

 A pessoa idosa noutras civilizações--------------------------------------------38

Conclusão----------------------------------------------------------------------------40
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

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Introdução

O aumento da esperança média de vida gerou um crescimento acentuado da população


idosa, o que criou problemas, devido à falta de preparação da sociedade para esta
realidade. Como se pode verificar, por exemplo, ao nível dos sectores – social e da saúde.
Para melhor compreender esta realidade é importante perceber as diversas etapas de
desenvolvimento do ser humano, que se caracterizam por tarefas biopsicossociais - que o
indivíduo deve cumprir em cada uma delas para ter êxito. Aceitar os anos a mais não
implica negar os papéis sociais e ficar parado, sem novas funções. Pois é, nada de
desperdiçar os potenciais dessa geração de envelhescentes e envelhecidos. Isso tudo serve
para mostrar que os adultos não podem submeter nossos idosos ao descaso. Devemos
parar, observá-los, escutá-los, conversar com eles, trocar ideias.

Este manual consiste numa explicação sobre o que é a velhice explicando o seu processo
através de diversas teorias. O envelhecimento é um fenómeno universal, irreversível e
inevitável em todos os seres vivos e o organismo humano no decorrer de seu
desenvolvimento passa por um processo dinâmico de transformações.

Todo indivíduo ocupa uma posição na sociedade a que pertence, com maior ou menor
prestígio, menores ou maiores ganhos, menor ou maior poder. Na realidade são muitos os
papéis atribuídos a um só indivíduo ao longo da sua história de vida, com implicações
relativas aos modelos de sociedade. Os papéis sociais atribuídos ou conquistados têm em
vista a interação social e resultam do processo de socialização, e perceberemos quais os
papéis que uma pessoa terá na sua velhice.

Este manual tem como objetivos:

Objetivos Gerais

 Identificar os problemas que se colocam à pessoa idosa na atualidade.


 Descrever a velhice do ponto de vista físico, psicológico e social, distinguindo-se
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das outras “2 idades de vida”.


 Identificar o quadro conceptual básico que permita caracterizar o envelhecimento
nos contextos sociais em que se irá desenvolver.
 Reconhecer e relacionar os diferentes aspetos sociais da velhice.

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Objetivos específicos

 Reconhecer as diferentes tarefas do desenvolvimento psicológico.


 Descrever o processo de envelhecimento a nível físico, psicológico e social.
 Enumerar e descrever as diferentes teorias biológicas, psicológicas e sociológicas.
 Diferenciar as principais teorias do desenvolvimento humano, nomeadamente,
Eric Erickson, Pech e Bulher.
 Reconhecer as tarefas evolutivas e os principais desenvolvimentos do jovem
adulto e da meia-idade.
 Saber quais as alterações estruturais e funcionais que a pessoa sofre da idade
adulta para a velhice.
 Identificar a fase da transição da idade adulta para a velhice, bem como, os novos
papéis sociais.
 Descrever o modo de vida da s pessoas de idade, relativamente às suas condições
de vida e à sua satisfação de viver.
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Velhice: Ciclo - vital

 Velhice e tarefas do desenvolvimento psicológico

O envelhecimento é um fenómeno universal, irreversível e inevitável em todos os seres


vivos. No ser humano, o envelhecimento resulta não só do envelhecimento orgânico das
células tecidos e órgãos, com a diminuição do seu funcionamento e consequente
diminuição da sua capacidade de sobrevivência, bem como da alteração dos seus papéis
na sociedade, em geral e na família, em particular e ainda da representação mental que o
indivíduo faz de si próprio e do meio que o rodeia (Cordeiro, 1994).

Havighurst (1953), um dos mais prestigiados


psicólogos do desenvolvimento humano
realizou nos anos quarentas e cinquentas do
Século XX com outros autores uma série de
pesquisas sobre o que denominou o ciclo de
vida. O ciclo vital começa com conceção e
termina com a morte, isto é, todo o ser
humano nasce, reproduz-se e morre! Com base em suas pesquisas e de seus
colaboradores, bem como nos trabalhos de outros, achou que era adequado um modelo
biopsicossocial. Sugeriu proposta de tarefas de desenvolvimento que se caracterizam por
tarefas biopsicossociais que o indivíduo deve cumprir em cada uma delas para ter êxito
(Havighurst, 1953; Bischof, 1976). Percebe-se por tarefas de desenvolvimento aquelas
que os indivíduos devem cumprir para garantir seu desenvolvimento e seu ajustamento
psicológico e social. São tarefas com as quais as pessoas satisfazem as suas necessidades
pessoais e garantem o desenvolvimento e manutenção de padrões sociais e culturais.
Desta forma dão sustentação ao progresso social e cultural e em consequência ao bem-
estar do indivíduo. São tarefas comuns naquela etapa em cada parte do mundo, no entanto
há características particulares em decorrência do contexto sócio-histórico e das
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experiências de vida das pessoas.

De acordo com Netto, as tarefas de desenvolvimento são “lições” que as pessoas devem
aprender ao longo da sua existência para se desenvolverem de forma satisfatória e terem
êxito na vida. As tarefas não são estanques em cada etapa, embora algumas sejam
preferencialmente típicas de uma determinada fase. Em cada fase todas se relacionam

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entre si e o estrago numa das tarefas pode comprometer o desenvolvimento futuro dessa
tarefa ou de posteriores, isto é, cada fase de tempo da vida é influenciada pelo que
aconteceu antes, e o que se vive hoje afetará os acontecimentos futuros.

Na infância o indivíduo tem como tarefa básica dominar a leitura e a escrita que servirá
de instrumento para a sua independência, para uma comunicação mais ampla e efetiva,
que posteriormente facilitarão as escolhas de formação e profissionalização, entre outras
possibilidades. Muitas vezes contingências sejam elas sócio culturais ou económicas,
certas vezes, impossibilitam o cumprimento dessa tarefa no momento apropriado do ciclo
da vida. Muitas pessoas não conseguem cumprir a tarefa, outras só irão cumpri-la na
adolescência, na vida adulta ou até mesmo na velhice. Seguramente isso afeta o
cumprimento de outras tarefas posteriores e representa muitas vezes perda de autoestima,
redução na sua qualidade de vida, exclusão.

Dessa forma, as tarefas da juventude, ou adolescência se relacionam com as da fase


anterior e prolongam-se para o período subsequente, sendo, a tarefa básica a formação
pessoal e emancipação. As tarefas do adulto são: responsabilidades cívicas e sociais;
estabelecer e manter um padrão económico de vida; ajudar os filhos a serem futuros
adultos responsáveis e felizes; desenvolver actividades de lazer; relacionamento com o(a)
esposo(a); aceitar e ajustar-se às mudanças físicas da meia-idade e ajustar-se aos pais
idosos. Ao ter em atenção as tarefas de adulto a pessoa está simultaneamente se
preparando para viver bem a velhice, cuidando de adquirir e de manter comportamentos
que ajudarão ter boa qualidade de vida nessa etapa (Neri & Freire, 2000).

Os idosos têm tarefas que se diferenciam das outras idades, por seu carácter funcional,
uma vez que são mais defensivas e preventivas mas isso não é razão para se ter uma
perspetiva negativa da velhice. As tarefas dos idosos são, ajustar-se ao decréscimo da
força e saúde; ajustar-se à reforma; ajustar-se à morte do(a) esposo(a); estabelecer filiação
a um grupo de pessoas idosas; manter obrigações sociais e cívicas assim como investir
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no exercício físico satisfatórios para viver bem a velhice.

Cumprir todas as tarefas é importante, como é importante também que o idoso conte com
o apoio da família, da sociedade e dos profissionais que atuam na área. Desta forma: ele
poderá ter uma velhice bem-sucedida e usufruir do prazer de ser e de viver, contribuindo
para o bem de todo.

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 Teorias sobre o envelhecimento psicossocial

O envelhecimento é um fenômeno Biológico, psicológico e social que atinge o ser


humano na plenitude da sua existência, modifica a sua relação com o tempo, o seu
relacionamento com o mundo e com a sua própria história.

Segundo a OMS, a terceira idade tem início entre os 60 e 65 anos, o processo de


envelhecimento depende de três classes de fatores principais: biológicas, psíquicas e
sociais. São estes fatores que podem acelerar ou retardar o aparecimento e a instalação de
doenças e sintomas características da idade madura.

 Teoria da Continuidade

Afirma que o envelhecimento é uma parte integral e funcional do ciclo de vida. O


individuo idoso em todas as possibilidades de manter todos os seus hábitos de vida,
preferências, experiências, compromissos construídos durante a vida.

 Teoria da Atividade

Existe um consenso sobre a relação entre as atividades sociais e a satisfação vivida. A


velhice deve ser planeada e sucedida pressupondo a descoberta de novos papéis de modo
a manter autoestima para obter maior satisfação na vida. Tudo isto leva a hipótese de que
a sociedade deve conservar a saúde valorizando o avançar da idade.

 Teoria da desinserção

O envelhecimento é acompanhado por um desmembrar entre o indivíduo e a sociedade.


Quando a desinserção é geral, o indivíduo, modifica o seu sistema de valores. A perda do
papel que desempenha na sociedade, a perda de relações pessoais e sociais acabam por
tornar-se situações rotineiras e normais. Verifica-se que a diminuição da satisfação da
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vida é proporcional à diminuição das atividades diárias.

Fala-se do envelhecimento como se tratando de um estado tendencialmente classificado


de “terceira idade” ou ainda “quarta idade”. No entanto, o envelhecimento não é um
estado, mas sim um processo de degradação progressiva e diferencial. Afeta todos os
seres vivos e o seu termo natural é a morte do organismo. É, assim impossível datar o seu

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começo, porque de acordo com o nível no qual ele se situa (biológico, psicológico, social),
a sua velocidade e gravidade variam de indivíduo para indivíduo.

 Teorias psicossociais de Eric Erickson, R. Peck e Buhler

Eric Erickson (1950, 1982)

Erickson propõe uma conceção de desenvolvimento em oito


estádios psicossociais, perspetivados por sua vez em oito
idades que decorrem desde o nascimento até à morte. Erickson
dá especial importância ao período da adolescência, devido ao
facto ser a transição entre a infância e a idade adulta, em que
se verificam acontecimentos relevantes para a personalidade
adulta.

Na teoria Psicossocial do desenvolvimento, este desenvolvimento evolui em oito estádios,


os primeiros quatro estádios decorrem no período de bebé e de infância, e os últimos três
durante a idade adulta e a velhice. Cada estádio contribui para a formação da
personalidade total, sendo por isso todos importantes mesmo depois de os atravessar. O
núcleo de cada estádio é uma crise. A formação da identidade inicia-se nos primeiros
quatro estádios. Erickson perspetivava o desenvolvimento tendo em conta aspetos de foro
biológico, individual e social.
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Estádios de desenvolvimento Psicossocial

Robert C. Peck
Os dois últimos estádios de Erikson dão uma definição demasiado
geral da idade adulta e velhice e portanto, Peck procurou uma
definição mais precisa para as questões relacionadas com a meia-
idade e velhice.
Então, expande a teoria de Erikson, e descreve três ajustes
psicológicos importantes para a fase final da vida:
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1. Definições mais amplas do “eu” contra uma preocupação com papéis de trabalho
- São aqueles que definiram as suas vidas pelo trabalho, direcionando o seu tempo
à conquista de méritos profissionais pessoais;
2. Superioridade do corpo contra preocupação do corpo - Aqueles para que o bem-
estar físico é primordial à existência feliz, poderão ficarem mergulhados no
desespero ao enfrentarem a diminuição progressiva da saúde, com a chegada da
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terceira idade, e o surgimento das dores e limitações físicas. Peck afirma que ao
longo da vida, as pessoas precisam cultivar faculdades mentais e sociais que
cresçam com a idade.
3. Superioridade do “eu” contra uma preocupação com o “eu” - provavelmente o
mais duro e mais importante ajuste para o idoso seja a preocupação com a morte
próxima. O reconhecimento do significado duradouro de tudo o que fizeram
ajudará a superar a preocupação com o eu e continuarem a contribuir para o bem-
estar próprio e dos outros.

Charllotte Buhler (1935)


Estabeleceu uma diferença entre as vidas baseadas apenas na
vitalidade e Mentalidade.
Através da sua teoria constata-se portanto, que as pessoas se
desenvolvem também após a juventude.
“ Uma pessoa permanece jovem na medida em que ainda é capaz de
aprender, adquirir novos hábitos e tolerar contradições.” (Marie von Ebner-Escherbach).

A Teoria do Curso da Vida - Humana de Charlotte Buhler explica que cada fase é definida
a partir de:
 Mudanças em termos de acontecimentos, atitudes e realizações durante o ciclo de
vida;
 Forma como são geridos os objetivos pessoais de cada indivíduo.

Define cinco estádios no ciclo de vida.

Teoria do Curso da Vida - Humana de Charlotte Buhler

Idade Fase
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0 - 15 Criança/jovem vivendo em casa dos pais; não existe autodeterminação dos


objetivos pessoais

15 -25 Expansão preparatória e autodeterminação experimental dos objetivos pessoais

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25 -45 Culminação: autodeterminação definida e específica dos objetivos pessoais

45 - 65 Autoavaliação dos resultados das tentativas e esforços para alcançar os objetivos


pessoais

65+ Realização dos objetivos ou sensação de falhanço; as atividades prévias continuam,


nesta fase pode verificar-se o reaparecimento de objetivos de curto prazo centrados
na satisfação de necessidades imediatas.

 Do Jovem adulto à meia – idade


O jovem adulto vai desenvolver o seu “eu” e a maneira
como vê o outro. Este desenvolvimento permite uma
separação psicológica dos pais da infância e uma relativa
autossuficiência no mundo adulto. Vai facilitar a relação
de reciprocidade com os pais.
Verifica-se o desenvolvimento de amizades adultas, mais
difíceis de serem mantidas, diferentes daquelas da
adolescência. Amizades com pessoas de diferentes idades
e de diferentes estatutos sociais.
Desenvolve-se a capacidade para a intimidade emocional e sexual. Aqui temos presente
a crise já falada por Erickson (intimidade vs isolamento). O jovem adulto poderá criar
intimidade com outros. A vertente negativa é o isolamento de quem não consegue
partilhar afetos com intimidade nas relações privilegiadas. As virtudes básicas desta crise
são o amor e a filiação.
É nesta idade que se tornam pai ou mãe em termos biológico e psicológicos, isto é
“engravidar até pode ser fácil; difícil é ser pai ou mãe”.
É nesta idade que se forma uma identidade profissional adulta, encontrando um lugar
gratificante no mundo do trabalho.
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Dever-se-á desenvolver formas adultas de brincar, isto é, manter-se em contacto com “ a


criança de cada um de nós”. Não se deve esquecer que o brincar é a base do, inventar, do
criar, do descobrir, essenciais na atividade artística e científica.
Toma-se consciência da limitação do tempo e da morte pessoal, de forma integrada.

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O início da idade adulta varia de um indivíduo para o outro e uma passagem adequada
para essa fase depende da resolução satisfatória das crises da infância e da adolescência.
É um período de grandes mudanças, no qual a pessoa adquire total maturidade e
apresenta o máximo em seu potencial para a satisfação pessoal. A pessoa deve ser capaz
de mudar sempre para atender às exigências das situações. Esta fase é marcada por várias
transições e transformações.

 Carreira profissional e seus ajustamentos

A noção de carreira passa a ser vista como uma responsabilidade dos indivíduos, que para
se ajustarem na estrutura organizacional, passam a desenvolver competências e
habilidades que atendam às atribuições de suas novas funções, além das necessidades e
expectativas da organização.

 Casamento e seus ajustamentos

O casamento é um processo que passa por transições, por fases e evolui, ou seja, está em
constante mudança.
Todos os casamentos saudáveis experimentam a mudança e a transição. E isso é o que os
mantém vivos e em crescimento. Algumas fases de crescimento são previsíveis, outras
não.
O casamento divide-se cronologicamente:
 Recém-casados (0 - 5 anos),os primeiros anos de profundo conhecimento
do novo casal.
 Crescimento (6 - 25 anos), geralmente coincide com a fase ativa dos
cônjuges, chegada e crescimento dos filhos.
 Maturidade (acima de 26 anos), também conhecido como a fase do
“ninho vazio”, quando os filhos começam a sair de casa para se casarem.
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 Família e seus ajustamentos

Assim, como o indivíduo, a família passa por estágios de desenvolvimento, conduzindo


ao crescimento e à transição para um novo nível necessário e importante no ciclo vital:

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Formação do Casal, Família com filhos Pequenos; Família com Filhos na Escola; Família
com Filhos Adolescentes, Família com Filhos Adultos.

 A meia-idade e as tarefas evolutivas

 Aceitação do corpo que envelhece;


 Aceitação da limitação do tempo e da morte pessoal;
 Manutenção da intimidade;
 Reavaliação dos relacionamentos;
 Relacionamentos com os filhos
 Relação com seus pais: inversão de papéis, morte e individuação;
 Exercício do poder e posição: trabalho e papel de instrutor;
 Novos significativos, habilidades e objetivos dos jogos na meia-idade;
 Preparação para a velhice.

 Aspetos estruturais e funcionais da meia-idade

O envelhecimento é um processo caracterizado de variadíssimas e complexas alterações,


tanto estruturais como funcionais, que conduzem a uma incapacidade progressiva do
organismo se adaptar ao meio que o rodeia.

O organismo humano no decorrer de seu desenvolvimento passa por um processo


dinâmico de transformações.

Principais desenvolvimentos

 As mulheres entram na menopausa


 Ocorre certa deterioração da saúde física e declínio da resistência e perícia
 Sabedoria e capacidade de resolução de problemas práticos tão acentuados
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 Capacidade de resolver novos problemas declina


 Senso d identidade continua a desenvolver-se
 Dupla responsabilidade de cuidar dos filos e dos pais idosos pode causar stresse
 Partida dos filhos tipicamente deixa o ninho vazio
 Para alguns, sucesso na carreira e ganhos atingem o máximo para outros ocorre
um esgotamento profissional
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 Busca do sentido da vida assume importância fundamental


 Para alguns, pode ocorrer a crise da meia-idade

Alguns aspetos visíveis

 Rugas
 Cabelos brancos
 Redução de agilidade
 Redução de força física
 Falta de firmeza nas mãos e nas pernas
 Perda de sensibilidade no tato
 A artéria coronária com o passar dos anos tende a estreitar, tornando-se em parte
bloqueada.

Podemos, salientar que o envelhecimento se concretiza mediante três formas:

 O normal – Ausência de patologia biológica e mental séria


 O patológico – Afetado por doença/ patologia grave
 O envelhecimento ótimo/bem-sucedido – sob condições favoráveis e
propícios ao desenvolvimento psicológico.

Processo do envelhecimento

Fatores ligados à Fatores ligados aos


Fatores ligados à história
idade (as (mudanças sociais,
acontecimentos de vida
(variam de pessoa para
mudanças económicas e políticas, que
pessoa relativamente à sua
alteram as condições
biológicas que concretas de vida das
ocorrência ou não, à sua
forma e ao momento em
ocorrem ao longo pessoas)
que ocorrem)
dos anos)

Envelhecer acarreta perdas significativas para o indivíduo com a modificação do seu


papel na sociedade: perda da sua ocupação profissional, perda de parentes e amigos, o
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aparecimento de doenças crónicas e alterações psicológicas e fisiológicas.

Segundo Nieman (1999), aproximadamente 85% das pessoas idosas apresentam uma ou
mais das seguintes doenças ou problemas de saúde: Artrite (48%); Hipertensão arterial
(36%); Cardiopatias (32%); Comprometimento da audição (32%) Comprometimentos
ortopédicos (19%);Catarata (17%); Diabetes (11%); Comprometimento visual (9%);

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Alzheimer (de 4 a 11%). O Organismo humano sofre uma contínua redução na capacidade
de realizar suas funções, sendo estas perdas naturais e inventáveis. No entanto, condições
ambientais como o estilo de vida parecem estar diretamente ligadas à forma e velocidade
que este processo irá acontecer.

 Velhice – aspetos sociais


 A velhice e a sociedade
 Velhice e envelhecimento: Conceitos e análise

O conceito de velhice remete-nos, em primeira análise, para a noção de idade indiciando


que a velhice se constitui num grupo de idade homogéneo. A idade não é um fator pode
que pode, por si só, medir as transformações dependentes do envelhecimento. Acrescenta
que as alterações surgidas com a idade dependem também do estilo de vida que cada um
teve ao longo do seu percurso.

As razões apontadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que fundamentam que
a idade dos 65 anos e mais serve para definir as pessoas como idosas, vão no sentido de
que o avanço da idade aumenta os riscos do sujeito associando-os às modificações físicas,
psíquicas, e sociais influenciadas por fatores intrínsecas e extrínsecos ao sujeito.

Identificamos os variados sentidos que o conceito idade pode assumir:

 Idade cronológica – refere-se ao tempo que decorre entre o nascimento e o


momento presente.

 Idade Jurídica – Corresponde à necessidade social de estabelecer normas de


conduta e determinar qual a idade em que o sujeito adquire determinados direitos
e deveres perante a sociedade.

 Idade física e biológica – Que tem em conta ao ritmo a que cada indivíduo
envelhece.
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 Idade psicoafectiva – Reflete personalidade e as emoções de um sujeito, não


tendo esta limites em função da idade cronológica.

 Idade social – relacionada à sucessão de papéis que a sociedade atribui a uma


pessoa e que corresponde às suas condições socioeconómicas.

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Associando os fundamentos destas definições constatamos que todas elas incluem, na sua
definição, a influência que a interação do sujeito tem com os padrões de vida que o rodeia
e socializa. O fator de idade não serve para esclarecer quem é velho e quem não o é,
“Alguns parecem velhos aos 45 anos de idade e outros jovens aos 70 anos”, Baldessin
(1996).

Algumas expressões usadas no domínio comum da sociedade ocidental mostram a


dificuldade em romper com os preconceitos:

“Tenho rugas, estou a ficar velho…”

“Já não tenho força para nada”

“Os anos vão passando”

“Não fazem de nada e estão a tirar o lugar aos mais novos”

“ O trabalho não anda, estão todos velhos”

“A juventude, de hoje, não sabe nada. No nosso tempo é que era…”

De uma forma geral, a sociedade vê a velhice como uma fase de declínio intelectual (“ a
memória está fraca”, uma fase na qual a demência se instala (estado de confusão,
esquecimento e mudanças na personalidade irreversível). É uma fase na qual há uma
mudança de estatuto – a reforma. Isto significa mais tempo livre ou a adoção de novos
papéis e uma nova realidade física, económica e social.

As mudanças corporais características da velhice são:

 A aparência física/cor de cabelo cinzento/branca;


 Órgãos dos sentidos (défice auditivo sobretudo no homem, diminuição da
capacidade de focalização dos objetos e outros);
 Músculos, osso e mobilidade (diminuição do peso e tonicidade muscular,
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diminuição da altura, aparecimento de osteoporose);


 Órgãos internos (diminuição da capacidade de funcionamento do coração pela
perda da tonicidade muscular e ainda modificação do sistema imunitário, dado o
declínio na produção de anticorpos).

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Diversos problemas cognitivos aparecem na velhice e poderão não ser reflexo da idade,
mas de fatores, tais como: depressão, inatividade, efeitos secundários de medicação,
isolamento social, pobreza, falta de motivação, falta de cuidados pessoais. No passado
eram os mais velhos que desempenhavam o papel de formadores na transmissão de
experiências e conhecimento.

Estas expressões sobre a velhice representam um fenómeno recente, associado às


transformações económicas e sociais provocadas pela Revolução Industrial com início no
séc. XVIII. As pessoas mais velhas transmitem a sabedoria, a experiência inerente aos
modos de produção (ensinavam um ofício aos mais novos).

Após a Revolução Industrial, com o aumento da longevidade, associado ao


desenvolvimento científico e tecnológico, os idosos tornou-se um peso, um obstáculo e
um encargo. Com a ajuda da medicina, atualmente a terceira idade é uma parte
considerável da população.

A partir daqui a função social da família perdeu importância dando lugar ao aparecimento
de um grupo de idade – os mais velhos – reconduzindo-o para um estatuto de inutilidade.

A velhice torna-se visível e de expressão pública. Coloca-se, assim, a questão de saber


como e quem assume a responsabilidade deste grupo etário, passando a ser encarando
como um fenómeno social passível de reposta sociais.

A longevidade deve-se à melhoria da qualidade das condições económicas e sociais e ao


aumento dos níveis gerais de higiene e saúde.

Período Longevidade atual Longevidade futura


Da infância da puberdade 0 -20 Anos 0 – 30 Anos
Jovens adultos 20 – 40 Anos 30 – 60 Anos
Idade Maduro 40 – 60 Anos 60 – 100 Anos
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

Idoso A partir dos 65 anos 100 – 120 Anos

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 Mitos da Velhice
 Atitudes, mitos e estereótipos

Estereótipo – Os estereótipos são crenças


socialmente compartilhadas a respeito dos membros
de uma categoria social, que se referem a suposições
sobre a homogeneidade grupal e aos padrões
comuns de comportamento dos indivíduos que
pertencem a um mesmo grupo social. Sustentam-te
e teorias implícitas sobre os fatores que determinam
os padrões de conduta dos indivíduos, cuja
expressão mais evidente encontra-se na aplicação de julgamentos categóricos, que
usualmente se fundamentam em suposições sobre a existência de essências ou traços
psicológicos intercambiáveis entre os membros de uma mesma categoria social.

Estigma social – É uma forte desaprovação de características ou crenças pessoais que vão
contra normas culturais. Estigmas sociais frequentemente levam à marginalização.

Vários mitos até hoje cercam a condição da velhice:

 “Mito de senilidade” – Supões que a velhice e a enfermidade andam


juntas. A maioria da população anciã é considerada com uma incapacitada,
associando velhice com senilidade ou deterioração mental- A velhice precisa ser
vista como parte do ciclo vital e que o envelhecimento começa logo após o
nascimento. As limitações não são enfermidades.
 “ Mito do isolamento social” - Acredita ser a exclusão, o repouso, a
solidão, o melhor para a vida do idoso. Existe aqui uma confusão que mistura o
facto de um idoso não poder mais realizar tarefas produtivas e remuneradas como
se esta fosse a única forma de interação social que se pode produzir.
 “Mito da inutilidade” – Nasce de uma sociedade capitalista onde as
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pessoas valem pelo que elas produzem e pelo que elas conseguem possuir em
função disto. É um mito totalmente baseado na produção material e na ganância.
 “Mito da pouca criatividade e da capacidade para Aprender” – Afirma
que as pessoas em idade avançada não têm mais capacidade. É certo que os idosos
contam com maior lentidão e não possuem mais tanta atenção, memória e

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agilidade. Porém são capazes e aprender muito, o que se necessita é criar outras
formas de ensino que se voltem para as necessidades e habilidades anciães. Não
se pode querer de um ancião que aprenda como uma criança ou um jovem.
 “Mito da Assexualidade” – nasceu de tabus culturais e de atitudes de
muitos profissionais. As pessoas velhas são julgadas como carentes de desejos
sexuais e, no caso de manifestarem este desejo, são tidas como anormais. Se julga
que a sexualidade e as relações sexuais estejam reservadas para os jovens e
geralmente sexualidade é confundida com genitália, e não vista como uma
dimensão do ser humano que está sempre presente.

Um conceito mais recente que define a velhice como uma fase do processo evolutivo vem
substituindo na maioria das sociedades o antigo significado do envelhecer, conceito que
trazia toda uma carga de negatividade. A velhice não se constituía objeto de preocupação
social, antes, os idosos eram tratados com atitudes filantrópicas e benevolentes com o
intento ocultar os valores negativos que a sociedade que se modernizava lhe impunha.
Considerava-se os idosos como alguém que existiu no passado, que realizou o seu
percurso psicossocial e espera o momento fatídico para sair da cena do mundo.

Atualmente, a velhice passa a ser objeto de cuidado a atenção especiais, que eram
certamente inexistentes nos últimos dois séculos. A mudança que se observa nas relações
que a sociedade estabelece com a velhice, não se verifica apenas pela mudança de valores,
mas pelo aumento de esperança de vida devido ao progresso da medicina que com todo o
seu aparato tecnológico enfrenta as doenças crónicas favorecendo a longevidade e
contribuído dessa forma como um dos fatores para o aumento significativo da população
idosa, principalmente nos países jovens.

O aumento da faixa populacional considerada idosa tem exigido das sociedades e do


poder público um novo e sensível olhar sob a forma de investimento em políticas sociais
que contemplam o idoso em suas necessidades bio psicossociais.
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

A sociedade e o estado não podem mais ignorar o idoso, que se tornou ator na cena política
e social, redefinindo imagens estereotipadas nas quais a velhice aparece associada à
solidão, doença, viuvez, e morte, enfatizando essa fase de vida como uma condição
desfavorável, muitas vezes indesejadas.

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Uma iniciativa que aqui, como em outros países se vem fomentando são as Universidades
Abertas da Terceira Idade, instituições públicas e privadas que têm trazido para dentro de
seus espaços um número cada vez maior de idosos que procuram retomar o seu ligar na
sociedade, participando como sujeitos de saber e não apenas como objetos de estudo.

Vários são os preconceitos, mitos e ideias erróneas sobre o envelhecer que somado às
mudanças, perdas e incertezas que acompanham esta etapa da vida, transforma-se em
verdadeiros “Fantasmas do Envelhecer”. Isso dificulta a relação das pessoas com essa
nova imagem, levando-as a rejeitar o envelhecimento como um “processo dinâmico,
gradual, natural e inevitável”.

Outro preconceito que dificulta ao idoso lidar com o processo de envelhecimento é a


associação de velhice à enfermidade. Nesse sentido, é importante lembrar que o
envelhecimento é um processo individual, único influenciado pela história
biopsicossocial do indivíduo.

Mas são poucas as enfermidades próprias do envelhecer, a pessoa que envelhece que
adoece como qualquer outro. O que se recomenda é uma maior atenção à sua saúde física
e psíquica e o estímulo ao autocuidado uma vez que as suas defesas estão diminuídas,
ocorrendo maior exposição às doenças.

A ideia de enfermidade incorporado ao imaginário da pessoa que envelhece, leva-a a


perceber-se doente e incapaz, a resignar-se com este estado, negando-se a aceitar os
limites naturais e resistindo assim a descobrir formas mais saudáveis de conviver com
eles.

Na medida em que se oferece ao idoso e à sociedade em geral informações sobre o


processo natural do envelhecimento e alternativas para um envelhecer ativo, esse
imaginário vai modificando. Essa é uma tarefa que deve desafiar toda essa população de
idosos que ingressa nesse novo século.
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

Baseada nas modificações intelectuais que podem ocorrer com o envelhecimento


principalmente em relação à memória, tem-se a falsa a ideia de que há uma completa
deterioração das funções cognitivas, perdendo assim, o idoso a sua capacidade de
aprendizagem. Este preconceito tem suas raízes também numa visão ainda hoje deturpada
da educação que se destina aos jovens com o objetivo de os preparar para competir no

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mercado de trabalho, isto é, para produzir. Por isso, parece tão estranho a figura do idoso
ocupando um lugar nas salas de aula, nas oficinas, disputando vagas nas universidades e
até mesmo no mercado de trabalho.

É certo, conforme mostram os estudos sobre este aspeto de envelhecimento, que a


capacidade de aprender na idade mais avançada não é a mesma que na juventude, porém
mais uma vez é preciso retomar o conceito de “diferente” ao qual nos referimos antes
para aceitar a ideia de que os idosos continuam a aprender de outra forma, como outro
ritmo, com outros interesses.

O preconceito em relação à sexualidade é um dos que mais pesam sobre a pessoa que
envelhece. Dois fatores que influenciam estas crenças:

1. A dificuldade em distinguir sexualidade e genitalidade;


2. Que a sexualidade é própria para a juventude.

Uma das formas de reconhecimento do corpo relaciona-se com as primeiras experiências


do contacto do bebé com a mãe o que influencia na aceitação da imagem corporal e na
perceção do corpo como fonte de prazer. Ao envelhecer a imagem desse corpo dececiona
na medida em que supõe uma desilusão no outro. Isto provoca um trauma que é agravado
ainda mais pela cultura de valorização da estética e da imagem física como se vê
atualmente. Daí a importância de resgatar outros “códigos percetivos e sensoriais” como
o código tátil e do contacto com o próprio corpo e o do semelhante. A imagem corporal
desfavorável de si influencia a atividade sexual e como nos mostra Simone de Beauvoir,

“Uma outra barreira é a pressão de opinião. A pessoa idosa dobra-se ao ideal


convencional que lhe é proposto. Teme o escândalo, ou simplesmente o ridículo. Torna-
se escrava d´”o que vão dizer”. Interioriza as obrigações de decência e de castidade
impostas pela sociedade. Seus próprios desejos a envergonham, e ela os nega”…
(Beauvoir, 1990)”.
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

Sabemos que as modificações fisiológicas que ocorrem com o envelhecimento


contribuem para diminuição das respostas aos estímulos como a ereção do pénis, a
lubrificação da vagina e outras. O desejo, a capacidade de excitar-se e alcançar o orgasmo
mantêm-se, para toda a vida numa pessoa saudável, orgânica e psicologicamente.

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A mulher que sempre foi vítima dos mitos e ideias erróneas sobre a menstruação, a
gravidez e o parto e cuja educação rígida a impediu de viver o prazer, vê-se nessa fase da
vida, impedida, pela família e pela sociedade, de exercer o direito à sua sexualidade.
Torna-se assexuada. Embora se saiba que “biologicamente a sexualidade da mulher é
menos atingida pela velhice do que a do homem”, para elas chegar à menopausa significa
não só parar de reproduzir, mas, abdicar de toda possibilidade de prazer.

Quanto ao homem, a quem foi dado todo o direito ao sexo, envelhecer significa diminuir
o seu poder e isto torna-se mais penoso para ele do que para a mulher. Para ambos, sob
pena de serem vistos como anormais, desejo, prazer, atividade sexual estão proibidos
negando a sexualidade coo uma função humana que está presente em todas as fases do
desenvolvimento com características diferentes em cada uma elas.

A aceitação das mudanças e a busca de informações sobre o envelhecimento ajudam a


diminuir a influência negativa dos preconceitos sobre a sexualidade uma vez que estes
têm maior pode de interferência do que as modificações decorrentes de idades.

Para muitas pessoas o facto de o idoso evocar as suas lembranças é sinal de eu as suas
funções intelectuais estão a entrar em deterioração.

Segundo Cordeiro (1994), envelhecimento é um fenómeno universal, normal e gradual,


uma vez que implica um conjunto de transformações que ocorre em todos os seres
humanos com a passagem do tempo, independentemente da sua vontade. Também é
irreversível porque apesar de todos os esforços e avanços da ciência nada (até agora)
impede ou reverte o processo de envelhecimento. Por fim é único, inevitável e
heterogéneo pois depende da interação de fatores internos (como o património genético)
externos (como o estilo de vida, educação, ambiente e condições sociais). São estas
interações que explicam a diversidade e heterogeneidade do envelhecimento humano. No
ser humano o envelhecimento resulta do envelhecimento orgânico das células tecidos e
órgãos, com a diminuição do seu funcionamento e consequente diminuição da sua
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

capacidade de sobrevivência, da alteração dos seus papéis na sociedade e na família e da


representação mental que o indivíduo faz de si próprio e do meio que o envolve.

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MITO FACTO
Imagem negativa da velhice A velhice e uma etapa vital peculiar. Existem velhos ativos, sadios e
participantes.
Frequentemente associada à doença, morte, Doença, inatividade e morte pode ocorrer em qualquer faixa etária.
dependência, decadência, solidão.
Criança para brincar, adulto para trabalhar e Todas as idades, todas as funções. Projeto d vida não só para descansar,
o velho para descansar. “ Não é para a nem só para viver coisas fúteis. O velho pode brincar, trabalhar e
senhora fazer nada, tem que descansar…” descansar.
A memória e a inteligência diminuem co a Não diminuem necessariamente, mas modificam-se. Necessidade de
idade. “Demente…” exercitar-te a memória continuamente. Produção intelectual, artística,
empresarial, social, religiosa, pessoas com mais de 65 anos.
O velho não aprende, é desatento, não Aprendem e prestam atenção ao que lhes interessa, ao que corresponde
presta tenção a nada. “Caduco…” às suas necessidades, aos seus anseios. Existem velhos que continuam
a produzir a nível económico, social, cultural e artístico.
Velho assexuado, perde o interesse e a Relações sexuais mantidas. Ocorre redução de frequência, falta de
capacidade sexual. “ Velho interesse e parceiros.
depravado…Velho assanhado…”
Velho não tem futuro. Já deu o que tinha a As pessoas devem preparar-se para envelhecer, fazer planos e projetos.
dar. “ Isso não é mais para mim…” O projeto da vida pressupõe criatividade, autonomia, educação
permanente.
O velho só vive com o passado. “ No meu O velho é uma pessoa que envelheceu, com a sua história de vida, com
tempo… Não é do meu tempo…” o seu passado, tem um presente, e é necessário construir um futuro sem
anular as outras etapas da vida. A maioria das pessoas vive a velhice,
desconsiderando toda uma história de vida.
O velho só deve conviver com o velho. Laços de amizade fazem bem ao corpo e a alma. O ser humano é um
ser social. Grupo da terceira idade, grupo da igreja, centros de
convivência são importantes. Mas não deve ocorrer se entre idosos,
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

existe a necessidade do entrelaçamento entre gerações.


Velho volta a ser criança. ““Agora ela é que Muitas vezes o presente e o futuro não são promissores. Como
é a minha filha. É o meu bebé…” competir com a tecnologia e o mundo globalizado? No entanto é
possível a pessoa idosa manter-se atualizada, adaptar-se a diferentes
situações.

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A qualidade de vida dos idosos sofre os efeitos de numerosos fatores, entre eles o
preconceito dos profissionais, familiares e dos próprios idosos em relação à velhice. Há,
assim, a necessidade de trabalhar esses mitos desde infância, através dos meios de
comunicação social, nas escolas e nas famílias.

“ É fundamental estimular ações que promovam educação gerontológica continuada,


visando combater a maior forma de violência: Preconceito contra a velhice. Só assim será
possível construir uma sociedade livre de descriminação, negligência, maus tratos,
exploração e opressão” (Machado & Queiroz, 2002)

 Representações da Morte

Morte pode ser definida como sendo o cessar irreversível de:

1. Do funcionamento de todas as células, tecidos e órgãos;


2. Do fluxo espontâneo de todos os fluídos, incluindo o ar (“último suspiro”) e o
sangue;
3. Do funcionamento do coração e pulmões;
4. Do funcionamento espontâneo do coração e pulmões;
5. Do funcionamento espontâneo de todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral
(morte encefálica);
6. Do funcionamento completo das porções superiores do cérebro (neocórtex);
7. Do funcionamento quase completo do neocórtex;
8. Da capacidade corporal da consciência.

Podemos considerar a morte como a maior das crises que o homem enfrenta. Todas nós
enfrentamos crises, algumas superáveis outras não, e embora estejam sempre presentes
há uma diferença que interfere na possibilidade de seu enfrentamento; na terceira idade
as perdas aceleram-se, sendo que o tempo para superá-las é menor. Pode ocorrer, no
entanto, o idoso sentir-se incapacitado ou frágil para enfrentá-las instalando-se assim uma
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

crise mais séria. Mesmo considerando que envelhecer e adoecer não sejam sinônimos,
não podemos ignorar que determinadas enfermidades são mais frequentes em idosos.
Existem as doenças psicossomáticas e ainda as modificações orgânicas que não são
doenças, ou seja, tudo isto se reflete na autoestima. Todos os conflitos gerados por estas
situações, geram a preferência da morte em detrimento pela dor física ou psíquica. Como
se não bastasse há ainda o preconceito contra o envelhecimento, o sentimento de ser um
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fardo pesado a alguém. A sensação de perdas das pessoas que se ama, da beleza, do vigor,
da saúde, da utilidade gera a imagem do “espelho quebrado”.

Aspetos sociológicos: Nas sociedades primitivas os idosos eram venerados, fonte de


sabedoria e experiência, hoje houve inversão de valores, os idosos são marginalizados e
perdem a sua valorização social. A sociedade vem assistindo mudanças em relação à
imagem do idoso. Em parte, devido ao aumento da expectativa de vida e os problemas
decorrentes do despreparo quanto a que atitudes devem ser tomadas tanto no que diz
respeito a aspetos sociais de atenção a saúdem como a um sistema previdenciário que os
apoie. O ideal não é simplesmente prolongar a vida como a ciência tem feito, mas que
haja condições favoráveis a uma vida digna onde não haja omissão quanto às condições
do idoso. A verdade é que a velhice não é um problema social, mas a forma com que a
sociedade tem lidado com ela tem trazido problemas socias. A possibilidade de ações
multidimensionais, tendo em vista as características da velhice e das suas determinantes
biopsicossociais assustam-nos, principalmente a partir do momento da nossa
conscientização que também passaremos por esse processo que nos coloca a uma pequena
distância da morte, responsável de nos banir de uma sociedade que pensamos depender
de nós, mas que nos transcende. A morte biológica significa o fim do organismo humano,
mas o ser social só deixa de existir a partir do momento em que uma série de cerimónias
de despedida é realizada e a sociedade reafirma a sua continuidade sem ele. Existe grande
diferença entre conceitos passados como sinônimos. Envelhecimento, idoso e velhice
distinguem-se quanto aos seus aspetos. O envelhecimento é o processo que ocorre durante
o curso da vida, onde há modificações biológicas, psicológicas e sociais. O ser humano
modifica-se somaticamente do nascimento até à morte. O idoso geralmente é especificado
pelo tempo cronológico, mas existem questões físicas, funcionais, mentais e de saúde que
podem influenciar. O idoso é o resultado do processo de desenvolvimento do seu curo de
vida. Faz parte de uma consciência coletiva. A velhice é a última fase do processo de
envelhecimento. É um conceito abstrato, sendo possível delimitá-la em tempo ou em
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

características.

Cada pessoa teme mais um certo aspeto da morte. Afirma-se que se deve considerar a
morte sob duas conceções:

1. A morte do outro: o medo do abandono, envolvendo a consciência da


ausência e da separação.
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2. A própria morte: A consciência da própria finitude, a fantasia de como será


o fim e quando ocorrerá.

Ao pensar a sua morte, casa pessoa pode relacioná-la a um dos seguintes aspetos:

A. Medo de morrer: Quanto à própria morte, surge o medo do sofrimento e


da indignidade pessoal. Em relação à morte do outro é difícil ver o seu sofrimento
e desintegração, o que origina sentimentos de impotência por não se poder fazer
nada.
B. Medo do que vem após a morte: Diante da própria morte existe a ameaçado
desconhecido, do medo de não ser e o medo básico da própria extinção. Em
relação ao outro, a extinção evoca a vulnerabilidade pela sensação de abandono.

O que parece mais temido na morte depende da época de vida de cada um e das
circunstâncias do momento como, por exemplo: o perigo eminente devido a situações
externas de guerras, crimes violência; perturbações internas que ameaçam o sujeito, como
medos e fobias, ou mesmo a morte de alguém.

Para alguns a morte amedronta, pois é vista como um fim ou como perda da consciência
idêntica ao adormecer, desmaiar ou perder o controlo. O medo da morte pode conter
também o medo da solidão, da separação de quem se ama, o medo do desconhecido, o
medo do julgamento pelos atos terrenos, o medo que possa ocorrer aos dependentes, o
medo da interrupção dos planos e fracasso em realizar objetivos mais importantes da
pessoa. São tantos os medos, que algum sem dúvida faz parte da nossa vida.

Os fatores que mais influenciam, no sentido de conter o medo da morte, são: a maturidade
psicológica do indivíduo, a sua capacidade de enfrentamento, a orientação e o
envolvimento religioso que possa ter e a sua própria idade.

Momento trágico (viuvez, reforma, etc.)


Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

Rutura a nível pessoal, familiar e social.

Dificuldade em adaptar-se

Espera emocional negativa (desilusão com a vida, insónias, depressão)

Alteração do grupo de amigos

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A velhice traz consigo a perspetiva da morte. Mesmo com o aumento da esperança de


vida é sempre um período finito. Esta finitude passa a ser mais consciente com a chegada
da velhice. A perda dos amigos, familiares e de pessoas de referência social reforça esta
característica.

Quando existe uma doença grave, ou outra condição de saúde, incluindo aspetos físicos,
mentais e sociais que gera sofrimento, a morte passa a ser não só uma probabilidade mas
também uma alternativa.

 Problemas socias da Velhice


 A pessoa idosa no final do séc. XX

O envelhecimento tornou-se uma questão social e urgente.

Nas últimas décadas, os avanços da medicina e a melhoria da qualidade de vida


contribuíram para o aumento da expectativa de via e da população. Esta situação
modificou a pirâmide etária, que se estreitou na base (infância e adolescência), e se
alargou no topo (velhice), pelo aumento da expectativa de vida e a diminuição
mortalidade infantil.

Contudo, a modernidade é paradoxal: ao mesmo tempo que a expectativa de vida


aumenta, os idosos vivem num mundo estranho para eles. Além de preparar os idosos
para essa nova configuração social, a sociedade deve-se reestruturar e reeducar-se para
recebê-los.

A representação da pessoa idosa sofreu modificações através da história devido às


mudanças sociais que reivindicavam políticas sociais para a velhice e à criação de novas
categorias adaptadas à condição moral e “ética” do velho. No séc. XIX, na França, a
velhice caracterizava as pessoas que não podiam assegurar o futuro financeiro, sendo
designadas de acordo com a sua posição social: “velho” ou “velhote” para os
despossuídos que não podiam vender o seu trabalho; e “idosos” para aqueles com
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

prestígio e posses.

Hoje, a representação da velhice é marcada pela inserção do indivíduo de mais idade na


produção, estando vinculada à invalidez e à incapacidade de produzir. O termo “velho”,
na maioria das vezes, está carregado de conotações negativas, sendo empregado para

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reforçar a exclusão social daqueles que não produzem mais dentro dos moldes das
sociedades capitalistas.

A partir dos anos 60, mudanças em França tornaram os vocábulos “velhos” e “velhotes”
pejorativos, sendo suprimidos dos textos oficiais e substituído pelo termo “idoso”,
transformando a representação das pessoas mais envelhecidas.

Surge, então, um novo vocábulo para designar o grupo: a “terceira idade”, etapa interposta
entre a reforma e a velhice. Entretanto, a colocação de todos os idosos sob o rótulo de
terceira idade tem criado novos recortes como o “velho jovem” e o “jovem velho”. A
terceira idade torna-se categoria classificatória de uma classe heterogénea, mascarando a
realidade social.

Assim, constando-se o prolongamento da vida sem a melhoria das suas condições, torna-
se o idoso um estorvo social face à economia capitalista.

As categorias de idade são construções histórias-sociais. A “terceira idade”, por ex., é


uma criação das sociedades ocidentais contemporâneas, implicando na criação de uma
nova etapa de vida, acompanhada de agentes, instituições e mercados especializados.

Os recortes de idade trazem a associação de práticas sociais. Estabelecem direitos e


deveres, definem diferenças entre gerações, distribuem poder e privilégios, o que pode
ser percebido na idade para a entrada e saída do mercado de trabalho, para votar, para
casar, para morrer (socialmente), para estudar, etc.

A idade geracional, por ex., estabelece-se


culturalmente, independentemente da
estrutura biológica e dos estádios de
maturidade. A ideia de gerações supõe
pessoas que vivenciaram as mesmas épocas,
e a mudança de geração implica mudanças de
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

comportamento, na produção de uma


memória coletiva e construção de uma tradição. Os idosos ativos, através de suas práticas
socias, contribuem para essa mudança de comportamento e a criação e uma memória
coletiva, a serviço da resistência à velhice e ao “estigma” do velho improdutivo e
dependente.

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Numa cultura estruturada no modo produtivo, a saída do mercado de trabalho modifica


radicalmente a vida das pessoas, diminuindo-se a obrigações trabalhistas e familiares,
seguindo-se mais rápido em direção à velhice social. Com a criação da reforma, o ciclo
de vida é modificando em três etapas: a infância e adolescência (tempo de formação), a
idade adulta (tempo de produção), e a velhice (tempo de repouso).

A reforma pode ser recebida de diferentes formas pelos idosos: uns aceitam-na como
recompensa pelos anos em que trabalharam, outros recebem-na de forma negativa,
associando-a ao afastamento social e a perda do papel produtivo, tornando-se um sintoma
social do envelhecimento.

Na sociedade atual, prega-se o respeito aos mais velhos enquanto se exige deles um lugar
para os jovens na produção, pois a valorização do profissional é proporcional à sua
juventude e capacidade de produção.

Afastando-se do processo produtivo, o idoso torna-se responsabilidade do Estado que lhe


paga a reforma.

Novas estratégias para a transição para a reforma precisam de ser criadas com o objetivo
de preparar as pessoas para a mudança, de forma a se programarem para alcançar novos
projetos de vida após a reforma.

A velhice, na sociedade industrial capitalista, tem ficado à margem dos interesses


produtivos. O idoso tem sido rejeitado, e somente aqueles com prestígio social e de
classes favorecidas podem esquivar-se da marginalidade social através dos seus bens
acumulados. Se idoso neste contexto é lutar para continuar a ser homem, para sobreviver,
sendo impedido de lembrar e ao mesmo tempo sofrendo as adversidades de um ser que
gradualmente se desagrega.

A sociedade industrial atribui à velhice a manutenção de papéis sociais do passado,


relacionados à força produtiva, e que são correspondem mais ao idoso. Nesta sociedade,
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

os idosos não podem errar. Deles esperamos infinita tolerância, perdão, ou uma
abnegação servil para a família. Momentos de cólera, de esquecimento, de fraqueza são
duramente cobrados aos idosos e podem ser o início do seu banimento do seu grupo
familiar.

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Na velhice, a dificuldade de realizar tarefas fica evidente: as distâncias mais longas, as


escadas mais difíceis de subir, as ruas mais perigosas para atravessar. O mundo torna-se
uma ameaça e falhas são condenadas, tornando o idoso inseguro, com medo da solidão e
da marginalização social.

A relação dos familiares com o idoso também se modificou. Representando como frágil,
é poupado de discussões e decisões familiares. Desta forma, é-lhe negado a possibilidade
de conflito através da abdicação do diálogo. Isto contribui para que ele reclame do
abandono dos filhos e sinta-se banido e rejeitado.

Conscientizar-se de que envelhecer é um processo natural não significa aceitar a velhice.


Poucos são os idosos que conservam a jovialidade do espírito, da alegria de estar vivo, a
esperança do futuro, sem revoltar-se com a nova situação.

Os valores juvenis hoje difundidos têm feito com que o idoso se sinta inútil e indesejado,
tornando-se depressivo, ansioso, introspetivo, e reflexivo, pensando no tempo que falta
viver. A velhice torna-se ruína, uma vez que não se conserva os padrões de juventude
eternamente.

Tudo isto leva a criação de estereótipos que caracterizam o envelhecimento: ser


improdutivo, incapaz de aprender, doente, exigindo cuidados, inferior ao jovem. Isto cria
um abismo e um conflito de gerações entre jovens e idosos.

O homem tende abandonar o espaço de trabalho para o espaço doméstico, a mulher tende
a adaptar-se melhor à velhice, pois não se afasta tanto da esfera privada do lar. Elas
tendem a conceber a velhice com tranquilidade, liberdade, e felicidade, sem a autoridade
comum dos maridos, e sem preocupação com o espaço público. Para eles, a velhice tende
a traduzir-se pela desobrigação do trabalho, possibilidade de desfrute e lazer.

Homens tende a avaliar a sua idade pela produção no trabalho e as mudanças na saúde,
enquanto as mulheres a avaliam de acordo com as mudanças a nível familiar (saída dos
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

filhos, chegada dos netos, etc.).

Na velhice é preciso saber refletir sobre o vivido, assumindo novas posturas, como o
resgate de valores e modos de viver ainda não assumido; o rompimento de rotinas, a
retomada de planos de vida incompleta; o resgate de desejos pessoais; o retorno às
emoções e sentimentos; e a reconstrução da identidade pessoal e social com base em
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novos interesses e motivações. A vida é um “jogo de ganhos e perdas” e o problema da


velhice tem sido não saber tirar proveito desse jogo, pois ao interpretar a vida, em
compreender o outro, em ser sensível e em perceber o que é essencial, em descobrir
habilidades, e em dedicar-se ao outro. Envelhecer não é seguir um caminho já traçado
mas, pelo contrário, construí-lo permanentemente.

Em função das suas representações sociais sobre a velhice, idosos assumem práticas
sociais que valorizam ou não a si mesmos. Para uns, ser idoso é começar a adoecer, não
ver bem, esquecer tudo, deprimir-se, sentir-se inferior e perder o entusiasmo pela vida.
Para outros, é tempo de novas experiências e conquistas, de convívio com amigos,
viagens, ajuda aos outros e desenvolvimento de capacidades.

 Velhice – socialização e papéis sociais


 Aspetos sociais da velhice
 Preparação para a velhice – os papéis de transição

Da mesma forma que os adolescentes precisam de uma atenção especial para


compreender as mudanças que acontecem na puberdade, os envelhescentes necessitam de
cuidados para enfrentar os impactos sociais e as dúvidas que vêm com a meia-idade, como
o medo de envelhecer.

Envelhescência é a fase do desenvolvimento humano que marca a transição entre a idade


adulta e a velhice. Com isso essa fase caracteriza-se por alterações em diversos níveis:
físico, mental e social. Esta fase representa para o indivíduo um processo de
distanciamento de formas de comportamento e privilégios típicos da idade adulta e de
aquisição de características que o capacitem a assumir cuidados e responsabilidades
consigo, com sua família, comunidade e com o meio ambiente para o envelhecimento que
se aproxima. A velhice sempre foi um temor para a maioria das pessoas, por aproximá-
las da senilidade e da morte.
Velhice – Ciclo Vital e Aspetos Sociais

Os termos envelhescência e envelhescente marcam justamente este processo de transição


entre idade adulta e velhice, sendo a idade adulta marcada como a fase de formar-se
profissionalmente, constituir família e patrimônio e a velhice como sendo o terço final da
vida, marcada pelo declínio físico e a morte. E é usado para destacar a resistência dos
adultos diante da velhice que se aproxima, e os excessos de procedimentos em busca da
juventude eterna numa forma incansável de distanciamento da morte inevitável
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 Velhice e os novos papéis sociais

Caracteriza-se por uma fase de mudança no comportamento, no estilo de vida e de


aquisição de novas competências que capacitem o adulto pré-idoso para assumir outros
papéis sociais e postura diante de sua vida.

Ser velho em nossa sociedade significa deixar de ser economicamente produtivo e,


portanto, condição para ser desconsiderado e abandonado. Muito mais que um destino, a
velhice deve ser considerada como uma categoria social. Deste modo, o aposentado
deverá reconstruir sua identidade pessoal através da interiorização de novos papéis e da
busca de novos objetivos de vida, num processo de redefinição de sua vida, ao mesmo
tempo em que deverá assumir essa nova fase, repensando o estigma de ser inativo nessa
sociedade e estabelecendo novos pontos de referência Bosi (1994).

 Inserção do Idoso na Família

 Parte do cuidado com os idosos recai sobre a família.

 O idoso cada vez mais se vê na posição de buscar não ser um “fardo” na


vida da família. Muitos optam por si mesmos a mudar para clinicas e lares
geriátricos. Amparar esses idosos é um dos desafios da nova sociedade.

 Socialmente, participando: programas de políticas públicas ou privadas,


grupos de convivência, Universidades da Terceira Idade, centros sociais,
atividades artísticas, sócias, religiosas, congressos, seminários, debates, etc.

 Demonstram segurança pessoal, cuidam do seu corpo e de sua mente.


Buscam o equilíbrio afetivo e emocional; namoram, casam de novo, trocam de
parceiros.

 Sexualidade
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O que interfere na vida sexual do velho é mais de ordem psicológica e social do que da
ordem das limitações orgânicas. Ao pensarmos na velhice temos que considerar que ela
é uma das possibilidades da condição humana. Há vida na velhice como em qualquer
outro momento da existência das pessoas. O sexo, como as outras instâncias da vida, não
deixa de se fazer presente na vida dos idosos. Ele se reinventa, toma novas formas e
expressões, não tem mais a exuberância e turbulência de quando se é jovem, mas mantém
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toda a carga emotiva e afetiva que, em todo e qualquer relacionamento sexual saudável,
se faz presente, independentemente da idade, da raça ou da opção sexual.

 O modo de vida das pessoas de idade

Envelhecer difere de indivíduo para indivíduo e também de país para país, assim como
de uma região para outra. Na verdade o processo de envelhecimento depende em grande
parte dos hábitos de vida do indivíduo e dos seus comportamentos. Este pode ser encarado
pelo idoso como o apogeu de uma vida ou como um estado de decadência (Meirelles
1997).

Velhice é uma fase do desenvolvimento marcada por múltiplas perdas, mortes concretas
e simbólicas, que demandam trabalho de luto. São perdas significativas que fazem parte
dessa fase, mas não deixa de haver possibilidade de aprendizagens e crescimento pessoal,
pois a vivência do envelhecer depende tanto dos recursos internos, quanto das condições
de apoio oferecidas pela família e sociedade.

Vários estudos têm vindo a ser realizados na tentativa de descobrir a melhor forma de
alcançar uma boa qualidade de vida na velhice, isto porque, envelhecer é um processo
natural da vida das pessoas, e o importante será, não tentar parar o envelhecimento, mas
sim viver com qualidade todo esse processo.

Ramilo (1991), direciona-se para a prevenção do envelhecimento prematuro, procurando


evitar a incidência da dependência dos serviços médicos, procurando-se cada vez mais
integrar convenientemente o idoso, de uma forma autónoma, na sociedade. Das soluções
encontradas passa pela actividade física regular os fatores que influenciam o
envelhecimento é Sedentarismo (conduz a inúmeras doenças crónicas).

 Condições de vida
o A forma de viver-se a velhice está associada a várias questões que se
interligam e que se tornam mais complexas, porque uma das características desta
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etapa da vida é a sua heterogeneidade os sujeitos não envelhecem de maneira


igual, construindo suas próprias histórias de vida, com características e
dificuldades diferentes. Portanto, não se deve tratar a velhice de uma forma
homogeneizada e que não se leve em conta as diferenças (Lopes, 2000).
Características de personalidade, competências e habilidades adquiridas ao longo

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da vida, estilo de vida, apoio social, entre outras, são variáveis que estão presentes
no envelhecimento bem-sucedido e na qualidade de vida que se pode desfrutar na
velhice.
o O envelhecimento é um processo natural que desperta muito medo e
fantasias. É importante ressaltar que o envelhecer com qualidade de vida está
presente no desejo de todos, quer intrínseca quer extrinsecamente, entretanto nem
todos conseguem isto. Qualidade de vida na velhice implica em organizar a vida
dentro dos parâmetros definidos pelas limitações físicas e psicológicas e, segundo
o Estatuto do Idoso e a OMS (2003), implica em garantir assistência à saúde,
liberdade de escolha, amigos, moradia, lazer entre outros. Ao se referir à qualidade
de vida, deixa claro que o conceito se refere à perceção do indivíduo quanto à
satisfação em quatro áreas: social, afetiva, profissional e saúde. O objetivo é
enfatizar a qualidade de vida do idoso dentro dos parâmetros da velhice saudável,
entendendo assim que é intrínseca, porém também, deve-se considerar o contexto
e as preferências do idoso (Lipp, 1996).

 Satisfação de viver

É óbvio que a velhice chega, mas há uma diferença muito grande entre envelhecer e
envelhecer, o envelhecer até uma coisa muito bonita, o que significa, experiência,
sabedoria, vivência mesmo, o diferencial dos envelhecimentos está na maneira de se
envelhecer, da mente de cada um, já ouvi pessoas dizerem do orgulho que tem de estarem
na terceira idade, que envelhecer é uma dádiva de Deus, pois elas se sentem felizes por
chegarem a tal idade, com a satisfação de estar viva, de que mesmo que seus cabelos
estando brancos devido ao tempo que passou para elas, elas ainda amam a vida. A
importância da família, o convívio (irmãos, filhos, genros, noras, netos, etc.) e a relação
que este convívio tem com a saúde e a satisfação de vida. A amizade e a vida social na
velhice são extremamente importantes, pois evitam o isolamento e a depressão. Quase
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todos precisam de atividades sociais, contatos interpessoais através de encontros, festas,


chás e até pequenas excursões. Nesta idade, isso também tende a diminuir. As amizades
e o conversar são gratificantes em qualquer época da vida.

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 Processo de envelhecimento/sensibilização à problemática da pessoa


idosa
 Ser velho hoje, no meio rural e no meio urbano

Em primeiro lugar, devemos distinguir o idoso rural do idoso urbano. Em segundo lugar,
devemos olhar o idoso no contexto família, incluindo filhos e netos.

Finalmente, deverão ser analisadas as relações sociais complexas fora da família. Assim,
o idoso, no meio rural era uma figura privilegiada, no seio da comunidade. À sua figura
estava ligada toda a história familiar e patrimonial; fossem ricas ou pobres, as famílias
mantinham no seu seio idoso. O seu patrimônio constituía como que uma garantia de
assistência à velhice. Embora a divisão do património resultasse de um sistema de
desigualdades no seio de comunidades, a verdade é que o idoso, através do seu
património, estava presente na família e geria os seus bens até ao dia em que morria. Na
família, o idoso era ponte de ligação ou relacionamento com a geração seguinte.

Este modelo rural começou a ser alterado há dois séculos através da industrialização e
consequente crescimento das sociedades urbanos, e a maior parte dos idosos de hoje já
fogem ao perfil anterior e enquadram-se no perfil do que chamamos de idoso urbano. O
idoso urbano defronta-se com vários problemas resultantes de viver na cidade moderna,
o maior dos quais é a solidão.

A solidão é mais do que o resultante do abandono a que alguns filhos votam os pais. A
fuga dos jovens para as periferias na procura de uma melhor qualidade de vida e de
sucesso material a todo a custo, retira-lhes tempo para outras ocupações, nomeadamente
para o convívio com a família. O idoso é o elo mais fraco da família, e por isso o primeiro
a ser posto no fim da cadeia de relações familiares. A isto há que juntar o envelhecimento
da população urbana. O envelhecimento da população urbana é um fenómeno
relativamente recente e muito intenso, que resulta da ida das novas gerações para bairros
novos. Os cidadãos, nas suas respostas sociais, têm de aceitar que a sociedade tem um
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dever de gratidão a cumprir com aqueles que protagonizaram o êxodo rural da década de
60 e que fizeram crescer às cidades. No caso dos centros históricos, a solução está na sua
renovação urbana, de modo a que os jovens se fixem lá.

 A reforma

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Aposentadoria traz para os indivíduos um conjunto de perdas que eram valores


importantes, tais como o convívio com os colegas, o “status” social de pertencer a uma
organização, o poder de exercer influência sobre os outros, assim como a própria rotina
enquanto referencial de existência. É uma fase que provoca mudanças e pode gerar
ansiedades no indivíduo, considerando- se sua história na relação com o grupo social ao
qual pertence. Sua identidade, como pessoa e como ser social, pode ficar ameaçada. É,
ainda, um período de enfrentamento de outra questão: a de ser considerado velho.

 Respostas Institucionais
 Pensar novas respostas

Cada vez mais, torna-se fundamental manter a pessoa idosa no seu meio social tendo em
vista o seu bem-estar física, psíquico e emocional. Desta forma, questiona-se cada vez
mais a institucionalização da pessoa idosa como resposta social prevalente, verificando-
se uma tendência para a atuação conjunta dos vários organismos institucionais, quer a
nível nacional como a nível local no sentido de criar respostas alternativas à
institucionalização do idoso. Criaram-se nos últimos anos respostas sociais institucionais
existentes podendo caracterizar-se segundo dois tipos: o acolhimento permanente que
engloba os equipamentos de colocação institucional de idosos, tais como: os lares, as
residências e famílias de acolhimento; o acolhimento temporário, de caráter não
institucional, reúne os serviços de apoio e acompanhamento local dos idosos, tais como:
os serviços de apoio domiciliário.

Cada vez mais, as instituições tentam oferecer serviços que promovam um


envelhecimento bem-sucedido, que potenciam a conservação do empenhamento social
e do bem-estar subjetivo, conceitos estes difundidos pelos especialistas nesta matéria.

Nos últimos anos têm vindo a realizar-se vários estudos no sentido de se saber quais os
fatores que mais contribuem para a melhoria da qualidade e diversidade das respostas
sociais que permitam uma maior satisfação das necessidades da pessoa idosa, quer esteja
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ou não institucionalizada. Um dos estudos mais ambiciosos neste domínio foi conduzido
por Cameron (1975) que refere que os sentimentos de felicidade, de tristeza e de bem-
estar subjetivo não se degradam com a idade e que os idosos não têm uma satisfação de
viver inferior às dos jovens. A variabilidade entre os indivíduos parecem, pelo contrário,
aumentar com o envelhecimento, neste sentido fala-se cada vez mais de velhices e não de

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velhice, não existindo assim a velhice, mas antes dando ênfase à existência da
heterogeneidade com que cada idoso vive o seu próprio processo de envelhecimento,
sendo este, altamente influenciado pelo suporte social de que dispõe, permitindo ao
mesmo tempo a manutenção da sua participação social, tanto quanto possível.

Desde as investigações de Durkheim (1987), que o isolamento e a ausência das relações


com os outros são fatores de predição dos comportamentos suicidas, que foram também
ao encontro dos estudos feitos com idosos. Neste sentido, os equipamentos sociais têm
de basear todas as suas respostas fazendo com que as pessoas percebam o seu potencial,
promovendo o seu bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da sua vida, o que
inclui uma participação ativa dos seniores nos mais variados domínios da sociedade,
intervindo nas questões económicas, espirituais, culturais, cívicas e até mesmo ao nível
da participação das políticas sociais.

Donal (1997) formulou algumas classes gerais que podem servir de referência às
respostas sociais, tais como:

 O bem-estar físico, em que se destacam os aspetos materiais, saúde,


higiene e segurança;
 As relações interpessoais, que pode incluir a família, amigos e
participação na comunidade;
 O desenvolvimento pessoal, que representa as oportunidades de
desenvolvimento intelectual, e autoexpressão;
 As atividades recreativas que podem subdividir-se em três partes:
Socialização, entretenimento, passivo ou ativo;
 As atividades de caráter espiritual, em que estão envolvidas, a
atividade simbólica, religiosa e o autoconhecimento.

Muitos estudos vêm refletir que a atualidade de vida, ou falta desta nos idosos, depende
em grande medida do facto dos idosos possuírem autonomia para executar as atividades
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do dia-a-dia, manter uma relação familiar ou com pessoas significativas para si, ter
recursos económicos suficientes e desenvolver/participar em atividades lúdicas e
recreativas continuamente.

Segundo Jacob (2002), as respostas sociais tendem a evoluir, sendo que os estudos
apontam para:
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O aumento da procura deste tipo de serviços, havendo um elevado nível


de procura expressa não satisfeita (lista de espera) nas valências para idosos;
Que os atuais centros de convívio poderão evoluir para as chamadas
universidades de terceira idade, tornando-se assim mais dinâmicos, e com uma
maior adesão por parte dos idosos, sendo mais ativos;
Para que os centros de Dia funcionem todos os dia da semana (fins de
semana e férias) e em horário mais alargado;
Que os serviços de apoio ao domiciliário tenderão a aumentar, assim como
os serviços tenderão a funcionar todos os dias, mesmo no horário noturno;
Que os lares tenderão a diminuir, tornando-se cada vez mais especializados
em grandes dependestes e idosos com demência;
Que irão surgir mais residências, versões mais reduzidas (até 25 utentes) e
melhorados os lares;
Que o trabalho como idoso irá ser cada vez mais especializado e exigente;
Para que exista um aumento bastante significativo de atividades de
animação para sénior.

Tendo em conta os estudos realizados nesta área que vieram contribuir para encarar de
forma diferente o processo de envelhecimento, bem como, as problemáticas que se
colocam, a necessidade de uma formação específica e contínua dos recursos humanos
destas instituições e equipamentos sociais, quer ao nível das chefias, quer ao nível dos
seus colaboradores, tornam-se fundamentais. Essa formação deve ser específica e
contínua, uma vez, numa sociedade em constante mudança vão surgindo novas realidades
e novas problemáticas que este tipo de serviços deverá dar resposta. Assim, é necessário
que as instituições e equipamentos sociais tenham um espírito de abertura suficiente face
ao exterior, no sentido de estarem em pleno contato com o meio, sendo capazes das
necessárias adaptações, quer ao nível das políticas socias, quer ao nível das respostas que
efetivamente prestam. Assim, e só assim, este tipo de serviços e equipamentos sociais
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poderão colocar o utente, o cliente no centro de toda a sua atuação, sendo este o princípio
primordial de toda e qualquer resposta social, de acordo com as novas orientações.

Embora os apoios sociais e financeiros dirigidos aos idosos se continuem a revelar


insuficientes no nosso país, parece-nos relevante salientar algumas formas de
equipamentos disponíveis, nomeadamente:

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 Lares dos idosos – equipamentos coletivos de alojamento permanente ou


temporário, destinados a fornecer respostas a idosos que se encontrem em risco,
com perda de independência e/ou autonomia.
 A insuficiência de lares de idosos estatais tem dado origem a uma
verdadeira proliferação de lares privadas (que visam essencialmente fins
lucrativos), que muitas vezes funcionam clandestinamente e sem as condições que
confiram aos idosos o mínimo de dignidade.
 Lares para Cidadãos Dependentes – constituem respostas residenciais a
idosos, que apresentam um maior grau de dependência (acamados).
 Centro de dia – constituem um tipo de apoio dado através da prestação de
um conjunto de serviços dirigidos a idosos da comunidade, cujo objetivo
fundamental é desenvolver atividades que proporcionem a manutenção dos idosos
no seu meio sociofamiliar.
 Centros de Convívio – são centros a nível local, que pretendem apoiar o
desenvolvimento de um conjunto de atividades sócio recreativas e culturais
destinados aos idosos de uma determinada comunidade.

Apesar das respostas sociais nem sempre correspondem ao desejável, vai-se notando uma
crescente preocupação em implementar respostas inovadoras, destacando-se
recentemente:

 O Apoio Domiciliário – consiste na prestação de serviços, por ajudantes


e/ou familiares no domicílio dos utentes, quando estes, por motivos de doença ou
outro tipo de dependência, sejam incapazes de assegurar temporária ou
permanentemente as satisfações das suas necessidades básicas e/ou realizar as
suas atividades diárias. É um tipo de apoio que conquistou muito adeptos, na
medida em que se caracteriza pela prestação de um serviço de proximidade com
cuidados individualizados e personalizados. Além disso, é preservada a família e
a casa constituem para o idoso um quadro referencial muito importante para a sua
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identidade social.
 Acolhimento familiar – consiste em apoios dados por famílias
consideradas idóneas que acolhem temporariamente idosos, quando estes não têm
família natural ou tendo-a não reúne estas condições que proporcionem um bom
desempenho das suas funções.

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 As Colónias de Férias e o Turismo Sénior – são prestações sociais em


equipamentos ou não, que comportam um conjunto de atividades que pretendem
satisfazer as necessidades de lazer e quebrar a rotina, proporcionando ao idoso um
equilíbrio físico, psíquico, emocional e social.
 O Termalismo – é uma medida que visa permitir aos idosos em férias
tratamentos naturais, reduzindo assim o consumo de medicamentos. Proporciona
também a deslocação temporária da sua residência habitual, permitindo deste
modo o contacto com o meio social diferente, promovendo a troca de
experiências, que quebram ou reduzem o frequente isolamento social.
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Conclusão

O ser humano pode envelhecer como um sábio ancião ou permanecer nos estágios infantis
do psiquismo. Autonomia e independência são, portanto, resultantes do equilíbrio entre o
envelhecimento psíquico e biológico. A singularidade individual torna-se mais
exuberante quando se avaliam ambas as dimensões, biológica e psíquica, associadas ao
contexto familiar e social, ou seja, a integralidade do indivíduo.

O processo de envelhecimento é, portanto, absolutamente individual, variável, cuja


conquista se dá dia após dia, desde a infância. A velhice bem-sucedida é consequência de
uma vida bem-sucedida.

“ A velhice hoje em dia dificilmente se pode comparar com um entardecer tranquilo!”

“ É perfeitamente possível hoje em dia permanecer na terceira idade e ainda estar


físico e mentalmente ativo!
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