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Aspectos físicos

Dentre todos os aspectos do envelhecimento, sem dúvida as transformações aparentes no corpo


são as mais notórias para o idoso e para a sociedade que lhe permeia. As mudanças corpóreas no processo
de envelhecer são inúmeras, sobre elas, Papalia e Olds (2000) afirmam que “algumas mudanças fisiológicas
são resultado direto do envelhecimento, mas fatores comportamentais e de estilo de vida, que remontam
à juventude, muitas vezes afetam seu momento de ocorrência e sua extensão”. Ou seja, para os autores as
mudanças fisiológicas “na aparência, no funcionamento sensório, psicomotor, sexual e reprodutivo”
podem ser resultantes de um estilo de vida, que muitas vezes não foi um fator beneficiário para este idoso.

De acordo com Odebrecht (2002), apresentamos os principais indicadores do envelhecimento físico:

1) Altura: a mudança na aparência de um idoso é visível. A redução da altura acontece com a mesma
intensidade em ambos os sexos, 0,15 mm por ano começando aos 30 anos de idade. As extremidades
tornam-se mais finas (por perda e atrofia de fibras musculares) e o tronco mais grosso (associado à
obesidade).

2) Arcada dentária: a mudança deve-se à alteração dos hábitos de mastigação que são acentuados. O
número de cáries aumenta com a idade, bem como a probabilidade de doença periodontal.

3) Variação de peso e obesidade: por volta dos 55 – 75 anos há perda de tecido magro, massa muscular,
água e massa óssea, fazendo com que o peso diminua. Com o envelhecimento existe a perda gradativa de
tecido ósseo, mais acentuado nas mulheres, após 50 anos. A perda óssea depende da massa óssea da
pessoa na maturidade, do estilo de vida (sedentarismo ou não, mudanças nas concentrações hormonais e
fatores nutricionais).

4) Força física: com o envelhecimento, por volta dos 40 anos, o indivíduo perderá gradativamente sua força
muscular, processo que se acentua a partir dos 60 anos, até restar em média somente 20 a 40% da original.
Nos idosos é nítida a deficiência dos movimentos de maior habilidade.

5) Reação de estímulos e o tempo dos movimentos: uma das maiores mudanças associadas ao
envelhecimento é a lentidão das atividades sensório-motoras. Tempo de reação e de movimentos são
rápidos antes dos 20 anos, e decrescem à medida que aumenta a idade. Segundo Odebrecht (2002) a partir
dos 40 – 60 anos de idade há um declínio ponderal do encéfalo, discreto e lentamente progressivo. Este
declínio implicará na diminuição da velocidade de condução nervosa, a organização psicomotora pode ficar
entre 10 e 15% mais lenta.

6) Risco de acidentes: Odebrecht (2002) encontrou indícios em pesquisas realizadas com bombeiros de que
a exposição a certas tarefas críticas decresce com a idade, bem como as estratégias defensivas utilizadas
por eles.

7) Visão: a maior parte da capacidade de focar um objeto a pequenas e grandes distâncias é perdida até os
45 anos. Com o avanço da idade os problemas visuais mais comuns são: catarata, glaucoma, degeneração
da mácula. A acuidade visual para estímulos próximos ao observador começa a diminuir perceptivelmente
para a maioria das pessoas, ocorrendo na visão para longe após os 40 anos. Outro elemento agravante é o
ofuscamento, cujo efeito maior ocorre com pessoas a partir de 45 anos de idade. A distinção das cores
reduz-se após 70 anos. A perda da sensibilidade na percepção das matrizes provenientes de ondas curtas
do extremo azul-verde do espectro é maior do que as matizes dos comprimentos de ondas mais longas
(como o extremo vermelho do espectro).

8) Audição: de acordo com Odebrecht (2002) Cerca de 39% das pessoas com mais de 65 anos apresentam
alguma dificuldade para audição. Quando a perda auditiva for maior do que 40 dB, nas frequências da fala,
poderá interferir na qualidade de vida da pessoa, com importantes dificuldades psicológicas. A perda
auditiva traz prejuízos para as pessoas idosas, pois se encontram incapacitadas de perceber a fala e de
compreender muitas vezes o contexto a sua volta.

Os indicadores citados anteriormente nos ajudam a entender em qual fase de vida o indivíduo em
questão está, o que torna impossível negar a importância do aspecto físico para o um “bom
envelhecimento”.
Para nós profissionais da área da saúde o desafio é maior, pois além de conhecermos esses fatores,
nosso objetivo é também, por meio da história de vida e dos sinais que este idoso nos dá, saber identificar
os alertas e nos precavermos antecipadamente a qualquer sintoma que possa aparecer. Somos provocados
a pensar como podemos atuar de maneira preventiva nas doenças físicas na terceira idade, afinal o foco de
nosso trabalho deve ser sempre a garantia de uma melhor qualidade de vida ao idoso.
Aspectos cognitivos

Entende-se por cognição os aspectos ligados às capacidades mentais do pensamento. No que diz
respeito à área cognitiva, o declínio cognitivo ocorre como um aspecto normal do envelhecimento. Com
relação às habilidades cognitivas, Bee (1997) salienta que dos 65 anos aos 75 anos algumas das mudanças
cognitivas são sutis ou até inexistentes como é o caso do conhecimento de vocabulário, entretanto,
ocorrem declínios importantes nas medidas que envolvem velocidade ou habilidades não exercitadas. A
natureza exata destas mudanças, no entanto, é desconhecida pelo mundo científico, e dificuldades
relacionadas à linha que separa este declínio de possibilidades de uma possível demência são
imperceptíveis, principalmente por não haver ainda uma referência consistente frente à demanda nesta
faixa etária.

Papalia e Olds (2000) afirmam que o declínio na área da saúde mental no idoso não é típico na
terceira idade e que a doença mental é mais comum no adulto jovem do que no adulto mais velho. Na
velhice, o indivíduo efetivamente continua a adquirir novas informações e habilidades, bem como ainda
são capazes de lembrar e usar bem aquelas habilidades que já conhecem. Assim sendo, os autores
destacam ainda que o início da senescência pode variar e este fato pode ser justificado pela teoria biológica
do envelhecimento e da teoria de programação genética. Na teoria biológica leva-se em consideração o
declínio e a degeneração da função e estrutura dos sistemas orgânicos e das células. Já na teoria da
programação genética supõe-se que o indivíduo seja geneticamente programado do nascimento até a
morte, ou seja, o tempo de vida de acordo com essa programação deveria conciliar as necessidades da
reprodução e o não sobrecarregamento do meio ambiente com excesso de população. Resumidamente e
utilizando estas duas teorias, pode-se dizer que a programação genética pode limitar a duração máxima da
vida, mas, fatores biológicos, podem afetar como este indivíduo vai viver sua velhice, afinal seu corpo já
começa a apresentar dificuldades de funcionamento.

Os autores acreditam que nos idosos considerados saudáveis as mudanças no cérebro geralmente
são modestas e fazem pouca diferença no funcionamento. Olhando sobre a ótica da teoria biológica,
quando existe um problema que esteja relacionado ao sistema nervoso central, esta dificuldade de
funcionamento pode afetar a cognição, podendo interferir na capacidade de aprender e lembrar. O
processamento mais lento de informações pode fazer com que pessoas com mais idade não entendam
quando informações são apresentadas muito rapidamente ou sem muita clareza.

Ao falarmos de aspectos cognitivos é importante lembrarmos de um dos principais déficits


cognitivos: a perda da memória, que afeta mais de 62% dos idosos de acordo com o Ministério da Saúde
(2013). Essa perda consiste em uma dificuldade na memória recente, o idoso tem as recordações do
passado vivas e sua grande dificuldade é reter novas informações e ao mesmo tempo processá-las.
Aspectos psicossociais

Sabemos que a capacidade de interagir socialmente é fundamental para o idoso, a fim de que ele
possa conquistar e manter as redes de apoio e garantir maior qualidade de vida. Para o idoso o suporte das
redes de apoio é essencial para sua autoestima. A satisfação de vida é influenciada pelo modo como as
pessoas se sentem sobre seus relacionamentos interpessoais e o apoio social desempenha um papel
importante nesse processo. A aquisição do apoio social, por sua vez, depende de competências
psicossociais. Ou seja, a vida anterior de conexão social é importante determinante da quantidade e da
qualidade dos relacionamentos sociais mantidos por idosos, e sendo assim é de grande importância avaliar
os vínculos estabelecidos por eles ao longo da vida. Entretanto, faz-se necessário definir o que são as redes
de suporte social. De acordo com Neri (1995) essas redes sociais podem ser conceituadas como:

[...] são conjuntos hierarquizados de pessoas que mantêm entre si laços típicos das relações de dar
e receber. Elas existem ao longo de todo o ciclo vital, atendendo à motivação básica do ser humano
à vida gregária. No entanto, sua estrutura e suas funções sofrem alterações, dependendo das
necessidades das pessoas. Entre as principais funções das redes de relações e suporte social para os
idosos estão: dar e receber apoio emocional, ajuda material, serviços e informações; permitir às
pessoas crerem que são cuidadas, amadas e valorizadas; ajudá-las a encontrar sentido nas
experiências de desenvolvimento, principalmente quando elas são não normativas e estressantes
[...] (NERI, 1995, p.61).

A autora ressalta que as redes sociais têm um significado mais importante e precioso na velhice do
que na idade adulta, isto se dá porque o idoso precisa se adaptar às perdas físicas e sociais. Tais redes
podem ser fator de proteção para doenças na velhice e são potencialmente benéficas à saúde e ao bem-
estar dos indivíduos. Essas redes como já citadas devem ser mantidas ao longo da terceira idade, porém
alguns fatores de vida podem fazer com que o idoso perca o interesse no convívio social, tais fatores podem
ser: doenças físicas e mentais, luto ou até mesmo aposentadoria.
Sabemos que entre os idosos existem um grande medo, o da aposentadoria, pois em nosso modelo
de mundo capitalista, o trabalho e a produtividade mostram ao indivíduo em qual rede social ele está, o
que acaba determinando a sua identidade, conforme o texto seguinte de Rodrigues et al. (2005):

No modo de produção capitalista, que idolatra a produção e aliena o trabalhador do processo de


produção, a aposentadoria é frequentemente vivenciada como a perda do próprio sentido da vida,
uma espécie de morte social. Ao se valorizar apenas aqueles que produzem, deprecia-se o sujeito
aposentado [...] (RODRIGUES et al., 2005, p. 54).

O texto anteriormente citado reflete o medo da aposentadoria, por isso, podemos considerar a
aposentadoria como um dos principais fatores psicossociais que fazem parte do imaginário sobre o
envelhecer. Sabemos que a família tem uma parte imensa dentro deste imaginário, afinal é a base que
sustenta este idoso, e sem o trabalho ele busca em sua família um resignificado de sua identidade. Assim,
manter o vínculo empregatício oferece diversos ganhos: mantém uma situação de valor, a condição de
trabalhador e afasta os fantasmas de perdas e limitações da velhice.
Caso 1: Maria de Cássia : 62 anos | Viúva | Aposentada.
Aspecto Físico Aspecto Cognitivo Aspecto Psicossocial

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