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FACULDADE FAVENI

VIVIANE PASK DOS SANTOS

A PRESENÇA DA ENFERMAGEM EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: UMA


ANÁLISE DA PRÁTICA HUMANIZADA E ÉTICA NO ATENDIMENTO DO
PACIENTE E SEUS FAMILIARES

CURITIBA
2022
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FACULDADE FAVENI

VIVIANE PASK DOS SANTOS

A PRESENÇA DA ENFERMAGEM EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: UMA


ANÁLISE DA PRÁTICA HUMANIZADA E ÉTICA NO ATENDIMENTO DO
PACIENTE E SEUS FAMILIARES

Trabalho de conclusão de
curso apresentado como
requisito parcial à obtenção do
título especialista em
Enfermagem em Unidade de
Terapia Intensiva.

CURITIBA
2022
3

A PRESENÇA DA ENFERMAGEM EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: UMA


ANÁLISE DA PRÁTICA HUMANIZADA E ÉTICA NO ATENDIMENTO DO
PACIENTE E SEUS FAMILIARES

Viviane Pask dos Santos1

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o
mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja
parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e
corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de
investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação
aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO

Objetivo: examinar a presença da enfermagem em unidades de terapia intensiva no


sentido de oferecer uma assistência humanizada e ética aos pacientes e suas
famílias. Metodologia: ratou-se de um estudo de caráter exploratório, revisionista,
qualitativo e bibliográfico efetivado por meio de uma revisão de literatura,
desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica. O material foi selecionado utilizando-
se os seguintes descritores: unidade de terapia intensiva; assistência de
enfermagem em UTI e humanização e ética em UTI, com critérios de inclusão os
materiais escritos entre 2010 e 2022 em português e critérios de exclusão aqueles
que abordassem outros segmentos do tema proposto. Resultados: Os resultados
deste estudo demonstraram que existe como otimizar os resultados da atuação do
profissional de enfermagem e da família no ambiente de UTI através da unidade e
de estratégias de apoio ao paciente, família e profissionais com a atuação de bases
organizacionais por meio de aumento dos recursos para lidar com conflitos éticos na
prática clínica, melhoria do cuidado familiar e humanização da assistência que
podem auxiliar para uma intervenção benéfica e facilitadora de uma abordagem
proativa para resolver conflitos e sofrimentos e outras elementos que podem afetar o
cuidado do paciente e da sua família. Conclusões: Conclui-se que os cuidados
promovidos pela equipe de enfermagem aos pacientes graves em Unidades de
Terapia Intensiva se revelam de grande relevância, e para que isso ocorra é
necessário que seja promovido um cuidado mais holístico que englobe não somente
os cuidados físicos e biológicos imprescindíveis, mas igualmente aqueles de caráter
psicológico e social, promovendo uma assistência humanizada e extensiva aos
familiares.

Palavras-chave: Unidade de terapia intensiva. Assistência de enfermagem em UTI.


Humanização. Ética.

1
vivianepask@hotmail.com.
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1 INTRODUÇÃO

A necessidade de unidades de terapia intensiva (UTI) e a sobrevivência de


pacientes acometidos por doenças críticas vem crescendo ao longo dos anos. Isso é
atribuído em parte aos avanços na terapia intensiva e à expansão gradual da
capacidade da UTI para atender à demanda por tratamentos intensivos (MAGUIRE;
CARSON, 2013; IMANIPOUR; KIWANUKA, 2020).
Pode-se observar que à medida que aumenta o número de pacientes que
necessitam de tratamento em UTI, um número proporcional de familiares passará
pela experiencia da jornada implicada na internação de um familiar em UTI. Doenças
ou lesões críticas têm um impacto substancial em toda a família, devido ao fato de
que o paciente está inserido na unidade familiar e por isso, o seu sofrimento é
repassado aos demais. Ocasionalmente, a doença de um membro da família pode
influenciar a saúde, as percepções e os comportamentos de toda a família de várias
formas distintas (HETLAND et al., 2017; MINTON; BATTEN; HUNTINGTON, 2018;
IMANIPOUR; KIWANUKA, 2020).
Diante do fato dos profissionais de enfermagem estarem em maior contato
com os familiares dos pacientes, é imprescindível que eles reconheçam as
necessidades familiares e apoiem as famílias utilizando intervenções de
enfermagem familiar na Unidade de Terapia Intensiva. No rol de intervenções de
enfermagem familiar que podem ser usados por estes profissionais na UTI inclui-se
reuniões dos enfermeiros com a família, conversas de promoção da saúde com os
familiares e confecção de diários familiares na UTI (GUNILLA et al. 2018).
Em face da natureza interpessoal das relações no âmbito da saúde e as
responsabilidades éticas envolvidas no cuidado com os pacientes que apresentam
problemas graves de saúde, os conflitos éticos tornam-se claramente evidentes no
contexto dos profissionais de enfermagem, especialmente no ambiente de UTI. Nas
últimas décadas, os conflitos éticos têm aumentado no campo da enfermagem
devido à crescente complexidade da assistência e os avanços científicos e
tecnológicos. Essa questão, por vezes, contraria os valores dos prestadores de
serviços de saúde, porque o comportamento e a tomada de decisão dos
profissionais de enfermagem são influenciados por fatores relacionados ao seu
ambiente pessoal, organizacional e profissional (OLIVEIRA; SPIRI, 2011;
PEGUEROLES et al., 2016; PISHGOOIE et al., 2019; BEZERRA; FONSECA, 2019).
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Uma boa prática de enfermagem destinada à família está correlacionada


com vários fatores, entre eles, a experiência clínica, a empatia e a adoção de uma
atitude de apoio à família. As atitudes positivas dos enfermeiros em relação à
importância da família no cuidado podem ser observadas por meio da promoção de
relações efetivas com a família, onde existe comprometimento, valorização e
comunicação efetiva com os elementos da família do paciente (PISHGOOIE et al.,
2019).
Os enfermeiros que atuam nas unidades de terapia intensiva (UTIs) estão
sujeitos a conflitos éticos visto que este é um dos setores mais críticos e
estressantes de um hospital. Nesta unidade, atuam uma equipe composta por vários
especialistas prestando os cuidados necessários aos doentes em estado crítico e
com risco de vida utilizando todos os equipamentos e instalações médicas.
Questões como o problema do consentimento informado, a não observância da
confidencialidade, a falta de proteção dos direitos do paciente, a provisão de alguns
tratamentos excessivamente agressivos, manejo ineficaz da dor e a não realização
de medidas capazes de salvar a vida do paciente em cuidados de fim de vida
provocam o surgimento desses conflitos éticos entre os enfermeiros que atuam em
UTI, familiares e equipe de saúde (PEGUEROLES et al., 2016; PISHGOOIE et al.,
2019; BEZERRA; FONSECA, 2019; SILVA et al., 2021).
Ambos os temas relatados acima implicam análise e conhecimento, sendo,
portanto, justificável seu estudo.
O objetivo deste estudo foi examinar a presença da enfermagem em
unidades de terapia intensiva no sentido de oferecer uma assistência humanizada e
ética aos pacientes e suas famílias.
Tratou-se de um estudo de caráter exploratório, revisionista e bibliográfico
efetivado por meio de uma revisão de literatura. Para desenvolver o artigo
metodologicamente, procedeu-se a uma pesquisa bibliográfica onde buscou-se
algumas pesquisas desenvolvidas sobre o tema abordado neste estudo, tanto no
que diz respeito aos aspectos conceituais da Unidade de Terapia Intensiva/
enfermagem e assistência de enfermagem quanto sua correlação com a atuação
neste ambiente em termos de prática humanizada e ética no atendimento ao
paciente e à seus familiares visando elaborar uma revisão de literatura de cunho
bibliográfico, qualitativo e exploratório (GIL, 2002). O material foi selecionado
utilizando-se os seguintes descritores: unidade de terapia intensiva; assistência de
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enfermagem em UTI e humanização e ética em UTI, com critérios de inclusão os


materiais escritos entre 2010 e 2022 em português e critérios de exclusão aqueles
que abordassem outros segmentos do tema proposto.

2 A ENFERMAGEM EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Conforme descrevem Gomes; Souza e Araujo (2020) a Unidade de Terapia


Intensiva (UTI) se constitui no espaço onde é prestada assistência qualificada, com
alta complexidade, que demanda elevado nível de atenção e de cuidados prestados
pelos profissionais que nela atuam, além do uso de equipamentos com maior
especialização e avanço tecnológico no intuito de auxiliar a manutenção e
recuperação da vida de pacientes críticos e que se encontram em estado
considerado grave.
De acordo com Melo et al. (2014); Stralhoti et al. (2019); Bezerra e Fonseca
(2019); Silva et al. (2021) e Santos et al. (2022) a Unidade de Terapia Intensiva
(UTI) é preparada para o atendimento de pacientes críticos que necessitam de
cuidados altamente complexos, especializados e ininterruptos, e diante disso, a
equipe de saúde que trabalha nesse setor precisa contar com habilidades técnicas e
conhecimento científico mais aprimorado. Esta demanda influencia também na
necessidade de conhecimento das particularidades e especificidades de cada
pacientes internados em UTI, concomitantemente saber acerca das suas
necessidades de cuidado, para que possam disponibilizar uma assistência que
possa trazer contribuições no direcionamento e planejamento do tratamento,
promovendo prescrições de enfermagem adequadas para cada necessidade do
paciente internado.
De acordo com Silva e Ferreira (2013) o cuidado de enfermagem engloba
prestação de ações de caráter próprio da profissão, que advém do preparo técnico e
científico do profissional de enfermagem que esteja pautado no conhecimento
empírico, pessoal, ético, estético e político, e tenha como meta a promoção da
saúde e da dignidade humanas deste paciente. pode-se vislumbrar desta
característica quando se analisa o modo como este cuidado é efetivado que este
contem em si uma dimensão sociopolítica, visto que não se trata de somente um ato
operacional, mas sim de um processo que envolve o favorecimento da fluição da
vida humana, e para tal deve estar pautado e suportado por referenciais teórico-
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filosóficos que possam orientar as escolhas realizadas pelos profissionais que os


executam.
Neste contexto concordam Silva e Ferreira (2013) e Melo et al. (2014) que
no contexto da Unidade de Terapia Intensiva, as maneiras de cuidar do profissional
de enfermagem estão relacionados com a interconexão entre aspectos objetivos e
subjetivos implicados no cuidado e na aplicação de tecnologias como instrumental
complementar.
Para os autores acima citados as intervenções de enfermagem mais
frequentes para o paciente critico normalmente estão direcionadas à manutenção da
vida por meio de ações que abrangem os aspectos fisiológico e ações de segurança
no ambiente de UTI. Apontam ainda que pela instabilidade clínica dos pacientes que
se encontram em estado crítico, os profissionais de enfermagem intensivistas devem
priorizar a prescrição de cuidados direcionados ao atendimento das disfunções
fisiológicas em detrimento dos cuidados que possam alcançar suas necessidades
comportamentais, familiares, psicossociais e espirituais.
Para Melo et al. (2014); Bezerra e Fonseca (2019) e Yoo; Lim e Shim (2020)
os profissionais de enfermagem de cuidados intensivos que trabalham em unidades
de terapia intensiva cuidam de pacientes gravemente enfermos, e seu escopo de
trabalho pode incluir a comunicação com os entes queridos e cuidadores desses
pacientes. Nesse contexto os profissionais devem fazer julgamentos oportunos com
base em seus conhecimentos, e isso demanda um elevado nível de competência de
comunicação para avaliar de forma abrangente as necessidades dos pacientes e
suas famílias.
Corroboram Park e Oh (2018); Park e Lee (2018) e Yoo; Lim e Shim (2020)
que o objetivo da comunicação do profissional de enfermagem é otimizar o cuidado
prestado aos pacientes. A comunicação terapêutica, componente fundamental da
enfermagem, envolve o uso de estratégias específicas para encorajar os pacientes a
expressar sentimentos e ideias e a transmitir aceitação e respeito por sua condição.
Na construção de um relacionamento terapêutico eficaz, para manter o foco no
paciente é necessária uma demonstração genuína de empatia, visto que a mesma
se trata da capacidade de compreender e compartilhar as emoções de outra pessoa.
Para transmitir empatia a um paciente, o profissional de enfermagem deve perceber
a situação do paciente, comunicar essa percepção ao paciente e agir de acordo com
a mesma para ajudar o paciente. Desta forma, a comunicação eficaz baseada na
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empatia não só contribui muito para a recuperação do paciente, mas também tem
um efeito positivo na melhoria da satisfação no trabalho pela enfermagem.
Complementam Yoo; Lim e Shim (2020) que os profissionais de enfermagem
experimentam mais dificuldades na comunicação com os pacientes e suas famílias e
cuidadores no ambiente de UTI do que na realização de atividades essenciais de
enfermagem, tais como administração de medicamentos, sucção e várias operações
mecânicas executadas no âmbito da prestação de assistência de saúde. Estes
problemas distintos se relacionam com a urgência de alguns pacientes a exemplo
daqueles hemodinamicamente instáveis, com insuficiência respiratória ou com
parada cardíaca que devem ser priorizados. A comunicação entre profissionais de
enfermagem e seus pacientes na UTI também é frequentemente prejudicada pelo
ambiente terapêutico, como emergências de pacientes e uso de ventilação
mecânica. Assim, a assistência ao paciente e seus familiares acaba sendo
prejudicada.
Conclui-se que a enfermagem em UTI deve envolver a empatia, a escuta
ativa e a interação física com os pacientes e seus familiares pois assim se possibilita
uma comunicação significativa, gradualmente e efetiva que se constitui em uma
ferramenta indispensável na prestação de cuidados de enfermagem a pacientes
críticos.

2.1 O APOIO DA ENFERMAGEM À FAMÍLIA

Segundo descrevem Gomes; Souza e Araujo (2020) existe um senso


comum de que a unidade de terapia intensiva desencadeia desconhecimento e
incerteza aos pacientes e seus familiares, porque está relacionada diretamente no
imaginário popular com um local de perda, o que desencadeia estresse nos
pacientes internados e familiares, mas também, na equipe de enfermagem, o que
demanda dos profissionais de enfermagem o desenvolvimento de habilidades no
cuidado, reflexão crítica, estabelecer uma boa comunicação além da necessária
aplicação de conhecimentos científicos.
Compartilham Mitchell et al. (2016); Davidson et al. (2017); Wong et al.
(2018) e McAndrew; Schiffman e Leske (2019) que a experiência na UTI afeta a
saúde e o bem-estar social, emocional e físico da família. O cuidado centrado no
paciente e na família é considerado uma abordagem padrão para a prestação de
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cuidados de saúde que pode melhorar a saúde familiar e seu bem estar por meio do
estabelecimento de parcerias entre pacientes, familiares e profissionais de saúde. O
cuidado centrado na família é baseado no respeito mútuo, compartilhamento de
informações, colaboração e participação. Os familiares valorizam o apoio prestado
pelo profissional de enfermagem, definido como garantia da segurança do
tratamento do paciente, compartilhando informações vitais do mesmo, promovendo
o encorajamento do envolvimento da família no cuidado. O cuidado de enfermagem
centrado na família é fundamental para o processo de adaptação familiar durante e
após o período na UTI. Apesar da importância do envolvimento da família no
ambiente da UTI, a atenção inadequada ao conflito ético, sofrimento moral e
esgotamento dentro dos sistemas de cuidado podem afetar negativamente a
capacidade dos profissionais de enfermagem em cuidar de pacientes gravemente
enfermos e de seus familiares.
Concordam Angelo et al. (2014); Liput et al. (2016) e Imanipour e Kiwanuka
(2020) que os profissionais de enfermagem devem apoiar a família e devem ter uma
atitude positiva em relação à importância da família nos cuidados em todos os
ambientes de cuidados, especialmente na UTI. Evidências sobre a prática de
enfermagem direcionada à família e a atitude dos profissionais em relação à
importância da família no cuidado são úteis para promover intervenções, mudanças
de políticas e práticas necessárias para prover apoio aos familiares em todos os
ambientes de cuidado.
Quando os profissionais de enfermagem adotam atitudes positivas em
relação à importância da família no cuidado, é indicativo de reconhecimento da
relevância de apoiar a família, de estabelecer uma relação de colaboração com a
família e considerar as necessidades da família em ambientes de cuidados
intensivos.

2.2 AS QUESTÕES ÉTICAS DO SETOR

Segundo discorre Silva et al. (2016) a ética no âmbito do cuidado de


enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pressupõe duas questões
importantes. A primeira se refere a utilização de tecnologias, visto que quando os
profissionais de enfermagem empregam a tecnologia para interpretar e avaliar
clinicamente o paciente acabam se distanciando dos pacientes e estabelecendo
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uma interface com o abandono dos mesmos. A segunda está relacionada aos riscos
intrínsecos à assistência de enfermagem devido ao erro na prática assistencial ser
avaliado como alguma coisa que compromete a dignidade e totalidade humana.
Estas questões sancionam a discussão acerca da aplicação dos valores ético-
profissionais no cuidado.
Segundo Pishgooie et al. (2019) a natureza dinâmica do ambiente de
trabalho, incluindo a falta de envolvimento total dos profissionais de enfermagem no
processo de tomada de decisão, divergências morais entre médicos e enfermeiros
sobre certas decisões ou práticas ou falta de tempo para fornecer cuidados
intensivos de alta qualidade e dificuldade em resolver questões de natureza bioética
também desempenham um papel importante na prevalência de conflitos éticos. No
nível profissional, os conflitos éticos podem reduzir o nível de trabalho em equipe,
criar problemas na comunicação interpessoal, prejudicar a liderança do enfermeiro,
podendo levar ao abandono dos serviços ou mesmo da profissão.
Dada a importância do conceito de conflito ético nos enfermeiros e seu
impacto na qualidade da assistência e dos serviços prestados aos pacientes, na
segurança dos mesmos e o papel desse conceito na saúde desses profissionais de
saúde, o reconhecimento do conflito ético na assistência de enfermagem em UTI é
um passo básico e fundamental para promover o clima ético nas unidades de terapia
intensiva.
Conforme descrevem McAndrew; Schiffman e Leske (2019) os pacientes e
seus familiares muitas vezes não são capazes de fazer escolhas acerca dos
tratamentos de suporte de vida durante doenças críticas e direcionar seus cuidados.
As famílias experimentam um fardo pesado nessas situações, pois podem fazer
escolhas para continuar as terapias de suporte à vida que os profissionais de saúde
consideram inúteis. Nessas situações, as preocupações éticas dos profissionais de
enfermagem acerca do sofrimento do paciente como consequência das intervenções
de suporte à vida podem contribuir para a falta de envolvimento e apoio da família
nos cuidados intensivos. O conflito ético se estabelece quando o profissional
percebe que o cuidado ao paciente é inconsistente com os valores profissionais de
enfermagem ou ética.
Contudo, os estudiosos do tema acreditam que a inclusão da família na
prestação de cuidados de saúde é vital para resultados positivos do paciente e a
falta do apoio familiar pode como resultado de conflito ético pode afetar
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negativamente a saúde e o bem-estar de pacientes gravemente enfermos. Trata-se


de uma temática que demanda mais estudos diante da sua grande relevância no
tratamento de pacientes em UTI. Agora segue-se abordando um tema muito
importante, a humanização do atendimento.

2.3 A HUMANIZAÇÃO NO AMBIENTE DE TERAPIA INTENSIVA

Concordam Silva e Ferreira (2013) e Medeiros et al. (2016) que a utilização


de tecnologias auxilia a assistência ao cliente crítico em UTI, contudo demanda
atenção e cuidado dos profissionais para assegurar a fidedignidade dos dados
porque o acompanhamento do paciente pelo diagnostico de alterações e efetivando
intervenções necessárias trata-se de condição importante para restaurar a saúde do
paciente. neste caso entendem que o cuidado com o uso da tecnologia colabora
para a promoção da humanização do cuidado.
O cuidado de enfermagem se baseia nas ações empreendidas pelos
profissionais de enfermagem que atuam em UTI que se pauta por oito
características, quatro no âmbito subjetivo, a saber, singularidade do sujeito,
interação e relação dialógica, princípios humanísticos e subjetividade; e quatro no
contexto objetivo envolvendo, a vigilância dos aparelhos, domínio do maquinário,
observação da linguagem tecnológica e preparo dos trabalhadores. Estas
características denotam que a assistência de enfermagem efetivada na UTI, associa
técnica, tecnologia e humanização (SILVA; FERREIRA, 2013).
Concordam Gomes; Souza e Araujo (2020) e Santos et al. (2022) que a
humanização e as práticas dela decorrente tem sido cada vez mais incorporada ao
atendimento da área de saúde, sendo entendida como o protagonismo e autonomia
dos indivíduos relacionados na produção de saúde, usuários, profissionais e
gestores, valorizando e estabelecimento vínculos solidários.
Para Oliveira e Spiri (2011); Medeiros et al. (2016); Gomes; Souza e Araujo
(2020) e Santos et al. (2022) a humanização engloba diversos aspectos, entre eles,
a comunicação e as relações estabelecidas nas unidades de terapia intensiva com
os pacientes inserido no contexto da qualidade do cuidado porque o processo de
assistência na UTI apresenta alguns aspectos negativos relacionados com a
assistência ao paciente grave relacionado com a humanização, e também no
contexto maior da instituição de saúde que não prove condições apropriadas para a
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presença do acompanhante na unidade além de não possibilitar meios de distração


para o paciente que está em estado consciente.
Contudo, Oliveira e Spiri (2011); Gomes; Souza e Araujo (2020) e Santos et
al. (2022) enfocam a humanização do cuidado de enfermagem em UTI como algo
mais além de possibilidade ou não de visita familiar ou acompanhante, considerando
a profundidade das relações e a comunicação que fazem parte deste contexto
humanizado como fatores que permitem aumento da confiança e a concomitante
identificação pela equipe acerca das necessidades dos pacientes e familiares.
Dispensar atenção ao paciente e seus familiares são parte integrante de uma
assistência com qualidade e humanizada.
Humanizar também é manter o foco da assistência de enfermagem no
cuidado ao paciente grave considerando a família do mesmo inserida neste
complexo processo de trabalho intensivista, pois a assistência de enfermagem
humanizada entende o atendimento das necessidades dos pacientes e de seus
familiares de forma a ajudar os mesmos a enfrentar a doença, o tratamento e as
novas condições de vida que será a realidade posterior. Aspectos atinentes ao
cuidado humanizado são a confiança do paciente e seus familiares na equipe, a
manutenção da tranquilidade do ambiente, possibilitar conforto para paciente e
familiares neste ambiente desconhecido da UTI e considerando a fragilidade do
momento difícil experienciado devido a doença (OLIVEIRA; SPIRI, 2011; GOMES;
SOUZA; ARAUJO, 2020).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se observar que as situações clínicas vivenciadas pelos profissionais


de enfermagem, a identificação dos fatores que os afetam no enfrentamento dos
conflitos éticos e na inclusão da humanização no processo de atendimento devem
ser analisadas e consideradas para consolidar e reforçar as medidas que favorecem
a diminuição dos conflitos éticos, a inserção de práticas humanizadas e de uma
assistência que possibilite aumentar a qualidade do atendimento ao paciente e de
seus familiares.
Percebeu-se que a família é vital para a saúde e bem estar do paciente; no
entanto, isso geralmente não é levado em consideração devido ao foco total no
paciente nos cuidados de saúde, particularmente em ambientes de cuidados
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intensivos. Por isso capacitar profissionais de enfermagem e suas famílias em


cuidados intensivos por meio de suporte organizacional estruturado é um caminho
produtivo para aumentar a qualidade dos resultados do paciente, bem como
alcançar cuidados familiares de enfermagem de alta qualidade. Recursos
organizacionais para dirimir os conflitos éticos podem desempenhar um papel na
prestação de cuidados familiares na UTI.
Os resultados deste estudo demonstraram que existe como otimizar os
resultados da atuação do profissional de enfermagem e da família no ambiente de
UTI através da unidade e de estratégias de apoio ao paciente, família e profissionais
com a atuação de bases organizacionais por meio de aumento dos recursos para
lidar com conflitos éticos na prática clínica, melhoria do cuidado familiar e
humanização da assistência que podem auxiliar para uma intervenção benéfica e
facilitadora de uma abordagem proativa para resolver conflitos e sofrimentos e
outras elementos que podem afetar o cuidado do paciente e da sua família.
Acerca da humanização, pode-se compreender que se refere a uma
complexa rede interligada que envolve aspectos relacionais e processuais que são
perpassados pela humanização no cuidado ao paciente da UTI. Para que se efetive
é imprescindível que o profissional de enfermagem que atua em UTI absorva a ideia
de toda tecnologia e do modelo biomédico com o qual trabalha, mas cima de tudo,
entenda que existe uma vida humana que precisa ser amparada e considerando em
toda sua singularidade, para que este paciente e seus familiares possam receber
uma assistência de qualidade e humanizada.
Conclui-se que os cuidados promovidos pela equipe de enfermagem aos
pacientes graves em Unidades de Terapia Intensiva se revelam de grande
relevância, e para que isso ocorra é necessário que seja promovido um cuidado
mais holístico que englobe não somente os cuidados físicos e biológicos
imprescindíveis, mas igualmente aqueles de caráter psicológico e social,
promovendo uma assistência humanizada e extensiva aos familiares que também
estão em sofrimento extremo. Assim entende-se que para que haja um cuidado
humanizado e positivo deve-se focar a eficiência técnico-científica, mas também,
manter a atenção aos princípios e valores como solidariedade e ética na relação
estabelecida entre a equipe de enfermagem, a família e o próprio paciente,
promovendo seu acolhimento, respeitando e aceitando seus limites.
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