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Subitamente Grávida

Uma noite com o CEO

Copyright © 2021 by Cris Barbosa


Edição Digital

Capa e Diagramação Digital

Revisão e Preparação de Texto: Ebervânia Maria

Todos os direitos reservados a Cris Barbosa 2021.


Publicado de forma independente por Cris Barbosa pela Amazon.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios — tangível ou intangível — sem o consentimento por escrito do autor.
Criado no Brasil.
Sumário
Sinopse
Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e Três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Contatos
Nota da autora
Leia Também: Apenas por conveniência?
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Outras Obras: O Viúvo e eu: Uma chance para recomeçar
Sinopse
O bebê de um ‘EX’ solteiro convicto
Sinopse
Isis Barros é uma jovem estudante de arquitetura, simples, esforçada e muito romântica. Em
uma noite de festa com os amigos numa boate ela se encanta por Daniel Leblanc, um jovem rico e
sedutor, que está de partida para o exterior para cursar seu MBA sem data para voltar e, só então,
retornar ao Brasil para assumir os negócios da família, se tornando o CEO da maior empresa do
ramo hoteleiro do país.

Os dois tem uma noite de amor casual e inesquecível. Entretanto o que ela não esperava era

engravidar daquele homem, que partiu na manhã seguinte deixando apenas um bilhete de despedida.

Devido às circunstâncias e a algumas descobertas a respeito de Daniel, desesperada e


contando com o apoio de seus pais, ela resolve deixar a paternidade do bebê em segredo. Mas Isis
não imaginava que reencontraria aquele homem que havia mexido tanto com ela e que ele faria as
contas tão bem a ponto de desconfiar ser o pai da criança.

E agora, o que fazer? Contar a verdade ou sustentar a mentira?


Isis

— Quem é ele? — perguntei a Carol, minha melhor amiga da faculdade, sem desviar os olhos
do lindo homem de cabelos castanhos e olhos pretos que me encarava do camarote VIP da boate em

que estávamos.

Sem explicação, me sentia muito atraída por ele, que me observava com atenção. Seu sorriso
era encantador e seu olhar muito sensual. Eu não conseguia desviar o meu olhar do dele, que, de
forma descontraída, bebia seu whisky enquanto flertava comigo.

— Daniel Leblanc, irmão da sua “querida amiga”, Vanessa — falou com desdém ao se referir
ao meu desafeto. — Hoje é o bota fora dele, parece que ele está voltando para o exterior onde mora
e estuda.

Não sei o porquê a irmã dele havia cismado comigo e se tornado minha inimiga declarada.
Que eu me lembre, nunca havia feito nada de mal a ela. Sua raiva desferida contra mim era gratuita e
sem sentido. Eu não conseguia entender o porquê uma garota rica, filha de um grande empresário do
ramo hoteleiro, nascida em berço de ouro, poderia se incomodar tanto comigo, uma reles mortal sem

eira, nem beira.

— Sabia. Algum defeito ele tinha que ter. — Olhei de novo em sua direção, sendo pega em
flagrante por ele, que me encarava despudoradamente.

Assim que nossos olhares se cruzaram, desviei o meu, envergonhada. Tenho que admitir que
ele parecia ser muito gostoso. Eu nunca havia me sentido tão atraída e interessada assim por um
homem. Sempre fui muito reservada para relacionamentos. Ele era alto, imponente e muito lindo.
Olhar penetrante e sorriso sexy. Mas era irmão de Vanessa Leblanc, e ela, com certeza, ia fazer de
tudo para atrapalhar.
— Então, antes que ela veja essa troca intensa de olhares entre vocês, vamos comigo ao

banheiro. Aproveita e tire esse cara da cabeça — Aconselhou-me Carol. — Lembre-se que a corda

sempre arrebenta para o lado mais fraco, que nesse caso é você.

Acompanhei minha amiga até o toalete feminino sem dizer mais nenhuma palavra sobre o

homem lindo que havia ganhado toda a minha atenção naquela noite. Tinha algo nele que me atraía
como um ímã e eu não sabia dizer o que era. Mas Carol tinha toda razão ao me dizer para tirá-lo da
cabeça. Eu era mesmo o lado mais fraco da corda e a família dele, que com certeza não iria me
aceitar muito bem, era o mais forte. Quem sofreria as consequências de um envolvimento entre nós,

seria eu.

Voltamos para perto da pista de dança e de soslaio olhei na direção do camarote e o deus
grego já não estava mais lá. Com certeza havia encontrado outra garota com quem se divertir. Melhor
assim.

— Procurando por alguém? — Ouvi uma voz muito sensual nas minhas costas e pelo arrepio
que percorreu todo o meu corpo, nem precisava olhar para trás para saber quem era.

Virei-me em sua direção e senti o ar ficar preso em meus pulmões. Ele era ainda mais perfeito

de perto. Passou as mãos pelos cabelos curtos, castanhos escuros e, mordendo o lábio inferior, me
encarou com lascívia. Depois sorriu com seus dentes extremamente brancos e perfeitos. Apesar de
vestido dava para perceber que seu corpo era malhado e bem trabalhado em músculos que marcavam
sutilmente sua roupa conforme ele se movia.

— Por que estaria? — respondi sua pergunta com outra, fazendo-o me dar mais um de seus
sorrisos largos.

— Prazer, Daniel Leblanc. — Estendeu a mão em minha direção.


— Muito prazer... — retribuí o cumprimento, sentindo pequenos choques percorrer todo o meu

corpo, se concentrando mais entre as minhas pernas. — Eu sou Isis Barros.

Ele me olhou de cima a baixo, me analisando, e eu fiz o mesmo com relação a ele.

— E então, por que veio falar comigo? — perguntei, me fingindo de desentendida e com um
certo ar de superioridade na tentativa de ele não perceber o quão abalada eu estava com nossa
proximidade.

— Porque a gente está se olhando e se desejando desde a hora em que nos vimos pela primeira

vez. — Foi direto, jogando limpo, e depois deu alguns passos em minha direção, diminuindo a
distância entre nós. — E porque eu quero te beijar — confessou.

— E por que eu te beijaria? — questionei atrevida.

— Para me conhecer melhor.

Enlaçou minha cintura com uma mão e com a outra me puxou pela nuca, colando nossos
corpos. Labaredas de desejo brilharam em seus olhos e me peguei desejando que todo o resto nele
fosse tão quente como aquele olhar arrebatador. E então, me entreguei ao beijo mais gostoso e

perfeito de toda a minha existência.

— Dança comigo? — perguntou, desfazendo nosso beijo e me pegando de surpresa.

Não sei o porquê, mas achei que, após me beijar e conseguir o que queria, ele iria embora a
procura de alguma outra garota para ficar. Na maioria das vezes era assim que acontecia.

— Claro! — respondi, meio sem reação, no exato momento em que o DJ começava uma
seleção de músicas românticas.

Caminhamos em direção a pista e quando olhei curiosa em direção ao camarote em que estava
a família dele, vi Vanessa com a mão na cintura e a boca aberta, deixando bem claro que não havia
gostado do que estava vendo.

Assim que chegamos lá, começou a tocar a música “Afterglow” de Ed Sheeran. Com uma mão,
Daniel segurou em minha cintura, me puxando para mais perto, e com a outra entrelaçou nossos

dedos. Ele começou a se movimentar, me conduzindo no ritmo da música e sem desviar seus olhos
dos meus. Não tinha como ser mais perfeito.

Dançamos por toda a pista. Daniel não me decepcionou, ele dançava muito bem e me conduzia

com facilidade. Estávamos tão colados que meus seios roçavam sua camisa e sua ereção começou a
ganhar forma.

— Isis, eu... — Afastou-se um pouco para olhar bem dentro dos meus olhos. — Estou
completamente enfeitiçado por você. Desde o primeiro momento em que te vi, não paro de te desejar.
Tudo o que mais quero é te provocar e possuir. Tê-la em minha cama e te ver perder as roupas, a
cabeça e a compostura. Te ouvir gemer e gritar meu nome de tanto prazer. — Labaredas de desejo
voltaram a inundar seus olhos. — Mas eu preciso ser sincero com você. Estou indo embora do país
amanhã. Estou partindo para a Suíça terminar meu curso de MBA em hotelaria e só retorno depois

que o terminar para assumir os negócios da família.

— Tipo como um CEO? — indaguei com curiosidade.

— Exatamente como um CEO, Isis. Meu pai está doente e precisa se aposentar. Eu sou o
primogênito da família e devo substituí-lo no comando da empresa — acrescentou.

— Poxa, eu nunca pensei que um dia fosse conhecer um CEO de verdade — divaguei. — Até
agora eu só conhecia aqueles dos romances que leio.

— Agora você me conhece. — Sorriu encabulado. — E então, o que me diz? Fica comigo essa
noite? — Me puxou para os seus braços, me beijou com sua boca gostosa e eu retribuí com avidez.

Enlacei o seu pescoço com uma urgência incontrolável, enquanto ele me puxava, nos afastando
da pista de dança e me pressionando contra uma parede próxima a nós. Ele devorava minha boca e
subiu uma das mãos em direção a curva dos meus seios. Foi quando me toquei de onde nos

encontrávamos, o quanto estávamos expostos e resolvi responder, antes que acabássemos transando
ali mesmo.

— Fico — respondi afoita. — Mas preciso que você saiba que não costumo transar na

primeira vez. Para mim precisa ter envolvimento de ambas as partes. Mas tem algo muito especial
rolando entre a gente, você vai embora e eu acho que jamais me perdoaria se deixasse essa
oportunidade passar. Eu não consigo explicar o porquê, mas você desperta uma fera dentro de mim.

— Não se preocupe com isso, Isis. — Acariciou meu rosto com o polegar. — Eu sou um
homem de trinta e três anos e não um garoto. Jamais te julgaria por ceder ao desejo e se entregar a
mim na noite em que nos conhecemos. — Respirou fundo. — Para ser sincero, eu jamais te pediria
isso se não estivesse indo embora. Eu teria mais alguns encontros com você, te conheceria melhor e
então aconteceria. Porém, não temos tempo para isso e estamos doidos de tesão um pelo outro. —

Engoliu em seco. — Venha, vamos sair daqui agora. — Saiu me puxando em direção a porta.

— Mas já? — perguntei confusa e excitada.

— E por que esperar mais? — indagou sorrindo.

Já do lado de fora da boate, Daniel pediu ao manobrista que trouxesse seu carro, um Ferrari
SF90 Stradale de cor vermelha. Ele abriu a porta para mim e eu entrei. Fiquei de boca aberta
apreciando a máquina. Nunca em minha vida pensei que andaria em um carro como aquele. Não que
eu me importasse com esse tipo de coisa. Se eu gostasse da pessoa de verdade, poderíamos andar a
pé ou de transporte coletivo que da mesma forma eu seria a mulher mais feliz do mundo.
— Girassóis? — Ele me olhou surpreso sem entender o que eu estava dizendo.

— Ah, sim. — Sorriu balançando a cabeça. — Era a minha festa de despedida que estava
rolando no camarote. Uma amiga da família me presenteou com esse arranjo. Confesso que fiquei
meio desconcertado em receber flores, mas enfim as aceitei e coloquei dentro do carro para não ter

que carregá-lo pela boate na frente de todos.

— Qual o problema de vocês homens em receber flores? — indaguei divertida. — Elas têm
significados, sabia? Os girassóis têm muitos. Mas, no seu caso, com certeza ela te deu esse arranjo

como desejo de boa sorte e fortuna na carreira de CEO que você vai iniciar quando voltar.

—Temos aqui uma entendida em plantas? — Brincou, dando partida no carro e saindo da
frente da boate.

— Não em todas. — Sorri de volta. — Mas em girassóis, sim. São as minhas preferidas, além
de terem muito significados bons e positivos.

— Você é muito surpreendente, Isis. Alguém já te disse isso?

— Não que eu me lembre — respondi encabulada. — Para onde estamos indo?

— Para o meu apartamento. — Estendeu o braço e acariciou minha mão. — Isso te incomoda?
— Apenas neguei com a cabeça.

Mal chegamos ao apartamento de Daniel e fomos logo nos pegando na sala mesmo. Não sei
dizer o que estava acontecendo comigo, mas o fato é que aquele homem exercia um magnetismo sem
igual sobre mim e me deixava louca. Ele segurou firme em minha cintura e, virando-me de costas,
passou o nariz pelo meu pescoço como se quisesse absorver o meu cheiro. Ali, na sua casa, em seus
braços, eu tinha certeza de que jamais o esqueceria. Ele havia me marcado para sempre, desde nosso
primeiro olhar.
— Eu te quero tanto, Isis. Você me deixa tão louco, me acende de tal forma que me sinto como

se estivesse entrando em combustão — sussurrou, enquanto distribuía beijos pelo meu pescoço.

De costas para ele, joguei minha cabeça para trás, me apoiando em seu ombro e tomada por um
tesão inexplicável, sussurrei palavras desconexas. Eu nunca havia desejado alguém com tamanha

intensidade e desespero. Daniel virou-me de frente para ele e, mais uma vez, pude ver o desejo
brilhando como labaredas em seus olhos.

Insanamente comecei a desabotoar sua camisa, estremecendo quando minhas mãos tocavam a

sua pele. Após removê-la por completo, o encarei com desejo. Sorrindo, Daniel virou-me novamente
de costas e pude sentir e ouvir o barulho do meu zíper se abrindo e logo meu vestido estava no chão.

Levou-me até o sofá, onde me sentei, abri as pernas e apoiei meus pés no móvel. Arfei quando
senti ele me tocar sobre o tecido fino e delicado da minha calcinha preta de renda. Abaixou-se
beijando e acariciando minhas coxas. Com a respiração entrecortada, gemi e me deliciei.

Retirando minha calcinha, levou-a até o nariz inalando o aroma do meu sexo. Depois, Daniel
passou a língua por toda a minha extensão, me lambendo e fazendo arquear. Alisou minhas coxas e
levando o dedo indicador até a minha bocetinha começou a brincar em minha entrada, enfiando-o e

removendo devagar. Então abaixou-se e levou a boca de encontro ao meu clitóris, lambendo com
vontade. Enfiou sua língua em mim sem piedade. Descontrolei-me e puxei seus cabelos enquanto ele
enterrava um dedo em mim e depois outro.

Com a outra mão ele acariciava meus seios, torcendo os mamilos entre os dedos. Eles cabiam
inteiros em suas mãos. Daniel capturou meu clitóris com os dentes, trabalhando no meu ponto
sensível, enquanto seu dedo continuava enterrado em mim. Contraí-me por inteiro quando meu
orgasmo me arrebatou com força.

Afastou-se depressa, tirando a calça com rapidez. Beijou-me de forma quente e então me
penetrou com um golpe só, pegando-me desprevenida. Minhas pupilas dilataram, gemi e me contorci

com ele enfiado em mim.

Apoiou uma das minhas pernas em seu ombro para entrar mais fundo. Meteu em mim sem
piedade. Nossos corpos se chocavam a cada estocada forte e rápida que ele desferia. Levantei minha

outra perna, apoiando em seu outro ombro para que ele se enfiasse ainda mais dentro de mim.

Gemi descontrolada e senti meu abdômen se contrair. Daniel saiu de dentro de mim e virou-me
de costas, mordeu minha bunda que estava arrebitada em sua direção e voltou a me penetrar. Com o

dedo alcançou meu clitóris e fez movimentos de vai e vem, enquanto suas estocadas se tornavam
cada vez mais urgentes, fundas e rápidas. Gritei o seu nome e me entreguei a mais um orgasmo
sensacional. E então, ele também gozou, totalmente fora de si, gritando, gemendo e xingando.

Acordei toda manhosa me espreguiçando na cama. Um sorriso bobo não saía dos meus lábios.

A nossa noite havia sido incrível. Depois de fazermos amor selvagem na sala, Daniel me levou para
o quarto e fui a loucura em seus braços, na sua cama. Nossa química foi perfeita e o que aconteceu
entre nós abalou todas as minhas estruturas. Passei a mão ao meu lado na cama e me surpreendi ao
perceber que eu estava sozinha nela.

— Daniel? — chamei.

Sem resposta, me enrolei no lençol e saí a sua procura. Não o encontrei em parte alguma. O
silêncio e o vazio indicavam que eu estava sozinha no apartamento. Onde ele teria ido? Voltando para
o quarto, encontrei na mesa de cabeceira um bilhete junto com o arranjo de girassóis que ele havia
ganho na noite anterior. Eu havia saído do quarto tão atordoada para procurá-lo que nem havia

notado o sinal.

“Minha linda, querida e inesquecível, Isis,

Sou péssimo em despedidas por isso resolvi partir antes que você acordasse.

Quando você ler esse bilhete, com certeza, já vou estar bem longe, o meu voo parte bem

cedo.

Muito obrigado pela noite de amor incrível e quentíssima!

Você foi e é perfeita!

Você vai deixar... Já deixou saudades!

Você merecia flores compradas especialmente para você, porém como não houve a
possibilidade de eu fazer isso, te deixo o arranjo de girassóis, já que são as flores de que mais
gosta.

De qualquer forma seria uma judiação deixá-los morrer fechados em um apartamento sem
ninguém para olhá-los.

Cuide bem deles!

Sinto ter que partir justamente quando te conheci.

Até um dia!

Seu Daniel.
Ps: deixe a chave na portaria, o porteiro saberá o que fazer com ela.

Li e reli aquele bilhete várias vezes, depois tomei um banho, coloquei minha roupa que estava
gentilmente dobrada sobre o sofá. Peguei meus girassóis, o bilhete, minha bolsa e fui embora. Mas

antes de sair, dei uma última olhada no nosso ninho de amor.

“Será que algum dia ele vai voltar?” Pensei em voz alta, fechei a porta atrás de mim e parti,
já com saudades e um pouco decepcionada por ele ter ido embora sem se despedir, porém sem
nenhum arrependimento.

Mal sabia eu que aquela noite mudaria toda a minha vida.


Isis

Um mês depois...

Saí de casa bem cedo naquele dia. Antes de ir para a faculdade, passei em uma farmácia.
Havia algo me incomodando e me deixando maluca, a minha menstruação, que era sempre tão
regular, estava atrasada, há alguns dias eu vinha sentindo enjoos e passando mal, sentia muito sono e

minhas mamas estavam sensíveis. Eu precisava me certificar de que estava mesmo enganada, para
tirar aquela dúvida de vez da minha vida.

Assim que cheguei à faculdade, chamei minha amiga Carol para que me acompanhasse até o
banheiro. Entramos juntas em um mesmo compartimento, eu queria que ela estivesse comigo quando
visse o resultado e precisávamos conversar a respeito.

— Meu Deus, isso não pode ser verdade. — Proferi incrédula, após reler pela terceira vez as
instruções contidas na caixa.

— Isis, você está bem? Diga logo de uma vez como foi o resultado.

Olhei para o palito em minha mão e li a caixa mais uma vez. Não tinha como errar, as
explicações eram bem simples e nítidas: (-) = negativo / (+) = positivo. E era exatamente o sinal de +
que aparecia em meu resultado.

— Aqui diz que estou grávida de Daniel Leblanc.

Vi minha amiga perder a fala e não conseguir me dizer mais nada a respeito por alguns
momentos. Meu Deus, como isso foi acontecer? Foi então que me lembrei que na nossa única noite
juntos estávamos tão afoitos e desejosos um do outro que Daniel não havia usado preservativo e que
eu não tomava pílula anticoncepcional, pois sofria muito com os efeitos colaterais e não havia

conseguido acertar em nenhuma. Foi então que entrei em pânico.

— Eu preciso ir ao médico. Esses exames de farmácia não são cem por cento confiáveis.
Tenho que fazer o exame de sangue. Eu não posso ser tão azarada assim ao ponto de engravidar na

primeira e única transa que tive com o cara. Ou posso?

Já tendo voltado a si, Carol começou a tentar me acalmar, enquanto eu tentava digerir melhor o
que estava acontecendo comigo.

— Preciso marcar um horário com a doutora Aline e fazer o exame de sangue o mais rápido
possível.

— Faça isso. Eu irei com você, não vou te deixar sozinha nesse momento.

— Tem alguém aí? — perguntei de imediato ao ter ouvido barulho de passos do lado de fora.

Abrimos a porta e não encontramos ninguém. Devia ser paranoia da minha cabeça. Ou, pelo
menos, eu esperava que fosse, o que eu menos precisava nesse momento era de alguém ouvindo nossa
conversa por trás da porta e sair espalhando por aí a notícia da minha possível e quase certa

gravidez.

— Posso saber qual o motivo da minha paciente mais aplicada solicitar um atendimento de
urgência? — Eu havia feito a secretária da minha ginecologista e obstetra se virar e me marcar o
mais rápido possível. Dois dias depois eu estava sendo atendida.
Doutora Aline foi simpática e atenciosa comigo e eu lhe contei tudo o que estava acontecendo.

Sorrindo, ela me explicou que faria a solicitação de um exame através do meu convenio médico e

que eu deveria seguir as regras de praxe, ir até um laboratório de exames clínicos e fazê-lo. Segundo
ela, dentro de dois dias já deveria estar pronto. Orientou-me a pedir que o resultado fosse enviado

diretamente para o seu consultório. Que assim que chegasse, ela avaliaria e se houvesse necessidade,
marcaria o meu retorno. Também me instruiu a não entrar em desespero, pois, caso eu estivesse
grávida de verdade, isso poderia prejudicar o meu bebê.

— Está tudo bem, amiga? — Carol me perguntou assim que deixamos o consultório médico.

— Está sim — respondi sem mais delongas e enxuguei minhas lágrimas antes de olhar para
ela.

— O que vai fazer com Daniel Leblanc se estiver mesmo grávida dele?

— Não sei como, mas terei que dar um jeito de contar a ele. E se ele não acreditar em mim,
Carol? Se duvidar que o bebê é realmente dele? Achar que é de outra pessoa e eu estou tentando dar
o golpe da barriga nele? — Eu não estava preparada para ser julgada e rejeitada por ele.

— Procure se acalmar, amiga. Lembre-se do que a médica falou sobre estar carregando um ser
vivo dentro de você e de poder fazer mal a ele. — Segurou minha mão com carinho. — Vamos
esperar o resultado do exame e daí você decide o que vai fazer. Tenho certeza de que tudo dará certo
e ficará bem.

Dois dias após sairmos de lá, a secretária da minha médica me ligou para marcarmos o
retorno, pois ela precisava me ver. Na hora eu já sabia que estava de fato grávida. Como de praxe, se
o resultado fosse negativo, ela pediria para que me ligasse e dissesse que estava tudo bem, que eu
poderia dormir tranquila. Esse era o critério adotado por ela.
— Isis, minha querida, você acredita em destino, milagre ou algo do tipo? — doutora Aline

sorriu ao perguntar.

— Às vezes sim, outras não. Por quê?

— O seu exame deu positivo. Ao que tudo indica, pelo que me contou, você está com cerca de
quatro semanas e meia de gestação. Pelos meus cálculos, como é minha paciente há anos e sei que
sua menstruação sempre foi muito regular, você engravidou fora do seu período fértil. — Surpresa
com a revelação, levei minhas mãos a boca. — Isso é quase impossível de acontecer, mas existe uma

chance mínima se a relação sexual acontecer antes da ovulação. E aconteceu com você. Se isso é
milagre, destino, sorte ou azar, só você poderá avaliar.

Pensativa, passei a mão pela minha barriga ainda seca, sem qualquer sinal de estar carregando
um bebê dentro de mim. Mas logo ela apareceria e eu teria que dar um jeito de entrar em contato com
a família de Daniel para contar a ele. Mesmo que para isso eu tivesse que engolir Vanessa Leblanc e
seus desmandos. Eu não queria privar meu filho de ter e conviver com o pai.

Minha médica aproveitou para me dar algumas orientações básicas e superimportantes sobre o
que fazer ou não durante aquela etapa da minha gestação. Pediu para que eu seguisse uma dieta

nutritiva e equilibrada, investindo em verduras frutas e legumes ricos em vitaminas do complexo B,


cálcio, ferro, zinco, fibras e ácido fólico. Orientou-me para que eu fizesse atividades físicas de baixo
impacto como caminhada, yoga e natação. Conversamos também sobre a minha imunização contra
doenças como rubéola e hepatite B, além dos cuidados com a toxoplasmose. Nada de cigarros ou
bebidas alcoólicas. O que não foi muito problema para mim, pois já não fumava e bebia só
socialmente. E por fim, me proibiu a automedicação. Sempre que sentisse algo diferente, deveria
procurar por ela para ser orientada sobre o que tomar.

Fizemos uma primeira ultrassonografia apenas para nos certificar de que estava tudo bem com
o bebê. Ele ainda não podia ser visto na imagem. A doutora Aline apenas me mostrou uma pequena
bolinha preta que seria o saco gestacional e me disse que nessa fase a criança media de 0,36 a 1 mm

e que por isso não conseguiríamos vê-la. A próxima seria feita mais para frente, entre a décima
primeira e décima quarta semanas, quando aí já conseguiríamos identificá-lo melhor.

Fui cercada de tanto amor pela minha médica e minha amiga Carol, que não saiu de perto de
mim em nenhum momento, que saí de lá decidida a procurar pela família Leblanc e pegar o contato
de Daniel. Depois que eu contasse a ele e decidíssemos o que iríamos fazer, então eu contaria aos
meus pais. Mas uma coisa já era certa, eu teria aquela criança de qualquer maneira. Eu já a amava e

desejava mais do que um dia desejei até seu próprio pai. E olha que não foi pouco. Senti um arrepio
percorrer meu corpo com algumas lembranças.
Isis

Havia se passado uma semana desde a confirmação da minha gravidez e eu ainda não tinha
encontrado coragem de procurar pela família de Daniel. A única forma de conseguir contato com o

pai do meu filho seria procurando pelos Leblanc e descobrindo um número de telefone, ou qualquer
outra maneira que pudéssemos conversar. O único problema é que para isso eu teria que contar
primeiro a eles sobre o meu estado e isso me deixava um pouco preocupada e constrangida.

Porém, não dava para esperar mais, em breve minha barriga começaria aparecer e todos

ficariam sabendo de tudo. Eu não queria que meus pais descobrissem antes de eu ter conversado com
Daniel e termos nos acertado. Eles não mereciam isso! Já bastava o fato de descobrirem que a filha
deles, a quem tanto amavam e confiavam, havia se deitado com um estranho apenas uma noite e
engravidado dele, que havia partido no dia seguinte sem dizer adeus e deixando apenas um bilhete de
despedida.

Daquela tarde não iria passar. Carol se ofereceu para ir comigo, mas preferi enfrentar as feras
sozinha. Eu não podia ficar metendo-a em confusões o tempo todo. Minha amiga também tinha seus
problemas e precisava de espaço e tempo para resolvê-los. Ela não poderia viver em função de mim,

da minha vida e do meu filho para sempre, apesar de eu desejar muito sempre tê-la ao meu lado, me
dando todo o seu apoio.

Não foi difícil descobrir o endereço dos pais de Daniel, bastou perguntar na secretaria da
faculdade alegando que Vanessa Leblanc havia esquecido seu laptop na sala de aula e que precisaria
dele para entregar um trabalho no dia seguinte e que se ela soubesse que eu havia encontrado e eles
não tinham me fornecido seu endereço, faria um grande escândalo e, talvez, até pedisse transferência
para outra universidade. Todos conheciam bem os pitis dela e não quiseram arriscar perder uma das
alunas mais ilustres da instituição. Portanto, nem precisei de muito esforço para sair de lá com o
endereço em mãos.

Já na frente do condomínio de luxo, localizado no bairro do Morumbi, um dos mais nobres da


cidade de São Paulo, fui até a guarita e pedi para que anunciassem a minha presença. Utilizei o nome
de Carol, porque se Vanessa estivesse lá e soubesse que era eu, talvez não me deixasse entrar, e pedi

para que falassem que era uma grande amiga de Daniel Leblanc que precisava conversar com alguém
da família sobre algo muito importante a respeito dele. Não sabia se essa história ia colar, mas
precisava fazer algo e, para a minha surpresa, liberaram a minha entrada.

Vanessa estava parada na porta e me olhava com ódio nos olhos. Meu coração disparou, só de
pensar que teria que contar para ela primeiro sobre a minha gravidez.

— Posso entrar?

— Não — respondeu seca e direta.

Eu estava muito decidida para deixá-la me barrar daquela maneira. Ignorei-a, olhando-a de
cima a baixo e dei alguns passos para dentro, forçando a minha entrada.

— Sabia que eu posso chamar a polícia? Isso que você está fazendo é invasão de domicílio.

— Olhou-me com desdém, como se eu fosse um lixo.

Fiquei em silêncio por um tempo, enquanto ela com a mão na cintura, batia um dos pés no
chão, na tentativa de me intimidar.

— Não precisa se dar ao trabalho, eu vou ser breve. Quando a polícia chegar, com certeza,
nem vou mais estar aqui. — Vanessa emudeceu. — Eu só preciso que você me forneça o contato do
seu irmão na Suíça. Eu tenho algo muito importante para dizer a ele.

— Vai querer dar o golpe da barriga e dizer que essa criança que você está esperando é dele?
— Apontou para a minha barriga e eu, por instinto, levei minhas mãos até ela em sinal de proteção.

— Era você que estava no banheiro no dia que eu fiz o exame de farmácia, não é mesmo?

— Qual o problema? O banheiro da faculdade é público, qualquer aluno, funcionário, ou

visitante pode fazer uso dele quando quiser. Eu não cometi crime nenhum, ao contrário de você que
invadiu minha casa sem ser convidada.

— Quer saber? Isso não é da sua conta. — Virei e caminhei mais para o centro da sala. — Sei
que você tem algo contra mim que, sinceramente, não faço ideia do que seja, por isso, com certeza,

não irá me ajudar. Chame seus pais, eu quero falar diretamente com eles.

— O que eu tenho contra você? O simples fato de você ser pobre, minha querida. Eu odeio
vocês bolsistas se misturando a nós da elite na faculdade. — Ironizou. — E você ainda tem o
desplante de querer se mostrar melhor e mais inteligente do que eu. Sempre me afrontando nas
perguntas dos professores, querendo ser a sabichona da turma, quando na verdade você não é
ninguém. — Meu queixo caiu no chão e voltou.

— Chega, Vanessa! — afrontei-a. — Vai chamar seus pais. Ou quer que eu saia gritando por

eles pela casa?

— Nem se atreva a colocá-los nessa história. Meu pai está muito doente e minha mãe foi levá-
lo ao médico. — Lembrei de Daniel contando que teria que assumir os negócios da família por causa
do estado de saúde do pai. — A última coisa que eles precisam é saber das suas safadezas com meu
irmão. Você tem razão quando diz que não é da minha conta com quem Daniel fode ou não. Ele tem
inúmeras mulheres espalhadas por aí. Só que a partir do momento que uma qualquer, que não tem
onde cair morta, bate na porta da minha casa querendo dar o golpe da barriga nele, aí já passa a ser.

Lágrimas brotaram nos meus olhos pela forma com que ela se referia a mim. Cada ofensa era
uma punhalada em minha alma, mas eu não me permiti chorar. Pelo menos não na frente dela, eu não
lhe daria aquele gostinho. Respirei fundo e engoli o choro.

— O Daniel merece saber que vai ser pai para decidirmos juntos o futuro dessa criança. Eu
estou aqui em consideração a pessoa maravilhosa que ele é.

— Para quê? Para te mandar fazer um aborto. Você acha que é a primeira mulher que ele
engravida? — Paralisei chocada e sem reação com as suas palavras. — Cada vez que vem ao Brasil,
pelo menos uma de vocês golpistas e pobretonas batem a nossa porta. Já virou lugar comum. — Senti

um surto de raiva me incendiar e quase explodi de tanto ódio, mas me segurei. Queria ver até onde
ela seria capaz de chegar. — Se você insistir em ter essa criança, o máximo que ele vai fazer vai ser
garantir o sustento dela.

— Você está mentindo. O Daniel que eu conheci não é esse ser desprezível pelo qual você está
tentando fazê-lo passar — gritei com toda a força dos meus pulmões. — Você é uma pessoa doente,
mal-amada e infeliz, que só quer me fazer sofrer para o seu próprio deleite. — Vanessa me olhava
com desprezo. — Você se acha superior a todo mundo, mas na verdade é a criatura mais baixa que eu
já conheci em toda a minha vida.

— Não acredito que você acha que conhece bem o meu irmão só porque ele meteu em você
uma única noite. — Sorriu com sarcasmo. — O seu amado Daniel te contou que é noivo e quando
voltar para assumir os negócios da família irá se casar com ela? — Me lembrei que ele me disse que
havia ganho o arranjo de girassóis de uma amiga, com certeza devia ser da noiva, por isso ficou meio
sem graça por eu tê-lo visto. — Os dois estão juntos há muito tempo. Ela é de família tradicional e
quatrocentona como a nossa. As duas famílias fazem muito gosto nesse casamento e tenho certeza de
que ele cumprirá com seu compromisso.

— Se ele tem uma noiva, onde estava ela naquela noite na boate? — confrontei-a.
— No camarote, onde ele também deveria estar se não houvesse uma vagabunda dando mole

para ele na pista de dança. — Seus olhos arregalados brilhavam vitoriosos. — Ele falou para ela que

passou mal com o whisky e precisou ir embora. Daniel tem o dom de seduzir e enganar as mulheres.
Mas ele a ama, irão se casar e serão muito felizes. Aliás, eu acabei de ter uma grande ideia. Deborah

descobriu que tem endometriose, infelizmente teve que retirar os dois ovários e se tornou estéril.
Uma grande tristeza para os dois que sonhavam em ter vários filhos. Se você insistir em ter esse bebê
e contar para ele sobre a paternidade, com o nosso dinheiro e influencia não será nada difícil ele te
tomar essa criança e os dois criarem juntos o filho dele. Agora, você tem duas opções, queridinha, ou

interrompe essa gravidez ou te tomamos a criança.

— Você está me ameaçando? — Mesmo com medo pelo meu filho, ainda a enfrentei.

— Só depende de você, pobrinha. Agora vá embora da minha casa antes que eu mande um dos
nossos inúmeros empregados te expulsar a vassouradas. — Abriu a porta. — Deborah, que bom que
você chegou. Essa é a noiva de Daniel da qual lhe falei.

— E você, quem é? — indagou a linda loira de olhos verdes e roupa grifada que acabara de
chegar.

— Alguém sem importância e que nem vale a pena saber quem é, minha querida. — Me
sentindo perdida e constrangida, saí pela porta, que ela logo fechou nas minhas costas.

Fui embora muito abalada, nem tive forças para responder suas ameaças. Descobrir as coisas
que ela me falou sobre Daniel me tiraram o chão. Nem parecia ser a mesma pessoa com quem estive
na noite em que concebi meu filho. O pior de tudo foi descobrir que ele era noivo e iria se casar em
breve. Isso pelo menos eu sabia que não era mentira de Vanessa, ou a loira teria desmentido ela
assim que chegou.

Meu Deus, o que foi que eu fiz da minha vida?


— Você vai nascer, bebê, nem que seja para sermos nós dois contra o mundo. Eu vou proteger

você dessa gente horrível, custe o que custar. Eu te prometo! — sussurrei, enquanto deixava o

luxuoso condomínio, um lugar para onde eu não pretendia voltar nunca mais.

Eu já amava o meu filho com todas as minhas forças e após aquela conversa percebi que ele

estava em perigo. Por tudo o que Vanessa me disse, eu sabia que ele não seria bem-vindo naquela
família. Entretanto, eu lutaria por ele até o fim. Daria a minha vida, o meu sangue para protegê-lo.
Mesmo que eu ainda pensasse no pai dele e sonhasse com sua volta.
Daniel

— Como é que é? Será que eu ouvi direito? — Lucas, meu amigo do MBA, falou do outro lado
da linha com voz surpresa. — O cara mais pegador que eu conheço está recusando convite para uma

festa que vai estar cheia de gatinhas.

Pensei por alguns instantes se eu deveria contar a ele, mas eu precisava falar com alguém a
respeito e acabei soltando a língua.

— Foi mal, cara. É que eu fiquei com uma garota no Brasil e ela é... Diferente. — No momento
não consegui achar um adjetivo que se encaixasse melhor nela.

Desde que voltei do Brasil, passei todos os meus dias com a lembrança daquela noite e da
garota incrível que tive em meus braços. Tinha noites que mal conseguia dormir, perdido em
pensamentos.

— E quem é ela? — perguntou curioso. — Não vai me dizer que se curvou diante da vontade
da família e ficou com a noiva prometida.

Levantei-me do sofá e caminhei até a sacada do apartamento de luxo da minha família, onde eu

morava na Suíça. Eu achava um exagero para uma pessoa sozinha morar naquele lugar, mas meu pai
tinha negócios por aqui e de vez em quando vinha para cá, então acabei cedendo. Não havia sentido
gastar comprando ou alugando outro imóvel se tínhamos esse à disposição. O céu estava nublado e
bem escuro, não se via uma estrela sequer.

— Está maluco, cara? Não sei de onde nossos pais tiraram essa ideia maluca. — Na verdade,
eu sabia sim. Após se embriagarem em uma festa, eles resolveram selar esse compromisso ridículo
entre as duas famílias quatrocentonas. — A garota é uma criança. Eu a vi nascer e crescer. Meu pai já
até me liberou desse compromisso arcaico, mas a garota parece ter levado a sério e não larga do meu
pé. Acho que só ela e Vanessa ainda acreditam na concretização desse casamento.

— Então, me fala logo sobre essa garota misteriosa. Quem é ela, afinal? — perguntou curioso,
como eu havia previsto que ficaria.

Nervoso, passei a mão pelo cabelo. Como explicar quem era ela, se eu não sabia quase nada a
seu respeito.

— O pior é que eu não sei quase nada sobre ela, Lucas. A não ser que se chama Isis, tem 22
anos, estuda arquitetura, gosta de girassóis, é linda e gostosa para caralho. — Sorri com a lembrança.

— Eu a conheci uma noite antes de vir embora para cá, fiquei enfeitiçado e não sosseguei até possui-
la. Claro que antes disso expliquei minha situação a ela, dando-lhe o direito de escolha. E para
minha surpresa e extrema felicidade, ela topou.

Fechei os olhos já pensando em uma maneira de encontrá-la quando voltasse ao Brasil. Eu


teria que bater ponto naquela boate todos os dias, já que não sabia onde ela morava e nem havia
pegado o número do seu telefone.

— Você está fodido, cara. Imagina só, Daniel Leblanc apaixonado por uma desconhecida. —

Gargalhou do outro lado da linha. — Mas espera aí, vinte e dois anos não é a mesma idade da sua
irmã e da noiva prometida? Você não acabou de dizer que ela é uma criança? Isso não torna a tal Isis
uma também?

— Acontece que Deborah eu vi nascer, já Isis, eu conheci prontinha, meu camarada. E como
estava pronta... A mulher é uma loucura, um verdadeiro furacão. Só de pensar e lembrar, já sinto
vontade de me aliviar.

Na verdade, eu estava muito nervoso e inseguro com essa situação, mas tentei transparecer
confiança ou eu teria que aguentar meu amigo me dando febre por um bom tempo. Tudo aquilo para
mim era muito novo, pois nunca havia me interessado por alguém como por ela. Ainda mais tendo
ficado juntos apenas uma noite. Era para ter sido só uma transa casual, mas algo dentro de mim se

negava a esquecer Isis e seus encantos.

— Vanessa também cursa arquitetura, certo? Quem sabe elas não se conhecem? Por que não

liga para a sua irmã e pergunta? — sugeriu animado. — Se a resposta for positiva, você pode
conseguir o telefone dela e ligar. Quem sabe ela não te espera voltar?

Sorri animado. Como eu não havia pensado nisso antes? Podia ser essa a solução do meu

problema. Mas meu sorriso sumiu quando me lembrei da amizade entre Vanessa e Deborah. Se eu
fizesse aquilo, ela me leria um sermão e ainda contaria tudo para a amiga, que não me daria paz.
Melhor esquecer essa ideia e deixar para lá.

— E aguentar Vanessa e Deborah me enchendo o saco? Elas transformariam minha vida num
inferno. Melhor esquecer isso. — Anuí, desanimado. — Além do que, eu acho que se elas se
conhecessem Isis teria comentado comigo, pois sabia muito bem quem eu era. Se não falou nada para
mim, com certeza, não existe essa chance.

Caminhei até meu quarto e me sentei na cama, de frente para o meu guarda-roupa aberto. Eu

estava escolhendo uma roupa para ir a tal festa quando desisti e resolvi ligar para Lucas
desmarcando.

— Acho que não custa nada perguntar, mas você é quem sabe — falou com a voz abafada. —
Tem certeza de que não quer vir comigo para a festa? Quem sabe você não conhece uma nova gatinha
e esquece a desconhecida gostosa?

— Pô cara, olha o respeito. E eu já disse que não vou.

— Daniel, você está mais fodido do que eu imaginava, meu camarada. — Gargalhou.
Não contive o sorriso ao constatar o quanto meu amigo estava certo ao dizer isso. Não sei que

porra era aquela que estava acontecendo comigo. Por mais que eu pensasse, não conseguia entender o

motivo de não conseguir tirar Isis da minha cabeça. Transas casuais eram comuns na minha vida. Era
para ter sido uma noite apenas e depois cada um seguia com a sua vida e fim. Tudo aquilo ainda era

muito novo para mim. Eu precisava de tempo para entender melhor.

— Seria em vão te pedir para esquecer essa nossa conversa, não é mesmo? — sussurrei já me
arrependendo de ter contado tudo a ele, que estava rindo da minha situação.

— Enquanto eu viver será difícil de esquecer que te vi de quatro por uma garota que mal sabe
quem é. — Riu mais uma vez. — Talvez depois disso.

— Filho da puta!

Ele encerrou a ligação sem se despedir direito e gargalhando ainda mais alto.
Isis

Saí da casa dos pais de Daniel arrasada e fui direto para a minha. Chegando lá, me tranquei em
meu quarto. Eu vinha evitando ficar as sós com os meus pais, dona Leonor e seu Joaquim, para evitar

perguntas. Eu sabia que eles já haviam percebido que havia algo de errado comigo. Até aquele
momento, eu não queria ter que contar a eles que estava grávida de um cara que eu mal conhecia. Que
meu filho com ele era fruto de uma noite de sexo casual. Seria informação e decepção demais para
eles.

No fundo, eu tinha os meus motivos para estar me sentindo daquela maneira com relação a
eles, que sempre confiaram muito em mim e eu havia traído sua confiança. Mal entrei na cozinha para
o jantar e logo veio a pergunta que eu estava evitando tanto.

— Aconteceu alguma coisa, Isis? — indagou minha mãe com o semblante preocupado.

— Nós estamos preocupados com você, minha filha. Não aguentamos mais vê-la triste assim.
— Meu pai soou desesperado. — Gostaríamos que se abrisse com a gente. Diga-nos o que está
acontecendo. O que podemos fazer para que volte a sorrir?

Lágrimas brotaram dos meus olhos e, sem me conter, comecei a chorar. Elas rolavam pelo meu
rosto, sem controle. Os dois se aproximaram, me puxaram para um abraço e eu desmoronei. Chorei
como nunca havia chorado em toda a minha vida. Enquanto acariciavam minhas costas, os dois
sussurravam para que eu me acalmasse, pois tudo ficaria bem.

Eles me levaram até uma das cadeiras em volta da mesa e eu me sentei. Peguei o copo d’água
que minha mãe me trouxe e enxuguei as lágrimas que nublavam meus olhos. Os dois se sentaram ao
meu lado e aguardaram com muita paciência que eu me acalmasse e começasse a falar.

— Eu estou grávida. — Omiti quem era o pai por medo de ser julgada por eles.
— Ah, meu Deus! Você não havia nos contado que estava namorando, filha. — Minha mãe

levou as mãos a boca e não sabia se ria ou chorava. — Por que essa tristeza toda? Um filho é motivo

para muita alegria. Eu e seu pai seremos avós. Se é porque vocês não são casados, não tem
problema. Vocês se casam agora e tudo fica resolvido.

— Na verdade não é tão simples assim, mãe. Eu mal conheço o pai do meu filho. O que
tivemos foi um caso de uma noite só. Ele foi embora do país e eu acabei de chegar da casa dos pais
dele depois de descobrir que ele não é bem como eu imaginava. Daniel é noivo. Vai se casar assim
que voltar ao Brasil e pelo jeito a família não vai fazer muita questão de que ele assuma o bebê. E a

irmã dele ainda me ameaçou tomar meu filho caso eu insista em tê-lo e contar a ele. O pior é que eles
são ricos, poderosos e não duvido nada que consigam isso.

— Filhos da puta! — bradou meu pai. — O que eles pensam que são?

— E o que você vai fazer, filha? Vai esconder dele? — Preocupada, minha mãe segurou o
rosto entre as mãos. — Por pior que ele seja, você não pode fazer isso. Ele é o pai, tem o direito de
saber.

— Mas se eu contar, eles vão tomar o bebê de mim. — Me levantei atônita. — Eu já amo meu

filho, não quero perdê-lo — desabafei, colocando para fora o que tanto me atormentava.

— Isis, você está muito frágil e confusa, filha. Procure manter a calma para pensarmos melhor
no assunto e podermos lidar melhor com isso — aconselhou meu pai.

— Tem outra coisa que eu ainda não contei a vocês. — Encarei os dois, atenta. — Assim que
fiz um teste de farmácia e descobri que estava grávida, eu procurei pela doutora Aline e após a
confirmação, foi feito um ultrassom e eu vi meu bebê na telinha. — Minha mãe levou as mãos a boca,
emocionada. — Ele é muito pequenino ainda, do tamanho de um grão de feijão. Mas eu o vi, ele está
crescendo dentro de mim e já foi criada uma conexão muito forte entre nós. — Sorri com a lembrança
doce do momento. — Eu quero muito esse filho e irei tê-lo sozinha. Não contarei nada a Daniel para

não correr o risco de o tirarem de mim. Vocês dois tem todo o direito de estarem decepcionados

comigo, de se envergonharem de mim e até me colocarem para fora de casa, mas não abrirei mão de
ser mãe.

— Se é assim que você quer, é como será. A culpa não é sua filha. — Meu pai segurou minhas
mãos. — Às vezes cometemos erros e deslizes nas nossas vidas. É claro que não faremos nada disso.
Somos uma família! Eu e sua mãe a apoiaremos sempre. O bebê virá ao mundo e nos fará muito
felizes. Seremos nós quatro contra o mundo.

Aquelas palavras me encheram de garra, força e determinação. Meu filho iria nascer, eu teria
apoio incondicional dos meus pais e seríamos todos muito felizes juntos. No fundo, descobri que eu
não esperava nada diferente vindo deles. Os dois voltaram a me abraçar e eu me senti em casa.
Isis

Eu me sentia mais feliz a cada avanço da minha gravidez, porém algo dentro de mim gritava
que eu estava sendo covarde, que eu deveria insistir e contar tudo a Daniel. E, talvez, eu até estivesse

sendo mesmo. Eu tentava me convencer de que havia feito a coisa certa, entretanto uma parte de mim
me condenava por não tentar achar uma outra maneira de entrar em contato com ele, contar sobre a
gravidez e lhe dar a chance de se explicar sobre tudo o que eu havia descoberto através da Vanessa.

Todos os dias, desde que resolvi ser mãe solo, sentia essa sensação estranha me dominar. Eu

tentava superar, mas sempre ficava a dúvida sobre realmente ter feito a coisa certa. Não sabia
explicar muito bem o porquê, mas me sentia como se tivesse perdido algo muito bom em minha vida.
E talvez tivesse realmente perdido, pois meu coração nunca mais seria o mesmo depois de Daniel
Leblanc.

Sei que parece ridículo dizer isso de um homem com quem estive apenas uma noite, mas o que
ocorreu havia sido muito especial para mim. Diferente de todas as outras vezes. Nossa química e
conexão foram instantâneas e inegáveis. Eu não sabia explicar o motivo. Parecia ter sido um encontro
de almas.

Entretanto, eu sempre espantava esses pensamentos e sentimentos contraditórios para longe.


Havia feito aquilo pelo meu filho e não havia chance de repensar minhas decisões e correr o risco de
perdê-lo. Por instinto, levei as mãos a minha barriga, sentindo a esperança me dominar. Meu filho
estava a caminho e seríamos muito felizes juntos.

Eu não via hora de descobrir o sexo do meu bebê. Isso ainda ia demorar um pouquinho, porém
eu sentia que seria uma emoção indescritível. Meu mundo se tornaria um pedacinho do céu e a
alegria tomaria conta de mim. Acho que a partir desse momento as coisas se tornariam ainda mais
reais. O bebê que eu carregava em meu ventre passaria a ter um nome e eu começaria a montar seu
enxoval, quartinho e tudo mais que ele tinha direito baseado no seu sexo. Coisas de mãe! Ou pelo
menos eu achava que devia ser.

Nem todos os dias eram flores. Às vezes deitada em meu quarto, acariciando minha barriga,
me pegava desejando que tudo tivesse sido diferente e lágrimas intensas rolavam pela minha face.

Era nesses momentos que aquela sensação de estar sendo covarde me dominava com mais força,
entretanto, eu me convencia que havia feito a coisa certa e tudo o que estava ao meu alcance. Aquele
bebê era minha vida, o meu coração e era por ele que eu seguia vivendo e respirando. Só que ele
também era um pedaço de Daniel que habitava dentro de mim. A prova de algo muito especial que

havíamos compartilhado por uma noite apenas e que, por mais que eu me esforçasse, não conseguia
esquecer.

Pensar naquilo sempre enchia meus olhos de lágrimas e trazia muitas dúvidas ao meu coração.
Às vezes eu me pegava imaginando como seria sua reação ao descobrir o sexo do bebê, e se estaria
ansioso para isso como eu. Se tudo tivesse acontecido de forma diferente, como seria nossa vida
juntos? Eu jamais saberia, pois havia optado por proteger meu filho e não deixar que o tirassem de
mim. As palavras de Vanessa naquela tarde fatídica ainda eram bem vívidas na minha memória e me
causavam pânico.

E assim, dividida entre dúvidas e certezas, eu completei meu primeiro trimestre de gravidez,
minhas primeiras doze semanas. Tenho que confessar que tinha certa dificuldade em entender e fazer
os cálculos por semanas como os médicos faziam. Acabei descobrindo pela doutora Aline que isso
era mais comum do que eu imaginava, que a maioria das futuras mamães também tinham o mesmo
problema, em especial as de primeira viagem.

Durante todo esse tempo tomei todos os cuidados específicos que me foram orientandos pela
minha obstetra. Fui em todas as consultas do meu pré-natal, fiz todos os exames que me foram
pedidos e me alimentei bem, seguindo a dieta equilibrada que me foi sugerida. Comi bastante
legumes, verduras, frutas, laticínios e grãos e evitei refrigerantes, frituras e gorduras. Tomei as

vacinas do tétano, difteria e hepatite B que estavam em falta na minha carteira de vacinação. E por

fim, tomei ácido fólico para prevenção de defeitos abertos do tubo neural.

Realizei uma ultrassonografia no meio desse período, o aparelho utilizado foi o transvaginal,

segundo a minha médica o mais comum nessa etapa. Ele foi realizado entre a sétima e oitava semanas
da minha gestação. O transdutor, pelo menos esse foi nome que ela deu aquela parte do aparelho, foi
introduzido na minha vagina e permitiu que ela visualizasse os órgãos dentro da cavidade pélvica.

O exame nos permitiu descobrir o tempo certo da minha gestação. O que não foi nenhuma
surpresa para mim, eu sabia exatamente quando e de quem eu havia engravidado e não tinha dúvida
nenhuma disso. Doutora Elaine me explicou que nem sempre a data da concepção coincide com a da
ovulação estimada, que eu sabia quando havia engravidado, mas que para aquelas mulheres que estão
tentando engravidar e tem uma vida sexual bem mais ativa na tentativa de conseguir, essa constatação
dá a certeza a elas de quando engravidaram dentro do período de tantas tentativas.

A médica também avaliou minha placenta e me tranquilizou, dizendo que ela estava normal
para a continuidade da minha gravidez, que o embrião estava devidamente alojado dentro do meu

útero e eu ouvi pela primeira vez os batimentos cardíacos do meu bebê. A emoção foi indescritível.
Foi impossível não imaginar como Daniel teria reagido a isso. Feliz, comemorei o fato dela
descartar a possibilidade de um aborto espontâneo até o momento. Emocionada, vi meu filho se
movimentar dentro de mim, mesmo sem conseguir senti-lo.

E no final daquelas doze semanas, na última consulta antes de entrar no segundo trimestre,
aprendi também que com o final do primeiro, era comum findarem alguns sintomas característicos
como os enjoos matinais, cansaço, sonolência, aumento do volume dos seios, cólicas abdominais
discretas e aumento da sede. Mas que isso poderia variar para cada gestante em específico.
Descobri que meu bebê agora tinha o tamanho de um amendoim. E eu que achava que quando

descobri minha gravidez, ele tinha o tamanho de um grão de feijão. Ou eu, tomada pela emoção, não

havia enxergado o local certo do ultrassom que a doutora me mostrou no primeiro exame, ou já era
uma mãe coruja, daquelas que acham os seus filhos os mais bonitos, altos, inteligentes e tudo mais

que os outros.

Ela me contou também que a cabeça do meu filho agora estava mais ereta e seu pescoço mais
desenvolvido. Que seus braços e pernas agora eram mais longos, que ele ou ela já podia dobrar os
cotovelos e joelhos, que seus dentes e unhas também haviam se desenvolvido e que as chances de um

aborto espontâneo agora eram quase inexistentes. Comemorei exultante.

E quando contei a médica sobre minhas alterações de humor e emoções a flor da pele descobri
que elas eram comuns, principalmente naquela fase da gestação, quando a mãe costumava se sentir
mais fragilizada e ter vontade de chorar à toa. Daí entendi o que vinha se passando comigo no plano
emocional nos últimos tempos. O porquê de tantas dúvidas, certezas e inseguranças.

E esse foi o meu primeiro trimestre de gravidez, cheio de altos e baixos, porém com
muita saúde e disposição para continuar minha caminhada e receber meu bebê nesse mundo, com

todo amor e carinho que eu sonhava em dar para ele.


Isis

Uma semana havia se passado desde minha última visita ao médico. Continuava me sentindo
muito bem e seguia minha vida normalmente, tentando sempre ser forte. Como estava no último ano

da faculdade, resolvi não a trancar. Iria me formar com todas as honras e depois decidiria o que
fazer. Com certeza seria difícil arrumar um emprego estando grávida ou tendo acabado de ganhar um
bebê. Entretanto, depois de passada essa fase, eu já teria meu diploma em mãos para procurar por
uma colocação no mercado de trabalho. Isso facilitaria muito as coisas para mim.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei assim que abri a porta do banheiro da faculdade
e dei de cara com Vanessa me olhando feio, na tentativa de me colocar medo.

— Vim falar com você. O que mais seria? — respondeu, com afronta.

Fiquei furiosa com a audácia dela em querer me confrontar. Desde a nossa conversa na sala de
sua casa, quando revelei a ela a minha gravidez, que eu vinha evitando ficar sozinha em sua presença.
Sua negatividade era pesada e me deixava mal. E lembrar-me das coisas que ela havia me dito e
como havia me tratado, não era nada bom para o meu filho.

Observando-me com desdém, ela ficou em silêncio por alguns segundos, me deixando
incomodada, e, então, voltou a falar. Seu olhar era de superioridade, como se estivesse acima de tudo
e de todos.

— Não estou acreditando que você está levando isso adiante. — Apontou para a minha
barriga.

— Isso. — Alisei minha barriga com carinho. — É o seu sobrinho ou sobrinha.

— Deus me livre! Eu jamais vou reconhecer esse ser como tal. — Mais uma vez fiquei de
queixo caído com a sua indiferença.
— Você já me disse isso na sua casa. — Ela emudeceu. — Por que não me diz logo o que quer

e poupa o meu tempo e o seu?

Vanessa olhava para a minha barriga e como que por instinto levei minhas mãos a ela e a

acariciei, como se isso pudesse proteger meu filho das maldades daquela mulher.

— Por que aceitou o posto de oradora da turma na formatura? Você não está pensando em
participar das comemorações, ou está? — Vi nos olhos dela o desprezo por mim e pelo meu bebê.

— Não só estou pensando, como vou participar. Aceitei o convite porque é o que toda a turma
de Arquitetura quer, menos você e suas três amiguinhas. — Enfrentei-a, mesmo que com medo do que
ela poderia fazer a mim e ao meu filho, sozinhos ali naquele banheiro. — Não pretendo participar de
tudo, porque estou poupando recursos para o enxoval e nascimento do meu filho. Mas da colação de
grau, sim.

— Você está maluca, pobrinha? E se, até lá, Daniel já estiver de volta e for na minha
formatura? Com certeza ele vai querer estar presente. Somos unidos e da mesma família — bradou
descontrolada. Senti uma fisgada em meu ventre, talvez fosse a reação do meu bebê ao reconhecer o

nome do pai. — Está querendo perder essa coisa que está na sua barriga? Porque é o que vai
acontecer se ele souber que está esperando um filho dele. Ele está noivo, vai se casar e Deborah não
pode ter filhos...

— Não precisa repetir essa história. — Cortei-a de imediato. Eu já estava ficando sem
paciência. — Se é essa a sua preocupação, saiba que não vou contar a Daniel que o filho que estou
esperando é dele.

— Meu irmão não é bobo, muito pelo contrário. E se ele desconfiar que isso daí é dele? —
Fiquei chocada com a frieza com que ela se referia ao meu filho.
— Fique tranquila, eu vou negar até o fim.

— Mesmo assim é arriscado. Se ele desconfiar, vou fazer de tudo para convencer a ele e aos
meus pais de tirarem essa criança de você. Claro que depois de fazer o exame de DNA, ainda não
estou convencida de que possa ser do meu irmão e temos que evitar o golpe da barriga. Mas se for

dele, dê adeus a esse bebê bastardo.

— Isso é uma ameaça velada? — Enfrentei-a mais uma vez. — Você sabe muito bem que é
dele, ou não estaria tão preocupada comigo. O que será que Daniel acharia se soubesse que você

ameaçou a vida do filho dele por duas vezes?

— Não seja ridícula. Ele não sabe e nunca saberá da existência desse pirralho. Eu jamais
permitirei a entrada dessa criança na minha família. Esse bebê jamais será um Leblanc.

— Você, às vezes, é muito contraditória, Vanessa. Pensei ter ouvido você dizer que se
descobrisse da minha gravidez, seu irmão iria querer criar meu filho junto com a sua cunhada que não
pode ter filhos. — Fui direto ao ponto, mesmo sentindo o medo de perder meu filho para aquela
família horrorosa reverberar pelo meu corpo.

— O que eu quis dizer é que vou convencê-lo a fazer isso para te ver sofrer as consequências
de querer dar o golpe da barriga — argumentou, sem a habitual certeza e confiança na voz.

— Quer saber? A minha vida e gravidez não te dizem respeito. Eu resolvi ter esse bebê,
contando com o apoio dos meus pais. Ele será só meu e de mais ninguém. Não pretendo contar a
verdade a Daniel. Primeiro porque ele mentiu para mim, eu não sabia que era noivo, pois se
soubesse jamais teria me envolvido com ele, e segundo, porque depois de tudo o que me contou
sobre ele, descobri que não é a pessoa digna que eu achei que fosse. — Caminhei até a porta
decidida. — Você devia ficar feliz que seu so-bri-nho vai estar presente na SUA formatura e que a
mãe dele vai ser oradora com todo o reconhecimento e pompa merece, enquanto você vai só assistir
e ter de aplaudir. — Provoquei, dei as costas e saí.

Mesmo saindo por cima, me senti abalada com suas ameaças. Mas eu lutaria até o fim pelo
meu filho. Se preciso fosse, daria minha própria vida por ele. E nada me faria mudar de ideia a
respeito.
Isis

Apesar de tudo, minha gestação estava ocorrendo de forma tranquila. No dia do meu retorno às
consultas do meu pré-natal, no final do primeiro mês do segundo trimestre, correspondente à décima

sexta semana, aprendi mais um pouquinho sobre o processo de desenvolvimento do meu bebê.

Doutora Aline me contou que naquela fase da gravidez ele ou ela, ainda não sabíamos o sexo,
iria se desenvolver muito rápido. Que os olhinhos já se moviam na posição adequada, que seus
punhos e tornozelos já estavam formados e que o corpinho estava começando a se tornar

proporcional a cabecinha, que, até então, era bem maior. As bochechas se tornaram mais
proeminentes, o pescoço mais longo e as orelhas entraram em posição. O bebê também começava a
responder a estímulos externos e seu corpo ganhou pelos, cabelos, sobrancelhas e ossos rígidos.

Quanto a mim, que já estava com a barriga um pouco mais visível, passaria a ter a sensação de
que meu útero tinha virado uma bola suave. Que eu já devia começar a pensar em usar e comprar
roupas apropriadas para gestante, pois a minhas poderiam causar desconforto ao bebê. A tendência é
que os sintomas do primeiro trimestre desaparecessem e, se ainda não havia sentido o bebê, deveria
ficar atenta, pois, com certeza, ele começaria a se mover dentro de mim. Entretanto, poderia começar

a sentir novos sintomas desagradáveis, como queimação no estômago e dores nas costas.

Saí de lá muito feliz e satisfeita com o que ouvi, mas, principalmente, animada e ansiosa para a
próxima consulta que aconteceria não dali a um mês como de costume, mas sim a duas semanas, que
seria a décima oitava e então seria realizado o ultrassom que revelaria o sexo do bebê.
Enfim chegou o grande dia. No dia anterior, minha mãe havia comprado um arranjo com onze

girassóis, cujo significado é sorte para quem os tem, e colocou em um vaso para enfeitar meu quarto.

Ela sabia que eram as flores que eu mais gostava devido aos seus inúmeros significados, todos bons
e positivos. Entretanto, foi impossível não me lembrar de Daniel e os girassóis que ele devia ter

ganhado da noiva e acabou me dando de presente. Quanta ironia do destino!

Ela me entregou também algumas sementes daquela planta e me ensinou uma simpatia húngara
que ela havia aprendido na televisão. Segundo as tradições do país, se forem colocadas algumas
sementes de girassol na janela da casa de uma mulher grávida, a criança que nascer será um menino.

Ela sabia que o importante para mim era vir com saúde, porém não era boba e já havia percebido a
minha predileção por um menino. Só não tinha ideia que eu desejava que ele fosse parecido com o
pai, assim eu teria uma miniatura de Daniel para mim.

Eu havia acabado de tomar banho e estava me aprontando para ir ao médico quando senti o
primeiro chute do meu bebê. Quase não acreditei naquele momento. Arregalei os olhos, pousei as
mãos sobre a minha barriga e senti de novo. Comecei a rir sozinha e uma lágrima de emoção rolou
pela minha face.

— Oi, bebê. Aqui é a mamãe. Mexe de novo para eu saber se você está me ouvindo —
murmurei com carinho e ele me respondeu com um movimento brusco.

Toda feliz, fui terminar de me arrumar. Agora eu estava ainda mais curiosa para saber se o
bebê de chute potente era menino ou menina.

— E aí, já está pronta? — Carol, entrou em meu quarto toda animada. Ela vinha me
acompanhando em todas as consultas e não perderia aquela por nada.

— Pronta, animada, curiosa e ansiosa — Gargalhamos e fomos nos encontrar com minha mãe
na sala. Dessa vez a vovó também fez questão de ir. Queria estar ao meu lado naquele momento tão
especial.

No caminho para o consultório contei sobre o bebê ter se mexido e elas ficaram superanimadas
e felizes com a notícia. Já na sala de espera, me recostei na poltrona confortável e passei a mão pela
minha barriga tentando senti-lo se mexer de novo. Passei os olhos em volta, observando todas

aquelas mulheres grávidas e comecei a divagar como a minha vida havia mudado tanto naqueles
quatro meses e meio.

Vanessa não havia me abordado ou importunado mais. Também pudera, depois que contei a

Carol o que havia acontecido no banheiro, ela nunca mais me deixou um minuto sequer sozinha na
faculdade. Ela tinha reparado no estado que eu havia ficado e ficou muito preocupada com o bebê e
minha gravidez. E a minha “cunhada” era bastante covarde ao ponto de evitar um confronto com
minha amiga bem mais alta que ela e maluca de pedra.

Ela ainda tinha a audácia de dar gargalhadas com suas amigas, olhando em minha direção ou
ficar de cochicho com elas quando eu passava. Mas isso não me incomodava mais. Elas não eram as
únicas. Desde que engravidei e não me casei ou contei quem era o pai do meu filho, que me tornei
alvo de algumas fofocas pelos corredores. Entretanto, com o passar do tempo, tudo se normalizou

com os demais e até recebi o apoio da maioria, que votaram em mim para ser a oradora da turma,
que só aceitei para provocá-la. Mas ela e sua trupe, com certeza, não parariam nunca.

Foi impossível naquele momento não pensar também em Daniel e na noite maravilhosa que
tivemos. Não tinha como ver a gravidez evoluir, meu bebê se desenvolver, minha barriga crescer e
não pensar nele. Afinal, ele era o pai do meu filho. Devido aos hormônios da gravidez e a falta de
sexo, eu às vezes tinha sonhos quentes com ele e acordava excitada. Muitas vezes não resistia e me
tocava até gozar.

Ouvi a voz da doutora Aline me chamar e saí dos meus devaneios. Levantei-me com um pouco
de dificuldade, pegando minha bolsa, e caminhei até sua sala, seguida de perto por Carol e minha
mãe. Elas entraram junto comigo na sala do exame.

Dessa vez seria feito a ultrassonografia morfológica e através dela conseguiríamos ver com
maior precisão se havia alguma má formação fetal, avaliar a estrutura dele, que nessa fase já possuía

os órgãos e estruturas internas bem formadas, analisar as condições da placenta e líquido amniótico,
a abertura do colo do meu útero para ver se haveria necessidade de uma cesariana, o comprimento
do colo uterino, para prever o risco de um parto prematuro e, o principal, descobrir o sexo de bebê.

Minha médica espalhou o gel gelado em minha barriga e então iniciou o exame. Nós três
ficamos olhando para a tela feito bobas.

— É um bebê bem grande. — Minha médica ponderou. — Se continuar crescendo assim,


talvez tenhamos que fazer uma cesariana. Ele é forte e saudável. Querem ouvir o coraçãozinho?

— Simmm — eu, minha mãe e Carol respondemos animadas em uníssono e nos emocionamos
muito ao ouvi-lo.

— Dá para ver o sexo, doutora? — perguntei, não me aguentando de tanta ansiedade.

— Sim.

— É menino ou menina? — murmurei ansiosa, sentindo o meu coração disparar.

— Você tem alguma preferência?

— Não. — Balancei a cabeça. — Vindo com saúde é o que importa.

— Parabéns, Isis! Você será mãe de um grande, lindo, forte e saudável menino.

Levei as mãos a boca com os olhos cheios de lágrimas. Um menino! Agora só faltava se
parecer com Daniel, para que eu tivesse um pedaço, uma miniatura dele sempre comigo. Ele iria
crescer e seríamos muito felizes. Lembrei-me das palavras do meu pai: “nós quatro contra o mundo”.

Eu colocaria cinco, acrescentando Carol, minha melhor amiga de hoje e sempre. E assim seria.

— Eu falei que a simpatia daria certo. — Minha mãe se gabou do seu feito.

Emocionada, olhei para as duas ao meu lado e sorri, recebendo lindos sorrisos de volta. Mais
uma vez, pensei em Daniel. Será que ele estaria feliz com a vinda de um menino, ou iria preferir uma
menininha? Qual seria sua reação caso estivesse ao meu lado? Balancei a cabeça tentando afastar os
pensamentos, do que adiantava saber qual o sexo ele preferiria para o nosso bebê, se ele não estava

comigo, nunca saberia da minha gravidez e em breve se casaria com outra?

— Preciso escolher um nome bem bonito e especial para você — murmurei, acariciando minha
barriga.
Isis

Retornei ao consultório da doutora Aline um mês e meio depois do exame de ultrassom que
revelara o sexo do meu filho. Agora ele já tinha um nome, Ravi, cujo significado é “o Sol”, aquele

que reflete luz, conhecimento e poder. Meus pais e Carol também sugeriram muitos nomes, mas assim
que descobri o significado daquele o escolhi de imediato. Achei que tinha tudo a ver com meu filho.
Exatamente como eu queria que ele fosse e a mensagem que ele deveria passar. Só coisas boas,
exatamente como os girassóis.

Naquela consulta, como não podia deixar de ser, aprendi um pouco mais sobre o meu bebê.
Fiquei sabendo que ele havia dobrado de peso e que a gordura que se formou iria ajudá-lo na
produção de calor e no próprio metabolismo. Os sistemas circulatório e urinário já estavam
funcionando e os pulmões começavam a exalar o líquido amniótico. Os cabelos, sobrancelhas e
cílios estavam maiores e Ravi já se movimentava mais e até fazia expressões faciais. Fiquei
imaginando o seu rostinho lindo. Seu paladar estava mais desenvolvido e ele já conseguia identificar
sons, inclusive a minha voz.

A taxa de crescimento dele já havia diminuído e, apesar disso, seus órgãos ainda estavam

amadurecendo. Suas glândulas sebáceas produziam uma espécie de cera de nome esquisito, uma tal
de vernix caseosa, para manter a pele dele flexível no líquido amniótico. Seus músculos ficavam
mais fortes a cada semana e seu pequeno e delicado corpinho já produzia células sanguíneas, para
auxiliarem na luta contra infecções.

Quanto a mim, eu estava na vigésima quinta semana de gestação e já havia passado da metade
dela, que correspondia a vigésima semana. Minha cintura havia desaparecido e meu útero estava no
nível do meu umbigo. Acabei contraindo uma infecção urinária, o que segundo a doutora Aline era
algo normal de acontecer nessa fase, visto que os músculos do trato urinário costumam relaxar.
Doutora Aline me pediu testes de diabetes gestacionais e me alertou que eu poderia passar por novos

sintomas desagradáveis da gravidez, as famosas hemorroidas, que, graças a Deus, ainda não haviam

dado as caras.

No final da trigésima semana, retornei pela última vez, antes da minha formatura, ao
consultório da minha ginecologista e obstetra. Se eu soubesse o quanto estaria me sentindo

sobrecarregada física e emocionalmente, além da dificuldade de respirar e me locomover por conta


da barriga enorme, eu não teria insistido em participar da colação de grau e, muito menos, teria
aceitado o convite para ser oradora da turma, mesmo que isso significasse uma vitória minha sobre a
prepotência de Vanessa Leblanc.

Segundo a doutora Aline, a audição de Ravi já estava completamente desenvolvida e que ao


reagir aos sons, seus batimentos cardíacos se tornavam mais intensos. Fiquei emocionada ao saber
que suas ondas cerebrais já funcionavam como as de um recém-nascido. Seus pulmões ainda estavam
em desenvolvimento. Os padrões de sono já começavam a se formar e ele já podia até sonhar. Como

suas mãozinhas começaram a ficar mais ativas, ele mudaria bastante de posição no meu útero. Com
isso, eu iria senti-lo se mexer bem mais dentro de mim.

Depois que saímos do consultório. Eu e Carol fomos as compras. Além de algumas coisas para
Ravi, eu precisava também comprar meu vestido de formatura, que aconteceria em uma semana.
Deixei para a última hora porque tinha consciência de que se comprasse antes, com as mudanças que
meu corpo vinha sofrendo com a gravidez, eu correria um sério risco de não caber dentro dele na
data certa. Como eu iria participar apenas da colação, não precisava ser nada muito luxuoso e
requintado, pois ficaria a maior parte do tempo coberto pela beca.
No shopping, paramos em algumas lojas para comprar roupinhas e enfeites para o quarto de

Ravi. A decoração e enxoval estavam um pouco atrasados. Mas como éramos de poucas posses e

ainda tinha a minha formatura, tínhamos que ir fazendo tudo aos poucos ou não daríamos conta de
pagar todas as contas depois. Pensei em Daniel e nas inúmeras possibilidades e oportunidades que

ele poderia ofertar ao meu filho se estivesse comigo, ou se, pelo menos, soubesse da minha gravidez.
Porém, esse não era o caso, então mais uma vez, tratei de afastar os pensamentos e ocupar minha
cabeça com outras coisas mais reais e possíveis.

Depois fomos a procura do meu vestido, quase uma missão impossível. Eu já estava bastante

inchada, mas não me sentia feia, muito pelo contrário, quando me olhava no espelho, me achava cada
vez mais linda. Acho que por isso existe aquele ditado de que mulheres grávidas estão em estado de
graça. Sem dúvida nenhuma, ficamos muito lindas quando estamos gestantes. Entretanto estava se
tornando cada vez mais difícil encontrar roupas que me caíssem bem naquela etapa da gestação.

Quando já estava quase desistindo por não encontrar nada de que realmente gostasse e que
caísse bem em mim, me deparei com o vestido ideal na vitrine de uma loja de roupas de festas
grifadas. Ele ficou perfeito no meu corpo. Não vou negar que tentei imaginar a reação de Daniel caso
me visse vestida daquele jeito. E por falar nele, será que iria à colação de grau da irmã? Será que

nos encontraríamos lá? Como seria esse reencontro? Eu até já tinha a mentira armada e ensaiada em
minha cabeça para despistá-lo sobre a paternidade de Ravi, caso não tivesse como evitá-lo e ele me
abordasse.

O vestido escolhido e eleito por mim era nude, longo, com duas alças largas e o tecido leve e
fluido caía suavemente pelo meu corpo, seios e barriga, agora mais voluptuosos devido a gravidez.
Seu único defeito era custar os olhos da cara. Quase desisti de levá-lo, mas fui convencida por Carol
a pagá-lo dividindo em inúmeras vezes no cartão de crédito, afinal aquela formatura também fazia
parte dos meus sonhos e realizações.
De lá, fomos ao ensaio da nossa formatura. Os cerimonialistas queriam ensaiar e coreografar

nossa entrada no salão nobre da faculdade para que nada saísse errado. Uma chatice só. Como se não

soubéssemos como entrar em fila dupla, olhando para a frente e nos dividirmos no palco em dois
lados diferentes. Tivemos que repetir aquilo várias vezes. Eu já estava de saco cheio e cansada

devido os sintomas da minha gravidez. De quebra, ainda tinha que ficar aguentando os olhares
tortuosos de Vanessa, que, graças a Deus, eu não via há um bom tempo, desde o término das aulas,
mas agora tinha que voltar a suportar por conta daquela solenidade.

— Tenho uma péssima notícia para te dar, pobrinha. — Vanessa se aproximou do assento em

que eu estava sentada descansando um pouco, após o término do ensaio. — Para você, é claro.
Porque para mim e minha família é ótima, nada poderia ter dado mais certo para nós.

— O que você quer aqui? — Carol chegou junto assim que a viu se aproximando de mim. —
Se deixar minha amiga nervosa e isso fizer mal ao bebê, eu arranco seus cabelos na mão.

— Nossa! Quanta falta de classe... — retrucou Vanessa. — Mas pode guardar as facas que o
que eu vim fazer aqui vai até deixar sua amiguinha mais tranquila.

— Desembucha logo de uma vez, Vanessa. Eu não tenho tempo a perder com você. — Fui

direta, querendo tirá-la logo de perto de mim, a presença dela me fazia mal e sugava toda a minha
energia.

— Daniel não vai conseguir chegar a tempo para a colação de grau. Vai vir para o baile e
coquetel apenas. — Sorriu vitoriosa.

— E eu com isso? — Fingi indiferença.

Ouvir o nome dele ainda me abalava e confesso que eu gostaria de vê-lo pelo menos mais uma
vez, mesmo que só de longe. No fundo, Daniel Leblanc ainda mexia muito comigo.
— Nada — respondeu, como sempre, com desdém. — Só achei que você gostaria de saber que

não vai precisar se esconder, fugir, mentir, ou, até mesmo, ver meu irmão feliz de mãos dadas e, de

repente, até aos beijos e abraços com a noiva, a mulher a quem ele realmente ama e com quem vai se
casar.

— Ok, patricinha ridícula e mimada, o seu recado está dado. Agora dá linha na pipa antes que
eu resolva te tirar de perto da minha amiga, na marra. — Percebendo que eu não havia reagido muito
bem a notícia, Carol deu um jeito de afastá-la de perto de mim.

— Eu vou mesmo. O ensaio acabou e já perdi muito tempo por aqui. Tenho que me internar em
um SPA de luxo para ficar ainda mais linda que já sou para as festas de formatura. Tchauzinho! —
Acenou com os dedos, estampando um sorriso cínico nos lábios.

— Você está bem, amiga? — Carol indagou preocupada.

— Obrigada de coração por me defender. — Agradeci com sinceridade. — Não vou negar que
falar dele ainda mexe muito comigo e que, talvez, eu quisesse vê-lo uma última vez, mas no fundo ela
tem razão. É melhor que ele não me veja grávida para que eu não corra o risco de ele desconfiar e
querer tirar Ravi de mim. Melhor assim.

— Um dia, isso ainda vai passar e você vai olhar para trás e rir muito dessa história. Você vai
ver só.

— Quem sabe um dia? — Tentei passar uma confiança que eu não tinha. — Agora, mudando de
assunto... Carol, você aceita ser a madrinha de Ravi?

Ela ficou atônita, me olhando por alguns segundos sem nada dizer e sem esboçar nenhuma
reação.

— Você tem certeza disso? — indagou por fim.


— Claro que sim. Quem melhor para ser madrinha do meu filho do que minha melhor amiga?

Emocionada, ela me abraçou e permanecemos assim por um bom tempo.


Isis

Olhei-me no espelho mais uma vez e depois, me virando na direção de minha mãe, perguntei.

— Como estou?

— Você está lindíssima, minha filha. — Acenou, impressionada. — Vai ser a formanda mais
bonita da noite.

— Sabe que a senhora é suspeita em falar, não é mesmo? — Ri. — Você também está linda,

dona Leonor. Muito elegante.

— Está nervosa?

— Muito. Não sei se aceitar ser oradora da turma e falar para um auditório lotado foi uma boa
ideia. Talvez eu não tivesse aceitado se o convite fosse feito hoje.

Alisei o vestido longo, caro e elegante que havia comprado para a ocasião e que demoraria
muito para terminar de pagar. Acho até que teria que recorrer ao meu pai para conseguir, afinal meu
salário de recepcionista de consultório dentário em meio período estava em grande parte

comprometido com o enxoval de Ravi. Mas eu não podia reclamar, era graças a esse emprego que eu
teria direito a minha licença maternidade e não precisaria ser sustentada por meu pai até encontrar
um emprego na minha área. O que eu pretendia fazer assim possível.

Olhei-me mais uma vez no espelho conferindo a maquiagem e penteado que foram feitos no
salão de beleza simples do bairro onde moro. O resultado estava muito bom. Com certeza nada
comparado com o SPA em que Vanessa Leblanc iria se arrumar. Mas quem se importaria com isso?
Eu, com certeza, não.

— Bobeira, Isis! Você sempre tirou esse tipo de coisa de letra.


— Mas não grávida e com as emoções a flor da pele! — Sorri, pegando minha bolsa, e saímos

juntas do quarto para nos juntarmos ao meu pai na sala.

— Como você está linda, minha princesa! — Ele desviou os olhos da televisão para me
admirar.

— Obrigada, pai!

— Desculpe perguntar, mas você disse que a irmã do pai do seu filho irá se formar com você.
Ele vai estar lá?

— Não. Ela fez questão de me dizer isso no último ensaio.

— Mas você gostaria que ele estivesse? — indagou, arqueando uma sobrancelha.

— Não vou mentir para vocês dois. O meu coração diz que sim, entretanto a razão me mostra
que para não correr o risco dele me tirar Ravi, o melhor é que ele não vá mesmo.

— Melhor assim. — Me estendeu a mão. — Tenho um presente de formatura para você. É


simples, mas é de coração.

— Oh, pai, não precisava. — Abri a pequena caixinha de veludo e me deparei com uma
correntinha de ouro com um pingente de girassol. Me emocionei.

— É para trazer sorte, sucesso e fortuna nessa nova fase da sua vida. — Recitou pausadamente
alguns dos significados da minha flor preferida. — Deixe-me colocá-la em você. — Virei-me de
costas e ele o fez. — Agora vamos embora porque a oradora da turma não pode se atrasar.
Tudo estava correndo bem na cerimônia de colação de grau. Até mesmo Vanessa parecia ter
dado uma trégua em suas provocações constantes. Vi quando ela chegou com seus pais e a tal
Deborah, a cunhada que segundo ela iria criar meu filho caso o pai dele descobrisse a sua existência.

Todos muito lindos, chiques e elegantes. Daniel se parecia muito com o pai, já Vanessa era a cara da
mãe. Mas sem dúvida nenhuma, todos muito belos.

Fui chamada para meu discurso de oradora e assim que me posicionei no púlpito, vi Daniel

adentrar o recinto e descer as escadas em direção aos pais e... a noiva. Ele cumprimentou todos e se
sentou na cadeira ao lado de seu pai. Senti meu coração disparar, as pernas tremerem e algo dentro
de mim reacendeu, quando ele olhou em minha direção e me reconheceu.

Vanessa me olhou feio e a tensão predominou na nossa troca de olhares. Daniel me encarou
com um sorriso torto e sexy estampado nos lábios. Ele estava lindo, como eu me lembrava. Suas
bochechas coraram quando nossos olhares se encontraram mais uma vez. Senti um aperto no peito e
tive que conter uma vontade enorme de me jogar em seus braços. Ravi se mexeu dentro de mim, de
forma abrupta, como se tivesse sentido a presença do pai. Tentei disfarçar, me concentrei e fiz o meu

discurso:

“Boa noite! Gostaria de agradecer o privilégio de ser a oradora dessa turma. Em


nome dos formandos quero agradecer a presença de vocês. Hoje concluímos mais uma
etapa de nossas vidas, mais uma das tantas vitórias que estão por vir.

Ao longo desses cinco anos convivemos com muitas pessoas. Professores e


colegas vieram e se foram e deles levamos apenas as boas lembranças. Hoje é um dia
de despedidas. Talvez amanhã ainda nos falemos, mas e daqui a uma semana? Ou quem
sabe daqui a um mês, 10 anos?

A vida nos separa, mas as memórias e os bons momentos que passamos juntos nos
acompanham. E daqui a alguns anos nós iremos olhar para trás e pensar: “onde será
que está a minha turma de faculdade?”. E será neste momento que os corações irão se

apertar e as únicas coisas que teremos para nos agarrar serão nossas lembranças e a
saudade.

A faculdade foi um grande desafio, o local de nossas interações sociais, onde

começamos a ter responsabilidades, mas, acima de tudo, foi onde nos tornamos quem
somos.

Os sussurros do passado que diziam “corra atrás, estude, siga em frente, você é
capaz” tornaram-se furacões e mudaram nossas vidas. E todos esses acontecimentos
fizeram com que estivéssemos aqui hoje.

Esperamos concluir a faculdade durante tanto tempo e agora, no fim, vemos


quanta falta ela nos fará. Sentiremos saudades das risadas, das brincadeiras, do local,
do cheiro dos livros e do lanche.

Passamos muito tempo aprendendo, mas o aprendizado nunca termina, pois o


conhecimento é a única coisa que levaremos sempre conosco.

E por fim, não gostaríamos de apenas dizer um obrigado, a gratidão que sentimos
não poderia ser traduzida apenas em palavras. Nós somos gratos a todos aqueles que
passaram por nossas vidas. Pais, professores e colegas. Sem vocês nada disto seria
possível. Mas como me faltam palavras para expressar este sentimento, encerro com
um muito obrigado, por tudo.”
Nem sei dizer ao certo como consegui falar todo o meu discurso e nem tenho
ideia de como me saí. Entretanto no final, todos aplaudiram e eu voltei para o meu
lugar, peguei meu celular na bolsa e enviei uma mensagem para Carol, que já havia

percebido a presença dele e me olhava apreensiva. Pedi para que assim que terminasse
a solenidade, como conseguiria se locomover mais rápido do que eu por conta da
minha barriga enorme, se encontrasse com meus pais e os avisasse do ocorrido e que
me esperassem perto do carro. Precisávamos sair de lá o mais rápido possível, antes

que o pai do meu filho conseguisse chegar até mim. Fiz tudo isso evitando olhar para o
lugar na plateia em que Daniel estava sentado.
Daniel

Estava chegando o dia da formatura de Vanessa, ela e Deborah, ainda insistindo naquela
história de ser minha noiva, estavam no meu pé para que eu fosse. Uma das primeiras coisas que eu

teria que fazer assim que chegasse ao Brasil e tivesse uma chance, seria ter uma conversa com a
melhor amiga da minha irmã e fazê-la entender que aquele noivado não existia de fato. Que havia
sido uma conversa entre amigos muito chegados, meu pai e o dela, que, bêbados em uma festa,
haviam feito esse arranjo. Entretanto não era algo para se levar a sério como ela estava levando,

afinal os dois mesmo já haviam admitido isso e me liberado daquela obrigação. Só ela não conseguia
enxergar que aquilo era uma loucura.

As coisas na Suíça se complicaram um pouco mais e cheguei a pensar que não conseguiria ir à
colação de grau de minha irmã. Cheguei até mesmo a me desculpar com ela e dizer que não iria, mas
no fim consegui concluir meu MBA antes do tempo previsto e ir à tal formatura. Porém, para lhe fazer
uma surpresa, resolvi não revelar as mudanças de planos, nem mesmo para os meus pais. Mesmo não
concordando com algumas coisas que Vanessa fazia, em especial na forma como tratava as pessoas
de classe social abaixo da nossa, achei que ela merecia ser prestigiada. Afinal, éramos uma família e

meu pai sempre me ensinou a prezar muito por isso.

Um pouco atrasado por causa do horário de chegada do voo, entrei no anfiteatro da faculdade,
logo avistei meus pais e Deborah sentados na primeira fileira e fui até eles. Sentei-me ao lado do
meu pai, me sentindo cansado e sem forças por conta da viagem cansativa e do jet lag. Afinal a
diferença de fuso horário entre a Suíça e o Brasil eram de cinco horas e a viagem teve duração de
onze horas e trinta minutos.

Foi então que a vi, atrás do púlpito montado em cima do palco, pronta para fazer seu discurso
de oradora da turma. Pisquei algumas vezes para me certificar de que não estava imaginando coisas
e, quando meus olhos tiveram a certeza de que era mesmo Isis, meu coração disparou com a

constatação do quanto eu queria estar ao lado dela. Por mais estranho que pareça, vê-la ali tão

próxima a mim, me fez sentir completo. As emoções que eu só sentira com ela na noite que ficamos
juntos voltaram a tomar conta do meu corpo.

Senti vontade de gritar seu nome e acenar como um bobo para que me visse ali. Assim que ela
olhou em minha direção e me reconheceu, o tempo parou para mim. Éramos apenas eu e ela presos
em uma bolha de emoções. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque frouxo e
emolduravam seu rosto perfeito. Ela estava ainda mais deslumbrante do que no dia que a conheci.

Seus olhos se arregalaram surpresos ao me ver. Observei-a com mais atenção e percebi claramente
que algo havia mudado. Vi quando levou as mãos à barriga e meu estômago se revirou. Isis estava
grávida.

Não consegui pensar mais em nada. Todas as vezes em que pensava nela durante o tempo em
que estive na Suíça e idealizava o nosso reencontro, jamais imaginaria o que acabei de ver. Será que
aquele filho era meu e ela havia escondido isso de mim? Por quê? Muitas perguntas, ainda sem
respostas começaram a surgir em minha cabeça. Seu discurso passou como um borrão. Eu precisava
conversar com aquela mulher, mas para isso tive que aguardar com muita paciência até o final da

solenidade.

Tinha acabado de cumprimentar minha irmã quando a vi saindo apressada do anfiteatro. Não
pensei duas vezes e fui atrás. Chamei pelo seu nome quando estava no meio do caminho, mas ela
parecia não ter me ouvido e continuou o andando.
— Isis — gritei mais uma vez e então ela olhou em minha direção.

Senti meu coração disparar, como se minha vida dependesse daquele momento, daquela
conversa. Fui até ela e por instinto segurei na sua mão. Perdi a noção quando fitei seus olhos
brilhantes e um sorriso despontou em meus lábios. Fui tomado por várias emoções de uma única vez.

Ela estava linda, do jeito que eu me lembrava. Minha vontade era de tomá-la em meus braços e
saciar a minha saudade.

— Está tudo bem? — perguntei, nervoso.

Ela respondeu que sim com a cabeça e puxou sua mão da minha. Percebi um certo desconforto
da sua parte com relação a minha presença ali. Enfiei as mãos nos bolsos da calça para evitar tocá-la
de novo. Isis desviou o olhar do meu e deu dois passos para trás.

— Uau, você está grávida! — ela voltou a me encarar uma última vez.

— É — falou meio sem graça. — Eu engravidei do meu namorado um pouco depois que você
foi embora do Brasil.

— Namorado? — Senti meu coração se apertar e meu abdômen se contrair. — Você não me

disse que tinha um. Também não me lembro de ter dito que conhecia minha irmã.

— Acho que muita coisa deixou de ser dita naquela noite. — Sorriu com timidez e confesso
que não entendi muito bem o que quis dizer com aquilo.

— São gêmeos? — indaguei, curioso, e percebi seu olhar confuso. — É que você disse que
engravidou um tempo depois de eu ir embora e sua gravidez parece estar bem avançada.

— Não, sou eu quem está exagerando e comendo mais do que devia mesmo — respondeu sem
graça.
— Desculpa, eu não queria ser indelicado. É só que... Eu não esperava te reencontrar assim.

— Tudo bem, eu tenho consciência de que engordei mais do que devia. — Abaixou o olhar,
pensativa. — Agora se me der licença, eu preciso ir.

— Eu posso te levar para onde você for. — Insisti.

— Obrigada, mas eu estou com meus pais. Estamos de carro. — Concluiu. — Além do que, o
pai do meu filho é ciumento. Acho que ele não ia gostar de saber que um estranho me levou para casa
enquanto ele estava trabalhando.

— Você, pelo menos, vai ao baile de gala, amanhã? — Sei que estava sendo insistente, mas as
coisas que ela estava me dizendo não estavam me convencendo. Parecia que faltava algo de verídico
naquela história.

— Não. O meu orçamento está bastante comprometido com as coisas do bebê. Só participei da
colação mesmo. — Sem dizer mais nada, me deu as costas e começou a caminhar na direção de um
casal que estava encostado em um carro.

— Fique longe da minha filha, seu monstro — gritou o homem em minha direção.

Depois de dizer isso, eles entraram no carro e partiram. E eu fiquei ali, parado feito uma
estátua, cheio de dúvidas, observando e lutando contra a vontade de sair correndo atrás dela. Senti
um nó se formar em minha garganta e então obriguei minhas pernas a voltarem para junto da minha
família, que a essa altura, já estava do lado de fora do recinto me observando curiosa.
Isis

Fizemos todo o caminho de volta em silêncio. Chegando lá fui direto para o meu quarto e, pelo
menos nesse primeiro momento, meus pais pareciam entender e respeitar o meu momento, pois me

deixaram sozinha. Eu tinha muito o que agradecer por eles não serem pessoas indiscretas e nem
daquelas que para tudo tem um sermão na ponta da língua. Isso era a última coisa da qual eu
precisava naquele momento, com as emoções vividas à flor da pele.

Assim que ouvi Daniel me chamar, ciente de que, com aquele barrigão, eu não conseguiria ser

mais rápida que ele e que se tentasse poderia cair ou algo do tipo e, assim, causar problemas a minha
gravidez, resolvi parar e encarar a situação de frente.

O meu coração disparou assim que fiquei cara a cara com ele. Minhas pernas bambearam e
meu coração disparou quando ele segurou minha mão. Sentimentos contraditórios tomaram conta de
mim. Eu sentia raiva por tudo o que Vanessa havia me contado a seu respeito e por ter me escondido
que era noivo, mas eu não posso negar que sentia sua falta. Era uma saudade que doía fundo.

A tensão predominou entre nós. Trocamos poucas palavras, mas o desejo e o brilho em nossos

olhos eram evidentes. Conforme havia dito a irmã dele, interpretei a mentira que eu havia criado
caso fosse abordada, disse que estava grávida do meu namorado e que tudo havia ocorrido algum
tempo depois dele partir para a Suíça e logo tratei de ir embora, antes que fizesse alguma besteira ou
desse alguma bola fora.

Deitada em minha cama, eu não parava de pensar naquele nosso reencontro. Achei que nunca
mais fosse me vê-lo de novo. Eu não esperava que seria ali, já que Vanessa havia me garantido que
ele não iria, confesso que estava de guarda baixa e, por isso, fui pega de surpresa. Mesmo já tendo
toda a mentira arquitetada sobre a paternidade de Ravi, confesso que titubeei e me senti um pouco
insegura. Foi muito mais difícil do que eu imaginava.
Ele estava lindo, como sempre. Parecia um pouco cansado e abatido, tinha olheiras em volta

dos seus lindos olhos castanhos. E ele sorriu quando me viu e ali senti uma vontade enorme de me

jogar em seus braços, mas me contive ao sentir Ravi se mover dentro de mim. Um aperto no meu
peito me fez recuar.

Aquele era o ponto final da nossa história. Ele jamais poderia descobrir que meu bebê era
dele. O medo de que me tomasse Ravi para criá-lo com sua noiva milionária, impecável e perfeita,
assim como ele, era muito grande. Eu não poderia correr o risco de ter meu filho levado para longe
de mim, eu não suportaria isso. Eu já o amava muito, mais do que tudo nessa vida.

Tentei me distrair arrumando alguns itens que havia comprado para o enxoval do meu filho,
mas quando me lembrei de certas coisas que ele me disse, paralisei. Como ele se atrevia a me cobrar
por não ter contado para ele sobre a existência de um namorado, se ele havia me escondido a própria
noiva? Era muita cara de pau. Até tinha me presenteado com o arranjo de girassóis que ela havia
dado a ele. Apesar de ninguém ter me dito isso, eu deduzira pela forma com que ficou sem graça
quando eu notei o presente sobre o banco do seu carro.

Eu devia ter ouvido Vanessa quando me disse que seu irmão era esperto, inteligente e que,

mesmo com todo o meu esforço, poderia ficar desconfiado. E foi exatamente isso que aconteceu, ou
ele não teria me perguntado se eram gêmeos por notar que o tamanho da minha barriga era de alguém
com a gestação mais avançada. Desde quando homens prestam atenção nessas coisas? Tinha que
acontecer justo comigo. Eu começava a me arrepender de ter afrontado Vanessa e ter aceitado ser a
oradora da turma e participar da colação. Eu devia ter ficado quieta em casa, teria sido muito mais
seguro.

E você Ravi? Traidor de uma figa. Chutando a mamãe e se revirando dentro de barriga o tempo
todo como se reconhecesse a voz, ou a presença do seu pai. Foi sairmos de perto de Daniel para ele
voltar a ficar quietinho. Também, agora estava de castigo, eu não ia cariciar minha barriga e nem
conversar com ele antes de dormir como fazia todas as noites.

Acabei desistindo de fazer qualquer outra coisa e me embolei na cama, exausta. As emoções
vividas naquela noite haviam acabado com todas as minhas forças.

— Posso entrar? — Minha mãe colocou a cabeça para dentro do quarto após dar leves batidas
na porta.

— Já entrou, dona Leonor. — Brinquei com ela.

— Sei que talvez você prefira ficar sozinha, mas meu coração de mãe só vai sossegar quando
tiver certeza de que você está bem.

— Não estou, mãezinha. Mas vou ficar. — Fui o mais sincera que pude.

— Ele é muito bonito — falou se referindo a Daniel.

— Sim, é.

— Se Ravi sair parecido com o pai, vai arrasar corações por aí. — Sorri mentalizando meu
filho com o olhar e o sorriso arrasadores do pai.

Sentou-se na cama, puxando minha cabeça para o seu colo, acariciando minha barriga. Fechei
os olhos e deixei que continuasse afagando meu ventre. Para mim era muito importante saber que
meus pais estavam do meu lado, que sempre me apoiariam e segurariam em minha mão. Agora que
estava grávida e seria mãe, eu já fazia ideia o quanto aquele amor era único.
— Você não acha que ele deveria saber a verdade? — disse baixinho, me fazendo pensar em

Daniel. — Eu não acho que ele seja tão ruim como te disseram. Os olhos dele tinham um brilho

especial enquanto falava com você.

Eu nada respondi, apenas ponderei sobre suas palavras. Quando me entreguei a Daniel, ele não

parecia ser o filho da puta que Vanessa havia pintado para mim. Cheguei até a desconfiar que ela
poderia estar mentindo para me afastar dele devido aos nossos desentendimentos, mas, depois da
chegada da tal Deborah que não desmentiu o noivado, comecei a achar que eu poderia estar muito
enganada com relação a ele, afinal havíamos ficado juntos apenas uma noite e ela o conhecia há anos,

além de serem irmãos e, com certeza, terem uma conexão bem mais íntima. Por via das dúvidas, era
melhor deixar tudo como estava para não correr o risco de perder Ravi.
Daniel

Tinha acabado de sair da reunião em que fui empossado como o novo CEO e presidente da
cadeia de hotéis Leblanc International, uma das maiores do país e que pertencia a minha família, é

claro. As coisas estavam acontecendo rápido demais, mas meu pai se encontrava doente e precisava
se afastar dos negócios para se tratar e eu, como o primogênito e único filho de Álvaro Leblanc,
deveria assumir o seu lugar.

Fazia apenas uma semana que eu havia voltado para o Brasil e me reencontrado com Isis.

Ainda estava intrigado com aquela gravidez e a maneira como ela tinha me tratado. Estava na cara
que o que sua boca falava não condizia com o que guardava em seu coração. E aquela história de
namorado? Ela não me parecia o tipo de garota que transa com outro cara tendo um namorado.
Lembro-me muito bem de ela me dizer que não se entregava na primeira vez e que tinha que haver
sentimento ou conexão para rolar algo mais íntimo. Que eu era o primeiro homem com quem isso iria
acontecer. Ou eu tinha me enganado muito com aquela garota, ou ela estava mentindo feio para mim.
E nesse caso, era óbvio que eu era o pai do bebê que ela esperava.

— Posso entrar? — Havia uma certa melancolia na voz do meu pai.

Ele parecia triste por estar saindo da frente da empresa.

— Desde quando o senhor precisa pedir licença para entrar na sala que sempre será sua por
direito? — Brinquei com ele.

— Posso saber o motivo da falta de atenção e foco do meu filho na reunião de posse dele na
presidência do grupo? — perguntou sem rodeios. Meu pai sempre fora um homem muito direto.

— Desculpa, pai! Eu sei o quanto isso é importante para o senhor, mas estou com algo pessoal
me preocupando muito, ando com a cabeça meio cheia por causa disso.
— Tem a ver com a garota grávida da formatura da sua irmã, não é mesmo? — indagou,

arqueando uma sobrancelha. — Você está estranho desde aquela noite.

— Não tem mesmo como eu conseguir esconder as coisas do senhor... Será que sou tão
transparente assim? — Ele sabia me ler como ninguém.

— Quando se fica viúvo cedo e seu filho pré-adolescente resolve se revoltar contra o mundo
tem que prestar atenção nos mínimos detalhes para que o barco não afunde. — Acrescentou. —
Ainda bem que uma certa professora resolveu te dar carinho e adotar como filho para me ajudar

nessa empreitada.

— E o senhor logo deu um jeito de se casar com ela, não é mesmo?

— Você há de convir comigo, meu filho, é quase impossível não se apaixonar por Maitê.

— E com ela veio Vanessa e voltamos a ser uma família feliz. Pai, mãe e filhos.

Era exatamente isso que havia acontecido com a gente. Assim que minha mãe morreu, vítima
de um acidente automobilístico, Maitê, professora da disciplina de inglês, percebeu minha
dificuldade em aceitar isso, se preocupou e começou a ajudar meu pai a me criar, afastando toda a

minha rebeldia e dando um rumo a minha vida. Nessa época eu tinha de 11 para 12 anos. No fim os
dois acabaram se apaixonando, se casaram e ela se tornou uma segunda mãe para mim. Inclusive, às
vezes, eu ainda a chamo assim. Logo depois veio Vanessa e nos tornamos a família pela qual meu pai
me ensinou a prezar e amar, mesmo que não concordasse com algumas atitudes da minha irmã.

— E então, não vai me dizer quem é a garota? — Não respondi de imediato e ele continuou. —
Ela deve ser alguém muito especial para te deixar assim, tão alheio a tudo e a todos.

— Alheio? — perguntei incrédulo.


— Sim. Nem pense que eu não notei que você não prestou atenção a nada do que foi dito na

reunião — falou de volta, e eu me afundei na cadeira envergonhado por ter sido pego no pulo.

— Sinto muito... — Ele me cortou antes que eu terminasse de expressar meu arrependimento.

— Apenas me fale sobre ela.

— É uma garota especial que eu conheci na última vez que estive aqui no Brasil, antes de
voltar para a Suíça para terminar o MBA. Na verdade, uma noite antes de eu voltar. — Ele arregalou
os olhos surpreso. — Nós dormimos juntos e foi algo tão legal e especial que não consegui tirar mais

ela da cabeça. Até já tinha feito planos de procurar por ela quando voltasse, porém o destino deu
uma ajudinha e acabei reencontrando-a na formatura de Vanessa e... — Não sabia muito bem como
contar a ele sobre as minhas desconfianças, por isso fiz de supetão mesmo. — Ela está grávida e,
mesmo negando, estou desconfiado que esse filho é meu.

— Um filho? — Assoviou. — Isso significa que vou ser avô? Um novo Leblanc está chegando
ao mundo. Isso é maravilhoso! — Um sorriso iluminava seu rosto. — Se eu bem te conheço,
determinado como é, você vai dar um jeito de encontrar essa moça e tirar isso a limpo.

E ele realmente me conhecia, eu não sossegaria até encontrar aquela mulher. E se ela estivesse
esperando um filho meu, eu a traria para perto de mim e cuidaria dos dois. Nem que isso fosse a
última coisa que eu fizesse na minha vida.
Daniel

Depois de conversar com meu pai e muito ponderar, decidi o que faria. Liguei para Lucas, meu
amigo brasileiro do MBA, que assim como eu já havia retornado ao Brasil, e o chamei para ir a

Nova Era comigo, a boate onde conheci Isis. Quem sabe eu não a encontraria novamente por lá?

Vesti uma calça jeans escura e a mesma camisa branca slim fit que estava usando naquela
noite. O tecido fino colava em meu corpo, acentuando todos os meus músculos bem trabalhados e
definidos na academia. Lembro-me bem a maneira com que Isis havia me olhado de cima a baixo

naquele dia. Eu sabia que tinha causado uma boa impressão.

Assim que chegamos, fui observado por várias mulheres, mas nenhuma era a que eu procurava.
Subi com meu amigo para o camarote cativo da minha família, onde nos encontramos com Vanessa e
Deborah. Encontrá-las lá não estava nos meus planos. Cumprimentamo-nos e logo me afastei com
Lucas para o canto oposto em que estavam. Fizemos nossos pedidos e minutos depois a garçonete
retornava com nossas bebidas. Aproximei-me da grade de proteção para visualizar melhor a pista de
dança, onde eu havia avistado Isis pela primeira vez.

— Você acha mesmo que esse é o melhor lugar de se procurar uma mulher grávida, Daniel? —
indagou, Lucas.

— Não faço a menor ideia, cara — fui seco. — Mas eu tinha que tentar alguma coisa. Aqui foi
o lugar em que a conheci, então achei que não custava nada tentar.

— Se ela está mesmo no estágio avançado da gravidez que você imagina, acho pouco provável
vir até aqui.

— Eu não sei quase nada sobre essa mulher, Lucas. Como farei para encontrá-la?

Sem responder minha pergunta, Lucas se afastou após ser chamado por Vanessa.
— Dança comigo? — segundos depois, Deborah enlaçou o meu pescoço.

Eu devia estar muito distraído a procura de Isis, pois nem havia percebido a sua aproximação.
Olhei feio para Vanessa repreendendo a sua armadilha. É claro que ela havia chamado por Lucas

para que sua melhor amiga se aproximasse de mim e viesse ao ataque.

— Desculpe, mas não estou muito a fim de dançar. — Me encarou surpresa, arregalando os
olhos. — Na verdade, eu estou aqui por um outro motivo — desconversei.

— Ah, não, Dani. Você não vai me fazer pagar mico me deixando no vácuo na frente de todo
mundo, não é mesmo? Só um pouquinho vai. — Insistiu, fazendo beicinho.

Coloquei meu copo de whisky vazio sobre a mesa e disse:

— Ok! Para não te deixar constrangida. Só um pouquinho. — Concordei a contragosto.

Peguei na sua mão e saí com ela para a pista de dança. Dancei tentando manter uma certa
distância, algo quase que impossível pois ela sempre dava um jeito de se agarrar a mim.

Deborah estava ligeiramente alcoolizada e começou a deslizar suas mãos pelo meu corpo,

alisando minha barriga e braços. O que começou a me incomodar bastante e me fez lembrar que
precisava conversar sério com ela sobre aquela história de noivado, na qual ela e Vanessa ainda
insistiam.

— Sabia que você é muito charmoso, lindo, sexy, gostoso... — dizia enquanto rebolava
roçando o corpo contra o meu. — Nem acreditei que ia ter a oportunidade de dançar abraçadinha
com você quando te vi chegar. — Suspirou fundo. — Nós precisamos conversar sobre o nosso
compromisso. O combinado entre nossos pais era ficarmos noivos e logo em seguidas nos casarmos,
assim que você voltasse para o Brasil para assumir os negócios da família.
Fala sério! Não creio que ela acreditava mesmo que isso ia acontecer. Nervoso, engoli em

seco, me segurei para não ser rude e preferi deixar aquela nossa conversa para outra hora. Ela já

havia bebido mais do que deveria e aquele não era o local e nem o momento mais adequado. De
repente começou a tocar a música Afterglow do Ed Sheeran, a mesma que dancei com Isis, não me

contive, afastei nossos corpos e parei de dançar.

— O que foi?

— Eu preciso ir embora. — Passei as mãos pelos cabelos.

— Quer companhia? — Se insinuou.

— Me desculpe, Deborah, mas eu prefiro ir sozinho. — Fechou a cara, indignada.

Deixei-a plantada na pista de dança e voltei ao camarote a procura de Lucas.

— Cara, você tinha razão — murmurei. — Foi um erro vir até aqui. Uma boate lotada acho que
seria o último lugar onde uma mulher grávida viria. Estou indo embora. Você vem comigo?

Ele preferiu ficar mais um pouco porque acabara de conhecer uma amiga de Vanessa por quem
se interessara. Paguei minha conta e me dirigi a saída. Ao passar pela porta, enquanto esperava o

manobrista trazer meu carro, encostei-me à parede e fechei os olhos, tentando mentalizar uma saída
para encontrar o paradeiro de Isis.
Isis

Os dias estavam passando rápido e eu havia chegado ao meu oitavo mês de gravidez ou, na
linguagem dos médicos, na trigésima quarta semana. Daniel parecia ter se convencido de que não era

mesmo o pai de Ravi. Desde nosso fatídico reencontro, após a minha colação de grau, eu não o via
ou tinha qualquer tipo de notícias suas. Melhor assim. Tinha dias em que eu parava para pensar em
tudo e ainda me sentia uma covarde por não contar a verdade, porém tinha medo de falar e ele
cumprir o que Vanessa havia dito e me tomar a criança. Eu me sentia entre a cruz e a espada.

Eu vinha sentindo muitas dores nas costas e cãibras, o que era comum segundo a doutora Aline.
Além de um líquido amarelado que vinha vazando dos meus seios. Quando liguei para a minha
médica preocupada ela me tranquilizou, explicando que se tratava do colostro, que era produzido
antes do leite.

Na consulta daquele mês, aprendi um pouco mais sobre minha gestação e o desenvolvimento
do meu bebê. Sempre ouvia as explicações de minha ginecologista e obstetra com muita atenção para
que se caso tivesse outro filho em algum momento da minha vida já soubesse um pouco mais de como
as coisas se desenvolveriam e, assim, me preocuparia bem menos com algumas coisas.

Com todo carinho e paciência do mundo doutora Aline me contou empolgada que a partir
daquela consulta, eu a veria com mais frequência até completar o último mês de gestação,
provavelmente toda semana. Fiquei sabendo animada que Ravi já distinguia diferentes sons, como
músicas e as vozes das pessoas que tinham mais contato com ele. Senti um arrepio na espinha quando
me lembrei do quanto ele parecia ter reconhecido a voz de Daniel, mesmo sem nunca a ter ouvido
antes.

Meu filho já pesava um quilo e setecentos gramas, media dezoito centímetros e já ocupava
todo o espaço do meu útero. Ele já abria os olhinhos e uma camada de gordura havia se formado
sobre a sua pele. Agora, ele ganharia peso rapidamente até o nascimento.

No final da tarde, recebi a visita de Carol, que pela primeira vez não havia me acompanhado a
consulta médica. Ela havia ido fazer uma entrevista de emprego em uma construtora. Minha amiga já

começara a distribuir seu currículo por tudo o que era lado da cidade de São Paulo, tentando uma
vaga no mercado de trabalho referente a arquitetura e urbanismo, a profissão para a qual havíamos
acabado de nos formar.

Eu estava muito feliz por ela e não via a hora de poder fazer o mesmo, porém teria que adiar
um pouquinho os meus planos por conta da minha gravidez e o nascimento de Ravi. Pelo menos eu
ainda tinha o meu emprego de recepcionista de clínica dentária.

Fiz uma anotação mental para conversar com meus patrões e pedir minha licença maternidade,
pois a chegada de Ravi estava próxima e eu tinha direito a um afastamento remunerado de quatro

meses para estar ao lado dele durante seus primeiros cento e vinte dias de vida. Como não tive
complicações, escolhi trabalhar até quase o final da gestação para passar mais tempo com meu filho
após o seu nascimento.

— Como foi a entrevista?

— Eu estava em pânico, mas acho que me saí bem. — Suas palavras soaram nervosas. — E
como foi a consulta?

Contei a ela com detalhes todas as novidades sobre o desenvolvimento de Ravi e o último mês
de minha gravidez.

— Amiga, desculpa te perguntar isso mais uma vez, mas agora que vocês se reencontraram,
está mesmo decidida a seguir seu plano inicial? Vai mesmo continuar escondendo dele? — Apoiei
meu rosto entre as mãos, sem nada responder. — A gravidez?... De Daniel? — Continuou.

— As coisas não são tão simples assim, Carol. — Levantei o olhar em sua direção. — Nós
nos reencontramos, porém ele continua sendo noivo e tem toda aquela questão de querer me tomar o
bebê. Eu ainda tenho muito medo de que isso aconteça. Não vou suportar perder meu filho dessa

maneira.

— Eu sei disso. Mas ele é o pai dessa criança, acho que iria gostar de saber disso. —
Suspirou fundo, se aproximando e segurando minha mão. — Além do que, será que não seria melhor
encarar e lidar com isso logo de uma vez do que passar o resto da vida com medo, frágil e perdida
como você está?

— Vai ficar do lado dele, agora? — Bufei, cruzando os braços na frente do corpo.

— Você sabe que sempre estarei ao seu lado para o que der e vier. Que pode contar sempre

comigo para tudo o que precisar. — Sorriu e eu balancei a cabeça confirmando. — Só falei isso
porque sua mãe me contou o quanto você anda triste e pensativa desde que vocês dois se
reencontraram. Ela também me disse que teve uma boa impressão dele, que Daniel não parece ser tão
ruim como pintaram para você e que os olhos dele brilhavam enquanto vocês conversavam. Mães
quase nunca se enganam, sabia?

— Nem sempre é assim. Conheço muitas mães que se enganaram feio em alguns momentos.
Não é o caso da minha, mas acho que, no fundo, o que ela quer é que Ravi não cresça sem um pai. —
Carol abriu um sorriso que iluminou meu quarto. — Isso é coisa da cabeça de pessoas mais velhas
que não são acostumadas com algumas modernidades — argumentei.
— Você sabe que te admiro muito, não é mesmo? Que vou estar sempre ao seu lado e te

apoiarei em todas as decisões que tomar. Entretanto, quero te fazer um pedido. Pense com carinho

sobre contar a verdade a Daniel. Eu nuca soube o que é ter um pai, sei o quanto isso é difícil e
influência na vida e caráter de uma criança. Você tem um pai maravilhoso, tem certeza de que quer

privar seu filho de ter e conhecer o dele? — Acariciou minha barriga com carinho.

— E se ele me tomar meu filho? A família dele tem muito dinheiro, eles são poderosos e muito
influentes. Não duvido nada de que consigam tudo o que querem.

— Esse é um risco que você teria que correr.

— Eu não gosto da ideia de correr esse risco — falei.

Ela cruzou os braços na frente do corpo, pensativa.

— Nesse caso, será como você quer e tudo ficará bem. — Me envolveu em um longo abraço.
— Você sabe que te amo muito, não é?

— Sei. E eu também te amo!

Abraçamo-nos mais uma vez e demos o assunto por encerrado, pelo menos por enquanto.
Daniel

Saí consternado daquela boate após ter sido cantado e assediado por Deborah. Ela nunca havia
se portado daquela maneira antes, me convenci que era por culpa do álcool, porém, de qualquer

forma, teríamos que ter uma conversa sincera e definitiva o mais rápido possível. Aquela situação
começava a ficar insustentável.

No caminho de volta para casa, os anjos ouviram minhas preces, fui iluminado e encontrei a
solução para o meu problema. Como eu não havia pensado nisso antes? Eu encontraria Isis através

das redes sociais e começaria a minha busca logo pela manhã. Passaria o final de semana inteiro
procurando se fosse preciso. Acho que não seria difícil encontrá-la já que hoje em dia todos têm
redes sociais, mesmo que não sejam muito ativos.

— Não acredito! Quantas centenas, ou milhares de Isis Barros existem no Brasil? — murmurei
desanimado, enquanto Lucas ria de mim. — Essa lista de perfis do Facebook parece interminável.

— Você achou mesmo que fosse ser fácil encontrar uma Barros nas redes sociais? —
Gargalhou meu amigo. — Ela tem um sobrenome comum, cara. Não é como tentar encontrar um

Leblanc. É como procurar uma agulha em um palheiro.

— Muito animador da sua parte. — Grunhi irritado. — Pois saiba que eu não vou desistir, vou
olhar um por um até encontrá-la.

Mais uma semana havia se passado e nem sinal de Isis Barros no Facebook. Pelo menos da
minha Isis, porque nenhum daqueles perfis que eu já havia stalkeado era o dela. Para piorar, ainda
tinha o meu trabalho como CEO da empresa, do qual eu não podia me descuidar, ou causaria uma
grande decepção ao meu pai. Por conta disso, me sobrava pouco tempo para procurá-la. Já estava
quase desistindo quando me deparei com a sua foto. Finalmente encontrei!
Seu perfil era pouco utilizado e não era atualizado há um bom tempo. Vasculhei cada parte dele

atrás de algo que me desse um sinal de onde encontrá-la e nada. Droga! Eu estava tão animado com

aquela ideia de que me esqueci que redes sociais não tinham o endereço das pessoas. De nada
adiantaria enviar uma mensagem, se ela estava me evitando, com certeza, me deixaria no vácuo, sem

resposta. Quanto trabalho e tempo perdidos!

Estava quase para jogar meu celular longe e espatifá-lo na parede, quando voltei ao topo de
sua página e foi então que eu vi na sessão sobre, entre os detalhes públicos, a informação da qual eu
tanto precisava e que, de início, havia me passado despercebida: “trabalha na empresa Sorriso

Perfeito Clínica Odontológica.

Cliquei na página deles e encontrei o telefone e endereço. Ponderei se seria certo abordá-la no
seu local de trabalho, mas não achei outra saída. Se aquela era a única informação que eu tinha sobre
o seu paradeiro, eu teria que utilizá-la. Qualquer coisa, eu poderia convidá-la para um café, ou algo
do tipo e assim poderíamos conversar em um outro lugar, sem prejudicá-la.

— Isis Barros, hoje você não me escapa — murmurei pegando o paletó no encosto da cadeira
e saindo ao seu encontro.

A clínica onde Isis trabalhava até que era bem apresentável, nada parecida com as que eu e
minha família costumávamos frequentar, mas tinha certo estilo. Era pintada de amarelo e tinha uma
porta e uma grande janela de vidro. A construção era antiga, mas requintada. Assim que Isis me viu
passar pela porta tomou um susto e empalideceu.
— O que você está fazendo aqui? — murmurou, furiosa, tentando disfarçar o tom de voz para

que os pacientes que aguardavam na sala de espera não desconfiassem que havia algo de errado. —

Como me encontrou?

— Já ouviu falar em redes sociais? — Mostrei a ela na tela do meu celular o print que eu

havia feito e ela engoliu em seco. — E não adianta pedir, eu não saio daqui até que me ouça.

Uma jovem loira, de cabelo curtos e olhos azuis entrou na sala, Isis cochichou algo em seu
ouvido e com um aceno pediu que eu a seguisse, me levando até uma sala vazia.

— O que você quer, afinal? — Ela tremia.

— Saber se eu sou o pai dessa criança que você está esperando.

— Eu já disse que não. — Fechou a porta atrás de si. — E pare de me perseguir, ou eu vou até
a polícia fazer um boletim de ocorrência contra você — ameaçou.

— Faça isso e facilite as coisas para mim, aí eu aproveito que vou estar diante de autoridades
competentes e peço o exame de DNA. — Encarei-a decidido.

— Você não é o pai do meu filho. — Ergueu o queixo. — Eu já te disse que ele é do meu

namorado. — Respirou fundo.

— Eu não acredito nisso — Me irritei com suas mentiras. — Ou eu muito me enganei com
você, ou esse namorado não existe e nunca existiu. Duvido que teria ficado comigo naquela noite se
tivesse alguém em sua vida. Me lembro muito bem que transamos sem camisinha. Também não sou
idiota e sei que está com a gravidez mais avançada do que me contou. Eu sei fazer contas muito bem,
Isis. Tenho certeza de que esse bebê é meu, só não entendo por que está me escondendo isso e me
privando do meu direito de ser pai e agir como tal.
— Esse filho não é seu, ele é só meu e ponto final. — Respirava de forma irregular. — Se

você pedir o exame de DNA vai cair do cavalo, pois descobrirá que estou falando a verdade. Eu e

meu namorado estávamos brigados naquela noite. Um tempo depois que você foi embora, nós
voltamos e assim eu engravidei. Não existe mistério nenhum nisso.

— Eu não preciso dessa porcaria de exame de DNA. Eu sei que o filho é meu. Você pode
tentar me convencer do contrário o quanto quiser que não vai conseguir. Eu sinto isso. Você é muito
transparente e não sabe mentir. Suas palavras não condizem com a expressão dos seus olhos e nem
com os sinais do seu corpo. Está na cara que está mentindo. Mas se não tem outro jeito, eu vou pedi-

lo, sim. Se não quer me contar a verdade e essa é a única maneira de sanar a minha dúvida, não vejo
outra saída. — Peguei em seus braços com força e a encostei na parede. — Eu não vou desistir do
meu filho — murmurei emocionado. — Pode me bater, xingar e fazer o que você quiser.

Soltei o seu braço devagar e ela correu até a porta e a abriu.

— Ótimo! Se é assim que você quer, faça. Agora, por favor, vá embora ou vai acabar me
prejudicando no meu trabalho.

Fechei meus olhos por um momento, tentando aplacar a minha raiva. Senti-me completamente

perdido, sem saber o que fazer. Eu não conseguia entender o porquê de Isis estar agindo daquela
forma. O que eu teria feito para que me tratasse assim, não me procurasse e nem me contasse que
estava esperando um filho meu? Com a cabeça cheia de dúvidas e com medo de prejudicá-la de
alguma forma, andei até a porta e saí.
Daniel

Saí do trabalho de Isis muito irritado com o resultado de nossa conversa. Ela continuava
negando o óbvio e eu sem entender o porquê. Algo não se encaixava naquela história. Será que todo

aquele ódio gratuito e repentino por mim era só porque eu havia ido embora sem me despedir,
deixando apenas um bilhete? Mas ela sabia que eu partiria no dia seguinte, só não tive coragem de
dizer adeus. Ela havia mexido comigo de uma forma diferente, e eu não estava preparado para
admitir isso, precisava de um tempo para pensar e entender meus sentimentos. Sem contar que eu era

péssimo com despedidas.

Nervoso e meio perdido, isso para não dizer que não fazia a mínima ideia do que fazer a partir
de agora, ao invés de voltar para a empresa, resolvi almoçar na casa da minha família. Se o meu pai
estivesse por lá, aproveitaria para conversar com ele de novo e, quem sabe até, pedir algum
conselho. Eu nunca havia tido um relacionamento de verdade, não era o tipo de cara que namorava,
ou firmava compromissos duradouros e, por conta disso, não entendia muito de mulheres e suas
atitudes confusas.

Para minha falta de sorte, Álvaro Leblanc, vulgo “meu pai”, havia ido para a fazenda, no

interior do estado, resolver algumas questões internas e “respirar ar puro”, o que segundo os médicos
era muito importante para a sua saúde. Ele voltaria só daí a dois dias. Resolvi que o esperaria voltar
e só depois de conversarmos, tomaria a decisão sobre o pedido de exame de DNA. Até lá, talvez
procurasse por Isis novamente e tentasse convencê-la a me dizer a verdade. Seria tão mais fácil se
ela fizesse isso. Almocei com Vanessa e depois subi para o meu antigo quarto, aquele que eu ocupava
quando ainda morava com meus pais, com o intuito de descansar e relaxar um pouco antes de voltar
para o escritório.

— Nós precisamos conversar. — Deborah, invadiu meu quarto de supetão, sem ao menos bater
na porta.

— Vai por mim, Deborah, não é um bom momento e te garanto que você não vai querer
conversar comigo agora. — Abri os olhos assustado.

Eu não estava a fim de ser azucrinado por ela de novo. Ela tinha razão, nós precisávamos
conversar, mas não naquela hora. Eu já estava com coisas demais na minha cabeça.

— Por favor, Dani. Temos que resolver sobre o nosso futuro. Não entendi o motivo que o
levou a fugir de mim na boate. Achei que tivéssemos um compromisso e que você o honraria após

voltar e assumir a presidência da empresa.

Sentei-me na cama, esfregando meus olhos e pensando em uma maneira de dizer a ela (sem
magoá-la) que não existe compromisso nenhum, que seu próprio pai havia me liberado daquilo e
assumido que estava bêbado quando fez o acordo. Se ela queria conversar, assim seria. No fundo era
até bom, que eu já me livraria pelo menos de um problema. O menor deles é claro.

— Ok! Vamos conversar, então — disse a contragosto.

— Obaaaa! — gritou eufórica. — Eu e Vanessa já estamos vendo alguns bufês para a nossa

festa de noivado.

— Não vai haver noivado e nem casamento nenhum, Deborah. — Fui direto ao ponto. — Você
não é boba e sabe muito bem disso. Todos sabem!

Estava sem paciência nenhuma e havia tentado alertá-la sobre isso antes de começarmos a
conversar.

— Como é que é? Te esperei durante todo esse tempo. Você acha que eu sou idiota?

— Me desculpe, Deborah... Eu... — Não sabia como falar aquilo para ela. — Eu não... Te
acho uma idiota. Só acho que você levou muito a sério a conversa entre nossos pais, eles estavam em
uma festa, haviam bebido mais do que deveriam e inventaram aquele acordo. — Ela se aproximou

com os olhos cheios de lágrimas e se sentou na beirada da cama para me ouvir. — Nós estamos no
século XXI, os casamentos não são mais arranjados como antigamente. Hoje as pessoas se casam por

amor. E eu não tenho esse tipo de sentimento por você.

— Você não me acha atraente? — indagou chorosa. — O que eu fiz de errado?

— Não se trata disso, Deborah. Você é uma mulher linda, mas tem a idade da minha irmã. Não

fez nada de errado, é só que eu te vi nascer e crescer. Gosto de você dá mesma forma que gosto de
Vanessa. Para mim vocês são duas crianças. — Tentei me explicar da melhor forma possível para
não a fazer se sentir mal. — Nossos pais até hoje se divertem e dão risadas quando se lembram dessa
história. Todo mundo sabe que eles me desobrigaram desse compromisso, que, aliás, nunca existiu. E
mesmo que não tivessem feito isso, eu não me casaria com você. Estou apaixonado por outra mulher.
— Fui sincero. — Não consigo entender por que você e Vanessa continuaram alimentando e
fomentando essa loucura nas suas cabeças. Eu sempre fui sincero, inclusive na sua frente, quando
esse assunto surgia e dizia que não haveria chance desse enlace acontecer.

— Mas aquele dia na Nova Era eu percebi que você estava receptivo aos meus carinhos
enquanto dançávamos... Quer dizer... Nós estávamos prestes a... De repente você me empurrou e foi
embora.

— Desculpe se te passei a impressão errada. Na verdade, eu estava me sentindo incomodado


com suas carícias e insinuações. — Cravei o último prego nas suas esperanças. — Eu te empurrei e
fui embora porque começou a tocar uma música que me fez lembrar a mulher por quem estou
apaixonado. Deborah, eu acho que vou ser pai, tenho tudo para acreditar que ela está esperando um
filho meu.
— Me desculpe por ter agido como uma alienada por todo esse tempo. — Eu nada falei e

então ela continuou. Dava para perceber que estava envergonhada e constrangida. — É claro que eu

sabia que aquele compromisso era uma piada entre nossos pais e que eles haviam te desobrigado
disso tudo, mas eu sempre fui apaixonada por você, desde criança, e tinha esperanças de que um dia

você me enxergaria como mulher e me daria uma chance. Achei que conseguiria entrar no seu
coração e lá ficar. Eu sempre quis tanto você, Daniel. Vanessa me convenceu de que seria possível
nós dois nos casarmos, por conta da amizade entre nossas famílias. Então, nós armamos um plano
para te convencer a cumprir o acordo que nunca existiu. Achamos que se ficássemos falando dele na

sua cabeça, te cobrando, você resolveria cumpri-lo mesmo que ele fosse uma piada entre nossos
pais. Agi como uma tola apaixonada da idade média e agora me sinto tão envergonhada.

— Eu sinto muito... — Tentei expressar meu arrependimento por ter demorado tanto para ter
tido aquela conversa com ela, ter lhe dado falsas esperanças mesmo sem saber e tê-la deixado tanto
tempo acreditando que um relacionamento entre nós seria possível.

— Não diga mais nada. Apenas vamos fazer de conta que essa conversa nunca existiu. Que
somos e sempre fomos apenas amigos. E, por favor, não conte essa história, que tanto me envergonha,
a mais ninguém.

Ela saiu arrasada do quarto e com lágrimas rolando pelo seu rosto. Apesar de tudo, não pude
deixar de me sentir aliviado por ter me livrado de uma vez por todas daquele problema. Deborah era
jovem e, com certeza, iria superar. Agora precisava me preparar para enfrentar e resolver o
problema mais difícil: Isis e o meu filho.
Isis

Procurei pela proprietária da clínica assim que Daniel saiu de lá e pedi para antecipar minha
licença maternidade. Eu pretendia trabalhar até o final da minha gestação, mas agora que ele havia

me descoberto ali, não me sentia mais segura e iria sair um mês antes. O que me deixou triste é que
ao invés de quatro meses com o meu filho recém-nascido, eu passaria apenas três, já que eu acabara
de entrar no oitavo mês de gravidez. Porém dos males o menor. Eu tinha que sumir das vistas do pai
de Ravi e protegê-lo de ser levado para longe de mim.

— Tem certeza de que é porque está cansada mesmo? Não teria a ver com a visita que recebeu
hoje?

Ela cruzou os braços na frente do peito, parecendo preocupada. Com certeza eles iriam
perceber alguma coisa. É claro que Larissa, minha colega da recepção, havia comentado. Eu fiquei
visivelmente abalada com a presença dele. Só um tolo não perceberia.

O duro de trabalhar em um lugar com muita gente era isso: sempre rolava uma fofoca. E eu
odiava fofocas! Procurava a todo custo não participar de nada disso, mas agora eu havia me tornado

o centro das atenções, assim como tinha sido quando contei que estava grávida.

— Não me leve a mal, doutora Camila, mas esse assunto é pessoal e eu não gostaria de falar
sobre isso agora — respondi. — Sei que estou comunicando essa mudança de planos em cima da
hora. Se não der para eu sair agora, eu entendo. Posso continuar vindo trabalhar normalmente.

— Tudo bem, Isis. Só perguntei por que fiquei preocupada. Larissa disse que vocês
discutiram, mas se não quer falar no assunto, tudo bem. — Ela caminhou até mim, segurando em
minha mão. — Você deve ter os seus motivos e não vou insistir que me fale, entretanto quero que
saiba que se houver algo que eu possa fazer por você, pode contar comigo. Você está conosco há
muitos anos e é uma funcionária muito querida. — Acariciou minha barriga. — Vá com Deus e se

cuide. Mande notícias quando Ravi nascer.

— Obrigada, doutora Camila. Hoje vou trabalhar até o final do expediente e a partir de
amanhã entrarei de licença. — Sorri de volta para ela. — Dentro de quatro meses eu estarei de volta.

Também tenho muito carinho por todos aqui.

Por volta das dezessete horas, peguei minha bolsa, me despedi de todos e fui embora para a
minha casa. Saí da clínica absorta em pensamentos. Minha cabeça estava a mil. Daniel me achou
pelas redes sociais. Como eu não pensei nisso antes? Poderia tê-lo achado dessa maneira para contar
sobre a minha gravidez. Acho que não. Quem em sã consciência daria uma notícia dessas por rede
social? Seria algo impessoal e frio demais. Se bem que eu poderia ter enviado uma mensagem
pedindo para ele me ligar e então contar por telefone.

A verdade é que sou meio avessa às redes sociais. Tenho por que vivemos numa era
absurdamente tecnológica e todos têm, mas uso muito pouco. Achar Daniel e conversar pelas redes
sociais teria me poupado de sofrer toda aquela humilhação vinda de Vanessa. Pensando bem, foi
melhor que tudo tenha acontecido como aconteceu, pois, ou ele tentaria me obrigar a fazer um aborto,
ou então iria querer tomar meu filho de mim para criá-lo com a tal noiva. Melhor que eu não tivesse
achado ele nas redes mesmo, ou estaria muito mais ferrada agora. Ao invés de desconfiar, ele teria
certeza da paternidade do meu bebê.

O que ele quis dizer com a frase que não abriria mão do filho? Será que já estava pensando em
tirar Ravi de mim? Eu precisava conversar com meus pais. Teria que ir embora de São Paulo para
proteger meu filho. Não teria outro jeito. Daniel Leblanc estava muito decidido a assumir e criar o

Ravi. Um frio de medo percorreu a minha espinha.

Eu sempre ia trabalhar e voltava para casa a pé, porque era pertinho e assim eu aproveitava

para me exercitar um pouco, caminhando. Parei na esquina para aguardar o sinal abrir e assim que
ele abriu, dei os primeiros passos e nem tive tempo de reagir, apenas senti o impacto no meu corpo.
Uma bicicleta havia passado no sinal fechado e me atropelou. A dor me dominou e, desesperada,
pensei em Ravi. Levei minhas mãos até minha barriga tentando protegê-lo. Ouvi sons de buzinas,

vozes e sirenes. E de repente ouvi sua voz.

— Isis, você está bem? — gritou Daniel, desesperado.

Meio atordoada, olhei para o chão em que estava deitada e vi uma mancha de sangue no chão e
levando uma mão entre minhas pernas percebi que estava sangrando muito. Eu podia estar perdendo
meu filho... O nosso filho. Fechei os olhos, segurei firme em sua mão e me enchi de coragem.

— Me ajude, Daniel. Não me deixe perder o nosso menino. — Fechei os olhos e rezei para
que tudo ficasse bem.
Daniel

— Será que eu estou falando grego? Alguém pode me dizer o que está acontecendo com a
minha mulher e o meu filho? — gritei, me sentindo ignorado. E ao mesmo tempo me deliciando com o

doce sabor daquelas palavras... “Minha mulher” e “meu filho”.

A falta de notícias estava me deixando desesperado. Eu estava maluco por notícias de Isis e do
nosso bebê, que eu ainda nem sabia o nome. Meus Deus, ela havia dito que ele era nosso menino! Eu
sabia que não estava enganado, a criança que ela esperava era mesmo meu. Eu seria pai de um lindo

garoto com a mulher mais incrível que eu já havia conhecido na vida. Tentava de tudo para obter
alguma informação sobre eles, porém todos na recepção do hospital pareciam me ignorar com
sucesso.

— O senhor precisa manter a calma e aguardar. — Enfim, uma mulher me respondeu. — Já


entramos em contato com a médica dela, que está a caminho. A família também foi avisada. Enquanto
isso, dona Isis está sendo devidamente examinada e assistida pelos médicos aqui do hospital.

Aquilo não me tranquilizou nem um pouco. Será que essas pessoas faziam ideia do quanto era

sofrido ficar ali naquela sala de espera sem nenhuma notícia? Como eu poderia ter calma? Senti
vontade de gritar e exigir que chamassem pelo diretor do hospital. Quem sabe assim eu não
conseguiria alguma informação. Mas acabei desistindo, acho que no fundo, de nada adiantaria.

Sentei-me numa cadeira, segurando o rosto entre as mãos, sentindo minha cabeça girar,
pensando em tudo o que havia acontecido na última hora. Eu estava completamente transtornado.
Acabara de descobrir que ia ser pai e já corria o risco de perder minha família para sempre.

Depois da conversa estressante que tive com Deborah, que, tenho que confessar, me deixou
meio chateado por ter machucado o seu coração, fui para o escritório da Leblanç International.
Pensei muito na nossa última conversa e resolvi procurar por Isis mais uma vez e tentar uma

abordagem amistosa. Eu precisava saber o porquê de ela estar mentindo e fugindo de mim daquela

maneira. Pensei em um monte de coisas para falar, criei em minha mente uma porção de frases soltas,
entretanto, eu não sabia se elas seriam suficientes para fazê-la se abrir comigo e me contar o que

estava acontecendo de verdade. Mas eu sentia que precisava tentar mais uma vez.

Eu necessitava que ela entendesse que eu a queria também, que não era só ao nosso filho. Que
os dois eram importantes para mim na mesma medida. Pedir desculpas por ter ido embora sem me
despedir e contar o quanto eu havia pensado nela durante aqueles meses que passei na Suíça, que ela

havia me marcado de uma forma diferente. O que vivemos, apesar de rápido havia sido muito
especial.

Assim que a vi atrás do púlpito do palco do anfiteatro, na formatura de Vanessa, a reconheci de


imediato, me senti completo e meu coração entendeu que eu só seria feliz se a tivesse ao meu lado.
Ainda tinha isso para perguntar e esclarecer. Por que ela havia me escondido que conhecia e fazia a
mesma faculdade que a minha irmã? Existia muitas coisas para serem faladas e desvendadas. Sem
dúvidas, precisávamos muito conversar.

Quando virei a esquina, a vi sair da clínica e, esperando um melhor momento para abordá-la,
resolvi segui-la e oferecer uma carona. Mas foi aí que tudo aconteceu, de longe a vi atravessar a rua
e ser atropelada por um rapaz numa bicicleta, que não respeitou o sinal fechado e ainda fugiu do
local sem prestar socorro. Não deu tempo de pensar em nada, gritei seu nome e corri até ela. Pedi a
alguns transeuntes, que passavam pelo local e se aproximavam curiosos, que chamassem uma
ambulância.

Olhei para Isis e vi sangue no chão ao seu lado e nas suas mãos. A mulher que eu amava não
parecia estar muito bem e vi lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Ela me reconheceu, fechou os olhos
e segurou firme em minha mão. E então, pronunciou as palavras mágicas, que mudaram tudo a minha
volta e fizeram com que eu me sentisse o homem mais feliz do mundo.

— Me ajude, Daniel, não me deixe perder o nosso menino.

— Fique tranquila, meu amor — sussurrei, acariciando sua barriga. — Eu estou aqui e vou

proteger vocês dois. Tudo vai ficar bem, nada de mal vai acontecer. Eu prometo!
Daniel

Ainda estava sentado naquela sala de espera sem nenhuma informação, me sentindo perdido e
sem a mínima ideia do que fazer, quando vi um casal pedindo informações sobre Isis na recepção.

Soube quem eram na mesma hora, pois me lembrei de ela me dizer que estava com os pais na
formatura e depois caminhar em direção a eles. Não sem antes seu pai me chamar de monstro e
proferir algum tipo de ameaça ao ordenar que eu me mantivesse longe de sua filha. Coisa que não
consegui cumprir.

Mesmo que eu não os tivesse visto, seria fácil saber que eram os pais dela. Isis era muito
parecida com a mãe, o mesmo tom de pele, mesma cor de cabelos e olhos expressivos. Os dois
pareciam tão desesperados quanto eu. Aguardei que terminassem de falar com a recepcionista e,
assim que se afastaram do balcão, me aproximei deles.

A mulher escorava-se no seu marido e chorava copiosamente. Senti uma vontade súbita de
confortá-la, mas não sabia o que dizer, pois não tinha qualquer ideia do estado de Isis. De repente, os
dois se viraram em minha direção e quando nossos olhares se cruzaram, percebi que fui reconhecido,
com certeza da noite da formatura.

— Você não é Daniel Leblanc? — O homem constatou.

Apenas balancei minha cabeça em confirmação e os dois se aproximaram. A mulher jogou os


braços sobre os meus ombros e me abraçou com desespero. Com certeza a moça da recepção devia
ter informado a eles que eu a havia socorrido e chegado com ela ao hospital. Ela voltou a chorar e
me segurei para não fazer o mesmo, eu precisava ser forte por Isis e pelo meu filho. Ela se afastou e
o homem então pôde apertar minha mão em cumprimento.

— Somos os pais de Isis. Eu sou Joaquim e essa é minha esposa, Leonor. —Apresentou-se. —
Recebemos um telefonema do hospital, mas não nos disseram o que houve. Falaram que chegou aqui

com ela, sabe nos dizer o que aconteceu?

Fiz sinal para que se sentassem e busquei água para minha futura sogra, na tentativa de acalmá-
la. Ela bebeu longos goles e depois os dois voltaram a me encarar, parecendo estar mais tranquilos.

Então, comecei a falar.

— Isis havia acabado de sair do trabalho quando foi atravessar a rua e um cara de bicicleta
não obedeceu ao sinal fechado e entrou com tudo, atropelando-a. — Continuei. — Eu estava lá

porque mais cedo havíamos discutido sobre a paternidade do bebê... Meu filho... E eu resolvi
procurá-la mais uma vez para uma conversa mais pacífica.

— Meu Deus! — Dona Leonor soluçou. — Ela te contou sobre Ravi?

— Sim. — Então esse era o nome do meu filho... Ravi. — Assim que eu a socorri, Isis segurou
firme em minha mão e me pediu para que não a deixasse perder o nosso menino. Na verdade, eu...
Eu... — gaguejei, emocionado. — Já desconfiava de que fosse o pai do bebê. Ela tentou negar, mas
eu suspeitei desde o início que pudesse estar mentindo. Só não sei o motivo.

— A gravidez dela foi tão tranquila. — Choramingou a mulher. — Como pôde acontecer isso
logo agora, quase no final.

— Não consigo entender por que ela fez isso. — Uma certa mágoa começava a despontar
dentro de mim. — Como ela teve coragem de me esconder algo importante assim? Me privar de ser
pai. Isso chega a ser desumano.

Levantei-me em um rompante, mas os dois não se afastaram assustados, apenas me encararam


de foram intensa.

— Ela teve os seus motivos — argumentou o senhor Joaquim.


— Motivos? — alterei um pouco mais a minha voz. — Qual motivo? O que foi que eu fiz para

ela querer me punir dessa forma? Por mais que eu tente e me esforce, não consigo entender. Quem em

sã consciência esconderia de um homem que ele vai ser pai? É muita crueldade.

Sem conseguir me conter, os enchi de perguntas. Só agora, após a adrenalina baixar um pouco,

eu começava a tomar consciência do que ela havia feito e estava puto com tudo aquilo.

— Olha, Daniel, Isis teve motivos que só cabe a ela te contar. — Interveio dona Leonor. —
Procure ficar calmo. Você vai entender melhor quando ela te explicar.

— Ficar calmo? — explodi.

— Não a julgue antes de ouvi-la. Você não faz ideia de tudo o que Isis passou nesses últimos
meses, em especial logo após descobrir que estava gravida — suplicou seu pai.

— Impossível! — Sorri com sarcasmo. — Nada do que ela me disser vai justificar ter me
escondido algo tão importante. NADA!

Dona Leonor segurou firme em meu braço e me olhou com determinação. Será que ela achava
mesmo que havia alguma justificativa para o que a filha havia feito? Com cuidado, me desfiz do seu

aperto e sai andando desnorteado em direção a saída. Eu precisava respirar, me libertar do pesadelo
que estava vivendo. Quando as portas automáticas se abriram, voltei atrás ao ouvir a voz de uma
enfermeira.

— Quem são os parentes de Isis Barros?

Dei meia volta e me aproximei dela. Enfim, chegaram as notícias pelas quais eu ansiava há
horas.

— Eu sou o pai do bebê que ela está esperando e esses são os pais dela.
Ela nos olhou com um misto de tristeza e pena. Parecia não trazer boas notícias. Fiquei ainda

mais nervoso e senti o meu coração disparar.

— Isis está bem, mas infelizmente, por conta do sangramento intenso, a doutora Aline, obstetra
dela, teve que realizar uma cesariana de urgência. Ela vai ficar algum tempo em observação, devido

ao acidente e ao trauma que sofreu na cabeça após cair ao chão, mas logo irá para o quarto e vocês
poderão vê-la. — Dona Leonor voltou a chorar, dessa vez de alívio. — Entretanto, o bebê nasceu
prematuro e está na UTI, onde deve permanecer por algumas semanas até o amadurecimento
completo dos pulmões e outros órgãos.

Senti-me ainda mais nervoso e com muito medo pelo meu filho. Antes daquela notícia chegar
eu estava disposto a deixar aquele hospital e ir à justiça buscar pelos meus direitos de pai, porém
agora isso ia ter que esperar, Ravi precisava de mim. E mesmo sentindo raiva de Isis por ela ter
tentado me enganar e esconder que eu era pai do bebê que estava esperando, algo tão importante e
que, com certeza, mudaria minha vida, eu ficaria perto dele e me tornaria o melhor pai do mundo.
Isis

— Você precisa conversar com ele, filha. — Minha mãe bufou indignada. — Daniel é o pai de
Ravi e foi você mesma quem contou isso a ele no dia do atropelamento. Ele tem passado a maior

parte do tempo aqui. Tem trabalhado só pelo telefone, comido na cantina do hospital e só vai embora
para tomar banho e dormir porque eu insisto muito.

— Eu não vou conseguir lidar com ele agora, mãe. — Evitei encará-la. — Não tenho estrutura
para mentir para ele de novo e dizer que inventei sobre a paternidade de Ravi para que me

socorresse. Que na verdade Daniel não é o pai.

Desde que havia ido para o quarto e ficara sabendo pelos meus pais que Daniel estava no
hospital, eu havia proibido ele de ir até onde eu me encontrava. Apenas os dois e Carol, minha
melhor amiga, que me visitavam quase todos os dias e poderiam me ver. Nós cinco contra o mundo!
Tinha deixado bem claro que não queria vê-lo. E desde então, minha mãe tentava me convencer a
conversar com ele.

Meu coração estava apertado por ter que dizer aquilo a Daniel. Eu fiquei tão desesperada

quando achei que ia perder meu filho, que implorei pela sua ajuda e contei a verdade, revelando que
era o pai do meu bebê. Foi uma atitude impensada e da qual eu havia me arrependido. E se ele
resolvesse me tomar meu filho, tão pequenino, que estava lutando pela vida em uma UTI? Eu não
suportaria isso. A única saída era mentir de novo e quebrar seu coração em mil pedaços. E nada me
demoveria disso.

— Ele está com Ravi agora na UTI.

— Ele tem ido muito lá? — perguntei atônita.

Eu ia todos os dias ver Ravi. Apesar de estar internada e necessitar de repouso, a doutora
Aline havia me liberado para estar com ele, mesmo que por curtos períodos, sempre de cadeiras de
rodas para não fazer muito esforço. Mas nunca havia encontrado Daniel por lá, então nem sabia que

ele ia ver nosso filho.

— Todos os dias, desde que ele veio ao mundo. Sempre respeitando o seu momento de ir lá,

sem impor sua presença. — Sorriu, pensativa. — Você sabe que não concordo com o que está
querendo fazer, não é mesmo? Não acho certo você mentir para ele de novo. Daniel é pai de Ravi e
tem o direito de estar ao lado dele.

Senti uma vontade enorme de brigar com minha mãe. Será que ela tinha se esquecido de tudo
que eu havia descoberto sobre ele? O quanto era mal caráter ao ponto de engravidar várias mulheres
e obrigá-las a fazer aborto? Que era noivo e a traía sem dó? E que, ainda por cima, poderia me tomar
meu filho para criá-lo com outra? Pelo jeito sim, o coração mole da dona Leonor havia deixado tudo
para trás e perdoado o meu algoz.

Antes mesmo que eu pudesse lhe dizer alguma coisa e jogar aquilo tudo na sua cara, uma
enfermeira entrou no quarto.

— Trago boas notícias. Você vai receber alta agora.

— Mesmo? — perguntei animada.

— Sim, mas... — Sempre tem um “mas”. — Terá que ficar de repouso mais ameno por alguns
dias. Entretanto, vai poder revezar com seu marido na UTI.

— Ele não é meu marido. — Corrigi-a. — Na verdade, ele não é nada meu.

— Me Desculpe — falou a enfermeira, sem graça.

— Já que estou de alta, vou me trocar e ficar com o meu filho na UTI — afirmei com dureza e
já fui logo me levantando da cama.

— Não faça nenhuma besteira, Isis. Eu e seu pai achamos que Daniel pode não ser o grande
vilão dessa história. — Fitei-a surpresa. — Ele está aqui porque quer. Para Ravi vai ser melhor ter
vocês dois juntos, mesmo que como amigos. Ele parece querer cuidar de vocês dois. Converse com

ele, espanta os seus medos e deixe-o fazer parte da vida do seu filho. Pense nas coisas que estou te
dizendo com carinho. Não haja por impulso.

— Acho que vocês dois caíram de amores por Daniel e esqueceram tudo o que passei por

causa dele e da família Leblanc. — Fui rude. — Pelo jeito estão até dispostos a abrir mão do meu
filho e permitirem que ele seja criado pelo pai e a noiva dele.

Irritada com tudo o que minha mãe havia me dito, saí andando com um pouco de dificuldade,
em direção a UTI neonatal. Meu coração estava apertado e eu precisava ver meu filho. Chegando lá,
agradeci por não ver nem sinal de Daniel, mas para a minha surpresa, Ravi também não estava.

— Isis. — Senti meu mundo desmoronar ao ouvir sua voz e virei-me lentamente.

— Daniel.

— Ravi foi levado para fazer alguns exames. — Sua voz sexy fez os meu pelos se arrepiarem.

Assenti com a cabeça. Senti vontade de sair correndo e voltar para o quarto onde estava
internada, mas estava aprisionada pelo seu olhar. Parecia que seus olhos me enchiam de perguntas,
mesmo sem ele pronunciar uma palavra sequer.

— Daniel... Eu...

— Apenas me diga o porquê, Isis. — Ele me cortou.

Senti um pedaço de mim morrer quando vi sua postura de ombros caídos, como se estivesse
derrotado. Havia lágrimas em seus olhos. Eu precisava dizer alguma coisa que o afastasse de novo
de mim e do meu filho, ou correria o risco de perder Ravi em definitivo para ele. O medo estava me

cegando e me paralisando. Eu havia prometido proteger meu filho, não deixar que nada nos separasse
e era isso que eu iria fazer. Mesmo que para isso eu tivesse que afastar Daniel de vez de nossas vidas

de forma cruel e dolorosa.

— Ele não é seu filho — disse de forma amarga, tentando afastar a emoção. — Eu falei isso
para que me ajudasse no dia do atropelamento. Fiquei com medo de ninguém me ajudar e eu perder
meu filho. Eu menti para você.

— Por que será que eu não acredito em uma palavra sequer do que está me falando, Isis? —
Alterou o tom de voz, me intimidando. — Se eu já não acreditava nisso antes, agora menos ainda.
Seus pais confirmaram o que você me disse e agora tenta negar.

— Meus pais se precipitaram. Na verdade, eu também menti para eles quando descobri que
estava grávida para que não soubessem quem era o verdadeiro pai do meu filho, porque é alguém de
quem eles não gostam e não aceitariam. Então inventei que era você.

— Pensei ter ouvido você me dizer que esperava um filho do seu namorado. Seus pais não

gostam dele? — Soltou o ar pelo nariz.

— Como você pode ver, eu sou uma grande mentirosa. Minto para todo mundo. Essa história
de namorado inventei para que você achasse que estava casada e largasse do meu pé.

— Não. A verdade é que você mente muito mal, Isis.

Daniel me olhou com ódio e se aproximou um pouco mais, colando nossos corpos, se
movimentasse um pouquinho a cabeça, conseguiria me beijar. Cerrou os punhos com força e percebi
seu corpo inteiro tremer. Estava preparada para vê-lo me xingar, gritar ou brigar, entretanto, fui
surpreendida por um abraço. Seu cheiro me entorpeceu e inebriou os meus sentidos. Meu coração
disparou. No fundo, minha mãe tinha razão, eu e Ravi precisávamos de Daniel, porém eu não

conseguia me liberar dos meus medos.

Uma de suas mãos puxou minha cabeça para junto do seu peito, depois seus braços envolveram

minha cintura com carinho e eu senti as batidas do seu coração. Comecei a chorar e as lágrimas que
rolavam pela minha face começaram a molhar sua camisa elegante.

— Eu não sei o que aconteceu para estar me tratando dessa forma e mentindo para mim dessa

maneira. Ravi é meu filho, sinto isso com toda a força do meu coração e nada do que você me diga
vai me afastar dele ou de você. Vocês são minha família agora! — Beijou minha testa e deu um
sorriso sem esperança, partindo o meu coração.
Daniel

Já fazia algumas semanas desde aquele nosso encontro no hospital. Tê-la em meus braços
havia me causado sentimentos contraditórios. Eu ainda estava magoado por ela ter tentado me

esconder e mentido para mim sobre a paternidade de Ravi. Ela não tinha esse direito!

Mesmo assim, naquele momento, senti um frenesi percorrer todo o meu corpo. Seu cheiro me
invadiu, minha pele arrepiou e meu coração disparou com nossa proximidade.

Depois daquele dia, não discutimos mais, porém ainda estávamos estranhos um com o outro.
Não tentei mais conversar sobre o ocorrido com ela, só voltaria a falar naquele assunto depois que
meu filho saísse daquele maldito hospital.

É claro que eu ainda ansiava por respostas, por descobrir o que havia acontecido para que Isis
agisse daquela maneira. Entretanto, o mais importante naquele momento era estar perto de Ravi e o
hospital não era o lugar mais adequado para termos aquela conversa.

Naquela manhã, quando cheguei ao hospital depois de mais uma noite mal dormida, avistei Isis
conversando com o pediatra. Assim que me aproximei, a vi ficar séria, como se minha presença ali a

intimidasse de alguma forma. Aguardei que ela terminasse a conversa com o médico e só então me
aproximei.

— Ravi deve receber alta em algumas horas — comentou, com um sorriso de alívio nos
lábios. — Ele conseguiu.

— Que notícia maravilhosa! — sussurrei.

— Eu tive tanto medo. — Vi angústia no seu olhar.

— Agora vai ficar tudo bem — prometi.


Levei Isis, Ravi, dona Leonor, senhor Joaquim e Carol embora do hospital. Era a primeira vez
que eu ia até a casa dos pais dela. Fomos até o pequeno quarto, onde o bercinho de nosso filho
dividia espaço com a sua cama. Havia também uma pequena cômoda branca com detalhes em azul,
um guarda-roupa e uma mesinha de cabeceira com um arranjo de girassóis em cima. Lembrei-me que

eram as flores preferidas de Isis e isso me remeteu à noite em que fizemos amor.

— Como você pode ver, Ravi já tem tudo do que precisa. Não necessitamos de mais nada. —
Sua voz era dura.

Por um momento tentei assimilar aquelas palavras. Será que Isis achava mesmo que seria
simples assim? Que após meu filho deixar o hospital, eu me afastaria e deixaria que vivesse longe de
mim? Eu ainda não havia parado para pensar no futuro. Entretanto ao ouvir aquelas palavras, me
desesperei e um nó se formou em minha garganta.

— Se mudar de ideia e precisar de algo mais, é só falar. Eu vou estar sempre por aqui — disse
de forma contida.

Imóvel, Isis me encarou de forma dura, como se implorasse para que eu fosse embora, mas
estava muito enganada se achava que eu me afastaria dos dois. Não importava o que ela me dissesse,
agora mais do que nunca eu tinha certeza de que era o pai de Ravi.

— Essa não é uma decisão só sua. — Encarou-me de forma intensa.

Eu não podia acreditar que ela estava fazendo aquilo comigo, me tirando a paz que era estar
perto do meu filho e despertando ódio dentro de mim. Aproximei-me dela no exato momento em que

seus pais e Carol entraram no quarto, com certeza percebendo o início de uma discussão, e voltaram

seus olhos para mim. Como sinal de afronta, Isis ergueu a cabeça e me encarou sem titubear.

— Nem pense em me afastar de novo. — Senti o senhor Joaquim colocar a mão no meu ombro,

na clara tentativa de me acalmar. — E não me venha com aquela história ridícula de que eu não sou o
pai de Ravi. Ele é tão seu quanto meu e não tenho nenhuma dúvida disso.

Vi quando bufou e suas pupilas dilataram, deixando-a quase ao ponto de partir para cima de

mim. Mas não hesitei um momento sequer.

— Pessoal, vamos tentar manter a calma, por favor. — Carol tentou apaziguar. — Vocês estão
de cabeça quente. Isis ainda está se recuperando e não é bom ficar nervosa assim agora que começou
a amamentar. Não sei se é crendice, mas dizem que isso pode secar o leite.

No fundo ela tinha razão. Mesmo estando furioso, eu me afastei.

— Daniel... você precisa descansar um pouco e se acalmar, meu filho. — Dona Leonor foi
gentil comigo. — Por que não dá um pulo em sua casa e retorna mais tarde? — Deu um tapinha leve

no meu braço para me incentivar.

— Eu vou, mas eu volto. — Bufei.

Olhei para Isis e respirei fundo. Não dava para impor minha presença assídua na casa deles,
pois era um ambiente privado e podiam até acionar a polícia para me tirar de lá se minhas constantes
visitas começassem a incomodá-los. No hospital era mais fácil por se tratar de um ambiente público.

— Fique calmo! Tudo vai ficar bem! — disse Carol, ao me acompanhar até a porta.

Eu queria ter a mesma confiança que ela, porém naquele momento era quase impossível. Sai de
lá ainda irritado com a atitude de Isis e, ao invés de ir para meu apartamento, ou para a casa dos

meus pais descansar, segui direto para a Leblanc International. Eu havia passado muito tempo

afastado, trabalhando apenas por telefone e internet, e necessitava ver como estavam as coisas por lá
e porque eu precisava conversar com alguém. No caminho, fiz duas ligações muito importantes. Eu

sentia necessidade de falar sobre tudo o que estava acontecendo comigo e ninguém melhor para isso
do que meus melhores amigos na vida: meu pai e Lucas. Eles ficaram de me encontrar na empresa.
Daniel

Assim que chegaram, os dois foram direto para a minha sala. Lucas chegou primeiro, pois
estava na empresa da família, que ficava a poucas quadras dali. Se quisesse poderia até ter vindo a

pé, mas, pela rapidez com que chegou, era notório que viera de carro. Cerca de meia hora depois
chegou meu pai, o poderoso Álvaro Leblanc. Esperei ambos chegarem e se acomodarem para
começar a contar o que havia acontecido. Não queria ter que repetir e reviver tudo mais de uma vez.

Senti que precisava disso e abri meu coração. Eu sentia um grande vazio dentro de mim

causado pelo medo de que Isis pudesse tomar alguma atitude impensada, como fugir de mim, sumir
no mundo e me separar em definitivo do meu filho. Suas atitudes, às vezes, me levavam a crer que
isso seria possível de acontecer a qualquer momento, caso ela se sentisse muito acuada.

Contei como havia descoberto e tido a certeza de que o filho que Isis havia dado à luz era meu,
sem sequer precisar de DNA. O meu pai ouviu tudo emocionado, com um brilho especial nos olhos.
Diante do que eu narrei, não havia dúvidas, Ravi era mesmo um Leblanc. Meu pai era avô de um
lindo, forte e guerreiro, menino.

— Meu filho, você precisa manter a calma e dar um tempo a ela. — A voz de meu pai roubou
minha atenção, me tirando de meus devaneios. — Por algum motivo Isis está tentando negar que você
seja o pai da criança. Seja atencioso com ela, esteja presente sem forçar muito. Tenho certeza de que
quando estiver mais confortável, te contará o que a fez tomar essa decisão e, então, esse será um
novo começo para vocês dois.

— Será? — Dei um longo suspiro. — Ela é muito imprevisível, às vezes, parece que está tudo
bem, mas de repente Isis volta a ficar arredia. Eu não consigo entendê-la.

Ele me olhou com intensidade. Seu olhar me confirmava que tinha total certeza do que estava
dizendo. Que, com seus anos de experiência, era difícil estar enganado. Como se fosse tudo muito

simples!

— Qual você acha que é o motivo ou o medo dela, Daniel? — indagou Lucas. — Porque eu
não acho que ela esteja fazendo isso só por fazer, ou porque você foi embora sem se despedir. Pelo

que nos contou, Isis é uma garota forte e decidida. Deve haver um motivo muito forte para estar
fazendo isso. Você já tentou descobrir o que é? Ela não deu nenhuma pista?

Meu corpo, que antes estava ereto, desabou sobre a cadeira que eu estava sentado. Era fato que

ela sabia que eu partiria no dia seguinte, apesar de ter sido uma atitude covarde não ter me
despedido, porém isso não parecia ser o suficiente forte para fazê-la esconder uma gravidez e,
mesmo depois de ter me contado que Ravi era meu filho, tentar votar atrás e me convencer que havia
mentido.

Eu não tinha ideia do que poderia estar acontecendo. Eram muitas as perguntas sem respostas.
E a única pessoa que poderia me esclarecer insistia em mentir para mim.

— Acho que alguma coisa aconteceu depois que fui embora, mas não sei exatamente o quê. —
Os dois assentiram em sinal de total atenção. — Algo que a fez ter medo de me contar a verdade e de

confiar em mim.

— Você acha que alguém pode ter falado algo de ruim a seu respeito para ela? — perguntou
meu pai. — Alguma coisa que poderia ter colocado medo nela?

— Não sei. — Admiti derrotado. — Mas quem faria uma coisa dessas e por quê?

— Isso é o que você precisa descobrir — acrescentou Lucas.

— Mas como, se ela não quer se abrir comigo? — questionei, perdido. — Não conseguimos
ter uma conversa sequer sobre isso que não termine em discussão.
Meu pai se aproximou e segurou meu rosto, fazendo-me encará-lo.

— Com a sabedoria e a coragem de um legítimo Leblanc. Mostre a ela que não vai desistir do
seu filho. Deixe bem claro que pode confiar em você e que, mesmo que ela queira, você não vai
embora. Seja sincero e prove, não só com palavras, mas também com atitudes o quanto quer os dois

ao seu lado.

Claro, como sempre meu pai tinha toda razão. Eu ainda não sabia como faria para convencê-la
daquilo, mas meu coração me dizia que sim, aquela era a coisa certa a se fazer.
Isis

Eu não tinha ideia do que fazer e estava numa profunda aflição. Minha mãe havia ido ao
médico, meu pai estava trabalhando, Carol em uma nova entrevista de emprego e Daniel, que vinha

ver Ravi todos os dias, ainda não havia aparecido, com certeza estava na empresa e viria só no final
da tarde. Desde que havíamos discutido após a nossa saída do hospital, que ele tinha voltado a
trabalhar presencial e não passava o dia inteiro atrás de mim, ou do meu filho. Segundo havia dito ao
meu pai, não iria impor a sua presença, mas não deixaria de estar perto do filho com frequência. Só

que fazia duas horas ininterruptas que nosso bebê chorava sem parar, me deixando preocupada e sem
saber o que fazer.

Ravi chorava, chorava e chorava. Eu estava muito preocupada e não conseguia contato com
ninguém mais próximo. Tinha tentado de tudo o que sabia, mas ele não se acalmava. Entrei em
desespero, fui até a agenda de telefones da minha mãe, pois eu havia me negado a colocar o contato
dele no meu celular e liguei para a pessoa que eu jamais achei que um dia eu pediria ajuda e estava
tentando tirar da minha vida com mentiras.

— Graças a Deus! — exclamei, assim que ouvi a voz de Daniel ao telefone.

Eu queria ter sido forte e ter seguido firme em minha decisão de provar a ele que não era
necessário em nossas vidas, mas não dava. Nosso bebê não parava de chorar e eu, mais uma vez,
estava desesperada e precisava da ajuda dele.

— Isis, você está bem? Por que está chorando? Aconteceu alguma coisa com Ravi? Fala
alguma coisa, meu amor. — Me encheu de perguntas, com insistência.

Eu estava aos prantos no telefone, sem conseguir traduzir em palavras o que estava
acontecendo.
— Ravi está chorando há horas — sussurrei. — Meus pais e Carol estão ocupados, estou

desesperada e sem dinheiro aqui comigo e, mesmo que tivesse, não teria condições psicológicas de

pegar um táxi ou Uber e ir sozinha até o médico. Preciso que você nos leve a um hospital, ou
consultório médico, sei lá. Eu já tentei de tudo, mas ele não para de chorar.

— Eu estou indo para aí. Mantenha a calma e ligue para o pediatra dele avisando que estamos
indo até o consultório. Rapidinho eu chego. — Desligou o telefone apressado.

— Podem ficar tranquilos, papai e mamãe.

Eu e Daniel olhávamos para o médico a nossa frente sem entender como ele podia ficar tão
sereno diante de uma criança recém-nascida que não parava de chorar. Como eu poderia ficar calma
depois de ouvir meu filho chorar por horas? Fiquei imóvel, sem saber o que dizer.

— Ravi está com cólicas. Ele nasceu prematuro e ainda está terminando de amadurecer o
intestino, assim como outros órgãos também. Não há nada grave com que se preocupar, suas dores só
são mais fortes do que os dos outros bebês que nascem no tempo certo. Eu vou medicá-lo, deixá-lo
em uma sala em observação e depois liberá-lo.

Eu e Daniel fomos com Ravi para a sala onde ele ficaria até a liberação do médico. Encostei
ao lado do meu filho e em silêncio agradeci por estar bem. Ele era tão pequenino e frágil. Eu trocaria
de lugar com ele quantas vezes fossem preciso para não o ver sofrer.

Estava perdida em minhas orações quando Daniel se aproximou, juntando-se a mim. Por um
instante eu havia me esquecido de sua presença e até mesmo de agradecê-lo.

— Obrigada por estar aqui comigo! — Uma lágrima solitária rolou pelo meu rosto.

— Isis, eu preciso muito que você confie em mim. — Ele fez meu coração disparar. — Quero,

do fundo do meu coração, que acredite no que vou te falar agora. — Só ele conseguia me fazer sentir
daquela maneira. — Tudo o que eu mais desejo na minha vida são vocês dois ao meu lado. Eu te amo
e ao Ravi mais que tudo, mais que a mim mesmo.

— Eu também te amo — admiti, sussurrando e mais lágrimas rolaram pelo meu rosto. — Eu te

quero e preciso de você ao meu lado, Daniel. — Ele respirou ofegante. — Nós precisamos
conversar. Tenho algumas coisas importantes para te contar e revelar. Prometo ser sincera e te falar
toda a verdade dessa vez.

Seus lábios se chocaram com os meus. Arfei de desejo em sua boca. Minhas lágrimas
molhavam o seu rosto. Nosso beijo era perfeito e cheio de significados: recomeço, promessa, paixão,
saudade... Segurei seu rosto entre as minhas mãos, querendo senti-lo ao meu toque. Daniel, arfando,
murmurou que me amava entre uma respiração e outra. Nós precisávamos um do outro tanto quanto
do ar que respirávamos para sobreviver.

— Estamos em um consultório médico — murmurei, ao ouvir o chorinho de Ravi, que se


remexia na pequena maca.

— Ei, garotão, não precisa chorar, o papai e a mamãe estão aqui com você. — Nosso filho
voltou a ficar quieto ao reconhecer a voz de Daniel, que acariciou sua barriguinha.

Assistir aquela cena fez o meu coração quase explodir de tanta felicidade. Algumas horas
depois Ravi recebeu alta e voltamos para casa.
Daniel

Assim que chegamos à casa de Isis, Ravi já estava dormindo tranquilo, sem qualquer resquício
da dor e do choro de algumas horas atrás. Ela pediu para que eu a aguardasse na sala e levou o

garoto até o quarto para que dormisse mais, nos dando privacidade para a nossa tão temida e
definitiva conversa.

Aguardei longos minutos até ela se juntar a mim. Isis parecia preocupada e seus ombros caídos
denotavam cansaço. Passou por mim sem dizer nada e foi se sentar no sofá de três lugares, disposto à

frente da televisão. Eu a segui e me sentei em uma poltrona de frente para ela.

— Parece que não é só você que gosta de girassóis por aqui — brinquei, tentando amenizar a
tensão que havia se instalado entre nós, me referindo ao arranjo de flores em cima do aparador no
canto da sala.

— Foram meus pais que me ensinaram a apreciá-los e tudo que sei sobre eles — disse,
olhando na mesma direção que eu. — Eles se conheceram em um campo de girassóis em uma cidade
do interior e então a flor se tornou o símbolo do amor deles.

— E do nosso também — falei me referindo ao arranjo com que a presenteei na nossa primeira
e até agora única vez. Mas eu pretendia compensar esse atraso em breve.

Isis respirou fundo, olhou das flores para mim e então começou a chorar. Enfim teríamos
aquela conversa esclarecedora.

— Ravi é mesmo seu filho.

— Eu sei. — A interrompi, levantando a lateral da minha camisa e revelando um sinal no lado


direito do meu abdome, idêntico ao do nosso filho. — É uma marca de nascença da família do meu
pai. Todo Leblanc nasce com ela. Como ele costuma brincar às vezes, ela identifica todo legitimo
Leblanc.

— Então, você sempre soube? — concluiu surpresa.

— Desde antes de ele nascer, Isis. Sua tentativa de mentir para mim e me enganar foi um

verdadeiro fracasso. — Senti como se mil lanças atravessassem o meu corpo, ao me lembrar de tudo
o que ela vinha fazendo comigo. — A marca dos Leblanc só veio confirmar o que eu já sabia. Eu até
tentei te contar no hospital quando disse que agora, mais do que nunca, eu tinha certeza de que ele era
meu filho. Entretanto, você não deu muita bola para o que eu disse. Parecia estar mesmo disposta a

me machucar.

— Eu sinto muito — proferiu, com a voz embargada.

— Por que, Isis?

Senti-me apreensivo, a sua resposta poderia transformar toda a nossa vida.

— Quando eu descobri que estaca grávida, fui até a casa de seus pais para obter uma forma de
entrar em contato com você e te contar que estava esperando um filho seu. — Fiquei estático e
inquieto com o que ela iria me dizer. — Eles não estavam. Seu pai havia ido ao médico e sua mão foi

acompanhá-lo. Eu fui recebida pela sua irmã. Não sei se você sabe, mas ela não gosta muito de mim.
Desenvolveu um ódio gratuito a minha pessoa, que ela acabou, nesse dia mesmo, admitindo o motivo:
eu ser pobre e, mesmo assim, me sobressair na faculdade.

Eu estava confuso. Não estava conseguindo entender direito. Eu sabia que minha irmã tinha
mesmo essa mania horrível de humilhar e se desfazer de pessoas de classes sociais menos
favorecidas que a nossa. Uma vez até cheguei a conversar com meu pai e Maitê sobre procurarem um
tratamento para ela, pois aquilo já estava ficando doentio e obsessivo. Mas, afinal, o que Vanessa
tinha a ver com toda aquela nossa história?
— Desculpa interromper, Isis, mas não estou entendendo aonde você quer chegar? O que minha

irmã tem a ver com isso tudo?

Vi quando abaixou a cabeça e começou a chorar. Eu me ajoelhei de frente para o sofá em que
estava sentada e segurei seu rosto entre minhas mãos, fazendo-a olhar para mim.

— Ela me maltratou, humilhou e disse coisas horríveis sobre você. — Senti meu coração parar
de bater. — Que sempre que vinha para o Brasil ficava com várias mulheres e, quando ia embora,
muitas garotas da mesma classe social que eu, procuravam pela sua família se dizendo grávidas e que

sua exigência era sempre para que fizessem um aborto. Que muitas delas só queriam mesmo era dar o
golpe da barriga. Que eu não era a primeira e nem seria a última. — Meu corpo congelou. — Que
você era noivo, amava sua noiva e que iriam se casar assim que voltasse ao Brasil. E que se eu
insistisse em ter o bebê e você descobrisse, iria tomar Ravi de mim e criar junto com a tal Deborah,
que não pode ter filhos.

As coisas que ela acabara de me dizer dançavam na frente dos meus olhos, como estrelas. Uma
parte de mim havia entendido muito bem o que ela havia me dito, mas a outra se recusava a acreditar
que Vanessa fosse tão cruel ao ponto de fazer aquilo. Tentei falar algo, mas minha voz estava

embargada e não consegui, deixando apenas que lágrimas rolassem dos meus olhos.

— Ela me expulsou de lá, mas antes que eu fosse embora a sua noiva chegou, nós fomos
apresentadas e ela não negou o compromisso. — Engasgou-se. — Eu saí daquele lugar muito
humilhada e com muito medo. Juntei toda a força e a dignidade que me restavam e prometi ao meu
filho que iria protegê-lo e que ninguém, nem mesmo você com todo o seu dinheiro e poder, o
tomariam de mim.

— Nosso filho, Isis! — gritei puto da vida. — Ele é nosso, não é só seu. Por que você não me
procurou para me dar o direito de defesa? Poderia ter me achado pelas redes sociais como eu te
achei. Como pode preferir acreditar em alguém que dizia te odiar, do que ouvir o meu lado da
história?

— Eu estava com muito medo de perder o Ravi. Vocês são ricos e poderosos e com a
influência da sua família, vocês poderiam me tirar nosso filho — argumentou. — Não imagine que

não pensei em te procurar durante esse tempo todo. Eu me sentia uma covarde por não te contar. Lutei
várias vezes contra esse sentimento, mas eu sempre acabava me convencendo de que eu havia feito a
coisa certa para não perder Ravi — gritou, me assustando. — Quanto às redes sociais, eu achei
impessoal demais contar que estava grávida por lá. Jamais faria isso! Quem em sã consciência daria

uma notícia dessas por uma mensagem nas redes?

— Você poderia ter se identificado, me passado seu telefone, pedido para eu te ligar e então
ter me dado a notícia. — Minha voz vacilou.

— Eu achei que conseguiria falar com seus pais e que receberia o apoio deles para falar com
você. Nunca pensei que teria que travar a guerra pessoal que travei com Vanessa. — Segurou em
minha mão entrelaçando os nossos dedos. — Depois que o estrago havia sido feito, eu me acovardei.
E mesmo que tivesse te procurado e achado nas redes sociais, eu não teria coragem de falar com

você, por medo de que me tomasse nosso filho.

Soltei nossas mãos e me afastei, andando de um lado para o outro da sala, desesperado,
passando as mãos pelos meus cabelos. Vanessa não podia ter feito aquilo. Dessa vez ela havia ido
longe demais. Como ela podia ser tão cruel e horrível daquela maneira?

— Droga! — Xinguei descontrolado, dando um murro na parede.

Meu mundo estava desabando. Senti Isis se aproximar e me abraçar. Meu corpo inteiro tremia.
Soltei um gemido rouco e constatei que era ela quem estava me consolando, em um momento em que
eu é que deveria ser forte e consolá-la.
— Eu não sou e nunca fui noivo, muito menos esse monstro que Vanessa pintou para você —

disse me sentindo impotente. — Deborah é só uma garota ingênua que se apaixonou por mim quando

criança, acreditou em uma brincadeira entre nossos pais, que estavam bêbados, e alimentou essa
esperança até o fim. Outra hora eu te conto tudo com mais detalhes. Mas já conversamos e ela

entendeu que não existe qualquer chance desse noivado acontecer de fato. Pelo menos, com ela você
não precisa se preocupar mais. — Tentei sossegá-la. — Agora, eu preciso ir — falei, após me
acalmar um pouco mais, me afastando dela. — Cuida bem de Ravi até eu voltar — pedi, beijando de
leve a sua testa.

— Onde você vai? — questionou, preocupada.

— Fazer o que tem que ser feito. — Senti necessidade de reafirmar o meu amor. — Apesar de
tudo, de ter me excluído da sua vida e da gravidez, achar que estaria melhor sem mim e ter mentido
sobre a paternidade do nosso filho, eu ainda amo muito vocês dois.

Saí de sua casa atordoado e sem olhar para trás, principalmente, por saber que Vanessa tinha
feito o que fez. Eu estava destroçado, mas não esmoreceria. Eu precisava me manter forte para
confrontá-la com toda a sua soberba e prepotência.
Daniel

Fiquei um tempo sentado no meu carro, em frente à casa dos meus pais, pensando em tudo o
que Isis havia me contado. Durante o caminho tentei entender o que havia acontecido para Vanessa

fazer aquilo. Eu já havia percebido que tinha algo de errado com ela, que não andava muito bem da
cabeça e até já havia alertado meu pai para que conversasse com Maitê sobre isso, mas no fundo eu
não queria acreditar que ela tivesse sido capaz de fazer algo tão horrível. Tentei me acalmar antes de
entrar para não fazer nenhuma besteira. Desci do carro, respirei fundo e entrei com determinação.

— Você é doente. — Foram as primeiras palavras que consegui dizer, apontando em sua
direção. — Como pode inventar todas aquelas histórias horríveis sobre mim para me separar de Isis
e do meu filho? — Um nó se formou em minha garganta. — Se você tentar fazer mais alguma coisa
para atrapalhar minha vida com os dois de novo vai se ver comigo. Entendeu? — Berrei.

Meu pai e Maitê me olharam assustados, sem entender direito o que estava acontecendo.

— Eu fiz isso para o seu bem. Eu nunca ia deixar aquela pobrinha insolente te dar o golpe da
barriga. — Tossiu engasgada. — Uma mulherzinha sem classe nenhuma, que não tem onde cair morta,

se casar com um Leblanc. Onde já se viu isso? Não acredito que você esteja sendo tão idiota, fraco e
burro a ponto de acreditar nas mentiras dela. Ela só quer te dar o golpe da barriga!

Ela falava como se fosse a dona da verdade, acima do bem e do mal, mas estava muito
enganada sobre tudo, inclusive sobre mim, Isis e Ravi.

— Eu nunca devia ter deixado aquela pé rapado ter levado a gravidez adiante. Devia tê-la
obrigado a fazer um aborto, sofrer um acidente, ou algo do tipo. — Parti para cima dela, mas meu pai
me segurou. — Vai se tornar um homem covarde e vai me bater, agora? Tudo por causa daquela lá —
falou com desdém. — Pensei que éramos família e que deveríamos prezar por ela. Que eu me lembre
foi isso que nosso pai nos ensinou.

Contive-me diante de suas palavras e o olhar assustado de nossos pais.

— Você é maluca, precisa se tratar.

— E se for? Cada um luta com as armas que tem em prol do bem da família. Fiz isso por todos
nós. Você ainda vai me pedir perdão por não ter acreditado em mim. — Se apoiou na mesa. — Vai
mesmo assumir o bastardo? — Me provocou ainda mais.

— Não fale assim do meu filho. — gritei descontrolado. — Se você diz tanto prezar pela
família, não devia falar assim dele, ele é seu sobrinho. Um legítimo Leblanc, como você tanto queria
ser. — disse entre dentes.

— Agora vai me jogar isso na cara assim. Daqui a pouco vai sair contando para todo mundo,
não é mesmo? — Se exaltou. — Para mim ele não é e nem nunca será um Leblanc. Eu não reconheço
e nem vou reconhecer aquele fedelho como meu sobrinho. Aliás, acho que você devia pedir um
exame de DNA. Gente como aquela lá é capaz de tudo.

— Quer saber? Não vou mais perder tempo com você e essa sua arrogância, prepotência e

ignorância — acrescentei. — Você devia assumir que não está nada bem e procurar por ajuda
psiquiátrica.

Virei-me de costas para sair quando me ocorreu uma coisa sobre algo que Vanessa havia
falado.

— Por acaso foi você quem causou o acidente que quase a fez perder meu filho? — Olhei-a
com intensidade.

— É claro que não! — Foi enfática. — Se tivesse sido eu, o serviço teria sido muito mais bem
feito e não teria sobrado nada dela, nem do bebê.

— Você precisa de tratamento urgente. Fique longe dos dois, Vanessa — ameacei. — Se eu
souber que tentou importuná-los de alguma forma, eu mando te internar. — Ela olhou para a minha
cara e riu com sarcasmo.

— Vocês ouviram as coisas que ela disse? — Voltei-me para os nossos pais. — Estão
esperando o que para tomar alguma providência? Que Vanessa pire de vez e mate alguém por conta
dessa obsessão?

Saí batendo a porta atrás de mim, sem sequer olhar para trás. Quando estava entrando em meu
carro, meu pai gritou da porta.

— Meu neto está bem?

— Sim. E sua nora também. — Sorri de canto de boca e arqueei uma sobrancelha. — O senhor
tinha razão mais uma vez. Segui seu conselho e nós nos acertamos. Em breve você e Maitê terão a
oportunidade de conhecê-los.

Um sorriso de contentamento despontou em seu rosto, dei partida no carro e segui em direção a

casa em que estava a minha família. Era hora de ficarmos juntos em definitivo. A partir de agora, eu
morreria se preciso fosse para protegê-los.
Isis

À noite, Daniel voltou a minha casa e contou a mim e aos meus pais toda a conversa que havia
tido com sua irmã Vanessa. Não nos escondeu nada e aproveitamos para contar aos meus pais que,

finalmente, havíamos nos acertado, que eu havia contado toda a verdade a ele. Aproveitou também
para se explicar sobre a história do noivado e tudo o que ela havia inventado a seu respeito. Triste,
acrescentou que achava que ela não estava muito bem de saúde, mas não deu muitos detalhes.

Depois, minha mãe se ofereceu para passear um pouquinho com Ravi na pracinha perto de casa

para que eu e Daniel pudéssemos conversar melhor. É claro que ela também deu um jeito de levar
meu pai junto. Dona Leonor estava se saindo um belo cupido casamenteiro.

Fomos até o meu quarto para ficarmos mais à vontade. Daniel se aproximou da cama onde eu
estava sentada, fazendo minha respiração acelerar em antecipação. Não recuei, sentindo o fogo da
paixão arder em meus olhos. Ele deslizou as mãos pelos meus cabelos e braços, me fazendo tremer.

— Eu te quero tanto — confessou. — Esperei tanto por esse momento durante todo o tempo
que estive na Suíça. A minha ideia era chegar aqui e te procurar para recomeçarmos de onde

paramos.

— Então, prova. Me beija.

Ele deslizou as mãos pelas minhas costas e me puxou de encontro a si, sorrindo de leve, me
fazendo relaxar em seus braços.

Levei minhas mãos até as alças do meu vestido e removendo-as dos ombros, deixei que caísse
até o chão, ficando só de calcinha e sutiã. Ele me abraçou, pressionando seu corpo contra o meu e
sua boca devorou os meus lábios. Deixei que sua língua invadisse a minha, sentindo o quanto eu era
desejada.
Segurei a barra de sua camiseta, Daniel ergueu os braços e eu a removi pela sua cabeça. Soltei

um gemido rouco e ele voltou a pressionar seu corpo ao meu, intensificando ainda mais o nosso

beijo. Ele grunhiu quando passei as unhas pela sua pele. Olhou-me nos olhos, cheio de desejo e
beijou o meu pescoço, queixo e canto da boca. Segurou meus seios e se deliciou neles, lambendo os

bicos até ficarem rígidos, depois os beijou e mordiscou.

Foi abaixando, deslizando a língua pela minha barriga, me fazendo arquear o quadril e abrir
um pouco mais as pernas. Ficou de joelhos e finalmente se deliciou no meu sexo. Começou com
movimentos lentos, enquanto eu agarrava seus cabelos com mãos ávidas e então chupou meu clitóris.

Gritei seu nome, ofegante, quando ele enfiou um dedo em mim enquanto continuava a me
chupar. Levou uma das mãos até o meu seio e com a outra me penetrou com outro dedo. Então,
prendeu meu clitóris em seus lábios e eu me desmanchei em um orgasmo avassalador, ficando toda
molhada e lambuzada para ele.

— Eu te amo — sussurrou ao me ver saciada.

Nossas bocas se chocaram de novo, sem nenhum pudor. O empurrei sobre a cama, derrubando-
o no colchão, retirando sua calça jeans, deixando-o só de cueca. Sorri maliciosa, meus olhos

pousaram sobre o seu pau e o segurei entre os meus dedos, ainda sob o tecido da sua boxer. Ele a
removeu com rapidez, dessa vez colocou um preservativo. Deitou-me sobre a cama e pairando sobre
mim, me penetrou devagar, lento e paciente, aprofundando-se dentro de mim como se fosse a nossa
primeira vez.

Arfei, empurrando meu quadril contra o dele, implorando por mais. Daniel acelerou suas
estocadas, metendo cada vez mais fundo. Minha respiração ficou descompassada e finquei as unhas
nas suas costas. Inclinei minha cabeça e me perdi de prazer. Meus gemidos se tornaram gritos que
foram abafados pela sua boca. Atingi o clímax, mordendo meu lábio inferior e então Daniel também
se entregou a um gozo intenso.

— Isis... — plantou um beijo carinhoso nos meus lábios. — Eu quero você e Ravi comigo.

— Como assim?

— Quero que se mudem para o meu apartamento. Podemos nos casar, noivar, compromissar,
nos unir... O que você quiser. Eu só quero que sejamos uma família de verdade, pelo resto de nossas
vidas. Eu amo você, o nosso filho e acho, depois de tudo o que passamos, que merecemos uma nova
chance.

— Eu e Ravi aceitamos — respondi ao seu pedido com lágrimas de felicidade e emoção


rolando pelo meu rosto. Plantei um beijo demorado e carinhoso nos seus lábios e o abracei.

Naquela noite Daniel dormiu comigo e Ravi na casa de meus pais.


Daniel

Uma semana depois que Isis confiou em mim e, finalmente, nos acertamos, minha mulher e meu
filho se mudariam em definitivo para o me apartamento. A nossa casa, o nosso lar... Enfim, éramos

uma família de verdade e feliz.

Combinei com ela que deixasse tudo pronto que no final da tarde, após o expediente na
Leblanc International, eu passaria na casa de seus pais para buscar os dois. Minha mãe, era assim
que eu chamava Maitê, minha ex-professora e segunda esposa de meu pai, desde que ela entrara em

nossas vidas e isso não iria mudar só porque era mãe de Vanessa, pois ela não tinha culpa dos erros,
ou melhor, das loucuras da filha, providenciou uma boa faxineira para ajeitar tudo em minha casa e
me ajudou a preparar algumas surpresas especiais de boas-vindas para Isis.

Confesso que eu estava muito ansioso. Se pudesse já estaria com eles, curtindo minha casa e
minha família. Mas o dever me chamava e eu tinha que zelar pelo patrimônio que meu pai havia
construído, afinal, desde que ele se aposentara por motivos de saúde, eu agora era o CEO da maior
empresa do ramo hoteleiro do país e quiçá do mundo, pois já tínhamos algumas unidades no exterior
e pretendíamos expandir ainda mais.

Justo naquele dia tão especial, minha agenda estava repleta de reuniões e compromissos
importantes que não poderiam ser adiados. Parecia que as horas se arrastavam e que o final do
expediente nunca chegaria. Enfim, ele chegou e na hora combinada, lá estava eu, na casa do senhor
Joaquim e dona Leonor, buscando minha futura esposa e meu filho, porque sim, nós iriamos nos
casar. Ainda não havíamos decidido quando, entretanto, eu fazia questão disso.

Os olhos de Isis ao entrar no apartamento todo decorado com arranjos de girassóis por todos
os cantos foi a coisa mais linda de se ver.
— Sua flor preferida. — Acariciei seu rosto com o meu polegar. — Para trazer sorte, boas

vibrações, sucesso, longevidade e calor para o nosso lar e nossa família.

— Acho que alguém aqui andou pesquisando sobre girassóis. — Brincou, segurando nosso
filho em um dos braços e enlaçando meu pescoço com o outro, desferindo um beijo casto em meus

lábios.

— Eu me rendo. — Levei os braços ao alto, entrando na brincadeira. — Confesso que você


falou tanto sobre eles, que fiquei curioso. — Ela gargalhou e seu riso gostoso ecoou pela sala. —

Mas as surpresas não param por aqui. — Peguei em sua mão e a conduzi a um dos quartos que ficava
ao lado do nosso.

— Meu Deus, Dani! – ela começou a me chamar assim desde que decidimos ficar juntos – Isso
é muito lindo! — Rodopiou com Ravi nos braços, se atentando aos mínimos detalhes do quarto que
havíamos, eu, Maitê e uma decoradora, preparado para a chegada do nosso filho.

Confesso que minha participação foi bem pequena, apenas disse que queria algo bonito e
confortável para Ravi e de fácil acesso, funcionalidade e otimização do ambiente para Isis. De resto,
minha mãe e a decoradora haviam feito um excelente trabalho. Fiquei surpreso e encantado com o

resultado e parece que despertou o mesmo em minha mulher, que parecia deslumbrada com tudo.

As paredes haviam sido pintadas em um tom suave de bege e atrás do bercinho em madeira de
duas cores, branca e natural, posicionado no centro, com a cabeceira encostada na parede, foi feito
um barrado listrado em azul claro e branco. Havia também uma cômoda com trocador nas mesmas
cores do berço, um pequeno guarda-roupa planejado, uma poltrona com banqueta para amamentação,
em um tom de bege um pouco mais claro que as paredes, nichos e prateleiras brancas espalhados
pelo quarto para acomodar brinquedos e enfeites na cor azul, um tapete redondo, nos mesmos tons do
barrado listrado, na janela uma cortina branca e leve, para o ambiente receber luz natural e, sobre a
cômoda, um abajur para iluminar o quarto a noite.

— Você sabe que pode mudar o que quiser, não é mesmo? — Voltei a me aproximar dela, eu
não conseguia mais me manter muito tempo afastado dos dois. — O que quiser... Na casa inteira.
Quero que se sinta bem aqui. Se quiser colocar papel de parede de girassóis pela casa inteira e

plantar centenas de vasos deles na sacada, fique à vontade. — Brinquei para descontrair, abraçando-
a logo em seguida. — Casa de homem que mora sozinho é sempre muito impessoal, mas quero que
aos poucos você vá dando seu toque feminino pelo apartamento. — Afastei-me um pouco, afaguei o
rostinho de Ravi e beijei a testa de Isis. — Sejam bem-vindos ao nosso mundinho! — Nos beijamos

com paixão.

— Ele dormiu? — perguntei ansioso, assim que Isis entrou no nosso quarto.

— Sim. Agora deve acordar só daqui umas três horas para a próxima mamada — respondeu,

deitando e se aninhando a mim sobre a cama.

— Então, acho que essa é a hora em que o papai recebe a atenção da mamãe. — Seus olhos
brilharam em antecipação.

Curvei minha boca em um sorriso sacana e não pensei duas vezes, choquei nossos corpos,
puxando-a para baixo de mim, enrolando minhas mãos na sua cintura, enquanto ela bagunçava os
meus cabelos molhados. Movi meu corpo sobre o dela e mordisquei seu queixo. Isis deu um suspiro
profundo, me acendendo por inteiro. Estava louco para preenchê-la mais uma vez.
Isis passou a mão pela minha bunda, mostrando que também estava pronta para a nossa

primeira rodada da noite. Tirei seu vestido pela cabeça e depois a lingerie. Ela me ajudou a tirar a

cueca, única peça que eu estava usando, era assim que costumava dormir na época do calor.

Estiquei o braço, alcançando a mesa de cabeceira ao lado da cama e peguei um preservativo.

Não que eu não quisesse mais filhos, eu queria sim, muitos, todos com aquela mulher maravilhosa
nos meus braços, mas Ravi ainda era muito pequeno e tínhamos que aproveitar um pouco mais o
início de nossa vida de casados. Se com um bebê já era um pouco complicado, pois tínhamos que nos
habituar, adaptar e moldar ao ritmo e horários dele, imagina com mais de um.

Posicionei meu corpo sobre o dela, que de imediato enrolou as pernas na minha cintura, e a
penetrei sem preliminares, pois já estava pronta para mim, toda molhadinha. Isis nunca me
decepcionara nesse quesito, desde a primeira vez. Assim que me enterrei por completo em sua
bocetinha, tive que respirar fundo e me controlar, pois ela se contraiu, apertando o meu pau.

Alcancei seu clitóris e comecei a acariciá-lo com os dedos. Sussurrei palavrões em seu
ouvido e senti seu orgasmo começar a se formar quando seus músculos se enrijeceram, tornando
quase insuportável a espera pelo prazer que viria. Reduzi minhas investidas para não gozar antes

dela.

Desci minha mão pelo seu traseiro, apertando-o com vontade, enquanto ela soltava um suspiro
de puro tesão. Metia cada vez mais fundo na medida em que Isis rebolava embaixo de mim. Senti-a
tremer e a vi alcançar o ápice, gemendo meu nome. Logo em seguida, liberei minha porra que encheu
a camisinha. Caímos ambos exaustos na cama, mas com um sorriso de satisfação maior que o outro.
Acordei no meio da noite, sozinho na cama. Preocupado, saí à procura de Isis. Será que havia
acontecido algo com Ravi? Quando entrei no quarto dele, fiquei em êxtase. Minha mulher dormia
sentada na poltrona, com os seios de fora e meu filho em seus braços. Provavelmente havia

adormecido durante a amamentação. Fiquei mais algum tempo observando as duas pessoas mais
importantes da minha vida.

Ponderei em como tudo havia mudado rápido em tão pouco tempo. Quando conheci Isis e

tivemos nossa primeira noite juntos, que era para ter sido só sexo casual, mas não foi, percebi de
imediato o quanto era diferente e especial, mas naquela ocasião jamais me imaginaria casado com
ela, sendo o pai de seu filho.

Obstáculos haviam sido colocados em nossos caminhos para nos separar. Coisas que eu nem
imaginava de que minha irmã fosse capaz de fazer. Aliás, era cruel demais imaginar qualquer pessoa
separando daquela maneira pai e filho. Mas quando é para ser, não tem jeito, ninguém segura. Nada
pode separar almas que se encontram e se completam. E foi isso que aconteceu com a gente.

Aproximei-me um pouco mais e fitei seu lindo rosto iluminado pela fraca luz do abajur. Isis

era perfeita para mim, uma das mulheres mais lindas que eu já havia visto. E olha que foram muitas
as que passaram por minha vida e que agora pertenciam a um passado sem volta. Seu semblante
estava um pouco cansado e abatido. Pudera! Cuidar de um bebê tão novo e dependente não devia ser
nada fácil, mas nada que diminuísse a sua beleza e encanto.

— Ei, mocinha, não acha que devia dormir na cama? — Me aproximei, sussurrando no seu
ouvido, tirando com cuidado Ravi de seus braços e colocando-o de volta no berço.

— Meu Deus! Acho que adormeci durante a última mamada — respondeu o óbvio, com um
sorriso que aqueceu a minha alma.
Fui até ela, acariciei seu rosto, depositei um beijo casto em seus lábios e, pegando-a em meus

braços, levei-a de volta para a nossa cama. Ela se aconchegou em meu peito e adormecemos

abraçados e felizes. Pelo menos até a próxima mamada.


Isis

Em uma manhã de domingo, entrei distraída na sala do nosso apartamento, com Ravi nos
braços, na intenção de levá-lo para tomar um pouco de sol na sacada. Quando me aproximei, sem

querer escutei Daniel falando ao telefone e acabei ouvindo um pouco da sua conversa, sem que ele
percebesse a minha presença.

— Não sei, pai. Depois de tudo o que Vanessa fez, não quero que tenha contato direto com
minha mulher e meu filho — dizia ele.

Ficou quieto, com certeza, ouvindo o que o senhor Álvaro Leblanc falava do outro lado da
linha.

— Tem certeza de que ela não vai mesmo estar em casa?

Meu coração se apertou ao vê-lo reticente e prestes a negar algo a seu pai. A ligação entre os
dois parecia ser muito forte, além de o outro estar doente e sabe-se lá por quanto tempo mais viveria.
Daniel me contou que seu pai havia sido acometido por um tipo de câncer muito agressivo, daí a
necessidade de parar de trabalhar.

— Ok, diga a Maitê que vou conversar com Isis e depois dou a resposta. Mas não garanto
nada, pai. Se Isis não se sentir confortável em ir, não irei forçá-la.

Percebi certa tristeza em sua voz, nenhum filho deveria ser forçado a viver longe de seu pai
por nenhuma circunstância e eu havia sentido isso na pele. Quase separei Daniel e Ravi e hoje, vendo
a conexão que existe entre os dois, me arrependo muito de ter tentado fazer isso. Claro que eram
situações bem distintas, mas de qualquer maneira tinha ligação com algo muito sublime, como o amor
entre pai e filho.
Entrei na sacada no momento em que Daniel desligava o seu celular. Ele me olhou surpreso e

assustado.

— Faz tempo que você está aí?

— O suficiente — afirmei.

— Ouviu a conversa? — confirmei com um aceno de cabeça. — Era meu pai. Ele e minha mãe
querem conhecer você e Ravi. Nos convidaram para um almoço na casa deles no próximo sábado.
Segundo ele, Vanessa tem o aniversário de um amigo para ir e não estará presente.

— Então nós vamos — afirmei, caminhando em sua direção. — Não é justo que se afaste dos
seus pais por nossa causa. Além do mais, eles são avós de Ravi, vai fazer bem para o nosso filho
conhecer e conviver com os dois. Família é um laço muito importante na vida de qualquer pessoa.

— Você sabe que não precisa fazer isso se não quiser, não é mesmo? O que Vanessa fez para
nós, a maneira como te humilhou e fala do nosso filho, é imperdoável. Nem gosto de lembrar.

— Seus pais não têm que pagar pelos erros da sua irmã. E eu também gostaria de conhecê-los,
parecem ser pessoas do bem. E se ela não vai estar lá, não vejo problema nenhum irmos. — Daniel

se aproximou, dando um beijo em minha testa.

— Obrigada por ser sempre tão compreensiva e maravilhosa.

— Deve ser porque eu te amo.

— Eu te amo mais.
Chegou o sábado em que eu conheceria meus sogros. Confesso que estava um pouco ansiosa e
apreensiva por aquele momento.

— Tem mesmo certeza de que quer ir? Posso inventar uma desculpa qualquer para não irmos.
— Sugeriu Daniel, ainda preocupado por eu estar me sentindo obrigada aquilo.

— Não há necessidade. Fique tranquilo, não estou me sentindo forçada a ir. Estou indo porque
quero. Eu e Ravi queremos conhecê-los — respondi mais uma vez.

Assim que chegamos em frente à casa, Daniel estacionou e desceu do carro, vindo abrir a porta
para mim e me ajudar a descer com Ravi e todas as suas coisas. Carregávamos uma mudança cada
vez que saíamos com ele. Nunca se sabe do que uma criança vai precisar.

— Que bom que vocês vieram. Eu e seu pai ficamos superfelizes — disse sua mãe ao atender a
porta.

— Isis acabou me convencendo a vir. — Ela sorriu olhando em minha direção.

— Obrigada, minha querida.

— Eles chegaram? Deixe-me conhecer meu neto e minha nora. — Foi a vez do pai de Daniel
vir até nós, me fazendo constatar o quanto eram parecidos fisicamente e Ravi ia pelo mesmo
caminho. — Estou vendo que meu filho não exagerou, você é mesmo linda, Isis. — Meio sem jeito,
eu nada disse, apenas sorri.

— Isis, esses são os meus pais, Álvaro e Maitê Leblanc. — Daniel fez a apresentação formal e
nós sorrimos uns para os outros.

A mulher olhou para Ravi em meus braços e se aproximou. Em um primeiro momento tive
vontade de afastá-la e sair correndo. Ela era mãe de Vanessa Leblanc. Como eu poderia saber se não
pensavam de maneira semelhante a filha? Tive muito medo quando ela o pegou dos meus braços, mas

Daniel fez um sinal de com a cabeça para que eu deixasse, me tranquilizando.

— Ele se parece muito com Daniel. — Sorri, concordando com a sua constatação. Ravi era

mesmo a cara do pai, do jeito que eu queria e sonhara. — E tem seus olhos. — Sim, ele tinha os meus
olhos. Acho que era a única coisa no meu filho que se parecia comigo, de resto era uma cópia
autêntica do homem que eu amava.

Maitê então se virou de costas, voltando-se para dentro da casa e nos convidou para entrar. Já
sentados na sala, foi a vez do senhor Álvaro pegar meu filho no colo, se emocionando e ficando com
os olhos cheios de lágrimas.

— Isis, minha querida, eu gostaria muito de me desculpar com você pelo que minha filha te fez.
Não sei o que deu em Vanessa. De uma hora para outra, temos tidos muitos problemas com ela,
inclusive no que diz respeito a comportamento com algumas pessoas. — Parecendo envergonhada, a
minha sogra tentou se desculpar. — Até já sugerimos que procure por um psicólogo, mas ela está
reticente sobre isso. Diz até que não é maluca. Imagine, só.

— Tudo bem, já passou. — Assegurei-a. — Você não tem que se desculpar e nem tem culpa
dos erros de sua filha. Quanto ao tratamento, pelo pouco que convivi com Vanessa e as coisas que
Daniel me contou, talvez seja bom vocês insistirem um pouco mais.

— Vamos parar de falar de quem não está aqui — opinou Daniel. — Por que não mudamos de
assunto? — sugeriu.

E assim foi. Não se falou mais em Vanessa. Almoçamos e passamos uma tarde bem agradável
na mansão dos Leblanc. Meus sogros não conseguiam desgrudar de Ravi, que com suas gracinhas de
bebê havia conquistado a todos. Já estávamos nos preparando para ir embora e nos despedindo para
não corrermos o risco de termos um encontro desagradável com Vanessa, quando ela chegou.

— A família Leblanc reunida. — Começou a bater palmas como se estivesse nos aplaudindo.
— Que maravilha! Percebo que começo a ser excluída dela.
Daniel

— Deixa de história, Vanessa. Ninguém aqui está te excluindo de nada. Foi você quem
escolheu assim ao renegar meu filho como seu sobrinho — ralhei, sem paciência.

— Pare de bobeira, filha, venha conhecer o seu sobrinho. Olha que lindo ele é. O nome dele é
Ravi — disse minha mãe segurando meu filho nos braços e se aproximando de minha irmã.

Depois de tudo o que ela me disse na última vez que nos vimos e discutimos feio, confesso que

fiquei preocupado com tamanha proximidade.

— Eu já disse para Daniel que eu não quero saber desse bastardo, filho dessa pobrinha
insuportável.

Fiquei indignado e meu coração se apertou com suas palavras. Aproximei-me de Isis e a
abracei apertado, para mostrar que eu estava ali e que tudo ficaria bem. Mesmo que nem mesmo eu
tivesse tanta certeza daquilo, eu precisava demonstrar meu apoio a ela de alguma maneira. E foi isso
que fiz. Ou pelo menos tentei fazer. Senti seu corpo tremer e não era de frio. O medo estava evidente
no seu rosto e olhos.

— Olhe para ele — exigiu, meu pai. — Ele é seu sobrinho, tem o sangue dos Leblanc correndo
nas veias — insistiu.

— Eu não o reconheço como um Leblanc — observou. — Tenho certeza de que é golpe da


barriga dessa daí. Se eu fosse vocês, pediria o exame de DNA.

Suas ofensas a minha mulher e meu filho me feriram mais do que eu imaginei. Tirei Ravi dos
braços de Maitê e o entreguei a Isis, que engoliu o choro e respirou fundo. Ela estava sofrendo tanto
quanto eu pela indiferença com que Vanessa estava tratando nosso filho. Minha mulher o segurou
forte contra o peito e eu não consegui segurar.
— Você não o reconhece como um Leblanc porque não é uma de nós, sendo assim jamais

saberia reconhecer um. — Seus olhos me encararam assustados. — Meu filho é um Leblanc legítimo.
— Levantei sua blusinha e a minha camisa ao mesmo tempo, para que ela visse a marca. — Ele tem a
marca de nascença da nossa família. Coisa que você não tem, porque só herdou nosso sobrenome

porque meu pai ficou com pena e te assumiu como filha dele, porque seu verdadeiro pai não quis te
assumir. Você não tem o sangue dos Leblanc correndo nas suas veias.

— Não acredito que você está revelando o meu segredo na frente dessa aí — Berrou aos

prantos e desesperada. — Eu falei que essa mulher só ia trazer o mal e desavenças para a nossa
família. Olhem só o que ela está fazendo com a gente. — Virou-se na direção de Isis. — Satisfeita
agora que sabe que eu sou uma farsa? Parabéns, você já pode sair contando tudo para seus amigos
pobrinhos. Podem rir a vontade de mim pelas costas. — Subiu a escada correndo e bateu à porta do
quarto.

— Vanessa, minha filha, nós precisamos conversar. — Maitê subiu as escadas correndo atrás
dela.

— Me desculpe, pai. Eu sinto muito. — Passei as mãos pelo rosto me sentindo arrasado. — Eu

não aguentei ver ela se desfazer do meu filho calado. Peça desculpa para a Maitê por mim. Estava na
hora de alguém falar umas verdades para Vanessa e a colocar no seu devido lugar.

Passei por uma Isis que olhava assustada de um lado para o outro sem entender nada e saí de
casa com o coração destroçado. Alguns minutos depois ela se juntou a mim com todas as coisas de
Ravi.
A viagem de volta para casa foi feita em um completo silêncio. Isis parecia preocupada e
incomodada com algo, mas respeitou o meu momento sem fazer uma pergunta sequer. E eu brigava
comigo mesmo, arrependido do que tinha feito e preocupado com as consequências que tudo aquilo

poderia gerar.

— Ravi mamou e dormiu. — Isis entrou em nosso quarto meio ressabiada e com o olhar
preocupado.

— Que bom! — Foi só o que consegui dizer.

— Daniel, eu sei que está nervoso e chateado, mas será que dá para você me explicar melhor o
que aconteceu na casa dos seus pais? — Pediu com gentileza. — Tirando as ofensas que Vanessa
proferiu sobre mim e nosso filho, que já nem são mais novidade, eu confesso que fiquei meio perdida
e não entendi mais nada.

Estendi minha mão para ela, convidando-a a se juntar a mim na cama e assim que o fez a
abracei apertado, aninhando-a sobre o meu peito. Era incrível como eu me sentia bem, forte e seguro

quando estava ao seu lado.

— Maitê não é minha mãe biológica. O nome da minha mãe verdadeira era Eugênia. —
Comecei a contar desde o início. — Ela faleceu em um acidente de carro quando eu ainda era um
garoto, tinha de onze para doze anos, um pré-adolescente rebelde. Maitê era minha professora e
percebeu que eu não estava lidando muito bem com isso. Ela procurou pelo meu pai, ofereceu ajuda e
os dois juntos moldaram os meus caminhos, me transformando em quem eu sou. Os dois se
apaixonaram. — Sorri com a lembrança. — Eu fiquei muito feliz por eles e comecei a chamá-la de
mãe, porque era o que ela representava para mim. Era minha segunda mãe. Eu tinha necessidade da
figura materna em minha vida para me centrar — expliquei. — Mas ela havia saído de um
relacionamento recente, com um traste, descobriu que estava grávida, procurou por ele, que não quis

assumir. Depois contou tudo ao meu pai, ela não queria enganá-lo e nem dar o golpe da barriga e

achou por bem terminarem tudo, mas ele estava apaixonado, confiava na integridade dela e não quis
colocar um fim no relacionamento. Ele assumiu a criança, deu seu nome a ela e a sua mãe, se casando

com Maitê. Aí voltamos a ser uma família completa. Eu e meu pai precisávamos de uma mãe e uma
esposa. Maitê e Vanessa precisavam de um marido e um pai. E assim foi feito.

— Então essa criança era Vanessa? — Constatou.

— Sim, era ela.

— Poxa! Nem em sonhos eu imaginaria uma coisa dessas — concluiu. — Eu até achava que
Maitê fosse sua verdadeira mãe. Vocês parecem mesmo uma família biológica.

— Coisas do doutor Álvaro Leblanc, que com toda a sua sabedoria nos ensinou a amar,
respeitar e prezar pela nossa nova família. O pior é que ninguém mais sabia dessa história. Só nós
quatro. Nem mesmo o restante dos Leblanc imaginava. — Respirei fundo e soltei o ar pela boca,
exasperado. — Meu pai não quis que ninguém mais soubesse, para que as duas não sofressem
preconceito. A mãe por ter dado um golpe da barriga e a filha por ter sido abandonada pelo

verdadeiro pai e ele tê-la adotado por dó. Por incrível que pareça, as duas coisas das quais ela está
te acusando. — Acariciei suas costas. — O pior de tudo é que falhei e, em um momento de ira, contei
o nosso segredo de vida e de família. Eles devem estar muito chateados comigo.

— Eu sinto muito! — Acariciou meu peito e me deu um beijo de leve para me confortar. —
Pense pelo lado positivo. Levando-se em consideração que Ravi é seu filho e eu estou com você, o
segredo não saiu de dentro da família — ponderou. — Ravi não sabe falar ainda e eu te prometo que
não vou contar para ninguém.

Aconcheguei-a ainda mais no meu abraço, sentindo o seu calor, seu cheiro, seu corpo junto ao
meu e continuei segurando-a forte a mim durante um bom tempo. Isis era o meu porto seguro.
Daniel

Já havia se passado uma semana desde aquele fatídico encontro com Vanessa na casa de meus
pais. Eu havia explodido e jogado na cara dela que quem, na verdade, não era uma legítima Leblanc,

como ela enchia a boca para dizer, era ela e não o meu filho, que tinha até a marca de nascença da
nossa família, coisa que ela não tinha e jamais teria. Sei que a magoei muito naquele dia e ainda me
sentia culpado por isso.

Conversei com meu pai e Maitê para me explicar, eles entenderam a minha atitude e me

perdoaram por ter jogado aquilo na cara de Vanessa. Prometi a eles que Isis não falaria nada a
ninguém, que eu confiava cem por cento nela e que por isso aquele segredo não sairia da família.
Demonstrei todo o meu arrependimento por ter faltado com minha palavra, mas não pude suportar vê-
la se desfazendo daquela maneira de meu filho e da minha mulher.

Estava tudo bem entre nós três, mas Vanessa ainda se encontrava magoada comigo, se negava a
conversar e a me perdoar. Na cabeça dela, eu a queria substituir por Ravi, já que o sangue que corria
em suas veias não era Leblanc. Ela continuava obcecada com aquela história e eu começava a temer
com seriedade por sua sanidade mental.

Tinha medo de que ela pudesse fazer algo contra Ravi ou contra Isis. Conversei e insisti mais
uma vez com meus pais para que procurassem por ajuda psiquiátrica para ela. Em minha opinião, só
ajuda psicológica não seria mais suficiente. Eles prometeram fazer isso, mas queriam convencê-la a
procurar por ajuda, pois não suportavam a ideia de terem que obrigá-la.

Entre mim, Isis e Ravi, continuava tudo às mil maravilhas. Meu filho crescia e se desenvolvia
a olhos vistos. Minha fogosa mulher me dava amor, carinho, atenção e muito sexo. Nos últimos
tempos ela havia resolvido que queria trabalhar. Havia se formado em Arquitetura e Urbanismo e
queria ingressar na profissão de seus sonhos.
Eu até havia oferecido uma vaga para ela no setor de arquitetura da Leblanc International,

porém ela me surpreendeu não aceitando. Disse que queria começar de baixo. Não era de sua

vontade ser vista como a pessoa que ocupava determinado cargo só porque era esposa do patrão.
Queria fazer suas próprias conquistas. E isso só me fez ter ainda mais orgulho e ficar ainda mais

apaixonado por ela. Como eu disse na nossa primeira vez: “Isis era uma mulher surpreendente”.

Na noite anterior, ela estava toda feliz porque havia sido chamada para uma entrevista de
trabalho em uma construtora de médio porte muito bem-conceituada no mercado. Ravi ficaria com a
babá que contratamos desde o momento que ela decidiu que iria trabalhar, para que ela tivesse o

tempo mais livre para distribuir seus currículos, fazer seus contatos e ir a suas entrevistas de
emprego.

Estava pensando nela, ansioso por saber qual o resultado de sua entrevista quando meu
telefone celular tocou. No visor o número da babá. Atendi preocupado com o que pudesse ter
acontecido. Afinal, pelas minhas contas, já era para Isis ter chegado em casa. Será que teria se
atrasado e a babá não havia conseguido contato e por isso estava ligando para mim? Atendi logo de
uma vez para sanar minhas dúvidas.

— Doutor Daniel, graças a Deus! Eu não sabia que não podia deixá-la entrar. Eu juro. Agora
ela está lá na sacada segurando Ravi de qualquer jeito e ameaçando jogar ele lá de cima. — falou
tudo de uma só vez e eu fui logo me levantando e juntando minhas coisas para ir embora
desesperado. O meu maior pesadelo parecia estar se tornando realidade.

— Bárbara, por favor, fale com um pouco mais de calma para que eu possa entender o que está
acontecendo.

— Dona Vanessa. Ela chegou aqui dizendo que tinha vindo visitar o sobrinho. Eu a conhecia
das revistas e colunas sociais e sabia que era sua irmã e deixei entrar. — Começou a chorar. —
Parecia estar tudo bem, mas aí a dona Isis chegou, ela pegou o menino e saiu correndo para a sacada
e está ameaçando jogar ele aqui de cima.

— E onde está Isis?

— Ela está lá na sacada, chorando desesperada, pedindo para a outra não fazer isso.

— Bárbara, liga para a polícia e para os bombeiros. Vou ligar para os meus pais e dentro de
alguns minutos estarei aí. — Falei já deixando a minha sala sem dar explicações, eu não tinha tempo
para isso, e desci para a garagem da companhia. — Tente ajudar a Isis. Eu já estou chegando.

Peguei minha Ferrari e saí dirigindo feito louco pela cidade, em alta velocidade. Sem me
preocupar com radares ou semáforos, passei direto em todos, algumas vezes ouvindo buzinas,
freadas e xingamentos. Minha mulher e meu filho precisavam de mim e eu não os decepcionaria.

Do caminho liguei para o meu pai e expliquei o que estava acontecendo. Ele disse que também
me encontraria em minha casa e que tomaria medidas extremas, já não dava mais para esperar que
Vanessa resolvesse se tratar, ela teria que ser internada contra a própria vontade. Era para o bem
dela. Achei melhor não ligar para os pais de Isis, isso só iria alarmá-los e eles nada poderiam fazer

para ajudar. Sei que ficariam bravos e chateados, mas contaríamos para eles depois.

Cheguei em meu prédio e alguns curiosos já se acumulavam na calçada. A polícia e o corpo de


bombeiros, haviam sido rápidos, já estavam lá. Os primeiros tentavam uma negociação, enquanto os
outros buscavam uma maneira de impedir que Vanessa fizesse qualquer loucura que colocasse ela ou
o meu filho em perigo.

Dei sorte de o elevador estar no térreo e subi de imediato para o meu andar. Abri a porta do
apartamento a toda velocidade e corri até a sacada.

— Vanessa, por favor não faça isso. — Avistei Isis de joelhos no meio da sacada, chorando e
implorando para a outra que estava em um dos cantos, segurando meu filho, que chorava

copiosamente, jogando os bracinhos na direção da mãe. Ela ameaçava jogá-lo ali de cima.

— Olha só quem chegou. Agora a festa está completa. — A louca da minha irmã gargalhou.

Nesse momento avistei um bombeiro que já estava posicionado na sacada do apartamento


vizinho, esperando só o melhor momento para a imobilizar. De longe ele fez sinal para mim pedindo
que continuasse falando. Com certeza queria que eu a distraísse para que pudesse agir com mais
cautela.

— Não faça nada que possa se arrepender depois. Ele é apenas uma criança. Não tem culpa
dos nossos problemas de adulto. — Continuei falando. — Você não quer fazer isso.

— Quero sim. — gritou e espichou os braços para a fora da sacada, fazendo Ravi chorar ainda
mais.

— NÃOOOOO! — Isis gritou desesperada, tapando a boca com as mãos.

— Não é você Daniel que disse que esse bastardinho é um Leblanc e eu não? Não é você que
quer me substituir por ele só porque ele tem sangue Leblanc correndo nas veias e eu não? Que contou

meu segredo para a pobrinha insolente? — Começou a jogar na minha cara tudo o que eu havia dito.
— Chegou a hora de vocês dois levarem uma lição e eu me livrar desse Leblanc chorão que quer
tomar o meu lugar. — Ela estava muito transtornada, fora de si e não falava coisa com coisa.

— Eu não quero te substituir por ninguém, você sempre será a minha irmã. Eu falei aquilo tudo
da boca para fora. Estava nervoso e falei o que não devia. — Já começava a ficar desesperado com a
situação também.

— Filha, para com isso. Vamos conversar. — Maitê que acabara de chegar com meu pai,
também tentou argumentar.
Olhei para Isis que parecia estar em transe e comecei a me preocupar com ela também. Ela só

chorava e estendia os braços em direção a Ravi em uma súplica silenciosa.

— Vamos fazer o seguinte, você me entrega Ravi e eu fico no lugar dele — sugeri. — Como se
fosse uma troca de reféns, igual nos filmes. É a mim que você quer. É de mim que você está com

raiva. — Eu tentava ganhar tempo.

— Será? — Ela se distraiu e trouxe o meu filho para junto do seu corpo, tirando-o da zona de
perigo. — Até que o bastardinho é bem bonitinho. Talvez não mereça morrer, aí substituímos você

por ele e não eu.

Foi nesse exato momento que, aproveitando que não havia perigo de que o meu filho caísse lá
embaixo, o bombeiro se aproximou pelas suas costas, pela sacada vizinha, e a segurou,
imobilizando-a. No susto ela olhou para trás e eu me aproximei, pegando Ravi em meus braços e
levando até Isis, que continuava em choque, com os braços estendidos.

Foi tudo muito rápido, a polícia entrou e a levou para prestar esclarecimentos. Ela berrava
xingamentos, gritos de guerra e ameaças de vinganças de forma ensandecida. Vi os paramédicos do
corpo de bombeiros tentarem retirar meu filho dos braços de Isis, para examiná-lo, mas ela não

deixava. Um deles veio até mim e me pediu ajuda, deixando comigo um sedativo que eu deveria dar a
ela para que descansasse, pois estava em transe.

Não consegui enxergar mais nada do que estava acontecendo a minha volta. Ajoelhei-me ao
lado da minha mulher e do meu filho, que nos braços da mãe já não chorava mais e parecia ter se
acalmado. Mas ela não parecia estar nada bem, tremia sem parar, chorava copiosamente e o apertava
contra o peito.

— Isis, meu amor, sou eu, Daniel. Os médicos do corpo de bombeiros querem examinar nosso
filho. — Tentei tirá-lo de seus braços, mas ela não permitiu, apenas balançou a cabeça em negativa.
— Você precisa soltá-lo, minha linda!

— E se ela o pegar de novo? — Enfim, falou alguma coisa, o que me fez tranquilizar.

— Ela não está mais aqui. Foi levada para prestar esclarecimentos. Acabou o pesadelo, meu

amor. Acabou! — Isis cedeu os braços, deixando que eu pegasse Ravi e eu o entregasse para os
paramédicos. — Agora venha comigo.

— Para onde?

— Eu vou te ajudar a tomar um banho, trocar de roupa e depois você vai deitar e descansar um
pouquinho. Os médicos disseram que isso vai ser bom para você.

— E Ravi?

— Ele está sendo bem cuidado pelos médicos. Depois Bárbara também vai colocá-lo para
dormir. Prometo que assim que você adormecer, eu venho vê-lo.

Ela, enfim, concordou e eu a levei para o quarto, ajudei-a a tomar banho, dei o remédio que
havia sido indicado pelos paramédicos e a coloquei para dormir. Deitei-me ao seu lado, abraçando-a
de conchinha, para se sentir segura, até que pegasse no sono.

Assim que ela adormeceu, esperei mais um pouquinho para ter certeza de que não voltaria a
acordar e saí da cama. Passei no quarto do meu filho para ver se estava tudo bem. Bárbara também já
o havia colocado para dormir. Segundo os médicos, ele estava com algumas escoriações e
hematomas, mas nada de grave havia acontecido. Em breve eles desapareceriam, mas, com certeza,

até lá, sempre que olhássemos para as manchas nos lembraríamos daquele dia.

Fui até a sala e constatei que tanto os médicos e a polícia quanto os bombeiros haviam ido
embora. Enfim, a paz na minha casa havia sido restabelecida. Eu tentava não pensar com ódio no que

Vanessa acabara de fazer, ela estava doente e precisava de tratamento urgente. O motivo daquela
estranha obsessão só seria descoberta com a evolução do seu tratamento. Até lá, tudo era um tiro no
escuro, apenas suposições.

— Como Isis está? — Maitê entrou na sala, me assustando.

— Oi, eu não sabia que ainda estava aí.

— Desculpa! Não queria assustar você.

— Tudo bem. Eu é que estava meio distraído mesmo. — Tranquilizei-a. — Ela sofreu uma
espécie de choque, mas consegui acalmá-la e agora está dormindo um pouco.

— Eu queria muito me desculpar com ela mais uma vez.

— Outra hora você faz isso. Os paramédicos disseram que quanto mais tempo Isis dormir

melhor. Tive até que dar um sedativo para ela — expliquei. — E meu pai, onde está?

— Ele foi acompanhar Vanessa até a delegacia e depois tratar dos tramites legais para a
internação dela. — Uma lágrima solitária rolou pelo seu rosto. — Ah, Daniel, eu queria e lutei tanto
para ela se tratar de forma voluntária. Dói muito ter que forçá-la a essa internação.

— Acredite em mim, mãe. — Abracei-a com carinho. — Vai ser melhor para ela.

Ela apenas assentiu com a cabeça e chorou mais um pouco em meus braços.
Isis

Alguns meses depois...

— Parabéns para você, nessa data querida...

No colo de Daniel, completando o seu primeiro aninho de vida, Ravi batia os bracinhos e
perninhas todo animado, enquanto um coro de vozes cantava. Tínhamos muito que comemorar, foram

muitos percalços no caminho.

Eu ainda não havia conseguido me recuperar por completo daquela trágica tarde em nosso
apartamento quando Vanessa atentou contra a vida do meu filho. Por sorte, Daniel estava lá mais uma
vez para nos socorrer. Ele era e sempre seria o meu herói, desde que socorreu a mim e a Ravi no dia
do atropelamento. Às vezes eu ainda tinha pesadelos com aquele dia. Acordava gritando e ofegante.
Sorte que o amor da minha vida estava sempre lá para me acalmar e mostrar que o pesadelo
realmente havia chegado ao fim. Que estávamos juntos, felizes e que nada mais iria nos separar.

E por falar nela, Vanessa ainda continuava internada em uma clínica, mas agora já aceitava

mais a sua situação e até estava colaborando com o tratamento. Já se sabia que a raiz de todo o
problema foi o abandono do pai biológico. Segundo os médicos, apesar de não deixar transparecer,
ela nunca havia superado aquele fato, e guardá-lo por tanto tempo no seu interior foi causando danos
que se ela não tivesse sido internada e começado o tratamento logo, poderiam ter sido irreversíveis.

Conforme o prometido por mim, Carol se tornou a madrinha de batismo de Ravi. Como eu a
havia escolhido, Daniel quis escolher o padrinho, seu melhor amigo Lucas. Os dois viviam em pé de
guerra brigando pela atenção do meu filho. Mas no fundo acho que havia um algo mais ali naquela
história. Tipo, uma paixão recolhida que eles não queriam demonstrar, nem dar o braço a torcer e
acabavam se engalfinhando para disfarçar.

Meus pais haviam ficado um pouco chateados por não terem sido avisados sobre o atentado de
Vanessa. Segundo alegaram, eles queriam ter estado presentes para tentar ajudar de alguma forma.
Mas logo passou. Ninguém resistia aos encantos de Ravi e entre nos desculpar e voltar a frequentar

nossa casa para ver o neto, ou guardar a mágoa e ficar longe dele, optaram pela primeira opção.

Os pais de Daniel estavam bem. O Senhor Álvaro estava respondendo de forma positiva a um
novo tratamento alternativo e estava cada vez mais animado e disposto. Já Maitê ainda se sentia triste

por estar longe da filha e se ressentia por ela não poder estar entre nós, mas no fundo sabia, que tinha
sido o melhor para ela. Mas, agora que também sou mãe, eu conseguia entender melhor como ela se
sentia. A gente nunca quer nossos filhos longe e nem que sofram.

Meu futuro marido, sim, nós iríamos nos casar em breve. Já tínhamos data marcada e
estávamos eufóricos. É claro que o papel não fazia muita diferença e não mudaria em nada os nossos
sentimentos, mas víamos a nossa união definitiva como o elo que faltava para nos fortificar ainda
mais. Ele continuava a frente da empresa da família, que, aliás, estava em plena expansão e ascensão.
Imaginem só: eu que nunca havia conhecido um CEO de verdade, só pelos livros de romance que lia,

agora estava prestes a me casar com um.

Quanto a mim, depois do ocorrido em casa, adiei um pouquinho o meu ingresso no mercado de
trabalho. Fiquei muito assustada com aquilo tudo e resolvi esperar Ravi ficar um pouquinho mais
velho e menos dependente de mim. Coisa de mãe! Mas agora que ele estava completando seu
primeiro aninho de vida, logo após o meu casamento, cujos preparativos estavam tomando muito do
meu tempo, eu retomaria a minha procura por um emprego. Mas já havia decidido que queria arranjar
algo para meio período. Não queria ficar muito tempo longe do meu menino.

Acabei de partir o bolo e, desfazendo minha bolha de pensamentos, saí ajudando a distribuir
os pratinhos para os convidados. Tínhamos alguns empregados para fazerem isso, mas eu gostava de
dar uma atenção especial as pessoas que amava e que dispensavam uma parte de seus escassos

tempos para estarem ali celebrando a vida do nosso filho.

— E o meu pedaço de bolo? — Daniel se aproximou brincando

Sorri e beijei suavemente seus lábios.

— Que tal se dividirmos esse?

Peguei uma pequena porção no garfinho e levei a sua boca e depois foi a vez de ele fazer o
mesmo comigo.

— Bolooooo...

Ravi gritou tudo enrolado, ele estava começando a falar as primeiras palavras e algumas eram
difíceis de entender. Às vezes, eu e Daniel nos divertíamos tentando decifrar. Do colo de Carol ele
se jogou com tudo no meu. E nós três dividimos juntos o mesmo pedaço de bolo como uma família
feliz.

E pensar que eu quase joguei tudo aquilo fora por medo. Acho que eu jamais me perdoaria por

isso.
Chegou a hora de agradecera galerinha do bem que está sempre ao meu lado me apoiando.

A Deus, sempre e em primeiro lugar.

Ao meu marido, José Carlos, e minha mãe, Durvalina, e a toda minha família e amigos.

A Amandda Bennett, minha assessora, pela capa e diagramação feitas no meu livro. Ficou tudo
muito lindo, como sempre!

A Ebervânia Maria (Bebel), minha fiel escudeira de anos, pelo belo e impecável trabalho de
revisão.

Mais uma vez galera do grupo #DesafioMariSales pelo incentivo e força que sempre encontro
lá, principalmente nos momentos que acho que vou esmorecer.

Aos meus leitores, que leem tudo o que escrevo e aguardam sempre ansiosos pela minha
próxima história. A vocês todo o meu carinho e respeito.
Obrigada e um beijo no coração de todos,

Cris Barbosa.
Cris Barbosa, esposa dedicada, escorpiana, 49 anos, cirurgiã dentista há 27.

Formada na Faculdade de Odontologia da Fundação Educacional de Barretos.

Nascida no dia 8 de novembro de 1971, em Ituverava, interior de São Paulo e, hoje, reside em
Ribeirão Preto, no mesmo estado.

Escrever é sua maior paixão!

Exerce sua profissão como responsável técnico em uma clínica odontológica e escreve nas

horas vagas, mas pretende muito em breve dedicar-se apenas aos livros.

Seu primeiro livro, “Uma Incontrolável Atração”, foi publicado em e-book independente em
2016 e em físico em 2017, pela Editora Pandorga, lançado na Bienal Internacional do Livro do Rio
de Janeiro e foi contemplado como o "Melhor Romance de 2017" no Prêmio Melhores do Ano
Nerd/Literário, realizado pelo portal No Meu Mundo.

"O Último golpe do amor" é o seu segundo romance, com e-book e livro físico publicados
pela Editora Pandorga em 2018, lançado na Bienal Internacional do Livro de São Paulo e foi
contemplado com os Prêmios: Brasil entre Palavras, na categoria “Melhor Livro Hot de 2018” e
Melhores do Ano 2018 No Meu Mundo, na categoria “Melhor Romance”.

Autora também dos contos “O dia do meu casamento”, publicado na Antologia do IV FLAL,
“Não sei quando vou voltar”, publicado na Antologia A Flor da Pele do Engenho das Palavras,
“Você em mim”, publicado na Antologia Apaixone-se pela Qualis Editora, lançada na bienal

Internacional do Livro do Rio de Janeiro de 2019 e que em breve se tornará um livro completo, que
já foi escrito e aguarda apenas a publicação pela editora, “Paixão em um click”, na Antologia
Permita-se publicada também pela Qualis Editora, e “Refém da vaidade”, na Antologia 7 Pecados do
Sexo + 3, publicado pela Assessoria Artessa.

De repente namorados, é o seu primeiro conto publicado de forma independente na Amazon,


que gerou a ideia para o livro “As Aparências Enganam”, que conta a história completa dos
protagonistas Bernardo e Valentina e que se tornou uma série.

Antes de lançar o segundo livro da série, a autora lançou o romance “Perdendo o medo de
Amar” e a segunda edição do e-book de “O Último Golpe do Amor”.

Os Opostos se Atraem é o segundo livro da série “De Repente Namorados”, conta a história de
Haroldo e Melissa, melhores amigos de Bernardo e Valentina, protagonistas do primeiro livro.

Quem Desdenha Quer Comprar é o último livro da série De Repente namorados e conta a
conturbada história de Márcio e Laura, melhor amigo e prima respectivamente de Bernardo,
protagonista do primeiro livro, que vivem um romance cercado de preconceito por todos os lados.

A série De Repente Namorados virou um Box incrível contendo o conto que deu origem a série
e os três livros dela. Também publicado em e-book de forma independente na Amazon.

“O bebê de um ‘EX’ solteiro convicto” é o seu oitavo livro publicado, ficou mais de três
meses no ranking dos cem mais vendidos e já teve quase dois milhões de páginas lidas na Amazon.
Tem os primeiros capítulos dele disponíveis no final desse livro, caso você se interesse em lê-lo.

Seu nono livro, “O Viúvo e eu – Uma chance para recomeçar”, também entrou para o ranking
dos cem mais vendidos, alcançando a nona posição, lá permaneceu por quase dois meses e teve mais
de um milhão e meio de páginas lidas. Também com degustação no final desse e-book.

“Apenas por conveniência?” foi o seu décimo e “Subitamente Grávida: Uma noite com o
CEO” será o décimo primeiro e-book publicado de forma independente na Amazon.

*Banner by A&Z – Livros e Divulgações


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ASSESSORIA ARTESSA
(21) 97045-2927
Amandda Bennett
Olá, pessoal!

E aí, gostaram da minha nova história?

Não esqueçam de deixar seu feedback, através da sua avaliação sincera, porque ele é muito
importante para o autor.

E indique para os amigos.

No final desse livro vocês vão encontrar as sinopses de “O VIÚVO E EU – Uma chance para
recomeçar”, que teve mais de um milhão e meio de leituras e de “O bebê de um ‘EX’ solteiro
convicto”, com quase dois milhões de leituras na Amazon. Além de alguns capítulos do meu
lançamento anterior, “Apenas por conveniência” para vocês degustarem.

Aproveitem e divirtam-se!

Beijos no coração,
Cris Barbosa.
Apenas por conveniência?
Casar-se não estava nos planos de Gael Walker, vocalista de uma famosa banda de rock. Ele
só queria curtir a vida e usufruir dos benefícios de ser uma celebridade. Até que se envolve em um
grande escândalo que pode acabar com a sua carreira e a única maneira de abafar tudo é se casando.

Não querendo renunciar à sua liberdade, juntamente com a sua equipe, resolve optar por um

falso casamento. Um contrato assinado por tempo determinado, conveniente para ambas as partes, e
tudo estaria resolvido.

O que ele não esperava é que a linda, ingênua, simples, doce e forte Helena Alves iria infiltrar
em seu coração, fazendo-o se sentir muito atraído por ela e questionar se seu casamento deveria
continuar sendo apenas por conveniência.
Gael

— Mostre-me do que você é capaz Gael Walker — gritava Nathaly, uma das modelos com
quem eu dividia minha cama com mais frequência, enquanto corria pelas areias de Copacabana,

arrancando as próprias roupas, ficando totalmente nua, sem se importar com os transeuntes que já
começavam a se movimentar pelo calçadão e areia da praia àquela hora da manhã.

Havíamos acabado de sair de uma verdadeira festa de arromba, na casa de Felipe, baterista da
banda Walker e os formidáveis, da qual eu era o vocalista. Nossa carreira estava a pleno vapor e

sempre após nossos shows nos reuníamos na casa de um dos integrantes para comemorar. Havíamos
começado de madrugada, passamos a noite inteira em claro na farra e eu estava muito bêbado e louco
naquele momento.

Essas reuniões eram sempre regadas a muito sexo, droga e rock’n roll. Eu trocava de bom
grado as drogas pela bebida. Nunca fui adepto a elas e apesar de muitas pessoas do meu ciclo de
amizade, entre elas a bela mulher que estava comigo, serem usuários, eu nunca o fiz. Embora, por
várias vezes tenha feito muita besteira, entorpecido pelo álcool. Ainda bem que eu sempre tive ao
meu lado o “trio parada dura”, como eu carinhosamente chamo a minha equipe formada por Ayla,

Henry e Anthony. Os três cortam um dobrado para apagar os “incêndios” que crio em minha carreira,
mas também são muito bem pagos para isso.

— Nathy, a praia já está cheia de pessoas, não faça isso. — Eu corria atrás dela, me segurando
ao pouco de sanidade que ainda me restava, argumentando e pegando as peças de roupas que ela ia
deixando para trás.

— Gael Walker é um covarde? Não tem coragem de nadar nu na praia na frente de todos? —
Me desafiou.
— Nathaly, não me desafie dessa forma ou eu faço uma besteira. — Desde pequeno eu

detestava ser desafiado e chamado de covarde.

As pessoas já começavam a notá-la totalmente nua na beira da praia. Algumas senhoras


viravam a cara horrorizadas e gritavam palavras de ordem em nossa direção, exigindo que minha

amiga se vestisse ou chamariam a polícia. Homens se aproximavam com olhos ávidos, para ver mais
de perto o seu corpo escultural. Algumas jovens me observavam curiosas e deslumbradas, na
esperança de que eu me despisse também para me verem nu.

— Então prove que não é um banana e venha nadar nu comigo ou eu conto para todo mundo
que você negou fogo para mim — disse, mergulhando em seguida nas águas do mar.

Ainda sobre o efeito do álcool, me sentindo desafiado e querendo provar a minha


masculinidade para os presentes que ouviam tudo e davam risadinhas irritantes e evitar que Nathaly
falasse algo aos meus amigos que virasse uma piada eterna, arranquei minhas roupas e mergulhei
atrás delas.

Quando me aproximei, ela pulou nos meus braços, colando nossos corpos, cruzando as pernas
em minha cintura e os braços no meu pescoço, colando nossas bocas em um beijo quente e cheio de

lascívia. Não resisti e meu pau entrou de prontidão na mesma hora, endurecendo feito rocha.
Começamos a nos acariciar intimamente. Passei minha mão por sua bunda e posicionando-a mais
abaixo, deslizei dois dedos para o seu interior, fazendo-a gemer alto, praticamente gritando sem
qualquer receio ou vergonha.

Percebendo a sua receptividade, me posicionei em sua entrada e a penetrei sem dó, com força
e comecei a me movimentar insanamente, desferindo estocadas, firmes, fortes e rápidas, levando-a ao
êxtase. Fazendo-a gritar alucinada. Quando me dei por mim, estávamos gozando sendo observados
por vários curiosos que insistiam em não sair da beira da praia. Voltando a realidade e percebendo a
besteira que eu havia feito, me afastei de Nath e fui me encaminhando para o raso na intenção de me
vestir e ir embora para casa. Fui seguido de perto pela Nathaly, que vinha logo atrás de mim e

parecia estar um pouco constrangida com o show que protagonizamos. O sexo selvagem e a água do
mar haviam afastado o torpor do álcool e nos feito cair em si.

— Gael Walker e Nathaly Garcia, vocês estão presos por ato obsceno e atentado ao pudor. —
Um dos três policiais que estavam nos esperando sair da água entre os curiosos, nos deu ordem de
prisão.

— Você por acaso sabe com quem está falando? — Nath, começou a utilizar de soberba e
superioridade, confrontando-o. — Ele é Gael Walker, uma celebridade, vocalista de uma das bandas
mais famosas de Brasil, e eu sou Nathaly Garcia, uma modelo internacional.

— Moça, eu sei exatamente quem são vocês, mas houve uma denúncia, viemos apurar e foram
pegos em flagrante por conduta obscena — respondeu o policial. — Melhor vocês se vestirem por
bem e nos acompanharem ou terei que usar de força física sobre alegação de resistência à prisão. E
teremos várias testemunhas disso.

— Nathaly, vista-se e vamos com eles. — Nessa altura eu já estava vestido, enquanto ela nua

tentava argumentar e ao mesmo tempo cobrir suas partes intimas. — É o melhor a se fazer no
momento. A essa altura a internet já deve estar cheia de vídeos e fotos do que aconteceu aqui. —
Estendi o vestido a ela que se vestiu rapidamente.
— Gael, o que foi que você aprontou? — A voz nervosa da minha assistente denunciava a

gravidade da situação. — A internet está cheia de fotos e vídeos das obscenidades que você e a

Nathaly aprontaram hoje pela manhã. Tem gente ligando sem parar, querendo desmarcar shows. O
que deu em você para fazer isso?

— Ayla, a ligação tem que ser rápida. — Cortei-a de imediato, antes que começasse com um
longo sermão. — Eu preciso de você, Henry e Anthony aqui o mais rápido possível. Vocês têm que
pagar a fiança e me tirar daqui. Depois conversamos sobre o ocorrido e achamos uma solução para
apagar esse incêndio.

— Se é que isso é possível.

— Se virem e já comecem a pensar em uma solução. Vocês são muito bem pagos para isso. —
Desliguei o telefone sem dar a ela a chance de me responder.
Gael

— Você tem noção do que fez, Gael? — falou Henry, um dos meus assessores, o mais severo

dos três. — Você foi enquadrado na lei do ato obsceno. Além da fiança caríssima que pagamos, você
ainda será julgado e poderá ser condenado por três meses a um ano de detenção ou a pagar uma multa
polpuda de trinta salários-mínimos.

Nós já havíamos saído da delegacia para onde eu havia sido levado após o flagrante e, depois

de colocarmos Nathaly em um taxi, nos encontrávamos sentados na mesa de um bar próximo, tentando
encontrar uma solução para a besteira que eu havia feito. Só agora eu me dava conta da seriedade das
minhas ações.

— Sem falar, nos inúmeros telefonemas que estamos recebendo para cancelar shows —
acrescentou Anthony. — O que você fez arranhou sua imagem de bom moço que demoramos anos
para construir. Dessa vez você foi longe demais, várias pessoas viram, filmaram, fotografaram e
espalharam tudo pelas redes sociais. É o tipo de coisa que pode destruir a imagem e a carreira de
uma celebridade. Um escândalo sem precedentes. Em algum momento você parou para pensar nos

outros integrantes da banda? Esse teu ato impensado está resvalando neles também. O fim da banda
pode ser o término da carreira de todos vocês.

— Henry e Anthony, se eu soubesse que vocês fossem ficar lendo sermões para mim, eu teria
pedido para que Ayla viesse sozinha. — Apontei para ela, que ouvia tudo calada. — Vocês sabem
que eu odeio ser desafiado e a Nathaly me desafiou. Até mesmo tentou colocar em dúvida a minha
masculinidade. Eu estava bêbado e precisava provar o contrário do que ela falava. Eu sei que fiz
besteira e percebi isso assim que a água do mar e o esforço físico do sexo começaram a minimizar os
efeitos do álcool, porém já era tarde demais.
— Quero deixar bem claro que o fato de eu estar calada não significa que concordo com a

besteira que você fez — justificou-se Ayla. — Eu estou apenas tentando achar uma solução plausível

para essa sua atitude impensada, mas confesso que está difícil.

— Vocês sempre encontraram uma solução e foram muito bem remunerados para abafar os

meus deslizes. Tenho certeza de que não será diferente dessa vez — argumentei.

— As suas besteiras sempre foram feitas na encolha, com poucas pessoas como testemunhas.
Por isso foi fácil de contornar a situação e abafar os fatos, entretanto dessa vez até a polícia foi

envolvida — disse Ayla, me apontando o dedo em riste.

— Mas deve haver uma saída e nós precisamos encontrar. — Soquei a mesa com força,
fazendo com que os ocupantes da mesa vizinha e até o próprio garçom que estava por perto se
assustarem

— Eu tive uma ideia — falou Anthony. — Deu certo com um famoso ator de Hollywood.

— Desembucha logo de uma vez. — Pressionei-o.

— Nós podemos anunciar o seu casamento com a Nathaly e argumentar que vocês haviam

saído para comemorar, exageraram na bebida e estavam tão felizes com o enlace que não pensaram
nas consequências dos seus atos.

— Está maluco Anthony? Me casar? Logo eu que prezo tanto pela minha liberdade? Nem
pensar. Tem que haver outra solução.

— Espera um minuto, Gael. O Anthony tem razão — argumentou Henry. — Casamento e


gravidez têm salvado muitas carreiras, inclusive internacionais.

— Vocês só podem estar de brincadeira comigo — queixei-me. — Casamento está fora de


cogitação.

— E se for um falso casamento? — indagou Henry. — Um casamento por contrato com uma
garota normal, não famosa. Uma união conveniente para os dois lados.

— Isso — concordou Ayla. — Você estava em sua despedida de solteiro, bebeu mais do que
devia e acabou fazendo uma besteira da qual está muito arrependido.

— Claro. Tudo isso seguido de um pedido de perdão público a sua futura esposa, aos fãs,
família e amigos — completou Henry.

— E então, você apresenta sua noiva para todos no palco do show na Jeunesse Arena, na
próxima semana — Ayla concluiu. — Eles têm capacidade para dezoito mil pessoas e os ingressos
esgotaram. A casa vai estar cheia.

— Sei, não. A Nathaly não vai gostar nada disso — concluiu Anthony.

— E desde quando ela tem que gostar ou não de alguma coisa? — Foi interrompido por Ayla.
— Que eu saiba, ela não é namorada do Gael. Eles apenas transam eventualmente e ela é a culpada
do perrengue que estamos passando agora, portanto não tem direito de opinar em nada. Além do que,

não será um casamento de verdade, apenas uma encenação para contornarmos essa situação.

— Ok! Digamos que eu concorde com essa loucura. Quem seria essa garota? — perguntei
curioso. — Onde nós a encontraremos e o que eu poderei oferecer a ela?

— Primeiramente, é importante deixar claro que o casamento será de verdade, ele só não será
consumado. Ele vai acontecer e todos acompanharão cada detalhe. Só que será assinado antes um
contrato, onde ambas as partes se comprometerão com a confidencialidade e ficará exposto todos os
detalhes e vantagens de ambas as partes — continuou Henry. — Não deve ser difícil encontrar
alguma garota simples que tenha um grande sonho e que possamos ajudá-la financeiramente a realizá-
lo.

— Henry. — Ayla apontou com a cabeça na direção do garçom que estava parado próximo a
nossa mesa, prestando atenção em nossa conversa e que, até então, não havíamos percebido a sua
presença.

— Me desculpem a intromissão, mas sem querer eu ouvi a conversa de vocês e acho que eu
posso ajudá-los. Eu conheço a pessoa que vocês precisam para consumar esse plano.

— Qual o seu nome? — questionei-o.

— Marco Antônio Medeiros, o seu criado — falou, tentando me bajular.

— Você disse que tem a garota certa para o nosso plano. Quem seria ela? Sua irmã, prima,
amiga? — Curioso, quis saber um pouco mais.

— Minha noiva, Helena. — Retirou uma foto de dentro da sua carteira e me entregou.

Nela uma jovem loira de olhos verdes sorria timidamente para a câmera. Ela até que era
ajeitadinha, mas não fazia nem um pouco o meu tipo. Eu preferia as mulheres exuberantes e que
esbanjavam sensualidade. Melhor assim. Não haveria perigo algum daquela mulher me deixar de

cabeça virada. Ela era perfeita para o nosso plano e seu noivo tinha razão.

— Você quer entregar sua noiva para se casar comigo? — questionei-o incrédulo. — Posso
saber o motivo?

— Primeiro porque será uma falsa união, um casamento por conveniência. E porque ouvi
vocês comentarem que vão ajudar a falsa noiva a realizar seus sonhos e nós temos alguns —
explicou-se. — O principal é montar o nosso próprio restaurante, ela cozinha muito bem, e
pretendemos nos casar e não temos condições financeiras para isso. Estamos juntos há alguns anos e
com nossos salários demoraríamos muito para nos unirmos em definitivo.

— Mas você está consciente de que o casamento acontecerá de fato, só não será consumado?
Gael e sua noiva se casarão de verdade e permanecerão assim por um tempo determinado em
contrato, até que a poeira baixe e eles possam se separar. E que depois disso, ela só conseguirá

casar-se com você no civil porque a igreja não aceita realizar o casamento de pessoas divorciadas.
— Explanou Anthony, parecendo querer que Marco Antônio desistisse da ideia.

— Sim, eu sei disso. Entretanto, acho que vale a pena o sacrifício para podermos realizar

nossos sonhos e sermos felizes para sempre. Tenho quase certeza de que Helena pensará como eu.

— E você acha que ela vai aceitar essa situação? Para ser sincera, eu não aceitaria —
acrescentou Ayla.

— Eu tenho quase que absoluta certeza de que consigo convencê-la a topar — respondeu
convencido.

— Sendo assim, esse é o meu telefone. — Henry entregou-lhe um cartão. — Nós temos pressa.
Você tem até amanhã à tarde para convencê-la, se conseguir me ligue e iremos providenciar o

contrato para ser assinado. Nem preciso dizer que você não deve falar para ninguém sobre o que
ouviu aqui, não é mesmo?

— Minha boca é um tumulo. Não que eu ache que isso irá acontecer, mas e se eu não conseguir
convencê-la? — indagou incisivo.

— Você receberá uma boa recompensa por ter tentado nos ajudar. — Ayla deu um sorriso falso
ao responder.

Depois disso nos despedimos e eu fui direto para casa descansar e aguardar pelo desfecho
daquela história, sem me dar conta de que, mesmo sem saber, eu estava tomando uma das decisões
mais importantes da minha vida e que poderia mudá-la por completo.
Helena

— Como é que é? — Me alterei, exasperada. — Você quer que eu me case com um outro

homem?

— Leninha, meu amor, pense bem, essa é a oportunidade que precisamos para realizar nossos
sonhos, nos casarmos e ficarmos juntos em definitivo — argumentou.

— Mas e o meu sonho de me casar com você em uma igreja católica, vestida de noiva não
conta? — acrescentei incrédula. — Se eu me casar com outro homem, não poderei fazer o mesmo
com você. A minha religião não permite isso.

— Pense pelo lado positivo, Leninha. As vezes precisamos fazer certas concessões em
detrimento de um bem maior — acrescentou. — Não será um casamento de verdade, apenas um faz
de conta.

— Faz de conta, Tony? Você acabou me dizer que o casamento acontecerá de fato, será real,
apesar de não ser consumado.

— Exato! Vocês não viverão como um casal, não vai rolar nenhum tipo de intimidade. Ele não
vai te tocar. O acordo consiste em assinar um contrato de conveniência, onde cada um vai ganhar
algo em troca. A única coisa que o Gael Walker quer, é que você finja ser sua esposa por um tempo
para limpar a barra dele junto aos fãs, amigos e famílias — explicou-se melhor.

— Gael Walker? O cantor? — indaguei incrédula. — Você quer que eu me case com uma
celebridade e minta para toda a família, amigos e os milhões de fãs dele?

— Basicamente isso.
— Tony, você acha que alguém vai acreditar que Gael Walker, uma das celebridades mais

desejadas do país, que vive cercado de lindas mulheres, se interessaria por mim?

— E por que não? — falou despreocupado, como se fosse a coisa mais normal do mundo uma
celebridade se apaixonar por mim. — Além do que, é justamente por você não fazer o tipo dele que

eles acham que vai dar certo. Ele não quer se casar de verdade e nem se prender a nenhuma mulher.

— E o que ele quer então? — perguntei ainda mais confusa.

— É simples, ele se meteu em uma encrenca hoje pela manhã. Foi preso e será julgado por ato

obsceno por nadar completamente nu e transar com a modelo Nathaly Garcia na praia de
Copacabana, diante de várias pessoas. Parece que isso repercutiu muito mal para a imagem dele e
algumas pessoas estão querendo cancelar os shows da banda. — Suspirou fundo antes de continuar.
— A equipe dele acha que se ele anunciar um casamento, disser que durante o ocorrido estava
bêbado, tinha acabado de sair de sua despedida de solteiro, que portanto o que aconteceu não vai se
repetir porque ele está se unindo ao grande amor de sua vida, que foi um ato impensado, que está
muito arrependido do ocorrido, fizer um pedido de desculpas público a todos e se casar de verdade
com alguém, de uma forma que todos acompanhem os preparativos e enlace, conseguirão reverter a

situação. —Revelou todo o plano de uma só vez. — Parece que isso já funcionou várias vezes e
salvou muitas carreiras mundo a fora.

— Além de tudo ele é um devasso sem escrúpulos — concluí. — Isso é uma loucura e eu não
vou participar disso, Tony. Eu me recuso a compactuar com uma mentira como essa. — Dei meu
veredito final. — Me conhecendo como você me conhece, já devia saber que eu não ia concordar,
não deveria sequer ter cogitado essa possibilidade.

— Eu pensei que você me amasse e quisesse se casar comigo o mais rápido possível. — Se
fez de ofendido.
— Como é que é? — Indignada, fui até a porta da minha casa e a abri. — Acho melhor ir

embora depois dessa besteira que acabou de dizer ou sou capaz de terminar tudo entre nós agora

mesmo.

— Eu vou, mas saiba que eu faria de tudo para realizar nossos sonhos e me casar logo com

você. Até mesmo fingir me casar com uma mulher devassa e sem escrúpulos.

Saiu da minha casa sem olhar para trás e eu bati a porta com força.

— Hoje definitivamente não é o meu dia. — Reclamei, após meu irmão Rafael me contar sobre
a falta dos remédios do meu pai no SUS. Teríamos que arrumar um jeito de angariar recursos para

adquiri-los, pois o estado de saúde dele era muito sério e ele não podia ficar sem os medicamentos.
— Como se já não bastasse o Tony querer que eu me case com um outro homem a troco de dinheiro,
agora precisamos arrumar recursos para comprar o remédio do pai que está em falta na saúde
pública.

— Como assim? — perguntou curioso e eu contei a ele toda a minha conversa com meu noivo.

— Leninha, você sabe que esse casamento pode resolver o problema da nossa falta de
recursos para o remédio e tratamento do pai, não é mesmo?
— Como assim? — indaguei, curiosa.

— Você pode pedir para o Gael Walker que, em troca do casamento, ele assuma as despesas
com o tratamento do velho — explicou-se. — O cara tem grana, pode bancar um bom tratamento para
ele, remédios, médicos e hospitais particulares. Já parou para pensar nisso?

— O Rafa tem razão, Leninha — acrescentou minha cunhada Maria Alice. — Esse falso
casamento pode ser a solução dos problemas de vocês.

— Vocês acham que eu devo aceitar participar dessa loucura?

— Maninha, isso quem vai decidir é você. Eu não vou força- lá e nem tentar te convencer a
nada — continuou Rafael. — Mas acho que deve pensar nessa possibilidade com carinho. Você sabe
que pode contar com a gente, não é mesmo? — Acariciou meus cabelos. — Se quiser podemos te
acompanhar durante todo o processo para que não tentem te enganar.

— Eu sei que posso contar sempre com vocês — respondi com sinceridade. — Acho melhor
eu ligar para o Tony antes que ele dispense o contrato não é mesmo? Afinal não temos muito tempo
disponível para eu pensar até que os medicamentos acabem. Mas que fique bem claro, estou fazendo

isso, indo contra tudo o que eu prezo e acredito pelo meu pai.

— Nós sabemos disso, minha querida — acrescentou Rafael. — E eu não estaria sugerindo
que você aceitasse entrar nessa loucura se não fosse por ele também.

Peguei meu celular e procurei o contato do meu noivo, ligando para ele logo em seguida.

— Tony, sou eu. Você já deu um retorno para o assistente do Gael Walker? — perguntei sem
rodeios.

— Oi, meu amor! Ainda não. Achei melhor esperar você esfriar um pouco a cabeça e pensar
melhor no assunto. — Sua voz parecia animada com a possibilidade de eu ter mudado de ideia. —

Tenho até amanhã para dar um retorno.

— Então, diga a eles que eu aceito, porém tenho algumas condições a serem propostas.

Desliguei telefone sem esperar pela sua resposta.

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O Viúvo e eu – Uma chance para recomeçar
Após a morte de sua esposa, Enzo Lopez, fechou seu coração para o amor e passou a se
dedicar cem por cento do seu tempo ao trabalho. Não sabendo lidar com a dor e o sofrimento de seu
filho Pedro, de apenas sete anos, ele se vê cada vez mais afastado dele e sem saber como mudar essa
situação.

Rebecca Garcia, uma pacata professora, na tentativa de mudar de vida, se afastar de tudo o que
um dia lhe fez tanto mal e esquecer o seu passado, chega a pequena cidade para lecionar na escola

primária.

Um primeiro encontro desastroso... Uma conversa mal interpretada... Uma fofoca maldosa...
Uma discussão acalorada... E está criada a confusão... Ou não.

Enzo e Rebecca conseguirão se entender?

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O bebê de um ‘EX’ solteiro convicto
Após uma grande festa em seu apartamento, Nicholas Albertelli, multimilionário e solteiro

convicto, se vê envolvido por sua melhor amiga, a doce e linda Alicia Albuquerque.

Embriagados, os dois tem uma noite de amor incrível regada a muita intimidade.

Mas o que eles não contavam, era com as consequências que viriam depois.

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