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DEFINIÇÃO
O lúpus eritematoso sistêmico(LES) é uma doença inflamatória crônica autoimune com diferentes autoanticorpos,
com períodos de exacerbação e remissão, além de ser uma doença com quadro clínico extremamente
heterogêneo, na qual alguns dos portadores possuem apenas acometimento cutâneo, enquanto outros podem
desenvolver formas graves como a nefrite
Deve-se lembrar que o LES é uma doença tipicamente com períodos de atividade e remissão, devendo isto ser
avaliado através de exames laboratoriais
EPIDEMIOLOGIA
A LES possui grande heterogenecidade com base na população estudada, definição do LES e fatores
ambientais, sendo que de formas gerais:
Acomete principalmente mulheres(3-15M:1H), sendo que diminui na menopausa. A faixa etária mais
acometida é entre 15-45 anos, com pico nos 25-35 anos, por isso, o LES é descrito como uma doença da
mulher jovem
Negros possuem maior prevalência da doença, e também pior prognóstico, com maiores chances de
desenvolver nefrite, entretanto, a parte do pior prognóstico ainda não existe estudos bem estabelecidos,
sendo apenas a maior prevalência em negros o afirmado
Ou seja, o LES é uma doença de mulheres, jovens, com pico de surgimento dos 25 aos 35 anos,
acometendo mais negros e, no Brasil, a incidência parece estar aumentando
FISIOPATOLOGIA
A etiopatogenia do LES é multifatorial, com diversos fatores em conjunto como ambientais, genéticos,
imunológicos, hormonais, epigenéticos, culminam na formação de autoanticorpos que afetam diversas
estruturas corporais como os rins, pele, pulmões, cérebro, coração.
Tanto a imunidade inata quanto a adquirida estão envolvidas na fisiopatogenia do LES , além de um status
imunológico proinflamatório pelo aumento geral de citocinas inflamatórias
FATORES GENÉTICOS
O LES possui uma herança poligênica, ou seja, não existe um gene específico envolvido no surgimento da
doença, sendo que tais genes levam a produção e ativação de linfócitos T e B, aumento da produção de
IFN-Alfa(muito importante no LES) e ativação de genes envolvidos na indução da apoptose celular.
Alguns genes encontrados mais comumente em indivíduos são o HLA DA1, B8 e DR3
A história familiar de LES é importante, pois a produção de autoanticorpos é mais comum sobretudo caso
história familiar positiva em parentes de 1º grau
Além disso, o LES também está associado com outras doenças genéticas, como deficiências do
complemento
ETIOPATOGENIA
A etiopatogenia, como dito, é diversa, estão envolvidos:
Fatores hormonais: Como maior quantidade de estrogênio, visto que as células do sistema imunológico
possuem receptor de estrógeno
Raio UV: Induz a apoptose dos queratinócitos, formando diferentes autoantígenos capazes de desenvolver
novos autoanticorpos
Infecções virais: Como pelo EBV, CMV, dentre outros
Tabagismo
Medicamentos: Como procainamida, isoniazida, metildopa, carbamazepina, anti-TNF, dentre outros, através
do mimetismo molecular.
IMUNOPATOGÊNESE
Primeiramente, existe a imunidade inata, na qual neutrófilos produzem NET’s que irão capturar fragmentos de
células de nosso corpo que sofreram apoptose e irão apresentar nas células dendríticas plasmocitóides, as células
denríticas plasmocitóides irão levar tais fragmentos para os linfóficitos T e B e estimulá-los através do IFN-1, que irão
produzir autoanticorpos envolvidos na fisiopatogêneses do LES.
Além disso, cabe-se ressaltar o importante papel da radiação UV, que promove a apoptose dos queratinócitos e
liberação de antígenos que são capturados pelas células dendríticas plasmocitóide. Por fim, os macrofágos podem
fagocitar autoantígenos, como os liberados pelos queratinócitos que sofrem exposição à radiação UV, e desencadear
uma resposta inflamatória com consequente dano tecidual
Após a formação dos auto-anticorpos, existe a formação de imunocomplexos, os quais irão impactar diversas
estruturas do organismo de uma pessoa com LES.
O padrão do LES é “flare”, no qual existem surtos e remissões, muito comum de ser desencadeado pela exposição
a sol
OBS: Os linfócitos B de pessoas com LES são hiper-reativos, produzindo muitos autoanticorpos quando
estimulados.
FATORES GENÉTICOS
O LES possui uma herança poligênica, ou seja, não existe um gene específico envolvido no surgimento da
doença, sendo que tais genes levam a produção e ativação de linfócitos T e B, aumento da produção de
IFN-Alfa(muito importante no LES) e ativação de genes envolvidos na indução da apoptose celular.
Alguns genes encontrados mais comumente em indivíduos são o HLA DA1, B8 e DR3
A história familiar de LES é importante, pois a produção de autoanticorpos é mais comum sobretudo caso
história familiar positiva em parentes de 1º grau
Além disso, o LES também está associado com outras doenças genéticas, como deficiências do
complemento
EVOLUÇÃO CLÍNICA
O LES possui uma evolução clínica conhecida, como visto abaixo:
Assintomáticos: O indivíduo não possui LES, apenas fatores genéticos e etiopatogêncios presentes que
podem culminar no desenvolvimento de LES no futuro.
Autoanticorpos: Ocorre quando existe uma perda da tolerância a estruturas do organismo da pessoa,
ocorre por conta de gatilhos(infecção viral, medicamentos), levando a produção de autoanticorpos.
LES: É a doença clínica propriamente dita, com existência de fatores epigenéticos e produção de citocinas,
linfócitos, IFN-1, etc...
FORMAS CLÍNICAS DO LES
Existem diversas formas clínicas do LES, como as abaixo:
Lúpus cutâneo: Existe manifestação apenas na pele, sem acometimento sistêmico. Pode-se localizar
exclusivamente na face ou pavilhão auricular. O paciente PODE OU NÃO evoluir para a forma sistêmica.
Lúpus induzido por drogas: Acontece por conta do uso de determinados fármacos, possui manifestações
semelhantes ao LES, causado sobretudo por hidralazina (mais frequente) ou procainamida (mais comum)
Lúpus neonatal: O RN nasce com lesões cutâneas de LES, entretanto, são lesões cutâneas reversíveis. A
maior preocupação no lúpus neonatal é o acometimento cardíaco, mediante a passagem de autoanticorpos
pela via placentária, que irão afetar o tecido cardíaco gerando o bloqueio atrioventricular, assoc. ao Anti-RO.
QUADRO CLÍNICO
O quadro clínico de pacientes com LES é diversos, consistindo em:
Fadiga: Muitas vezes é apontada como principal sintoma do LES em alguns estudos
Febre de origem indeterminada e prolongada: Maior que 3 meses
Linfonodomegalia generalizada
Mialgia
Anorexia / Perda de peso
PELE
A pele é acometida em 90% dos pacientes com LES, sendo a 1ª manifestação em 25% dos casos, consistindo em:
O acometimento cutâneo na grande maioria dos casos não causa morte, entretanto, pode trazer um prejuízo muito
grande por conta da estética, como em pacientes jovens com lesões de LES na face.
ACOMETIMENTO AGUDO
Rash malar em asa de borboleta: É a lesão na região malar, poupando o sulco nasogeniano, surgindo
mediante exposição solar
Fotossensibilidade: Surgem erupções cutâneas logo após a exposição ao sol, muito associada ao anti-Ro
Lesões eritematosas Máculo-papular: É quando está sobrelevada, podendo acometer outras regiões que
não a malar, como o queixo e tronco, também está associada a exposição solar
Lesões bolhosas: Raro, semelhante a NET.
Necrólise epidérmica tóxica: Forma extremamente grave do LES cutâneo
Úlceras orais: Sobretudo no palato, sendo o clássico INDOLORES, mas podem serem dolorosas
OBS: Paciente com suspeita de LES deve-se realizar a oroscopia, mesmo sem queixas.
Psoriasiforme ou Papuloesquamoso: São lesões eritematosos que acometem dorso dos membros e região
proximal dos membros, descamação excessiva(mimetizando psoríasiforme)
Policíclico ou anular: São lesões circuladas com borda hiperemiada e centro mais próximo da coloração
normal da pele.
Alopécia não cicatricial: Rarefação de pelos na região frontal, sem relação com lesões
Túmido
Paniculite: Presença de nódulos firmes e dolorosos no tecido subcutâeneo
Pérnio
Apenas 10% dos pacientes com lúpus discoide possuem lúpus sistêmico
MANIFESTAÇÕES MUSCULO-ESQUELÉTICAS
São as abaixo:
A Artropatia do LES lembra muito o acometimento da artritre reumatóide, entretanto, a artrite do LES é não-erosiva,
enquanto na AR a artrite é erosiva.
OBS: Ou seja, é uma poliartrite simétrica, não-erosiva e não deformante, acometendo preferencialmente mãos,
punhos e joelhos.
Necrose avascular da Cabeça femoral, é o local mais acometido, RM é o padrão-ouro para diagnóstico
Joelho, talus e carpo: Também podem ser acometidos
A osteonecrose do LES costuma ser bilateral e também multifocal (pode ter do fêmur e joelho ao mesmo tempo).
Pneumonite ou miocardite: A pneumonite pode ser grave, cursando com hemorragia alveolar e insuficiência
respiratória, mas a causa mais comum de infiltrado pulmonar nos pacientes com LES é a pneumonia
Pericardite: A pericardite é a manifestação cardíaca mais frequente nos pacientes com LES
Síndrome do pulmão encolhido (Shrinking-Lung-Syndrome): Não altera os padrões da espirometria, é mais
um achado nos exames de imagem pois o diafragma fica fraco e a pleura espessada
Endocardite de Libman-Sacks: Acomete sobretudo a mitral (1º) e aórtica (2º), ou seja, câmaras esquerdas,
com alto risco de embolização arterial, muito associada a SAAF
Vasculite coronariana
Valvulite com ou sem manifestações clínicas
Disfunção endotelial
Pode ser uma glomerulonefrite quando existe acometimento glomerular, que é a forma mais comum, ou acometer
o tubulointerstício, de forma mais rara
Pacientes com a forma renal possuem pior prognóstico e é a complicação que mais aumenta a morbidade no LES.
De acordo com o local da estrutura do rim que o processo inflamatório acomete e também da gravidade das
alterações, é realizada a classificação da nefrite lúpica em Classe I a VI, como visto abaixo:
As classes e suas características são vistgas abaixo:
Classe 1: Alterações mesangiais mínimas, o paciente possui ausência de alterações clínicas, não requer
tratamento.
Classe 2: Mesangial proliferativa, com células infamatórias no mesângio, pode ter proteinúria e hematúria,
normalmente não requer tratamento
Classe 3: Profilerativa focal, começa a haver imunocomplexos subendoteliais, mas tem acometimento menor
que 50% dos glomérulos. O paciente apresente azotemia, proteinúria subnefrótica, hematúria. Aqui é
necessária imunossupressão.
Classe 4: Proliferativa difusa, acomete mais de 50% dos glomérulos. Aqui já pode haver também proteinúria
nefrótica, também requer imunossupressão, sendo a classe mais grave e frequente.
Classe 5: Membranosa, acomete a região subepitelial, tem uma proteinúria muito importante SEM
azotemia E SEM Cilindros, o paciente apresenta EDEMA, HAS. O tratamento é igual ao da Síndrome
Nefrótica.
o Na classe V não existe hematúria em grande monta.
Classe 6: É a esclerose avançada, com fibrose em mais de 90% dos glomérulos, igual ao paciente com DRC
avançado, não é realizada imunossupressão pois não tem mais volta, o manejo é igual ao DRC.
A classe de nefrite lúpica mais comum é a IV, nefrite lúpica difusa, e a segunda mais comum a nefrite lúpica focal,
classe III. A diferença entre estas duas é a quantidade de glomérulos acometidas, quando acima de 50% é a classe IV,
quando abaixo, a classe III.
Além disso, com base no local do néfron acometido pelo LES, pode-se dizer:
Acometimento Subepitelial: Promove uma injúria dos podócitos, levando a uma proteinúria importante, é a
classe V.
Acometimento subendotelial: Ocorre abaixo do endotélio, promove insuficiência renal, classe III e IV
Acometimento Mesangial: Mais benigno, normalmente causa hematúria, Classes I e II
LES NEUROPSIQUIÁTRICA
Os pacientes com LES podem ter manifestações neuropsiquiátricas de forma muito variável, já existindo 19
síndromes neuropsiquiátricas relacionadas a pacientes lúpicos, sendo que tais manifestações ocorrem comumente
quando a doença tem 1-2 anos, ou seja, logo no início da doença
As manifestações neuropsiquiátricas que podem surgir em pacientes lúpicos são:
HEMATOLOGIA
Anemia de doença crônica: É a mais comum, mas não é a mais específica de LES
FAN
O FAN + possui alta sensibilidade para LES, cerca de 95-98%. Entretanto, o FAN é pouco específico, devendo seu
resultado ser olhado com cautela
ANTI-DNA
ANTI-NUCLEOSSOMO
ANIT-HISTONA
Possui baixa especificidade para LES, sendo útil para diagnosticar LES induzido por droga
ANTI-Ro
Possui associação com LE neonatal e LES de início tardio(idosos)
Também pode estar presente no lúpus cutâneo subagudo (psoriasiforme ou policíclico)
O LES neonatal possui alterações cardíacas (BAVT Congênito), dermatites, citopenias, todos que são
revertidos após o nascimento, exceto as alterações cardíacas que podem persistir.
Diante da suspeita de LES neonatal, deve-se realizar ecocardiografia imediatamente, além disso, o LES
neonatal pode preceder o LES da mãe e ocorrer até mesmo em mães assintomáticas
Anti-RNP
O Anti-RNP é muito associado ao fenômeno de Raynaud, no qual quem tem LES e Anti-RNP positivo tem
maiores chances de desenvolver Fry
Também está associado com maiores chances de doença pulmonar intersticial e menor gravidade nefrite
Anti-C1q
Presente em 17-46% dos casos, muito associado a nefrite
Também está associado a urticária vasculite e AR
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de LES pode ser realizado com os dados abaixo:
Manifestações clínicas
Testes laboratoriais: Tomando cuidado com FAN que pode ser um falso-positivo
Testes imunológicos
Exames de imagem
Biópsia tecidual: Sobretudo na nefrite
Diagnóstico diferencial
1º - CRITÉRIO DE INCLUSÃO: O paciente precisa ter o FAN positivo em títulos > 1/80. Caso negativo, o paciente não
entra nos critérios da EULAR. OBS: O FAN não é critério diagnóstico, mas sim de entrada.
2º - CRITÉRIOS ADICIONAIS: Caso o paciente tenha FAN positivo utiliza-se os critérios seguindo as regras abaixo
Agora os critérios adicionais variam com base nas manifestações clínicas de LES:
Caso > 10 pontos o paciente possui o diagnóstico de LES, mas não é obrigado tal critério para diagnóstico de LES
TRATAMENTO
O tratamento do LES consiste em:
Educação do paciente
Evitar exposição solar: Visto que os raios UV podem piorar a doença, como visto na fisiopatologia
Tratar comorbidades: Pacientes com LES possuem maiores chances de desenvolver HAS, DM
Exercícios físicos: Estudos recentes apontam uma melhora do sistema imune de pacientes com LES que
praticam atividade física
Contracepção: Até que haja desejo de gravidez.
Filtro Solar (FPS > 30): Não apenas para quem tem atividade cutânea
Planejamento familiar: A gravidez é permitida, mas é considerada de alto risco
Vacinação
Cessar o tabagismo
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Varia conforme a gravidade do LES:
LES LEVE
Pode-se utilizar:
LES MODERADO
Utiliza-se:
LES GRAVE
Utiliza-se:
Glicocorticoides injetáveis(IV)
Hidroxicloroquina
Metrotexato e azatioprina
Micofenolato, belimumabe, inibidores da calcineurina
Ciclofosfamida e rituximabe
Anifrolumabe: Bloqueador do INF-Alfa
TRATAMENTO – NEFRITE
Varia conforme a fase, sendo o tratamento da nefrite lúpíca dividida em fase de indução (6m) e manutenção (3m):
Em casos mais graves vai adicionando-se os medicamentos ditos acima, como inibidores da calcineurina,
imunobiológicos, dentre outros
LES FARMACOINDUZIDO
Consiste PHarmacoinduzido, que possui FAN Homogênico com Anti-Histona, sendo causado principalmente por: