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Louyse Jerônimo de Morais 1

Lúpus
Referência: aula da prof. Alessandra Braz

Introdução • 4,8 a 8,7 casos por 100 mil habitantes/ano de


incidência
A doença pode se manifestar de forma sistêmica
ou não. Quando é, dizemos que é lúpus eritematoso Existe uma relação muito forte de lúpus com lesão
sistêmico [LES]. O eritema é uma alteração que pode estar induzida por luz UV proveniente do sol. Sabemos que as
presente, mas não é obrigatória. Então, existe lúpus sem pessoas com LES têm uma pele fotossensível
rash malar. classicamente, então o sol pode desencadear o LES bem
como pode induzir atividade de doença.
Conceito
A doença começa, geralmente, a partir dos 16
O LES é uma doença inflamatória crônica,
anos, tem pico máximo no boom hormonal feminino
autoimune, de etiologia pouco conhecida, decorrente de
[entre 40 e 50 anos] e, após menopausa, vai caindo. Existe
um desequilíbrio do sistema imunológico e de produção
o lúpus de início tardio, quando inicia após os 60 anos, mas
de autoanticorpos. Trata-se de uma doença pleomórfica,
é algo muito raro. São pessoas que morrem cedo [40 anos
uma vez que o envolvimento de órgãos e tecidos ocorre
+/- 18]. Então, estamos falando de mulheres que tem uma
nas mais diversas combinações e em graus variados de
doença de alta morbimortalidade.
gravidade.
O percentual de evolução em longo prazo ocorre
Em algum momento, em uma pessoa predisposta
da seguinte forma: 50% dos casos são lúpus leve, 33% é
geneticamente, vai existir um gatilho, que vai fazer com
moderado e 17% é severo. Dos 2 aos 5 primeiros anos
que haja uma produção de autoanticorpos contra o
após o diagnóstico é quando o lúpus é mais complexo. As
próprio corpo – pode ser desde a raiz do cabelo,
duas principais causas de mortalidade são atividade de
provocando queda de 100 fios por dia, gerando alopecia.
doença e infecção [por conta do tratamento].
Portanto, é uma doença autoimune, diferentemente das
espondiloartrites, que são imunomediadas. Etiologia

A etiologia não é bem definida, mas envolve a


participação dos seguintes fatores:

• Genéticos: parentes de primeiro grau têm risco


17x maior de desenvolver LES.
• Hormonais: os estrógenos têm papel estimulador
de várias células imunes, como macrófagos,
linfócitos T e B.
• Ambientais: exposição solar, tabagismo, infecções
virais [CMG, EBV, Chikungunya] e fármacos
[hidralazina e isoniazida].
• Imunológicos: fatores relacionados à produção de
autoanticorpos.

Acredita-se que a exposição solar excessiva


promova a quebra de queratinócitos, os quais vão liberar
Epidemiologia substâncias intracelulares que vão funcionar como
antígenos apoptóticos. Estes últimos vão induzir à
• 10:1 mais prevalente em mulheres em idade
produção de anticorpos. Então, um autoanticorpo vai se
reprodutiva
fixar em um antígeno, indo até a membrana da célula e
• 124 por 100 mil de prevalência: a prevalência é ativando o sistema complemento, que vai ser consumido.
muito variável também. Em alguns países, o lúpus Primeiramente, tem prova de atividade inflamatória, mas
é mais prevalente, mas de modo geral, no mundo, tem complemento consumido, porque ele está sendo
tem essa prevalência acima. ativado na célula com antígeno-anticorpo.
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Só quem vai poder parar os anticorpos são os prevalente quando a artralgia, só que atualmente usa
imunossupressores, que vão bloquear ou diminuir a artralgia com característica inflamatória como critério
produção de linfócitos T ou B, principalmente linfócito B. articular, então não precisa ter artrite robusta para pensar
Existe um imunobiológico, que é o rituximabe, que em lúpus.
bloqueia o pré-linfócito B, para evitar a formação de
Manifestações cutâneas
anticorpos.
São identificadas em 70% dos pacientes no início
Também pode ocorrer lúpus induzido por
da doença e em até 80 a 90% na sua evolução. É
medicação, mas pode acontecer de uma pessoa estar com
importante entender que não é só o rash malar em asa de
lúpus, tomar a medicação e desenvolver uma outra
borboleta que é característico, mas também a
alteração.
fotossensibilidade – geralmente, em área de exposição
Patogênese solar, podendo fazer até bolhas na pele. O rash fica como
se tivesse a pele levemente elevada, além de queimar e
Há produção de autoanticorpos, chegada de
arder.
células inflamatórias no local, processos que envolvem
neutrófilos, diminuição do número de células citotóxicas
etc.

• Perda da autotolerância – processo que começa


na quebra da homeostasia celular e culmina com
a produção anormal de autoanticorpos.
• Aumento: expressão de IFN-α, número e atividade
dos linfócitos T CD4 [helper], ativação policlonal
de células autorreativas, expressão de BLyS/BAFF,
aumento da sinalização dos TLR7 e TLR9 nas
células B, células dendríticas e plasmáticas,
aumento do processo conhecido como NETose.
• Redução: número e função das células T
citotóxicas e supressoras; redução do clearance
dos imunocomplexos circulantes e do material Existe uma classificação, em que se coloca os tipos
apoptótico pelos macrófagos. cutâneos de lúpus. Ela divide em agudo, subagudo e
crônico.
O mais interessante é a redução do clearance do
imunocomplexos circulantes. Quem faz o clearance dos • Agudo: classicamente, rash malar em asa de
imunocomplexos são os macrófagos, geralmente no baço. borboleta, que poupa o sulco nasolabial,
No lúpus, há um hipoesplenismo funcional. Então, essa fotossensibilidade, bolhas.
capacidade de retirar imunocomplexos do organismo fica o Rash malar é lesão aguda e não deixa
comprometida. Mesmo que o paciente com lúpus em cicatriz. Se deixar escuro, pensa em
atividade não tome imunossupressor, o sistema Melasma.
imunológico fica mais frágil para combater infecções. • Subagudo: geralmente, parece escabiose, mas
Manifestações clínicas não tem prurido muito intenso; pode ou não ser
em área de exposição solar.
• Gerais: anorexia, perda de peso, febre de origem • Crônico: um dos subtipos é o discoide.
indeterminada, linfadenopatia generalizada ou
localizada, com predomínio das cadeias cervical e O lúpus discoide tem uma característica clássica,
axilar, pode ser observada em mais de 1/3 dos que é deixar cicatriz, a qual pode ser circular, oval,
casos, assim como a presença de hepato e/ou estrelada etc. É uma cicatriz que dá uma leve atrofiada e é
esplenomegalia. rosa pálido – é diferente do vitiligo, que é branco. O lúpus
discoide pode ser periférico, no couro cabeludo etc.
Começa como uma doença viral e febril, muitas
vezes – isso é o que atrapalha muito o diagnóstico. O lúpus discoide é mais prevalente do que o
sistêmico – quem vê muito é o dermatologista. Além disso,
A manifestação orgânica mais prevalente nos a hanseníase pode ter alterações parecidas com as do
pacientes com LES é a artralgia e artrite. A artrite não é tão lúpus.
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decorrentes do acometimento inflamatório de


tendões e ligamentos.
o Também pode estar presente na febre
reumática.

Manifestações pulmonares

• Pleurite: manifestação mais frequente,


acometendo 30 a 60% dos pacientes, sendo que
derrame pleural é observado em 16 a 40%
durante o curso da doença.

O derrame pleural é bilateral e de pequena monta,


dando uma dor ventilatório-dependente intensa.
Responde bem à corticoide.
Manifestações articulares
• Hemorragia alveolar: dispneia de início súbito,
Classicamente não deixa sequela articular, então associada a tosse, hemoptises [presentes em
não tem erosão nem reabsorção óssea. A pessoa vai ter apenas 50%], febre e infiltrados pulmonares
uma poliartrite simétrica aditiva, por vezes com rigidez difusos; marcada por baixos níveis de
matinal, semelhante à da artrite reumatoide. Esta última, hemoglobina.
no entanto, tem o pannus – hiperplasia do tecido sinovial,
produção de anticorpos, erosão e fusão óssea.

Quem deforma a mão, de característica típica, no


lúpus, é a artropatia de Jaccoud. Essa artropatia é
fibroligamentar, deixando os ligamentos frouxos, então
quando pega a mão da pessoa, ela fica no lugar.

Pode se manifestar com insuficiência respiratória


abrupta e queda intensa de hemoglobina – é uma das
coisas de morte mais rápidas no lúpus. A hemoptise não
está presente em todo mundo. Na imagem, vê-se
• Artropatia de Jaccoud – 8 a 10% das pessoas com infiltrados algodonosos. Interna como pneumonia, muitas
lúpus; desvio ulnar dos dedos e deformidades vezes.
reversíveis do tipo “pescoço de cisne”
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• Hipertensão pulmonar: pode ocorrer em A endocardite de Libman Sacks é estéril,


decorrência da própria doença ou secundária à consistindo apenas em um processo inflamatório na
valvopatia cardíaca, doença intersticial pulmonar válvula, mas não cresce nada em cultura. Geralmente
ou embolia pulmonar [**associada à SAF]. associada com antifosfolípide, consumo de complemento
e processo inflamatório valvar, mas não tem infecção
Pode acontecer pela própria doença ou
secundária, só que nunca se pensa nisso como primeira
secundária à presença de anticorpos antifosfolípides.
opção. Se estiver presente em atividade de doença, excluir
Sempre pensar em hipertensão pulmonar em paciente
causa bacteriana.
com LES que interna com atividade de doença. Então, todo
paciente que interna, fazer radiografia de tórax e • Miocardite: é suspeitada na presença de
ecocardiograma. Se a hipertensão da artéria pulmonar for taquicardia persistente e sinais clínicos de
associada a microtrombos, isso fala mais a favor de SAF. insuficiência cardíaca aguda, geralmente com
Se não for associada a microtrombos, mas à atividade de alterações no mapeamento cardíaco e enzimas
doença sendo doença intersticial é ótimo, porque musculares. Pode até simular infarto.
responde ao tratamento da doença de base.
Na vigência de miocardite febril, com derrame
• Síndrome do pulmão encolhido: instalação pericárdico e pleural, logo se pensa em Coxsackie vírus e
aguda/subaguda de dispneia; redução dos dengue para depois pensar em LES. Se o paciente já tiver
volumes pulmonares frente à elevação de LES, fica mais fácil. Ele chega com taquicardia, turgência,
diafragma = função pulmonar. aumento do tamanho do coração, diminuição da fração de
ejeção e hipotensão. São pacientes graves e que, muitas
vezes, vão para UTI.

• Pericardite: pode ser a primeira manifestação do


LES em 5% dos quadros, podendo aparecer
isoladamente ou associada à serosite
generalizada, particularmente associando-se à
pleurite. É o mais comum. Pode começar com
sensação de febre e mal estar.

Manifestações neuropsiquiátricas

São observadas em 25 a 70% dos pacientes,


podendo ser a primeira manifestação da doença e ocorrer
mesmo na ausência de outras manifestações.

A síndrome do pulmão encolhido consiste em uma Temos dois grandes grupos de alterações de lúpus
redução volumétrica do pulmão. Na ausculta da base do no SNC:
pulmão, parece derrame, mas não é. O paciente tem • Trombótico: associado com anticorpo
dispneia, por redução do volume pulmonar, e elevação da antifosfolípide, podendo dar AVE etc. A pessoa
cúpula diafragmática. Existe muita dor ventilatório- pode ter desde confusão mental, meningite
dependente. asséptica, psicose, depressão, esclerose múltipla
Manifestações cardíacas like, convulsão etc.
• Inflamatório
• Endocardite Libman Sacks: vegetações verrucosas
localizadas próximas das bordas valvares e Outras síndromes
habitualmente não produzem repercussão clínica, Antes de dizer que a convulsão / psicose é de
sendo observadas em até 50% das autópsias. lúpus, tem que descartar distúrbio hidroeletrolítico e
infeccioso, então muitas vezes vai ter que colher LCR.
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Manifestações hematológicas o Mielodisplasia


o Mielofibrose
As principais manifestações são: anemia [57 –
78%], leucopenia, trombocitopenia e síndrome do Manifestações renais
anticorpo antifosfolípide.
Um dos principais determinantes da
• Anemia: as causas mais comuns são anemia da morbimortalidade nos indivíduos com LES. Manifesta-se
doença crônica e deficiência de ferro, seguida por clinicamente em 50 a 70% dos pacientes, mas
hemólise autoimune. praticamente 100% deles têm doença renal à microscopia
o A anemia típica do lúpus é a hemolítica, eletrônica.
mas a mais comum é a da normo/normo.
O principal motivo de internação do paciente com
o O teste de Coombs direto é positivo em
lúpus é glomerulonefrite. A forma mais comum é
apenas 10% dos pacientes com lúpus e
exatamente a mais grave, que é a tipo IV. Ela tem relação
hemólise. Portanto, devemos ficar
direta com anti-DNA nativo, complemento reduzido e
atentos. É uma hemoglobina baixa, com
sumário de urina alterado.
VCM normal.
o A anemia da doença crônica caracteriza- • As concentrações séricas aumentadas do
se por ser leve e ocorrer em períodos de anticorpo anti-DNA nativo e reduzida das frações
atividade inflamatória. do complemento [C3 e C4] frequentemente estão
• Linfopenia: em 20 a 75%, especialmente associadas com nefrite.
relacionadas à atividade inflamatória da doença. • EAS: os cilindros celulares mais importantes são os
o Imunomediada, infecção particularmente hemáticos, os leucocitários e os epiteliais
viral, induzida por fármacos. tubulares.
Pode ter linfo ou leucopenia. Hoje em dia, Forma de classificação
estamos dando mais valor, especificamente, à leucopenia
[leucócitos < 4000 em duas ou mais avaliações seriadas]. O que interessa para a gente é de III para cima. A
III tem glomerulonefrite e pega 20% dos glomérulos. A IV
• Leucopenia: em até 50% dos pacientes é forma mais complexa, pois tem mais de 50% dos
o Imunomediada glomérulos afetados e existe ação de imunocomplexos,
o Infecção que vão promover consumo de complemento. Quando faz
o Induzida por fármacos: comum – biópsia, vai identificar muitos imunocomplexos [full-
azatioprina, ciclofosfamida, metotrexato. house, porque tem casa cheia de imunocomplexos, que
Raras – micofenolato mofetil, vão lesar os glomérulos].
ciclosporina, hidroxicloroquina.
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Exames complementares • Exame simples de urina: proteinúria, cilindros


urinários etc.
Não há um teste único que determina se uma
pessoa tem lúpus. FAN

• Hematológicos: hemograma. O tempo de Mais de 95% dos pacientes com lúpus tem FAN
tromboplastina parcial [PTT] pode estar positivo. O lúpus discoide isolado também tem FAN
prolongado em razão da presença de positivo, mas não é obrigatório.
anticoagulante lúpico.
• Situações que podem positivar o FAN: lúpus
o VHS e PCR elevados. Quando PCR muito
induzido por medicação, esclerose sistêmica,
alta, fala muito mais de infecção do que
artrite reumatoide, dermatomiosite, cirrose biliar
de atividade de doença.
primária, infecção crônica, neoplasia, usuárias de
• Anormalidades bioquímicas: ureia e creatinina
anticoncepcional oral, pessoas saudáveis,
elevados, colesterol elevado, transaminases,
parentes de primeiro grau etc.
fosfatase alcalina elevadas [osteodistrofia ou
cirrose biliar primária], CK elevada [miosite].
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Padrões de FAN Chamamos assim porque, nas duas primeiras vezes que foi
detectado no sangue, foi em mulheres com lúpus que
• Nuclear homogêneo: cheio de anticorpo junto
estavam com hemorragia. Achou-se que era um fator
com antígeno no núcleo inteiro. Geralmente é
sanguíneo relacionado à anticoagulação. Ao longo dos
anti-DNA nativo ou anti-histona [FAN induzido por
anos, viu-se que os eventos temidos do antifosfolípides
medicação]. Cora-se de forma uniforme.
são os eventos trombóticos.
o Anti-DNA nativo é marcador de LES
o Anti-histona: marcador de LES induzido Resumo geral dos anticorpos
por drogas, mas pode aparecer em uma
Anticorpos Comentários
série de alterações clínicas – LES
Anti-DNA; anti- LES: especificidade, atividade de
idiopático, artrite reumatoide, artrite
nucleossomo doença e acometimento renal
idiopática juvenil, importante associação
Anti-histona LES ou lúpus induzido por drogas
com uveíte na forma oligoarticular,
Anti-Sm Especificidade para LES
síndrome de Felty e hepatite autoimune.
Anti-Jo1/Anti- Poliomiosite / dermatomiosite
• Anticorpo anti-cromatina [DNA/histona, Mi2
nucleossomo] - LES Anti-U1RNP Doença mista do tecido conjuntivo
• Nuclear pontilhado grosso Anti-Scl 70, RNA Esclerose Sistêmica
• Nuclear pontilhado fino polimerase III
Anti-SS-A [Ro] Síndrome Sjögren e LES
Nunca se pede FAN sozinho, porque a pessoa
Anti-SS-B [La] Síndrome Sjögren/associado ao
pode ter LES com FAN negativo. Então, geralmente pede
anti-Ro
FAN + anti-Ro [ribonucleoproteínas]. Se FAN vier negativo,
Anti-centrômero 70% dos casos de CREST
com anti-Ro positivo, repete o FAN.
Anti-fosfolípides Síndrome do anticorpo
Anti-DNA nativo antifosfolípide
ANCAs Vasculites ANCA associadas –
• Especificidade de 97%, podendo ser maior que diagnóstico e atividade na GPA
99% quando em altos títulos.
• Sensibilidade varia entre 60 e 80%. Na tabela acima, estão marcados em rosa os de
• Títulos podem flutuar ao longo do tempo. importância para o LES e que precisam ser memorizados
• Referência: não reagente. no contexto desta aula.

Tem correlação com atividade de doença, Anti-Sm é o marcador de especificidade mais


principalmente nefrite lúpica, porque ele se correlaciona, importante para o lúpus, e geralmente o FAN é nuclear
também, com consumo de complemento. Vimos que a pontilhado grosso.
biópsia renal é full-house, isto é, cheia de imunocomplexos Quando se fala de mulher jovem com alteração de
no rim. função renal, queda de cabelo e AVC, sempre investigar
Anticorpos antifosfolípides lúpus com antifosfolípide. Este último nos diz que a
mulher tem um risco maior de ter trombo, então ela tem
São autoanticorpos com reatividade para que anticoagular quando engravidar, se já teve evento
fosfolipídios de carga negativa e estão associados com trombótico prévio.
fenômenos tromboembólicos recorrentes e/ou abortos
de repetição. São utilizados tanto para o diagnóstico de Caso clínico
lúpus como para o da síndrome antifosfolípide [SAAF]. 1. Mulher, 40 anos, há 1 ano com lesão ulcerada no
Deve-se lembrar que o anticoagulante lúpico não palato, pouco dolorosa e poliartralgias.
é um anticorpo, mas uma prova de coagulação operada. Leucopenia e persistente e poliartralgia, em uso
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corticoide tópico sem melhora. VHS e PCR A principal hipótese é LES, mas pode ser linfoma,
normais, C3 e CH50 levemente reduzidos. hanseníase etc. Tem que lançar mão de anticorpos de
especificidade para fechar diagnóstico.
Pedir FAN, anti-DNA, anti-Sm, além de
ecocardiograma e radiografia de tórax para avaliar se a Classificação / diagnóstico
pessoa tem LES.
É necessário que estejam presentes no mínimo
2. Mulher, 30 anos, internada devido queda do quatro critérios: incluindo pelo menos um clínico [do total
estado geral, 6 meses com febre, perda de 6 kg no de 11] e um imunológico [do total de seis]
período, lesões aftosas recorrentes na boca,
OU
poliartrite, VHS 60 PCR 48 C3 e CH50 muito
reduzidos, derrame pleural bilateral de pequeno A doença é considerada quando a nefrite é
volume. confirmada por biópsia na presença de FAN positivo ou
anticorpo anti-DNA positivo.

Prognóstico • Risco aumentado para óbito por doença


cardiovascular [2,7x], infecção [4,9x] e
• Sobrevida de 5 anos que era de 50% na década de
insuficiência renal [7,9x] do que população da
1950 passou para 95% nos dias atuais
mesma faixa etária e sexo.
É reconhecido que diversos fatores demográficos, • Fatores de pior prognóstico: infanto-juvenil, sexo
socioeconômicos e relacionados à doença estão masculino, complemento baixo, anti-DNA positivo
associados ao prognóstico destes pacientes. ou anticorpos antifosfolípides positivos, alta
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assinatura de IFN, índices de atividade moderada a fazer o seu melhor efeito. Então, até começar a
a alta. agir de forma plena, usa corticoide.
• É obrigatório usar corticoide em quadros
Tratamento
moderados a graves de LES: antinflamatórios mais
• Recomendações: protetor solar, vacinação, não potente do mundo. Usa em dose
fumar, exercício, controlar peso corporal, pressão imunossupressora, que é acima de 1 mg/kg, o que
sanguínea, lipídeos e glicose. Em alguns pacientes faz com que os anticorpos clareiem e reduza o
que têm risco de trombo ou que já tiveram, pode processo inflamatório. Vai reduzindo a dose do
usar desde antiagregantes até anticoagulantes. corticoide aos poucos, conforme há melhora do
• Alvo: induzir remissão – ficar sem atividade de quadro.
doença [SLEDAI = 0] e tomar hidroxicloroquina • Metotrexato: quadro articular e cutâneo.
para sempre. Só suspende se retiver retinopatia • Azatioprina: problema hematológico e pulmonar.
ou maculopatia por cloroquina [extremamente
Lúpus não tem causa definida, portanto, não tem
raro].
tratamento com data correta. Só pode engravidar com
• HCQ: hidroxicloroquina – usa em lúpus do leve ao
doença fora de atividade há pelo menos 6 meses, além de
grave. Ela demora de 4 a 5 semanas para começar
não poder ter nefrite nem anticorpo antifosfolípide.

Tratamento do LES não renal—fármacos recomendados com respectiva graduação de recomendação. aPL, anticorpos
antifosfolípides; AZA, azatioprina; BEL, belimumabe; BILAG: Índice de atividade da doença do British Isles Lupus Assessment
Group; CNIs, inibidores de calcineurina; CYC, ciclofosfamida; GC, glicocorticóides; HCQ, hidroxicloroquina; IM, intramuscular; MMF,
micofenolato mofetil; MTX, metotrexato; Pré, prednisona; PO, por os; RTX, rituximabe; PLTs: Plaquetas; SLEDAI, Índice de Atividade
da Doença do Lúpus Eritematoso Sistêmico.

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