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COLÉGIO NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO


IRMÃS DOMINICANAS
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
PROFESSOR MSc. MICHAEL GONÇALVES
DISCIPLINA DE FILOSOFIA
ENSINO MÉDIO – 1ª SÉRIE
RESUPO DAS AULAS – 2º BIMESTRE

Sócrates

Filho de parteira e de escultor, Sócrates revolucionou a filosofia com um método de construção do saber que
se opôs à retórica dos sofistas.

Os sofistas ensinavam aristocratas gregos e seus filhos a vencerem seus debates. Sócrates entendia que a
verdadeira razão de um diálogo é a busca pelo conhecimento, pela verdade e não o convencimento puro e simples.
Sócrates travou muitas discussões com sofistas e acabou contribuindo para que tivessem má fama na história do
pensamento do Ocidente, a despeito de terem ensinado e discutido muitos temas importantes. O fato de corarem por
seus ensinamentos e de ensinarem o relativismo (no caso de Protágoras), inflamavam os ânimos de Sócrates que
dedicava seu tempo a ensinar quem quer que quisesse aprender, mesmo que ele mesmo entendesse que o papel dele
era apenas de um guia, pois todos podem construir conhecimento. Sócrates se via como um parteiro do conhecimento.

O seu método de ensino passava metaforicamente pelo trabalho de seus pais. Num primeiro momento,
Sócrates buscava fazer com que o interlocutor reconhecesse não saber sobre o tema. O reconhecimento da própria
ignorância era o início da busca pelo verdadeiro conhecimento, assim como um escultor tira o excesso de pedra para
fazer surgir uma forma bela, o papel de Sócrates neste primeiro momento era o de retirar os excessos nas concepções
das pessoas. Esta primeira parte do método socrático se chama ironia.

Com esta atitude, Sócrates incomodou tanto a sociedade que pagou com a própria vida. Acabou condenado à
morte por corromper os jovens atenienses, mas diz-se que esta corrupção foi fazê-los questionar as hipocrisias da
sociedade grega, algo típico para seu método de construção do conhecimento que se baseava nos diálogos e tentava
fazer os interlocutores perceberem os seus erros de concepção, ou seja, mostrava como seus conceitos estavam
errados. Este primeiro momento do método socrático foi chamado ironia e para ilustrá-lo, Sócrates costumava dizer
“Sei que nada sei!”, pois, para ele era sempre necessário se colocar numa atitude humilde e partir de um pressuposto
de que não se sabe, pois o grande erro está em achar que se sabe muita coisa e Sócrates é mais sábio que os outros
pois sabe uma coisa que todos os outros não sabem: sabe que nada sabe e por isso, está o tempo todo numa atitude
de quem aprende, de quem, por meio do diálogo é capaz de compreender e entrar em consenso.

O segundo momento do método socrático parte de uma pergunta básica: O que é...? Questionando todas as
coisas, Sócrates pensava que poderia constituir o conhecimento. Os diálogos socráticos sempre tinham como ponto
de partida a busca pela compreensão de algo e para ele, chegar ao conceito claro e aceitável era como um parto: o
parto das ideias, chamado por Sócrates de maiêutica.

Havia ainda outra preocupação de Sócrates: a ética. Sócrates é o responsável pela virada ética, ou seja, a
introdução dos questionamentos acerca da vida humana ao invés de questionar apenas a natureza como faziam seus
predecessores. Sócrates costumava cobrar coerência das pessoas e sugeria que a melhor forma de dominar a si
mesmo, especialmente para dominar as paixões do corpo e se dedicar ao que havia de mais elevado que, para ele,
era o saber. Para tal feito, Sócrates sugeria o autoconhecimento: “Conhece-te a ti mesmo!”

Para os gregos, conhecer era o bastante para passar a ser melhor!

Portanto, retomando:

- Sócrates introduziu a ética na filosofia.

- Seu método se baseava no diálogo e era formado pela ironia (desconstrução do saber) e pela maiêutica (construção
do saber).

- Sua filosofia se baseava em três frases: “Conhece-te a ti mesmo!” “Sei que nada sei!” e “O que é...?”

Alegoria (Mito) da Caverna


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Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância.
Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão
aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está
diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina
que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo
dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam
diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco – Estou vendo.
Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que o
transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses
transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.
Glauco – Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.
Sócrates – Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de
si mesmos e dos seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes
fica de fronte?
Glauco – Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?
Sócrates – E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?
Glauco – Sem dúvida.
Sócrates – Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as
sombras que veriam?
Glauco – É bem possível.
Sócrates – E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dos transportadores falasse, não
julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?
Glauco – Sim, por Zeus!
Sócrates – Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados.
Glauco – Assim terá de ser.
Sócrates – Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da
sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o
pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento
impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer
que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê
com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer
o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que
os objetos que lhe mostram agora?
Glauco – Muito mais verdadeiras.
Sócrates – E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às
coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?
Glauco – Com toda a certeza.
Sócrates – E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem
antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando
tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos
verdadeiras?
Glauco – Não o conseguirá, pelo menos de início.
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Sócrates – Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir
mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por
último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais
facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e a sua luz.
Glauco – Sem dúvida.
Sócrates – Por fim, suponho eu, será o Sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa,
mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal como é.
Glauco – Necessariamente.
Sócrates – Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa
tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.
Glauco – É evidente que chegará a essa conclusão.
Sócrates – Ora, lembrando-se da sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que aí foram seus
companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?
Glauco – Sim, com certeza, Sócrates.
Sócrates – E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse,
com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro
ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a
inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não
preferirá mil vezes ser um simples criado de charrua, a serviço de um pobre lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar
às antigas ilusões e viver como vivia?
Glauco – Sou da tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.
Sócrates – Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: não ficará com os
olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?
Glauco – Por certo que sim.
Sócrates – E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes,
para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que os seus olhos se tenham recomposto, pois
habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que,
tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se a alguém tentar
libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?
Glauco – Sem nenhuma dúvida!
(Platão, A República, VII, p. 105 a 109)

Platão e o mito da caverna

Para comunicar sua visão acerca da forma como se organiza o conhecimento humano, Platão propôs o mito
(ou alegoria) da caverna. Foi uma maneira de comunicar uma teoria complexa de uma maneira que a maioria das
pessoas do seu tempo conseguiam compreender.

O mito consiste na constituição de uma imagem e de um processo a ser percorrido pelos personagens da
história.

Primeiro ele conta que há uma caverna aprofundada no seio da terra e que no seu limite mais profundo há um
grupo de prisioneiros acorrentados olhando para a parede do fundo. Estes prisioneiros estiveram lá no fundo da caverna
por toda a sua vida incapazes de se moverem para enxergar nada além do que se via naquela parede.

Por detrás deles se erguia um muro e atrás deste muro havia um grupo de transportadores que carregavam
objetos cuja sombra era projetada naquela parede que os prisioneiros admiravam. A sombra era projetada porque
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havia uma fogueira que iluminava a caverna e que produzia o efeito das sombras quando se colocava algum objeto na
sua frente.

Atrás desta fogueira havia um caminho que se elevava para a saída da caverna.

Digamos que dentre os prisioneiros, um deles tentasse se levantar para olhar ao redor e descobrir o que há
além das sombras na parede. Segundo Platão, este faria com muita dificuldade já que nunca saiu da posição do
prisioneiro. Levantando-se, o prisioneiro seria capaz de enxergar mais coisas dentro da caverna e ampliar sua visão a
respeito do contexto em que está. Este ato o faria se questionar a respeito de tudo o que já sabia e que aprendia sem
resistência.

Investigando o interior da caverna, este prisioneiro liberto e curioso descobriria o muro, os transportadores, a
fogueira e o caminho que leva à saída da caverna. Percorrendo todo este caminho, este ser se depararia com a
realidade fora da caverna e da qual os objetos que constituíam as sombras na parede eram cópia. Percebendo ser
esta a verdade, este ser liberto decidiria por voltar para falar com os outros prisioneiros e tentar convencer-lhes a se
libertar também.

Segundo o texto de Platão, o conhecimento do mundo sensível (o mundo que podemos conhecer através dos
órgãos dos sentidos) é inferior à contemplação da verdade. Os homens, porém, tendo vivido sempre numa caverna,
acorrentados, acreditam que as sombras que veem projetadas na parede sejam a verdade. Mas só é possível conhecer
a verdade além de nossos preconceitos e crenças. Só o filósofo se liberta e vê a realidade à luz do sol. Por isso, o
filósofo deveria ser o guia da sociedade (rei filósofo).

Para Platão, a verdade é o que está fora da caverna no que ele chama de mundo das ideias e que as coisas
que existem no mudo real (mundo das sombras) são cópia da cópia, ou seja, são a corrupção das ideias que são
perfeitas, universais, eternas e imutáveis.

Se a verdade é algo acessado, não há construção de conhecimento, mas apenas um processo de descoberta
no sentido de que ela já existe, mas ainda não conseguimos enxergar. Na medida em que o indivíduo se acostuma
com as ciências e linguagens, começa a se desprender do senso comum causado pelas sombras até que se atinja o
estado de contemplação das ideias que são perfeitas, necessárias e universais.

As ideias são aquilo que dá forma à realidade. Elas têm estatuto próprio de existência e dão fundamentação
ao mundo concreto. As ideias são formadas de outras ideias e derivam de ideias originárias (existência, unidade,
identidade, multiplicidade e diferença) e participam da ideia de bem, pois tudo aspira o “bem”.

Para Platão, a alma acessa o mundo das ideias e é dividida em três partes com privilégio para a racionalidade
que domina as outras partes da alma. É possível pensar a alma e pela alma, que participa do mundo das ideias.

Para Platão, a ética está ligada ao conhecimento. Saber é um primeiro passo para ser.

Platão compreende que a República é a melhor forma de organizar o Estado (ideia que ainda não tinha peso,
mas aqui serve de ilustração) e o filósofo devia ser o líder da sociedade por seu caráter conhecedor.

Mito da caverna - Crítica


“O nome do elemento que permitiu que existisse a Filosofia entre eles era Logos que, como perigoso veneno contra as
convenções, levou Sócrates à morte. Sua atitude era a da dúvida que sempre acompanha a Filosofia. A dúvida quanto
à explicação do mito, à influência da tragédia, ao poder dos deuses: o nome próprio da crítica que desajusta as
crenças. Dúvida que sempre elimina todo fundamentalismo ao retirar-lhe o chão de sob os pés, a instaurar em seu
lugar as pontes entre o que vemos e o que nos é mostrado.” (Marcia Tiburi, O começo da Filosofia, Cult 103 acesso
em http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/o-comeco-da-filosofia/)

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