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EXCELENTÍSSIMA SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DE


FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE RONDONÓPOLIS - ESTADO DE
MATO GROSSO.

Processo nº. 1031360-46.2020.8.11.0003

ANA ELISA ARCOVERDE ALEXANDRE DE SOUZA e ISABEL CHRISTINA


ARCOVERDE ALEXANDRE GALVÃO, já qualificadas, vêm, na qualidade de herdeiras,
apresentar a sua manifestação sobre as últimas declarações do inventário, expondo e requerendo
o que segue.

DA DÍVIDA DO HERDEIRO-CURADOR E DA REGULARIZAÇÃO DA


REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL DO INVENTARIANTE

Cumpre destacar que o inventariante alega que uma das dívidas do espólio seria o
valor de R$ 124.008,88, devido ao herdeiro Manuel Alexandre de Souza Neto, o qual teria pago
do próprio bolso a quantia acima a fim de que um dos imóveis do espólio não fosse a leilão por
um valor bem abaixo do de mercado. Vide item 10 da fl. 8 da petição de últimas declarações.

Pois bem, alega o curador herdeiro (Manuel Alexandre) que desembolsara, em julho
de 2022, a quantia de R$ 124.008,88 para pagar o débito exequendo da execução de taxas
condominiais, supostamente se sub-rogando neste valor, motivo pelo qual inclui tal quantia nas
“dívidas do espólio”.
O primeiro ponto a ser observado, Exª , é que não é verdade que o herdeiro Manuel
Alexandre retirou do “próprio bolso” a quantia de R$124.008,88 para quitar o débito
mencionado. Ele não possui trabalho e renda há vários anos.
Ocorre que o curador, filho do sr. Aldenor Alexandre de Souza, no final da vida de
trabalho deste, antes da sua aposentadoria, tinha total acesso às contas do seu pai e da antiga
clínica dele (ARCOVERDE SAUDE E SEG. DO TRABALHO – CNPJ nº 02.186.127/0001-
72). Note que até a presente data, mesmo após o falecimento da ex-esposa do sr. Aldenor
Alexandre de Souza (Lucina Arcoverde Alexandre de Sousa) e da INTERDIÇÃO do sr.
Aldenor, a empresa continua ativa, com o próprio curador movimentando valores na
antiga conta da empresa (Banco Bradesco S/A, Agência 2228-4, C/C 10.805-7, Titular
ARCOVERDE SAUDE E SEG. DO TRABALHO LTDA – CNPJ nº 02.186.127/0001-72),
quando na realidade TINHA OBRIGAÇÃO DE dar baixa na empresa e na conta bancária. Pois

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bem, o que ocorreu foi que, após o início da senilidade que culminou na interdição do sr.
Aldenor (senilidade se agravou por volta de 2018/2019), o herdeiro Manuel Alexandre passou
a comandar livremente as contas do seu pai, inclusive a conta acima mencionada, a qual tinha
recursos oriundos do trabalho da clínica e outros negócios do sr. Aldenor.

E para o pagamento do débito de condomínio, no valor de R$ 124.008,88, o curador


se utilizou de valores oriundos da conta da empresa supramencionada.
Convém notar que o herdeiro ingressou com outra ação requerendo a liberação
imediata do valor acima. Tal ação foi apensada ao presente inventário (1042362-
08.2023.8.11.0003).
Em sede de contestação naquela ação, as herdeiras requereram a este juízo, a fim
de demonstrar que o pagamento não foi feito pelo herdeiro Manuel Alexandre, que
determinasse ao Gerente da Agência do Bradesco (da conta da empresa do sr. Aldenor
Alexandre de Souza) acima mencionada os extratos com todas as movimentações bancárias
dos últimos 5 anos da conta da empresa ARCOVERDE SAUDE E SEG. DO TRABALHO
LTDA. Vide ação apensa.
Com efeito, não há que se falar em sub-rogação de valores com a inclusão do valor
acima na dívida do espólio, visto que o herdeiro Manuel Alexandre nunca utilizou quaisquer
recursos próprios para pagar o débito mencionado.
Ad argumentandum, pelo princípio da eventualidade, cumpre notar o seguinte.
Mesmo que restasse demonstrado que o valor teria sido pago “por recursos próprios” do
curador-herdeiro Manuel Alexandre, não poderia haver jamais ser incluída no rol de “dívidas
do espólio”, por duas razões.
A primeira é que o valor depositado atualmente no processo de inventário é fruto
da venda de um imóvel do espólio, o qual ainda não foi feita a partilha entre herdeiros. Sequer
houve pagamento dos ITCMD ou dos débitos dos imóveis. Caso haja o pagamento da quantia
(R$ 124.008,88), o que sobraria não daria para pagar sequer as custas processuais e o ITCMD.
A segunda razão é que não se trata de sub-rogação o caso em questão e,
portanto, não pode ser incluído como dívida do espólio. O art. 305 do Código Civil é bem
claro ao dispor que, só tem direito ao reembolso, o terceiro não interessado que paga dívida do
devedor EM SEU PRÓPRIO NOME. Ademais, o mesmo artigo afirma que, nesse caso, não
há que se falar em sub-rogação nos direitos do credor.
No caso em tela, o herdeiro Manuel Alexandre, por MERA LIBERALIDADE,
decidiu pagar o débito em questão não em seu próprio nome, mas em nome do próprio
devedor, que é o seu pai. Note que as duas guias de pagamento do depósito judicial juntados
pelo autor são em nome de ALDENOR ALEXANDRE DE SOUZA, não em nome de Manuel
Alexandre, e no próprio boleto de pagamento o “nome do pagador” é ALDENOR

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ALEXANDRE DE SOUZA. Convém destacar que o sr. Manuel Alexandre não pode ser
considerado “terceiro interessado”, visto que ele, nos termos do inciso III do art. 346 do Código
Civil, não era nem podia ser obrigado pela dívida. Ou seja, a dívida era tão-somente do sr.
Aldenor Alexandre de Souza, de modo que o sr. Manuel Alexandre não era terceiro interessado,
mas “não interessado”, ensejando as consequências anteriormente explanadas.

Neste sentido é a jurisprudência pátria:


E M E N T A – APELAÇÃO CÍVEL – ABERTURA DE INVENTÁRIO PELO
RITO DO ARROLAMENTO – RECURSO DA PARTE AUTORA –
PRETENSÃO DE ABERTURA DE INVENTÁRIO DE BENS DE IDOSA QUE
RESIDIA EM ASILO, SOB ALEGAÇÃO DE SER O ASILO CREDOR DESTA
– ASILO QUE EFETUOU O PAGAMENTO DE CONTAS DE IPTU UM ANO
DEPOIS DO FALECIMENTO DA IDOSA, EM NOME DESTA – DÍVIDA
PAGA POR TERCEIRO NÃO INTERESSADO, EM NOME DO DEVEDOR –
AUSÊNCIA DE DEVER DE REEMBOLSO, NOS TERMOS DOS ART. 304 A
306 DO CÓDIGO CIVIL – NÃO COMPROVAÇÃO DA QUALIDADE DE
CREDOR – AUSÊNCIA DE INTERESSE E LEGITIMIDADE PARA
ABERTURA DE INVENTÁRIO – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. I – O art. 305 do Código Civil determina que o
terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a
reembolsar-se do que pagar. A contrario sensu, o terceiro não interessado, que
paga a dívida em nome do devedor, não tem direito ao reembolso. II – No
mesmo sentido, o art. 306 do Código Civil dispõe que o pagamento feito por
terceiro, com desconhecimento do devedor, não obriga a reembolsar aquele que
pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação, o que se amolda ao caso em
comento. II – No caso dos autos, o Asilo Apelante realizou o pagamento de contas
de IPTU da de cujus mais de um ano após seu falecimento, em nome da devedora,
sem interesse jurídico no pagamento. Portanto, não tem direito ao reembolso dos
valores, não possuindo, portanto interesse e legitimidade para abertura do
inventário. III – Recurso conhecido e desprovido. (TJ-MS - AC:
08004843520218120034 Glória de Dourados, Relator: Des. Lúcio R. da Silveira,
Data de Julgamento: 29/09/2023, 2ª Câmara Cível, Data de Publicação:
04/10/2023)

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Portanto, evidente no caso em tela que o valor de R$ 124.008,88 não deve ser
incluído no rol de dívidas do espólio, consoante requerido na petição de últimas declarações.

Quanto à regularização processual, convém notar encontra-se pendente. Isso


porque, após a decisão de interdição do inventariante, que ocorreu após a prestação de
compromisso deste, não houve a regularização processual, conforme determinado na decisão
de Id 105746324.

Ora, tal situação não pode mais perdurar, isto é, o sr. Aldenor não pode
continuar com o múnus da inventariança, visto que, além de toda a responsabilidade que
o inventariante tem num processo como este, é cediço na doutrina e jurisprudência que o
exercício da inventariança é função personalíssima.

Há precedente do C. Superior Tribunal de Justiça no sentido da impossibilidade


de nomeação de inventariante incapaz, na medida que o exercício da inventariança é função
personalíssima, verbis:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.105.978 - SP (2017/0120634-8)


RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO AGRAVANTE : ANA
ALVES MADEIRA - INTERDITO REPR. POR : ANTONIA ALVES MADEIRA
LIMA - CURADOR ADVOGADOS : SUELY IKEFUTI - SP110244 EUCLIDES
PEREIRA PARDIGNO E OUTRO (S) - SP103040 INTERES. : ELIAS ALVES
MADEIRA - ESPÓLIO DECISÃO 1. Cuida-se de agravo interposto por ANA
ALVES MADEIRA contra decisão que não admitiu o seu recurso especial, por sua
vez manejado em face de acórdão proferido pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO, assim ementado: AGRAVO DE INSTRUMENTO -
Inventário - Decisão que deixou de nomear a agravante como inventariante, por
tratar-se de pessoa interditada - Inconformismo - O herdeiro incapaz, ainda que
representado, não pode ser nomeado inventariante, pois o encargo da
inventariança tem natureza personalíssima - Recurso improvido. Nas razões do
recurso especial, aponta a parte recorrente ofensa ao disposto nos arts. 1.781 e
1.772, do CC; 8º do CPC. Alega, em síntese, que não há qualquer limitação ou
restrição na lei à legitimidade da recorrente para assumir o encargo de
inventariante. Instado a se manifestar, o Ministério Público Federal pugnou pelo
não provimento do agravo em recurso especial, nos termos da seguinte ementa: -
Agravo contra decisão que negou seguimento a recurso especial interposto com
fundamento na alínea a do permissivo constitucional. - Decisão agravada
devidamente fundamentada. Óbices das Súmulas nº s 83, do STJ e 284, do STF. -
Parecer pelo não provimento do agravo. É o relatório. DECIDO. 2. As matérias
tratadas nos artigos 1.781 e 1.772, do CC; 8º do CPC, não foram objeto de análise
pelo acórdão recorrido. Não foram opostos embargos declaratórios com o fito de
suprir a existência de eventual omissão perpetrada pelo Tribunal de origem. De
modo que a ausência de manifestação judicial a respeito das referidas matérias
trazidas à cognição desta Corte impede sua apreciação na presente via recursal,

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tendo em vista a falta de prequestionamento, requisito viabilizador do acesso às


instâncias especiais. No caso, incidem, por analogia, as Súmulas 282 e 356 do STF.
3. Ainda que assim não fosse, nota-se que o Tribunal local decidiu em
consonância com a jurisprudência desta Corte, no sentido de que "herdeiro
menor ou incapaz não pode ser nomeado inventariante, pois é impossibilitado
de praticar ou receber diretamente atos processuais; sendo que para os quais
não é possível o suprimento da incapacidade, uma vez que a função de
inventariante é personalíssima". ( REsp 658.831/RS, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/12/2005, DJ 01/02/2006, p.
537). Desse modo, estando o acórdão recorrido em conformidade com a
jurisprudência do STJ, incide a Súmula 83 do STJ, impedindo o conhecimento do
recurso por ambas as alíneas. 4. Ante o exposto, nego provimento ao agravo.
Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 07 de junho de 2018. Ministro Luis Felipe
Salomão Relator (STJ - AREsp: 1105978 SP 2017/0120634-8, Relator: Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Publicação: DJ 27/06/2018)

A doutrina assim o entende:

6. Cônjuge sobrevivente incapaz. Neste caso, mesmo se estivesse convivendo com o de


cujus ao tempo da morte deste, não poderá assumir a inventariança, nem mesmo por meio
de seu representante legal – o encargo deverá passar ao herdeiro na posse e
administração dos bens, por determinação expressa do inciso II. Além disso, não há
previsão expressa de que o cônjuge incapaz possa ser inventariante, da mesma forma que
ocorre com o herdeiro incapaz em razão da menoridade. (Nelson Nery Jr. – Código de
Processo Civil Comentado – 17ª Ed, p. 1463). [grifo nosso]

"A impugnação à escolha do inventariante (art. 627, II) não se confunde com a remoção
(art. 622). Esta pressupõe inventariante regularmente investido no encargo processual, que,
no desempenho da função, praticou ato irregular, merecendo, por isso, uma sanção. Já a
impugnação é ato inicial que visa a demonstrar irregularidade na escolha feita pelo juiz,
sem qualquer conotação necessária de falha ou culpa do gestor da herança." (THEODORO
JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. II. 50ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2016. p. 275)

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DOS PEDIDOS

ISTO POSTO, requerem as herdeiras que o valor de R$ 124.008,88 deve ser


excluído do rol de dívidas de espólio.

Ademais, requerem que este juízo determine a regularização processual com a


nomeação de novo inventariante. Requer, com efeito, a nomeação da herdeira ANA ELISA
ARCOVERDE ALEXANDRE DE SOUZA (filha da de cujus e estando ela na posse e
administração dos imóveis do espólio do Estado do Ceará), já qualificada no processo em
epígrafe, consoante art. 617, inciso II, do CPC, por ser medida adequada e legal ao andamento
regular do presente processo.

Nestes Termos,

P. Deferimento.

Fortaleza, 25 de março de 2024.

FCO. VIEIRA DE ANDRADE


OAB/CE 21.585

TIAGO GOMES CARNEIRO


OAB/CE 33.185

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