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O PERFIL DO CONSELHEIRO DE ADMINISTRAÇÃO E A LIDERANÇA

ESTRATÉGICA

Ciro Antônio FERNANDES1

Débora Sierra de GOUVEIA2

Eduardo de Camargo OLIVA3

Roberto Padilha MOÍA4

1
Doutorando em administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS. Professor da Universidade
Santa Cecília e Faculdade Don Domenico, Santos/São Paulo. ciro_af2@hotmail.com.
2
Mestranda em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul. debora.sierra@uscs.edu.br.
3
Pós Doutor em Administração pela FEA – USP. Professor e pesquisador do corpo permanente do Programa de Pós
Graduação em Administração (mestrado e doutorado) da Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS.
eduardo.oliva@uscs.edu.br.
4
Doutorando em administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Coordenador do curso de
marketing e professor do Centro Paula Souza, FATEC, em São Paulo. robertopadilha@uol.com.br.

Recebido em: 15/03/2015 - Aprovado em: 22/08/2016 - Disponibilizado em: 18/12/2016

RESUMO:
O Conselho de Administração é uma obrigação para as grandes empresas no Brasil e no Mundo. Porém, muitos
conflitos de interesses podem acontecer entre os conselheiros e os acionistas e dirigentes das empresas. Este estudo tem
por objetivo analisar o perfil do conselheiro de administração no Brasil, levando em conta sua formação somada à sua
experiência profissional, para que se possa conhecer se esses conselheiros possuem visão de líderes estratégicos. A
amostra totaliza 240 empresas listadas nos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&F BOVESPA, e
disponibilizados em websites das empresas. A pesquisa utiliza a técnica de análise multivariada de variáveis que
exercem influência (variáveis independentes: x) sobre outro fator (variável dependente: y) é a de regressão. O resultado
mostrou que as variáveis estatisticamente mais significantes foram número de experiências em outros conselhos,
experiência em diretorias, experiência anterior como CEO e a constância que exerce a função de conselheiro. O
resultado apontou para um perfil de liderança estratégica do Conselheiro de Administração, pelo menos nos limites
dessa amostra.
Palavras-Chave: Perfil. Conselho de Administração. Conselheiro de Administração. Governança
Corporativa.Liderança Estratégica.

ABSTRACT:
The Board of Directors is a must for large companies in Brazil and the world. But many conflicts of interest can occur
between the directors and the shareholders and directors of companies. This study aims to analyze the board member's
profile in Brazil, taking into account their education added to his professional experience, so that you can know if these
advisers have vision of strategic leaders. The sample totaled 240 companies listed in different levels of corporate
governance of BM & F BOVESPA, and made available on company websites. The research uses the multivariate
analysis technique variables that influence (independent variables: x) on another factor (dependent variable y) is the
regression. The result showed that the most statistically significant variables were number of experiences in other
councils, boards experience, previous experience as CEO and constancy holding the adviser. The results pointed to a
strategic leadership profile Board member, at least within the limits of the sample.
Keywords: Profile. Administrative Board. Board Member. Corporate Governance. Strategic Leadership.

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INTRODUÇÃO função de uma formação não condizente, ou
porque, sua formação é muito limitada, ou,
A adoção do conselho de
tem pouca experiência como conselheiro de
administração pelas empresas tem sido algo
administração (NASTASE, 2010). A questão
muito estudado (ANDRES; VALLELADO,
de uma formação acadêmica em associada a
2008; GONDRIGE, 2012; ACEITUNO,
experiência profissional, pode ser uma das
2013; HOLTZ, 2014; STEVENSON;
hipóteses que valida que o conselheiro de
RADIN, 2015), principalmente no sentido de
administração tem uma visão de liderança
se buscar melhoriasnas relações das empresas
estratégica (MOSTOVICZ et al, 2009;
com seus investidores, na tomada de decisões,
MARTINS et al, 2012). Esta pesquisa
transparência e credibilidade, ações estas que
objetiva analisar o perfil do conselheiro de
fazem parte das melhores práticas de
administração no Brasil, levando em conta
governança corporativa (ROSSONI, 2010).
sua formação somada à sua experiência
Dentro desse contexto, vê-se a necessidadede
profissional, para que se possa conhecer se
conselheirosde administração com
esses conselheiros possuem visão de líderes
competências estratégicas, capazes de atuar
estratégicos. Assim, através da análise
diretamente na resolução de problemas e na
curricular dos conselheiros que fazem parte
tomada de decisões. (MARTINS, etal,
do Conselho de Administração das empresas
2012).Na definição de um perfil de
listadas nos níveis diferenciados
conselheiro de administração com visão mais
degovernança corporativa da BM&F
estratégica, a literatura sugere a escolha de
BOVESPA, e disponibilizados em websites
líderes que utilizem a visão da liderança
das empresas, pretende-se investiga a relação
estratégica (MOSTOVICZ et al, 2009;
entre os elementos que compõem sua
NASTASE, 2010; HITT et al, 2012; SIMSEK
formação, com vistas à responder a seguinte
et al, 2015). Por meio dela, a conduta do
questão de pesquisa: a formação e a
conselheiro se torna uma referência para
experiência dos Conselheiros de
pessoas de dentro e de fora da organização,
Administração apontam para uma visão de
pois esse perfil de liderança empenha seu
liderança estratégica?
entusiasmo e confiança pessoal para que
possa implementar as ações necessárias que GOVERNANÇA CORPORATIVA
garantam o cumprimento dos objetivos
Os estudos sobre governança
estratégicos (NASTASE, 2010). Porém, o que
corporativa se intensificaram a partir dos anos
tem ocorrido é a constituição de conselhos
oitenta, sendo que atualmente domina as
com pessoas que não conseguem atuar com
discussões nas mais diversas áreas, como,
uma visão estratégica, muitas vezes, em
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direito, contabilidade, economia e finanças, de maneira eficaz na conduta de suas
envolvendo discussões e estudos nos atribuições (JANSEN, et. al, 2009). Nesse
ambientes acadêmicos e empresariais sentido, a liderança focada nos objetivos a
(ALMEIDA, 2010). serem alcançados exige do líder um
compromisso total e permanente. Os líderes
Segundo IBGC (2015, p. 21),
Governança Corporativa é o meio pelo precisam se preocupar menos com o que
qual as “as organizações são dirigidas,
monitoradas e incentivadas, envolvendo
fizeram e se comprometer mais com os
os relacionamentos entre sócios, propósitos futuros (MOSTOVICZ et al,
conselho de administração, diretoria,
órgãos de fiscalização e controle e 2009). Com essa visão de futuro, a liderança
demais partes interessadas”.
estratégica busca integrar e organizar os
As boas práticas de Governança
ambientes internos e externos das empresas,
Corporativa permite alinhar os interesses dos
para que possa desenvolver negócios a partir
acionistas aos da organização, preserva e
do gerenciamento das informações e
aumenta o valor acionário dentro do mercado
participando ativamente de todas as etapas
de capitais e atrai novosinvestidores, o que
(JOOSTE & FOURIE, 2009). A diferença dos
contribui para a longevidade do negócio.Para
líderes pode estar no Know-How, termo que
que as boas práticas de governança sejam
pode ser definido como um conjunto de
efetivamente executadas, cabe ao conselho de
conhecimentos práticos adquiridos por um
administração monitorar as ações e decisões
indivíduo, constituindo, uma característica
da diretoria da empresa (OLIVEIRA et al,
valiosa resultante da experiência. (CHARAN,
2013). Nesse sentido,o conselho de
2007). Ainda, segundo o autor, o Know-How
administração precisa reunir conselheiros com
do líder será constantemente testado, uma vez
competências, incluindo a liderança
que ele deve tomar as decisões corretas e
estratégica, que auxilia no desenvolvimento
produzir resultados que criem valor ao
do papel de conselho (AMARAL-BAPTISTA
negócio. Segundo Mintzberg (2010, p. 150)
et al, 2012).
os líderes “desenvolvem suas estruturas de
conhecimento e seus processos de
LIDERANÇA ESTRATÉGICA
pensamento, principalmente por meio de
A teoria da liderança estratégica tem experiência direta. Essa experiência dá forma
se tornado atraente, pois auxilia no aumento àquilo que eles sabem, o que por sua vez dá
do número e na qualidade dos líderes em forma ao que eles fazem, moldando sua
vários setores (NASTASE, 2010). Os líderes experiência subseqüente”.
estratégicos precisam levar em consideração o
dinamismo ambiental para que possam atuar

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ASPECTOS METODOLÓGICOS Quadro 1 - Variáveis Disponíveis para Testes e sua
Natureza
Para que o objetivo desta pesquisa
Variáveis totais disponíveis Natureza dos
fosse alcançado, foram analisados fatores que para testes dados
identificassem o perfil do conselheiro de Sexo Nominal
Graduação 1 Nominal
administração. Para isso foram Graduação 2 Nominal
consideradosinicialmente a formação Graduação 3 Nominal
Especialização 1 Nominal
acadêmica e experiência profissional dos Especialização 2 Nominal
Especialização 3 Nominal
conselheiros de administração.
Especialização 4 Nominal
Posteriormente, as variáveis encontradas Mestrado 1 Nominal
Mestrado 2 Nominal
foram analisadas com o objetivo de encontrar Nominal
Doutorado
ou não trações de liderança estratégica no PhD Nominal
Pós Doutorado Nominal
perfil dos conselheiros de administração. Outras Certificações Razão
Foram realizados testes a partir do programa Experiência Profissional Nominal
n Experiência Diretoria Razão
Statistical Package for the Social Sciences n Experiência Gerência Razão
(SPSS), com amostra de 240 currículos de n Experiência Cargos Políticos Razão
n Experiência de Participação
Razão
conselheiros de administração, obtidosem em Outros Conselhos
n Experiência de Participação
sites de empresas de capital aberto, listadas Razão
em Comitês
Cargos Que Ocupou Nominal
nos níveis diferenciados de governança Fonte: Criado pelos autores.
corporativa da BM&F BOVESPA. A técnica
estatística que permite uma análise Na variável Graduação (nome do
multivariada de variáveis que exercem curso)contêm 23 cursos diferentes. A
influência (variáveis independentes: x) sobre variável Graduação 2, que apresenta o nome
outro fator (variável dependente: y) é a de do curso da segunda graduação pode ser
regressão. A variável dependente yrefere-se a considerada como outlier, uma vez que dos
presença ou não da característica “conselheiro 240 indivíduos, somente 23 a possuíam. Para
de administração” (variáveis dummy = 1 as demais variáveis nominais, o mesmo
presença da característica “conselheiro de raciocínio e precaução existiram na análise
administração”; 0 = ausência da característica prévia do banco de dados. Em decorrência do
“conselheiro de administração”). tamanho limitado da amostra e da possível
Como as informações contidas nesta presença de outlier - após todos os ajustes, o
variável – conforme Quadro 1 - são de banco de dados passou a ter 187 indivíduos,
natureza qualitativa, optou-se pelo uso da foram escolhidas as variáveis consideradas
regressão logística binária. comuns, isto é, as variáveis que os indivíduos

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em sua massiva maioria compartilhavam, de administração e experiência como sócio,
conforme demonstra o fundador ou proprietário em outras
Quadro 2. organizações, conforme apresenta o
Quadro 3.
Quadro 2 - Variáveis Mantidas e sua Natureza

Natureza dos Quadro 3 - Variáveis para o Modelo


Variáveis mantidas
dados
Sexo Nominal Tipo de Variáveis Opções de
Variável testadas Respostas
Grande Área da Primeira Formação Nominal
Sócio, Fundador ou Proprietário em 1: Conselheiro de
Nominal Conselheiro Administração
Organizações
Experiência Anterior como Presidente y dependete de 0: Não é
Nominal Administração Conselheiro de
ou Vice no CA
Administração
Experiência Anterior como CEO Nominal
Feminino
Experiência Anterior como Vice- x independente Sexo
Nominal Masculino
presidente
Razão Grande Área Administração
n Títulos e Certificações
x independente da Primeira Engenharia
n Experiência Diretoria Razão Formação Direito
n Experiência Gerência Razão 1: Sócio, Fundador
Razão Sócio, ou Proprietário em
n Experiência Cargos Políticos
Fundador ou Organizações
n Experiência de Participação em x independente Proprietário 0: Nunca foi Sócio,
Razão
Outros Conselhos em Fundador ou
n Experiência de Participação em Organizações Proprietário em
Razão
Comitês Organizações
Fonte: Criado pelos autores. Experiência 1: Possui a
Anterior como experiência
A variável Graduação ao invés de x independente
Presidente ou 0: Não possui a
Vice no CA experiência.
apresentar o nome do curso, passou a 1: Possui a
Experiência
apresentar a grande área que pertencia, por experiência
x independente Anterior como
0: Não possui a
Ceo
exemplo, todas as modalidades do curso de experiência.
1: Possui a
Engenharia, como civil, elétrica, de produção, Experiência
experiência
x independente Anterior como
0: Não possui a
e etc. A variável “Outras Certificações”, Vice-Presiente
experiência.
apresenta o número de certificações do n Títulos
x independente Número Razão
eCertificações
indivíduo e os títulos que possuem (Títulos Número Razão
n Experiência
x independente
considerados: especialização, mestrado, Diretoria
n Experiência Número Razão
doutorado, PhD e pós-doutorado). A variável x independente
Gerência
Experiência foi desdobrada em nove. Cinco n Experiência Número Razão
x independente
Cargos
variáveispassaram a apresentar o número de
n Experiência Número Razão
experiências anteriores e quatro passaram a de
x independente Participação
informar existência da antiga experiência ou em Outros
Conselhos
não do indivíduo em cargos como CEO, vice- n Experiência Número Razão
presidente de outras organizações, vice- de
x independente
Participação
presidente ou presidente em outros conselhos em Comitês
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Fonte: Criado pelos autores. Esta informação já era esperada
devido ao perfil da amostra que possui um
RESULTADOS
número de indivíduos do sexo feminino bem
Na criação do modelo de regressão
inferior ao número de indivíduos do sexo
foram realizados dois tipos de testes para a
masculino. Desta forma, o teste será
verificação da dependência entre as variáveis
considerado. Para as variáveis numéricas (n
x ey: os testes do Qui-Quadrado e o do Mann-
títulos e certificações, n experiência diretoria,
Whitney. Para ambos os testes, rejeita-se a
n experiência gerência, n experiência cargos
hipótese nula, para que a estatística evidencie
políticos, n experiência de participação em
que existem diferenças significativas entre os
outros conselhos, n experiência de
grupos de onde foram extraídas as amostras.
participação em comitês) foi utilizado o teste
(MAROCO, 2003). Na hipótese H0, não
de Mann-Whitney, tabela 2.
existem diferenças entre as amostras relativas
à distribuição nas classes da variável; ou a Tabela 2- Teste de Mann-Whitney

distribuição das contagens pelos grupos é Variável p-valor Interpretação


Não se pode
independente da variável. Na hipótese H1 n Títulos e Certificações 0,427
rejeitar a H0.
n Experiência Diretoria 0,004 Rejeita-se a H0.
existem diferenças significativas entre os
Não se pode
n Experiência Gerência 0,480
grupos ou populações onde foram extraídas as rejeitar a H0.
n Experiência Cargos Não se pode
0,544
amostras.Para as variáveis nominais foi Políticos rejeitar a H0.
n Experiência de
utilizado o Teste do Qui-Quadrado, tabela 1. Participação em Outros 0,001 Rejeita-se a H0.
Conselhos
Tabela 1- Teste do Qui-Quadrado n Experiência de
Participação em 0,006 Rejeita-se a H0.
Comitês
Variável p-valor Interpretação
Não se pode rejeitar Fonte: Criado pelos autores.
Sexo 0,37
a H0.*
Grande Área da Não se pode rejeitar Após a realização destes testes foi
0,94
Primeira Formação a H0.
possível encontrar as variáveis independentes
Sócio, Fundador ou
Não se pode rejeitar
Proprietário em 0,40 relacionadas com a variável independente,
a H0.
Organizações
Experiência para então o início das análises da regressão.
Anterior como
0,05 Rejeita-se a H0. As variáveisque permanecerão no modelo,
Presidente ou Vice
no CA
Experiência conforme a
0,00 Rejeita-se a H0.
Anterior como CEO Quadro , são:
Experiência
Não se pode rejeitar
Anterior como 0,10
a H0.
Vice-presidente Quadro 4 - Variáveis x relacionadas com a variável y
Fonte: Criado pelos autores.
*1 cells (25%) have expected count less than 5. The Número de experiências em outros conselhos
minimum expected count is 4.
Número de experiências em comitês
Número de experiências em diretoria

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Experiência anterior como CEO valor de até 5, segundo os autores Gujarati e
Experiência anterior como Vice-Conselheiro Porter (2011).
Fonte: Criado pelos autores.

Conforme verificado a estatística não


Para que o modelo de estimação da
indica a existência de multicolinearidade,
regressão logística binária fosse definido,
visto que seus valores estão abaixo de 1,2.
foram realizadas análises para a verificação da
Conforme as análises, não há a indicação da
existência da multicolinearidade através da
presença de multicolinearidade, direcionando
estimação de uma regressão linear. Para
assim nosso método de estimação da
admitir a existência ou não de
regressão logística binária para Enter, o qual
multicolinearidade nos parâmetros
permite que todas as variáveis estejam,em
determinados, as análises serão concluídas em
uma única vez, inseridas no modelo (ao
três etapas:
contráriodo método de estimação Forward
Conditional, que insere automaticamente as
I - Análise do R² e suas estatísticas T: Das
variáveis a cada interação e
seis variáveis existentes no modelo, apenas
individualmente).Segundo a estatística
duas são estatisticamente significantes
Exp(B) a variável mais importante desta
(considerando 5% de significância). Contudo,
regressão é a Experiência Anterior como
o coeficiente de determinação do modelo (R
CEO, seguida pelo n de Experiências em
Square) está médio, não indicando a presença
Cargos de Diretoria, número de Experiência
de multicolinearidade.
em Outros Conselhos, número de
Experiências em Comitês e Experiência
II - As correlações entre as variáveis tomadas
Anterior Como Vice-Presidente.Verificou-se
duas a duas estão todas abaixo de 0,325. Esta
que somente as variáveis Número de
estatística evidencia o que duas variáveis
Experiências em Comitês e Experiência
compartilham em sua explicação. Uma
anterior como Vice Conselheiro, não são
estatística de 32,5% é considerada como uma
estatisticamente significantes, por rejeitarem a
baixa autocorrelação, não indicando a
H0, pois p-valor da estatística Wald é menor
presença da multicolinearidade.
do que 5%. Todas as demais variáveis
estudadas e inclusas neste modelo mostraram-
III - Para a verificação da presença da
se como estatisticamente significantes, como
multicolinearidadefoi realizada a análise do
demonstrado no quadro 5.
Value Inflation Factor - VIF, em que as
estatísticas precisam estar apresentando um

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Quadro 5 - Variáveis estatisticamente significantes classificação observada e a prevista. A𝐻0 não
Variáveis pode ser rejeitada com a significância de
p
estatisticamente Interpretação
valor 0,621, indicando que os valores estimados
significantes
Aceitação da H0, ou seja, não não são apresentam uma diferença
Número de
há evidências de que o
experiências em 0,167
parâmetro é estatisticamente significativa dos valores observados.Através
comitês
significante
Experiência Aceitação da H0, ou seja, não da Tabela de Classificação é possível analisar
anterior como há evidências de que o
0,419 quanto um modelo é apropriado em
Vice- parâmetro é estatisticamente
Conselheiro significante
comparação com os dados reais. O modelo
Rejeição da H0, ou seja, há
Número de
evidências de que o estimado possui melhor capacidade de
experiências em 0,034
parâmetro é estatisticamente
outros conselhos
significante classificar indivíduos que são conselheiros de
Rejeição da H0, ou seja, há
Número de administração, considerando o percentual
evidências de que o
experiências em 0,004
parâmetro é estatisticamente
diretoria
significante
acertado de 85,7% ser maior do que o
Rejeição da H0, ou seja, há percentual geral de 71,1%. Contudo, para que
Experiência
evidências de que o
anterior como 0,000
CEO
parâmetro é estatisticamente seja considerado que o modelo possui
significante
Rejeição da H0, ou capacidade preditiva, o percentual geral
0seja, há evidências de que o
Constante
,02 parâmetro é estatisticamente deveria ser 25% maior do que todos os casos
significante de indivíduos conselheiros de administração
Fonte: Os autores
apresentados (119 casos). Ou seja, o modelo
O teste de Omnibus apresenta o ajuste
deveria apresentar 79,54% de acerto, quando
geral do modelo através da análise da
o valor efetivo apresentado foi de 71,1%,
verossimilhança (-2LL). Com a significância
indicando que o modelo possui baixa
de 0,00% (sig.<5%), foi rejeitada a hipótese
capacidade preditiva (HAIR, 2009). A
nula de que a não houve variação da máxima
estatística Pseudo R² é uma medida de
verossimilhança, indicando que os
adequação de ajuste e medem a
coeficientes inclusos no modelo são
correspondência entre os valores observados e
estatisticamente significantes sendo então
os valores previstos da variável dependente,
adequadas para a realização de previsões
sendo que os valores mais altos significam um
(HAIR et al, 2009).O teste de Hosmer e
melhor ajuste do modelo das probabilidades
Lemeshow apresenta uma hipótese nula de
estimadas com as probabilidades observadas
que a classificação do modelo é igual à
(HAIR, 2009). Neste estudo, o modelo
original. A intenção é de não se rejeitar a
apresentou um baixo poder de explicação:
hipótese nula, ou seja, a correspondência dos
17,81%. Analisando os resultados da Tabela
valores reais e os previstos sobre a variável
de Classificação e do Pseudo R², pode-se
dependente possuem o melhor ajuste do
afirmar que há mais variáveis que precisam
modelo e é dado pela menor diferença entre
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ser exploradas e testadas para ser estratégica. Nesse caso, sugere-se que para
incorporadas ao modelo. escolha dos conselheiros de administração, as
empresas levem em consideração essas duas
CONCLUSÕES variáveis, podendo assim, ter uma
Esta pesquisa objetivou analisar o probabilidade maior de assertividade na
perfil do conselheiro de administração no escolha dos conselheiros com perfil de líder
Brasil, levando em conta a formação estratégico.Uma das limitações da pesquisa é
acadêmicae experiência profissional, para que a faltade informações que não refletem,de
se verificara existência doperfil de líderes maneira mais detalhada, o currículo atual dos
estratégicos nos conselheiros de conselheiros, para uma avaliação mais
administração. Os resultados apontaram para depurada de seus perfis. Nesse sentido,
uma formação mínima superior em todos os sugere-se para novos estudos maior
casos. Na variável experiência profissional é profundidade, associada a entrevistas para
possível validarmos que a experiência coletar e analisar as características ou traços
evidencia um dos principais atributos do de liderança estratégica, e assim
conselheiro de administração.Tais resultados complementar e validar essa pesquisa.
sugerem que o conselheiro de administração,
no Brasil,possuium perfil de liderança

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