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Ordenação Feminina

1 - Introdução: O problema.

Existe o dilema nas igrejas batistas e de fé evangélica em toda parte do mundo e no


Brasil sobre a questão da ordenação feminina, da consagração das mulheres ao exercício
e ministério pastoral. A Bíblia é clara que a Igreja de Cristo seja qual vertente for, seja
dirigida por uma liderança denominada presbítero no Novo Testamento, sinônimo de
ancião e denominado Pastor pela comunidade. Mas existe um conflito quando se fala
em delegação dessa autoridade as mulheres. Denominações no Brasil como a Igreja
Evangélica Anglicana do Brasil (IEAB), Igreja Evangélica de Confissão Luterana do
Brasil (IECLB), Igreja Presbiteriana Independente (IPI), Igreja Presbiteriana Unida
(IPU), Igreja Metodista do Brasil (IMB), Igreja Apostólica Cristo Vive e algumas
comunidades independentes de persuasão carismática ou não adotam a ordenação de
mulheres ao ministério pastoral sem restrições. Outras denominações como Igreja
Evangélica Congregacional no Brasil (IECB), Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB),
Igreja Presbiteriana Conservadora (IPC), Igreja Presbiteriana Fundamentalista (IPF),
Convenção Batista Brasileira (CBB), outros grupos batistas como Regulares, Bíblicos,
Reformados, Independentes, Fundamentalistas e outros, Assembléias de Deus no Brasil,
Igreja Universal do Reino de Deus e outras independentes ou não , carismáticas ou
históricas, restringem a ordenação pastoral as mulheres. Algumas mais conservadoras
restringem a mulher todo tipo de liderança e não a permite pregar, algumas restringem
somente ao pastorado mas permite liderar, ensinar e servir com os dons dados pelo
Espírito. O que está por trás de cada opinião? Será mesmo que a Bíblia restringe isso?
Não é um problema cultural? É o que esse trabalho executara nas próximas linhas. Não
será analisada a temática da diaconisa e liderança feminina no escopo do presente
trabalho, se restringindo apenas ao que se entende por ministério pastoral.

2 – O que está por trás da questão.

Entre os evangélicos e entre o povo de Deus há duas opções básicas, os igualitaristas e


os diferencialistas [1]. O primeiro afirma que Deus criou o homem e a mulher iguais e a
subordinação feminina foi conseqüência da queda de Adão ou/e reflexos da história nas
variantes sócio-culturais existentes. O segundo afirma que Deus criou homem e mulher
iguais, porém funcionalmente diferentes, sendo essa diferença complementar, ou seja,
ainda que homem e mulher tenham sido criados diferentes, eles se completam e se
auxiliam mutuamente ainda que, para esse grupo, essa diferença seja ontológica (ser),
não há influência na valoração do sexo [2]. Homens e mulheres são de igual valor para
Deus na perspectiva desse segundo grupo e é a posição do autor do presente trabalho.
Existe uma militância nos EUA em prol de cada posição, mas no Brasil o debate
acontece sem clareza de pressupostos. Partindo do ponto de que a Bíblia é a Palavra de
Deus, revelação divina ao indíviduo de um Deus que faz uma aliança com pecadores e

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os salva por meio do evangelho da cruz e ressurreição de Cristo, a temática da
ordenação feminina será analisada a partir desse axioma.

3 – O que a Bíblia diz?

O texto de 1 Timóteo 2:11-14 é bem claro quanto ao tema:


“11 A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. 12 E não permito que a
mulher ensine, nem exerça autoridade sobre o homem; esteja, porém, em silêncio. 13
Porque, primeiro foi formado Adão e depois Eva. 14 E Adão não foi transgredido, mas
a mulher sendo enganada caiu em transgressão.” [3] Na nota de estudo da Bíblia de
Genebra, referente ao versículo doze, interpreta esse versículo afirmando que o
Apóstolo Paulo restringem as mulheres certo tipo de autoridade e governo. Essa
autoridade era dirigida a governantes ou judiciários [4], no presente caso, sendo a
palavra usada para igreja, ou seja, para Paulo a mulher não deve governar a igreja. A
problemática do texto eram mulheres envenenadas pelos falsos mestres [5] mas o
princípio permanece. Os argumentos do condicionamento cultural, de que não foi Paulo
que escreveu o texto, ou que Paulo era machista, geralmente são contaminados de
ideologias e não consideram dois pontos: Primeiro, o texto tem caráter normativo e não
descritivo, Paulo diz “não permito” usando a sua autoridade apostólica (coisa que ele
não fez com Filemom por exemplo, preferindo agir em nome do amor Cf. Fm 8-9)
deixando entender a seriedade em que trabalhou a questão. O segundo ponto, Paulo foi
teológico. Nos versos 13 a 15 Paulo argumenta teologicamente, deixando qualquer
pressuposto social, cultural, antropológico e psicológico fora de questão. Seria o “assim
diz o Senhor” quando se refere ao primeiro homem e primeira mulher que levaram a
humanidade à queda e depravação total da humanidade”. Há também outro escrito pelas
penas de Paulo, 1 Co 14: 33b-35 “Como em todas as igrejas dos santos, 34 conservem-
se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam
submissas como também a lei o determina. 35 Se, porém, querem aprender alguma
coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso
falar na igreja.[6] Grudem afirma logo no início de sua interpretação dessa passagem
que Paulo “não pode estar proibindo todo discurso público na igreja, pois ele claramente
lhes permite que orem e profetizem na igreja em 1 Coríntios 11.5”. [7] E Lopes
complementa o argumento escrevendo que “desde que se apresentassem de forma
própria, refletindo que estavam debaixo da autoridade masculina”. [8] A questão é que as
mulheres poderiam falar e profetizar em público mas não criticar e avaliar essas

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profecias, onde entraria o ensino. Porém a questão do dom de profecia seria levantada
aqui, mas não é propósito do presente trabalho. Grudem e Lopes divergem no
entendimento do dom de profecia, porém convergem na interpretação da dinâmica
homem e mulher no texto bíblico.
Outros argumentos bíblicos que poderiam ser usados segundo Grudem seria a relação
entre família e igreja (1 Tm 3.5 e 1 Tm 5:12) [9]. O argumento seria que o homem é o
cabeça na perspectiva da cobertura e proteção espiritual, além de sustentação emocional
tanto da igreja quanto da família em particular. Tanto igreja quanto família são células
sociais formadas por indivíduos mas redimidas por Deus através do sacrifício de Cristo
na cruz. Outro argumento é a relação dos apóstolos. Jesus convocou doze apóstolos (que
diferem dos pastores e anciãos da igreja local no Novo Testamento) mas não convocou
nenhuma mulher. Jesus não pode ser acusado de machista por quebrar o paradigma
cultural machista e racial na passagem bíblica da mulher samaritana (Jo 4: 1-18). Mais
um argumento seria a história da igreja. Em toda tradição cristã o homem ocupou a
liderança do lar e do ensino e governo da igreja também.

4 – Objeções:

O texto de Romanos 16:7 quando compara Junias ao denominado termo apóstolo no


texto e a sugestão de um nome feminino. Lopes argumenta que “só podemos afirmar
com certeza, a partir de Romanos 16.7, que, quem quer que tenha sido, Júnias era uma
pessoa tida em alta conta por Paulo, e que ajudou o apóstolo em seu ministério. Não se
pode afirmar com segurança que era uma mulher, nem que era uma "apóstola", e muito
menos uma como os Doze ou Paulo.” [10] Há objeções quanto ao nome Junias e a
definição de apostolado no texto não podendo ser portador normativo da práxis da
ordenação feminina.
O texto de At 18:26 qual Priscila e Áquila falavam do evangelho com Paulo não
fortalece a posição da ordenação feminina como advogam. Apenas confirma que Paulo,
o apóstolo era autoridade do ensino na passagem e a cooperação mútua de homens e
mulheres no Reino de Deus. [11] E se a mulher é missionária no campo e precisa batizar,
ministrar a ceia do Senhor? E se não tem Pastor para pastorear a igreja no campo, não
poderia ordenar a missionária que plantou o trabalho? O autor de presente trabalho, não
concordando com a ordenação feminina, como claro no escrito, entende e dialoga com
essas questões de sensibilidade cultura. Mas a opção seria deixar a missionária ministrar
Ceia e Batismo (fator que a Bíblia não restringe visto que Filipe era diácono e batizou
em Atos 8 na passagem da conversão de Etíope) mas não praticar um ato proibido pelas
Escrituras. E por que não ordenar mulheres se os homens estão negligenciando o
chamado para diversas tarefas herméticas no serviço cristão? Sugere-se que ore e ensine
biblicamente a posição do homem na igreja frente à ditadura feminista presente
androgicamente na inversão dos valores instituídos por Deus na criação.

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5 – Conclusão

Há de ser um tema difícil de ser trabalhado pela pressão do feminismo na sociedade,


como conseqüência do machismo, ambos extremos e gerando uma dinâmica relacional
homem-mulher não regulada pelas Sagradas Escrituras. Isso gera conseqüência na
formação de famílias e igrejas e o resultado é sempre descaracterização daquilo que
Deus estabeleceu gerando marcas e feridas no meio do povo de Deus seja em célula
macro (Igreja) ou micro (Família). As mulheres são uma benção na Igreja do Senhor! O
presente autor foi convertido ao evangelho através do sermão de uma mulher em
acampamento de adolescente (na igreja cujo professor da disciplina pastoreia). O autor
reconhece a validade e presença fortalecedora das mulheres na Igreja de Cristo. Porém
reconhece que a ordenação feminina é proibida pela Bíblia e que sendo praticada gera
efeito de desconstrução na dinâmica do relacionamento familiar. Biblicamente homens
e mulheres são iguais, mas funcionalmente diferentes. Não se pode negar isso mesmo
que as mulheres exerçam ministérios abençoados. Não justifica! Não se pode deixar de
lado a Bíblia por questões condicionais como sugerem Cunningham e Hamilton. [12] Por
outro lado, deve-se seguir o conselho pastoral de Grudem quanto ao trabalho das
mulheres nas igrejas, sendo louvor, liderança de jovens e adolescentes e outros “não
proibindo o que o Novo Testamento não proíbe” [13]..

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