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ISSN 2317-3793 Volume 8 Número 10 (2019)

A IMPORTÂNCIA DE UM PROJETO SOCIAL RECREATIVO NA


INFÂNCIA
THE IMPORTANCE OF A RECREATIONAL SOCIAL PROJECT IN CHILDHOOD
Ana Carolina Tognoli Marino1; Loara Cézar Diniz dos Santos2; Marcela Cézar Diniz dos Santos3; Tatiana Cristina
Cordeiro Celegatti4; Wagner Alves de Souza Judice5; Rita de Cássia Cézar de Carvalho6

RESUMO
Projetos sociais recreativos baseiam-se em concepções que valorizam a importância do brincar no desenvolvimento
infantil oferecendo melhoria na qualidade de vida das crianças e tirando-as do perigo de seu ambiente diário.
Analisamos os benefícios sociais, saúde mental e educacional. Avaliamos 200 questionários de crianças de 4-5 anos
(100 participantes e 100 não participantes de projetos), e a percepção dos pais sobre os projetos. Verificamos que 96%
das crianças participantes apresentaram maior desenvolvimento educacional, 97% se mostraram mais atentas às
atividades propostas, desenvolveram as habilidades de brincar e reinventar brincadeiras, apresentando entusiasmo e
felicidade no decorrer do ano. Entre os pais, 98% se sentiram mais tranquilos e despreocupados pela percepção do
desenvolvimento infantil com maior aprendizagem e segurança dos filhos nestes projetos.
Palavras Chave: Projetos Sociais. Recreação Infantil. Desenvolvimento Infantil. Segurança Infantil.

ABSTRACT
Recreational social projects are based on conceptions that value the importance of playing in children's development,
offering improvement in the quality of life of the children and taking them out of the danger of their daily environment.
We analyze the social benefits, mental and educational health. We evaluated 200 questionnaires of 4-5 year old children
(100 participants and 100 nonparticipants), and the parents' perception of the projects. We observed that 96% of the
participating children showed greater educational development, 97% became more attentive to the proposed activities,
they developed the abilities to play and reinvent jokes, showing enthusiasm and happiness throughout the year. Among
parents, 98% felt more relaxed and unconcerned about the perception of child development with greater learning and
child safety in these projects.
Keywords: Social Projects. Child Recreation. Child Development. Child Safety.

INTRODUÇÃO
As crianças, em outras épocas, eram consideradas adultos em miniatura, ou seja, não podiam ter um
comportamento infantil e, não importando o fato de serem pequenas, elas deveriam possuir
responsabilidades. Posteriormente, entendeu-se que a criança não é um adulto pequeno, ela tem
necessidades e características próprias e vai se tornar um adulto quando passar as etapas do seu
desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional. A criança então passou a ser educada em
vários sentidos para que, conforme o seu crescimento, adquirisse conhecimento específico à sua

1 Estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes, Mogi das Cruzes, SP, Brasil.
2 Estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes, Mogi das Cruzes, SP, Brasil.
3 Estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes, Mogi das Cruzes, SP, Brasil.
4 Estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes, Mogi das Cruzes, SP, Brasil.
5 Professor do Centro Interdisciplinar de Investigação Bioquímica e Professor da Universidade de Mogi das Cruzes,
Mogi das Cruzes, SP, Brasil. E-mail: wagnerjudice@gmail.com
6 Creche Escola Criança Feliz, Aparecida, SP, Brasil.
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idade, enquanto limites relativos à sua idade são aplicados perante familiares e sociedade (DA
SILVA, 2011).
Com o intuito de conhecer melhor o impacto de um projeto social recreativo na infância
apresenta-se uma reflexão teórica aos profissionais da educação e recreadores sobre a
importância das ferramentas de lazer e recreação para a educação, ainda mais devido às
discussões acerca dos jogos eletrônicos e suas tecnologias que as crianças mais utilizam na
atualidade, vem-se propor e reforçar a educação lúdica utilizando métodos recreativos desde a
educação infantil. Essas atividades colaboram inclusive para o desenvolvimento pedagógico e
de socialização de crianças em situação de risco como já foi observado em estudos que
constataram que após um tempo com atividades desenvolvidas no contra turno escolar os
alunos desenvolveram–se nos aspectos afetivo-emocional, cognitivo e social, tornando-se
mais ativos nas atividades que desenvolve o processo de conhecimento, bem como, resultando
num melhor desenvolvimento escolar (DEBALD, DEBALD; et al, 2016).
O lúdico é importante na educação infantil pois é através dele que a criança vem a
desenvolver habilidades para a aprendizagem se efetivar (PENA, DAS NEVES, 2013), como
por exemplo, as dinâmicas de grupo permitem à criança aprender pela ação e de forma
validada no grupo, nas brincadeiras podem reinterpretar problemas e conflitos de forma
segura e sem medo das consequências reais, além do que o jogo imprime uma lógica
estruturada e regras à ação promovendo também um sentimento de participação ativa e de
proatividade, possibilitando, assim, uma melhor integração das crianças na comunidade
(ANTÃO, PIMENTEL; et al, 2016).
Ressaltam que o processo de socialização é compreendido como fundamental para o
desenvolvimento humano, brincando a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e
também confere habilidades, além disso, é estimulada pela curiosidade, autoconfiança e
autonomia, desta forma, descobre a linguagem, o pensamento, a concentração e a atenção.
Para isso, atividades lúdicas tais como: pular corda e elástico, brincadeiras dinâmicas,
brincadeira na quadra de recreação e também atividades culturais são usadas como
brincadeiras e jogos que estimulam esse processo tornando-se assim um fator crucial de
aprendizagem (DE OLIVEIRA, BORGES; et al, 2012).
Portanto quando se quer compreender melhor o desenvolvimento da criança, deve-se analisar
como ela brinca e se está realmente interagindo com o meio. É muito importante então, que
haja um planejamento na educação infantil incluindo brincadeiras lúdicas, brinquedos e jogos
que, somando-se a outros fatores, podem tornar possível o desenvolvimento do afeto, atenção
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e, através de atividades corretivas ensinar regras, pois são atividades como essas que
colaboram na formação de sua personalidade (DA SILVA, 2013).

METODOLOGIA
Tratou-se de um estudo descritivo-exploratório com abordagem quantitativa. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa da Universidade de Mogi das Cruzes com o
número CAAE: 61255616.7.0000.5497 e parecer número 1.866.320. Foram avaliados 100
questionários de crianças que não faziam parte do projeto social e 100 questionários de
crianças que faziam parte do projeto social, nas instituições: Espaço alternativo Mundo
Encantado: Professora Neuza Aparecida Arneiro Nogueira da Silva, Creche Santa Luzia,
Creche Escola Maria Terezinha Vilela de Lima e EMEI Criança feliz. Também foi aplicado
um questionário aos pais para avaliação da criança antes e após a passagem pela instituição de
recreação. A partir dos dados coletados, realizamos a análise dos benefícios que um projeto
social recreativo proporciona.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O objetivo do estudo foi analisar a efetividade do Projeto Social Recreativo e como ele se
mostra benéfico para as crianças.
Foram abordados os benefícios sociais onde foi demonstrado que houve uma prevenção aos
danos sociais, promoção do bem estar da criança, garantiu os cuidados necessários ao bom
desenvolvimento destas, bem como o seu direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança,
ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e a interação com outras crianças.
Em uma amostra com 200 pais, sendo 100 pais de crianças que participaram do projeto e 100
pais de crianças que não participaram do projeto, verificamos que 98 pais das crianças que
participaram do projeto se sentiam mais seguros e despreocupados para ir trabalhar ou fazer
suas atividades diárias, uma vez que a criança estava protegida, sob a responsabilidade de um
adulto responsável, sem correr riscos de se acidentarem nas ruas ou serem vítimas de
violência (FIGURA 1).
Na análise das informações de pais das crianças que não participaram do projeto, apenas 3 se
sentiam seguros e 97 sentiam-se inseguros, iam trabalhar preocupados, pois os filhos ficavam
com os irmãos e vizinhos que não tinham responsabilidades ou até mesmo sozinhos e
brincavam nas ruas o dia todo ficando expostos a riscos (FIGURA 1).
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Figura 1: Avaliação da percepção dos pais em relação à segurança dos filhos e sua preocupação estando
ou não a criança participando de Projeto Social Recreativo

120

100
98 97

80
Número de Pais

60

40

20
3 2
0
Seguros e despreocupados Inseguros e preocupados

Participantes Não participantes


Além de estar em ambiente seguro, o projeto traz à criança benefícios para a saúde mental.
Os parâmetros de interação verbal, atenção às atividades, habilidades, autoestima mostraram-
se (FIGURA 2), na observação dos pais, maiores nas crianças participantes de um Projeto
Social Recreativo. Elas desenvolveram maior interação verbal com a família e o professor,
conversavam mais em casa, debatiam assuntos e contavam o que acontecia na escola,
prestavam mais atenção nas atividades, desenvolveram novas habilidades para se divertirem,
faziam o uso do mesmo brinquedo para diferentes brincadeiras e inventavam outras, tinham
autoestima elevada. Em resumo, a criança participante apresenta ampliação de suas
potencialidades refletindo em melhora da saúde mental.
O parâmetro de maior variação foi o de atenção às atividades onde observamos diferença de
74% entre crianças participantes e não participantes.
Avaliando a percepção dos pais em relação à ansiedade, solidão e depressão, detectou-se
apenas um caso em crianças participantes e 57 casos em não participantes denotando um fator
de inclusão do indivíduo em um grupo que lhe dá apoio formado pelas crianças participantes
do Projeto Recreativo. Contudo, e em relação às não participantes, frequentemente, era
necessário recorrer a atendimento psicológico. Os pais das crianças que não participaram do
projeto, relataram que seus filhos eram tímidos e retraídos, não prestavam atenção nas
atividades, precisavam de novos brinquedos para se entreter a cada dia, possivelmente
relacionado ao tédio.
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Figura 2: Avaliação dos benefícios de um Projeto Social Recreativo na saúde mental entre crianças
participantes e não participantes
120
100 97 100 98
100
80
62 65 60 57
60
Número de pais

40
25
20
0
al s s 1
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Participam Não participam

O Projeto Social Recreativo também promove benefícios educacionais para as crianças.


Verificamos um crescente conhecimento educacional para aquelas participantes do projeto. A
maioria dos pais relatou uma diferença em relação à educação de seus filhos, mostrando que
as crianças adquiriram conhecimento de linguagens diferentes, aumentaram o seu
vocabulário, estão tendo boa memória, aprenderam outros conceitos, como cores, formas e
tamanhos dos objetos, estão desempenhando atividades em grupo com alegria e interagem
com pessoas fora do seu ciclo de amizade, fazem novos amigos e conversam com os amigos
dos pais que antes tinham vergonha (FIGURA 3).
Em relação aos pais, cujos filhos não participaram do projeto, esses não relataram tal
desenvolvimento. Muitos reclamaram que não viram diferenças na aprendizagem dos filhos
durante o ano, muitos não falavam o que aprendiam nas escolas, eram tímidos, não
conversavam com outras pessoas e eram difíceis de fazer novas amizades (FIGURA 3).
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Figura 3: Avaliação dos benefícios educacionais proporcionados por um Projeto Social Recreativo entre
crianças participantes e não participantes
120
96 100 100 98
100 93 91
80
57
60 42
40 29 35
22 15
20
Número de pais

0
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Participam Não Participam


Verificamos que as crianças adquirem nas brincadeiras de infância: autonomia, competências,
habilidades, poder de decisão, autoestima, equilíbrio emocional e consciência de cidadania.
Para uma melhor compreensão do desenvolvimento da criança, deve-se analisar como ela
brinca e como está realmente interagindo com o meio (ANTÃO, PIMENTEL; et al, 2016).
Os projetos sociais recreativos promovem, com o desenvolvimento de brincadeiras e
atividades de recreação, um modo de explorar o que elas mais gostam de fazer conseguindo
assim um maior interesse por parte das crianças. Estando interessadas, elas desenvolvem a
vontade de querer aprender brincando, e conseguem ampliar seus conhecimentos e seu
desenvolvimento, além disso, os locais onde funcionam os projetos oferecem aos pais um
local onde podem deixar seus filhos com segurança e protegidos ficando despreocupados (DA
SILVA, 2011).

REFERÊNCIAS

ANTÃO, Joana; PIMENTEL, Francisca; RAMOS, Ana. Avaliação de um programa de


promoção da saúde mental com crianças institucionalizadas. Psicologia em Revista,
periódico PUC minas, v. 21, n. 2, p. 218-233, 2016. Disponível em:
http://periodicos.pucminas.br/index.php/psicologiaemrevista/article/view/P.1678-
9523.2015V21N2P218. Acessado em: 18/04/2017
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DA SILVA, Denise; ARAÚJO, Fernanda Moura; ESTRADA, Lilian; PEDROSA, Susana


Borges & MACHADO, Beatriz. A Importância do Brinquedo como Ferramenta de Ensino na
Educação Básica. Revista Unesul, v. 22, n. 1, 2013. Disponível em:
https://www.inesul.edu.br/revista/arquivos/arq-idvol__1380818468.pdf. Acessado em:
18/04/2017

DA SILVA, Sueli Ferreira. A Importância do Brincar na Educação Infantil. 2011. Disponível


em: http://monografias.brasilescola.uol.com.br/educacao/a-importancia-brincar-na-educacao-
infantil.htm. Acessado em: 18/04/2017.

DEBALD, Blasius Silvano; DEBALD, Fátima Regina Bergonsi; ARAUJO, Nathália dos
Santos; BRUNHEIRA, Suzana de Fátima Vargas; FORNARI, Gislaine; OLIVEIRA, Marcelo
da Silva Oliveira. Cidadania e Educação: Preparando Alunos para a Vida através de um Olhar
Pedagógico, ANAIS – III SEMINÁRIO REGIONAL DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE
PROFESSORES E III MOSTRA DE EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS PEDAGÓGICAS.
2013. Disponível em: http://cac-php.unioeste.br/eventos/serprof/anais/trabalhos/artigo/artigo/
62.pdf . Acessado em: 11/04/2017.
DE OLIVEIRA, Bruna Cristina; BORGES, Elle Cristina da Silva; DE LIMA, Laisiani
Aparecida; ELIAS, Miliene Tavares de Britto; DA SILVA, Simone Maria; OLIVEIRA,
Wesley Tomaz; BARBOSA, Ana Paula. A Importância de Atividades Recreativas e Culturais
no Processo de Socialização de Crianças de 05 a 10 Anos. Dezembro de 2012. Disponível em:
https://psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/a-importancia-de-
atividades-recreativas-e-culturais-no-processo-de-socializacao-de-criancas-de-05-a-10-anos.
Acessado em: 11/04/2017
PENA, Angela da Conceição; DAS NEVES, Maria Augusta Lima. A importância das
Atividades Lúdicas no Universo da Educação Infantil. 2013. Disponível em:
https://mariaaugustaclimadasneves.jusbrasil.com.br/artigos/111955220/a-importancia-das-
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SESC: SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. A importância do lazer e da recreação para o


aprendizado na educação infantil. Disponível em: http://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/
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14C_A+importancia+do+lazer+e+da+recreacao+para+o+aprendizado+na+educacao+infantil.
pdf?MOD=AJPERES&CACHEID=9c6af225-bfb5-4ce8-bd8d-f7541b7dffad. Acessado em:
18/04/2017

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