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FORMAÇÃO
II~ DE PROFESSOOES !~
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~. CAPtruL03
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~!: Estratégias de leitura
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CAPÍTULO 3
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ESTRATÉGIAS DE LEITURA
III
V I I
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jll.
Renllson José Manegassl

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1. As estratégias de leitura
O trabalho com estra~égias de leitura no Ensino Fundamental é eortrema-
mente relevante para a formação de um leitor competente, que consiga ler qual- ..;g
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quer texto da sociedade. compreendê-Io e fazer uso de seus conheclmenlos para
conseguir transitar pelo corpo social em que convive. Assim, os prlnclpios básicos
do letramento são aqui considerados, para que o professor proponha um trabalho
de leitura em que o texto social s~ja lido, analisado, refletido e utilizado como
meio para o desenvolvimento da leitura com os alunos.
Para que esse desenvolvimento ocorra, faz-se necessário o trabalho com
as estratégias de leitura em sala de aula, a partir do material didático que se tem
em mãos e também através de textos que são trazidos para a escola e retlrados
do convlvio normal da sociedade em que o aluno e o professor vivem. Ccm essa
afirmação, instaura-se uma certeza: é preciso ensinar estratégias de lelLJra aos
alunos no Ensino Fundamental. Com esse ensino, o aluno aprende a desenvolver
sua leitura com mais facilidade e de maneira mais adequada.
Estratégias são procedimentos conscientes ou Inconscientes utilizados
pelo leitor para 'decodlficar, compreender e interpretar o texto e resolver os pro-
blemas que encontra durante a leitura. Um procedimento, 'com freqOêncla cha-
mado também de regra, técnica, método, destreza ou habilidade, é um conjunto
de ações ordenadas e finalizadas, isto é, dirigidas à consecução de uma meta"
(COLL, 1987, apud SOLÉ, 1998, p. 68). Neste ponto, é necessário que se faça
/ distinção entre estratégias e técnicas. Menegassi (1992, p. 159) considera que as
técnicas, como um procedimento de ação ordenada,
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E.
I

são sempre aprendidas através de lnstrução ou observação. Já


'I FORMAÇÃO as estratégias são decorrentes da aprendlzegem das técnicas necessariamente passa pelo ensino de estratégias de leitura, pela prátlce em
j ou da cnação espontânea do lellor. Ou seJe, após aprender lextos sociais, pelo desenvolvimento de uma autonomia no leitor para escolher a
DE PROFESSORES FORMAÇÃO
li . certas técnicas, o lellor crta ou adapta eslraléglas de leitura a
partir .dos conheclmenlos adquiridos com aquelas; também é estratégia certa ao texto trabalhado. DE PROFESSORES
'f" EAO
rL Leitura e Ensino
capaz de críar estraléglas esponlllneas que o tempo e a rnatu-
ração na leitura proporcionam, sendo um falo que ocorre tanto
A formação de leitores competentes, autônomos, possibilita ao aluno a EAD
i'I"~ com o bom quanto com O rnau leítor. capacidade de aprender a partir dos textos que lê, Isto é, a cada novo texto o leitor
CAPfnJul3
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aprende novos conhecimentos, novas estruturas, desenvolve novas estratégias; Estratégtasde leitura
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Ao se ensinar aos alunos a técnica de sublinhar textos, por exemplo, os ele aprende a aprender. Para que isto seja posslvel, é necessério que esse leitor
proceelmentos são apresentedos de' modo ordenado, demonstrando como as interaja com o texto, compreendendo-o; estabeleça relaçOes entna o que lê e os

I
ações para a reaílzação da técnica S1l0 efetivadas. Ao aprendê-Ia, o leitor, con- conhecimentos prévios que tem armazenado na memória sobre o tema discutido
slderando-se sua maturidade no trato com a leitura, pode desenvolver estraté- no texto; questione o conhecimento aprendido, conseguindo realizar assocfaçOes
gias próprias que lhe possibilitam um melhor tratamento com o texto ou uma má com o que Já tinha na memória, com as novas InformaçOes que se formou em

Ii conduta na leitura. Assim, o leitor, a partir dos procedimentos


técnica de sublinhar, vai desenvolver sua própria estratégia
determinados pela
de sublinhar textos,
que é dlfenante de leitor para leitor. isto significa que cada leitor tem desenvolvi-
sua mente, permitindo sua utllízação em outros contextos

escola, onde está aprendendo


sociais diferentes

a trabalhar com o texto, Enfim, o aluno aprende


na escola o trabalho com as estratégias de leitura, para, posteriormente,
da

usufruir
co suas estratégias próprias de leitura, que podem, dependendo da tarefa e do desse procedimento na leitura de textos que encontra no cotidiano social em que
texto, ser e1icazes ou não, Dessa forma, o que se tem como certo é que o ensino convive, não se restringindo o trabalho com o estudo do texto somente à sala de
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das estratégias se efetiva na sala de aula a partir das condutas que o professor aula. Isto é formar um leitor competentel
proporciona aos alunos.

3, O leitor e a8 estratégias de leitura


2. O ensino de estratégias de leitura S1IO quatro as estratégias fundamentais para realizar a compnaensllo, a
Ao se considerar as estratégias como procedimentos, parte-se da Idéia de serem desenvolvidas nos alun~s, para o trabalho em todoa os textos: .e/eçlJo,

!, que devem ser ensinadas aos alunos, para que os conteúdos do ensino sejam antecip8ç'lO, inferênc/a e verificaçlJo, Elas foram sistematizadas a partir de estu-
aprendidos de maneira mais adequada, tornando o trabalho do professor e do dos realizados por pesquisadores em PsicollngOlstlca, como Goodman (1987) e
a uno mais propicio. Smith (1991), e apresentadas como referência a orientações no trabalho com lel-
As eslratégias não amadurecem sozinhas, nem se desenvolvem, nem tura nos Paràrnetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, 1998), Multas outras
emergem, nem aparecem no aluno só porque o professor deseja. Elas precisam estratégias são consideradas n? processo de ensino, contudo: essas quatro são
de um principio de ensino, que, conforme discutido anteriormente, pode ser apre- as principais, pois essa classificação foi resultado de multas pesquisas desenvol-
li sentado a partir da instrução de técnicas ou mesmo de estratégias certas de lei- vidas nas últimas quatro décadas em todo o mundo.

tura de textos. Elas requerem, por parte do professor, um conhecimento mlnimo Para entender o que significem, apresentam-se as suas definiçOes e exem-
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de trabalho com o texto, pois cada texto requer uma leitura especifica, já que os plos que explicitam seu funcionamento durante o processo de ensino e aprendi-
textos que circulam na sociedade não são lidos sempre da mesma forma. Cada zagem de IIngua.

texto requer U.11aestratégia de leitura, em função de sua.especificidade, de seu


conteúdo, da sua forma. I:certo que muitos textos são lidos com a mesma estra- a) Se/eçlJo:
léjJla, porém seu emprego é dif~renciado pelo leitor. São ações que possibilitam ao leitor ater-sa somente ao que Il1e é útil
Dessa forma, o ensino das astratégias é neCessário porque se pretende para a compreensão do texto, desprezando-se itens considerados Irrelevantes,
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"fOflTlar leitores autónomos, capazes de enfrentar de forma inteligente textos de Ao ler uma revista, um jomal, o leitor inicia a leitura pela seleção dos textos que
indole nulto diversa, na maioria das vezes diferentes dos utilizados durante a ifls- estão ali dispostos. Primeiro, o leitor folheia todo o periódico, lendo ceda Ululo e
trução." (SOLÉ, 1998, p. 72). Neste sentido, a formação de um leitor competente observando as figuras que acompanham o texto, Se o titulo lhe chamar a aten-

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f ção, despertando Interesse, ele acaba lendo o lide, aquela parta introdutória da c) Inferéncia:
FORMAÇÃO matéria jomallstlca que resume o fato objetiva e sinteticamente, respondendo as São ações que unem o conhecimento que não está expllcito no texto, FORMAÇÃO
f DE PROFESSORES questOes: o quê, quem, quando, onde, como e por que sobre o assunto do tex- porém posslvel de ser captado, com o conhecimento que o leitor tem sobre o DE PROFESSORES
'~ ~ EAD to. Entretanto, o leitor não lê a reportagem, ele continua a folhear a revista ou o assunto. Na verdade, é uma ponte de sentido que o leitor cria com o taxto lido, E/tD
',' leltur. e Ensino
jornal, selecionando o que Irá ler após a investigação preliminar. Nessa seleção, construindo uma nova informação, que não e~lstia antes no texto, nam no leitor. CAPiruL03

I~, ~I
o leitor determina quals textos lhe servem para leitura naquele momento de sua
vida. Feita a seleção Inicial, lança-se á leitura dos textos escolhidos.
Ao ler um texto, o leitor aciona os conhecimentos préVios que tem arma-
zenado em sua memória sobre o tema. Nesse momento, o leitor complementa o
Estratégias da lelruta

A seleção é um Importante recurs~.para a escolha de textos e também de texto a partir de atribuições baseadas nas pistas textuais oferecidas paio autor
suas Idéias relevantes. Assim, ao ler um texto, o leitor não se aproveita de todas que produziu o texto, conslderando-se, é claro, os conhecimentos do leitor que
ir: as Informações ali constantes. Ele seleciona o que lhe é pertinente em função de silo evocados durante a leitura. Assim, a Imagem da ponte da sentido se constrói,
seu objetivo de leitura. Por Isso que o ensino que sa efetiva em sala de aula sobre pois ela une o texto e os seus significados Impllcitos, com o leitor, que explicita
as estratégias de leitura deve ser consciente de seu processo, para não causar esses significados.
r danos na leitura do aluno, a partir da internalização de procedimentos inadequa- No exemplo que está sendo utilizado para explanação das astratéglas, o
'. dos ou, até mesmo. a falta deles. leitor, ao ler um titulo de reportagem como: "Menino de 1 ano é morto com tiro na
cabeça no colo da rnãe", aciona alguns conhecimentos prévios que lhe permite
b) Antecipaçilo: criar certas inferências:
Silo predições que o leitor constrói sobre o texto que está lendo, possibi-
;J Titulo:
litando-lhe a antecipação do conteúdo, mantendo a atenção no objetivo determi-
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nado Inicialmente. O leitor, durante a leitura do texto, cria hipóteses e previsões • Menino de 1 ano é morto com llro na cabeça no colo da "".n .&
I) sobre os significados a partir das informaçOes expllcitas e impllcitas constantes
Inferênclasposslvels de construção:
,j no texto. Essas anteclpaçOas podem ser comprovadas ou não. Ao serem com- - O meninoe a mêe foram vlUmasde violência;
i - O meninoteve morte Instantânea,devido ao tiro na cabeça e a sua
provadas, o laitor senta maior segurança nas estratégias que escolhau, dando
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idade;
r prosseguimento á conduta iniciada, pois está no caminho certo. Por outro lado, - A mIIa do menino tembém foi atingida pela' bala, que pode ter
II ao tar suas predições não comprovadas, ele é obrigado a ravar seu procadi-
perfurado a cabaça do menino e alcançado alguma parta do corpo
da mãe;
I manto, raavallando o uso das estratégias, readequando-as ou, até mesmo, tro- - A bala que atingiu o menino era perdidade um tiroteio;
- A bala que atingiu o menino pode ter sido disparada por um
! cando de estratégia, escolhendo uma que lhe possibilite uma antecipação mais conhecido;
eficiente.
- A mãe pode ter atirado no própriofilho.
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No exemplo comentado na estratégia de seleção, o leitor, ao realizar a se-
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! !. leção de texto em um jornal ou em uma revista, inicia a sua leitura. De imediato, a
I As inferências construldas foram resultados da união dos conhecimentos
«. partir da leitura do titulo, o leitor já antecipa algumas previsões sobre o conteúdo
I, prévios do leitor, relativos ao assunto do texto, com as InformaçOes que o tex-
do texto. Ao lar o lide, o leitor pode comprovar ou não sua pradição iniciada no
li, titulo, possibilitando a continuação da estratégia escolhida ou a sua readequação.
to apresenta. Todas as Inferências destacadas são perfaitamenta poaslvels de

i serem construldas. Durante a leitura do texto, o leitor verifica as possibilidades


h Ao adentrar à leitura do texto, o leitor vai, gradativamente, comprovando suas
li levantadas através das Infarências que construiu na antecipação da leitura. com-
! antecipaçOes e, se silo adequadas, continua a produzir novas predições, dando
provando-as ou descartando-as.
prosseguimento à leitura. Porém, se suas antecipações não são comprovadas, o
leitor, conscientemente, procura adequar uma nova estratégia à leitura realizada,
d) Verilicaçilo:
mostrando sua capacidade e competência no trato com O texto. .I A confirmação ou não das antecipaçOes e das Inferênclas realizadas se

ij I constrói no processamento da leitura do texto. É justamante a estratégia de verí-

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flcação que mais controla a eficácia das estratégias escolhídae.pelo leitor, A cada
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confirmação das predlçOes levantadas e das Inferênclas roallzadas, mola seguro
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.: DE PROFESSORES o leitor se sente, possibilitando-lhe uma melhor construção de sentido para o tex-
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w..;. to trabalhado. Por outro lado, caso a verlficaçêo mostre que suas hlpótosea de
\, L3iIlJ~8 e Ensino slgnlfioado estão inadequadaii, cabe ao leitor alterar as estratégias, possibilitando
uma escolha mais adequada 'ao texto trabalhado,
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No exemplo comentado, após ter antecipado o conteúdo do texto com a
leitura do lIIulo e do lide e construido Infer~rolas 11 partir do lIIulo, o leitor adentra
ao texto e busca comprovaçOes de suas predlçOea e Infarênclas, no Intuito de ve-
rificar se seus objetivos de leitura, que foram predetennlnados pelas estratégias
anteriores, foram alcançados ou não .

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