Você está na página 1de 1

Ajustando a mola do balanço

Ajustes na mola do balanço são uma tarefa muito especializada normalmente executada por relojoeiros especialmente treinados, conhecidos como cronometristas. Esses ajustes são feitos depois dos ajustes básicos no próprio balanço.
Embora tenha discutido a roda do balanço num artigo anterior do Horologium (nota do tradutor: referido artigo encontra-se disponível no site Timezone, em inglês), é suficiente dizer que a roda deve estar perfeitamente redonda e
equilibrada (isto é, em equilíbrio, sem pontos sobrecarregados). Erros residuais inevitáveis no equilíbrio do balanço, porém, podem ser parcialmente compensados pelo ajuste da mola do balanço.

O ajuste da mola, normalmente conhecido como sincronismo, tem quatro objetivos primários, todos relacionados à obtenção de precisão ou cadência absoluta: (1) Possibilitar a extensão e contração simétrica da mola a partir do centro do
seu comprimento (isto é, o centro da bobina central), a fim de compensar os efeitos da gravidade sobre a mola, que arqueia sobre seu próprio peso e, conseqüentemente, introduz diferenças de funcionamento em posições diversas do
relógio. Isto é uma questão de precisão. (2) Para maximizar o isocronismo do movimento, de modo que todas as oscilações do balanço durem ( o tanto quanto possível) o mesmo tempo, não obstante o arco percorrido. Esta também é uma
questão de precisão. (3) Para ajustar a mola de modo que o relógio esteja "no compasso", significando que o tempo entre a batida da elipse na boca da forquilha, percorrendo em uma direção, seja igual ao intervalo quando o pino de
impulso esta percorrendo na outra. (Isto é obtido aproximadamente tendo o pino de impulso centrado na forquilha com o balanço em repouso). Isto também é uma questão de precisão. (4) E o ajuste da mola para assegurar se a marcha
absoluta do relógio está correta (isto é, se o relógio se mantém correlato a um padrão de tempo). Observe que a precisão é, de longe, a questão complexa. Sem precisão, a questão de marcha absoluta é, em todo caso, discutível.

Todos estes objetivos são alcançados através de relativamente simples, algumas vezes ardilosos, ajustes da mola do balanço. Estes incluem girar o collet para modificar a posição do encaixe interno da mola; alongando ou encurtando a
mola através do "piton"; alterando a posição do "piton"; pelo afrouxamento da presilha do "piton", e movendo-se a mola ligeiramente (8, figura 9); modificando o raio e forma do "overcoil" (9) ou, no caso de uma mola plana, o raio e a

forma da bobina mais externa. Estes são os únicos ajustes de mola disponíveis para centralizar a mesma, compensando-a para gravidade e efeitos posicionais, alcançando isocronismo e ajustando o compasso.

O último ajuste disponível em vários relógios é realizado com o regulador (1, 5 e 6, figura 9), que é usado para
ajustar a marcha diária depois que todos os outros ajustes tiverem sido feitos. O indicador do regulador (1)
aponta para marcas em uma escala gravada na torneira do balanço, para referência visual durante o ajuste. O
indicador é encaixado no anel do regulador (5) que contém os pinos de retenção (6), que deslizam ao longo do
comprimento da mola assim que o regulador é movido (ilustrado totalmente à esquerda). Algumas vezes o
ajuste é feito simplesmente movendo o indicador, o que pode ser difícil de fazer com precisão, particularmente
em regulagens muito pequenas. No caso do regulador de precisão "swans-neck" ilustrado, o mesmo é movido
girando o parafuso (4 e 4A) contra aquilo a que o regulador é seguro pela mola do "swan-neck" (2). Tal arranjo
proporciona o mínimo de "jogo" no sistema. O movimento dos pinos de retenção modificam o comprimento
efetivo da mola. "Encurtando" a mola aumenta-se o compasso; estendendo-a, o diminui. Ao contrário dos pinos
de retenção planos ilustrados, alguns contém anteparos que evitam que algumas bobinas da mola se prendam
no regulador. A regulagem também pode afetar ligeiramente o compasso, e isto freqüentemente exige alguns
ajustes após a regulagem da marcha. No entanto, alguns projetos de regulador como o Triovis (ilustrado acima
à esquerda), automaticamente compensam para o compasso durante a regulagem. O parafuso de ajuste de
precisão é visto no 1, e o anteparo de contrabalanceamento do compasso no 3. O suporte do pino de retenção
é visto no 2.
Conclusões

Tão simples quanto os conceitos, o moderno escapamento de âncora e duplo platô é uma realização notável. Na sua forma atual mais comum, funcionando a 28.800 oscilações por hora, o rubi da "levée" acopla e libera um dente de escape
691.200 vezes por dia. Qualquer distúrbio em qualquer parte do mecanismo, mesmo de pequena proporção, pode causar efeitos dramáticos na precisão. Por exemplo, qualquer mudança na mola do balanço, pivôs do balanço, âncora ou
ação de impulso das "levées", equivalente a apenas um por cento de alteração na inércia da roda do balanço, irá causar aproximadamente sete minutos e meio de erros durante 24 horas. Isto é equivalente a mudar o tamanho efetivo da
mola do balanço em apenas 1,2 mm.

Talvez tão notável quanto a precisão do escapamento de âncora seja sua confiabilidade e durabilidade. Nos quatro anos entre uma revisão, o relógio de 28,800 oscilações por hora terá completado aproximadamente 505 milhões de ciclos
completos do escapamento: mais de um bilhão de acoplamentos e impulsos de cada "levée" e o número equivalente.

Nota do tradutor: Gostaria de agradecer a Walt Odets e à equipe do site Timezone por gentilmente permitirem a tradução e divulgação deste artigo.

Os relojoeiros brasileiros, sobretudo pela influência do saudoso professor Dimas de Melo Pimenta, fundador do Instituto Brasileiro de Relojoaria - hoje extinto -, adotaram a terminologia francesa dos componentes de um relógio. Assim,
mantive-me fiel aos termos adotados na obra "Manual do Aprendiz de Relojoeiro, 2ª Edição", de autoria de Dimas Pimenta. Alguns componentes dos movimentos mecânicos, porém, não possuíam designação neste livro, razão pela qual
realizei a tradução livre de algumas palavras.

Você também pode gostar