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15/08/2023

DIREITO
INTERNACIONAL
PÚBLICO
AULA 4
Professor: Marcelo Uchôa

UNIDADE II
Direito Internacional Público: denominações, fundamentos e
fontes – Parte 1

SINOPSE
• Denominação;
• Conceito;
• Fundamentos;
• Fontes primárias.

Direito Internacional Público


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DENOMINAÇÃO
O Direito Internacional Público, termo
introduzido no mundo jurídico por Jeremy
Bentham, em 1780, também é conhecido
como “direito das gentes” (no sentido de
direito das nações), Direito das Nações,
Direito dos Povos, Direito dos Tratados,
Direito Interestadual, Direito Plurinacional
ou Multinacional, Direito Superestatal, ou,
simplesmente , Direito Internacional.

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CONCEITO

• Noção inicial: (Anzilotti,


Fauchille, Von Liszt)
“O direito internacional é o
conjunto de normas jurídicas
reguladoras das relações entre os
Estados soberanos”.

• Evolução  com foco nos


sujeitos
“é o conjunto de normas jurídicas
reguladoras das relações entre os
sujeito de Direito Internacional”.
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CONCEITO

• KELSEN  deslocamento do foco


dos sujeitos para os processos de
produção da norma

“conjunto de normas jurídicas criadas


pelos processo de produção jurídica
próprios da Comunidade Internacional,
e que transcende, o âmbito estadual.”

 Chama atenção para os processos


normativos da Comunidade
Internacional .

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Direito Internacional Público
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CONCEITO

“O Direito Internacional Público disciplina e


rege prioritariamente a sociedade
internacional, formada por Estados e
Organizações Internacionais
intergovernamentais, com reflexos voltados
também para a atuação dos indivíduos no
plano internacional”.

MAZZUOLI
(Comunidade ou SOCIEDADE internacional?

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CONCEITO
O Direito Internacional Público é o ramo do
direito que tem por objetivo promover a
regulação da sociedade internacional,
buscando a convivência pacífica dos seus
membros e a promoção da cooperação
internacional visando encontrar soluções para
os problemas da humanidade.

 Pode-se dizer que é o ordenamento jurídico


da sociedade internacional.

 O conceito de sociedade internacional não é


rígido, tampouco limitado, estando em
permanente mutação. A sociedade
internacional é universal e heterogênea,
anárquica.

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• Os fundamentos do Direito
Internacional são os porquês da
existência do Direito
Internacional, ou seja, aquilo
que lhe fez útil existir, algo que
está conectado com a relação
de validade-legitimação do
sistema jurídico. Teorias
FUNDAMENTOS voluntaristas e objetivistas
respondem por esta discussão.
E FONTES
• As fontes se relacionam às
origens normativas, isto é, de
onde provêm as normas de
direito internacional.

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Teorias
voluntaristas
O Direito Internacional
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Jellinek, 1851-1911 existe pela vontade dos Wenzel, 1879-1946


(Delegação do DI)
(Autolimitação)
Estados os quais são
soberanos.

Triepel, 1851-1911 Oppenheim, 1852-1929


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(Vontade coletiva) (Consentimento mútuo)

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Duguit, 1859 – 1928 Convenção de Viena Sobre


Kelsen, 1881 – 1973
Direito dos Tratados (1969)
Norma-base O Direito é uma necessidade
social de ordem superior. Norma Pacta Sunt Servanda

Teorias objetivistas A superioridade do Direito


CVDT (Preâmbulo): (...)
Reconhecendo a importância cada vez maior dos tratados Internacional existe pela
como fonte do Direito Internacional e como meio de força objetiva das normas de
desenvolver a cooperação pacífica entre as nações,
quaisquer que sejam seus sistemas constitucionais e sociais, direito internacional
Constatando que os princípios do livre consentimento e da
boa-fé e a regra pacta sunt servanda são universalmente
reconhecidos, (...)

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FUNDAMENTO
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Direito Internacional Público

Em resumo, várias teorias


tratam do fundamento do A Convenção de Viena sobre o
Direito Internacional: Direito dos Tratados admite que o
voluntaristas, que DI se funda numa norma “pacta
defendem que o DI se sunt servanda” (respeito à palavra
funda na vontade dos dada): vale a vontade do Estado,
Estados e objetivistas, que mas tal vontade decorre da
defendem que o DI se necessidade, já que sem o DI
funda em força própria, relações internacionais são
tanto que existem normas impossíveis. A pacta sunt servanda
de jus cogens. externa duas dimensões: criativa
(desejo do Estado) e perceptiva
(força do DI) mesclando
voluntarismo e objetivismo.

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Conferência Sobre
as Nações Unidas
(San Francisco,
1945)

FONTES
• As fontes do Direito Internacional
Público estão catalogadas no Estatuto
da Corte Internacional de Justiça, de
1945, que, em seu art. 38,
estabelece:
“1. A Corte, cuja função é decidir de
acordo com o direito internacional as
controvérsias que lhe forem
submetidas, aplicará:
a) as convenções internacionais, quer
gerais, quer especiais, que
estabeleçam regras expressamente
reconhecidas pelos Estados litigantes;
b) o costume internacional, como
prova de uma prática geral aceita
como sendo o direito;
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c) os princípios gerais de direito,


reconhecidos pelas nações civilizadas;
d) sob ressalva da disposição 59 [verbis: A
decisão da Corte só será obrigatória para
as partes litigantes e a respeito do caso
em questão], as decisões judiciárias e a
doutrina dos juristas mais qualificados
das diferentes nações, como meio auxiliar
para a determinação das regras de direito.
2. A presente disposição não prejudicará a
faculdade da Corte de decidir uma
questão “ex aequo et bono”, se as partes
FONTES com isto concordarem”.
• Ex eaquo et bono = por equidade

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• Ou seja, pelo Estatuto da


Corte Internacional de
Justiça são fontes do
Direito Internacional
Público:

FONTES PRIMÁRIAS
• Tratados realizados
• Costumes internacionais
reconhecidos
• Princípios gerais de
direito Internacional
reconhecidos

FONTES SECUNDÁRIAS
(ou Fontes Auxiliares, ou
Meios Auxiliares)
• Decisões judiciárias
FONTES • Doutrina
• Excepcionalmente,
decisões por equidade
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FONTES
• O fato do art. 38 do Estatuto da
Corte Internacional de Justiça
elencar um rol de fontes de DIP
não significa que outras fontes
não possam ser úteis à
interpretação do Direito
Internacional, p. ex, atos
unilaterais dos Estados, tácitos ou
expressos, estoppel, decisões das
organizações internacionais, jus
cogens e soft law, em geral, e,
ainda, analogia e usos.

 Portanto, o rol de fontes do


Estatuto da CIJ não é conclusivo.
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FONTES DO DIREITO
INTERNACIONAL

FONTES FONTES SECUNDÁRIAS


OUTRAS
PRIMÁRIAS (ou Fontes Auxiliares ou
Meios Auxiliares)
Atos unilaterais
Tratados dos Estados e
Decisões Estoppel
judiciárias
Costumes
Doutrina
Decisões das Org.
Princípios gerais Internacionais
de direito Equidade

Analogia e usos Soft law Jus cogens

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• As CONVENÇÕES
INTERNACIONAIS são, em
síntese, os tratados
internacionais, quer sejam
bilaterais ou multilaterais,
gerais ou específicos, enfim,
firmados entre os entes de
direito internacional
público.
• Apesar de que teoricamente
não há hierarquia entre
fontes primárias de DIP, os
tratados, sendo uma
expressão formal de
consentimento, gozam de
valor reforçado frente
CONVENÇÕES outras fontes, em especial
as secundárias, devido a
formalidade que ostentam
INTERNACIONAIS em seu processo de
elaboração.
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COSTUMES INTERNACIONAIS
• Apesar dos tratados serem
considerados fontes primárias de
Direito Internacional mais concretas
que os COSTUMES, estes também são
fontes primárias e exercem importante
papel na configuração do ramo
jurídico;

• São as fontes mais antigas do Direito


Internacional e, até o século XVII, as
mais recorrentes. Somente após a “Paz
de Westfália” os tratados passaram a
gozar de especial relevo.

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COSTUMES
INTERNACIONAIS
• Para MAZZUOLI, os costumes são,
ainda, muito importantes, porque:

“até hoje nenhum tratado multilateral


logrou a ratificação da totalidade dos
Estados componentes da sociedade
internacional. (...) Pelo contrário: o
costume, mesmo positivado em
tratado, continua a existir para aqueles
Estados que desse tratado não são
partes ou, ainda, para aqueles Estados
que se retiraram desse mesmo
instrumento pela denúncia unilateral”.

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• Segundo o parágrafo
1, do art. 38, do
Estatuto da Corte
Internacional de
Justiça o costume se
constitui “numa
prática geral, aceita
como sendo o
direito”.

• Ou seja, o COSTUME
INTERNACIONAL é
uma prática coletiva,
sedimentada no
tempo e aceita
COSTUMES como geral pelos
Estados, a ponto de
INTERNACIONAIS gerar efeitos
jurídicos.
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• Costumes e usos não se


confundem. Os costumes
geram para os Estados
crença na obrigatoriedade
de seus cumprimentos;
usos não geram esta
COSTUMES crença. P. ex., a saudação
marítima de cortesia é um
vs USOS? uso e não um costume.

• A formação do costume
exige dois elementos
essenciais, um objetivo e
outro subjetivo.
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1. Elemento objetivo (ou material):

• A Repetição generalizada, reiterada e


uniforme do ato que redunda na prática.

2. Elemento subjetivo (ou psicológico):


opinio juris.

• A convicção de que aquilo que se pratica


é o correto, ajustado, que deve ser
cumprido. Obs. uma convicção não
apenas moral, de cortesia, mas
suscetível de induzir ao cumprimento.

COSTUMES
INTERNACIONAIS

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COSTUMES
INTERNACIONAIS
• OBSERVAÇÃO:

O art. 38.1.b do Estatuto da CIJ


menciona “costume internacional,
como prova de uma prática geral
aceita como sendo o direito”.
Portanto, um costume
internacional, ainda que regional e
especial, pode ser considerado
fonte de Direito Internacional, só
que com incidência de eficácia
reforçada apenas no âmbito
regional correspondente.
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• Por serem ambas fontes primárias


de DIP, em tese, não existe
hierarquia entre costumes e
tratados, embora tratados gozem de
especial relevo ante tribunais. Este
COSTUMES fato não impede que parte da
doutrina sustente que um costume
vs possa derrogar um tratado, que, por
sua vez, cairá em desuso por perda
de eficácia social, ou vice-versa.
TRATADOS • Um costume, portanto, pode
desaparecer por desuso, pela
substituição por outro costume e
pela derrogação por tratado.
• Enquanto para os objetivistas o
costume vincula todos os Estados,
para os voluntaristas, o único
costume vinculativo é o que emerge
após a existência dos Estados.

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• Questão relativamente difícil à invocação de um


costume é prová-lo. Essa é uma das razões para
que, hoje, haja uma tendência em positivá-los
em tratados. Segundo Vaughan Lowe (p.29):
“O direito consuetudinário é resiliente, mas pode
ser lento e impreciso no modo de criação. A prática
deve ser primeiro iniciada. É preciso aguardar que
ela se consolide como padrão pelo Estado. Mesmo
quando a prática estiver consolidada, pode não ser
compreensível ou exata”. (tradução livre)
• Quanto às consequências da transformação do
costume em tratado, há na doutrina quem diga
que o costume desaparece, convertendo-se em
tratado e quem defenda que, mesmo havendo a
documentação, o costume permanece válido
como fonte jurídica.

COSTUMES INTERNACIONAIS
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• Também são fontes primárias


de direito internacional, assim
consideradas pelo art. 38, 1, c,
do Estatuto da Corte
Internacional de Justiça, “os
PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO,
PRINCÍPIOS reconhecidos pelas nações
civilizadas”.
GERAIS DE • Mas quais são as nações
DIREITO civilizadas?

• A melhor interpretação do
dispositivo deve entender a
expressão “nações civilizadas”
como “Estados
correspondentes”.

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• O art. 38.1 fala de


princípios gerais DE
direito e não
princípios gerais do
direito.

• Serão fontes
primárias os
princípios gerais DE
Direito
Internacional ou os

PRINCÍPIOS GERAIS princípios gerais do


Direito
Internacional?
DE DIREITO
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PRINCÍPIOS GERAIS
DE DIREITO
• A expressão princípios gerais de
Direito Internacional se refere a
aquele rol de princípios que,
embora aceitos de maneira
generalizada pelos Estados, são
oriundos de convicções jurídicas
internas, mas transpostas desde a
ordem doméstica para a seara
internacional.
• P. Ex.: No direito civil, o princípio da
boa-fé, o respeito à coisa julgada, a
proteção ao direito adquirido; no
direito do trabalho, o princípio
protetor; no direito penal, o in
dubio pro reo, etc.
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• A expressão princípios gerais do


Direito Internacional, por sua vez, se
refere a aquele rol de princípios que
deriva da própria prática
internacional.

• P. Ex.: o princípio da não intervenção,


da não ingerência em assuntos
particulares dos Estados, etc.

• Apesar da diferença entre as


expressões e alguma restrição da
doutrina, a justiça internacional tem
aceitado os princípios gerais do
Direito Internacional, e não apenas
os DE Direito Internacional, como
princípios informadores da matéria,
desde que reconhecidos pelos
Estados litigantes.

PRINCÍPIOS GERAIS DE
DIREITO

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• Assim, podem ser elencados como


princípios informadores de Direito
Internacional:
a) não agressão, não intervenção e
proibição do uso ou ameaça de força
entre os Estados;
b) não ingerência em assuntos

PRINCÍPIOS particulares dos Estados e igualdade


soberana entre os mesmos;

GERAIS DE c) dever dos Estados de cooperação


internacional;

DIREITO d) autodeterminação dos povos e


respeito universal e efetivo aos
direitos humanos;
e) primazia dos tratados sobre as leis
internas;
f) boa-fé, respeito à coisa julgada, ao
direito adquirido, princípio protetor,
in dubio pro reu, etc.
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BIBLIOGRAFIA
AKEHURST, Michael. Introdução ao Direito
Internacional. Ed. Coimbra
DUARTE, Maria Luisa. Direito Internacional
Público e ordem jurídica global do
século XXI. Ed. AAFDL
Estatuto da Corte Internacional de Justiça
(1945). In
http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/cdhm/comite-brasileiro-
de-direitos-humanos-e-politica-
externa/EstCortIntJust.html
GOUVEIA, Jorge Bacelar. Manual de Direito
Internacional Público. Ed. Almedina

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BIBLIOGRAFIA
HUSEK, Carlos Roberto. Curso de Direito
Internacional Público. Ed. LTr
LOWE, Vaughan. International Law: a
very short introduction. Oxford,
2015.
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de
Direito Internacional Público. Ed. RT
MIRANDA, Jorge. Curso de Direito
Internacional Público. Ed. Principia.

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BIBLIOGRAFIA
• ONU. Comissão de Direito
Internacional. Fragmentación del
Derecho Internacional:
dificultades derivadas de la
diversificación y expansión del
Derecho Internacional. Informe
do GE da Comissão de Direito
Internacional, de 13/04/06. In
http://www.un.org/ga/search/vi
ew_doc.asp?symbol=A/CN.4/L.6
82&referer=/english/&Lang=S
• PEREIRA, André Gonçalves;
QUADROS, Fausto de. Manual de
Direito Internacional Público. Ed.
Almedina

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• SANTOS, Rafael; MENDONÇA, Camila. Dilemas


teóricos decorrentes da fragmentação entre
normas com status de jus cogens. In III Diálogo
Ambiental, Constitucional e Internacional. Ed.
Lumen Juris
• UCHOA, Marcelo Ribeiro. Curso Crítico de
Direito Internacional Público. Ed. Lumen Juris


UCHOA, Marcelo Ribeiro. Direito Internacional.
Ed. Lumen Juris
VERDROSS, Alfred. Jus dispositivum and jus
BIBLIOGRAFIA
cogens in international law. American Journal
of International Law. Washington, D.C. n. 55.
vol. 60. 1966. In
https://www.jstor.org/stable/2196718?seq=1#
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Até a próxima aula...

FIM!!

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