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GQO00059 – Química Orgânica Experimental V

2o período de 2023 - Turma: FG – Docente: Prof. Carlos Magno R Ribeiro

Nome dos alunos: Luísa Nery da Costa Maia Pereira e Julia da Costa Mattos Ferreira
Carneiro

Data: 05/09/2023

Resenha número: 2

Purificação de Sólidos por Recristalização

Resumo

Na maioria dos experimentos de química orgânica, substâncias orgânicas sólidas desejadas,


independentemente de sua origem, geralmente não são encontradas em sua forma mais pura.
Um composto resultante de uma síntese orgânica pode conter subprodutos da reação,
reagentes que não foram completamente consumidos, catalisadores e outras impurezas.
Quando se trata de um composto sólido e a quantidade de impurezas não é substancial, é
possível realizar sua purificação através do processo conhecido como recristalização. Ela só é
aplicável com solventes nos quais o composto seja consideravelmente mais solúvel na
temperatura de ebulição do solvente do que em temperatura ambiente.

Introdução

Para que ocorra a cristalização de um composto, é necessário empregar um solvente no qual


sua solubilidade seja baixa à temperatura ambiente e consideravelmente elevada em
temperaturas geralmente próximas ao ponto de ebulição desse solvente. A técnica geral
envolve a dissolução do material a ser cristalizado em um solvente (ou mistura de solventes)
quente seguido pelo resfriamento lento da solução. O material dissolvido tem a solubilidade
diminuída a temperaturas mais baixas e vai se separar da solução à medida que esta for
resfriada.

O processo de cristalização ocorre de maneira relativamente lenta e seletiva, diferindo da


precipitação que se dá de maneira rápida e não seletiva. A cristalização é um procedimento
em equilíbrio que resulta na obtenção de material de alta pureza, por outro lado, na
precipitação, o retículo cristalino se forma tão rapidamente que as impurezas ficam retidas em
seu interior. Portanto, deve-se evitar qualquer tentativa de purificação com um processo
excessivamente rápido.
Os cristais se desenvolvem devido à influência das forças intermoleculares, como as forças
de Van der Waals, dipolo-dipolo e ligações de hidrogênio, e crescem gradualmente, camada
após camada, expandindo sua estrutura cristalina de forma progressiva. Quanto mais lento for
o processo de resfriamento, maiores serão os cristais e mais aperfeiçoada será sua rede
cristalina. Uma rede cristalina perfeita não apresenta espaços vazios, que poderiam conter
parte da solução contendo impurezas. Se o resfriamento ocorrer de maneira brusca, em vez de
cristalização, ocorrerá uma precipitação do material em uma forma amorfa, o que resulta na
acumulação de impurezas no interior do sólido. As impurezas não cristalizam ou precipitam
porque estão em menor concentração, ou seja, abaixo de seu ponto de saturação. Após atingir
a temperatura ambiente, o sistema é filtrado a vácuo para eliminar a solução-mãe, solução que
permanece após a cristalização, que contém as impurezas dissolvidas, juntamente com uma
pequena quantidade do produto. Para remover os vestígios da solução-mãe da superfície dos
cristais formados, realiza-se uma lavagem adicional com pequenas quantidades do solvente
frio, ainda dentro do sistema de filtração a vácuo.

Uma cristalização bem-sucedida depende da existência de uma grande discrepância entre a


solubilidade de um material em um solvente quando este está quente, em comparação com sua
solubilidade no mesmo solvente quando está frio. Quando as impurezas presentes em uma
substância têm solubilidade semelhante tanto no solvente quente quanto no solvente frio, a
purificação eficaz através da cristalização torna-se impraticável. Entretanto, é viável purificar
um material por meio da cristalização quando a substância desejada e a impureza apresentam
solubilidades comparáveis, desde que a impureza represente apenas uma pequena fração do
sólido total. Nesse cenário, a substância desejada cristaliza durante o resfriamento, enquanto
as impurezas permanecem sem cristalizar.

Etapas da Recristalização

Pode ser dividida em oito etapas, sendo duas opcionais.

1. Escolha do solvente

O solvente utilizado deve ter uma capacidade limitada de dissolver o composto soluto à
temperatura ambiente e deve ser capaz de dissolver completamente o soluto quando atinge seu
ponto de ebulição. Além disso, o ponto de ebulição do solvente não deve ser superior ao
ponto de fusão do soluto, ou se for o caso, o solvente não deve ser aquecido além do ponto de
fusão do soluto. Caso contrário, haverá o risco de obter um material amorfo e não cristalino
após o processo de resfriamento.
Quadro 1.1: Solventes mais comuns utilizados na recristalização ¹

2. Dissolução à quente

Nessa etapa, o sólido a ser purificado é aquecido em uma placa aquecedora juntamente de
uma pequena quantidade do solvente à temperatura ambiente, em um erlenmeyer. O
aquecimento direto do sólido a seco deve ser evitado, devido a possibilidade de fusão ou
decomposição do material, que prejudicaria o processo de recristalização.

Em um erlenmeyer diferente, o solvente puro é aquecido até entrar em ebulição e é


adicionado à solução gradualmente até dissolver completamente o sólido, saturando o sistema
com a menor quantidade possível de solvente para minimizar perdas. É importante ressaltar
que deve ser usada a quantidade mínima necessária de solvente para reduzir as perdas do
material sólido na fase aquosa. Um erro comum nesta etapa é adicionar quantidades
excessivas de solvente, o que geralmente ocorre quando o solvente não está suficientemente
aquecido. Portanto, para evitar esse problema, é fundamental levar o sistema à ebulição após a
adição do solvente.
Esse erro pode ser ampliado caso haja impurezas insolúveis no sistema, já que a tentativa
contínua de dissolver essas impurezas resultará na adição desnecessária de solvente. Caso
ocorra a adição excessiva de solvente por algum motivo, é possível removê-lo por
evaporação, aquecendo a mistura até entrar em ebulição. Se a mistura ficar turva, isso indica
que atingiu seu ponto de saturação, sendo necessário adicionar uma pequena quantidade do
solvente para torná-la límpida novamente.

3. Descoloração da solução

Ocasionalmente, a solução saturada resultante da dissolução em calor pode exibir uma


coloração distinta daquela esperada para o produto. Essa coloração é causada pela presença de
pequenas quantidades de impurezas coloridas e pode ser eliminada por meio do uso de um
adsorvente, sendo o carvão ativado o mais comumente empregado para essa finalidade. Essa é
uma etapa opcional.

4. Filtração a quente

Essa etapa deve ser realizada apenas quando a solução contiver impurezas insolúveis ou se
foi necessário conduzir previamente a etapa de descoloração. A filtração é conduzida por
gravidade, e é importante manter todo o equipamento aquecido para evitar uma cristalização
prematura. Para executar este procedimento, são necessários os seguintes materiais: um
erlenmeyer, um funil de colo curto ou um funil com o colo removido (funil de colo quebrado),
papel de filtro pregueado e um pedaço de arame ou papel dobrado entre o erlenmeyer e o funil
para equalizar a pressão interna e externa no erlenmeyer.

5. Resfriamento

Esta é a etapa fundamental da técnica, nela ocorre cristalização e efetivamente o sólido é


purificado. A solução deve ser resfriada lentamente até a temperatura ambiente, evitando a
evaporação total do solvente, o que causaria aderência de impurezas aos cristais. Resfriar de
forma brusca pode resultar em cristais mal formados ou precipitação de material amorfo, não
purificado. O resfriamento lento permite que os cristais cresçam em camadas, formando uma
rede cristalina perfeita que não retém impurezas solúveis. Se não houver cristalização, pode-
se tentar induzi-la com técnicas como atritar as paredes do recipiente, resfriamento em banho
de gelo ou adição de cristais puros. Se essas técnicas falharem com um volume excessivo de
solvente, é preciso evaporá-lo antes de tentar resfriar e cristalizar novamente.

6. Filtração à vácuo
Para eliminar a água-mãe, que contém impurezas insolúveis e parte do material de interesse
dissolvido, é realizada a filtração à vácuo do material resfriado. Os cristais ficam retidos no
papel de filtro e a água-mãe é eliminada.

7. Lavagem

Os cristais coletados na filtração a vácuo retêm parte da água-mãe em sua superfície. Para
elimina-la, juntamente com as impurezas, é necessário realizar uma lavagem durante o
processo de filtração a vácuo, utilizando o solvente gelado em pequenas quantidades. O uso
do solvente gelado evita a dissolução do produto, minimizando as perdas.

8. Secagem

Os cristais coletados após a lavagem ainda contêm resíduos de solvente em sua superfície.
Para eliminar esses resíduos, é necessário realizar uma etapa de secagem que pode ser
conduzida ao ar, com precauções para proteger o material contra a acumulação de poeira ou
utilizando uma estufa, sendo importante monitorar o ponto de fusão do sólido para evitar
temperaturas excessivas. Sólidos que sublimam facilmente não devem ser secos em estufa.
Por fim, o material pode ser seco a vácuo em um dessecador. Após a secagem, o material
pode ser caracterizado e sua pureza confirmada por meio de suas propriedades físicas.

Referências Bibliográficas

¹ RANDALL G. ENGEL, GEORGE S. KRIZ, GARY M. LAMPAM e DONALD L. PAVIA.


Química orgânica experimental: técnicas de escala pequena, 3 Edição, 2013.

PAVIA, D. L., LAMPMAN, G. M., KRIZ, G. S., ENGEL, R. G. Química Orgânica


Experimental: Técnicas de escala pequena. 2ª. Ed., 2009.

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