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ALFABETIZAÇAO
.. ~
& LINGUISTICA
LíNGUA PORTUGUESA
PEDAGOGIA
PSICOLOGIA
FONOAUDlOLOGIA
editora scipione
Catecismo asteca, 1'/,/111
o caminho que a criança percorre na alfabetização (' século XVI, para /110 drJi
muito semelhante ao processo de transformação pelo nos convertidos ao ,·,,111
qual a escrita passou desde a sua invenção. Assim como
os povos antigos, as crianças usam o desenho como for
ma de representação gráfica e são capazes de contar uma
história longa como significação de alguns traços por elas
desenhados ... Elas também podem utilizar "rnarqui-
nhas' , individuais ou estabelecidas por um consenso de
grupo, para representar aquilo que ainda não sabem es-
crever com letras.
As crianças vivem em contato com vários tipos de es-
crita: os logotipos, as placas de trânsito, rótulos e carta-
zes, além dos textos de revistas, jornais, televisão etc.
Todas essas informações e vivências devem ser aproveita-
das pelo professor para, 'juntamente com os alunos, re-
fletir sobre as possibilidades da escrita e observar que
marcas muito individuais restringem a possibilidade de
leitura e que, para facilitar a comunicação entre todas as
pessoas de uma sociedade, é que se estabeleceu um códi-
go, se convencionou um desenho para as letras.
É importante que, logo de início, a professora vá es-
clarecendo os alunos a respeito das distinções entre fala,
escrita e desenho.
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A HISTÓRIA DA ESCRITA
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af?~~ ~ 1 Vejamos agora a história da escrita nos seus aspectos ,'. ~
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mais gerais e importantes para o nosso estudo.
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A história da escrita vista no seu conjunto, sem seguir
uma linha de evolução cronológica de nenhum sistema
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e
especificamente, pode ser caracterizada como tendo três
fases distintas: a pictórica, a ideográfica e a alfabética. V
~~~o~'À \ li A fase pictórica se distingue pela escrita através de de-
senhos ou pictogramas. Estes aparecem em inscrições an-
tigas, mas podem ser vistos de maneira mais elaborada
.antos Ojlbwa. Um grupo d, I> nos cantos Ojibwa da América do Norte, na escrita aste-
cant« 1 puru crnmônia di' tntct« a (veja o catecismo astcca, por exemplo) (' mais recente-
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mente nas histl'lrias em quadllldlO\
Os pictograrnas não estão associados a um som, mas à A fase alfabética se caracteriza pelo uso de letras. Es-
imagem do que se quer representar. Consistem em re- tas tiveram sua origem nos ideogramas, mas perderam o
presentações bem simplificadas dos objetos da realidade. valor ideográfico, assurnindo uma nova função de escri-
A fase ideográfica se caracteriza pela escrita através de ta: a representação puramente fonográfica. O ideogra-
desenhos especiais chamados ideogramas. Esses dese- ma perdeu' seu valor pictórico e passou a ser simples-
nhos foram ao longo de sua evolução perdendo alguns mente uma representação fonética.
dos traços mais representativos das figuras retratadas e Os sistemas mais importantes são o semítico , o india-
tornaram-se uma simples convenção de escrita. As letras Alfabeto caneiforme, ti!'"
no e o greco-latino. Deste último provém o nosso alfabe-
em Ugant (atualm/'III
do nosso alfabeto vieram desse tipo de evolução. Por to (latino) e o cirílico (grego), que originou o atual alfa- Sbamra, na costa da \
exemplo, o a era a representação da cabeça de um boi na beto russo. exemplar mais anugo
Na base de toda escrita está a escrita egípcia: b- . Em grego, o alfa se escreve o<. . abecê completo.
pintura. Acima, uma gravura O b era a representação de uma casa egípcia: fi] . O d
em rocha encontrada no noroes-
era a figura de uma porta: q .
O m era o desenho das
te do Brasil.
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ondas da água: -'VVV\ . O era o desenho de uma cobra:
'-. O o era a figura de um olho: ~.
tava o peixe: ~,e assim por diante.
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As escritas ideográficas mais importantes são a egípcia
(também chamada de hieroglífica), a mesopotârnica (su- ~<.}>~~Vy~Y\~~ "
méria), as escritas da região do mar Egeu (por exemplo,
a cretense) e a chinesa (de onde provém a escrita japo-
nesa).
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.-.jp~t; t:'A?rl ~~~MtGn.(~lf~r~ mos atualmente, passou por inúmeras transformações.
~~~"-\.J-~~~A.~" á!.:;1L1~tv~ll\" 1 Primeiro surgiram os silabârios, que consistiam num
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conjunto de sinais específicos para representar cada síla-
ba. Os desenhos usados referiam-se às características fo-
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'f Os caracteres dos sistemas de escrita pictográficos e
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o o ,10 ideográficos podem se basear na representação semânti-
11 11, 111'1 'l'J h., '1 1'11 ca correspondente a unidades morfológicas e, mais rara-
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mente, a unidades maiores ou menores do que as pala-
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<l q~ ~~~ ~ q~ "1<) ~~"'1.qI<l, vras (veja os símbolos e as cartas enigmáticas ... ). Os ca-
z.} ~ ~~ 'Ss ~ racteres dos sistemas ideográficos podem ser usados para
Ti T r TT T TT r r] representar sílabas, adquirindo, então, um caráter fono-
Diferentes formas de alfabetos \j 'i '('1 vyy v '/ i''I'( I i
x ~ gráfico. Por outro lado, uma sílaba pode também ser re-
gregos arcaicos. (4) q,
<D I presentada por uma letra do alfabeto, fazendo com que
a característica típica fonogrãfica da escrita alfabética
comece a se perder. Apenas Os caracteres do sistema alfa-
Os gregos adaptaram o sistema de escrita fenícia, ao
bético conseguem formar sistemas fonográficos, repre-
qual juntaram as vogais, uma vez que, em grego, as vo-
sentando os sons da fala em unidades menores do que a
gais têm uma função lingüística muito importante na
sílaba; é, portanto, o sistema mais detalhado quanto à
formação e no reconhecimento de palavras. Assim, os
gregos, escrevendo consoantes e vogais, criaram o siste- representação fonética.
ma de escrita alfabética. A escrita alfabética é a que Nem todos escrevem da esquerda para a direita e de
apresenta um inventário menor de símbolos e permite a cima para baixo, como nós, embora esse seja um modo
maior possibilidade combinatória de caracteres na escri- muito comum entre os sisternas de escrita. Os chineses e
ta. Posteriormente, a escrita grega foi adaptada pelos ro- japoneses escrevem da direita para a esquerda e em colu-
manos, e esta forma modificada constitui o sistema alfa- nas verticais. Os árabes escrevem da direita para a es-
bético greco-latino, de onde provém o nosso alfabeto. querda, mas não em colunas, e sim em linhas de cima
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Os instrumentos de escrita também têm se transfor
mado muito ao longo dos tempos, indo desde o pincel, dendo da habilidade lingüística do leitor e de sua capa-
o cinzel, o estilete, o lápis, a caneta, até as teclas das m cidade de ler o que está escrito.
quinas de escrever e dos computadores. Numa escrita ideográfica algo como 1iit pode ser
Diante das mais recentes conquistas tecnológicas lido casa, bouse , maison etc. ~ será casas, bouses,
dos novos hábitos da vida moderna, talvez alfabetizar na maisons etc. Como já apontamos antes, os sinais de
forma tradicional seja um anacronismo. É curioso notar trânsito são escritas ideogrãficas, os logotipos são escritas
atualmente uma preocupação, talvez a mais séria da ideográficas e a escrita dos números e das notações cien-
História, com relação à alfabetização do tipo tradicional, tíficas também são escritas ideográficas.
num momento em que breve será considerado analfabe- Uma escrita ideográfica traz consigo em geral signifi-
to quem não conseguir operar as máquinas e computa- cados mais abrangentes do que outros sistemas de escri-
dores: ser alfabetizado nas belas letras hoje representa ta. Pelo que tenho observado, a unidade semântica me-
uma ameaça bem menor a quem detém as formas de po- nor que esse sistema de escrita traduz é a palavra (rnor-
der da sociedade do que aprender a operar os computa- fema).
dores, que são hoje as verdadeiras bibliotecas, o lugar da O outro tipo de sistema de escrita é o baseado no sig-
memória coletiva da nossa sociedade. Memória que não nificante e depende essencialmente dos elementos sono-
só guarda os valores em uso da sociedade, mas que traça ros de uma língua para poder ser lido e decifrado. Esse
também os destinos das pessoas e da própria humanida- tipo depende crucialrnente da ordem linear da escrita,
de, como antigamente faziam as bibliotecas, os livros, os que vem assinalada de uma maneira padronizada.
pergaminhos e as próprias representações pictóricas das Os sistemas ideogrãficos em geral tiveram sua origem
cavernas.
numa escrita pictórica, icônica, cujas formas lembravam
coisas do conhecimento do escritor e do leitor. Na pró-
pria combinação de caracteres icônicos surgiu a possibili-
dade de escrita motivada foneticamente através desse
mesmo processo, tornando a relação icônica cada vez
o SISTEMA DE ESCRITA mais fraca, e a relação fonográfica cada vez mais forte.
Todo sistema de escrita tem um compromisso direto
ou indireto com os sons de uma língua, e como as lín-
Como já vimos, a escrita tem como objetivo a leitura. guas inexoravelmente mudam com o tempo, transfor-
A leitura tem como objetivo a fala. A fala é a expressão mando a forma fônica das palavras, a escrita começa a
lingüística e se compõe de unidades, de tamanho variá- ser de difícil leitura. Historicamente, muitos sistemas
vel, chamadas signos e que se caracterizam em sua essên- ideográficos foram se reformulando e acabaram incorpo-
cia pela união de um significado a um significante .. rando muitos elementos de escrita fonográfica.
Os sistemas de escrita podem ser divididos em dois O contrário também acontece quando sistemas alfa-
grandes grupos. Os sistemas de escrita baseados no sig- béticos procuram representações escritas silábicas, rnor-
nificado (escrita ideográfica) e os sistemas baseados no fológicas e até além disso, em geral por necessidade de
significante (escrita fonográfica). simplificação do excesso de detalhes que a escrita alfabé-
Os sistemas baseados nos significados são, em geral, tica produz, em certas circunstâncias, para palavras de
pictóricos, iconicamente motivados pelos significados uso muito específico. Corrigindo o rascunho de um tra-
que querem transmitir, e dependem fortemente dos co- balho de uma aluna, encontrei palavras escritas da se-
nhecimentos culturais em que operam. Por outro lado, guinte maneira:
esse tipo de escrita não depende de uma lín~a específi-
ca. Sua leitura pode ser feita em várias línguas, depen- cças (crianças), til (normal)
i/c (atualmente). II}() (tt'lllpO)