Fichamento – Sobre a psicologia infantil e o desenvolvimento – Pg 29 a 44
Ao mergulhar na leitura sobre psicologia infantil e desenvolvimento, fui
confrontada com reflexões profundas sobre a maneira como as crianças são percebidas e compreendidas em nossa sociedade. Desde os primeiros estudos, percebi que a criança é muitas vezes vista como um estado inicial a ser superado, como se sua existência fosse inferior à do adulto. Essa ideia de que a criança precisa deixar de ser quem é para se tornar alguém aceitável é preocupante e revela um viés em nossa compreensão do desenvolvimento. As teorias psicológicas do século XX, de Freud a Winnicott, associam a infância a estágios iniciais que precisam ser transformados para que o adulto idealizado possa emergir. Parece haver uma constante busca por um padrão de ser humano mais verdadeiro, o que levanta questões sobre a validade desses ideais e como eles afetam nossa compreensão das crianças. A leitura também destaca a tendência de entender a infância com base no que ela não é, em vez de reconhecer e valorizar o que ela é. Isso levanta preocupações sobre a homogeneização das experiências infantis e a falta de reconhecimento da singularidade de cada criança. Afinal, cada criança tem sua própria jornada de desenvolvimento, e é essencial que reconheçamos e respeitemos isso. A citação de Boss sobre a incompletude da existência humana ressoa comigo, destacando que tanto as crianças quanto os adultos estão em constante processo de transformação. Essa ideia desafia a noção de que a infância é apenas uma fase a ser superada e enfatiza a importância de valorizar e compreender as experiências infantis em sua própria complexidade. O texto me trouxe uma perspectiva totalmente nova sobre a infância e a maneira como a criança é compreendida. Van den Berg questiona a necessidade de uma psicologia da criança, argumentando que, em um tempo anterior, não havia uma separação tão marcante entre o mundo das crianças e o dos adultos. Isso me fez pensar sobre como nossa compreensão da infância é moldada pela sociedade em que vivemos e como essa separação pode influenciar nossa visão das crianças. Os questionamentos levantados sobre a psicologia do desenvolvimento também são intrigantes. Será que estamos realmente compreendendo melhor o ser humano e a criança ao nos concentrarmos tanto no desenvolvimento? A ideia de que a infância está diminuindo com a chegada precoce da adolescência e que esta está se prolongando levanta questões importantes sobre como isso afeta não apenas as crianças, mas também os adultos e a sociedade como um todo. A influência de Hannah Arendt é especialmente marcante, sua ideia é de que a criança é um novo ser humano que nasce em um mundo que já existe, ela destaca a dupla responsabilidade dos pais de cuidar da nova vida e garantir a continuidade do mundo. Isso me fez refletir sobre a importância de reconhecer a singularidade de cada criança e como isso está ligado à preservação do mundo em que vivemos. A leitura também me levou a questionar a maneira como pensamos sobre a infância, especialmente no que diz respeito à educação. Ao considerar a importância do mundo da criança e sua relação com o mundo comum, percebo como é essencial partir do sentido e dos significados próprios que surgem nas relações, em vez de partir de pressupostos teóricos pré-concebidos.
O terceiro ponto sobre fenomenologia me proporcionou uma profunda reflexão
sobre a maneira como percebemos e compreendemos o mundo ao nosso redor, especialmente no que diz respeito às experiências infantis. O método fenomenológico, proposto por Husserl e desenvolvido por Heidegger, destaca a importância de ver as coisas como elas se apresentam diretamente, sem tentar enquadrá-las em categorias predefinidas ou conceitos pré-concebidos. A ideia de "ver simplesmente" pode parecer trivial à primeira vista, mas, na verdade, requer um esforço significativo. Clarice Lispector ressalta isso em sua obra, destacando que alcançar a simplicidade demanda muito trabalho. A simplicidade não é algo óbvio ou fácil de alcançar, especialmente quando se trata de compreender as complexidades da existência humana. Heidegger aprofunda essa ideia ao discutir a diferença ontológica entre o ser humano e as coisas do mundo. Ele enfatiza que o ser humano é o único ente que se questiona sobre o próprio ser e que está constantemente em um estado de "ser-lançado" no mundo, sempre aberto a possibilidades e cuidados. A aplicação da fenomenologia na compreensão das experiências infantis é particularmente desafiadora. É essencial resistir à tentação de impor nossas próprias expectativas e conceitos sobre as crianças e, em vez disso, abordá-las a partir de sua própria realidade e perspectiva. Isso requer um esforço consciente para nos aproximarmos do mundo da criança e entender suas experiências em sua totalidade existencial. O método fenomenológico oferece um caminho para essa compreensão mais profunda, permitindo-nos reconhecer e valorizar a singularidade de cada criança e sua maneira única de interagir com o mundo ao seu redor. Ao mantermos essa proximidade com o mundo infantil, somos desafiados a expandir nossa própria compreensão da existência e a cultivar uma abordagem mais empática em relação às crianças.