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3 Meu Delegado (Meu) Valentina Torres
3 Meu Delegado (Meu) Valentina Torres
Valentina Torres
Encolho as pernas abraçando os joelhos, apoio minhas costas contra o
azulejo frio da parede. Fecho os olhos sentindo a ardência das lágrimas que
descem por meu rosto. Só peço que pare, por favor. Mais, socos na porta me
fazem pular assustada, amedrontada.
— Por favor, por favor, pare Spencer — imploro.
— Vadia desgraçada. Abre essa porta Cindy. — Socos, e mais socos.
Sinto algo pingando, abaixo a cabeça e vejo as gotas de sangue
manchando o chão de vermelho. Deslizo a mão limpando minha boca, e a
vejo suja com as evidências de mais uma maldita noite.
— Spencer, por favor — suplico, em meio às lágrimas.
— Eu vou te matar, sua puta — grita alto.
Com um último pontapé a porta se abre. Alucinado e fora de controle, ele
entra no banheiro vindo diretamente em mim. Seus dedos enrolam em meus
cabelos e os puxam me levantando do chão. Posso ver em seus olhos a fúria
cega, e tenho certeza de que hoje será meu fim. Grito por socorro, enquanto
sou arrastada como um animal nosso quarto. Os vizinhos não se intrometem
em brigas de casais, não importa para eles se serei morta. Debato-me
tentando fugir de suas mãos, mas é inútil. Além do mais fugir para onde? Não
tenho ninguém, e ele nunca me deixaria partir com vida.
Sou suspensa no ar, e jogada na cama. Seu grande corpo por cima do
meu, me segurando presa entre ele e o colchão. Usando as pernas como
reforço, abre as minhas pernas rasgando em seguida minha calcinha. Suplico
encarando dentro dos olhos verdes, e o sorriso que nasce nos seus lábios ao
enfiar seu pau, me traz a realidade de que ele é um monstro frio e sem
coração.
Suas mãos seguram meu pescoço com força, e a cada arremetida na
minha boceta seus dedos apertam mais forte, me sufocando. Desisto de lutar,
simplesmente aceito o destino.
— Gosta assim, não é? Admite. Eu vi você olhando para o homem que
coleta o lixo. Quer ser fodida igual uma piranha. — Uma mão solta o
pescoço, e desce em direção ao rosto me esbofeteando.
Deus, por favor, acabe com isso. Acabe com isso, por favor. Sem ar,
sufocando aos poucos, pouco a pouco vou perdendo a consciência.
Quando saio na rua, ando sempre de cabeça baixa, ele que escolhe minhas
roupas, só posso sair em sua companhia, sair é quase um milagre.
Quando o conheci na faculdade, gentil, amoroso, bondoso, não fazia ideia
do tipo de pessoa que ele se tornaria. Às vezes acho que o amor me cegou
para enxergar os sinais. Ciúmes, discussões, suas mãos quando seguravam
firme meu braço, mas sempre em seguida um pedido de desculpas com
flores, e lágrimas.
E como uma tola apaixonada, aceitei seu pedido de casamento. Sempre
fui sozinha criada em lares adotivos e ter alguém cuidando de mim desse jeito
era algo maravilhoso, não podia perdê-lo. Os primeiros dias de recém-
casados foram inesquecíveis. Mas quando engravidei tudo mudou. Do dia
para noite meu príncipe encantado se tornou meu carrasco.
Em sua primeira crise me espancou a ponto de perder o bebê. Sangrando
e com fortes dores abdominais fui levada para a emergência e como uma boa
esposa devotada, contei aos médicos como tinha caído da escada arrumando
o sótão. Depois daquele dia as coisas só pioraram. Violência sexual, agressão
física, humilhação verbal.
Perdida em pensamentos, sou pega de surpresa quando Spencer gira meu
corpo me colocando de bruços e monta por cima da minha bunda. Mordo os
lábios a ponto de sangrá-los. Algo duro é enrolado em meu pescoço e sou
montada como se fosse uma égua.
Minha visão vai ficando turva, embaçada. É o meu fim.
Fecho os olhos sentindo alívio, porém uma voz ao fundo sussurra no meu
ouvido que mereço mais, que não posso acabar assim. Reúno forças que não
sabia que tinha, e decido lutar pela minha vida. O ar fugindo dos pulmões
dificultando respirar, me contorço. Distraído com seu ato de violência, não
percebe quando estico o braço até criado mudo e pego a caneta. Tento mover
o abdômen e com um momento de coragem enfio no seu joelho.
Gritando, Spencer solta a cinta que prendia meu pescoço e rola para o
lado levando as mãos até o ferimento. Respirando fundo, pulo da cama.
— Eu vou te matar, Cindy.
Em pé, nua e sangrando. Procuro a arma que ele esconde em um
compartimento secreto atrás do nosso retrato de casamento. Por vezes fingi
estar dormindo e o vi mexendo. Talvez estivesse só esperando o momento
certo para descarregá-la em mim.
Levanto a arma em punho e miro em sua direção. Olhos que antes tinham
fúria, agora tem medo. Está com medo de mim, querido?
— Você não tem coragem de fazer isso. É só uma puta interesseira. Se
me matar, minha família vai acabar com você.
Engatilho a arma.
— Está com medo?
— Não, e quando eu te pegar. Vai se arrepender — berra entre dentes.
— Quatro anos, Spencer. Aguentei por quatro anos — grito respondendo
de volta.
— Sua vad... — Não deixo que complete a frase.
— CALA A BOCA — berro, apertando o gatilho e disparando três vezes
contra seu corpo.
Solto a arma e ouço o som do baque no chão. Minhas mãos estão
trêmulas, uma onda de pânico percorre meu corpo junto com a dor física.
Fraquejando, me ajoelho balançando o corpo para frente e para trás.
O que vou fazer? O que vou fazer?
Coragem Cindy, coragem.
— Preciso fugir — sussurro.
Levanto arrastando o que sobrou de força, abro a gaveta e pego um
moletom. Não tenho coragem de verificar se está morto mesmo, mais com
três tiros impossível estar vivo. Junto uma mochila com mais algumas peças,
meus documentos pessoais e um pouco de dinheiro que consegui roubar de
sua carteira e guardar ao longo dos anos.
Empurro os cacos da porta do banheiro, e me aproximo da pia. Encaro
meu reflexo no espelho, os hematomas, o sangue, são tudo que vejo. Abro a
torneira e encho as mãos com água, e jogo no rosto limpando os resquícios do
que aconteceu essa noite. Amarro os cabelos em um rabo alto, encaixo a
mochila no ombro. Desviando do corpo desfalecido, saio do quarto indo em
direção à rua.
Ergo o capuz do moletom cobrindo meu rosto, enquanto caminho pela
noite. Não sei como, onde e quando, mas terei uma nova vida. E ninguém
nunca mais irá tocar em mim.
Em frente ao espelho ajeito mais uma vez a gravata borboleta. Porra,
Dylan. Quem se casa usando gravatinha igual de pet shop? Noção zero, sua
sorte que gosto de você. Porque isso é pior que levar um tiro na bunda. Não é
como se já tivesse levado, mas conheço alguns policiais que já levaram e
dizem ser o inferno.
E para piorar a situação, me colocaram com aquela Camilly. Sinto até
calafrios só de pensar naquela mulher. Claramente não nos suportamos, ela é
abusada, depravada e sem educação. O estereotipo feminino que não me
agrada nem um pouco. Mas, prometi para Dylan e Alyssa que não iria
discutir com aquela modelo de Dercy Gonçalves. Sim, não é porque sou
americano que não conheço celebridade famosa internacional. Sou culto,
educado, cavalheiro à moda antiga.
Aquela... Criatura de saia, fode meu psicológico. Ela tem o poder de
acabar com meu dia, só por hoje irei ter paciência. Depois não preciso mais
ver a cara dela e nem seu sorriso largo, os lábios carnudos e rosados. Caralho,
foco Brian. Não faz seu tipo, lembra? Esborrifo mais uma vez o perfume.
Ajeito o casaco do terno e sigo em direção a saída para a garagem. No
parafuso da parede, pego a chave pendurada.
Sento-me atrás do volante, e sigo em direção à igreja. O rádio instalado
com a frequência da polícia anuncia várias ocorrências. Hoje estou de folga,
mas não consigo desligar. Preciso saber o que está acontecendo na minha
área, e o que me aguardará no outro dia.
“Assalto armado com vítima no local. Rua: Barrow street, West village.
Q.A.P?”
Ah qual é? Meu amigo vai casar preciso de um tempo. Sinto muito, mas
não vou atender nenhuma ocorrência. Desligo o aparelho e o silêncio reina
dentro do automóvel.
Conforme me aproximo da igreja, noto a movimentação de carros,
pessoas com trajes de festas. Isso porque seria uma pequena cerimônia para
os mais chegados. É meu chapa, nossa percepção de pequeno e íntimo é
totalmente diferente.
Procuro um local para estacionar, mas não encontro. E como se fosse um
milagre divino, vejo quando um carro acende à seta indicando que está
saindo. Imediatamente giro o volante direcionando na entrada, quando um
híbrido branco entra com tudo na vaga, e pior não se deu o trabalho de dar
seta, roubando meu lugar. Anoto mentalmente a placa.
Ah mas isso não vai ficar assim, eu vou pegar esse desgraçado e ele...
Calo-me na mesma hora que a porta se abre.
Seus cabelos negros e soltos caem sobre os ombros criando uma cortina
sedosa sobre a pele. O vestido vermelho justo ao corpo, marcando cada curva
como se fosse uma segunda pele em contraste com a obra perfeita, bem
diante dos meus olhos.
Meus olhos percorrem da ponta do pé até o último fio de cabelo.
Remexo-me inquieto no banco, mas não consigo desviar o olhar daquela
mistura de deusa com filha do capiroto. Por algum motivo desconhecido,
sinto minha calça ficar apertada ou seria a porra do meu pau inchado e duro?
Amigo, você é um traidor. Está proibido de ficar desse jeito por causa
dela, vai por mim, não vale a pena.
— Oh babaca anda logo. — Ouço o som de buzina e uma voz gritando.
Encaro o retrovisor e vejo a longa fila que se formou atrás de mim.
Coloco a mão para fora e não resisto o impulso de erguer o dedo do meio.
Babaca é você, cretino. Acelero liberando a passagem. Camilly
definitivamente é problema, além do mais ela foge de mim como diabo foge
da cruz. Será que é meu perfume? Ah que se foda essa maluca.
Depois de dez minutos e três quarteirões abaixo da localização da igreja
consigo estacionar. Enquanto subo a ladeira sinto olhares sobre mim,
cochichos, e de canto de olho consigo ver que são mulheres de bochechas
coradas e sorrisos bobos.
Estão rindo de mim ou para mim? Cada dia que passa entendo menos
essas mulheres. Minha doce Sheron era tão fácil de lidar, amorosa, gentil,
educada. Nunca irei me conformar de como ela escapou por entre meus
dedos. Ainda me pergunto se eu poderia ter feito algo para evitar sua morte.
Sempre carregarei essa incerteza dentro da minha alma, e jamais me
perdoarei.
— Ouuu está garanhão hein? — Ethan se aproxima, sorrindo e
assobiando.
— E aí, poderia não ficar gritando isso? Já não estou me sentindo
confortável e você não ajuda.
— Ahhhhh qual é? Um delegado fodão com vergonha, cena épica.
— Ethan — resmungo entre dentes.
—OK. OK. — Erguendo as mãos em sinal de rendição, anda ao meu
lado. — Cara acabei de ver Camilly, se eu pego uma mulher dessa esfolo a
cabeça do gandalf.
— Gandalf? — questiono confuso. Ou seria melhor não pensar no que
significa.
— É meu pau, sabe, coloquei um apelido carinhoso.
— Você me assusta. Juro, e muito. — Recuo dois passos criando certa
distância entre nós.
— Não precisa agradecer querida. Faz dias que há vejo sentada aqui nesse
mesmo banco. — Seu olhar terno e gentil, aqueceu meu coração.
“Filha estou velha e cansada, quero morrer feliz fazendo algo que
gosto.”
Como sua única herdeira, sou responsável pelo dinheiro e seus
investimentos. Camilly Carter, dona de uma pequena fortuna.
Ergo a cabeça e sinto o olhar do delegado Brian sobre mim. Como não
iria notar um Deus em formato de homem? Moreno, alto, forte e com um
sorriso que molharia a calcinha de qualquer mulher. Seu único defeito é ser
policial. Impossível se envolver com aquilo que venho fugindo por anos, e sei
como esses policiais podem ser persuasivos quando querem descobrir algo.
Então, melhor manter distância e torcer a calcinha no banheiro.
Minha nova personalidade é descontraída, apaixonada pela vida. E sim,
descobri a sensação de gozar, coisa que o Spencer jamais conseguiu. É típico
a mulher fingir que está satisfeita para agradar o companheiro, mas se tem
algo que aprendi nisso tudo, jamais finja um orgasmo, deixe o homem saber
que ele fode mal, quem sabe assim aprende não pensar só no prazer e
satisfação pessoal.
Encaro os olhos escuros do delegado que desconfortavelmente se remexe
desviando sua atenção. Sinto um calor crescente percorrendo meu corpo, não
consigo evitar percorrer os olhos desde a ponta do seu sapato másculo até o
último fio de cabelo.
Como dizia Josefy: Filha tem que transar muito. Porque depois a terra
vai comer mesmo. Homem é objeto de prazer filha, o deixe pensar que está
te usando, mas na verdade quem está usando alguém é você.
Acatei cada conselho, Josefy era sábia. Em pouco tempo aprendi muita
coisa com ela, desde como investir o dinheiro até como ser feliz na vida
sexual, sem me machucar.
Dominic inquieto estica seus pequenos braços para os pais a todo o
momento, o que faz o padre acelerar os votos matrimoniais. Meus pés doem
dentro do sapato apertado, e logo ouvimos o sonoro SIM do casal de
pombinhos e o DECLARO MARIDO E MULHER. Aplausos seguidos de
gritos de felicitações ecoam dentro da igreja.
A cerimonialista surge das profundezas com sua prancheta e o cabelo
lambido, relembrando com gestos como devemos proceder. Aguardamos a
saída dos noivos, em seguida cada padrinho se encontra no meio do altar com
sua parceira dando os braços para seguir em direção a saída.
Enlaço o antebraço do gostosão, seu perfume atingi meu nariz me
deixando entorpecida. De canto de olho consigo ver sua barba grossa por
fazer, e imagino como seria senti-la no meio das pernas roçando na minha
boceta. Respiro fundo tentando manter o controle.
Lembre-se P.O.L.Í.C.I.A.
Droga, a voz da minha deusa da depravação grita alto como sinal de
alerta vermelho.
OKAY! Não precisa gritar, já entendi. Brian Garcia tem uma enorme
placa grudada nas costas com os dizeres: MANTENHA DISTÂNCIA.
Os convidados se agitam na escadaria da igreja dificultando a passagem
dos padrinhos, tento desviar das pessoas para me aproximar dos noivos, mas
só ouço gritos de mulheres desesperadas para pegar o buquê.
— Vai lá Cami. — Não sei de onde e nem como Ethan surgiu ao meu
lado me empurrando no meio da bagunça.
Empurra, empurra, pisam no pé, cotoveladas. Parece que estou em uma
zona de guerra, e a missão se chama AGARRE O BUQUÊ. Determinada a
fugir do olho do furacão, empurro algumas mulheres até que algo acerta meu
rosto. Involuntariamente ergo as mãos me defendendo, e então, o vejo.
Droga, envolto com uma fita de cetim vermelha e flores brancas, o infeliz
caiu diretamente em mim. Isso não é sorte, é azar puro e simples.
Semicerro os olhos com vontade de jogá-lo de volta para Alyssa. E como
se entendesse minhas intenções, minha amiga balança a cabeça em sinal de
negativa. Sei o que essa noiva safada está pensando, e não quero destruir seu
momento de felicidade. Revirando os olhos, saio pela lateral da igreja,
pisando em todos os pés que estão no caminho. Pisando duro e resmungando
baixo, sigo em direção do carro. Chega dessa coisa, quero só ir para festa,
beber, comer e me divertir.
Enfio a chave na porta e sento no banco do motorista, encaro o buquê, e o
jogo no banco de trás, em casa seu destino será o lixo.
Procuro a mesa com meu nome, e como já esperava estou sentada com
Ethan, Brian e mais uma pessoa que não conheço. Puxo a cadeira e me sento.
Aos poucos os convidados entram no salão. Boquiaberta, vislumbro o
delegado caminhando com um pé na frente do outro. Uauuuu esse homem
podia ser modelo de cueca, ou talvez nu, mas só para mim.
— É aqui. Hum, legal. — Qual é senhor policial? Posso sentir a tensão
sexual emanando do seu corpo.
Apoio os cotovelos na mesa apertando meus seios com os braços
deixando o decote em evidência. Incomodado com a situação, ele se remexe
na cadeira afrouxando o nó da gravata. Posso ver seu pomo de adão subindo e
descendo enquanto engole em seco.
Levanto sensualmente ficando em pé. Deslizo as mãos esticando o tecido
do vestido mais ao mesmo tempo acariciando meu corpo para provocá-lo.
Como se não conseguisse desviar os olhos, ele me observa com desejo
estampado no rosto. Sorrindo maliciosamente, umedeço os lábios com a
ponta da língua.
Brian empurra a cadeira para trás com violência, derrubando-a.
Esfregando as mãos no rosto e de cabeça baixa, se afasta seguindo em
direção do banheiro.
Covarde! Sinto vontade de rir. Se soubesse que causa o mesmo efeito.
— Servida, senhorita? — Pego uma taça de champanhe com o garçom e a
viro de uma vez, devolvendo-a para a bandeja.
Por que esse homem foge de mim desse jeito? Eu sei por que fujo dele,
mas e ele? Alyssa me contou em uma de nossas conversas o quanto é
conservador, turrão. Agora quero saber, algo nele me instiga ao desafio e
gosto disso.
— Oh! Aonde você vai? — Esbarro em Ethan que chega à mesa.
— Já venho — respondo.
Encosto na parede da porta do banheiro masculino, e espero que abra a
porta. Ouço o som do trinco e logo Brian surgi na minha frente. Espalmo as
mãos no seu peito grande e largo, empurrando-o para dentro de novo. Sem
entender nada permanece calado. Giro a chave na fechadura, e a tranco.
— Camilly o que está fazendo? — Como até a voz desse homem pode ser
sexy. Grossa, máscula, firme?
— Shiii. — Coloco um dedo por cima dos seus lábios silenciando-o.
A cada passo que avanço me aproximando, ele recua dois até não ter
como fugir.
— Você está louca. — Sua mão grossa segura meu braço me puxando
para mais perto.
— Quer tanto quanto eu. — Ergo uma perna, e esfrego o joelho no meio
das suas pernas, roçando no seu pau.
Com os lábios apertados de raiva e os olhos injetados de desejo. Brian
toma minha boca em um beijo desesperado e ardente. Minhas mãos abrem os
botões da camisa dele de forma desesperada, então, decido fazer algo
diferente. Posso tornar esse jogo bem interessante, vou amaciar primeiro.
Rapidamente abro os botões da calça. Afasto-me dos seus braços
musculosos, posso ver a expressão confusa no seu rosto. Ergo a barra do
vestido para cima ganhando mobilidade. Ajoelho-me no pequeno espaço.
Puxo a cueca para baixo liberando seu membro duro e excitado.
Seguro seu pau entre as mãos, aperto os dedos envolvendo-o fortemente.
Lentamente começo fazer movimentos subindo e descendo.
— Camilly? — ofegante, me chama.
Sem se importar com o que está ao redor, coloco ponta da língua para
fora e lambo a cabeça rosada, descendo suavemente. Seus gemidos me
instigam a continuar. Substituo as mãos pela boca, engolindo seu pau.
Grande, grosso, sinto batendo no fundo da garganta. Mãos fortes agarram
meus cabelos entrelaçando os dedos no emaranhado do penteado.
Meus lábios envolvem o membro com força, chupo devagar, rápido, com
força. Com uma mão acaricio suas bolas inchadas. A cada sugada Brian
remexe o quadril arremetendo minha boca.
— PORRA! Boca gostosa do caralho — resmunga alto.
Quem diria que o senhor puritano sabia falar palavrões. A cada estocada
fico mais excitada, molhada, imaginando seu pau me fodendo. Mais algumas
sugadas e ouço seu alerta, mas ignoro sentindo seu líquido quente jorrando na
garganta. Engulo até a última gota. Antes que possa esboçar qualquer reação,
mãos fortes seguram meus braços me levantando.
Brian gira nossos corpos pressionando meu rosto contra o azulejo frio.
Excitado, esfrega seu pau na minha bunda por cima do vestido.
— Quero você — ronrona.
— Estou aqui, não é — respondo ofegante.
Empurrando meus joelhos com os seus, afasta minhas pernas. Como um
animal feroz prendendo sua presa, Brian ergue a barra do vestido, deslizando
as mãos na bunda. Sinto o ardor de uma tapa na minha pele. Molhada,
excitada e querendo muito transar com ele, empino o quadril contra o seu.
Enrolando a mão nos meus cabelos, puxa minha cabeça para trás deslizando a
língua por meu pescoço.
— Tem alguém aí?
Batidas na porta nos traz de volta a realidade. Afastamo-nos rapidamente
trocando olhares, enquanto arrumamos nossas roupas.
Outra pancada impaciente na porta me traz de volta a realidade. Por que
deixei isso acontecer? Como pude manchar a memória de Sheron desse jeito,
pior ainda, com Camilly. Deixei-me levar por desejos primitivos, mas porra
como resistir a essa diaba provocadora? Com as mãos tremendo, ergo o zíper
da calça ajeitando meu pau duro dentro da cueca.
— Brian, é o brinde cara anda logo. Está com dor de barriga? — Ethan
bate novamente enquanto gira a maçaneta tentando abrir a porta.
A raiva por ter cedido aos meus desejos me consome. Trêmulo, suando,
sinto que estou sufocando. Lembranças dos momentos íntimos com Sheron
invadem meus pensamentos. Minha esposa perfeita. Pisando duro, caminho
rápido para a saída. Ouço vozes chamando meu nome, mas só ouço
zumbidos.
Sinto algo aquecendo meu rosto, levo as mãos até os olhos cobrindo-os e
com dificuldade, os abro. Os primeiros raios de sol da manhã despontam no
meio das árvores. Estava tão atordoado que não percebi quando cai no sono
ali mesmo. Levanto passando a mão pela calça, camisa, me livrando da
sujeira do gramado. Enfio a mão no bolso, e confirmo que carteira e celular
permanecem intactos. Abaixo para pegar a chave do carro que está jogada no
gramado. Lanço um último olhar na direção do túmulo, e com pesar me
despeço.
Engulo em seco. Meu sangue se agita nas veias fervendo de fúria. Tantos
anos presenciando vítimas de violência doméstica, mas ainda não consigo ser
indiferente. Quero ir até o desgraçado e ensinar que não se bate em uma
mulher, fazê-lo sangrar do mesmo jeito que sangrou uma pessoa indefesa.
Esfrego disfarçadamente as mãos suadas na calça. Peço para que Catarine
prossiga com o protocolo e em seguida a leve até minha sala.
— Sim, trabalho em dois empregos e ele sempre rouba meu dinheiro. Não
compra comida para casa, e quando não tem cerveja. Bom, acontece isso. Seu
delegado, eu e meus filhos passamos fome, não sei mais o que fazer, depois
de tantos anos, só criei coragem agora, por favor, nos ajude — implora,
soluçando e chorando.
— Só mais uma coisa. A senhora por acaso sabe onde ele está nesse
momento? —questiono de forma desinteressada.
— Acho que deve estar no bar de um amigo dele.
— Josef? — chamo.
Puxo o casaco para trás expondo a arma e faço sinal com a cabeça para a
mulher sair. Correndo, ela se levanta e passa por mim de olhos arregalados.
— Escuta aqui desgraçado. Se chegar perto dela de novo, vou te caçar até
no inferno e meter uma bala nessa cabeça podre. Você entendeu? — Espero
uns segundos a mais e a resposta não vem. — ENTENDEU? — digo
cerrando os dentes.
“Luca Ricci”
Não era isso que queria ver na tela do celular. Droga esqueci
completamente do trabalho de tese relativas à pena. Era para ter entregado
hoje, mas tinha compromisso importante com o responsável por gerenciar
minha conta no banco. Recusar a chamada ou não? Pensando bem, o senhor
Luca é o professor mais rígido e exigente do curso de direito. Sempre sério
com a expressão fechada, impossibilitando qualquer aproximação. Respiro
fundo, e decido atender.
— Senhorita Carter? — Sua voz fria e penetrante faz minha pele arrepiar.
— Não quero saber das suas desculpas, guarde para quem realmente irá
acreditar nelas. Sabe o quanto estimo as notas dos meus alunos, todos se
graduam com louvor e não aceito menos. Dessa vez vou dar uma colher de
chá, tem até amanhã para entregar a tese, caso contrário irei reprová-la na
minha disciplina. Boa tarde.
Dirijo pelas ruas de Nova York escutando “Pyro – Kings of Leon”. E para
completar a vergonha do dia, desafino cantando junto com o cantor, com o
braço apoiado na janela e uma mão no volante. Em vinte minutos estaciono
em frente do prédio. Sabe aquela música que faz parte da sua playlist e você
passaria o dia repetindo por várias e várias vezes? Essa é uma delas. Então,
contínuo sentada esperando que Kings of Leon termine seu ícone musical.
Fecho os olhos, e encosto a cabeça no banco.
— Eu não fiz nada, ele fez. Bateu nela, e a polícia demorou demais,
alguém podia ter morrido.
Não consigo evitar que meus olhos percorram seu corpo. Cabelos soltos,
nos pés chinelos de tecido, e de pijama. Na, verdade não posso considerar
isso como pijama. O short é tão curto marcando a bunda que tenho vontade
de arrancá-lo com os dentes, e a parte de cima desperta meu pau causando os
efeitos de uma bomba atômica dentro da calça. Ela não está usando sutiã?
Seus bicos arrepiados marcando o cetim me faz salivar.
Lentamente ela se virá para trás ao ouvir minha voz. Seus olhos castanhos
se encontram com os meus, e posso ver que ficou tão surpresa quanto eu.
Engolindo em seco, noto que suas bochechas ficam coradas instantemente.
Ergo uma sobrancelha totalmente confuso. Nunca imaginei que poderia vê-la
com vergonha, nem sabia que ela sentia isso.
— Isso não é da sua conta, delegado — esbraveja entre dentes como uma
leoa furiosa.
Enfio as mãos nos bolsos da calça, viro de costas, e com passadas largas
entro na minha sala. Encosto no batente e a espero entrar também. Assim que
atravessa a porta, fecho e tranco passando a chave. Puxo a cadeira e faço
gesto para que se sente. Calada, muda, e sem reclamar, ela senta cruzando as
pernas sensualmente para me atormentar. Aposto que está fazendo de
propósito querendo me desestabilizar, mas dessa vez não. Desvio o olhar,
suando frio. Dou a volta por trás do seu corpo, indo até à mesa e sento-me.
Desconfortável, inquieto, e queimando por dentro apoio os cotovelos na
madeira maciça, e encaro seu rosto diabólico.
Algo está diferente. Por que não ergueu a cabeça ainda? Essa não é uma
atitude típica de Camilly Carter.
— O que está errado? Quer dizer, além do fato de se meter em uma briga
na rua, e estar em uma delegacia só de pijama.
Erguendo os braços, ela puxa seus cabelos para cima e faz um coque,
prendendo-os. Alguns fios escapam contornando o rosto, deixando-a ainda
mais sensual. Engulo em seco, observando seus movimentos. Como se
notasse o efeito que causa sobre mim, desliza as mãos pelo pescoço.
— Já acabou?
— Sim — respondo.
O som do meu nome saindo dos seus lábios arrepia os pelos da minha
nuca. Levanto da cadeira, e passo por ela para abrir a porta.
Que caralho é esse? Só quero ajudar essa ingrata. Avanço alguns passos
em sua direção enquanto ela recua para trás até encostar-se à parede. Espalmo
uma mão de cada lado da parede, encurralando-a no meio dos meus braços.
Aproximo o rosto do seu para que possa sentir minha respiração. Encaro
dentro dos seus olhos, e agora quem está engolindo em seco não sou eu.
— Eu não...
Interrompo-a.
Como não reparei antes que suas irises têm rajadas de cor verde? E assim
de perto seu perfume é ainda mais gostoso. Mas essa demônia consegue
puxar a merda para fora do meu controle.
PORRA! PORRA!
Puxo os braços e inclino o corpo para trás, mas Camilly agarra a frente da
minha camisa me puxando de encontro ao seu corpo. Esfregando os seios no
meu peito, ela sorri descaradamente.
— É bem sexy seu lado mandão. Mas, não preciso de você, cuide da sua
vida, Brian.
Ficando nas pontas dos pés, ela roça os lábios nos meus delicadamente.
Em segundos me segurando, em seguida me empurrando para longe.
— Adeus!
Sem carteira, dinheiro, carro, e de pijama, ando pelas ruas de ova York.
Devia ter pedido carona para os policiais, mas não iria dar o gostinho para
aquele ogro rir de mim logo após dizer que não preciso de cuidados. Pelo
menos estou fazendo o exercício da semana inteira, nota mental, nada de
academia.
Depois de uma hora andando a pé, algo me diz que deveria ter engolido
meu orgulho. Meus pés estão em bolhas e as pernas latejando. Força Camily,
você já passou por coisas muito pior que isso. De longe vejo uma praça,
acelero os passos e sento no primeiro banco que encontro.
— Ok. Desculpe.
Cabelos castanhos claros, olhos azuis, alto, forte, viril. Quem diria que
alguém com esse porte físico é professor de faculdade? Nunca tinha reparado
o quanto é bonito esse danado. Esquece. Foca. Esquece. Já basta seu rolo com
o delegado. Espera, por que pensei naquele ogro? Reviro os olhos
impaciente. Nem longe aquele homem me dá paz.
— O que faz sentada aqui? Essa área não é muito boa para uma mulher
ficar, ainda mais sozinha.
Antes que possa responder que não quero falar mais sobre o assunto,
Luca senta ao meu lado e puxa a coleira do seu cachorro para mais perto dele.
Afagando a cabeça peluda do animal, ele sorri mostrando suas covinhas.
Tudo bem, não posso negar uma boa conversa para um homem que gosta de
animais e tem covinhas fofas no rosto.
— Agora entendi o porquê ainda está com a mesma roupa — diz entre
risos.
— Nossa, a conversa está ótima, mas tenho que ir para casa. Só saí para
dar uma volta com o Cookie, tenho que voltar.
— Não sou casado. Achei que sabia disso depois de passar todos esses
anos comigo.
Droga, mil vezes droga. Preciso dele, na verdade do dinheiro dele para
chegar em casa. Será como um pequeno empréstimo. Respiro fundo e faço
minha melhor expressão de maior abandonada.
— Luca, é, sabe. Eu falei que minhas coisas ficaram no carro, né? Não
tenho como terminar de chegar em casa, pode me ajudar?
De sapo para príncipe encantado? Qual princesa fez essa mágica, porque
tenho certeza de que não foi eu.
Que isso Camilly? Parece que estou ficando louca, Luca e Spencer não
tem nada a ver um com o outro. Talvez esteja acostumada a lidar com
homens iguais a Brian Garcia. Grosso, indiferente. Cretino. Sai da minha
cabeça.
Agradeço, e sento no banco. Puxo o cinto de segurança com força.
Curvando o corpo por cima do meu, ele alcança o cinto e o puxa. Sinto a
fragrância da sua colônia, o calor emanando da pele.
Com tantos perfumes para comprar na cidade de Nova York, ele e Brian
precisam usar a mesma fragrância? É castigo só pode. Inquieta, me remexo
no banco para que ele saia logo. Não posso e nem quero lidar com outro
homem no momento. Sem graça, Luca se afasta e se ajeita no próprio banco,
enquanto liga o carro.
Em frente do prédio, abro a porta pronta para descer. Mas sinto minha
consciência pesada. Ele foi tão gentil, e nem por um momento hesitou em me
ajudar. Então, antes que eu desça, decido agradecê-lo da forma correta.
— Será um prazer, senhorita Carter. — Posso ver o brilho nos seus olhos.
Homens.
Arrastando os pés, exausto. Sento na beira da cama, abro botão por botão
da camisa deixando que caía no chão. Esfrego um pé no outro para tirar as
botas, e deito de costas encarando o teto pálido. Abro os braços e fecho os
olhos sentindo o peso dos problemas que assolam minha vida.
Não consigo evitar pensar naquela mulher. Como pode sair na rua de
pijama, é maluca? Enfrentar aquele desgraçado sozinha, se caso estivesse
armado? Confesso que admiro sua coragem, mas não quer dizer que não a
considere uma doida, e corajosa. Será que ela chegou bem em casa?
Quer saber? Vou espiar da rua mesmo, ela não precisa saber que estive lá.
É isso.
Estaciono o carro na rua de trás para que não correr o risco de ser
reconhecido. Em frente ao seu prédio, me escondo em meio as árvores do
outro lado da rua e aguardo por meia hora. Impaciente, decido subir até seu
apartamento. Avanço dois passos em direção à rua, quando vejo um carro
sedan encostando. Recuo novamente voltando para o mesmo lugar. Então,
para minha surpresa Camilly desce do sedan cheia de sorrisos para o homem
no volante.
Quem é esse? Nunca o vi. Não me fode, não faz nada de tempo estava me
chupando no banheiro, agora, está com esse cara? Fecho as mãos em punho
apertando com força.
E por que ainda está usando esse pijama? Devia ter rasgado quando
surgiu oportunidade. Quer dizer que estava até essa hora na rua com esse
homem. E eu preocupado, é para aprender não ser idiota Brian. Está claro que
ela não precisa de você, quer dizer, proteção. Aguardo o momento do beijo
de despedida, mas ela não o beija. Despede-se de forma gentil, mas sem
intimidades ou qualquer gesto de afeto. Isso quer dizer que não é alguém
importante.
Logo vejo Camilly subindo os degraus da entrada, a bunda rebola
acompanhando o movimento do seu quadril. O babaca continua parado
dentro do carro observando a fachada do prédio. Nem pense nisso, acabo com
você antes mesmo de chegar ao elevador. Continuo esperando, e não demora,
a carona da senhorita encrenca ir embora.
Encaro dentro dos olhos castanhos. Sei que vou me arrepender, mas que
se foda.
Avanço alguns passos e enlaço sua cintura com meus braços, puxando
seu corpo para mais perto. Surpresa, Camilly me encara calada.
Percorro sua barriga com uma mão descendo até tocar sua boceta. Meus
dedos esfregam o clitóris inchado e desejoso. Sem pudor ou delicadeza, enfio
dois dedos no seu centro úmido. Fodendo-a, entrando, saindo.
Satisfeito, fico em pé e recuo dois passos para trás. Abro o botão da calça
deixando cair nos joelhos. Duro, e pronto para me enterrar dentro dela, ando
em sua direção, mas sou impedido quando Camilly toca meu peito com o pé.
— Chega.
Algo está me deixando intrigada, por que Brian veio até meu apartamento
daquele jeito? Será que estava bêbado? Sempre relutou contra minhas
investidas, com aquele papo de viver em luto eterno. E hoje, quer sexo
quente? Ele não estava no seu juízo perfeito tenho certeza.
Além do mais está achando que aqui é igual drive-thru? Vem, tem
atendimento rápido qualquer dia da semana, e vai embora? Não senhor
delegado. Quero distância de problemas. Foi bom enquanto durou, mas
acabou o flerte.
Sigo andando atrás da moça até chegarmos a frente à porta. Com leves
batidas na porta informa que estou aguardando. Ouço a voz grossa do
advogado pedindo que entre. Sorrindo, agradeço a recepcionista e empurro a
porta de madeira.
— Obrigada Estefan, mas hoje não posso. Diga que me sinto honrada
com convite, Madine é muito gentil. Tenho outro compromisso importante,
fica para à próxima. Isso é tudo senhores, até breve.
— Pois é me obrigaram pegar uns dias de folga, mas estou com um caso
grande nas mãos. Estou bem animada. Quer treinar comigo?
Então, começamos nosso treino. Soco, desvio, chute, desvio. Não demora
muito para desistirmos. Sentamos no chão respirando fundo. Continuamos
conversando assuntos aleatórios, mas nada íntimo o suficiente para nos
considerarmos amigas. Digamos que somos colegas. Depois de uma boa
conversa, seguimos nossos rumos opostos.
— Pode falar.
— Não, eu não, estou... — Espera, será que foi aquele ogro do Brian?
Penso comigo. Não, para que se daria todo esse trabalho. — E como era esse
homem?
— Não faço ideia de quem seja, pode ser um novo admirador. — Pisco
sorrindo.
“Há há há. Obrigada pelo conselho, mas a única cama que quero é a
minha. Adeus seu ogro. PS: Sua chupada é péssima.”
Desligo o aparelho antes de ler a resposta. Ponto para mim, com certeza
certo delegado deve estar esbravejando nesse momento. Jamais vou admitir
que quero mais, e mais, e que ele é gostoso.
Aquela boca, o cheiro do seu corpo forte e sexy, sua língua deliciosa.
— Boa tarde. Sim, tudo bem. Estou ciente do caso e aguardando mais
informações da perícia. Sim, envio assim que obtiver o resultado. Ok. O quê?
Café? Bom, eu não gosto... — Sou interrompido com argumentos válidos
antes mesmo de rejeitar o convite. — Tudo bem, às sete horas. Até mais.
Qual é Brian, é uma porra de café. Ela não está querendo levar você para
o banheiro e chupar seu pau igual Camilly. Inferno, essa mulher é um
demônio. Como posso lembrar isso quando estou pensando em café?
Ótimo Brian Garcia está totalmente focado, ou seria obcecado por aquela
devassa com corpo de deusa e lábios macios. Maldita, como pode me
expulsar da sua casa daquele jeito, quem pensa que é? Quebrei minha
promessa para em seguida ser rejeitado. Três banhos frios não foram
suficientes para baixar a porra do meu pau.
Bruxaria, só pode. Não é normal, será que estou ficando doente? Talvez
devesse procurar por terapia. Admita. Você quer aquela mulher, só não quer
dar o braço a torcer. Orgulho ferido meu chapa, orgulho ferido.
Resmungando viro de lado na cama e sou vencido pelo cansaço.
Sento na cama assustado com o som do alarme ecoando pelo quarto.
Levanto rapidamente indo em direção ao armário. Escolho camisa polo e
calça jeans, estilo esporte e nada formal, até porque, isso não é um encontro,
e sim, uma boa xícara de café e nada mais.
— Ei solta ela, senão vai ter problemas. — Então, o senhor perfeito quer
falar de problemas?
— Solta ela.
— Mas...
— Vou ficar bem, vai, por favor.
Sorrindo satisfeito, continuo andando pelas ruas com seu corpo frágil
pendurado.
Sinto um misto de raiva e desejo enquanto estou sobre seu ombro. Seu
jeito másculo e ciumento no momento me deixou furiosa. Não posso negar
que desejo tanto esse homem que chego a arrepiar só de lembrar quando
esteve com sua boca no meu centro úmido. Mas quem ele pensa que é? Não é
meu namorado, muito menos dono das minhas vontades, sou livre e
desimpedida para sair com quiser.
Encaro dentro dos olhos castanhos. Desejo, paixão, luxúria, fome. Esse
animal enjaulado está faminto e olhando dentro dos olhos da sua presa. E a
presa? Bom, está disposta a ser devorada. Deixar a brasa pegar fogo e
incendiar.
Sem dizer nenhuma palavra, continuo descendo as mãos por seu corpo.
Brian segura na minha cintura avançando alguns passos me fazendo recuar
até encostar-me à parede. Não consigo desviar meus olhos, seu queixo
quadrado com a barba por fazer, seus lábios, cada contorno do rosto másculo
e viril. Mordo os lábios, e as lembranças do banheiro, e da mesa me atingem
me cheio.
Suas mãos descem por minha barriga contornando a lateral do meu corpo
até tocar as coxas. Ofego alto, contorcendo-me. As pontas dos seus dedos
tocam a pele levando a borda da saia junto me deixando exposta. As mãos
deslizam por minha bunda, e sinto seu agarre me trazendo de encontro ao seu
quadril. Esfrego contra a ereção.
Com um puxão o tecido da desfaz caindo no chão. Brian gira meu corpo
me fazendo ficar de frente. Sou suspensa no ar. Enlaço sua cintura com as
pernas, e sem aviso, sinto seu pau entrando na minha boceta úmida. Grosso,
grande e duro entrando ferozmente.
Agarro os cabelos macios, e abraço-o trazendo sua boca até meus seios.
Senti-lo sugando meus seios por cima do tecido me entorpece. Com os olhos
fechados perdida no turbilhão de sensações, sinto que não quero que acabe
nunca.
— Não foi nada demais, não é como se eu nunca tivesse transado. Relaxa
delegado.
Com expressão de fúria, ele avança na minha direção, segura meu braço
me puxando para mais perto.
Antes que possa falar mais alguma coisa, viro de costas acenando tchau
fingindo ser indiferente. Quero correr até estar segura e dentro do quarto.
Caminho rapidamente até o ponto de táxi mais próximo.
Em frente ao prédio, pago o taxista com algumas notas que levei para o café.
Por sorte não as perdi do bolso da saia, mas em compensação o celular ficou
no beco, eu acho. Como pude perdê-lo? Todos meus dados estão salvos,
conta bancária, advogados e mais algumas coisas que não podem ser vistas
por ninguém, ainda mais pela polícia.
BRIAN isso não é da sua conta. Cuida da sua vida e esquece isso.
Como posso esquecer o que aconteceu entre nós, além do mais, ser usado
para sexo casual não é divertido quando ambas as partes não estão de acordo.
E se pedisse ao Ethan para codificar o celular e mudar o código de acesso?
Não seria difícil para ele, e depois do casamento do Dylan e seu papo sobre
seu GANDALF, fico enojado só de lembrar-me desse assunto, é como se me
devesse um favor por aturá-lo.
— Entra — respondo.
— Ok.
E agora? Estou envolvido com uma mulher que mais parece um trator
demolidor. Arrastando tudo e todos que estiver em sua frente. Que mudança
nada sútil não acha senhor Brian Garcia? Fecho os olhos fazendo minhas
preces, mas sou interrompido ao ouvir meu nome sendo chamado no rádio.
Respondo prontamente. Assalto com vítimas sendo feitas de refém. Recebo
as coordenadas do endereço no GPS do carro. Acelero pelas ruas de Nova
York até o ponto indicado. De longe vejo as luzes vermelhas e azuis
iluminando à noite.
— Meu nome é Brian Garcia, sou delegado. E quero conversar com você.
OK. Vamos manter a calma e chegar a um acordo.
— Eu sei que está com medo, assustado. Não esperava que fosse dar
errado, não é? E, também sei que não quer machucar ninguém, por isso
escolheu esse horário para não ter pessoas, estou certo?
— NÃO.
— Qual é? Quer machucar crianças e mulheres? Sei que não é desse tipo.
— Não mesmo, mas sei que está desesperado por isso está fazendo isso.
Se soltá-las prometo fazer algo por você, mas só se soltar essas pessoas.
Ergo as mãos para cima, e dou um giro trezentos e sessenta para que o
assaltante tenha visão que não estou armado. Sinalizo disfarçadamente com
os dedos um código secreto da polícia, indicando para o atirador se
posicionar e aguardar meu comando.
Caminhando lentamente sigo em direção à porta de entrada do banco.
Uma a uma, as pessoas que eram mantidas reféns são liberadas.
Bingo!
Ainda consigo sentir seu cheiro, o toque quente das suas mãos. Esse ogro
quer me enlouquecer. Mas, ok já provei da fruta proibida, preciso variar o
cardápio. Talvez devesse dar uma chance para Luca, ele é sexy, charmoso, e
sua companhia é muito agradável, ao contrário de alguns que conheço.
— Ahh sim, estou bem. Acho que foi só uma vertigem — respondo
enxugando as lágrimas com os dedos.
— Tudo bem.
— Oi Aly. Sim, estou bem. Não, não é nada. Hã? Também estou com
saudades do meu afilhado. É, sabe que não quero atrapalhar o casal vinte,
vocês casaram não faz muito tempo. Humm. Lua de mel. Hoje? Tudo bem
irei sim. Está bem, até.
Quer saber? Por que estou preocupada com o que ele pensa? Mas, isso
não quer dizer que não posso me divertir, não é?
Procuro o celular no meio dos lençóis, e assim que encontro envio uma
mensagem.
Ele está morto, não pode fazer mais nada. E quer saber, Spencer? Você
nunca foi homem para mim, e hoje sei bem disso. Cretino.
Acelerando nas ruas Nova York, sem medo, vergonha, nada. Cindy não
existe mais e não posso deixar alguém que está morto interferir novamente na
minha vida. Tenho que me controlar para não colocar tudo a perder. Prometi
a Josefy que iria ser feliz, plena, e assim o farei.
— Ah oi, estou indo. — Por sorte não o vejo mais, já entrou na casa.
Cumprimento Dylan que está sentado no sofá com Dom no colo. Estendo
os braços para o pequeno, e o pego no colo. Beijo suas bochechas rosadas
brincando com meu afilhado e ignorando a existência desse Sherek metido a
príncipe encantado.
— Sim, fique tranquila. Fiquei presa uns dias em casa, estava cansada,
sonolenta, acho que acumulei cansaço extra — respondo secando um prato.
Abro a boca para falar que não, mas estou perplexa com a situação. E
quando você acha que não pode piorar, está enganado, sempre pode.
Todos preferem a verdade sempre, mas ela pode ser tão dolorosa quanto a
mentira.
Encaro Camilly após sua grande revelação. Suas mãos estão tremendo, a
voz falha por nervosismo, ansiedade. Porra! Como fui burro. Transei com ela
naquele beco sem ao menos usar preservativo. E agora observando sua
expressão chorosa, percebo o quanto me comportei como um canalha. Nunca
liguei para saber se estava bem, não devolvi o celular, a tratei como uma
qualquer. Depois de anos ela foi à primeira mulher que realmente conseguiu
me tirar daquele buraco negro. Será que ainda tenho tempo para redimir?
Sinto-me tão mal por tudo.
— Ela já disse que não está grávida, vamos esquecer esse assunto —
disfarço passando entre Cami e Alyssa.
Encho o copo com água e bebo em um único gole. Confesso que senti
minhas pernas amolecerem com a mínima hipótese de ser pai. Mas estou
curioso do porquê ela não pode ser mãe. E pela expressão de surpresa de
todos incluindo sua amiga, significa que também não sabia disso. Segredo.
Sempre achei essa mulher misteriosa, e como sempre meu faro de
investigador não estava errado.
Sinto olhares sobre mim, e viro de costas. Dylan me encara com os olhos
semicerrados. Engulo em seco, suando. Será que deixei transparecer que
temos algo? Quer dizer TIVEMOS no passado.
O peso do meu nome completo saindo por seus lábios me causa calafrios.
Cacete ele sabe. Abro um meio sorriso de canto de boca, disfarçando. Pego a
colher de cima da pia e tiro a tampa da panela fingindo provar a comida.
Como esperado Aly entra na brincadeira para quebrar o clima tenso que se
instalou naquele pequeno cômodo.
— Obrigada pelo jantar Aly, tenho algumas coisas para fazer, quero
dormir cedo. Boa noite. — Cami se levanta e despede-se.
— Vocês dois, juntos? — Dylan aponta para mim e depois para ela.
— Claro que não, até parece. — Consigo respirar novamente, assim que
responde quebrando qualquer desconfiança.
Antes que conclua sua frase cheia de teorias, seguro seu rosto entre as
mãos e tomo seus lábios em um beijo apaixonado. Minha língua invade sua
boca explorando-a. Aperto forte sua cintura puxando-a para mais perto,
colando nossos corpos. Os seios roçam contra meu peito, me deixando
excitado. Não resisto e esfrego o quadril contra a sua perna para que possa
sentir.
— Olha o que faz comigo — sussurro contra os lábios.
Suas mãos descem por minha barriga indo em direção ao botão da calça.
Não consigo detê-la. Quero fodê-la e ouvir gemendo, suplicando por mais.
Seguro na sua bunda e impulsiono para cima suspendendo-a no ar. Camilly
enrola as pernas na minha cintura. Avanço alguns passos e aperto o botão do
elevador, abrindo rapidamente as portas de metal, entramos. Clico no botão
de emergência e travo-o.
Bato as costas dela contra a parede fria em seguida desço-a do meu colo
para deslizar as mãos por seu corpo. Sorrindo mordo seus lábios e puxo
devagar. Minha boca desliza por seu pescoço, e continuo descendo até os
deliciosos seios. Seguro seu bico inchado por cima do tecido com os dentes,
os gemidos ressoam dentro do elevador.
Deslizando os dedos por suas pernas ergo a barra do vestido até o quadril.
Afasto-me, e pisco sorrindo. Ajoelho-me lentamente, coloco sua perna por
cima do ombro dando acesso a sua boceta, puxo sua calcinha fio dental e não
perco tempo. Roço a barba por fazer no centro úmido, em seguida a língua.
Lambendo, sentindo o sabor da sua umidade.
Assim que as portas se abrem, como uma onça brava Camilly sai pisando
duro pelo corredor. Não posso deixar passar, dessa vez não. Acelero os
passos até alcançá-la. Seguro seu braço e giro-a fazendo ficar de frente para
mim.
— O que foi? Você bebeu escondido na casa da Aly? Só pode ser isso —
respondo prontamente, tentando disfarçar.
— Não temos nada em comum. Entendeu? Logo você ganha suas asas de
anjo do pau oco, e eu? Bom, não acho que irei ganhar nada parecido.
Incompatibilidade sabe o que é isso? E me solta. — Impulsiono o corpo para
trás para escapar de suas mãos.
Quando estiver com meus pés no chão, vou chutar em um lugar esse
delegado desaforado que irá chorar um mês de dor. Quem ele pensa que é?
Está achando que sou a santificada da Sheron? Ogro, abusado. Mesmo contra
vontade, aponto para a bolsinha. Sinto quando a abre e em seguida o barulho
da chave encaixado na fechadura. A porta se abre revelando o apartamento na
mais completa escuridão.
Quero gritar que não, não está tudo bem. Não quero relacionamento, não
quero me apaixonar, não quero nada com ele, não posso me envolver com
alguém da polícia. É como dar um tiro no próprio pé. Tudo seria questão de
tempo até descobrirem a verdade sobre o meu passado. A morte de Spencer,
o sangue que mancha minhas mãos de assassina.
— Vai embora, Brian. Vai, sai, não quero falar sobre isso, não agora. Por
favor, estou implorando me deixa em paz. — Permaneço com os olhos
fechados com medo de fracassar na minha decisão de expulsá-lo.
Quando foi que ficou tão fraca Camilly Carter? Esqueceu por tudo que
passou ao lado daquele desgraçado? Espancada por anos, agredida,
humilhada. Sinto meu sangue ferver nas veias recordando as lembranças
traumatizantes, aquela não era eu, era Cindy.
Sinto algo quente tocando meu rosto, abro os olhos lentamente e percebo
que já amanheceu, os raios de sol estão banhando o quarto. Sento na cama,
ainda estou usando a roupa da noite anterior. No chão várias latinhas
espalhadas, acho que bebi um pouco demais, mas tudo bem. Obrigando-me
fico em pé, arrasto as pernas até o banheiro. A cada passo sinto pontadas na
cabeça indicando a ressaca. Tomo um banho longo e demorado, deixando à
água morna cair na cabeça por vários minutos.
Decido ir para a academia, suar faz bem além de livrar meu organismo do
excesso de álcool. Coloco a roupa de ginástica e preparo suco desintoxicante.
Enquanto bebo sentada na mesa, ouço o som da campanha tocando.
Brian é a primeira pessoa que me vêm à cabeça. Mas como ele sabe que
rosas amarelas é minha flor preferida. Pensando bem, essa flor era preferida
da Cindy, não minha, e como ele poderia saber disso se nunca comentei com
ninguém.
SPENCER!
Nos primeiros anos de casado aquele monstro trazia todos os sábados rosa
amarelas. Dizia que comprava para ajudar uma senhora que vendia próximo
ao seu trabalho. Na verdade, sentia raiva toda vez que ele chegava com
aquele buquê sorrindo como se fosse perfeito. Sorria agradecida, fingindo
empolgação.
— Não pode ser... Ele está morto. Eu matei você. Não, de novo não... Por
favor, me deixa em paz — sussurro, esfregando uma mão na outra.
Ele está morto, eu o matei. Lágrimas descem por meu rosto molhando
minha pele. Não consigo descrever o que estou sentindo. É como se o mundo
perfeito entrasse em colapso. Mesmo morto esse homem quer acabar comigo,
me destruir. O que eu faço? Não posso envolver ninguém, não tenho para
quem pedir ajuda, nem conselhos.
Minhas pernas fraquejam me colocando de joelhos prostrados.
— MALDITO — grito.
— Oi. Não, estava dormindo. Por incrível possa parecer, estou feliz que
me ligou delegado. Desculpe por ontem, fui pega de surpresa com tudo que
aconteceu. Sim... Você não facilita em nada. O quê? Eu não sou
complicada... Olha aqui seu ogro. Não fale assim comigo. Mas o quê? —
Elevo a voz. — Ok. Estou esperando.
Não, impossível. Quem iria sobreviver a tiros queima roupa? Meus olhos
arregalam-se quase saltando da órbita. O próprio demônio. Sim, Spencer
pode estar vivo e mais que determinado a dar fim na minha vida.
Dessa vez, dois podem brincar. Aquela mulher inocente, frágil, não existe
mais. Antes que acabe comigo, te mando para o inferno definitivamente.
Salto para fora do elevador no andar do apartamento de Camilly.
Conforme me aproximo vejo que ao lado da porta tem um buquê de rosas
amarelas jogado no chão. Abaixo e pego. Será dela? Quem ousaria ficar
mandando flores para a mulher de outra pessoa, mas pensando bem, se
tratando de Camilly nada é impossível e seus admiradores. Mas, agora, as
coisas irão mudar.
— Por que está segurando isso? Onde encontrou? Foi você que mandou?
— São muitas perguntas, e posso sentir por seu tom de voz que as flores não
agradaram.
— Sim, estou. Vamos direto ao ponto, sabe que odeio enrolar. Você gosta
de mim, e diz que quer ficar comigo, é isso? — Uou essa é a mulher forte e
decidida que conheço.
— Não me importo.
Sou pego de surpresa, quando ela levanta o corpo e senta por cima do
meu quadril, enlaçando as mãos por trás do pescoço, uma perna de cada lado,
distribuindo beijos por meu rosto.
— Estamos nos conhecendo, esqueceu que até esses dias você era o viúvo
que chorava pela falecida esposa? Ah e tem mais uma coisa, por favor, pare
de ficar chorando por Sheron enquanto estiver comigo. É insensível pedir
isso, mas vamos viver o presente.
— Por favor, por pouco tempo — súplica, segurando meu lábio inferior
com os dentes e soltando devagar para me persuadir.
— Ok. Concordo. Agora, que concordei com tudo. Somos namorados,
certo?
— Sim.
— Sim, ele está indo, mas achei que gostaria de saber que é senhorita
Jeniffer, lembra-se? Foi até o marido levar a medida protetiva.
— Sim.
— Foragido, mas temos algumas dicas dos possíveis locais onde ele
possa estar escondido.
Devia ter matado esse maldito quando tive oportunidade. Sigo até a
garagem da delegacia, e entro no carro. Ligo o rádio na frequência para
acompanhar as demais ocorrências. Não demora em chegar à mensagem
contendo os endereços. Dirijo pelas ruas de Nova York, conferido os locais e
não encontro nada. Sinto-me frustrado e impotente mediante a situação.
“Olá delegado. Você sabe quem é essa mulher que se envolveu? Sabe
do que ela é capaz? Vou dar um conselho. SE AFASTE DELA, ou terá
consequências”.
Enquanto aguardo, aquelas palavras não saem da minha cabeça. Que seu
passado é sombrio já desconfiava, e não estava me incomodando até agora.
Como posso estar em um relacionamento assim? Batidas na porta me traz de
volta dos meus pensamentos.
Desculpe, mas hoje, você não irá jantar com Brian Garcia, e sim, com o
delegado Brian.
Termino de preparar o molho sugo, enquanto coloco a massa para
escorrer dentro da pia. Ainda sobra uma hora para tomar banho e me preparar
para recebeu meu ogro metido a príncipe. Desde que entramos em acordo e
começamos a nos relacionar, percebi o quanto Brian pode ser cavalheiro, e
sensível. Para alguém rude, grosseiro, ele até que me surpreendeu.
Sigo receosa até a porta, e abro. Sou surpreendida ao dar de topo com
Brian e sua expressão fria e assustadora. Avanço alguns passos e fico nas
pontas dos pés e beijo de leve seus lábios, mas ele continua na mesma
posição, paralisado.
— Ok. Estou com a comida no fogo, vou tomar banho, pode cuidar para
mim?
— Hum?
Suas fortes mãos seguram meus braços me puxando para mais perto.
Confusa, encaro os belos olhos castanhos e inexpressivos. Esse não é Brian o
namorado, e sim, o delegado Garcia. Na mais simples hipótese de ter sido
descoberta me causa calafrios, acelerando os batimentos do coração.
— Por que estou recebendo mensagens falando sobre você? Tem algo que
eu deva saber?
Mensagens? Droga! Não consigo pensar com toda essa tensão, preciso me
livrar dele primeiro antes de decidir o que fazer. Sempre soube que se
envolver com a polícia acabaria desse jeito, mas fui teimosa e contra tudo que
acreditava por causa de uma paixão idiota, e agora, estou a ponto de ser
descoberta. Burra, burra, burra.
— Vai embora, sai daqui, agora. — Impulsiono o corpo para trás fugindo
de suas mãos e criando uma distância segura entre nós.
— O quê?
— Não precisa, não sabia que seu namorado era tão ciumento. Devia ter
sido mais cuidadoso.
— Bom, já está tarde. Quer beber algo? Vinho, talvez? Confesso que
minha adega é ótima. — Sou convidada para ir até sua casa, mas e depois?
Sei bem o que ele espera depois, mas não estou disponível.
— Tem certeza? Não parece que quer voltar. Sabe que pode contar
comigo sempre, até mesmo se precisar de um lugar para ficar.
— Você voltou — grito pulando assustada com a voz grossa pairando por
trás.
— Onde estava?
Nunca achei que diria isso, mas está na hora de alguém saber a verdade.
O fardo é pesado demais para carregar sozinha, e não sei explicar, mas sinto
que posso confiar no delegado. Sintomas de paixão louca e desenfreada?
Talvez. Estou cansada de viver com medo, quero ser livre de verdade.
Aponto para o sofá e peço que sente. Sem desviar os olhos, Brian faz o
que pedi. É como se estivesse preparado para pular em cima de mim caso eu
tentasse fugir de novo. Mordo os lábios para conter a vontade de rir. Puxo
uma cadeira e a arrasto até sua frente, e sento cruzando as pernas.
— Vou te contar tudo Delegado Garcia. Mas me prometa que irá ouvir
até o final sem me interromper.
Não é como se já não soubesse de tudo. Desde que estou com celular de
Camilly estava desconfiado. Primeiro o fato dela não tentar recuperar o
aparelho, qualquer mulher mesmo furiosa teria ido buscar. Segundo mesmo
orientando as pessoas a ser cautelosas com informações pessoais, ninguém
teria tantos sistemas de segurança com códigos codificados. No começo
fiquei curioso somente pelas mensagens que chegavam de outras pessoas,
mas quando enviei para o departamento crimes virtuais para desbloquearem o
celular e fiquei impressionado com o relatório enviado.
Mas, não quis alertá-la sobre isso, uma relação é baseada em confiança.
Toda história tem sempre dois lados e quero saber qual é o lado de Camilly
antes de julgá-la. Então, aguardei até quando pude.
— Fala alguma coisa, por favor — súplica com a cabeça baixa encarando
o chão.
Só consigo pensar nas maneiras que gostaria de matar esse filho da puta
maldito. Fecho os olhos por um momento e consigo visualizar nitidamente
Spencer agredindo minha mulher. Quando se está há tanto tempo trabalhando
com vítimas de agressões físicas, é fácil idealizar como tudo aconteceu.
Antes já era difícil, agora, então, com a confirmação, é dez vezes pior.
Sei que essa não é atitude que ela está esperando, mas só quero matá-lo,
mandar sua alma para o inferno de uma vez por todas.
— Tem certeza?
— O que quer dizer com tem certeza? E por que não está surpreso com
tudo que contei Brian? — Encara-me confusa.
— Eu sei, você acha que estudei direito para quê? Mas me fale a verdade
Brian. Porque não está assustado, surpreso. Você já sabia de tudo?
— Você sabia e não disse nada, por quê? POR QUÊ? — grita alto.
— Fiquei dias sofrendo, noites sem dormir com medo. Fugi por cinco
anos da polícia e de qualquer coisa que pudesse revelar minha verdadeira
identidade para você descobrir em pouco tempo. Como soube?
— Camilly não consta a morte do Spencer nos arquivos. E você foi dada
como desaparecida.
— O quê?
— Sim.
Quero ajudar em tudo que puder para resolver sua situação com a justiça
e poder viver tranquilamente. Com a latinha na mão, encostada na bancada da
cozinha ela me encara sem entender a minha linha de raciocínio. Muitas
emoções em uma única noite.
Deito-a e pairo por trás agarrado ao seu corpo. Beijo o topo da cabeça,
acariciando os cabelos. O som suave da respiração ressoa pelo quarto. Em
segurança, Camilly dorme por hora aconchegada.
Enquanto vigiava seu sono, inúmeras teorias rondaram meus
pensamentos. E a cada peça que se encaixou nesse quebra-cabeça leva
diretamente a Spencer estar vivo e espreitando. Agora, que sei em detalhes,
não vou deixá-la sozinha nesse apartamento como uma presa fácil. Ela irá
para minha casa, ou seria melhor eu vir para cá.
Ainda não me desfiz das coisas de Sheron e isso pode incomodá-la. Sinto
que estou pronto para deixar minha falecida esposa partir, mas não tive tempo
de pensar nisso ultimamente.
— Fala aí grande B. Quanto tempo cara, já estava com saudade dessa voz
sensual.
— Cara você não tem jeito. Preciso de um favor. E não, não estava com
saudade.
— Ah... Era trabalho, nada importante. Mas, tenho algo muito mais
importante para fazer, agora.
— O que delegado?
Sem tirar os olhos dela, dou a volta na cama ficando nos pés. Subo
lentamente até estar por cima do seu corpo. Minha boca desliza no seu
pescoço, beijando, lambendo, mordendo e assim continuo descendo. Por cima
do tecido mordo seu seio direito segurando o bico nos dentes, e soltando
lentamente.
Gemendo e ondulando seu corpo por baixo do meu, indica que está tão
desejosa quanto eu. Sempre pronta, desço uma mão até o elástico da calça e o
empurro para baixo enfiando a mão por dentro. Meus dedos acariciam seu
clitóris fazendo círculos e não resisto à tentação, e enfio os dedos na sua
boceta sentindo a umidade.
Ninguém vai machucar essa mulher enquanto estiver vivo. Ela é minha, e
só minha.
Sinto-me aliviada por poder dividir o fardo do passado com Brian, mas
não consigo evitar aquela sensação de insegurança. A última vez que me abri
e confiei em alguém acabei sendo espancada até quase a morte por Spencer.
Obviamente são pessoas totalmente opostas. Tenho que relaxar e aproveitar a
oportunidade que estou recebendo.
Arrasto as pernas para fora da cama devagar para não o acordar. Nas
pontas dos pés ando pelo quarto procurando o moletom de corrida. Troco-me
e calço o par de tênis. Primeiro a corrida matinal e depois irei comprar café
da manhã. Deixo um bilhete em cima do criado mudo. Como esperado, ainda
tem poucas pessoas nas ruas. Começo o exercício correndo até chegar à praça
central e assim continuo até completar o ciclo de voltas. Exausta, respiro
fundo sentindo o suor escorrendo no meio das minhas costas.
As palavras de Brian sobre Spencer ainda estar vivo invadem meus
pensamentos. Seria possível que estou fugindo de um crime que não cometi?
Avanço dois passos pequenos em sua direção. Preciso ver seu rosto, não é
possível que seja ele, não pode ser ele. Antes que alcance o homem, sou
chamada pela balconista com os copos. Desisto por um momento, pego o
pedido, e quando procuro dentro da cafeteria não o encontro.
A cada passo que dou na calçada, ouço o som de outra pessoa ritmando
com o meu. Paro e viro para trás e não vejo ninguém. Balanço a cabeça,
rindo. Maluca.
Não sou o homem aranha, mas meu sensor de perigo está gritando alto
dentro da minha cabeça e faço a única coisa que posso. Abandono os copos
deixando cair no chão, e começo correr desesperadamente. Flashs de todas as
vezes que fugi correndo daquele cretino surgem diante dos meus olhos. É
como se tivesse de volta no passado. Sua voz gritando meu nome, enquanto
tentativa fugir pelas ruas.
Nada, não vejo nada que está na minha frente atravessando ruas com
carros em movimentos, esbarrando nas pessoas. Só quero fugir, me esconder.
Buzinas, gritos de maluca, nada disso é capaz de me fazer parar.
— Luca?
Giro a cabeça em direção da voz, e vejo Luca com uma bandeja nas
mãos.
Professor?
— Oh sim. Esbarrou comigo na rua e parecia não estar bem, tanto que
desmaiou. Não sabia o que fazer, então, a trouxe para minha casa. Trouxe
suco para você. — Deposita a bandeja em cima da cama.
— Algumas horas. Como estava sem celular, não sabia se tinha alguém
para ligar. Desculpe.
Camilly ele é um homem de bem. Seu professor e sempre foi gentil e
solicito com você. Só quis ajudar, ingrata. Sorrindo me aproximo de onde
deixou o copo e o pego. Bebo um gole do suco de laranja para me acalmar.
Respondo suas perguntas de forma simples e prática sem dar detalhes.
Ando pelo quarto para manter certa distância, já que o senhor delegado
irá surtar quando souber onde estou. Faço perguntas para engrenar a
conversa. No canto do quarto noto uma prateleira com muitas molduras de
fotos, me aproximo.
— Irmão? Pensei que fosse filho único, quer dizer, na faculdade sempre
falaram isso. Sabe fofocas.
— Sei. Sou irmão por parte de pai. Digamos que sou o bastardo da
família.
— A vida imitando a arte. O contato com a família do meu pai sempre foi
o mínimo. Sua esposa não me aceita, mas a única coisa boa de tudo isso é que
meu irmão sempre me apoiou.
— Qual é Brian? Você nunca foi de fugir das coisas — digo para a
imagem do homem refletida.
Desisto de fazer a barba, enrolo a toalha na cintura e retorno para o
quarto. Abro a porta do armário onde já guardo algumas peças de roupa e
coloco uma calça jeans e uma camisa. Confiro o relógio de parede. Cami está
demorando mais que o normal, a fila para o café deve estar imensa.
Inquieto ando de um lado para outro. Decido fazer algo importante antes
de tomar o café. Encaixo o coldre com minha arma, o distintivo e chave do
carro. Saio rapidamente do apartamento. Desço até a garagem. Dentro do
carro dirijo pelas ruas indo em direção ao cemitério. Não demoro muito para
estacionar em frente à floricultura. Compro um buquê das flores favoritas de
Sheron. Com passos lentos entro naquele lugar de silêncio e paz, mas
também muita dor e saudade para quem ficou. Minhas pernas pesam
toneladas, e me obrigo arrastá-las até o local onde a minha falecida esposa
está enterrada.
Em frente a sua lápide, leio seu nome e a mensagem descrita. Sinto meus
olhos encherem d’água. Abaixo e coloco o buquê em cima do gramado.
Fecho os olhos, respirando fundo e faço algo que já devia ter feito a muito
tempo. Confesso para Sheron meus sentimentos por Camilly e o desejo de
construir uma família ao lado daquela mulher louca. Ajoelho e imploro por
seu perdão. Permaneço com os olhos fechados e perdidos em pensamentos
até que o celular vibra no bolso da calça e me traz a lucidez novamente.
Ao escutar seu nome sinto um calafrio percorrendo meu corpo junto com
o nome de Camilly que surge imediatamente em meus pensamentos. Pego o
aparelho e atendo imediatamente.
Sem pensar duas vezes, deixo tudo e todos para trás. Semáforos
vermelhos, pare, nada conseguiria me deter. No percurso da delegacia até o
apartamento só consigo imaginar que algo ruim aconteceu. É como se a
história estivesse se repetindo. Não posso perder Camilly.
— Quanto tempo você correu? Por que está chegando só agora, Camilly?
— Quem deveria fazer as perguntas sou eu, não concorda? — Seus olhos
castanhos me encaram ferozmente.
— Porque não nasci colada a você. Sou adulta e sei cuidar de mim mesma
— responde rudemente, o que só confirma minhas suspeitas. Ela está
escondendo o que realmente aconteceu.
Entro na sua frente cobrindo a visão de tais palavras. Puxo seu corpo para
junto do meu.
— Não leia, vai ficar tudo bem — digo afagando sua cabeça.
Sinto seu corpo amolecer e desabar diante dos meus olhos. Seguro-a nos
braços e a suspendo a pegando no colo.
Achei que nunca mais iria precisar de ajuda, mas estava enganada. Não
sou mais a Cindy Foster. Aquela mulher lamentável, medrosa e que não tinha
uma única nota de dólar na carteira. Dois podem jogar esse jogo Spencer, se
prepare.
— Olá, sou eu. Sim, faz muito tempo. Não achei que viria usar seus
serviços novamente. É eu sei. — Mordo os lábios sorrindo da piada feita do
outro lado da linha. — Não, não senti sua falta. Claro que não, sempre fomos
amigos. Então, sem gracinhas. Preciso de ajuda, pode me ajudar, por favor?
— Mudo o tom de voz o deixando sensual. — Ok. Somente um café. Preciso
que investigue uma pessoa para mim, encontre tudo desde o nascimento até
agora. Luca Ricci. Advogado e professor de faculdade. Não demora —
agradeço e encerro a chamada.
Sinto muito, meu delegado mais tenho meus próprios meios, a polícia não
me protegeu anos atrás, quem garante que será diferente dessa vez. E se o
falecido resolveu brincar de zumbi e levantar do túmulo, irei mandá-lo de
volta para o inferno.
— Com quem você estava falando? — A voz de Brian surge por trás do
meu corpo.
Giro lentamente pensando qual seria a desculpa que iria dar para fugir do
seu interrogatório. Mas, sou pega de surpresa com um homem sexy, só de
cueca, encostado no batente com os braços cruzados. Boquiaberta encaro
aquela visão deliciosa. Deslizo a língua por entre os lábios umedecendo-os.
Como se fosse uma leoa selvagem pronta para pular em cima de sua
presa, ando em sua direção sensualmente. O que pode ser melhor para distrair
um homem do que sexo. Ainda mais um como Brian Garcia, totalmente viril
e insaciável.
— Não era ninguém. — Aproximo-me e fico nas pontas dos pés, e
sussurro no seu ouvido. Mordo sua orelha devagar.
— Não, isso é desejo. — Deslizo as mãos por seu peito nu descendo até a
barriga.
— Safada. Quer enganar seu homem com sexo? — ronrona contra minha
nuca, enrolando os dedos no meu cabelo.
— Funcionou? — resmungo.
— Banho? — questiono.
— Fala. Não posso sair por enquanto. Sério? Ok. Ok. Aonde nos
encontramos? Combinado em uma hora estarei lá. Acho bom não se atrasar.
Mentira, você sempre se atrasou. Tchau. — Encerro a chamada.
Jhon Halls. Filho do melhor amigo da minha querida Josefy. Por ser uma
senhora sozinha e com uma grande fortuna, ela sempre manteve conexões
com vários tipos de pessoas para garantir sua segurança. Jhon, criou uma
nova identidade para mim junto de um passado com histórico confirmado. Se
você quer algo impossível, peça ao Capitão T.
Como pode ser tão imprudente? O que está passando naquela cabeça
teimosa e sem responsabilidade. Está mais que provado que aquele maníaco
retornou das profundezas do inferno, e ela quer ficar andando por aí como se
nada estivesse acontecendo, é isso mesmo? Serei obrigado mantê-la em uma
cela?
— Não queria chegar a esse ponto, mas não tenho escolha. Ative o
rastreador do carro dela, e me mande à localização — peço ao nerd do FBI.
— Sim, tenho certeza. Ela é a única culpada em mentir para mim. Ok. Estou
esperando.
Peço um momento aos meus companheiros de investigação, e sigo para a
cozinha. Encho um copo com água e sorvo em grandes goles, enquanto
respiro fundo. Recuperar a paz depois dessa ligação é quase impossível.
Por um momento pondero correr atrás dele, mas sob qual afirmação iria
persegui-lo?
— O que você está fazendo aqui? E quem é esse? — questiono com a voz
fria e cortante como navalha.
— Brian... É... — Ela se engasga nas palavras, o que me faz fungar alto.
— Jhon, sou Jhon amigo dela, e você? — O filho da mãe estende a mão
para me cumprimentar como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Espera. Quer dizer que ela não contou que tem namorado? Isso é um
encontro amoroso?
— Não, claro que não. Só fui pego de surpresa — responde enquanto leva
a xícara de café à boca.
— Brian, ele é um amigo antigo. E sabe sobre mim, pedi sua ajuda por
isso veio ao meu encontro. É só isso. — Camilly invade a conversa
justificando seu ato.
— Delegado calma aí. Não precisa ser tão duro com nossa Cami. — Jhon
interrompe.
— Brian, solta ele. Brian, por favor. Brian. — Repete meu nome várias
vezes.
Posso estar sendo neurótico, mas algo me diz que aquele homem estava
vigiando o casal maravilha, mais especificamente a Camilly. Spencer seria
tão descuidado a ponto de se aproximar de tal forma? Talvez. Esperou tantos
anos para se vingar, achei que seria mais frio e calculista, ou estou errado?
Acho que preciso de uns dias de férias. Viajar alguns dias, conhecer pessoas.
Fazer novos amigos. Envio uma mensagem no grupo de investigadores da
delegacia.
— Ei. Não tenho culpa se o homem é um fantasma. E por que não contou
para sua família que estava namorando?
Reviro os olhos e abaixo para pegar as fotos. E para minha surpresa uma
delas é a mesma que estava na estante de Luca. Encaro-a. Tenho certeza de
que conheço, já vi essa criança em algum lugar.
— Ele estava me vigiando na cafeteria esses dias, quer dizer, acho que é
ele. Esse boné, o queixo. Só pode ser ele.
— Então, quer dizer que o seu professor está lhe vigiando? Será que ele
sabe de algo? Camilly tem algo muito errado nisso, deveria tomar cuidado.
Diz o ditado que quem está na chuva é para ser molhar, certo? Decido
contar para o capitão tudo que está acontecendo. Desde a mensagem para
Brian quanto até a pichação do prédio e as flores. Ouço sua teoria e conselhos
sobre como devo agir, e incrivelmente Jhon apoia o delegado sobre me
manter em cárcere privado. Continuamos conversando por mais meia hora.
Dentro do carro aceno com a mão me despedindo do capitão, já que ele fez
questão de me acompanhar.
Quer saber, não fiz nada de errado. Não é como se fosse um encontro
amoroso. E ele nem pode reclamar já que sempre está se lamentando em cima
do túmulo da falecida. Sei muito bem que sempre que visita o túmulo da
falecida volta se sentindo culpado, como se namorar comigo fosse errado.
Pois bem, se quiser que me procure. Minha fase de implorar para um homem
ficou no passado. Ando pelo apartamento tirando a roupa. Aproveito a
oportunidade de estar sozinha e tomo um banho longo e demorado.
Enrolo a toalha na cabeça e outra no corpo, então, tenho uma ideia. Deito
na cama inalando a fragrância do lençol, e faço uma ligação.
— Boa tarde, Antony. Sim. Preciso que faça algo por mim. Sim, sim.
Quero que contrate alguém para seguir vinte e quatro horas uma pessoa. Não,
não estou envolvida em problemas, bom, por enquanto. — Ouço o som da
sua risada nervosa. — Obrigada. Vou enviar os dados por mensagem e assim
que conseguir o investigador me comunique. Ok. — Encerro a chamada.
Luca, Luca. Por que está me seguindo? O que quer de mim? E a pergunta
mais importante. Quem é você?
Não consigo conter a frustração de estar sendo ignorada e tento ligar para
seu celular e novamente cai direto na caixa postal o que me deixa ainda mais
irritada. Ah mais quem ele pensa que é para fazer isso? Procuro na agenda o
número da recepção do distrito, e faço a ligação.
Dizem que você atrai aquilo em que está em seus pensamentos, ou seria
falando do diabo aparece o rabo. Sou surpreendida ao chegar outra
mensagem, mas o que chama minha atenção é quem a enviou.
“Luca Ricci”
“Olá, tudo bem? Gostaria de sair para tomar uma bebida?”
Definitivamente ele está me vigiando de perto. Será que sabe que estou
sozinha em casa nesse momento? Que o dispensei descaradamente? O quanto
tenho que ficar preocupada? Realmente as pessoas são imprevisíveis. Bonito,
educado, inteligente, quem iria suspeitar que fosse um stalker.
Brian onde você está? Eu vou matar você seu ogro cretino.
Estaciono o carro em frente à antiga casa de Camilly. Consigo recriar a
cena na minha cabeça do dia que ela fugiu correndo após ser agredida por
aquele desgraçado. Sinto que estou suando frio com as mãos trêmulas. Tenho
vontade de matá-lo, aliás, não só ele, todos esses agressores de merda que
abusam da vulnerabilidade alheia. Abro a mochila e pego a câmera. Caminho
na rua disfarçando enquanto faço várias fotos da vizinhança. Bairro simples
com muitas árvores, poucas pessoas circulando nas ruas, brinquedos
espalhados nos jardins, diria que se parece com uma comunidade tradicional.
O que me incomoda ainda mais, lugares como esses geralmente os vizinhos
frequentam a casa um do outro. Como nunca relataram os abusos?
Continuo por mais alguns quarteirões, e vejo mais a frente uma mulher
brincando com um bebê no jardim. Puxo a aba do boné escondendo meu
rosto. Ela me encara desconfiada, então decido voltar para o carro até o cair
da noite para invadir essa prisão abandonada.
Do mesmo jeito que saiu de sua casa, Spencer retorna. Sem desviar um
centímetro do caminho, entra na garagem. O fato de ele estar vivo seria
suficiente para prendê-lo. Mas infelizmente Camilly cometeu alguns erros
que em um julgamento seria massacrada. Tiro algumas fotos da mansão para
registro. Entediado e sonolento, encosto a cabeça no assento, e fecho os olhos
por alguns minutos, sendo levado pelo cansaço, adormeço.
Concordo que isso não é atitude de um delegado, mas o que posso fazer?
Retorno para o carro, e sigo direto para o hotel. Preciso de banho, comida.
E depois, continuarei vigiando a casa daquele maldito.
Enrolo a toalha na cintura, esfrego as mãos no cabelo derrubando as gotas
de água umedecendo meu peito nu. Em cima da cama o celular vibra
descontrolado. Consigo visualizar o nome de quem está ligando. Deslizo uma
mão por meu abdômen, considerando se devo atender ou não.
Impulsivamente, atendo a ligação.
— Brian eu vou matar você, seu cretino. Onde você está? — Camilly
grita do outro lado, não deixando qualquer oportunidade de explicação.
Não sei por que demorei tanto tempo para encontrar essa mulher, minha
demônia de saia. Respirando fundo ao telefone, posso escutar o som dos seus
movimentos. Sutil como um tiro de bazuca, relata o que está fazendo e onde
suas mãos estão tocando.
Preciso estar dentro dela, sentir seu cheiro, roubar os gemidos com a
minha boca. O vislumbre das suas pernas abertas para mim, invade meus
pensamentos roubando o que me restava de sanidade. Com mais algumas
investidas subindo e descendo, alcanço o ápice espirrando meu gozo nos
lençóis.
Realmente isso foi imprevisível. Quem diria que sexo por telefone pode
ser tão prazeroso. Precisamos praticar mais vezes. Pensando bem, prefiro
sentir pele na pele, meu pau entrando no seu centro apertado. Porra se
controla Brian. Tenho algo importante para fazer. Foco delegado.
Exatamente dois dias depois que Brian viajou sem dar nenhuma
explicação plausível. E para piorar a situação fui fraca e cedi ao telefone. Não
posso me culpar por ficar louca todas as vezes que ouço aquela voz rouca,
grossa, chamando meu nome. Estou com saudades e preocupada. Sequer
imaginei que Brian também iria ao meu encontro com o Capitão e, mais, que
iria ter aquela atitude infantil. Mas, algo está martelando dentro da minha
cabeça. Como ele sabia onde eu estava? Ninguém sabe do John, nem mesmo
Alyssa que morou comigo tantos anos.
Várias teorias rondaram nas últimas horas sobre isso, e a única conclusão
é que o delegado está me monitorando para não dizer vigiando. Brian Garcia
teve a ousadia de me vigiar descaradamente e, além do mais, fazer um
escândalo em público?
Mas como posso fazer isso? Pode ser perigoso ficar sozinha com ele,
ainda mais que não sei quais seus reais motivos. John poderia me ajudar com
isso, ficar do lado de fora da casa vigiando.
Brian não ficaria nada feliz com essa ideia, levando em consideração que
ele simplesmente sumiu como fumaça no ar. Por que tenho que dar satisfação
do que faço ou deixo de fazer? Desculpe delegado.
Josefy sempre me alertou para tomar cuidado com John, apesar de o seu
rosto ser sensual, suave, e sua boca repleta de palavras dóceis. É perigoso,
mortal.
Será um prazer.
— Está nervosa? Quer beber uma dose de uísque? É bom para relaxar os
nervos.
— Sim senhorita.
— Que tipo de pergunta é essa? Mas, não. Minha vida não tem espaço
para uma segunda pessoa.
— Entendi. Quando tudo isso acabar, quero ter uma família de verdade.
— Uou. Nunca achei que iria confessar algo tão óbvio. Vai conseguir.
Não esqueça, a cada dez minutos de me enviar algum sinal pelo celular.
— Obrigada.
— Somos família.
A palavra família soa como música para meus ouvidos. No fundo sempre
quis ser amada, protegida por alguém, e mesmo esse sentimento me tornando
frágil e passível de homens maníacos como Spencer, quero recomeçar de
verdade, ao lado de Brian.
Delegado Garcia, era para você estar aqui me ajudando. Eu espero que
tenha uma ótima explicação, senão irei parar atrás das grades por homicídio.
Encosto a cabeça no vidro da janela sentindo meu coração bater acelerado
com a lembrança da ligação. Safado, soube me seduzir direitinho.
— Chegamos.
Sou recepcionada por Luca. Ele pode ser malvado, mas não tem como
negar que é bonito e charmoso. Quando sorri no lado direito do rosto nasci
uma covinha extremamente sensual. Estendo a mão para cumprimentá-lo.
Sorrindo, ele retribui o gesto.
— Água.
— Entendi.
Usando botas de cano acima dos joelhos colando a pele em contraste com
o vestido rosa bebê delineando suas curvas. Bonita, sexy. Engulo seco me
sentindo inferior. Qual é Camilly, você não está aqui para ser bonita, e sim,
para descobrir o que esse maluco quer com você. Recomponha-se mulher.
— Seu irmão não pode vir, parece que teve alguns problemas, mas virá
em breve.
— Sim, era muito possessivo. Não podia trabalhar estudar, nada, enfim.
Só me livrei dele.
Uau, vaca fria. Não que concorde com a atitude do marido, mas como
pode falar abertamente para uma estranha.
— Ah sim, verdade.
Com uma mão no volante, uso a outra para pegar o celular. Aperto o
número um da discagem automática. Novamente o celular da diaba só chama,
caindo diretamente na caixa postal. Essa mulher quer me matar? Desfilar
pelas ruas de Nova York, mesmo sabendo que tem um psicopata
perseguindo-a. Vamos ter uma longa conversa sobre isso. E dessa vez, irei
algemá-la se for preciso. Continuo acelerando o mais rápido que posso.
Estaciono em frente ao nosso prédio, e como esperado, não tem ninguém
no apartamento. Quer dizer que está fazendo, não sei o que por aí, há algumas
horas. Decido aguardar dentro do carro. Ser pega em flagrante deve causar
alguma reação negativa sobre ela. Ajeito-me no banco, ergo o vidro fumê,
cruzo os braços, encosto a cabeça no assento, e aguardo.
Talvez, Spencer esteja sendo movido pela raiva, afinal, Camilly atirou
nele. Mas, quantas vezes ele espancou-a? Deveria ficar elas por elas. Sei que
em sua cabeça de louco, sente-se injustiçado, como se fosse a vítima. Assim
que retornar para a delegacia, irei solicitar que Judith trace um perfil
psicológico de Spencer. Pode haver mais vítimas escondidas.
Seguro a gola da sua camisa, apertando tão forte que posso sentir a dor
nas pontas dos dedos. Quero acabar com a raça desse cretino.
— Está tudo bem, querida. — John, retruca, sempre com aquele sorriso
no rosto. Talvez devesse quebrar seus dentes para aprender manter a boca
fechada.
— Estou esperando.
Só consigo imaginar como seria ter sua boca em volta do meu pau,
sugando-me. Fecho os olhos rapidamente e, respiro fundo. Nada de sexo,
agora, você só precisa saber o que aconteceu. Concentre-se Brian. PORRA! É
quase missão impossível pensar em outra coisa com essa tentação tão
próxima. Vamos lá, pense em animais fofinhos. Coelhinhos, cachorrinhos,
gatinhos. ARRGGHH... Isso não vai funcionar, nunca.
— Brian? Você está achando que é sua falecida esposa? Só pode ser
brincadeira. — De canto de olho, vejo quando Cami levanta-se. — Vai
embora, agora. Volta para sua casa.
Pego o celular no bolso da calça e, faço uma ligação para o nerd do FBI,
Ethan.
— E aí. Sim, estou bem. Não, não era nada demais. Preciso que faça um
favor. — Reclamando do outro lado da linha, ouço o barulho do pacote sendo
aberto. — Você só come? Vai acabar com as veias entupidas. OK. Cuidando
da minha vida. Luca Ricci. Preciso que encontre tudo sobre esse nome. OK.
OK. Pago seu almoço. Sim, bem caro. Até mais.
— Moça, moça, com licença. A pessoa que estava aqui, agora. Era
homem, mulher? — questiono a atendente.
Corro na calçada como se fosse louco, encarando cada pessoa que circula
ao meu lado, em busca daquele cheiro. Mais à frente, sou surpreendido com o
carro de Spencer estacionado de pisca-alerta aceso, quer dizer parada rápida.
E mais ainda, quando uma mulher, abre a porta do passageiro, e entra. Tenho
um pequeno vislumbre do maxilar feminino
Acelero o ritmo dos passos, para alcançá-los, mas é uma tentativa inútil.
Eles escapam, bem diante dos meus olhos.
Será a mesma mulher que estava com ele no restaurante? E por que estava
usando o mesmo perfume de fragrância exclusiva de Sheron?
Esse maldito quer brincar com minha cabeça? Acha que pode me
desestabilizar para deixar o caminho livre para ele? Eu vou acabar com você,
desgraçado.
— Sim, sou eu. Cheguei hoje. Parker quero que reúna nossa equipe. Sim,
temos um caso especial. Chego à delegacia em meia hora. Ok. — Desligo a
ligação.
Eu não vou facilitar sua vida, Spencer. Prepare-se, vou descobrir tudo
sobre você, e sua família. O jogo de verdade, acabou de começar.
— Cretino — resmungo, jogando a almofada na porta.
Essa mulher mesmo depois de morta ainda permanece entre nós. Brian
não consegue se controlar só de ouvir seu nome, posso estar sendo egoísta,
mas isso me incomoda demais. Ciúmes? Não sei. Talvez seja infantilidade da
minha parte, ter ciúmes de uma pessoa que morreu há tantos anos. Sinto
como se nada superasse o amor que ele sentiu por ela. A santa, virgem,
imaculada, Sheron. Perfeita, dedicada, a esposa perfeita para aquele ogro
metido a príncipe encantado.
Assim que a porta do elevador se abre, sou a primeira a saltar para fora.
Em frente ao prédio, estico os braços, em seguida as pernas, alongando o
corpo.
Devia ter trazido o celular. Fico cega, surda, e burra, quando me sinto
acuada e com medo. Nesse fatídico momento estou com muito medo.
Disfarçando encarando o céu estrelado. Agora que já estou recuperada, posso
correr até chegar em casa, ou pelo menos onde tem mais pessoas, caso
precise de ajuda. É isso, vamos correr Camilly.
Os músculos das coxas repuxam a cada vez que meus pés tocam o chão.
Mas, não paro de correr, continuo focada, desviando das pessoas na calçada.
Correndo, correndo, porém, esbarro em algo sólido, duro, que quase me joga
no chão, senão fosse por fortes braços segurando minha cintura. Surpresa,
assustada, e envergonhada por ter topado com alguém, ergo a cabeça
lentamente.
Devo gritar? Pedir ajuda? Correr? Fingir que não o conheço? O que faço?
— Com licença, tenho que ir. Mais uma vez, obrigada — agradeço.
Lágrimas escorrem dos meus olhos. Respiro fundo, e levo as mãos até as
bochechas, secando-as. O som da porta do elevador me traz de volta ao
presente. Entro rapidamente, e sinto um grande alívio ao ver a porta se
fechando. Observo o contador no painel, desejando que fosse mais rápido.
— Você vai me explicar isso direito, mas desde já, saiba que, sem
chances de sair sozinha de casa outra vez. Agora, senta aqui e me conta tudo.
— Bate na perna, me puxando para me sentar no seu colo.
Meus pés doem dentro do tênis apertado, mas o medo de sermos pegos é
maior que qualquer dor. A cada passo, viro para trás conferindo se meu irmão
está me seguindo. Não devíamos ter roubado chocolates da venda, mas,
estávamos com fome. Agora, pagamos o preço por tal ato.
Sou somente alguns minutos mais novo que Luca, mas ele sempre foi o
mais inteligente, esperto e bonito. Mamãe afirma que somos idênticos, mas
discordo. Como posso ser parecido com ele? Não sei jogar futebol, muito
menos consigo escalar uma árvore alta. Acho que isso é conversa de mãe.
— Tenho medo.
Ele teria matado nosso cachorro? Não é possível. Queria acreditar nessa
mentira.
Calei-me diante dos nossos pais, porém a dúvida me corroía por dentro. E
foi dito como uma fatalidade a queda de floquinho. Por dias, chorei, sentindo
remorso por deixá-lo sozinho no quarto. Só pensei no seu bem estar, e isso
causou sua morte. Afastei-me de Luca e aos poucos uma lacuna se criou entre
nós. Aquele sentimento, o elo incrível que tínhamos, não existia mais. Tinha
medo de que pudesse fazer algo pior. Trancava todas às noites a porta do
quarto antes de dormir, e rezava que ele não me procurasse.
O mais triste de tudo isso? Não pude me despedir, e dizer que mesmo
assim ainda o amava, e sempre estaria do seu lado.
Fecho a porta do carro, encosto a cabeça no assento do carro. Como essa
vadia pode fingir que não me reconheceu? Desgraçada. Continua a mesma
dissimulada de sempre.
Controlei-me para não agarrá-la pelo pescoço. Fingir que estava tudo
bem, que ela era uma mera estranha foi um sacrifício enorme para mim.
Encarar seus olhos castanhos, brilhantes. Luca estava certo esse tempo todo.
Ela seguiu com sua vida normalmente, mesmo depois de descarregar a arma
em cima do seu marido. Não tem remorso por matar alguém? Por quase me
matar?
Sinto o celular vibrando dentro do bolso da calça. Enfio a mão para pegá-
lo, e o nome “Sheron” surge na tela. Trinco o maxilar, bufando baixo. O que
esse encosto quer comigo? Estávamos juntos até quase agora.
Alguns anos atrás, enquanto fazia uma viagem de negócios, encontrei por
acaso com Sheron. Essa mulher foi minha primeira namorada aos dezesseis
anos. Fiquei comovido com sua história, o quanto era infeliz ao lado do tal
delegado Brian. Por fim, aceitei ajudá-la se livrar do marido. Aluguei uma
pequena casa, próxima a minha com Camilly, e a mantive por perto como
amante. Era divertido tê-la por perto, mas confesso que seu velório, realmente
foi hilário. Enfim, nosso envolvimento se tornou perigoso para meu
casamento, então, dei dinheiro para que viajasse para fora do país.
Não preciso, não quero nenhuma relação. Preciso estar limpo para receber
de volta minha esposa. Eu sei que ela ainda está chateada, e não entende a
profundidade dos meus sentimentos por ela. Que outro homem perdoaria sua
mulher depois de tudo que fez? Em minha opinião, é mais do que prova de
amor, é renunciar a si mesmo.
Com a outra mão, aperto o nome de Luca no celular. Logo que ouço sua
voz, faço um pedido.
— Quero que entre na casa dela, destrua tudo. Faça parecer com um
assalto, mas quero uma calcinha usada como presente. Pode fazer isso? —
Continuo tocando-me. — Obrigado irmão.
Finjo que estou calmo para não causar alvoroço, piorando a situação. O
sangue se agita nas minhas veias. Minha vontade é ir de encontro e estourar
sua cara a ponto de deixá-lo irreconhecível. Queria ver se é tão machão com
um homem, ou, se bate só em mulheres. Covarde, filho da puta. Tento
controlar os pensamentos homicidas que rondam minha cabeça.
— Não sei, e não quero saber, já que, não vai se livrar desse delegado tão
fácil. Agora vai. — Ajudo-a levantar e dou um tapa na sua bunda.
Levanto do sofá, ajeito o saco dentro da cueca e, com o pau duro, ando
pela sala em busca do celular. Tenho certeza de que se Camilly me
encontrasse assim, iria saber aproveitar muito bem, mas, tenho que trabalhar.
Primeiro trabalho, prazer depois. Apesar de que uma rapidinha seria no
máximo dez minutos.
— Hoje não princesa. Tenho que voltar para a deleg... — Sou calado por
uma visão maravilhosa.
Seguro suas pernas empurrando para o meio da mesa, apoio nos meus
ombros. Posso ver os brilhos naqueles olhos castanhos, ansiosa, desejando e
prevendo meus movimentos. Deslizo a língua suavemente por sua fenda,
saboreando o néctar da sua excitação. Subo e desço diversas vezes. Sugo com
força o clitóris, o som dos gemidos é como uma doce melodia. Penetro
novamente os dedos na sua boceta fodendo-a com força junto com minha
boca que brinca deliciosamente, lambendo, chupando.
Não demora, e sinto o líquido quente na ponta da minha língua, junto com
espasmos do corpo ondulando por cima da mesa. Ergo os olhos apreciando a
melhor vista de todas. Engulo até a última gota e, afasto-me. Recuo alguns
passos para trás, ofegante e com as bochechas coradas, Camilly tenta se
recuperar do orgasmo.
— Quero que uma pessoa fale por vez, ou vou prender todo mundo.
Entenderam?
— É... Eu... Tirei uma foto da vendedora. Sabe, ela era muito gostosa. —
Sou surpreendido por um dos meninos.
Acho que preciso fazer uma visita na casa do professor Luca, se ele tem
uma ligação com aquele louco maldito, e ele está em Nova York, pode ser
que vá até sua casa. E mais, leve a mulher junto. Saio da sala trancando a
porta. No caminho para saída, encontro com o detetive Parker em frente à
máquina de café.
Não sei ao certo quanto tempo fiquei prostrada no chão. Apoio às mãos
na parede e, levanto lentamente sentindo as dores nos joelhos. Engulo os
soluços de desespero, e termino o banho.
— Ah tá, tá, que seja. Então, não quer saber o que tenho aqui. — Ergue o
envelope pardo no ar.
Droga! Se deixá-lo entrar terei problemas com Brian, mas, preciso saber o
que tem lá dentro. Com certeza é algo importante, senão, ele não iria se der o
trabalho de vir até aqui.
— Sim, atrapalhou, mas o que tem a? — Faço gesto pedindo que sente no
sofá.
— Veja você mesma. — Estica o envelope para mim.
“Nome, local de nascimento, data, hora, nome dos pais, mas o principal
GEMELAR um Luca, e GEMELAR dois Spencer”
Gêmeos? Gêmeos? Não pode ser. Luca e Spencer, irmãos? Não, isso é
falso. É uma brincadeira de muito mau gosto. Impossível, eu saberia se ele
tivesse um irmão, ainda mais gêmeo.
— É falso, John. Spencer não tem um irmão. Convivi com ele tantos
anos, e ninguém nem mesmo a família falou sobre isso. E Luca? Meu
professor? Isso não está certo.
Ouço sua voz de longe me chamando. Mas, não dou a mínima atenção,
tenho algo mais importante para fazer.
Ouço o som de uma porta de carro e uma segunda voz masculina, mas
estou tão desesperada que não ter qualquer raciocínio logico, é impossível.
Meu agressor, gira o corpo me jogando no banco de trás, e entra ao meu lado,
batendo a porta com força. Pronta para gritar, chutar, arranhar, morder, o que
fosse necessário para sobreviver.
— Não vem com essa. Por que veio até a casa desse cara?
— Pode começar falar, sabe que está encrencada. — Posso sentir seus
olhos fuzilando-me.
— Hum. Bem pensado. Não é à toa que amo essa mulher. — Delegado
sorri, deslizando as pontas dos dedos por meu braço.
Luca abre a porta-malas com a chave do carro, e retira uma pequena mala
de mão. Ambos conversam gesticulando. A mulher, chamada Sheron.
Aparentemente não mostra interesse na conversa, já que não desvia os olhos
da tela do celular. Provavelmente seduzindo jovens para usarem suas drogas,
maldita.
— Senhor. E aquela mala, pode estar com a nova substância para venda
— Parker, comenta.
Spencer, pega a mala das mãos de Luca, abre o zíper e confere o que está
dentro. Fecho os olhos torcendo para que pegue o material na mão expondo
para nós, mas é só um desejo inútil. Sorrindo, ele puxa a carteira do bolso, e
entrega uma quantia em dinheiro para seu irmão.
— Como? — questiono.
— Posso entrar na casa dele, e instalar. Tenho certeza de que ele não
desconfiaria de mim, além do mais, sou a única que posso me aproximar sem
levantar quaisquer suspeitas.
Como é que é? Acho que não estou escutando muito bem, ela quer entrar
na casa desse desgraçado, instalar o equipamento correndo o risco de ser
pega, e deus lá sabe o que pode acontecer? Definitivamente essa mulher não
tem juízo.
— Brian, querido. Pensa bem, ele não irá me fazer mal, por enquanto.
Vocês podem esperar do lado de fora, e qualquer coisa anormal, peço ajuda.
Por favor.
— Vai dar tudo certo. — Ela segura por cima da minha mão que segura o
câmbio de marcha.
— Posso ir embora com seu carro, amanhã cedo o devolvo sem falta —
digo com a cabeça baixa.
— O quê? Como assim? Você vai embora? Por que não vai dormir em
casa? — Posso sentir em seu tom de voz que está surpresa, assustada.
Por vezes quando esse sentimento de medo tomava conta da minha alma,
corria para o cemitério, buscar consolo no túmulo de Sheron. Mas, desde que
senti o cheiro do perfume da cafeteria, tenho uma sensação estranha sobre
isso. Não contei para ninguém, é muito pessoal, e com certeza diriam que
estou louco. Impossível outra pessoa ter produzido a mesma fragrância.
Confesso que cheguei a pensar que ela estava viva, mas como poderia? Qual
seria a explicação para forjar a própria morte? Éramos felizes, tínhamos uma
boa vida, sua única reclamação era minha falta de tempo devido ao trabalho
na delegacia.
Sinto olhares curiosos dos vizinhos. Claro, devem estar pensando que
enlouqueci de vez. Só posso dizer “cuidem das suas vidas de merda”.
E por que seu irmão criou uma identidade nova, inclusive, rosto novo
também? É como se estivesse fugindo, escondendo-se.
Coloco a caneca no chão, aconchegando-me ainda mais entre as
almofadas, causando uma sensação de conforto no meu corpo. Minhas
pálpebras começam pesar, e a cada piscada sinto que estou mais perto de
apagar completamente. Assim que descansar um pouco, irei até a casa de
Brian checar se está tudo bem preciso ter certeza de que meu ogro metido a
príncipe encantado se encontra em perfeito juízo.
Tento levantar, mas não consigo. Minhas mãos, e pés, estão amarrados
com cordas, prendendo-me no lugar. Não posso fugir. O som dos seus passos
se aproximando do quarto, faz com que meu coração bata acelerado. Quero
gritar por socorro, implorar por ajuda, mas quem viria ao meu socorro?
Bato na porta uma, duas, na terceira vez, chamo seu nome e não tenho
resposta. Preocupada, seguro na fechadura e a abro. Para minha surpresa não
estava trancada. Empurro cautelosamente, e entro.
Sinto o ar faltando dos meus pulmões. Para a casa estar desse jeito,
alguém pode ter vindo atrás do meu delegado. Será que o levaram, ou pior,
matou ele. Encosto na parede recuperando o fôlego. Não está na delegacia
porque já falei com Parker, a casa desse jeito. Spencer descobriu tudo e para
se vingar, pegou Brian.
Não sei o que me deixa mais chocada, o fato de a falecida estar viva, ou
de ver um homem como o delegado Brian Garcia, chorando de soluçar.
Mas, como aquela mulher desgraçada, sem coração, pode fingir a própria
morte? Que tipo de pessoa ela é? Sempre ouvi o quanto era doce, gentil,
delicada. É uma cretina. Quero arrancar seus olhos e fritar igual bolinho de
queijo. Maldita, eu vou acabar com a vida dela, assim como ela acabou com a
vida do homem que amo por tantos anos. A culpa por sua morte corroeu a
alma do delegado por tantos anos. Quantas vezes ele chorou no túmulo vazio
dessa vadia.
Para não acordá-lo, saio da casa indo até o jardim. Digito o número do
celular do detetive Parker. Assim que atende à ligação explico tudo que
aconteceu, e peço que venha ao nosso encontro para me ajudar. Mediante a
situação que a casa se encontra, não quero correr o risco de ele ter outra crise
e se machucar mais gravemente.
Como ela pode fazer isso? Por que não pediu simplesmente o divórcio? O
mais estranho nisso tudo é que não estou surpresa.
Sem pensar duas vezes, chutei o Floquinho para fora da varanda jogando-
o no gramado do jardim. Nos meus lábios, um sorriso triunfante. Claro, meu
irmão iria sofrer momentaneamente, já que tinha criado afeição, mas tenho
certeza de que logo mal se lembrará desse animal inútil.
— Não, me perdoe.
— Hilary.
— Olá Hilary, sou Luca, filho do dono da casa. Essa bela festa foi para
mim e meu irmão.
Não posso deixar essa oportunidade escapar por entre os dedos, além do
mais, quem vai acreditar em uma empregadinha que seduziu o filho de uma
família rica.
A expressão em seu rosto ao notar que não tem nada dentro do pequeno
cômodo, além da bomba de limpeza, é impagável, excitante. Antes que possa
correr, gritar ou qualquer outra reação. Seguro seus braços puxando-a para
dentro. Cubro a boca com uma mão, e com um pé chuto a porta fechando-a.
Abro o botão da sua calça, descendo o tecido até os pés junto com a
calcinha de algodão. Salivando, encaro sua boceta lisa, preciosa.
Rapidamente, desato o cinto de couro, abaixando calça, cueca, tudo que
estava no caminho. Separo as pernas com joelho, ficando entre elas. Enfio o
pau dentro do seu centro apertado. Como um animal selvagem, invisto
inúmeras vezes, cada vez mais forte. Agarro seus seios por cima do tecido
apertando, esmagando com os dedos. A cada arremetida, o cinto balança
atrapalhando. Por um momento paro de me movimentar, e o puxo do cós,
jogando de lado.
Distraído, sou pego de surpresa ao vê-la abrindo os olhos. Hilary
despertou totalmente desnorteada, com sangue escorrendo por sua testa.
Assim que recobra complemente o senso, faz menção de gritar por socorro.
Encaro-a pensando em uma solução, e ao notar o cinto, sei o que devo fazer.
Rapidamente, o pego e enrolo em volta do pescoço da jovem. Uso a fivela
para prendê-la. Seguro com as duas mãos o material de couro puxando com
força. Suas mãos se debatem contra meu corpo, porém fraca com o
machucado, é impossível escapar. Excitado, continuo investindo contra sua
boceta. A sensação de estrangulá-la e fodê-la ao mesmo tempo é um prazer
que jamais imaginei sentir na vida.
E o corpo da empregada? Não sei, ninguém nunca mais falou sobre isso.
Fui enviado para o exílio, como se nunca tivesse existido. Sendo tratado
como um animal enjaulado por anos, até que um belo dia recebi uma visita
inesperada.
— Não posso dizer que estou me sentindo bem, mas estou melhor. —
Deito de costas no colchão encarando o teto.
Sheron... Sheron...
— Olá Camilly.
No fundo da minha alma, quero sair correndo para longe desse homem.
Vê-lo sorrindo na minha frente é aterrorizante, sinto tanto medo, me sinto
fraca. Mas, não posso rejeitar sua visita, só iria gerar desconfiança, o que
poderia tornar a situação ainda mais perigosa. Forçando um sorriso simpático
no rosto, aponto com a mão para dentro do apartamento, indicando que entre.
Respiro fundo, engolindo em seco. Posso sentir o suor das minhas mãos
trêmulas. Você consegue, é só fingir que está tudo bem, seja cordial, sorria.
Força.
— Pode ser água, por favor — responde encarando a janela que dá acesso
à escada de incêndio.
Até mesmo sua voz me causa calafrios. Por um momento, analiso seu
corpo por trás, as costas, os ombros largos são parecidos. Claro, sua maluca
ele é gêmeo. Acho que estou paranoica com essa história de serem irmãos.
Durante dois anos foi meu professor, tutor na faculdade, será que sempre
soube que era a esposa de Spencer? Provavelmente igual a vilão de filme,
planejando a vingança fria e calculista durante anos.
— Luca, eu juro, não sei do que está falando. Olha, se me soltar, finjo que
nada aconteceu e esqueço tudo isso.
E como há muitos anos não acontecia, sou agredida com uma tapa no
lado esquerdo do rosto. Engulo em seco, erguendo a cabeça, enquanto sinto a
face queimando com a marca dos dedos de sua mão.
— Não querida, ainda é casada com meu irmão. Existe uma série muito
famosa no Brasil, qual era o nome mesmo? Ah “dona flor e seus dois
maridos”.
— Como pode não notar a diferença? Spencer tem uma cicatriz nas costas
de quando éramos crianças e caiu da árvore. E eu, não.
Não tenho palavras para responder, não consigo reagir, gritar, chorar,
nada. Estou em choque, paralisada. Apoio à cabeça no encosto, encarando a
parede branca. Cada segundo que passa a voz de Luca se torna mais distante,
abafada, até que não ouço quaisquer ruídos ao meu redor. Minha mente se
perde em um espaço paralelo, cálido, límpido, puro.
— Hum, confesso que estou surpreso como se tornou corajosa. Quero ver
quanto tempo vai durar toda essa coragem.
Bato uma, duas, três, na quarta vez faço força arrombando a fechadura.
Que se danem protocolos e processo. Irrompemos dentro do apartamento, e
somos surpreendidos ao encontrá-lo vazio. Procuramos em todos os cômodos
e não encontramos nada. No quarto onde estava instalado o sistema de
vigilância dos condôminos, computadores destroçados, o cretino tentou
apagar quaisquer evidências do crime que cometeu. Ethan me chama do
quarto no final do corredor, com as portas do armário abertas, conferimos que
tudo foi levado na fuga, inclusive suas roupas.
Spencer sabia muito bem que não podíamos usar imagens de uma câmera
clandestina caso seja levado ao tribunal, ainda mais, sendo do FBI. Iria
prejudicar a carreira do meu amigo.
— MALDITO — berro.
Respiro fundo, conto até cem, mas o impulso de vingança, e desespero é
tão grande que mal posso controlar. Sem dizer nenhuma palavra, me afasto
de Ethan e saio correndo para nosso apartamento. Pego a carteira, e chave do
carro. Eu sei muito bem quem vai me dar algumas explicações.
Estaciono o carro de qualquer jeito pegando duas vagas dos alunos da
faculdade. Com passos largos, praticamente corro para dentro do prédio da
faculdade de direito onde Camilly fez seu curso. Desvio dos jovens no
corredor, procurando a sala daquele filho da mãe. Tenho certeza de que aos
olhos dos estranhos, pareço um homem descontrolado com expressão de
maluco, talvez esteja mesmo, doido para acabar com a vida desses gêmeos.
De longe, vejo quando Luca encosta no batente da porta conversando
com um jovem. A raiva me deixa completamente cego, e sem pensar duas
vezes, impulsivamente corro em sua direção. Conforme me aproximo, fecho
a mão em punho, e soco diretamente no seu rosto fazendo-o cambalear e cair
de costas no chão.
Gritos, seguidos de vozes, comoção entre os alunos. Nada disso é capaz
de me fazer parar. Sento-me por cima do seu quadril, agarro a gola da sua
camisa manchada de sangue, e soco novamente, e outra vez.
— ONDE ELA ESTÁ? — grito, aproximando o rosto.
Confesso que fico surpreso ao notar o sorriso de maníaco em seus lábios.
Luca está se divertindo com o espetáculo. Desgraçado, posso matá-lo, mas
jamais irá me contar onde ela está.
— Acabou senhor delegado — retruca deslizando a língua entre os lábios
lambendo o sangue.
Impressionado com sua loucura, solto sua camisa, levanto e recuo alguns
passos para trás. Antes que vire caso de polícia, e complique ainda mais as
coisas. Corro para a saída mais próxima, fugindo da cena como um perfeito
criminoso.
✽✽✽
— Cami, amor, acorda, por favor. Cadê essa ambulância? — Ouço longe
a voz de Brian, mas não consigo abrir os olhos.
Sua voz vem e vai, vem e vai. A escuridão quer me levar por completo,
mas resisto me agarrando a boas lembranças dos momentos que vivenciei.
Abro os olhos com dificuldade e vejo que estou deitada no chão, e mais
alguns metros o carro capotado. Ethan se esforça para tirar Luca de dentro do
carro, mas suas pernas ficaram presas na lataria da porta.
— Brian? Cara isso aqui tá feio, está vazando gasolina por tudo. Não
tenho como tirar ele daqui, os bombeiros devem estar chegando — grita o
nerd motoqueiro.
— Sai daí, vem para cá. Deixe esse maldito.
Levo uma mão até a cabeça e algo pegajoso gruda nos meus dedos, sinto
no rosto, nos braços. Brian debruça o corpo por cima do meu, chorando,
pedindo perdão. Quero dizer que não tem nada para se perdoar, que não foi
sua culpa, mas a cada movimento é como se facas fossem enfiadas sob minha
pele. Ethan se agacha, segura meu pulso medindo os batimentos cardíacos.
E então, somos surpreendidos com uma grande explosão. Luca que ainda
estava dentro do carro, explode queimando seu corpo junto com o que sobrou
da lataria do automóvel, colocando ponto final na sua loucura. O choque de
vê-lo morrer queimado me faz desmaiar novamente.
Ouço batidas na porta, não é possível que seja outra visita. Além do mais o
horário de visita do hospital já acabou.
— Pode entrar. — Puxo o lençol cobrindo a perna engessada.
Quem mais conseguiria enrolar as enfermeiras do que o nosso querido
John. Balanço a cabeça sorrindo, onde esse cretino estava quando precisei
dele? Capitão T já tem suas próprias batalhas, e demônios internos para lidar.
— Fiquei sabendo que acabou com o maluco. Garota esperta. — Coloca o
buquê de flores em cima do criado mudo.
— Eu se fosse você ficaria com os olhos bem abertos de agora em diante
— ameaço sorrindo.
— Uh que medo. Terá que esperar eu voltar do Brasil para cumprir sua
ameaça.
— Brasil? O que vai fazer lá?
— Está querendo saber demais, gatinha.
— Entendi, sem perguntas.
Explico nos mínimos detalhes como aconteceu, desde a surra na morta
viva que agora está morta, até o acidente de carro. E como Ethan foi genial ao
instalar um localizador no celular do seu amigo sem ninguém saber. Mas algo
me deixou intrigada. Brian tentou entrar em contato com os pais dos gêmeos
malucos e, só então, descobrimos que sofreram um acidente de carro fatal.
Muito cômodo para os filhos, já que herdaram toda a herança. Será que estou
sendo paranoica e, imaginando coisas?
Peço para que John me ajude levantar da cama. Estou no hospital há
quase dez dias. Algumas fraturas, costelas quebradas, hematomas pelo corpo,
nada muito grave. Ficar deitada o dia inteiro é entediante. Agendei uma
reunião com meus advogados no dia seguinte e quero saber se estou no
mínimo apresentável. Apoiando-me, John caminha lentamente ao meu lado
até o banheiro.
Quando encaro o reflexo no espelho, tenho a sensação de ter voltado no
tempo. Na época que olhos inchados, roxos, cortes nos lábios, faziam parte
da rotina.
— Essa não é mais você — repito para mim mesma.
Despeço-me do capitão, com direito a abraço e tudo, já que não sei se
voltará vivo ou quando irei vê-lo novamente. A enfermeira chefe entra no
quarto com a bandeja e os medicamentos. O líquido injetado na seringa em
prazo de minutos me faz dormir tranquilamente.
Os primeiros raios de sol atravessam a janela banhando minha cama.
Abro os olhos preguiçosamente. Chamo a enfermeira através da campainha
solicitando meu café da manhã. Tenho que me preparar para os advogados. A
porta se abre e um delegado afoito entra rapidamente segurando uma enorme
caixa nas mãos.
— Oi amor, o que é isso? — cumprimento-o com um beijo suave nos
lábios.
— É para você. Ia dar quando saísse do hospital, mas não aguento mais
esperar.
— Mas é bem grande — respondo desconfiada.
— Ethan e Parker disse que vai gostar.
— Por falar no detetive, quando ele terá alta?
— Ainda não temos certeza. O homem passou pelo fio da navalha, mais
alguns centímetros e aquela bala teria perfurado seu coração. Pura sorte do
detetive. Vai abrir ou não?
— Okay. Okay. Ansioso.
Puxo as abas da caixa de papel, e de repente, bexigas rosa e branca sobem
até o teto com linhas penduradas a uma placa, com os dizeres:
“Casa comigo?”
Levo as mãos cobrindo a boca, tento controlar as lágrimas que insistem
em descer umedecendo minha pele. É como um sonho, a princesa que
encontrou seu ogro metido a príncipe encantado. Talvez como “Fiona &
Sherek”? Hã, não. Somos mais bonitos.
— Então, fala alguma coisa. — Agitado anda de um lado para outro.
— SIM. SIM. SIM. Mil vezes sim. Seu grosseirão.
Abraço-o, beijando seus lábios entre sorrisos e lágrimas.
Salva de palmas chama nossa atenção. Em frente à porta do quarto as
enfermeiras da ala, batem palmas comemorando com os olhos marejados.
E viva o amor verdadeiro. Mas se esse delegado acha que pode mandar
em mim depois do casamento terá sérios problemas. Você é o delegado Brian
Garcia, mas quem manda aqui, SOU EU.
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