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AO DOUTO JUÍZO DA __ VARA DO JUIZADO ESPECIAL CIVEL DA COMARCA DE

_______________/__.

Processo nº 0000000-00.2020.8.00.0001

HERMIONE GRANGER, já qualificada nos autos da AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA


DE DÉBITO C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COM PEDIDO DE TUTELA DE
URGÊNCIA, processo em epígrafe, que move contra BANCO GRINGOTES , por seus
procuradores signatá rios, legalmente constituídas, vem, respeitosamente à presença de
Vossa Excelência, apresentar CONTRARRAZÕES AO RECURSO INOMINADO interposto
pelo Réu, requerendo se digne Vossa Excelência recebê-las e, apó s o cumprimento das
formalidades legais, determinar o seu encaminhamento à instâ ncia “ad quem”.
Estes sã o os termos, em que pede e espera deferimento.
(CIDADE), (DATA).
ADVOGADO
OAB/__ 000000

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE ________


Processo: 0000000-00.2020.8.00.0001
Recorrente: BANCO GRINGOTES
Recorrida: HERMIONE GRANGER
Origem: __ VARA DO JUIZADO ESPECIAL CIVEL DA COMARCA DE _______________/__

CONTRARRAZÕES AO RECURSO INOMINADO


Eminentes Julgadores!
I – DA BREVE SÍNTESE
Trata-se de açã o declarató ria de inexistência de débito c/c pedido de indenizaçã o por
danos morais com pedido de tutela de urgência ajuizado pela Autora, ora Recorrida, em
face do Réu, ora Recorrente.
Isso porque, no mês de junho 2020, a Recorrida procurou sua gerente no BANCO DA
MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS, para solicitar a linha de crédito, e para sua surpresa,
foi informada pela gerente que havia uma pendência/restriçã o em seu CPF, pelo
Recorrente, sendo que nunca firmou qualquer contrato com o mesmo. Ao averiguar a
situaçã o, observou que o débito que gerou a restriçã o do seu CPF nos ó rgã os de proteçã o de
crédito é no valor de R$ 868,30.
Conforme se depreende da sentença proferida, o Juízo “a quo” julgou procedente os
pedidos declinados na exordial apresentada pela Autora, ora Recorrida, mediante os
seguintes termos:
“De acordo com todo o exposto, e pelo mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE o
pedido inicial, com fundamento no artigo 487, I, do Código de Processo Civil, para: a) declarar
a inexistência do débito de R$ 868,30, melhor especificado à folha 18, tornando definitiva a
decisão de folhas 43/45; e b) condenar a ré, ao pagamento à autora, a título de indenização
por danos morais, da quantia de R$ 5.000,00, com incidência de juros da mora, de 1%, ao mês
mais correção monetária, pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça do Estado de
xxxxxxxxxxxxxxx, ambos a partir da data da publicação desta sentença”.
Inconformada com a respeitá vel decisã o, o Recorrente interpô s o Recurso Inominado.
“Data vênia”, nã o merece prosperar o recurso apresentado pelo Recorrente, tendo em vista
a consistência das razõ es que seguem, devendo ser mantida intocada a r. sentença
proferida pelo Juízo “a quo”, senã o vejamos:
II – PRELIMINARMENTE: DA OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. MERA
REPETIÇÃO DOS ARGUMENTOS ANTERIORES
Nota-se nos argumentos do recurso, que o Recorrente SIMPLESMENTE COPIA E COLA
os argumentos trazidos anteriormente trazidos, senão vejamos:
O mesmo se repete em todo recurso, deixando a Recorrida de colacionar a integralidade
dos argumentos repetidos do Recorrente, apenas para nã o tumultuar o processo, sendo
que a identidade de argumentos, a mera repetiçã o, poderá ser analisada pela simples
leitura comparativa entre os argumentos deste recurso e os argumentos anteriores da
recorrente.
Notó rio que a jurisprudência caminha no mesmo sentido, qual seja, o de que a mera
repetiçã o dos argumentos da peça anterior nã o é o suficiente para desconstituir a decisã o
que se pretende combater, sendo que, a regra, é a manutenção da decisão por seus
próprios argumentos, eis que o Recorrente nã o demonstrou as razõ es pelas quais a
decisã o merece ser desconstituída, senã o vejamos:
“AGRAVO INTERNO - MERA REPETIÇÃO DE ARGUMENTOS APRESENTADOS NO AGRAVO DE INSTRUMENTO -
DECISÃO RECORRIDA, ENTRETANTO, QUE SE MANTÉM POR SEUS FUNDAMENTOS - RECURSO IMPROVIDO. (TJ-MS -
AGR: 14663 MS 2005.014663-1/0001.00, Relator: Des. Jorge Eustácio da Silva Frias, Data de Julgamento:
25/10/2005, 1ª Turma Cível, Data de Publicação: 11/11/2005)”.
“AGRAVO INTERNO INTERPOSTO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR QUE NEGOU SEGUIMENTO AO
RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO POR MANIFESTA INADMISSIBILIDADE. RAZÕES RECURSAIS DO AGRAVO
INTERNO AFIRMANDO NÃO TER SIDO A DECISÃO FUNDADA EM SÚMULA OU EM JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA
DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA OU DESTE TRIBUNAL. FUNDAMENTOS DESASOCIADOS DA RAZÃO DE DECIDIR
(RECURSO MANIFESTAMENTE INADMISSÍVEL) MONOCRATICAMENTE ADOTADA PELO RELATOR. MERA REPETIÇÃO
DE ARGUMENTOS APRESENTADOS NO AGRAVO DE INSTRUMENTO E DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OFENSA
AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. AGRAVO INTERNO NÃO CONHECIDO (TJ-PR 889513802 PR 889513-8/02
(Acórdão), Relator: Magnus Venicius Rox, Data de Julgamento: 29/08/2012, 16ª Câmara Cível)”.

Assim, segundo Nelson Nery Junior, “tendo em vista que o recurso visa, precipuamente,
modificar ou anular a decisão considerada injusta ou ilegal, é necessária a apresentação das
razões pelas quais se aponta a ilegalidade ou injustiça da referida decisão judicial”
(Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos , Sã o Paulo: RT, 2000, p. 150).
Deste modo, o Recorrente não cumpre com o princípio da dialeticidade, pois deixa
de enfrentar os fundamentos da decisão recorrida.
No exame dos pressupostos de admissibilidade intrínsecos (cabimento, legitimidade
recursal, interesse recursal), e extrínsecos (tempestividade, preparo, regularidade formal e
inexistência de fato impeditivo), verifica-se na espécie dos autos nã o estar presente a
regularidade formal exigida, ante a ausência de razõ es de fato e de direito contrariando os
fundamentos da decisã o recorrida, impedindo o conhecimento do recurso, por ofensa ao
princípio da dialeticidade, como acima foi relatado.
Também é nesse sentido que se posiciona o Superior Tribunal de Justiça:
“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇAO ESPECÍFICA DOS FUNDAMENTOS DA DECISAO. ENUNCIADO N. 182/STJ. RECURSO INFUNDADO.
MULTA. 1. Em obediência ao princípio da dialeticidade, deve o agravante demonstrar o desacerto da decisão
agravada, não sendo suficiente a impugnação genérica ao decisum combatido. 2. A ausência de efetiva
impugnação a todos os fundamentos da decisão agravada obsta o conhecimento do agravo, consoante
entendimento consolidado na Súmula 182/STJ. 3. Agravo manifestamente inadmissível ou infundado enseja
aplicação de multa do art. 557, 2º, do CPC. 4. AGRAVO REGIMENTAL NAO CONHECIDO, COM APLICAÇAO DE
MULTA (Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 1414927/SC, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe 03/04/2012).”.
“AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO (ART. 544 DO CPC)- FALTA DE IMPUGNAÇAO ESPECÍFICA A UM DOS
FUNDAMENTOS DA DECISAO ATACADA - INCIDÊNCIA DO ART. 544, 4º, I, DO CPC - INTELIGÊNCIA DA SÚMULA
182/STJ - VIOLAÇAO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE, ENSEJANDO A MANUTENÇAO DO PROVIMENTO
HOSTILIZADO POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS - RECURSO NAO CONHECIDO, COM APLICAÇAO DE MULTA. I.
Em razão do princípio da dialeticidade, deve o agravante demonstrar de modo fundamentado o desacerto da
decisão agravada. II. "É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos
da decisão agravada." Súmula 182/STJ. III. Agravo regimental não conhecido, com aplicação de multa (Agravo
Regimental no Agravo em Recurso Especial nº 88.957/RS, Rel. Ministro MARÇO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado
em 06/03/2012, DJe 16/03/2012).”

Os tribunais pá trios, quando da ausência de ataque aos fundamentos da sentença, possuem


como ato nã o conhecer do recurso apresentado, vejamos precedentes:
“APELAÇÃO CÍVEL - AUSÊNCIA DE COMBATE AOS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA - NÃO CONHECIMENTO DO
RECURSO. A apelação que não combate os fundamentos da sentença não preenche os requisitos de admissibilidade
elencados na norma do artigo 1.010 do NCPC, o que implica não conhecimento do recurso. (TJ-MG - AC:
10672120208257002 MG, Relator: Antônio Bispo, Data de Julgamento: 12/09/0017, Câmaras Cíveis / 15ª CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 22/09/2017)”.
“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. RAZÕES RECURSAIS DISSOCIADAS DO FUNDAMENTO DA
SENTENÇA. NÃO CONHECIMENTO DO APELO, PORQUANTO O APELANTE NÃO COMBATE A SENTENÇA. POR
UNANIMIDADE, NÃO CONHECERAM DO RECURSO. (TJ-RS - AC: 70052904315 RS, Relator: Angelo Maraninchi
Giannakos, Data de Julgamento: 28/08/2013, Décima Quinta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça
do dia 04/09/2013)”.

A par disso, conclui-se que em momento algum, sequer em uma linha de seu arrazoado,
referiu-se ao conteú do da decisã o apelada, razã o pela qual as razõ es do presente recurso
estã o dissociadas daquelas consolidadas pelo decisum combatido, constataçã o, por si só ,
capaz de se ter como inexistente qualquer eficaz impugnaçã o à quela, levando a peça
recursal ao inevitá vel nã o-conhecimento.
Sobre o tema a jurisprudência e a doutrina já se manifestaram. Veja-se o que disse, por
primeiro, o Desembargador Araken de Assis, em “Doutrina e Prá tica do Processo Civil
Contemporâ neo, RT 2001”, fls. 327/329, verbis;
“Manifestando seu inconformismo com o ato decisório, indispensável se revela a motivação do recurso, ou seja, as
razões através das quais o recorrente pretende convencer o órgão ad quem do desacerto do órgão a quo.
De resto, o próprio conteúdo das razões merece rigoroso controle. Deve existir simetria entre o decidido e o
alegado no recurso, ou seja, motivação pertinente. Ademais, as razões carecem de atualidade, à vista do ato
impugnado, devendo profligar os argumentos deste, insubstituíveis (as razões) pela simples referência a atos
processuais anteriores. Quer dizer, não se conhece de recurso dotado de motivação per relationem, no qual o
recorrente se reporta a alegações expendidas anteriormente à emanação do ato impugnado.”

Desse modo, houve ferimento ao Princípio da Dialeticidade, pois o Recorrente nã o alega


nem demonstra que a decisã o recorrida nã o está correta, limitando-se, como já dito, apenas
a repetir os argumentos anteriormente já apresentados.
Logo, sem a impugnaçã o específica da decisã o, nos limites em que ela foi proferida, deve ser
reconhecida a impossibilidade de conhecer o Recurso Inominado interposto, por ausência
de requisitos legais, em razã o de violaçã o ao princípio da dialeticidade.
III – DAS RAZÕES PARA O DESPROVIMENTO DO RECURSO INOMINADO
a) DA EXISTÊNCIA DE ATO ILÍCITO DO RECORRENTE E PRESENÇA DE PROVAS
CONCRETAS
Em que pese o Recorrente alegue que inexiste ato ilícito e provas concretas para sua
condenaçã o na presente açã o, tal alegaçã o nã o merece prosperar.
Em primeiro momento, no Recurso Inominado interposto, o Recorrente já alega que a
inclusã o do nome da Recorrida nos ó rgã os de proteçã o ao crédito se deu “em razão dos
atrasos das faturas do Cartão de Crédito, utilizado pelos fraudadores.” Ou seja, o próprio
Recorrente confirma o fato de a Recorrida ter sido fraudada, motivo pelo qual já se
demonstra a existência de provas concretas e da existência de ato ilícito.
Ora, como se sabe, a responsabilidade civil do Recorrente é OBJETIVA, devendo ser
demostrada apenas a conduta (o que ocorreu, vez que negligente por parte do Recorrente),
dano (o que ocorreu, vez que a Recorrida teve seu nome negativado por dívida que nã o
contraiu) e nexo de causalidade (também existente, pois foi em decorrência da conduta do
Recorrente que o enorme dano à Recorrida aconteceu).
Desta forma, TODAS as provas produzidas nos presentes autos são no sentido de que
não foi a Recorrida quem contratou os serviços do Recorrente, ou seja, não foi a
Recorrida a responsável pelo débito que está sendo cobrada.
Excelências, além disto, o pró prio Recorrente possui o dever de fiscalizaçã o ao firmar
planos, pacotes e demais serviços com os supostos clientes, devendo, inclusive, confirmar
documentos e se é de fato a pessoa contratante a mesma apresentada no documento.
Inclusive, o Tribunal Regional Federal da 3ª Regiã o tem entendimento pacificado nesse
sentido, qual seja, do dever de fiscalizaçã o pelo Banco, a fim de evitar fraudes, pois se
ocorrer, sua responsabilidade é OBJETIVA e haverá o dever de indenizar:
“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. DESCONTO INDEVIDO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. EMPRÉSTIMO EM
NOME DO AUTOR FEITO POR ESTRANHO. FRAUDE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO INSS. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DO BANCO CONTRATANTE. DEVER DE FISCALIZAÇÃO. DANO MORAL VERIFICADO. APELAÇÃO
PARCIALMENTE PROVIDA. 1. A questão posta nos autos diz respeito à indenização por danos materiais e morais e
pedido de anulação de contrato, pleiteada por Laerte Martoni em face do Instituto Nacional de Seguridade Social -
INSS e do Banco IBI S/A - Banco Multiplo, em razão de descontos realizados em benefício previdenciário por conta
de empréstimo consignado, supostamente celebrado por terceiro desconhecido em nome do autor. 2. O mérito da
discussão recai sobre o tema da responsabilidade civil do Estado, de modo que se fazem pertinentes algumas
considerações doutrinárias e jurisprudenciais. São elementos da responsabilidade civil a ação ou omissão do
agente, a culpa, o nexo causal e o dano, do qual surge o dever de indenizar. 3. No direito brasileiro, a
responsabilidade civil do Estado é, em regra, objetiva, isto é, prescinde da comprovação de culpa do agente,
bastando-se que se comprove o nexo causal entre a conduta do agente e o dano. Está consagrada na norma do
artigo 37, § 6º, da Constituição Federal. Assim, no caso dos autos, no que concerne à responsabilidade civil do
INSS, é cristalino na jurisprudência que apesar de a autarquia não participar da pactuação do ajuste, a sua
responsabilidade civil é objetiva, principalmente por ser de sua incumbência a fiscalização dos dados pessoais do
segurado, tais como o número do seu CPF, do seu RG e da sua assinatura. 4. No mais, é sabido que a validade do
contrato de empréstimo consignado é matéria de responsabilidade exclusiva da instituição financeira. Entretanto,
diante de reclamação do autor acerca dos descontos realizados em sua aposentadoria, é também evidente que o
INSS tinha o dever de fiscalização. Desse modo, tanto o INSS quanto o corréu Banco Multiplo contribuíram para a
efetivação do prejuízo jurídico carreado ao autor, sendo solidariamente responsáveis pela sua reparação,
consoante os artigo 942, parágrafo único, do Código Civil. Com efeito, verifica-se que a mera comprovação da
ocorrência de fraude não é suficiente para romper o nexo causal e afastar a responsabilidade objetiva. 5. A
doutrina conceitua dano moral enquanto "dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade,
interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio
em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da
órbita do dano moral , porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no
trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de
romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. (Cavalieri, Sérgio. Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2002, p.
549)" 6. Quanto ao prejuízo, nota-se que o simples fato de a verba possuir caráter alimentar já é o suficiente para
se presumir que os descontos indevidos tenham acarretado prejuízos de ordem moral ao segurado. Agrava-se
ainda a situação em razão do demandante ter sido parcialmente privado de sua única fonte de renda. 7. Passa-se,
então, à valoração do quantum indenizatório. Acerca da fixação da indenização por danos morais, é sabido que seu
arbitramento deve obedecer a critérios de razoabilidade e proporcionalidade, observando ainda a condição social
e viabilidade econômica do ofensor e do ofendido, e a proporcionalidade à ofensa, conforme o grau de culpa e
gravidade do dano, sem, contudo, incorrer em enriquecimento ilícito. 8. Logo, frente à dificuldade em estabelecer
com exatidão a equivalência entre o dano e o ressarcimento, o STJ tem procurado definir determinados
parâmetros, a fim de se alcançar um valor atendendo à dupla função, tal qual, reparar o dano buscando minimizar
a dor da vítima e punir o ofensor para que não reincida. 9. Nesse sentido é certo que "na fixação da indenização
por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com moderação, proporcionalmente
ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da empresa, orientando-se o juiz pelos
critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso,
atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não haja enriquecimento
sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos morais
experimentados por aquele que fora lesado."(REsp 1374284/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 27/08/2014, DJe 05/09/2014) 10. No caso em tela, entendo por condenar o INSS e o Banco
Multiplo ao pagamento do valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) a título de danos morais, a ser igualmente divido
entre os réus, incidindo correção monetária a partir desta decisão (Súmula 362 do STJ), e juros de mora a partir do
evento danoso (Súmula 54 do STJ). Fixo os honorários advocatícios em 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação, nos termos do artigo 85, § 3º, I, do novo Código de Processo Civil. 11. Apelação parcialmente provida.
(TRF-3 - AC: 00533515820084039999 SP 0053351-58.2008.4.03.9999, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL
ANTONIO CEDENHO, Data de Julgamento: 28/04/2016, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: e-DJF3 Judicial 1
DATA:06/05/2016)”. (grifos nossos).

Logo, dú vidas inexistem de que a dívida deve ser declarada inexistente, pois nã o foi
contratada em momento algum pela Recorrida, que por sinal é vítima da situação. A
suposta boa-fé do Recorrente em nada afasta seu ato ilícito, pois nã o há que se falar em
pagamento de débito que a Recorrida nã o contraiu.
b) DA PRESENÇA DE NEXO DE CAUSALIDADE
Em que pese o Recorrente narre que, supostamente, inexiste nexo de causalidade no
presente caso, entre açã o ou omissã o culposa do agente e o dano efetivamente
experimentado pela vítima, obviamente nã o merece prosperar.
O pró prio Recorrente alega que: “No caso em tela, manifesto que faltou o liame entre o dano
que a parte Autora alegou ter sofrido e a conduta praticada pelo Banco do Brasil, pois este
último não contribuiu para o prejuízo que aquele alega ter sofrido (apenas autorizou as
transações realizadas em conta, o que é rotineiro da atividade que as Casas Bancárias
prestam), sem contudo, ter participado na elaboração de qualquer evento.”
Ou seja, o Recorrente ADMITE que autorizou as transaçõ es realizadas em conta e ainda
disse que é rotineiro nas casas bancá rias. Ou seja, faltou com o dever de OBSERVÂ NCIA e
FISCALIZAÇÃ O no momento da contrataçã o de serviços por pessoa estranha à Recorrida,
restando-se negligente.
Nesse sentido, entende o Egrégio Tribunal de Justiça de Sã o Paulo:
“DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS – CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA DE EMPRÉSTIMO – PARCIAL PROCEDÊNCIA – PRETENSÃO DE
DEVOLUÇÃO EM DOBRO DOS VALORES INDEVIDAMENTE TRANSFERIDOS DE SUA CONTA CORRENTE – CABIMENTO
PARCIAL – O banco réu deve responder pelos danos causados à autora, sendo necessário que restitua os valores
correspondentes à operação financeira impugnada, tal como postulado na petição inicial, de forma a trazer a
situação patrimonial do autora e de sua conta corrente o mais próximo possível do status quo ante, em relação
aos atos fraudulentos negligenciados - Restituição contudo, que deverá ser feita de forma simples, por não se
verificar má-fé da instituição apelada no caso concreto – Recurso parcialmente provido, nessa parte.
DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO CUMULADA INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS –
FRAUDE PERPETRADA NOS SERVIÇOS BANCÁRIOS – PARCIAL PROCEDÊNCIA – PRETENSÃO DE MAJORAÇÃO DA
INDENIZAÇÃO FIXADA A TÍTULO DE DANOS MORAIS – DESCABIMENTO - Indenização por dano moral fixada em R$
5.000,00, já é adequada e parcimoniosa ao caso, e foi fixada na origem, segundo os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade. Recurso desprovido. (TJ-SP - AC: 10160039520198260309 SP 1016003-
95.2019.8.26.0309, Relator: Walter Fonseca, Data de Julgamento: 18/08/2020, 11ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 18/08/2020)”. (grifos nossos).

Tal conduta, de falta de cautela, negligência, omissã o, foi o que ocasionou o dano à
Recorrida, como provado. Inclusive, como se trata de responsabilidade objetiva, nem a
culpa precisaria ser provada nesse caso.
Por esse motivo, nã o restam dú vidas acerca da existência do nexo de causalidade e de
todos os demais elementos da responsabilidade civil para a condenaçã o do Recorrente e da
declaraçã o de inexigibilidade da dívida em nome da Recorrida.
c) DA AUSÊNCIA DE CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA/ FATO DE TERCEIRO
Ainda, o Recorrente alega culpa exclusiva da vítima ou de terceiro, requerendo que seja
afastada a sua responsabilidade.
Ocorre que, como já bem explicado nos autos, o Recorrente faltou com seu dever de
verificar a pessoa contratante dos serviços, gerando à Recorrida os débitos que ela nem
mesmo contratou. Independentemente se foi uma outra pessoa que contratou os planos, se
passando pela Recorrida, a responsabilidade é OBJETIVA do Recorrente, pois se trata de
atividades bancá rias.
Outrossim, nã o pode o Recorrente alegar tais excludentes sem que prove cabalmente suas
alegaçõ es, por forçado artigo 373, inciso II, do Có digo de Processo Civil, que assim prevê, in
verbis:
“Art. 373. O ônus da prova incumbe:
(...)
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.”

Logo, deixou o Recorrente de provar a existência de fato impeditivo, modificado ou


extintivo do direito da Recorrida, trazendo aos autos apenas meras alegaçõ es, sem respaldo
legal ou provas em sentido contrá rio.
Do mesmo modo, o Egrégio Tribunal de Justiça de Sã o Paulo já entendeu que nã o há que se
falar em excludente de responsabilidade civil por fato de terceiro nessa situaçã o, como
podemos observar:
“AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. Fraude em boleto bancário, ensejando a destinação de
numerário para conta bancária de terceiro. Sentença de procedência para condenar os corréus Banco CBSS e
Banco Inter ao pagamento de danos materiais e morais. Pretensão para reforma da sentença. Inadmissibilidade.
Ilegitimidade passiva. Inocorrência. Legitimidade passiva do Banco Intermedium S/A, pois a fraude praticada se
deu no âmbito de sua atividade econômica que, in casu, consistiu na operacionalização do pagamento do boleto
na agência bancária. Preliminar rejeitada. Inequívoca falha de segurança no tratamento dos dados pessoais do
consumidor pelo Banco CBSS e na conferência dos dados bancários por parte do Banco Intermedium, no
pagamento realizado junto à agência bancária. Inexistência de fato de terceiro. Fortuito interno. Aplicação da
súmula nº 479 do E. STJ. Má prestação do serviço pelos bancos que evidencia sua responsabilidade pelos danos
causados. Sentença reformada. Recursos parcialmente providos. (TJ-SP - RI: 10026008920198260008 SP 1002600-
89.2019.8.26.0008, Relator: Paulo Roberto Fadigas Cesar, Data de Julgamento: 31/07/2020, 1ª Turma Recursal
Cível e Criminal, Data de Publicação: 31/07/2020)”.

Assim sendo, nã o é possível que seja acatada a alegaçã o de tais excludentes de


responsabilidade civil.
d) DA EXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS INDENIZÁVEIS
Por fim, aduz o Recorrente, supostamente, inexistir danos morais indenizá veis, uma vez
que a Recorrida nã o teria comprovado os danos por ela sofridos. Ainda, alega que foi tã o
vítima quanto à Recorrida e que, por isso, supostamente nã o pode ser responsabilizado.
Novamente afirmou o Recorrente, com os mesmos argumentos anteriores da contestaçã o,
que esteve de boa-fé e que nã o havia como presumir a falsidade dos documentos, o que nã o
merece prosperar.
No entanto, primeiro que é DEVER do Recorrente, como instituiçã o bancá ria, fiscalizar a
documentaçã o no momento da contrataçã o. Segundo que, mesmo que supostamente
estivesse de boa-fé e supostamente tenha sido vítima também, ainda assim há o dever de
indenizar, pois presentes os requisitos ensejadores da responsabilidade civil, como
já demonstrado, sem qualquer excludente de responsabilidade civil.
Nesse sentido, os julgados que seguem o Egrégio Tribunal de Justiça de Sã o Paulo, em casos
aná logos:
"Recurso Inominado. Consumidor. Ação de danos morais. Banco. Fraude. Ilegitimidade passiva e incompetência do
Juizado Especial afastadas. Financiamento indevido no nome da autora. Falha na prestação do serviço. Risco da
própria atividade. Responsabilidade Objetiva (Súmula 479/STJ). Indenização fixada que atende os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade. Sentença mantida por seus próprios fundamentos. Recurso improvido". (TJ-
SP - RI: 00069915220178260048 SP 0006991-52.2017.8.26.0048, Relator: Carlos Henrique Scala de Almeida, Data
de Julgamento: 25/05/2018, 1ª Turma Cível e Criminal, Data de Publicação: 28/05/2018)”. (grifos nossos).
“DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÍVIDA C.C REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. Banco. Fraude. Contrato
firmado por terceiro. Falsificação grosseira. Inscrição indevida. Declaração de inexigibilidade da dívida bem
decretada. Aplicação do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, com inversão do ônus da prova.
Incumbência do réu quanto à comprovação do fato extintivo do direito da autora (artigo 333, inciso II, do Código
de Processo Civil). Aplicação, ademais, do disposto no artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor.
DANOS MORAIS. Caracterização. Inaplicabilidade da Súmula 385 do STJ. Ausência de comprovação pelo réu das
datas das inclusões de apontamentos anteriores. Ademais, a autora comprovou que os débitos estão sendo
discutidos judicialmente. Redução do "quantum" indenizatório. Inadmissibilidade. Arbitramento que atendeu
aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade. Sentença mantida. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJ-SP - APL:
01486860820128260100 SP 0148686-08.2012.8.26.0100, Relator: Fernando Sastre Redondo, Data de Julgamento:
05/08/2015, 38ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 08/08/2015)”. (grifos nossos).

Inclusive, como bem reforçado na r. sentença, a boa-fé não é o suficiente para afastar
os pedidos autorais.
Por fim, o valor requerido à título de danos morais está em conformidade com os princípios
da razoabilidade e proporcionalidade, sendo, inclusive, o patamar fixado pelos mais
diversos Tribunais em casos aná logos.
IV – CONCLUSÃO
Os argumentos apresentados em sede de Recurso Inominado pelo Recorrente sã o
destituídos de qualquer fundamentaçã o plausível, visto que objetivam beneficiar somente
os interesses do mesmo.
Desta forma, requer-se, preliminarmente, o não conhecimento do recurso ora
contrarrazoado, tendo em vista a ofensa ao princípio da dialeticidade.
Ademais, no mérito, a r. sentença proferida pelo Juízo “a quo”, há que ser confirmada, pelos
seus pró prios fundamentos, para que seja NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO
INOMINADO interposto pelo Réu, ora Recorrente.
EM RAZÃ O DO EXPOSTO, por qualquer â ngulo que se observe, forçoso que este Juízo afaste
a pretensã o do Recorrente, motivo pelo qual, através das razõ es apresentadas, confia o
apelado que Vossas Excelências irã o refutar os argumentos expendidos no Recurso
Inominado apresentado, mantendo-se intacta a r. sentença proferida, no que pertine aos
tó picos esposados, para que reste negado provimento a estes, como medida de J U S T I Ç A.
Estes sã o os termos, em que pede e espera deferimento.
(CIDADE), (DATA).
ADVOGADO
OAB/__ 000000

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Petição elaborada por Kizi Roloff, criadora do Iuris Petições - Serviço de Elaboração
de Petições sob medida para Advogados Modernos ( www.iurispeticoes.com /
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