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Acordao
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1ª CÂMARA CRIMINAL
I - RELATÓRIO
“FATO 1
No dia 05 de janeiro de 2019, por volta das 20h00min, no estabelecimento denominado bar do Ziel,
situado no Distrito de Calógeras, área rural deste município, o denunciado ANTÔNIO DOS REIS,
com consciência e vontade, portanto, dolosamente, com intenção homicida, matou FLAVIO
VASQUES DA COSTA ao efetuar diversos golpes de punhal em seu tórax, o que ocasionou
hemorragia interna aguda, que foi a causa eficiente de sua morte, conforme Boletim de Ocorrência
n° 2019/19739 às fls. 04/08, Certidão de Óbito à fl. 11, Termo de Declaração às fls. 13/14, Termo
de Declaração às fls. 16/17, Termo de Declaração às fls. 29/30, Termo de Depoimento às fls. 31
/33, Termo de Depoimento às fls. 35/36, Laudo de Exame de Necropsia à fl. 48.
O crime foi cometido motivo fútil, posto que em virtude do não pagamento de dívida que a vítima
possuía com o denunciado”.
Encerrada a primeira fase da instrução processual, foi julgada procedente a denúncia para
pronunciar o acusado pela prática do delito de homicídio qualificado, previsto no artigo o 121, § 2º,
inciso II, do Código Penal (mov. 220.1). A decisão transitou em julgado em 28/11/2022 (mov. 241).
Em conformidade com a decisão soberana dos Jurados, o Dr. Juiz Presidente proferiu a r.
sentença (mov. 729.1), estabelecendo a pena privativa de liberdade em 12 (doze) anos de reclusão, a ser
cumprida em regime inicial fechado, concedido o direito de recorrer em liberdade.
Nas suas razões recursais (mov. 733.1), a Defesa requer a anulação do julgamento, por ser a
decisão do Conselho de Sentença manifestamente contrária à prova dos autos, considerando ter restado
provado que o réu atuou em legítima defesa, uma vez que apenas repeliu injusta agressão, devendo ser
aplicado o princípio in dubio pro reo.
É o relatório.
Isso porque, a sessão Plenária ocorreu no dia 06/10/2023 (sexta-feira), de maneira que o
primeiro dia do prazo foi em 09/10/2023 (segunda-feira) e o último ocorreu em 13/10/2023 (sexta-feira),
data em que houve a suspensão do expediente forense (Decreto Judiciário nº 714/2022). Logo,
tempestiva a interposição havida no dia 16/10/2023 (segunda-feira).
Em que pesem as argumentações expendidas, não assiste razão à Defesa quando almeja a
desconstituição do veredito emanado pelo Conselho de Sentença.
Como se sabe, decisão manifestamente contrária à prova dos autos é aquela que não
encontra amparo algum nos elementos de convicção produzidos ao longo da instrução criminal,
remanescendo, assim, completamente dissociada de todo o conjunto probatório.
“Diante das provas colacionadas aos autos, decorre do princípio constitucional invocado competir
ao Júri a soberania para condenar ou absolver. Frente a esta norma constitucional e à previsão
legal recursal, somente se pode cogitar a anulação da decisão (e aqui sim importaria em novo
julgamento) se a conclusão a que chegar o conselho não tiver amparo razoável ‘em nenhuma’
prova colacionada aos autos. Essa circunstância é extremamente relevante para a análise dos
casos em que se possa admitir o recurso em voga, pois não pode servir como supedâneo para
alterar toda e qualquer decisão dos jurados, que, como referido, têm sua soberania garantida
constitucionalmente.
[...]
Mas é preciso ter extremo cuidado do que Não se poderá pleitear a nulificação decidido pelo Júri
se houver nos autos provas que amparem tanto a condenação quanto a absolvição. Nesse caso,
não se está diante de decisão ‘manifestamente’ contrária à prova dos autos, mas unicamente de
adoção pelo Júri (pelo seu livre convencimento, sequer motivado – uma exceção ao art. 93, IX, CF
/88) de uma das teses amparada por provas presentes nos autos. Nessas situações, não há que se
falar em admissibilidade do recurso de apelação forte no art. 593, III, d, do CPP. ”(Comentários ao
Código de Processo Penal e sua Jurisprudência, 5ª. edição, Editora Atlas, São Paulo, 2013, págs. 1.182/1.183). (Destaquei).
No caso, não há que se falar em anulação do julgamento, uma vez que o veredito
condenatório está em consonância com o acervo probatório, não competindo a esta Corte de Justiça
reavaliar a decisão soberana do Tribunal Popular, que interpretou a prova de acordo com o seu livre
convencimento.
Diante desse contexto, os Jurados chancelaram a versão apresentada pela Acusação, que
lhes pareceu ser mais coerente e verossímil, por estar respaldada nos elementos probatórios carreados aos
autos, não tendo a defesa apresentado prova suficientemente apta a desconstituir a tese ministerial e
convencer o Conselho de Sentença a respeito da atuação do apelante em legítima defesa, conforme
pretende fazer crer a defesa em sede recursal.
Embora o réu alegue que somente feriu a vítima após ter sido atingido por golpes de faca
desferidos por ela, a esposa do ofendido afirma que o ataque do apelante ocorreu abruptamente, depois
que o casal já estava no interior do próprio automóvel, no intuito de deixar o local, retirando a certeza
sobre a necessidade da utilização da arma branca.
A alegada contrariedade à prova dos autos pelo não reconhecimento da tese de legítima
defesa, relaciona-se ao fato de o réu ter apresentado versão diversa das provas que o incriminam pelo
delito descrito na denúncia, o que não se confunde com decisão manifestamente contrária à prova dos
autos.
Nesse sentido:
Assim, em que pese o inconformismo, analisando a prova colhida nos autos, observa-se
que há respaldo probatório suficiente a sustentar a decisão dos Senhores Jurados.
Com efeito, quando existirem duas teses contrárias a respeito do fato criminoso e a escolha
de uma delas estiver amparada pelo conjunto probatório, não será possível desconstituir a decisão do
Conselho de Sentença, sob pena de violação do princípio da soberania dos vereditos do Tribunal do Júri,
expressamente consagrado no artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “c” da Constituição Federal.
O fato de o Conselho de Sentença ter optado por uma das versões verossímeis dos autos e
rechaçado as teses das Defesas, não significa que a decisão tenha sido contrária ao conjunto probatório,
ainda mais quando não se revelou divorciada das provas.
Portanto, a decisão colegiada encontra-se amparada em elementos obtidos durante o
processo, não havendo que se falar na existência de contradição no resultado do julgamento.
Nesse sentido:
III – DISPOSITIVO
O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargadora Lidia Maejima, sem voto, e dele
participaram Desembargador Substituto Sergio Luiz Patitucci (relator), Desembargador Telmo Cherem e
Desembargador Substituto Benjamim Acácio De Moura E Costa.
Relator