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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

15ª CÂMARA CÍVEL

Autos nº. 0069722-92.2022.8.16.0014

Apelação Cível n° 0069722-92.2022.8.16.0014 Ap


4ª Vara Cível de Londrina
Apelante(s): BANCO BMG SA
Apelado(s): GERALDA RODRIGUES DA CRUZ SENA
Relator: Desembargador Jucimar Novochadlo

APELAÇÃO CÍVEL. “AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE


CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO”. 1.
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. RELAÇÃO
JURÍDICA NESTA MODALIDADE CONTRATUAL NÃO COMPROVADA
E DISPONIBILIZAÇÃO DO CRÉDITO NÃO QUESTIONADA.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA QUE CONVERTEU EM EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO. 2. DEVOLUÇÃO EM DOBRO ADMITIDA PARA
COBRANÇAS REALIZADAS APÓS 30.03.2021. TESE FIRMADA NO
EAREsp 676608 DO STJ. RECURSO PROVIDO PARA DETERMINAR
A REPETIÇÃO SIMPLES PARA O PERÍODO ANTERIOR A 30.03.2021.
3. DANO MORAL. NÃO OCORRÊNCIA. MERO ABORRECIMENTO. 4.
ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA REDISTRIBUÍDO.

1.Inexistente nos autos a prova da contratação do cartão de crédito


consignado questionado e não tendo a autora negado o recebimento
do crédito, deve ser mantida a r. sentença que converteu o contrato
em empréstimo consignado.

2. Em consonância com o entendimento firmado pelo Superior


Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do EAREsp nº 676608
/RS, tem-se que a determinação de ressarcimento em dobro,
independentemente do elemento volitivo, deve incidir apenas em
relação às cobranças indevidas ocorridas após 30/03/2021, data de
publicação do acórdão que modulou os efeitos de referida tese para
as demandas não relacionadas à prestação de serviços públicos.

3. É pacífico o entendimento, na jurisprudência, de que a mera


cobrança indevida de serviço não contratado, do qual não resulte
inscrição nos órgãos de proteção ao crédito, se consubstancia em
mero aborrecimento.
4. O ônus de sucumbência deve ser distribuído considerando o
aspecto quantitativo e o jurídico em que cada parte decai de suas
pretensões.

Apelação Cível provida em parte.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n°


0069722-92.2022.8.16.0014 Ap, de Londrina, 4ª Vara Cível, em que figura como Apelante
Banco BMG S.A. e Apelado Geralda Rodrigues da Cruz Sena.

1.Trata-se de recurso de apelação interposto por Banco BMG S.A. em


face de sentença proferida nos autos de ação declaratória de inexigibilidade de débitos c/c
antecipação de tutela e danos morais, autos n. 0069722-92.2022.8.16.0014, a qual julgou
procedente a pretensão inicial “para declarar a nulidade da clausula referente ao desconto
mínimo e determinar a conversão do contrato à modalidade de empréstimo consignado
tradicional incidindo sobre o pacto a taxa média de juros divulgada pelo Banco Central do
Brasil à época da contratação considerando inclusive a natureza consignada do crédito.
Condeno a requerida à restituição, em dobro, dos valores pagos a maior pelo requerente,
acrescido da correção monetária pelo INPC/IGP-DI desde o efetivo desembolso e juros de
mora de 1% ao mês a partir da citação, sendo possível a compensação com valores
eventualmente devidos pelo autor. Condeno a requerida ao pagamento de indenização por
danos morais no valor de R$5.000,00 (cinco mil reais) acrescido da correção monetária pelo
INPC/IGP-DI desde o arbitramento e juros de mora de 1% ao mês a partir da citação. Diante
da sucumbência integral, condeno a parte ré ao pagamento das custas e despesas do
processo, bem como, honorários advocatícios o equivalente à 10% (dez por cento) sobre o
valor da condenação, nos termos do art. 85 §2° do CPC”. (mov.98.1).

Nas razões de recurso, defende a apelante, em síntese, que: a) “as partes


celebraram em 2016 o Contrato de Cartão de Crédito BMG CARD nº 5259.XXXX.XXXX.4114,
oportunidade em que foi acordada, também, a averbação de Reserva de Margem Consignável
(RMC), destinada ao desconto do valor mínimo das faturas que iam sendo geradas conforme a
utilização do cartão, incumbindo a Apelada o pagamento do valor restante da fatura que não
fora objeto de desconto”; b) “através do contrato supracitado, em 25/02/2016, foi
disponibilizado um saque complementar no valor de R$ 1.120,00 (um mil, cento e vinte reais)
através de ordem de pagamento no Banco Itaú Unibanco, na agência 1248. Em 22/08/2017, foi
disponibilizado um saque complementar no valor de R$ 84,28(oitenta e quatro reais e vinte e
oito centavos) através de transferência bancária na Caixa Econômica Federal, na agência 394,
na conta 10039-3. Em 24/06/2019, foi disponibilizado um saque complementar no valor de R$
126,75(cento e vinte e seis reais e setenta e cinco centavos) através de transferência bancária
na Caixa Econômica Federal, na agência 394, na conta 10039-3”; c) “o contrato firmado entre
as partes informa devidamente, de forma clara precisa e acessível, a disponibilização de
crédito mediante saque via cartão de crédito, destacando também que o pagamento apenas
parcial do débito sujeitaria o contratante ao pagamento de encargos sobre o saldo
remanescente, e que seria descontado de forma consignada na folha de pagamento do autor
apenas o valor mínimo da fatura, respeitado o limite de margem consignável aplicável”; d)
inexiste violação ao dever de informação e indevida a condenação ao pagamento de
indenização por danos morais; e) subsidiariamente, requer a redução do quantum
indenizatório; f) é incabível a devolução de valores, inclusive em dobro, pois regular a
cobrança. (mov. 103.1)

Foram apresentadas contrarrazões ao recurso (mov.109.1).

É o relatório.

2. O recurso não merece provimento.

Regularidade da contratação

A controvérsia do recurso cinge-se sobre a regularidade, ou não, da


contratação do cartão de crédito consignado, que teria resultado nos descontos,
supostamente, indevidos, no benefício previdenciário da parte autora. Pois bem.

Extrai-se dos autos que a autora contesta os descontos efetuados em seu


benefício previdenciário relativo ao contrato de cartão de crédito consignado n. 11406752, no
valor de R$ 1.022,00, com parcela de R$ 52,25, averbado em fevereiro de 2017, ao
fundamento de que firmou contrato de empréstimo consignado com desconto em seu
benefício, com prazo certo e valores fixos e não um contrato de cartão de crédito com reserva
de margem consignável.

Ao analisar os autos verifica-se que o réu não juntou qualquer instrumento


contratual que comprovasse a contratação do cartão de crédito consignado n. 11406752, no
valor de R$ 1.022,00, com parcela de R$ 52,25, de fevereiro de 2017, nem mesmo
comprovante de disponibilização de tal crédito.

Note-se que nenhum dos contratos (n. 4106996, n. 41310538, n.


56306703, n. 49532192)juntados com a contestação dizem respeito ao questionado na petição
inicial(mov.15.1, mov. 15.2 mov. 15.4, mov. 15.7). Não há similaridade de numeração, valores,
datas e etc.

O mesmo ocorre com relação às faturas colacionadas, pois não


comprovam a contratação do cartão de crédito consignado questionado, mas os saques
mencionados nos contratos anexados na peça de contestação.

Assim, como a autora não nega ter recebido o valor e o réu não trouxe aos
autos qualquer prova apta a desconstituir os fatos alegados pela parte autora, ônus que lhe
incumbia, nos termos do art. 373, inc. II, do CPC, deve ser mantida a sentença que declarou a
nulidade da clausula referente ao desconto mínimo do cartão de crédito e determinou a
conversão do contrato à modalidade de empréstimo consignado tradicional. Nesse sentido:

APELAÇÕES CÍVEIS 1 (AUTORA) e 2 (INSTITUIÇÃO FINANCEIRA).


AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS. PEDIDO DE AFASTAMENTO DA RESTITUIÇÃO
DE VALORES. INTERESSE RECURSAL. AUSÊNCIA. CARTÃO DE
CRÉDITO CONSIGNADO. REGULARIDADE DA CONTRATAÇÃO NÃO
DEMONSTRADA. READEQUAÇÃO. CONVERSÃO PARA EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO SIMPLES. DANOS MORAIS. NÃO CONFIGURAÇÃO.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. BASE DE CÁLCULO. CASO
CONCRETO. VALOR DA CAUSA. MANUTENÇÃO.1. Carece de interesse
recursal a parte que postula pretensão já decidida a seu favor na sentença.
2. Ausentes elementos probatórios que indiquem a regularidade da
contratação de cartão de crédito consignado, especialmente pela não
apresentação do instrumento contratual, impõe-se a readequação da
operação para empréstimo consignado simples, sobretudo se a parte
autora não negar a relação jurídica havida entre as partes, tampouco o
recebimento de numerário, mas apontar a intenção de ter pactuado
modalidade de crédito diversa.3. Não cabe indenização por danos morais,
quando os prejuízos alegados configurarem mero dissabor.4. Nos termos
do artigo 85, §2º, do Código de Processo Civil, “Os honorários serão
fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor
da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa”.5. Apelação cível 1
conhecida e não provida. Apelação cível 2 parcialmente conhecida e,
nessa parte, não provida.(TJPR - 15ª Câmara Cível - 0004383-
04.2023.8.16.0031 - Guarapuava - Rel.: DESEMBARGADOR LUIZ
CARLOS GABARDO - J. 06.04.2024)

Repetição em dobro

No tocante à impossibilidade da devolução em dobro, merece provimento


em parte o recurso.

O Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o EREsp nº 1.413.542/RS, afeto


ao rito dos recursos repetitivos sob o Tema nº 929, fixou a seguinte tese:

A repetição em dobro, prevista no parágrafo único do art. 42 do cdc, é


cabível quando a cobrança indevida consubstanciar conduta contrária à
boa-fé objetiva, ou seja, deve ocorrer independentemente da natureza do
elemento volitivo.

Todavia, houve a modulação dos efeitos no que concerne à hipótese de


repetição em dobro do indébito, aplicando-se apenas aos pagamentos indevidos realizados
após a publicação do indigitado acórdão, em 30/03/2021, consoante se extrai de trecho da
decisão:

Modulação dos efeitos: Modulam-se os efeitos da presente decisão -


somente com relação à primeira tese - para que o entendimento aqui
fixado quanto à restituição em dobro do indébito seja aplicado apenas a
partir da publicação do presente acórdão. A modulação incide unicamente
em relação às cobranças indevidas em contratos de consumo que não
envolvam prestação de serviços públicos pelo Estado ou por
concessionárias, as quais apenas serão atingidas pelo novo entendimento
quando pagas após a data da publicação do acórdão.

Com isso, tem-se que a restituição em dobro do indébito é devida,


independentemente da natureza do elemento volitivo do fornecedor, apenas em relação às
cobranças indevidas realizadas posteriores à data da publicação do referido acórdão (30/03
/2021). Quanto às cobranças efetivadas anteriormente, necessária a comprovação da má-fé do
fornecedor para que tenha cabimento a devolução em dobro, conforme já se manifestava a
jurisprudência.

No caso concreto, observa-se que o contrato questionado foi incluído no


benefício previdenciário em fevereiro de 2017, conforme extrato de mov. 1.5. Logo, nas
relações jurídicas anteriores à 30.03.2021 deve prevalecer o entendimento de que, para a
imposição da repetição do indébito em dobro, é necessária a comprovação da má-fé do
fornecedor, o que, como se percebe, não ocorreu. À propósito:

AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO E


DANO MORAL. FALSIFICAÇÃO DA ASSINATURA DO AUTOR INDICADA
POR PERÍCIA GRAFOTÉCNICA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA.
IRRESIGNAÇÃO DAS PARTES. DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO.
DESCONTO INDEVIDO. AUSÊNCIA DE CONSEQUÊNCIA
EXTRAORDINÁRIA, CAPAZ DE TRAZER REPERCUSSÃO NA ESFERA
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. ORIENTAÇÃO DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DESTA CÂMARA. REPETIÇÃO EM DOBRO.
APLICABILIDADE PARCIAL DA TESE FIRMADA NO ERESP 1.413.542
/RS, ANTE A MODULAÇÃO DE EFEITOS. ENTENDIMENTO
JURISPRUDENCIAL ANTERIOR ACERCA DA NECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO DA MÁ-FÉ DO FORNECEDOR. PARTE AUTORA QUE
NÃO SE DESINCUMBIU DESTE ÔNUS. CABIMENTO DA RESTITUIÇÃO
EM DOBRO APENAS DOS VALORES COBRADOS POSTERIORMENTE
À PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO PELA CORTE SUPERIOR.
RESPONSABILIZAÇÃO DE AMBAS AS PARTES PELO RECOLHIMENTO
DAS CUSTAS, MEIO-A-MEIO, E HONORÁRIOS DE QUINZE POR
CENTO DO VALOR DA CAUSA AOS ADVOGADOS ADVERSOS,
OBSERVADO QUANTO À AUTORA A CONDIÇÃO SUSPENSIVA DE
EXIGIBILIDADE DESSAS VERBAS ESTABELECIDA NO § 3º DO ART. 98
DO CPC. RECURSO DO RÉU PROVIDO EM PARTE. RECURSO DA
AUTORA PREJUDICADO.(TJPR - 15ª Câmara Cível - 0057483-
90.2021.8.16.0014 - Londrina - Rel.: DESEMBARGADOR LUIZ CEZAR
NICOLAU - J. 29.07.2023)
Desse modo, nas cobranças realizadas antes de 30.03.2021 é devida a
repetição de indébito de forma simples. Entretanto, após tal data, a repetição deve ocorrer em
dobro, conforme entendimento exposto no EREsp nº 1.413.542/RS, afeto ao rito dos recursos
repetitivos sob o Tema nº 929.

Indenização por danos morais

Quanto ao pedido de afastamento da condenação ao pagamento de


indenização por danos morais, com razão o recorrente.

O dano moral é aquele que afeta a personalidade e, de alguma forma,


ofende a moral e a dignidade da pessoa humana. A reparação do dano moral tem uma
natureza compensatória, e possui função punitiva ou pedagógica, visando a desestimular o
ofensor, especialmente em ilícitos graves.

Dessa forma, na avaliação do dano moral, o juiz deve medir o grau de


sequela produzido, que diverge de pessoa a pessoa, verificando a humilhação, a vergonha, as
situações vexatórias, a posição social do ofendido, e a repercussão negativa em suas
atividades.

No presente caso, denota-se que o desconto, ainda que realizado


indevidamente, não teve o condão de gerar danos morais à parte, podendo ser considerado
como mero dissabor.

Em verdade, o caso dos autos amolda-se a mera cobrança indevida, a


qual, ainda que injusta, não configura qualquer dano à imagem, à intimidade, à vida privada, à
honra ou à dignidade do autor. Vale dizer, não se nega que a situação narrada nos autos tenha
causado aborrecimentos à parte durante certo lapso de tempo, todavia, o sentimento
exacerbado de indignação não gera a indenização pretendida, sendo certo que a mera
cobrança indevida, sem a demonstração da ocorrência de maiores prejuízos, por si só, não se
traduz em dano moral.

Dessa forma, entendo que o mero dissabor, o aborrecimento e a irritação,


tal como revelados no caso, não têm o condão de acarretar o dano moral, menos ainda, de
constituir título indenizatório.

Com efeito, partilhar do entendimento de que qualquer aborrecimento


surgido na vida em sociedade, além de fazer parte da normalidade do nosso dia-a-dia, possa
romper o equilíbrio psicológico do ser humano, seria desvirtuar o instituto do dano moral,
ensejando indenizações pelos mais triviais dissabores.

Antunes Varela, citado por Sérgio Cavalieri Filho, tratando do assunto


observa que "a gravidade do dano há de medir-se por um padrão objetivo (conquanto a
apreciação deva ter em linha de conta as circunstâncias de cada caso), e não à luz de fatores
subjetivos (de uma sensibilidade particularmente embotada ou especialmente requintada)." (
Programa de Responsabilidade Civil. Ed. Malheiros Editores Ltda., 1996, pg. 76)
Por outro lado, a gravidade será apreciada em função da tutela do direito:
"o dano deve ser de tal modo grave que justifique a concessão de uma satisfação de ordem
pecuniária ao lesado".

Nesse sentido já decidiu essa 15ª Câmara Cível:

APELAÇÕES CÍVEIS. RECURSO DE AMBAS AS PARTES. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO E
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO. DESCONTO EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. I –
PRELIMINAR DE CONTRARRAZÕES. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE. NÃO VERIFICADO. II – VALIDADE DOS DESCONTOS.
NÃO COMPROVADA. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DA
CONTRATAÇÃO. ÔNUS DA PROVA DO RÉU. CONTRATO NÃO
JUNTADO. IMPOSSIBILIDADE DE DESCONTOS. III – RESTITUIÇÃO DO
INDÉBITO DEVIDA. COBRANÇA DE VALORES INDEVIDAMENTE.
RESTITUIÇÃO NA FORMA DOBRADA. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTES. IV – INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
IMPOSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO. CONFIGURAÇÃO DE MERO
DISSABOR. ABALO MORAL NÃO VERIFICADO.I – “Não viola o princípio
da dialeticidade a apelação em que, a despeito da repetição de
argumentos formulados anteriormente no processo, as razões de decidir
na sentença são objetivamente impugnadas” (TJPR - 15ª C.Cível -
0001169-77.2017.8.16.0075 - Cornélio Procópio - Rel.: Luiz Carlos
Gabardo - J. 29.08.2018).II – Não tendo sido acostado ao feito o contrato
celebrado entre as partes, ônus este que incumbia ao réu, consoante a
norma processual civil, tem-se que não ficou demonstrada a validade dos
descontos no benefício previdenciário do autor.III – Segundo o
posicionamento adotado pela Corte Superior no EREsp. n. 1.413.542/RS,
a restituição em dobro deve se dar independentemente de configuração de
má-fé ou intenção dolosa, bastando, para tanto, a incidência de valores de
forma indevida após a publicação do referido julgado.IV – “Para configurar
a existência do dano extrapatrimonial, há de se demonstrar fatos que o
caracterizem, como a reiteração da cobrança indevida, a despeito da
reclamação do consumidor, inscrição em cadastro de inadimplentes,
protesto, publicidade negativa do nome do suposto devedor ou cobrança
que o exponha a ameaça, coação, constrangimento” (REsp 1550509/RJ,
Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 03
/03/2016, DJe 14/03/2016).APELAÇÃO CÍVEL 01 (BANCO) CONHECIDA
E PARCIALMENTE PROVIDA.APELAÇÃO CÍVEL 02 (AUTOR)
CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA.(TJPR - 15ª Câmara Cível -
0003123-40.2022.8.16.0090 - Ibiporã - Rel.: DESEMBARGADOR
SHIROSHI YENDO - J. 03.02.2024)

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÕES JULGADAS EM CONJUNTO. SENTENÇA


DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. APELAÇÃO CÍVEL DO RÉU. 1.
NULIDADE DOS DESCONTOS VERIFICADA. AUSÊNCIA DE
APRESENTAÇÃO DOS CONTRATOS E DOS RESPECTIVOS
COMPROVANTES DE PAGAMENTO. PRECEDENTES. 2. RESTITUIÇÃO
EM DOBRO. OBSERVÂNCIA À MODULAÇÃO FEITO PELO STJ NO
EAREsp n. 676.608/RS. DEVOLUÇÃO SIMPLES PARA DESCONTOS
REALIZADOS ATÉ 30/03/2021 E EM DOBRO PARA POSTERIORES. 3.
DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. MERO
ABORRECIMENTO. INDENIZAÇÃO AFASTADA.APELAÇÃO CÍVEL DO
AUTOR. CONDIÇÃO DE BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA QUE
NÃO IMPEDE A CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DOS ÔNUS
SUCUMBENCIAIS, MAS IMPÕE SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DA
VERBA. INTELIGÊNCIA DO ART. 99, §3º, DO CPC.RECURSO DO RÉU
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. RECURSO DO AUTOR
CONHECIDO E DESPROVIDO.PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL.
“AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA
CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL E PEDIDO DE
TUTELA ANTECIPADA/URGÊNCIA”. 1. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO.
CONTRATO NÃO JUNTADO AOS AUTOS. DISPONIBILIZAÇÃO DOS
CRÉDITOS NÃO COMPROVADOS. IRREGULARIDADE DOS
DESCONTOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. 2. DETERMINAÇÃO
DE RESTITUIÇÃO DE FORMA SIMPLES. 3. DANO MORAL. NÃO
OCORRÊNCIA. MERO ABORRECIMENTO. SENTENÇA MANTIDA EM
OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS DA
PARTE. 4. MANUTENÇÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA.1. Inexistindo
prova do contrato de empréstimo consignado, bem como da
disponibilização e saque do suposto crédito concedido, há de se reputar
como indevido os descontos realizados em benefício previdenciário.2. A
repetição do indébito é possível quando verificada a cobrança indevida,
tendo em vista o princípio que veda o enriquecimento sem causa do
credor. 3. É pacífico o entendimento, na jurisprudência, de que a mera
cobrança indevida de serviço não contratado, do qual não resulte inscrição
nos órgãos de proteção ao crédito, se consubstancia em mero
aborrecimento. Contudo, a fim de se evitar a reformatio in pejus da parte,
deve ser mantida a sentença tal qual lançada.4. O ônus de sucumbência
deve ser distribuído considerando o aspecto quantitativo e o jurídico em
que cada parte decai de suas pretensões. Apelação cível conhecida e
parcialmente provida. (TJPR - 15ª Câmara Cível - 0023812-
76.2021.8.16.0014 - Londrina - Rel.: DESEMBARGADOR JUCIMAR
NOVOCHADLO - J. 13.02.2023) (grifei) (TJPR - 15ª Câmara Cível -
0005160-16.2021.8.16.0077 - Cruzeiro do Oeste - Rel.: SUBSTITUTO
LUCIANO CAMPOS DE ALBUQUERQUE - J. 21.10.2023)

Assim, embora se reconheça que a situação criada causou à autora certo


aborrecimento, não houve dano moral, suscetível de indenização.
Sucumbência

Diante do provimento parcial do recurso, para afastar a condenação ao


pagamento de indenização por danos morais e determinar que a repetição ocorra de forma
simples em determinado período, deve ser redistribuído o ônus de sucumbência. Considerando
o aspecto quantitativo e o jurídico em que cada parte decai de suas pretensões, condenam-se
as partes, pro rata, ao pagamento das despesas processuais.

Dispõe o artigo 85, §2º, do CPC, que os honorários serão fixados entre o
mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito
econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa,
atendidos: o grau de zelo do profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza da
causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço (incisos I a IV,
do §2º, do art. 85, do CPC).

Sobre o assunto ensinam Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade


Nery: “os critérios para a fixação da verba honorária são objetivos e devem ser sopesados pelo
juiz na ocasião da fixação dos honorários. A dedicação do advogado, a competência com que
conduziu os interesses de seu cliente, [...], a complexidade da causa, o tempo despendido pelo
(
causídico desde o início até o termino da ação, [...]”. Código de Processo Civil Comentado. 2a ed. Revista dos
Tribunais: São Paulo, 2015, p.433.)

O §6º, do referido artigo ainda indica ao intérprete que os parâmetros do


§2º devem ser observados independentemente do conteúdo da decisão: “Os limites e critérios
previstos nos §§ 2º e 3º aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo da decisão,
inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução do mérito”.

Ainda, os honorários advocatícios só podem ser fixados com base na


equidade de forma subsidiária, quando for inestimável ou irrisório o proveito econômico obtido
ou for muito baixo o valor da causa, conforme dispõe o artigo 85, § 8º, do Código de Processo
Civil:

“art. 85, § 8º - nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito


econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará
o valor dos honorários por apreciação equitativa, observando o disposto
nos incisos do § 2o.”

Desse modo, não se enquadrando o presente caso nas hipóteses do § 8º,


do artigo 85, do Código de Processo Civil, arbitra-se a verba honorária em 10% sobre o valor
da causa, a ser rateada nas mesmas proporções em que definido o ônus sucumbencial. À
propósito:

APELAÇÃO CÍVEL 1 (INSTITUIÇÃO FINANCEIRA). AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO CONTRATUAL.
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. NULIDADE DA OPERAÇÃO
RECONHECIDA NA SENTENÇA. CRÉDITO REALIZADO NA CONTA DA
PARTE AUTORA EM DECORRÊNCIA DO MÚTUO DECLARADO
INEXISTENTE. DEVOLUÇÃO. IMPOSIÇÃO. DANO MORAL. NÃO
CONFIGURAÇÃO. ENCARGOS SUCUMBENCIAIS. REDISTRIBUIÇÃO.1.
Declarada a inexistência de contrato de empréstimo consignado, as partes
devem retornar ao estado anterior à contratação, com a devolução das
quantias debitadas do benefício previdenciário da parte autora em
decorrência dela, assim como do crédito feito em sua conta, vinculado à
operação, sob pena de enriquecimento ilícito.2. Não cabe indenização por
danos morais, quando os prejuízos alegados configurarem mero dissabor.
3. Quando o provimento do recurso importar na alteração da parcela de
vitória e de derrota de cada parte, impõe-se a redistribuição dos encargos
sucumbenciais.4. Apelação cível conhecida e provida.APELAÇÃO CÍVEL 2
(AUTOR). AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
CONTRATUAL. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. PEDIDO DE
MAJORAÇÃO DE INDENIZAÇÃO E DOS HONORÁRIOS
SUCUMBENCIAIS. ANÁLISE PREJUDICADA.1. Provido o recurso do réu
para afastar os danos morais, com a fixação de honorários sucumbenciais
sobre o valor atualizado da causa, resulta prejudicado o recurso de
apelação da parte autora, no qual postula a majoração da indenização e do
percentual da verba honorária fixada sobre o valor da condenação.2.
Apelação cível conhecida e julgada prejudicada. (TJPR - 15ª Câmara Cível
- 0001114-51.2021.8.16.0087 - Guaraniaçu - Rel.: DESEMBARGADOR
LUIZ CARLOS GABARDO - J. 18.02.2023)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C INDENIZATÓRIA.


EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA EM
PARTE. RECURSO DA AUTORA. 1. REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM
DOBRO. NÃO ACOLHIMENTO. AUSÊNCIA MÁ-FÉ. 2. JUROS DE MORA.
TERMO INICIAL. DATA DA CITAÇÃO (CC, ART. 405). MANUTENÇÃO. 3.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. NÃO CABIMENTO.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO À DIREITOS DA PERSONALIDADE. 4.
HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. ARBITRAMENTO POR EQUIDADE.
INADMISSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE VALOR DA CAUSA MUITO
BAIXO (CPC, ART. 85, § 8º, C/C TEMA 1.076/STJ). 5. SENTENÇA
MANTIDA, COM MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS (CPC, ART, 85, § 11).
1. Detectada cobrança indevida, impõe-se a repetição simples, e não em
dobro, se não demonstrada a má-fé do credor. 2. Sobre o valor da
repetição do indébito devem incidir juros de mora, a partir da citação, nos
termos do art. 405 do CC. 3. A mera cobrança indevida decorrente de
serviço/produto não contratado, sem a efetiva ofensa a direitos da
personalidade, configura mero aborrecimento, não sujeito à indenização
por danos morais. 4. Se o valor da causa, utilizado como base de cálculo
dos honorários, não é muito baixo, não se admite o arbitramento da verba
honorária por equidade (CPC, art. 85, § 8º, c/c Tema 1.076/STJ). 5.
Recurso conhecido não provido.(TJPR - 15ª Câmara Cível - 0003703-
81.2021.8.16.0130 - Paranavaí - Rel.: JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO
EM SEGUNDO GRAU JOSÉ RICARDO ALVAREZ VIANNA - J.
12.12.2022)

3. Do exposto, dá-se parcial provimento à Apelação Cível, para o fim de


determinar a repetição simples nas cobranças realizadas antes de 30.03.2021 e afastar a
condenação ao pagamento de indenização por danos morais. Ônus da sucumbência
redistribuído.

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 15ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE
PARTE E PROVIDO EM PARTE o recurso de BANCO BMG SA.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargador Luiz Carlos


Gabardo, sem voto, e dele participaram Desembargador Jucimar Novochadlo (relator),
Desembargador Substituto Luciano Campos De Albuquerque e Desembargador Hayton Lee
Swain Filho.

17 de maio de 2024

Desembargador Jucimar Novochadlo

Juiz (a) relator (a)

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