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Acordao
Acordao
8.A fixação equitativa (art. 85, §8º, do CPC) apenas se justifica nas causas em
que for inestimável ou irrisório o proveito econômico obtido, o que não ocorre
no caso em tela.
Por sua vez, a parte autora/apelante pugna pela reforma da sentença, alegando que:
a) o juízo de origem julgou os pedidos procedentes para condenar a ré à restituição dos juros
remuneratórios cobrados no período da contratação, que excederam ao triplo da taxa de mercado, todavia,
segundo o entendimento do STJ, a cobrança de juros remuneratórios superiores a uma vez e meia a taxa
média de mercado divulgado para época pelo Banco Central, é considerada abusiva; b) a sentença
determinou que deve ser limitada a taxa estabelecida no contrato ao triplo da taxa média de mercado,
contudo, os juros deveriam ser reduzidos para a taxa média de mercado (mov.59.1).
É o relatório.
Cerceamento de defesa
Sustenta o apelante que houve cerceamento de defesa, uma vez que o recorrente
requereu prova pericial e, portanto, pretendia produzi-las para demonstrar o perfil do risco do cliente pela
análise do perito.
Pois bem.
Afirma o banco apelante, preliminarmente, que deverá o feito ser extinto, nos termos
do Artigo 487. inciso II, do Código de Processo Civil, para os contratos cuja data de celebração é maior que
5 anos anteriores à data do ajuizamento da demanda.
Com efeito, na hipótese dos autos não se trata de reparação pelos danos causados
pelo fato do produto ou do serviço, mas sim de ação revisional de contrato bancário, a qual visa apurar
supostas ilegalidades suscitadas nos contratos de empréstimo pessoal.
Em outras palavras, a Corte Superior entende que o prazo prescricional para ações
revisionais é o vintenário ou o decenal, a depender da época da contratação.
Nesse sentido:
Desse modo, não há que se falar em prescrição quinquenal, pois as ações em que se
postula a revisão de contratos bancários cumulada com repetição do indébito possuem natureza pessoal,
portanto, sujeitam-se ao prazo prescricional vintenário de acordo com o Código Civil de 1916 ou em decenal
de acordo com o Código Civil vigente, observada a regra de transição (art. 2028, CC/02).
No caso, verifica-se que os contratos objetos da revisional foram firmados entre 06/11
/2015 e 30/01/2017, conforme tabela constante nas próprias razões de recurso, razão pela qual, aplica-se o
prazo prescricional decenal, disposto no art. 205, do Código Civil/2002.
Assim, as alegações do recorrente para motivar seu pedido não são suficientes para
desqualificar a procuração juntada aos autos, a qual está devidamente assinada pela parte e sem qualquer
indício de nulidade.
Por sua vez, caso entenda pertinente, nada impede que a parte, na qualidade de
interessado, ingresse com demanda em face do então procurador da parte em ação autônoma, o represente
perante Órgão de classe ou mesmo ofereça denúncia ao Ministério Público.
Sustenta o apelante que a sentença recorrida é nula por ter sido proferida sem
fundamentação mínima e sem análise pormenorizada do caso, conforme entendimento adotado pelo
Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recursos Especiais n.º 1.061.530/RS (repetitivo) e 1.821.182
/RS.
“art. 93 – [...]
Cumpre notar que o juiz não está obrigado a julgar matéria posta a seu exame de
acordo com o pleiteado pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento, utilizando-se dos fatos,
provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso
concreto.
Sobre o assunto:
Mérito
Revisão Contratual
Está pacificada pela Súmula 297 do STJ que "o Código de Defesa do Consumidor é
aplicável às instituições financeiras", de modo que a ampla análise constitui direito
básico inserido no art. 6º, V, da Lei consumerista, que com sua vigência passou a
coibir cláusulas contratuais abusivas ou que importem em excessiva onerosidade,
possibilitando modificação ou revisão dos contratos, pois não se pode convalidar o
nulo (TJPR. Acórdão 31104. Rel. Hamilton Mussi Correa. DJ. 16/07/2012).
"[...] a vontade das partes não é mais a única fonte de interpretação que possuem os
juízes para interpretar um instrumento contratual. A evolução doutrinária do direito
dos contratos já pleiteava uma interpretação teleológica do contrato, um respeito
maior pelos interesses sociais envolvidos, pelas expectativas legítimas das partes,
especialmente das partes que só tiveram a liberdade de aderir ou não aos termos pré
[1]
- elaborados."
Juros remuneratórios
Pois bem.
“(...). Com efeito, a jurisprudência desta Corte é assente no sentido de que os juros
remuneratórios cobrados pelas instituições financeiras não sofrem a limitação imposta
pelo Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura), a teor do disposto na Súmula 596/STF (cf.
REsp n.º 1.061.530/RS, de 22.10.2008, julgado pela Segunda Seção segundo o rito
dos recursos repetitivos).
Para essa tarefa, a orientação deste Tribunal Superior toma por base os parâmetros
referentes à taxa média de mercado praticada pelas instituições financeiras do país,
mas não a erigindo como um teto das contratações.
Logo, para que se reconheça abusividade no percentual de juros, não basta o fato de
a taxa contratada suplantar a média de mercado, devendo-se observar uma
tolerância a partir daquele patamar, de modo que a vantagem exagerada,
justificadora da limitação judicial, só emergirá quando o percentual avençado
exacerbar uma vez e meia ao dobro ou ao triplo da taxa média de mercado.
Nesse contexto, o recurso da casa bancária deve ser provido no ponto com o
restabelecimento da taxa contratada pelas partes. (...)”. (STJ, Resp 1291711, Rel.
Min. Marco Buzzi, DJ 25.04.2013)
Necessário lembrar que o simples fato de a taxa de juros ser flutuante não acarreta a
limitação pretendida. É que as taxas de juros sofrem variações constantemente e se modificam de acordo
com as condições apresentadas pelo mercado financeiro em determinada época.
Ademais, traz embutida em si o custo médio das instituições financeiras e seu lucro
médio, ou seja, um 'spread' médio. É certo, ainda, que o cálculo da taxa média não é
completo, na medida em que não abrange todas as modalidades de concessão de
crédito, mas, sem dúvida, presta-se como parâmetro de tendência das taxas de juros.
Assim, dentro do universo regulatório atual, a taxa média constitui o melhor parâmetro
para a elaboração de um juízo sobre abusividade.
Como média, não se pode exigir que todos os empréstimos sejam feitos segundo
essa taxa. Se isto ocorresse, a taxa média deixaria de ser o que é, para ser um valor
fixo. Há, portanto, que se admitir uma faixa razoável para a variação dos juros. A
jurisprudência, conforme registrado anteriormente, tem considerado abusivas taxas
superiores a uma vez e meia (voto proferido pelo Min. Ari Pargendler no REsp
271.214/RS, Rel. p. Acórdão Min. Menezes Direito, DJ de
Por outro lado, da simples análise das taxas divulgadas pelo Bacen, para operações
de crédito pessoal não consignado, como no caso, verifica-se que os juros contratados excederam
consideravelmente a média de mercado. Vejamos[2]:
No caso em tela, as taxas de juros remuneratórios praticadas nos contratos sub judice
foram limitadas pela sentença, em virtude do reconhecimento de flagrante abusividade.
Ademais, por mais que alegue a autora que segundo o entendimento do STJ, a
cobrança de juros remuneratórios superiores a uma vez e meia à taxa média de mercado divulgado para
época pelo Banco Central, já é considerada abusiva, a limitação dos juros remuneratórios à taxa média de
mercado deve ocorrer quando demonstrada a cobrança superior ao triplo da taxa média de mercado,
consoante jurisprudência do STJ e também desta Câmara. Confira-se:
Nesse aspecto, também não há que se falar em limitação das taxas à uma vez e
meia, pois, uma vez ultrapassado o triplo da taxa média, os juros remuneratórios devem ser limitados à taxa
média de mercado divulgada pelo Bacen à época da contratação, nos termos dos precedentes citados acima.
Nesse sentido:
Do exposto, tendo em vista a cobrança abusiva dos juros remuneratórios, deve ser
mantida a sentença que determinou a limitação dos juros remuneratórios, todavia, a limitação deve se dar à
taxa média de mercado, conforme valores constantes da tabela do Bacen colacionada anteriormente.
Repetição do indébito
Assim, o que não pode prevalecer é o enriquecimento sem causa de qualquer das
partes.
Assim, deve ser mantida a sentença também neste tópico, que determinou a
restituição simples dos valores cobrados indevidamente, ainda que sob a forma de compensação, no caso
de existir saldo devedor pelo inadimplemento.
Isso porque, diversamente da tese defendida, a fixação equitativa (art. 85, §8º, do
CPC) apenas se justifica nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico obtido, o que
não ocorre no caso em tela, uma vez que, de acordo com a regra do §2º do mesmo dispositivo legal, os
honorários advocatícios devem ser fixados no patamar de dez a vinte por cento calculados sobre o valor da
condenação ou do valor econômico obtido ou do valor atualizado da causa.
Erro Material
Sustenta a instituição financeira que houve erro material na r. sentença, de modo que
deve ser corrigida em sede recursal, a fim de que passe a constar a taxa média correta para o contrato de n.
032980001924, isto é, 120,39% a.a.
Com razão.
Desta feita, deve ser sanado o erro material existente na sentença para constar as
taxas médias corretas, conforme disposto acima, para cada contrato.
Diante disso, merece parcial provimento o recurso da parte autora a fim de que seja
determinada a limitação dos juros nos contratos objetos da lide, às taxas médias de mercado, nos valores
constantes da tabela do Bacen, (série 20742) colacionada anteriormente, bem como merece parcial
provimento o recurso da instituição financeira a fim de sanar erro material constante da sentença para que
passe a constar a taxa média correta para os contratos.
Sucumbência
17 de maio de 2024
[1]Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 227.
[2] https://www3.bcb.gov.br/sgspub/consultarvalores/consultarValoresSeries.do?
method=consultarValores