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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

15ª CÂMARA CÍVEL

Autos nº. 0002317-34.2023.8.16.0069

Apelação Cível n° 0002317-34.2023.8.16.0069 Ap


1ª Vara Cível de Cianorte
Apelante(s): DORCIDIA DE SOUZA SILVA e Crefisa S/A Crédito, Financiamento e Investimento
Apelado(s): Crefisa S/A Crédito, Financiamento e Investimento e DORCIDIA DE SOUZA SILVA
Relator: Desembargador Jucimar Novochadlo

PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE CLÁUSULAS


CONTRATUAIS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CONTRATOS DE
EMPRÉSTIMO PESSOAL. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DE
AMBAS AS PARTES. APELAÇÃO CÍVEL 1 (CREFISA S/A). PRELIMINARES DE
RECURSO. 1.CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. DILAÇÃO
PROBATÓRIA E PROVA PERICIAL PRESCINDÍVEIS AO DESLINDE DA CAUSA.
2. PLEITO DE RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO PELO PRAZO
QUINQUENAL. INAPLICABILIDADE. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. PRAZO
DECENAL. TERMO INICIAL. DATA DA ASSINATURA DO CONTRATO.
PRECEDENTES DO STJ E DESTA CORTE. 3. OPOSIÇÃO AO JULGAMENTO
VIRTUAL E ALEGAÇÃO DE ADVOCACIA PREDATÓRIA E USO ABUSIVO DO
JUDICIÁRIO PELO PATRONO DA AUTORA. PARTE QUE DEVE PROCEDER
COM A DENÚNCIA NOS ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO. 4. NULIDADE DA
SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. MÉRITO.
5. REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. POSSIBILIDADE. 6. JUROS
REMUNERATÓRIOS. POSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO. COBRANÇA SUPERIOR
AO TRIPLO DA TAXA MÉDIA DE MERCADO. ABUSIVIDADE COMPROVADA NO
CASO CONCRETO. 7. COBRANÇA INDEVIDA. RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO.
CABIMENTO. 8. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA.
PRETENSÃO DE FIXAÇÃO DA VERBA DE ACORDO COM O DISPOSTO NO
ART. 85, §8º, DO CPC. INAPLICABILIDADADE. 9. ERRO MATERIAL.
EXISTENCIA. CORREÇÃO DA TAXA MÉDIA CONSTANTE DA SENTENÇA.
APELAÇÃO CÍVEL 2 (DORCIDIA). 10. PLEITO DE RECONHECIMENTO DA
ILEGALIDADE DA COBRANÇA DE JUROS REMUNERATÓRIOS SUPERIORES
A UMA VEZ E MEIA À TAXA MÉDIA DE MERCADO. INAPLICABILIDADE.
LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS À TAXA MÉDIA DE MERCADO
QUE DEVE OCORRER QUANDO DEMONSTRADA A COBRANÇA SUPERIOR
AO TRIPLO DA TAXA MÉDIA DE MERCADO, CONSOANTE JURISPRUDÊNCIA
DO STJ E TAMBÉM DESTA CÂMARA.11.SENTENÇA QUE DETERMINOU A
LIMITAÇÃO DOS JUROS AO TRIPLO DA MÉDIA DE MERCADO. PLEITO DE
LIMITAÇÃO À MÉDIA DE MERCADO. APLICABILIDADE. MÉDIA DE MERCADO
QUE É O PARÂMETRO JURISPRUDENCIAL PARA RECONDUÇÃO DOS JUROS
EM CASO DE ABUSIVIDADE.SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. 12.
MANUTENÇÃO DO ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA.

1.Não há que se falar em cerceamento de defesa quando o conjunto probatório


constante dos autos é suficiente para solução da controvérsia.

2.Prevalece na jurisprudência deste Tribunal o entendimento de que o direito


de o consumidor requerer a revisão do contrato firmado com a instituição
bancária é de natureza pessoal e, portanto, prescreve em vinte anos de acordo
com o Código Civil de 1916 ou em dez anos de acordo com o Código Civil
vigente, observada a regra de transição (art. 2028, CC/02). No caso,
considerando a data da celebração dos contratos aplicável o prazo decenal. O
termo inicial do prazo prescricional decenal da ação revisional de contrato
bancário é a data da assinatura do contrato. (TJPR - 15ª Câmara Cível -
0003349-86.2022.8.16.0044 - Apucarana - Rel.: DESEMBARGADOR HAYTON
LEE SWAIN FILHO - J. 12.03.2023)

3.Inexistindo circunstância que exija a intervenção jurisdicional, cabe à


instituição financeira, se entender que há o cometimento de infração
administrativa ou crime e se assim desejar, buscar os meios adequados para
proceder a denúncia diretamente ao órgão ou instituição fiscalizadora,
observando as competências adequadas.

4.Não merece acolhida a alegada nulidade da sentença, por ausência ou


deficiência de fundamentação, isso porque devidamente motivada.

5. Diante da mitigação do princípio pacta sunt servanda em face de práticas


contratuais abusivas vedadas pelo nosso ordenamento jurídico, é possível a
modificação das cláusulas que estabeleçam prestações desproporcionais,
bem como a intervenção do Poder Judiciário nas relações jurídicas travadas
entre particulares, visando restabelecer o equilíbrio contratual.

6.Aplica-se a taxa média de mercado somente quando demonstrada a


abusividade daquela adotada pelo banco. Havendo prova nesse sentido, deve
ser limitada à média de mercado, nos contratos em que demonstrada a
cobrança superior ao triplo da taxa média de mercado, consoante
jurisprudência proferida em sede de recurso repetitivo.

7.A repetição do indébito é possível quando verificada a cobrança de encargos


ilegais, tendo em vista o princípio que veda o enriquecimento sem causa do
credor.

8.A fixação equitativa (art. 85, §8º, do CPC) apenas se justifica nas causas em
que for inestimável ou irrisório o proveito econômico obtido, o que não ocorre
no caso em tela.

9.A existência de erro material constante na fundamentação da sentença


autoriza a acolhida de embargos de declaração para o saneamento.
10. A limitação dos juros remuneratórios à taxa média de mercado deve
ocorrer quando demonstrada a cobrança superior ao triplo da taxa média de
mercado, consoante jurisprudência do STJ e também desta Câmara.

11. Pacificou-se a compreensão de que é possível a revisão dos juros


remuneratórios ajustados em contrato, sempre pela média de mercado , em
caso de ausência de fixação da taxa no contrato e/ou abusividade dos
encargos.

12.O ônus de sucumbência deve ser distribuído considerando o aspecto


quantitativo e o jurídico em que cada parte decai de suas pretensões.

Apelação Cível 1 parcialmente provida.

Apelação Cível 2 parcialmente provida.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n° 0002317-


34.2023.8.16.0069 Ap, de Cianorte, 1ªVara Cível, em que figuram como apelante 1 Crefisa S/A Crédito
Financiamento e Investimento, apelante 2, Dorcidia de Souza Silva e como apelados, os mesmos.

1.Trata-se de recurso de apelação interposto por ambas as partes, em face da


sentença proferida nos autos de ação de revisão de cláusulas contratuais c/c repetição de indébito que
julgou procedente o pedido inicial para condenar a requerida a restituir os valores cobrados indevidamente,
os quais deverão ser apurados em sede de liquidação de sentença. Ainda, consignou que a repetição deve
ocorrer apenas sobre os valores indicados, sem qualquer inclusão de juros reflexos, com acréscimo de
correção monetária e juros de mora nos termos da fundamentação, devendo tal valor ser apurado quando da
liquidação da sentença (ou por simples cálculo aritmético), resolvendo-se o mérito da demanda. Por fim, em
razão da sucumbência, condenou o réu ao pagamento das despesas processuais e honorários
sucumbenciais devidos ao advogado da parte contrária, fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da
condenação.

Opostos embargos de declaração, a sentença restou mantida (mov.55.1)

Nas razões de recurso, sustenta o réu/apelante 1, em síntese que: a) a sentença é


nula ante a ocorrência de cerceamento de defesa; b) deverá o feito ser extinto, nos termos do Artigo 487.
inciso II, do Código de Processo Civil, para os contratos cuja data de celebração é maior que 5 anos
anteriores à data do ajuizamento da demanda; c) se opõe ao julgamento virtual do recurso, tendo em vista
que há razões necessárias para se concluir que se pode estar diante de um quadro de advocacia predatória;
d) a sentença recorrida é nula por ter sido proferida sem fundamentação mínima e sem análise
pormenorizada do caso, conforme entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do
Recursos Especiais n.º 1.061.530/RS (repetitivo) e 1.821.182/RS; e) a taxa de juros entabulada se deve ao
fato de se tratar de operação de alto risco, haja vista a ausência de garantia do valor emprestado; f) é
empresa que concede empréstimos a clientes detentores de situação financeira desfavorável, ou seja, de
alto risco, os quais, na maioria das vezes, possuem vários protestos e dívidas cadastradas nos órgãos de
proteção ao crédito e não são atendidos por quase todas as demais instituições financeiras, que não querem
assumir risco tão alto, por valor algum; g) os juros não são definidos pelo Banco Central do Brasil e sua “taxa
média” divulgada, mas sim pelo risco envolvido na operação; h) os juros estão intimamente ligados aos
riscos assumidos pela instituição financeira em suas operações de crédito, uma vez que: quanto maior o
grau de risco de crédito, maior será a taxa de juros incidente; i) inexiste limitação legal para cobrança de
juros remuneratórios; j) a taxa média de mercado não constitui parâmetro absoluto de aferição de
abusividade; k) a análise genérica e abstrata das taxas de juros cobradas pela Crefisa a partir de um mero
comparativo com a “taxa média de mercado”, sem efetiva análise dos aspectos concretos em torno da
concessão do empréstimo, constitui medida em descompasso com a tese vinculante firmada no julgamento
do Recurso Especial Repetitivo nº 1.061.530/RS; l) os empréstimos realizados pela Crefisa possuem altos
índices de inadimplência, especialmente porque os clientes não deixam saldo em conta corrente para
realização dos débitos, e diversas particularidades, como a ausência de qualquer tipo de garantia e os
altíssimos custos para realização dos débitos em conta corrente, em função das tarifas exorbitantes que são
cobradas pelos bancos para realização desse serviço; m) o risco de inadimplência é o fator que possui maior
influência na composição dos juros bancários, assim quanto maior o risco de inadimplência, maior a taxa de
juros necessária para cobrir a perda de capital com a operação de crédito; n) a demonstração de suposta
abusividade das taxas praticadas pela Crefisa constituía ônus probatório da Parte Apelada, cujo dever em
hipótese alguma poderia ter sido atribuído à Apelante pelo Juízo de primeiro grau; o) a taxa contratada não
pode ser considerada abusiva, pois houve sua aceitação pela contratante; p) impossível a devolução de
valores, uma vez que todos os valores cobrados pela Apelante foram efetivamente devidos em razão do
contrato celebrado; q) há necessidade de alteração do critério de fixação dos honorários advocatícios, a fim
de que sejam arbitrados em valor fixo, haja vista ter sido fixado em valor excessivo; r) houve erro material na
r. sentença, de modo que deve ser corrigida em sede recursal, a fim de que passe a constar a taxa média
correta para o contrato de n. 032980001924, isto é, 120,39% a.a. Diante disso, requer o conhecimento do
recurso e, no mérito, seu provimento, a fim de reformar a sentença e de julgar improcedente a pretensão
inicial. (mov.65.1)

Por sua vez, a parte autora/apelante pugna pela reforma da sentença, alegando que:
a) o juízo de origem julgou os pedidos procedentes para condenar a ré à restituição dos juros
remuneratórios cobrados no período da contratação, que excederam ao triplo da taxa de mercado, todavia,
segundo o entendimento do STJ, a cobrança de juros remuneratórios superiores a uma vez e meia a taxa
média de mercado divulgado para época pelo Banco Central, é considerada abusiva; b) a sentença
determinou que deve ser limitada a taxa estabelecida no contrato ao triplo da taxa média de mercado,
contudo, os juros deveriam ser reduzidos para a taxa média de mercado (mov.59.1).

Foram apresentadas contrarrazões aos recursos. (mov.71.1 e 72.1)

É o relatório.

2. Presentes os requisitos e pressupostos de admissibilidade recursal, conheço dos


recursos interpostos por ambos os litigantes.

Para melhor compreensão da controvérsia, os recursos serão analisados de forma


conjunta, conforme os tópicos abaixo.

Preliminares de recurso (Crefisa)

Cerceamento de defesa

Sustenta o apelante que houve cerceamento de defesa, uma vez que o recorrente
requereu prova pericial e, portanto, pretendia produzi-las para demonstrar o perfil do risco do cliente pela
análise do perito.

Pois bem.

Conforme o artigo 335, I, do Código de Processo Civil, o julgamento antecipado da


lide é cabível quando a questão de mérito abranger matéria de direito e de fato, desde que a prova já
produzida seja apta a esclarecer os pontos controvertidos da causa.

Ademais, é sabido que o juiz é o destinatário final da prova, e, portanto, compete a


ele determinar a produção daquelas que considerar necessárias ao deslinde do feito e, de igual modo,
indeferir aquelas que considerar inúteis ou protelatórias.
Assim dispõe o artigo 370 do Código de Processo Civil:

“Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas


necessárias ao julgamento do mérito.

Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou


meramente protelatórias”.

Estabelecida a premissa, constitui ônus da parte interessada provar a


imprescindibilidade das provas requeridas (pericial) ou demonstrar a inadequação do julgamento do feito
com as provas produzidas.

No caso dos autos, a apelante não logrou êxito em fazê-lo.

As questões de mérito suscitadas pelas partes são eminentemente de direito e a


documentação carreada aos autos é suficiente para análise da abusividade das taxas de juros
remuneratórios cobradas.

Deste modo, não há como reconhecer a alegação de cerceamento de defesa do


Apelante pelo julgamento antecipado da lide e o indeferimento de produção de provas por perícia contábil.

Em situações análogas, já decidiu este colegiado:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS.


EMPRÉSTIMO PESSOAL. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA PELO
INDEFERIMENTO DE PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL CONTÁBIL. NÃO
COMPROVAÇÃO. SUFICIÊNCIA DA PROVA DOCUMENTAL CONSTANTE NOS
AUTOS. PEDIDO DE REVISÃO DE TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS
PACTUADAS EM CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO NÃO CONSIGNADO. TAXAS
QUE EXCEDEM O TRIPLO DA MÉDIA PRATICADA PELO MERCADO.
CARACTERIZAÇÃO DE COBRANÇA ABUSIVA. LIMITAÇÃO QUE SE IMPÕE.
RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO DEVIDA. SENTENÇA MANTIDA. APELAÇÃO
CONHECIDA E NÃO PROVIDA.(TJPR - 15ª Câmara Cível - 0002595-
14.2023.8.16.0173 - Umuarama - Rel.: SUBSTITUTO DAVI PINTO DE ALMEIDA - J.
19.08.2023)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. EMPRÉSTIMO PESSOAL


NÃO CONSIGNADO. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. APELAÇÃO CÍVEL
1 (AUTOR). 1. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. PROVA PERICIAL.
DESNECESSIDADE. DEFESA. INOCORRÊNCIA. PROVA PERICIAL.
DESNECESSIDADE. CONJUNTO PROBATÓRIO SUFICIENTE. 2. CAPITALIZAÇÃO
DE JUROS. TAXA ANUAL SUPERIOR AO DUODÉCUPLO DA MENSAL.
COBRANÇA LÍCITA. 3. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. INOVAÇÃO RECURSAL.
NÃO CONHECIMENTO. APELAÇÃO CÍVEL 2 (BANCO). 4. JUROS
REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO. ABUSIVIDADE NÃO DEMONSTRADA. ÔNUS
DE SUCUMBÊNCIA. MANUTENÇÃO. 1. Não há que se falar em cerceamento de
defesa quando o conjunto probatório constante dos autos é suficiente para solução da
controvérsia. (TJPR - 15ª Câmara Cível - 0025606-98.2022.8.16.0014 - Londrina -
Rel.: DESEMBARGADOR JUCIMAR NOVOCHADLO - J. 25.03.2023)

Assim, desnecessária a produção de prova pericial para a comprovação das


alegações da petição inicial.

Diante disso, rejeita-se a preliminar de cerceamento de defesa.


Prescrição

Afirma o banco apelante, preliminarmente, que deverá o feito ser extinto, nos termos
do Artigo 487. inciso II, do Código de Processo Civil, para os contratos cuja data de celebração é maior que
5 anos anteriores à data do ajuizamento da demanda.

Com efeito, na hipótese dos autos não se trata de reparação pelos danos causados
pelo fato do produto ou do serviço, mas sim de ação revisional de contrato bancário, a qual visa apurar
supostas ilegalidades suscitadas nos contratos de empréstimo pessoal.

Consoante entendimento atual do Superior Tribunal de Justiça aplica-se às ações


revisionais de contrato bancário o prazo prescricional geral, que pelo Código Civil de 1916 era vintenário e
pela legislação civil de 2002 passou a ser de 10 (dez) anos.

Em outras palavras, a Corte Superior entende que o prazo prescricional para ações
revisionais é o vintenário ou o decenal, a depender da época da contratação.

Nesse sentido:

“AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE


CONTRATO BANCÁRIO. PRAZO PRESCRICIONAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83
/STJ. AGRAVO INTERNO PROVIDO. RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO
AGRAVADA PARA DAR PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL 1. O prazo
prescricional nas ações revisionais de contrato bancário em que se discute a
legalidade das cláusulas pactuadas, a orientação jurisprudencial desta Corte Superior
é clara, ao entender que "As ações revisionais de contrato bancário são fundadas em
direito pessoal, motivo pelo qual o prazo prescricional, sob a égide do Código Civil de
1.916 era vintenário, e passou a ser decenal, a partir do Código Civil de 2.002". (REsp
1.326.445/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04
/02/2014, DJe de 17/02/2014). (...)” (AgInt no REsp 1653189/PR, Rel. Ministro
LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO),
QUARTA TURMA, julgado em 21/08/2018, DJe 20/09/2018).

No mesmo sentido, a orientação da jurisprudência desta Corte:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO


PESSOAL. PRESCRIÇÃO. CASO CONCRETO. NÃO OCORRÊNCIA. JUROS
REMUNERATÓRIOS. CONTRATOS APRESENTADOS. TAXAS CONTRATADAS.
MÉDIA DE MERCADO. EXCESSO CONSIDERÁVEL. VERIFICAÇÃO. CONTRATOS
NÃO APRESENTADOS. TAXA CONTRATADA. NÃO COMPROVAÇÃO. SÚMULA N.
º 530, DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. APLICAÇÃO. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. PEDIDO DE REDUÇÃO. REJEIÇÃO. SENTENÇA MANTIDA.1. O
pleito de revisão contratual possui natureza pessoal, de modo que prescreve em 10
(dez) ou 20 (vinte) anos, conforme a regra de prescrição vigente ao tempo do fato
gerador da obrigação (art. 177, do Código Civil de 1916, ou art. 205, do Código Civil
em vigor).2. Os juros remuneratórios devem ser limitados à média de mercado
divulgada pelo Banco Central do Brasil (BACEN), quando se constatar excesso
considerável nas taxas cobradas pelo banco.3. “Nos contratos bancários, na
impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente contratada - por ausência
de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa
média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma
espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor” (Súmula n.º 530,
do Superior Tribunal de Justiça).4. Nos termos do art. 85, §2º, do Código de Processo
Civil, “Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por
cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa”.5. Apelação cível conhecida
e não provida.(TJPR - 15ª Câmara Cível - 0013611-50.2020.8.16.0017 - Maringá
- Rel.: DESEMBARGADOR LUIZ CARLOS GABARDO - J. 18.09.2023)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE TAXA ANUAL DE JUROS C/C


RESTITUIÇÃO DE VALORES COM PEDIDO INCIDENTAL DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
ARGUIDA EM CONTRARRAZÕES. NÃO CARACTERIZAÇÃO. AUSÊNCIA DE
PROPÓSITO PROTELATÓRIO DO RECORRENTE. MERO EXERCÍCIO DE
DIREITO. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. PRAZO DECENAL. JUROS
REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE DEMONSTRADA. LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA
DE MERCADO. POSSIBILIDADE. COBRANÇA INDEVIDA. RESTITUIÇÃO DO
INDÉBITO. CABIMENTO. manutenção DO ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO RECURSAL. OBSERVÂNCIA DO
ARTIGO 85, §11 DO CPC. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO.1. Para a caracterização da litigância de má-fé, na esteira da
jurisprudência já consolidada sobre o assunto, exigem-se no mínimo dois requisitos:
a) a subsunção da conduta em uma das hipóteses taxativamente enumeradas no
dispositivo legal (art. 80, CPC); e, b) o dolo específico do litigante, necessário para
afastar a presunção de boa-fé que pauta, de regra, o comportamento das partes no
decorrer do processo. Elementos inexistentes no caso concreto.2.

Prevalece na jurisprudência deste Tribunal o entendimento de que o direito do


consumidor requerer a revisão do contrato firmado com a instituição bancária é de
natureza pessoal e, portanto, prescreve em dez anos de acordo com o Código Civil
em vigor.3. Estando devidamente demonstrado o excesso considerável das taxas de
juros remuneratórios praticada nos contratos revisados, a sua limitação é medida que
se impõe. 4. A repetição do indébito é possível quando verificada a cobrança de
encargos ilegais, tendo em vista o princípio que veda o enriquecimento sem causa do
credor.5. É devida a majoração da verba honorária em grau recursal, em observância
ao art. 85, §11 do CPC.6. Recurso conhecido e não provido.(TJPR - 15ª Câmara
Cível - 0001382-82.2022.8.16.0148 - Rolândia - Rel.: SUBSTITUTO DAVI PINTO DE
ALMEIDA - J. 18.09.2023)

Desse modo, não há que se falar em prescrição quinquenal, pois as ações em que se
postula a revisão de contratos bancários cumulada com repetição do indébito possuem natureza pessoal,
portanto, sujeitam-se ao prazo prescricional vintenário de acordo com o Código Civil de 1916 ou em decenal
de acordo com o Código Civil vigente, observada a regra de transição (art. 2028, CC/02).

No caso, verifica-se que os contratos objetos da revisional foram firmados entre 06/11
/2015 e 30/01/2017, conforme tabela constante nas próprias razões de recurso, razão pela qual, aplica-se o
prazo prescricional decenal, disposto no art. 205, do Código Civil/2002.

Além disso, pacífico entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que


o termo inicial da contagem do prazo prescricional é a data da assinatura do contrato, conforme os seguintes
precedentes:

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE MÚTUO. PRESCRIÇÃO. TERMO
INICIAL. DATA DA ASSINATURA DO AJUSTE. AGRAVO INTERNO. NÃO
PROVIDO. 1. Conforme entendimento desta Corte Superior, o termo inicial do prazo
prescricional nas ações de revisão de contrato bancário, em que se discute a
legalidade das cláusulas pactuadas, é a data da assinatura do contrato. Precedentes.
2. Agravo interno não provido. (AgInt nos EDcl no REsp 1917613/RS, Rel. Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 14/06/2021, DJe 21/06
/2021).

No mesmo sentido a orientação desta Corte:

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO REVISIONAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO.


CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO PESSOAL NÃO CONSIGNADO. PRESCRIÇÃO.
TERMO INICIAL. DATA DA ASSINATURA DO CONTRATO. TAXA ANUAL DOS
JUROS REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE. LIMITAÇÃO. MÉDIA DE MERCADO.
SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA MANTIDA. 1. O termo inicial do prazo
prescricional decenal da ação revisional de contrato bancário é a data da assinatura
do contrato. 2. Em empréstimo firmado com instituição financeira em que a taxa dos
juros remuneratórios contratados excede em mais de seis vezes a média de mercado
indicada pelo Bacen para operações de crédito pessoal não consignado e em mais de
dez vezes a média de mercado indicada pelo Bacen para operação de crédito
pessoal não consignado vinculado à composição de dívidas, está demonstrada a
abusividade, justificando-se a limitação de tais encargos. APELAÇÃO DA AUTORA
NÃO PROVIDA. APELAÇÃO DO BANCO NÃO PROVIDA.(TJPR - 15ª Câmara Cível -
0003349-86.2022.8.16.0044 - Apucarana - Rel.: DESEMBARGADOR HAYTON LEE
SWAIN FILHO - J. 12.03.2023)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULA


CONTRATUAL. PRESCRIÇÃO DECENAL. TERMO INICIAL. DATA DA
ASSINATURA DO CONTRATO. A prescrição do direito da ação revisional de cédula
de crédito bancário é a data em que ela foi firmada, na medida em que foi nesse
momento em que houve a violação do direito postulado de ilegalidade de uma de
suas cláusulas. APELAÇÃO NÃO PROVIDA.(TJPR - 15ª Câmara Cível - 0000896-
37.2021.8.16.0050 - Bandeirantes - Rel.: DESEMBARGADOR HAYTON LEE SWAIN
FILHO - J. 17.11.2021)

Ação constitutiva – negativa de nulidade de cláusula em cédulas de crédito rural,


cumulada com ação declaratória e mandamental de prorrogação de dívida”. Cédulas
rurais e de crédito bancário. Pretensão revisional. Ausência de requerimento de
repetição de valores. Dívidas não quitadas. Prescrição decenal. Incidência do art.
205, do Código Civil. Regra geral. Termo inicial. Data da celebração do pacto. O
prazo prescricional para pleitear a revisão de contrato bancário inicia-se na data de
celebração do pacto. Assim, tendo o contrato de financiamento sido pactuado sob a
égide do Código Civil de 2002, o prazo prescricional aplicável é decenal e o termo
inicial é da assinatura do contrato. Recurso conhecido e não provido.” (TJPR - 15ª C.
Cível - 0008485-41.2018.8.16.0000 - Andirá - Rel.: DESEMBARGADOR HAMILTON
MUSSI CORREA - J. 02.05.2018).

Assim, considerando que o prazo prescricional aplicável na hipótese é o decenal, que


os contratos foram firmados 06/11/2015 e 30/01/2017, conforme tabela constante nas próprias razões de
recurso, e que a ação principal foi ajuizada em 21/03/2023, não há que se falar em prescrição.

Por isto, afasta-se a preliminar suscitada.


Oposição ao julgamento virtual e da alegada Advocacia predatória e uso abusivo do
judiciário pelo patrono da autora

Alega o agente financeiro, preliminarmente, que se opõe ao julgamento virtual, ao


fundamento de se tratar de advocacia predatória. Ainda, afirma que o número desproporcional de demandas
ajuizadas pelo mesmo Advogado em face da Ré leva a crer que, ao menos em tese, terceiros de má-fé
tiveram acesso a banco de dados que deveria permanecer em sigilo para não violar a privacidade alheia,
motivo pelo qual requer a expedição de ofício ao NUMOPEDE para o devido monitoramento, sem prejuízo
de demais providências.

No caso, verifica-se que o banco aponta genericamente que há grande quantidade de


ações ajuizadas pelo patrono da parte autora em seu detrimento, não demonstrando indícios concretos da
alegação de que o advogado ou terceiro tiveram acesso ao seu banco de dados para assim captar clientes.

Diante disso, em que pese a argumentação apresentada, não se verifica na hipótese


o alegado uso abusivo do poder Judiciário e advocacia predatória, mas sim o regular exercício constitucional
do direito de ação (CF, ART. 5º, XXXV).

Com efeito, o apelante aponta genericamente que há grande quantidade de ações


ajuizadas pelo patrono da parte autora em seu detrimento, não demonstrando indícios concretos da
alegação de que o advogado ou terceiro tiveram acesso ao seu banco de dados para assim captar clientes.

Assim, as alegações do recorrente para motivar seu pedido não são suficientes para
desqualificar a procuração juntada aos autos, a qual está devidamente assinada pela parte e sem qualquer
indício de nulidade.

Por sua vez, caso entenda pertinente, nada impede que a parte, na qualidade de
interessado, ingresse com demanda em face do então procurador da parte em ação autônoma, o represente
perante Órgão de classe ou mesmo ofereça denúncia ao Ministério Público.

Da alegada Nulidade da Sentença

Sustenta o apelante que a sentença recorrida é nula por ter sido proferida sem
fundamentação mínima e sem análise pormenorizada do caso, conforme entendimento adotado pelo
Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recursos Especiais n.º 1.061.530/RS (repetitivo) e 1.821.182
/RS.

Sem razão a parte.

De acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, todas as decisões judiciais devem


ser fundamentadas. O dever de fundamentar está disposto no artigo 93, inciso IX, da Constituição da
República:

“art. 93 – [...]

IX - Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente
a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no
sigilo não prejudique o interesse público à informação”.

Há, portanto, a necessidade de existência de fundamentos claros e coerentes que


respaldem a maneira como a controvérsia foi decidida.
Todavia, não é necessário que sejam mencionadas uma a uma as circunstâncias
fáticas trazidas pelas partes, bastando que sejam elas abrangidas pela motivação que se mostra em
consonância com a conclusão.

No caso em apreço, o magistrado a quo expôs os fundamentos pelos quais julgou


procedentes os pedidos com menção a dispositivos legais e jurisprudência aplicável ao caso.

Cumpre notar que o juiz não está obrigado a julgar matéria posta a seu exame de
acordo com o pleiteado pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento, utilizando-se dos fatos,
provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso
concreto.

A propósito, vale destacar que o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no


sentido de que a fundamentação sucinta não pode ser confundida com a ausência de fundamentação, de
modo que aquela não gera a anulação do julgado. Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART.


535 DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO SUCINTA. VALIDADE. MEDIDA CAUTELAR.
REQUISITOS. SÚMULA 7/STJ.1. Inexistente a alegada violação do art. 535 do CPC,
pois, sucinta ou não, a decisão do Tribunal de origem enfrentou a questão
apresentada pela parte, de modo que não há que se falar em negativa da prestação
jurisdicional. 2. Em que pese serem sucintas as decisões, tanto na primeira quanto na
segunda instância, identificam a presença dos requisitos autorizadores da tutela de
urgência. Esta Corte Superior tem entendimento de que a fundamentação sucinta não
pode ser confundida com a ausência de fundamentação, de modo que,
diferentemente desta, aquela não enseja a anulação do julgado. 3. No mais, não cabe
a esta Corte Superior substituir o juízo emitido pela instância ordinária quanto à
existência ou não dos requisitos autorizadores da medida cautelar, pois tal medida
demandaria o revolvimento da matéria fático- probatória, em clara desobediência à
Súmula 7/STJ. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1221373/RJ, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 26
/04/2011).

Sobre o assunto:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. REJEIÇÃO. NOVA
ALEGAÇÃO SOB O MESMO FUNDAMENTO. IMPOSSIBILIDADE.CASO
CONCRETO. PRECLUSÃO. NULIDADE DA DECISÃO AGRAVADA. NÃO
VERIFICAÇÃO.FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA.1. Indeferida a desconsideração da
personalidade jurídica, por decisão transitada em julgado, a matéria não pode ser
suscitada e reapreciada novamente, sob o mesmo fundamento.2. Não há que se falar
em nulidade da decisão agravada, por ausência de fundamentação, quando a
controvérsia posta a julgamento foi devidamente apreciada. 23. Agravo de
instrumento parcialmente conhecido e não provido.(TJPR - 15ª C.Cível - AI - 1579295-
7 - Almirante Tamandaré - Rel.: Luiz Carlos Gabardo - Unânime - - J. 09.11.2016)

Assim, a decisão contém de forma clara e objetiva, os fundamentos que conduziram


ao acolhimento do pedido formulado na inicial e, consequente rejeição das teses de defesa apresentadas na
contestação.

Nesse contexto, é evidente que a sentença está devidamente fundamentada, com


base nas alegações das partes e documentos juntados, motivo pelo qual não se verifica o alegado vício.
Por essas razões, é de se afastar a nulidade arguida.

Por isto, afastam-se as preliminares suscitadas.

No mais, presentes os requisitos e pressupostos de admissibilidade, conheço do


recurso.

Mérito

Revisão Contratual

Alega a apelante 1, a impossibilidade de se revisar os contratos pactuados, vez que a


parte autora, concordou com os termos neles estabelecidos.

Sem razão à recorrente.

Está pacificada pela Súmula 297 do STJ que "o Código de Defesa do Consumidor é
aplicável às instituições financeiras", de modo que a ampla análise constitui direito
básico inserido no art. 6º, V, da Lei consumerista, que com sua vigência passou a
coibir cláusulas contratuais abusivas ou que importem em excessiva onerosidade,
possibilitando modificação ou revisão dos contratos, pois não se pode convalidar o
nulo (TJPR. Acórdão 31104. Rel. Hamilton Mussi Correa. DJ. 16/07/2012).

Consoante dispõe o artigo 6º, do Código de Defesa do Consumidor, é permitida a


modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais para as partes
contratantes, devendo o Poder Judiciário intervir nas relações em busca do equilíbrio contratual e satisfação
dos interesses dos envolvidos, relativizando o princípio da autonomia da vontade.

A incidência do Código de Defesa do Consumidor, norma de ordem pública, torna


relativa a aplicação do princípio da autonomia das vontades, sem, contudo, ofendê-lo.

Sobre a relativização do princípio, oportuna é a lição de Claudia Lima Marques:

"[...] a vontade das partes não é mais a única fonte de interpretação que possuem os
juízes para interpretar um instrumento contratual. A evolução doutrinária do direito
dos contratos já pleiteava uma interpretação teleológica do contrato, um respeito
maior pelos interesses sociais envolvidos, pelas expectativas legítimas das partes,
especialmente das partes que só tiveram a liberdade de aderir ou não aos termos pré
[1]
- elaborados."

Neste sentido já se posicionou a jurisprudência:

“AÇÃO REVISIONAL – CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO –


SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA – RECURSOS DOS RÉUS E DO AUTOR – NÃO
CONHECIMENTO DE MATÉRIAS QUE NÃO FORAM OBJETO DE DISCUSSÃO NO
PRESENTE FEITO – POSSIBILIDADE DE REVISÃO CONTRATUAL – MITIGAÇÃO
DO PRINCÍPIO DA PACTA SUNT SERVANDA – PRETENSÃO DE LIMITAÇÃO DO
CUSTO EFETIVO TOTAL COM FUNDAMENTO NAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS
DO INSS – IMPOSSIBILIDADE – PREVISÃO DE LIMITAÇÃO APENAS DA TAXA DE
JUROS REMUNERATÓRIOS – CUSTO EFETIVO TOTAL (CET) QUE LEVA EM
CONTA OUTROS ENCARGOS PACTUADOS – IMPROCEDÊNCIA DA DEMANDA
EM RELAÇÃO AOS BANCOS APELANTES – PEDIDO DE DESCARACTERIZAÇÃO
DA MORA – PARCELAS DEBITADAS DIRETAMENTE DO BENEFÍCIO DO AUTOR
– AUSÊNCIA DE MORA – REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA QUE RESULTA NA
ADEQUAÇÃO DO ÔNUS SUCUMBENCIAL – NÃO INCIDÊNCIA DO PAR. 8º DO
ARTIGO 85 DO CPC.Apelação 1 provida. Apelação 2 conhecida em parte e
parcialmente provida. Apelação 3 desprovida”. (TJPR - 15ª C.Cível - 0000036-
58.2019.8.16.0033 - Pinhais - Rel.: Juíza Elizabeth M F Rocha - J. 22.06.2020).

“AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO – ALIENAÇÃO


FIDUCIÁRIA. APELAÇÃO CÍVEL I. DO ATO JURÍDICO PERFEITO. PRINCÍPIO DA
BOA-FÉ CONTRATUAL E DA “PACTA SUNT SERVANDA”. INOCORRÊNCIA.
POSSIBILIDADE DE REVISÃO. II. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
IRRELEVÂNCIA PARA SOLUÇÃO DO CASO. DOCUMENTOS JUNTADOS AOS
AUTOS QUE SE REVELAM SUFICIENTES À FORMAÇÃO DO CONVENCIMENTO
DO JUÍZO. III. TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE NÃO
CONFIGURADA. PROVA PERICIAL QUE DEMONSTRA A AUSÊNCIA DE
COBRANÇA CONSIDERAVELMENTE SUPERIOR À TAXA MÉDIA DE MERCADO.
IV. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. IRRELEVÂNCIA. AUSÊNCIA DE VÍCIO
OU DE FATO NOS SERVIÇOS FINANCEIROS PRESTADOS. V – ÔNUS DE
SUCUMBÊNCIA. MANTIDO. VI. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO.
APLICAÇÃO DO ART. 85, § 11º, DO CPC/2015. I. “[...] 1. ‘Havendo indícios de
cobrança ilegal de encargos contratuais, é, sempre, legítima a pretensão de revisão
do contrato, ainda que fora da teoria de imprevisão. Como ensina Cunha Gonçalves
("Tratado de Direito Civil", Max Limonada, vol. IV, tomo II, nº 607), o não
locupletamento é uma obrigação legal, razão porque, para justificar a revisão do
contrato, nenhuma teoria é preciso, além dos princípios clássicos da justiça e do
direito: dar a cada um o seu, não lesar ninguém. O não locupletamento é uma
resultante destes dois axiomas jurídico’”. (TJPR, 6ª Câm. Cív., Ac. 14378, Rel. Des.
Airvaldo Stela Alves, DJ: 27/05/2005).II. “A inversão do ônus da prova é irrelevante
para o julgamento da causa, se as questões fáticas controversas puderem ser
dirimidas por meio das provas documentais constantes dos autos”. (TJPR - 15ª C.
Cível - 0018120-14.2016.8.16.0001 - Curitiba - Rel.: Desembargador Luiz Carlos
Gabardo - J. 20.02.2019).III. A limitação da taxa de juros aplicada pela instituição
financeira, apenas, é admitida no caso, em que for cobrada em excessividade
flagrante, vale dizer, quando a taxa ultrapassar uma vez e meia, o dobro ou o triplo da
taxa média de mercado, aplicada às operações de mesma espécie, de acordo com o
divulgado pelo Bacen, o que não ocorreu no caso. IV. Ausente qualquer abusividade
do contrato firmado entre as partes, resta ineficaz a discussão da incidência da
responsabilidade civil objetiva. V. Com a manutenção da sentença não há que se
falar em alteração do estado sucumbencial.VI. Negado provimento ao recurso, impõe-
se a majoração dos honorários advocatícios, prevista no art. 85, § 11º, do CPC
/2015APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E NÃO PROVIDA”. (TJPR - 15ª C.Cível -
0008237-04.2019.8.16.0174 - União da Vitória - Rel.: Desembargador Shiroshi Yendo
- J. 22.06.2020).

Portanto, existindo cláusulas contratuais abusivas e irregularidades no contrato,


possível a sua revisão, relativizando o princípio da autonomia da vontade, sem que isso configure violação
ao princípio da boa-fé objetiva por parte do contratante. É evidente que nesses casos a intervenção estatal é
admitida, sem caracterizar afronta à função social do contrato.

Assim, não merece provimento o recurso da apelante neste tópico.

Juros remuneratórios

Requer a instituição financeira apelante a reforma da sentença para que os juros


remuneratórios sejam mantidos na forma pactuada.
Por outro lado, afirma a autora/apelante 2 que segundo o entendimento do STJ, a
cobrança de juros remuneratórios superiores a uma vez e meia à taxa média de mercado divulgado para
época pelo Banco Central, já é considerada abusiva. Alega ainda que a sentença determinou que deve ser
limitada a taxa estabelecida no contrato ao triplo da taxa média de mercado, contudo, os juros deveriam ser
reduzidos para a taxa média de mercado.

Pois bem.

Como se sabe, pacificou-se na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça o


entendimento de que a adoção da taxa média de mercado se dará somente quando demonstrada a
abusividade da taxa de juros remuneratórios aplicada.

Assim, a abusividade da taxa de juros pactuada no contrato deve ser cabalmente


demonstrada em cada caso, com a comprovação do desequilíbrio contratual ou de lucros excessivos, sendo
insuficiente o só fato de a estipulação ultrapassar 12% ao ano ou de haver estabilidade inflacionária no
período. A propósito:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONTRATO


BANCÁRIO. TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS. REVISÃO. SITUAÇÃO
EXCEPCIONAL VERIFICADA NO CASO CONCRETO. POSSIBILIDADE. SÚMULA 83
/STJ. ABUSIVIDADE CONSTATADA. REEXAME. SÚMULAS 5 E 7/STJ. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO. n1. Nos termos da jurisprudência firmada no Superior
Tribunal de Justiça, a taxa de juros remuneratórios que exceda a 12% ao ano, por si
só, não caracteriza abusividade, a qual, por sua vez, só se evidencia quando
discrepante da média de mercado estabelecida pelo Banco Central, impondo-se a
análise da ilegalidade em cada caso concreto. Súmula 83/STJ. [...] (AgInt no AREsp
1591428/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 30/03/2020, DJe 06/04/2020)

Ainda, ressalte-se o disposto no enunciado nº 382 da Súmula do Superior Tribunal de


Justiça: “a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade”.

A orientação do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que se adite a revisão


das taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de
consumo e que a abusividade, capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada – art. 51, §1º, do
CDC, fique cabalmente demonstrada ante as peculiaridades do julgamento em concreto.

Cita-se como precedente:

“(...). Com efeito, a jurisprudência desta Corte é assente no sentido de que os juros
remuneratórios cobrados pelas instituições financeiras não sofrem a limitação imposta
pelo Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura), a teor do disposto na Súmula 596/STF (cf.
REsp n.º 1.061.530/RS, de 22.10.2008, julgado pela Segunda Seção segundo o rito
dos recursos repetitivos).

De qualquer sorte, imprescindível, uma vez desconstituído o aresto hostilizado no


ponto, a aferição de eventual abusividade dos juros remuneratórios ajustados entre as
partes, por força do art. 51, inc. IV, do CDC.

Para essa tarefa, a orientação deste Tribunal Superior toma por base os parâmetros
referentes à taxa média de mercado praticada pelas instituições financeiras do país,
mas não a erigindo como um teto das contratações.
Logo, para que se reconheça abusividade no percentual de juros, não basta o fato de
a taxa contratada suplantar a média de mercado, devendo-se observar uma
tolerância a partir daquele patamar, de modo que a vantagem exagerada,
justificadora da limitação judicial, só emergirá quando o percentual avençado
exacerbar uma vez e meia ao dobro ou ao triplo da taxa média de mercado.

Conforme o aresto estadual, o contrato celebrado em 12 de janeiro de 2007, aponta


taxa de juros no patamar de 35,53% ao ano. De outro lado, a taxa média de mercado
divulgada pelo Banco Central do Brasil para o mês da contratação compreendeu
32,68% ao ano.

Nesse contexto, o recurso da casa bancária deve ser provido no ponto com o
restabelecimento da taxa contratada pelas partes. (...)”. (STJ, Resp 1291711, Rel.
Min. Marco Buzzi, DJ 25.04.2013)

Necessário lembrar que o simples fato de a taxa de juros ser flutuante não acarreta a
limitação pretendida. É que as taxas de juros sofrem variações constantemente e se modificam de acordo
com as condições apresentadas pelo mercado financeiro em determinada época.

Ademais, a fim de estabelecer um parâmetro razoável, segundo o qual, poderiam


oscilar os percentuais dos juros remuneratórios, tendo-se em conta a taxa média do mercado, o Superior
Tribunal de Justiça está a considerar abusivas as taxas superiores: a) a uma vez e meia; b) ao dobro; c) ou
ao triplo da taxa média de mercado, consoante julgamento proferido em sede de recurso repetitivo. Vale
destacar parte da fundamentação:

“A taxa média apresenta vantagens porque é calculada segundo as informações


prestadas por diversas instituições financeiras e, por isso, representa as forças do
mercado.

Ademais, traz embutida em si o custo médio das instituições financeiras e seu lucro
médio, ou seja, um 'spread' médio. É certo, ainda, que o cálculo da taxa média não é
completo, na medida em que não abrange todas as modalidades de concessão de
crédito, mas, sem dúvida, presta-se como parâmetro de tendência das taxas de juros.
Assim, dentro do universo regulatório atual, a taxa média constitui o melhor parâmetro
para a elaboração de um juízo sobre abusividade.

Como média, não se pode exigir que todos os empréstimos sejam feitos segundo
essa taxa. Se isto ocorresse, a taxa média deixaria de ser o que é, para ser um valor
fixo. Há, portanto, que se admitir uma faixa razoável para a variação dos juros. A
jurisprudência, conforme registrado anteriormente, tem considerado abusivas taxas
superiores a uma vez e meia (voto proferido pelo Min. Ari Pargendler no REsp
271.214/RS, Rel. p. Acórdão Min. Menezes Direito, DJ de

04.08.2003), ao dobro (Resp 1.036.818, Terceira Turma, minha relatoria, DJe de


20.06.2008) ou ao triplo (REsp 971.853/RS, Quarta Turma, Min. Pádua Ribeiro, DJ de
24.09.2007) da média. Todavia, esta perquirição acerca da abusividade não é
estanque, o que impossibilita a adoção de critérios genéricos e universais. A taxa
média de mercado, divulgada pelo Banco Central, constitui um valioso referencial,
mas cabe somente ao juiz, no exame das peculiaridades do caso concreto, avaliar se
os juros contratados foram ou não abusivos. (...) ” (STJ. REsp n. 1061530, 2ª Seção,
Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 10.03.2009)
De uma análise dos autos, verifica-se que a pretensão da parte autora consistiu na
revisão dos seguintes contratos:

Contrato de empréstimo pessoal nº 032980001921, firmado em 06/11/2015, com taxa


anual de 407,77% (mov. 34.2)

Contrato de empréstimo pessoal nº 032980001924, firmado em 06/11/2015, com taxa


anual de 1.158,94% (mov. 34.3)

Contrato de empréstimo pessoal nº 032980003588, firmado em 09/08/2016, com taxa


anual de 987,22% (mov. 34.4)

Contrato de empréstimo pessoal nº 032980004772, firmado em 30/01/2017, com taxa


anual de 987,22% (mov. 19.4)

Por outro lado, da simples análise das taxas divulgadas pelo Bacen, para operações
de crédito pessoal não consignado, como no caso, verifica-se que os juros contratados excederam
consideravelmente a média de mercado. Vejamos[2]:

No caso em tela, as taxas de juros remuneratórios praticadas nos contratos sub judice
foram limitadas pela sentença, em virtude do reconhecimento de flagrante abusividade.

Todavia, verifica-se a sentença determinou a limitação ao triplo da taxa média de


mercado, o que não deve prevalecer.

Pacificou-se a compreensão de que é possível a revisão dos juros remuneratórios


ajustados em contrato, sempre pela média de mercado , em caso de (I) ausência de fixação da taxa no
contrato e/ou (II) abusividade dos encargos. Nesse sentido o exposto pelo e. Superior Tribunal de Justiça em
precedente submetido à sistemática dos recursos repetitivos:
“BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS DE
CONTRATO BANCÁRIO. INCIDENTE DE PROCESSO REPETITIVO. JUROS
REMUNERATÓRIOS. CONTRATO QUE NÃO PREVÊ O PERCENTUAL DE JUROS
REMUNERATÓRIOS A SER OBSERVADO. I - JULGAMENTO DAS QUESTÕES
IDÊNTICAS QUE CARACTERIZAM A MULTIPLICIDADE. ORIENTAÇÃO - JUROS
REMUNERATÓRIOS 1 - Nos contratos de mútuo em que a disponibilização do capital
é imediata, o montante dos juros remuneratórios praticados deve ser consignado no
respectivo instrumento. Ausente a fixação da taxa no contrato, o juiz deve limitar os
juros à média de mercado nas operações da espécie, divulgada pelo Bacen, salvo se
a taxa cobrada for mais vantajosa para o cliente. 2 - Em qualquer hipótese, é possível
a correção para a taxa média se (...) for verificada abusividade nos juros
remuneratórios praticados.” (REsp 1112880/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/05/2010, DJe 19/05/2010)

Desta feita, uma vez comprovada a abusividade da cobrança dos juros


remuneratórios, deve haver a limitação dos juros remuneratórios às taxas médias de mercado conforme
exposto na tabela acima e não ao triplo da média, conforme constou em sentença, pelo que deve ser
reformada neste ponto.

Ademais, por mais que alegue a autora que segundo o entendimento do STJ, a
cobrança de juros remuneratórios superiores a uma vez e meia à taxa média de mercado divulgado para
época pelo Banco Central, já é considerada abusiva, a limitação dos juros remuneratórios à taxa média de
mercado deve ocorrer quando demonstrada a cobrança superior ao triplo da taxa média de mercado,
consoante jurisprudência do STJ e também desta Câmara. Confira-se:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL.


BANCÁRIO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. JUROS REMUNERATÓRIOS.
ÍNDOLE ABUSIVA. TAXA MÉDIA DE MERCADO. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. É
admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais,
desde que caracterizada a relação de consumo e que a cobrança abusiva (capaz de
colocar o consumidor em desvantagem exagerada - art. 51, § 1º, do CDC) fique
cabalmente demonstrada, ante as peculiaridades do julgamento em concreto. 2.
Infere-se do acórdão recorrido que, apesar de adotar como parâmetro a taxa média
de mercado para verificar a índole abusiva, o acórdão não se limitou a afirmar que a
taxa de juros era superior à taxa média, mas também que a análise seria feita com
base no CDC, aplicando entendimento do STJ de que a "significativa exorbitância da
taxa praticada" em relação à taxa média justifica a revisão, analisando
expressamente as taxas previstas no contrato, que inclusive correspondem ao triplo
da taxa média. 3. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp 770.374/RS, Rel.
Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª
REGIÃO), QUARTA TURMA, julgado em 19/04/2018, DJe 25/04/2018)

APELAÇÃO CIVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO REVISIONAL DE


CONTRATO. CONTA CORRENTE. CHEQUE ESPECIAL. JUROS
REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO DEVIDA APENAS QUANDO A COBRANÇA
SUPERAR O TRIPLO DA TAXA MÉDIA DE MERCADO. RESP. 971.853/RS.
AUSÊNCIA ABUSIVIDADE. JUROS PRÉ-FIXADOS. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS.
EXPRESSA PACTUAÇÃO. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. GENERALIDADE DAS
ALEGAÇÕES INICIAIS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. HONORÁRIOS
RECURSAIS. FIXAÇÃO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 15ª C.
Cível - 0002897-33.2014.8.16.0052 - Barracão - Rel.: Desembargador Shiroshi Yendo
- J. 13.02.2019)
Portanto, para que seja possível limitar os juros remuneratórios à taxa média de
mercado, deve estar comprovado que as taxas pactuadas superam em três vezes a taxa média de mercado.

De acordo com os dados constantes dos 4 contratos apresentados, o fato é que a


autora logrou êxito em demonstrar que os juros remuneratórios superaram o triplo das taxas divulgadas pelo
Bacen, vide documento juntado ao mov.1.8 e 37.1

Nesse aspecto, também não há que se falar em limitação das taxas à uma vez e
meia, pois, uma vez ultrapassado o triplo da taxa média, os juros remuneratórios devem ser limitados à taxa
média de mercado divulgada pelo Bacen à época da contratação, nos termos dos precedentes citados acima.

De igual modo, além do REsp 1821182/RS não possuir caráter vinculante, a


fundamentação ora adotada não contraria quaisquer das teses firmadas em referido precedente, na medida
em que, no caso concreto, a taxa média de mercado constitui a única ferramenta possível para aferir a
abusividade da taxa de juros remuneratórios praticada, pois a apelante não foi capaz de demonstrar
qualquer elemento desconstitutivo do direito da apelada.

Em outras palavras, a instituição financeira não logrou êxito em demonstrar a


existência do alto perfil de risco alegado em relação à autora ou de qualquer outro elemento, a exemplo
desta estar negativada no momento da celebração de algum dos 4 contratos, que pudesse justificar a
pactuação de juros remuneratórios superiores de até treze vezes da taxa média de mercado.

Note-se que foram levadas em consideração as circunstâncias do caso concreto,


conforme entendimento exposto no Recurso Especial 1.821.182/RS. Entretanto, o fato de a apelante
contratar com clientes de alto risco não descaracteriza a abusividade dos juros cobrados acima do triplo da
média de mercado. Nesse sentido:

Revisional. Contrato bancário de empréstimo pessoal. Juros remuneratórios.


Percentual superior a três vezes os juros de mercado. Limitação à taxa média de
mercado. Danos morais. Inexistência. Adequação do valor da condenação na
reconvenção remetido à liquidação de sentença. Apelação conhecida e provida em
parte. (TJPR - 15ª C.Cível - 0021038-30.2018.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - Rel.:
Desembargador Hamilton Mussi Corrêa - J. 02.10.2019)

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE CONTRATUAL C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – EMPRÉSTIMO PESSOAL COM
DESCONTO DAS PARCELAS EM CONTA CORRENTE – SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA – RECURSOS DE AMBAS AS PARTES – APELAÇÃO 1 DA
AUTORA – AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE –
INSURGÊNCIA CONTRA O BENEFÍCIO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA
– BENEFÍCIO CONCEDIDO EM PRIMEIRO GRAU – NÃO COMPROVAÇÃO DE
MUDANÇA DA SITUAÇÃO DE MISERABILIDADE DEMONSTRADA PELA AUTORA
– BENEFÍCIO MANTIDO – NÃO CONHECIMENTO DO TÓPICO RECURSO
RESPEITANTE À RECONVENÇÃO, POR CONFIGURAR INOVAÇÃO - MÉRITO DO
RECURSO – ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO CONTRATO POR ABUSIVIDADE DOS
DESCONTOS OCORRIDOS NA CONTA CORRENTE DA AUTORA – EXPRESSA
AUTORIZAÇÃO PARA O DESCONTO NA CONTA CORRENTE – CONTRATO DE
EMPRÉSTIMO PESSOAL QUE NÃO SE SUJEITA À LIMITAÇÃO DE DESCONTOS
EM 30% DO SALÁRIO PREVISTA PARA OS EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS –
PRECEDENTES – DANOS MORAIS – NÃO CARACTERIZAÇÃO – DANO
PATRIMONIAL QUE CONFIGURA MERO DISSABOR – APELAÇÃO 2 DO RÉU
CREFISA – NÃO CONHECIMENTO DA ALEGAÇÃO SOBRE CAPITALIZAÇÃO DE
JUROS – TEMA NÃO ABORDADO PELA SENTENÇA – CONSTATAÇÃO DE
ABUSIVIDADE DA TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS CONTRATADA – ÍNDICE
UTILIZADO COMO PARÂMETRO PELA SENTENÇA EQUIVOCADO – REFORMA
DA SENTENÇA PARA A UTILIZAÇÃO DA TAXA MÉDIA RESPEITANTE À
MODALIDADE CONTRATUAL EM ANÁLISE – TAXA DE JUROS CONTRATADA
QUE PERMANECE SUPERANDO O TRIPLO DA TAXA MÉDIA – LIMITAÇÃO À
TAXA MÉDIA DE MERCADO DIVULGADA PELO BACEN PARA OPERAÇÃO DA
MESMA NATUREZA NA ÉPOCA DO CONTRATO – PROVIMENTO DO RECURSO
QUE BENEFICIA APENAS O APELANTE, POR NÃO SE TRATAR DE
LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO – ART. 117 DO CPC/2015 – REFORMA DA
SENTENÇA APENAS NO TOCANTE AO ÍNDICE UTILIZADO COMO PARÂMETRO
DE TAXA MÉDIA DE MERCADO – RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO DO INDÉBITO.
Apelação Cível 1 conhecida em parte e desprovida e Apelação cível 2 conhecida em
parte e parcialmente provida.(TJPR - 15ª C.Cível - 0013943-37.2018.8.16.0130 -
Paranavaí - Rel.: Juíza Elizabeth M F Rocha - J. 18.05.2020)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO C/C REPETIÇÃO DO


INDÉBITO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO GARANTIDA POR ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA. AQUISIÇÃO DE VEÍCULO. I – PRELIMINAR DE CONTRARRAZÕES.
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. INOCORRÊNCIA. RECURSO QUE
SE INSURGE CONTRA AS TESES ESPOSADAS NA SENTENÇA. II – REVISÃO
CONTRATUAL. POSSIBILIDADE. III – JUROS REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO À
TAXA MÉDIA DE MERCADO. DEVIDA. ABUSIVIDADE DEMONSTRADA. TAXA
COBRADA QUATRO VEZES SUPERIOR À MÉDIA DE MERCADO. IV –
REPETIÇÃO DO INDÉBITO DEVIDA. COBRANÇA DE VALORES INDEVIDAMENTE.
COMPENSAÇÃO POSSIBILIDADE EM FASE DE LIQUIDAÇÃO.I –[...]. III –
Comprovada a abusividade das taxas de juros remuneratórios cobradas pela
instituição financeira, cabível a limitação destas à taxa média de mercado, posto que
foram pactuadas em até quatro vezes a média de mercado. IV – [...]. APELAÇÃO
CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. (TJPR - 15ª C.Cível - 0003978-
92.2018.8.16.0014 - Londrina - Rel.: Desembargador Shiroshi Yendo - J. 22.05.2019)

Assim, diante da demonstração da abusividade das taxas contratadas, deve haver a


determinação à limitação à média de mercado.

Nesse sentido:

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATOS BANCÁRIOS.


EMPRÉSTIMO PESSOAL. ALEGAÇÃO DE TAXAS DE JUROS REMUNERATÓRIOS
ABUSIVAS. RECURSO DE AMBAS AS PARTES. APELAÇÃO (I) – CREFISA S/A,
CRÉDITOS, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO. JUROS REMUNERATÓRIOS.
LIMITAÇÃO DEVIDA. ABUSIVIDADE COMPROVADA. TAXAS QUE ULTRAPASSAM
O TRIPLO DO MERCADO. DEVOLUÇÃO SIMPLES. RECURSO 01 CONHECIDO E
DESPROVIDO. APELAÇÃO (II) – DARCI FELIX DE OLIVEIRA. 1. READEQUAÇÃO
DA TAXA MÉDIA UTILIZADA. SÉRIE TEMPORAL 20743 RELACIONADA À
CONFISSÃO DE DÍVIDAS. CORREÇÃO ADEQUADA. HONORÁRIOS POR
EQUIDADE. INOCORRÊNCIA. RECURSO 02 CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO.(TJPR - 15ª Câmara Cível - 0001386-22.2022.8.16.0148 - Rolândia - Rel.:
SUBSTITUTO LUCIANO CAMPOS DE ALBUQUERQUE - J. 29.04.2023)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE TAXA ANUAL DE JUROS S/S


EXIBIÇÃO DE CONTRATO. CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO PESSOAL. JUROS
REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE. SUPERAÇÃO DO TRIPLO DE MERCADO.
CONFIGURAÇÃO. LIMITAÇÃO. MANUTENÇÃO. RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO
DEVIDA. 1. Em empréstimo firmado com instituição financeira, a limitação dos juros
remuneratórios à média de mercado pressupõe a comprovação de abusividade das
taxas cobradas. Verificado, na espécie, que os percentuais aplicados foram
superiores ao triplo da média de mercado quanto à mesma espécie de operação, está
demonstrada a abusividade, justificando-se a limitação de tal encargo ao referido
parâmetro. 2. Constatada a exigência de valores indevidamente cobrados, relativos a
juros remuneratórios abusivos, é imperiosa a repetição do indébito ou compensação,
sob pena de enriquecimento indevido. APELAÇÃO NÃO PROVIDA.(TJPR - 15ª
Câmara Cível - 0006398-22.2022.8.16.0017 - Maringá - Rel.: DESEMBARGADOR
HAYTON LEE SWAIN FILHO - J. 29.04.2023)

PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE CONHECIMENTO. 1.


PRELIMINAR DE CONTRARRAZÕES. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE. NÃO ACOLHIMENTO. 2. JUROS REMUNERATÓRIOS.
LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE MERCADO. POSSIBILIDADE. ABUSIVIDADE
DEMONSTRADA. 3. RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO. CABIMENTO. FORMA
SIMPLES. 4. SUCUMBÊNCIA. MANUTENÇÃO DO ÔNUS.1. Não há ofensa ao
princípio da dialeticidade se o apelante impugna especificamente os termos da
sentença e expõe os fundamentos de fato e de direito do pretendido pedido de
reforma.2. Estando devidamente demonstrado o excesso considerável das taxas de
juros remuneratórios praticada nos contratos revisados, a sua limitação é medida que
se impõe.3. A repetição do indébito somente é possível quando verificada a cobrança
de encargos ilegais, tendo em vista o princípio que veda o enriquecimento sem causa
do credor, nos termos do artigo 876 do CC/02. 4. O ônus de sucumbência deve ser
distribuído considerando o aspecto quantitativo e o jurídico em que cada parte decai
de suas pretensões.Apelação cível 1 - Crefisa S/A Crédito, Financiamento e
Investimentos – não provido. Apelação cível 2 - Cicero Monteiro dos Santos - não
provido.(TJPR - 15ª Câmara Cível - 0005302-98.2021.8.16.0148 - Rolândia - Rel.:
DESEMBARGADOR JUCIMAR NOVOCHADLO - J. 29.04.2023)

Revisional. Contrato bancário de empréstimo pessoal. Juros remuneratórios.


Percentual superior a três vezes os juros de mercado. Limitação à taxa média de
mercado. Danos morais. Inexistência. Adequação do valor da condenação na
reconvenção remetido à liquidação de sentença. Apelação conhecida e provida em
parte. (TJPR - 15ª C.Cível - 0021038-30.2018.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - Rel.:
Desembargador Hamilton Mussi Corrêa - J. 02.10.2019)

AÇÃO REVISIONAL - CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO - FINANCIAMENTO DE


VEÍCULO COM GARANTIA FIDUCIÁRIA - SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA - RECURSOS DE AMBAS AS PARTES - DESPROVIMENTO DAS
PRETENSÕES REVISIONAIS ACOBERTADAS PELA COISA JULGADA -
CONSTATAÇÃO DE ABUSIVIDADE DA TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS
CONTRATADA, POR SUPERAR O TRIPLO DA TAXA MÉDIA - LIMITAÇÃO À TAXA
MÉDIA DE MERCADO DIVULGADA PELO BACEN PARA OPERAÇÃO DA MESMA
NATUREZA NA ÉPOCA DO CONTRATO - LEGALIDADE DA CAPITALIZAÇÃO DE
JUROS - FINANCIAMENTO CONTRAÍDO EM VALOR CERTO, COM ENCARGOS
PRÉ-FIXADOS E PARCELAS MENSAIS FIXAS - ACEITAÇÃO PELO MUTUÁRIO E
BOA-FÉ CONTRATUAL - JUROS CAPITALIZADOS CONTRATADOS - MORA
DESCARACTERIZADA - NECESSIDADE DE RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO, SOB
PENA DE ENRIQUECIMENTO INDEVIDO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA -
REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA, COM REDISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL
DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. Apelação 1 desprovida e Apelação 2 provida em
parte. (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1673842-4 - Arapongas - Rel.: Juíza Elizabeth M F
Rocha - Unânime - J. 29.05.2019)
Por último, o fato de se tratar de contrato de empréstimo com parcelas fixas, não
impede o reconhecimento da abusividade dos juros contratados.

Do exposto, tendo em vista a cobrança abusiva dos juros remuneratórios, deve ser
mantida a sentença que determinou a limitação dos juros remuneratórios, todavia, a limitação deve se dar à
taxa média de mercado, conforme valores constantes da tabela do Bacen colacionada anteriormente.

Repetição do indébito

Alega a apelante 1 a impossibilidade de restituição da diferença dos valores cobrados


em excesso.

Contudo, razão não lhe assiste.

Com efeito, constatada a cobrança de encargos abusivos, é devida a restituição


/compensação do indébito, nos termos do art. 876 do Código Civil.

Assim, o que não pode prevalecer é o enriquecimento sem causa de qualquer das
partes.

Note-se, ademais, que a jurisprudência firmou entendimento no sentido de que, nas


ações de revisão de contratos bancários, não se faz necessária, para que se determine a compensação ou a
repetição do indébito, a prova do erro no pagamento. Confira-se:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO.


RESPONSABILIDADE CIVIL. BOA-FÉ OBJETIVA. AUSÊNCIA DE INTERESSE
RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. PROVA DE
ERRO DESNECESSÁRIA. SÚMULA 322/STJ. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA.
REDISTRIBUIÇÃO DESCABIDA. APELAÇÃO CONHECIDA EM PARTE E NÃO
PROVIDA. (TJPR - 15ª C. Cível - 0004645-83.2018.8.16.0077 - Cruzeiro do Oeste -
Rel.: Desembargador Hayton Lee Swain Filho - J. 03.07.2019)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE ABERTURA DE


CRÉDITO. TESES DE INÉPCIA DA INICIAL E NÃO INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA. PRECLUSÃO. MATÉRIAS NÃO CONHECIDAS. LEGALIDADE DA
COBRANÇA DE IOF E TEC. INTERESSE RECURSAL. AUSÊNCIA. JUROS
REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE NÃO DEMONSTRADA. TAXAS PRATICADAS.
MANUTENÇÃO. TAC. CONTRATOS POSTERIORES À RESOLUÇÃO 3518/2007.
IRREGULARIDADE. EXPURGO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CABIMENTO.
ENCARGOS SUCUMBENCIAIS. REDISTRIBUIÇÃO. 1. Resultam preclusas as
matérias, quando já analisadas em decisão de saneamento não recorrida. 2. Carece
de interesse recursal a parte que se insurge contra determinação não contida na
sentença. 3. Em contratos bancários, devem ser mantidos os juros remuneratórios
pactuados quando ausente prova de abusividade. 4. Deve ser expurgada a tarifa de
abertura de crédito (TAC) prevista em contrato firmado posteriormente a vigência da
Resolução-CMN n. 3.518/2007. 5. Em função do princípio que veda o enriquecimento
ilícito, constatada a cobrança de encargos indevidos, é possível a restituição do
indébito, independentemente da existência de erro no pagamento. 6. Verificada a
sucumbência mínima da parte ré, compete à parte autora o pagamento da
integralidade dos encargos sucumbenciais (art. 86, parágrafo único, do Código de
Processo Civil). 7. Apelação cível parcialmente conhecida e, nessa parte,
parcialmente provida. (TJPR - 15ª C. Cível - 0019370-89.2016.8.16.0031 -
Guarapuava - Rel.: Desembargador Luiz Carlos Gabardo - J. 29.05.2019)

Assim, deve ser mantida a sentença também neste tópico, que determinou a
restituição simples dos valores cobrados indevidamente, ainda que sob a forma de compensação, no caso
de existir saldo devedor pelo inadimplemento.

Critério de fixação dos honorários

No tocante à pretensão da apelante 1 de readequação dos honorários sucumbenciais


a serem fixados em valor fixo, ao fundamento de que fixados em montante excessivo, não assiste razão à
recorrente.

Isso porque, diversamente da tese defendida, a fixação equitativa (art. 85, §8º, do
CPC) apenas se justifica nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico obtido, o que
não ocorre no caso em tela, uma vez que, de acordo com a regra do §2º do mesmo dispositivo legal, os
honorários advocatícios devem ser fixados no patamar de dez a vinte por cento calculados sobre o valor da
condenação ou do valor econômico obtido ou do valor atualizado da causa.

Logo, deve ser mantida a sentença que condenou a recorrente ao pagamento de


honorários de 20% sobre o valor da condenação.

Desse modo, não há que se falar em excessividade dos honorários, na medida em


que a verba foi fixada no percentual mínimo legalmente admitido, devendo ser mantida a sentença nesse
ponto.

Portanto, não prospera a tese defendida pela instituição financeira.

Erro Material

Sustenta a instituição financeira que houve erro material na r. sentença, de modo que
deve ser corrigida em sede recursal, a fim de que passe a constar a taxa média correta para o contrato de n.
032980001924, isto é, 120,39% a.a.

Com razão.

Conforme já exposto através da tabela da taxa de juros do Banco Central colacionada


anteriormente, devem ser utilizadas as seguintes taxas médias de mercado para cada contrato:

Contrato n° 032980001921, firmado em 06/11/2015 – Taxa Média de mercado


: 120,39% a.a.

Contrato n° 032980001924, firmado em 06/11/2015 - Taxa Média de


mercado: 120,39% a.a.

Contrato n° 032980003588, firmado em 09/08/2016, - Taxa Média de


mercado: 132,16% a.a.

Contrato n° 032980004772, firmado em 30/01/2017 - Taxa Média de mercado :


140,88% a.a.

Desta feita, deve ser sanado o erro material existente na sentença para constar as
taxas médias corretas, conforme disposto acima, para cada contrato.
Diante disso, merece parcial provimento o recurso da parte autora a fim de que seja
determinada a limitação dos juros nos contratos objetos da lide, às taxas médias de mercado, nos valores
constantes da tabela do Bacen, (série 20742) colacionada anteriormente, bem como merece parcial
provimento o recurso da instituição financeira a fim de sanar erro material constante da sentença para que
passe a constar a taxa média correta para os contratos.

Sucumbência

Considerando o provimento parcial de ambos os recursos, todavia, restando mantida


a sentença de procedência dos pedidos iniciais, deve ser mantido o ônus de sucumbência, com a
condenação da instituição financeira ré ao pagamento das custas e honorários advocatícios fixados em 20%
sobre o valor da atualizado condenação.

3.Do exposto, dá-se parcial provimento ao recurso da apelante Dorcidia de Souza


Silva., a fim de que seja determinada a limitação dos juros nos contratos objetos da lide, às taxas médias de
mercado, nos valores constantes da tabela do Bacen, série 20742, bem como dá-se parcial provimento ao
recurso do apelante Crefisa S/A Crédito, Financiamento e Investimento para sanar erro material
constante da sentença, nos termos da fundamentação.

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 15ª Câmara Cível do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE
PARTE E PROVIDO EM PARTE o recurso de DORCIDIA DE SOUZA SILVA, por unanimidade de votos, em
julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E PROVIDO EM PARTE o recurso de Crefisa S/A Crédito,
Financiamento e Investimento.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargador Luiz Carlos Gabardo,


sem voto, e dele participaram Desembargador Jucimar Novochadlo (relator), Desembargador Substituto
Luciano Campos De Albuquerque e Desembargador Hayton Lee Swain Filho.

17 de maio de 2024

Desembargador Jucimar Novochadlo

Juiz (a) relator (a)

[1]Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 227.

[2] https://www3.bcb.gov.br/sgspub/consultarvalores/consultarValoresSeries.do?
method=consultarValores

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