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UNIVERSIDADE FUMEC

FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA – FEA

ARTHUR RANDOLPHO AMORIM MARTINS DE MELO

A MORAL DAS FÁBULAS

EDITORIAL ILUSTRADO DAS FÁBULAS DE ESOPO, A FIGURA DO


LOBO EM FOCO

Belo Horizonte
1° SEM./2022
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ARTHUR RANDOLPHO AMORIM MARTINS DE MELO

A MORAL DAS FÁBULAS

EDITORIAL ILUSTRADO DAS FÁBULAS DE ESOPO, A FIGURA DO


LOBO EM FOCO

Pré-projeto para Trabalho de Conclusão de


Curso (projeto prático) apresentado à
Universidade FUMEC como requisito parcial
para a obtenção do título de bacharel em
Design.

Área de Concentração: Ilustração


Orientador de Projeto: Samuel Eller
Orientador de Texto Acadêmico: Samuel
Eller

Belo Horizonte
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1°SEM./2022

RESUMO

Este projeto possui como temática central as Fábulas de Esopo, gênero da literatura
que acompanha o homem desde o início das civilizações e que foi fundamental para
a construção de valores morais na sociedade. Como recorte temático, foi escolhido a
figura do lobo, o animal mais recorrente nas fábulas. Através deste, busca-se
explorar os seus simbolismos trazendo ‘novas camadas’ ao personagem dentro das
histórias. O projeto propõe a criação de um design editorial gráfico ilustrado e
híbrido, que busca trazer ao mundo contemporâneo outras visões sobre os valores
morais através das fábulas, utilizando a figura do lobo como protagonista dessa
nova narrativa visual. Por fim, o projeto tem como objetivo enaltecer e revitalizar a
linguagem gráfica do gênero, retornando a histórias que ajudaram na concepção dos
valores morais de tempos passados a fim de gerar uma reflexão sobre esses valores
nos dias de hoje sob uma nova perspectiva.

Palavras-chave: Fábulas de Esopo. Design Editorial. Ilustração.


5

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Crescimento das obras gerais 2020 ………………………….... 9

Figura 02 - Dados Obras Gerais 2021 ……………………….………………... 10

Figura 03 - Índice de participação de obras exclusivamente virtuais de 10


2020…………………………………………………………………...

Figura 04 - Canais de distribuição de obras gerais 11


2020…………………………………………………..……………….

Figura 05 - Canais de distribuição de obras gerais 11


2021………………………………………….……………………….

Figura 06 - Crescimento de público da CCXP……………….……………….. 14

Figura 07 - Darkside books implementação de tecnologia 15


RA………………….....................................................................

Figura 08 - Darkside Books RA playstore…………….……………………….. 15

Figura 09 - Reflections de Anindita Agarwal, 22


2017………………………………………………………….……….

Figura 10 - Collecting Myself, 2016……………………………………..…….. 23

Figura 11 - Livro BIFT Graduation Works BA, 2020 24


………………………………………………………….……………..

Figura 12 - Livro Identity=identical, 2015………………………………….. 26

Figura 13 - Livro Akis, 2020 …………………………………………………….. 27

Figura 14 - O Pequeno príncipe - Antoine de 29


Saint-Exupéry………………………………………………………...

Figura 15 - Ilustração de Garrett Hanna 31


2018………………………………………………………...…………

Figura 16 - Matisse - A Alegria de Viver, 1905 32


………………………………………………………..……….……….

Figura 17 - Fernando Vilela - Lampião & Lancelote, 32


2006…………………………………………………………………...

Figura 18 - O Livro da Arte - Publifolha, 34


2010.……………………………………………………….………….
6

Figura 19 - Touching North - Andy Goldsworthy, 36


1989…………………………………………………………………..

Figura 20 - Este é o lobo - Alexandre Rampazo, 2020 36


……………………..……………………………………..……………

Figura 21 - Spider-Man: Into the Spider-Verse -The Art of the Movie………. 37

Figura 22 - David Gentleman: Watercolors From Andalusia To Zanzibar, 39


2004…………………………………………………………………..

Figura 23 - Het Beste Van - Wim T. Schippens……………………………….. 40


7

SUMÁRIO

1 TEMA: AS FÁBULAS DE ESOPO………………………………..…………….. 7

1.1 Recorte Temático: O Lobo - O animal mais recorrente nas fábulas de 8


esopo……………………………………………………………….……………..

2 JUSTIFICATIVA………………………………………………………………….... 9

3 PROBLEMA DE DESIGN………………………………………………………... 18

4 OBJETIVOS……………………………………………………………………….. 19

4.1 Objetivo de Design…………………………………………………………........ 19

4.2 Objetivo Mercadológico……………………………………………………........ 19

4.3 Objetivo Sociocultural………………………………………………………....... 19

5 CONCEITO DE PROJETO……………………………………………………….. 20

6 FUNDAMENTAÇÃO………………………………………………………………. 28

6.1 Técnico Teórica…………………………………………………..……………. 28

6.1.2 Ilustração…………………………………………………….………………... 28

6.1.3 A função das Cores no livro ilustrado……………………………….……... 30

6.1.4 O Formato do livro ilustrado……………………………………...…………. 33

6.1.5 O grid e o projeto do livro ilustrado………………………………………… 38

6.1.6 O substrato para um projeto editorial ilustrado…………………………… 39

6.2 Metodológica........................................................................................ 41

7 REFERÊNCIAS…………………………………………………………………... 43

8 ANEXOS…………………………………………………………………………... 48
8

1 TEMA: AS FÁBULAS DE ESOPO

A relação de proximidade que o homem possuía com os animais, parece ter sido de
grande influência da presença dos mesmos nas primeiras histórias contadas por
eles, segundo explica o autor britânico Russell Ash (2020), muitas destas, são
histórias curtas e bem humoradas comumente protagonizadas por animais os quais
refletem o comportamento humano, com o propósito de gerar crítica e reflexão sobre
o assunto, trazendo consigo também, lições de cunho moral e que nos revelam
algumas verdades universais da natureza humana, são essas as denominadas
Fábulas. Segundo o Dicionário Aurélio: Fábula "[Lat. fabula] sf. 1. significa uma
narração alegórica cujas personagens são em regra, animais, e que encerra lição
moral.” (AURÉLIO, 2017, p. 336)

Ash (2020) também afirma que antigamente as fábulas eram encontradas em


algumas partes do oriente, mas se tornaram populares no ocidente apenas no final
do século V a.C., por Esopo, que passou a ser considerado o maior escritor de
fábulas, o qual também não sabemos se realmente existiu. Porém, o historiador
grego Heródoto relata que ele era um escravo provindo da Frígia, localizada na
região da antiga Grécia e que posteriormente teria sido executado por blasfêmia na
cidade de Delfos.

As fábulas, segundo Ash (2020), são um dos assuntos mais universalmente


populares do livro ilustrado e são contadas de geração em geração há mais de dois
mil e quinhentos anos. O mesmo ainda afirma que as fábulas “... são de certo modo
precursoras dos quadrinhos e desenhos animados de hoje.” (ASH, 1990, p. 7)

Para Walter Benjamin, “A história é objeto de uma construção cujo lugar não é o
tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de ‘agoras’. Cada agora da
fábula, ao mesmo tempo em que recupera a tradição do gênero, o reinventa.”
(BENJAMIN, 1994, p. 229)

Portanto, levando em consideração a atemporalidade do tema e sua importância na


construção da civilização gerando valores morais e sua grande influência em
produções cinematográficas e literárias, percebe-se então que este é um assunto
9

extremamente relevante para a sociedade que necessita da reinvenção de novos


‘agoras’ para então, enaltecer e revitalizar o gênero.

1.1 Recorte Temático: O LOBO - O ANIMAL MAIS RECORRENTE NAS


FÁBULAS DE ESOPO.

Um dos animais mais recorrentes nas fábulas de Esopo, é o lobo, esse, que
conforme afirma Ash (2020) é errante, possuindo traços de personalidade
marcadamente individuais baseados na nossa percepção do reino animal.

Entre as mais diversas fábulas de Esopo, em que a figura do lobo aparece, é


possível perceber algumas variações de personalidade, como por exemplo em: O
lobo e o Cordeiro; O lobo e as ovelhas; O garoto do “Olha o lobo”, nessas, o
animal é retratado como um caçador voraz e implacável, sendo que em todas elas,
ele consegue facilmente devorar suas vítimas. Já em fábulas como: O lobo e a
cegonha; O lobo e o burro; A porca e o lobo; O cordeiro e o lobo; O lobo e o
burro doente; O lobo e o cabra; o personagem aparenta ser um pouco mais
piedoso, como por exemplo com a cegonha, que para remover o osso intalado na
garganta do lobo, coloca a sua cabeça dentro da boca dele e mesmo assim ele não
a devora, além de tentar supostamente ajudar outros animais como por exemplo:
tirar o espinho da pata do burro, ajudar a porca a parir, ajudar o cordeiro a encontrar
sua mãe, tentar curar o burro doente e tentar colocar a cabra em um lugar mais
seguro para pastar. Porém, em todas as fábulas que o lobo tenta ajudar os outros
animais, ele não é bem sucedido, justamente por sofrer preconceito pela ameaça
que a sua figura remete e também por possuir uma fisiologia que oferece perigo aos
outros animais. Entretanto, em fábulas como: O cão e a ovelha; O Veado, o lobo e
a ovelha; o lobo utiliza sua aparência intimidadora e o temor dos outros animais a
seu favor, não com o objetivo de predar os animais, mas o de promover ‘justiça’
entre eles. Por fim, na famosa fábula O Lobo em pele de cordeiro, o animal tenta
se misturar no meio do rebanho e acaba morrendo por confundido com um cordeiro.1

1
Todas as fábulas citadas se encontram em anexo no final deste documento.
10

Segundo Chevalier e Gheerbrant (2003), o lobo também é considerado sinônimo de


selvageria e libertinagem, porém como enfatizam os autores, em qualquer vetor
simbólico pode ser valorizado tanto o lado positivo como o negativo, por exemplo, o
fato do lobo ter visão noturna pode ser associado a ele, o símbolo de luz, guerreiro,
ancestral mítico, entre outros. Ainda segundo os mesmos autores (2003), na China e
em certas partes do Japão o lobo assume o papel de guardião e protetor contra
outros animais respectivamente, atributo dado a ele devido a ideia de força mal
contida e ferocidade. Entretanto no folclore europeu o lobo é comumente retratado
como vilão, sendo este, o tão conhecido lobo mau, personagem que é também,
muito presente nos contos de fadas. O lobo também é associado a Hades, o Deus
do Submundo, por vestir a sua capa de pele de lobo e as orelhas de lobo do deus da
morte dos etruscos, civilização antiga da península Itálica. Segundo pesquisas
Angela Pappiani e Maíra Lacerda (2014) o povo A’uwe, conhecidos como índios
Xavantes, retratam o Lobo Guará como um espírito maligno sedutor.

Portanto, tendo em vista a complexidade simbólica da figura do lobo e considerando


como isso muitas vezes se relaciona com as suas características individuais
presentes nas fábulas de Esopo, existe a possibilidade de explorar estas
singularidades dentro do livro, como uma forma de inovar no gênero, explorando o
lobo como protagonista da obra por completo ao invés de apenas fábulas
individuais, dando a ele uma nova perspectiva e adicionando ‘novas camadas’ para
o personagem dentro dessas histórias.

2 JUSTIFICATIVA

Tendo em vista a relevância das fábulas de Esopo para construção de valores


morais na sociedade desde o século V, na Grécia para a cultura ocidental, sendo
essas, histórias contadas de geração em geração por mais de dois mil e quinhentos
anos, este projeto tem como proposta principal valorizar e revitalizar este gênero
literário mundialmente conhecido.

As fábulas de Esopo, sempre foram um assunto muito recorrente em produções


literárias, possuindo milhares de edições com diferentes propostas no mundo inteiro.
11

Entretanto, segundo pesquisas da SNEL - Sindicato Nacional dos Editores de Livros


o consumo de livros como forma de entretenimento no brasil vinha decaindo ao
longo dos anos. Porém, no ano de 2020, devido às restrições do COVID-19, a única
categoria de livros que possuiu um aumento de consumo foi a de Obras Gerais,
essas, que são direcionadas ao uso da literatura recreativa, apresentaram um
crescimento de 3,8%. Os dados também apontam que a produção de exemplares
destinados a Obras gerais aumentou em quase 40% de 2020 a 2021, além do
aumento de vendas que aumentou em 22,5% e o faturamento que também
demonstrou um crescimento de 22,9% conforme pode ser observado nos quadros
abaixo:

Figura 01 - Crescimento das obras gerais 2020

Fonte: Nielsen Company (2020)

Figura 02- Dados Obras Gerais 2021


12

Fonte: Nielsen Book Data (2021)

Também não se pode ignorar que a internet influencia diretamente no mercado de


consumo e que devido às restrições da pandemia, as pessoas passaram a consumir
cada vez mais obras literárias através desse meio. Ainda segundo as pesquisas da
SNEL, a performance do canal de Livrarias Exclusivamente Virtuais teve um enorme
crescimento no faturamento das editoras de incríveis 84% de participação. Além
disso como pode ser visto nos gráficos abaixo, o consumo de livros através de
plataformas virtuais, apresentou aumento em 3 anos consecutivos, sendo de 2019
para 2020, um aumento significativo de 32,5% e no ano seguinte ainda manteve um
crescimento de 5,1%, como pode ser visto nos quadros abaixo:

Figura 03 - Índice de participação de obras exclusivamente virtuais de 2020

Fonte: Nielsen Book (2020)


13

Figura 04- Canais de distribuição de obras gerais 2020

Fonte: Nielsen Book (2021)

Figura 05- Canais de distribuição de obras gerais 2021

Fonte: Nielsen Book (2022)

Referente aos dados apresentados acima, é possível afirmar que a tecnologia tem
sido cada vez mais importante tanto para a economia, quanto para a literatura como
forma de entretenimento, tornando assim, cada vez mais acessível ao grande
público obras literárias e incentivando assim o hábito da leitura.

É importante também levar em consideração a inegável influência das fábulas de


Esopo em outros grandes produtos do entretenimento, como por exemplo em filmes
de animação premiados mundialmente pelo Oscar como: Zootopia, Ratatouille,
14

Procurando Nemo, Rango, entre outros. Estes, que carregam consigo elementos
característicos provindo das fábulas de Esopo, ou seja, são histórias protagonizadas
por animais antropomorfizados que nos ensinam a lidar com as adversidades da
vida, refletir sobre nossas atitudes no cotidiano e nos transmitem lições morais com
simplicidade. Percebe-se também a oportunidade de enaltecer a importância desse
gênero que é tão antigo e ao mesmo tempo tão relevante para o meio de
entretenimento contemporâneo.

Sobre a origem do antropomorfismo não se sabe ao certo quando foi utilizado pela
primeira vez, apenas tem-se conhecimento de que cerca de 40 mil anos atrás ele já
utilizado na arte pré-histórica, segundo o Steven Mithen (1998) alguns caçadores da
época atribuíam características humanas aos animais, com o objetivo de prever
quais seriam os seus comportamentos.

Considerando que os valores morais na sociedade são fatores fundamentais para a


convivência harmoniosa entre os seres humanos, é importante ressaltar que estes
valores variam de acordo com a época e a cultura. Fato que nos faz refletir que os
valores morais do mundo contemporâneo não são os mesmos da época em que
foram criadas as fábulas de Esopo. Segundo o filósofo francês Gilles Lipovetsky
(2004), a moral apresenta três eras com características próprias sendo a primeira a
teológica moral, que é baseada em princípios religiosos cristãos; a segunda é a
moral moderna ou laico moralista, que procura se desprender de princípios
religiosos e se focar nos deveres humanos e a terceira chamada pós moralista, que
visa desprender-se dos deveres humanos e exaltar nossos desejos individuais. No
mundo contemporâneo vivencia-se a terceira era da moral, onde preza-se mais pelo
emocional, o ego, a felicidade e o sucesso individual, do que pelos deveres cívicos,
com isso, acaba existindo um certo relativismo moral onde cada indivíduo segue as
suas próprias leis para satisfazer os seus próprios prazeres, vontades e desejos
independentemente de suas obrigações, os conceitos de bom ou mal, acabam
tornando-se cada vez algo mais pessoal e criando assim uma sociedade
individualista e até mesmo egocêntrica onde tudo gira em torno de si e não de um
todo, o que pode muitas vezes ser visto como um problema, já que as pessoas
estão tão preocupadas consigo mesmas que esquecem do dever com o próximo, de
15

certa forma rompendo um pouco com a harmonia de se viver em sociedade.


Entretanto, o mesmo ainda aborda o paradoxo pós-moralista, que consiste no fato
de quanto mais manifestam-se os desejos individualistas mais as ações morais de
generosidade são impulsionadas pela mídia. O tele assistencialismo, a caridade e a
solidariedade com os pobres nunca esteve tão em alta no espaço social midiático,
ele refere-se a isso como moral reciclada segundo as leis do espetáculo. O autor
ainda classifica o individualismo em duas formas, o individualismo irresponsável
onde preza-se apenas pelo sucesso e desejo pessoal a qualquer custo sem levar
em consideração as consequências e o individualismo responsável, que é aquele
que também se preocupa com questões sociais como tolerância, ecologia, luta
contra corrupção, etc.

O pós moralismo explicado por Lipovetsky (2003) corrobora com o conceito de


Modernidade Líquida explicado por Zygmunt Bauman (2001), onde o filósofo aborda
temas como a emancipação, falando sobre a liberdade de escolhas do indivíduo no
mundo contemporâneo, que não está preso a nenhum molde e passa a ser guiado
por seus desejos, vive sob constantes mudanças e passa a ter sempre que se
adaptar ao meio em que se situa, como um líquido que vai preenchendo o recipiente
em que é colocado, obtendo-se não uma forma fixa e sólida, mas a forma que se
adequa às situações. Porém, toda essa liberdade existente na modernidade líquida
faz com que as pessoas queiram experimentar quaisquer possibilidades sem ao
menos se questionar os porquês, e sofrendo então com as consequências e
responsabilidades de seus atos, o que pode se assemelhar muito ao individualismo
irresponsável abordado por Lipovetsky. Sendo assim, seria necessário apresentar
valores morais de tempos passados para a juventude do mundo contemporâneo,
para que eles passem a se questionar mais a respeito de suas escolhas e relembrar
a importância da responsabilidade social e seus deveres, tendo como objetivo
estimular o individualismo responsável.

Pensando em um público alvo entre 19 e 25 anos, tem-se como oportunidade de


lançamento a CCXP - Comic Con Experience em São Paulo. Tendo sua primeira
edição em 2014, a Comic Con é o maior evento de cultura pop do Brasil e
conquistou em 2019 o patamar de maior do mundo em público. A Comic Con tem
16

como objetivo promover as principais áreas dessa indústria como: filmes, séries,
quadrinhos, vídeo games, etc. O evento também possui segundo o site oficial o
maior Artists' Valley do planeta, área onde artistas nacionais e internacionais podem
divulgar e vender suas obras autorais dentro do evento. Segundo o site oficial a
CCXP demonstra crescimento de público constante, sendo que em todos os anos o
recorde é quebrado como pode ser visto no quadro abaixo:

Figura 06 - Crescimento de público da CCXP

Fonte: Site oficial da CCXP (2022)

Entretanto, nos anos de 2020 e 2021, com a pandemia, o evento migrou para as
plataformas digitais, a chamada CCXP Worlds foi um evento inteiramente online,
porém a previsão é que no ano de 2022, o evento presencial em São Paulo retorne
nos dias do 01 a 04 de dezembro.

O hibridismo em peças editoriais, que unem o meio analógico com o digital,


apresenta-se como fator de inovação no design editorial que tem o objetivo de
despertar interesse em novos leitores, com isso é possível criar um material
interativo e enriquecer a narrativa visual, de forma que, não se tenha apenas uma
imagem estática impressa, mas também é possível vê-la tridimensionalmente,
animada e/ou sonorizada. Uma das formas de se obter esse resultado é através da
realidade aumentada, que segundo Kirner e Tori (2006), consiste em trazer para o
ambiente físico objetos virtuais. A realidade aumentada é um recurso que pode ser
utilizado em praticamente qualquer aparelho smartphone, o que facilita bastante
quando o assunto se trata de acessibilidade tecnológica, o que também seria
17

primordial para a implementação deste projeto, principalmente se tratando de um


público jovem. E ainda, a realidade aumentada é uma novidade que vem sendo
explorada em diversas obras editoriais. Em novembro de 2017, a editora nacional
Darkside Books em parceria com o estúdio Flex Interativa lançou um aplicativo
com a proposta de introduzir essa inovação em seus livros com o objetivo de atrair
novos leitores para as obras publicadas, além de gerar novas experiências com os
livros e aumentar a imersão nas obras. Atualmente no ano de 2022 o aplicativo na
play store já conta com mais de 50 mil downloads e uma excelente avaliação de 4,1
em 5 dentro da plataforma.

Figura 07 - Darkside books implementação de tecnologia RA

Fonte: Darkside Books (2021)

Figura 08 - Darkside Books RA playstore

Fonte: Playstore (2022)


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Portanto, levando em consideração a importância das fábulas de Esopo em diversos


aspectos, tanto por sua relevância para construção da sociedade e seus valores
morais, como também por sua grande influência na indústria do entretenimento,
percebe-se então, a oportunidade de revitalizar o tema trazendo um design editorial
híbrido que une a obra literária impressa, com a tecnologia do meio digital através da
realidade aumentada que permite explorar visualmente várias perspectivas sobre o
mesmo assunto, enriquecendo ainda mais a narrativa visual e as experiências do
leitor com a obra.
19

3 PROBLEMA DE DESIGN

Como criar um projeto editorial gráfico e híbrido das fábulas de Esopo trazendo em
foco o lobo, explorando as mídias impressa e digital, buscando resgatar os valores
morais de tempos passados que foram esquecidos, se tornaram obsoletos, e ou
desvalorizados para o pensamento e comportamento dos jovens do mundo
contemporâneo?

Levando em consideração que as fábulas de Esopo são abordadas desde o


momento da criação do livro ilustrado, o fato é que elas já passaram por inúmeras
linguagens e técnicas de ilustração ao longo dos séculos, sendo assim, o designer
terá que pensar em novas soluções editoriais para o tema, buscando inovar não só
na linguagem gráfica, mas também na abordagem que será feita, trazendo para as
fábulas diferentes pontos de vista baseados nas morais de cada geração.

Para execução deste projeto, será preciso buscar conhecimento e mapear numa
linha cronológica, as diferentes linguagens estéticas que já foram elaboradas para
as ilustrações das fábulas de Esopo já publicadas até então e com isso buscar uma
solução de abordagem contemporânea com o objetivo de atualizar o tema e gerar
interesse para o público jovem. Será necessário também buscar entendimento de
tecnologias a serem exploradas em um design editorial híbrido. Referente a figura do
lobo, será necessário procurar informações sobre os significados e simbolismos que
o animal pode representar e implementá-los na nova editoração das fábulas de
Esopo, trazendo consigo, novos aspectos simbólicos que poderão ser explorados
dentro do gênero em questão. Sendo assim, será necessário que o livro apresente a
moral de tempos passados para o jovem contemporâneo e deve também apresentar
a ele uma segunda perspectiva baseada na moral do seu tempo, o chamado o pós
moralismo, explicado por Lipovetsky (2003), o livro deve gerar no leitor interesse
para uma reflexão mas sem que cause nenhum tipo de repulsa ou preconceito pelo
tema. Pretende-se também, que este projeto editorial, faça uma conexão da obra
digital com o livro impresso através da realidade aumentada, visando explorar ao
máximo os recursos que essa tecnologia pode oferecer a fim de enriquecer a
narrativa do projeto trazendo ao livro áudio, animações e tridimensionalidade.
20

4 OBJETIVOS

4.1 Objetivo de Design

Este projeto tem como objetivo de design, criar um editorial gráfico híbrido das
fábulas de Esopo, explorando as mídias impressa e digital, para despertar interesse
sobre elas e estimular o hábito de leitura no público jovem entre 19 e 25 anos,
trazendo consigo ilustrações em técnicas tradicionais homenageando a linguagem
gráfica utilizada nos tempos passados e ilustrações digitais que remetem ao avanço
da tecnologia na área, representando em cada uma delas diferentes perspectivas
sobre as fábulas e seus valores morais, sendo elas respectivamente, fábulas da
forma tradicional e a outra adaptada graficamente para uma nova narrativa.

4.2 Objetivo Mercadológico

Como objetivo mercadológico este projeto visa estimular o consumo de obras


literárias como forma de entretenimento e atrair novos leitores para o gênero das
fábulas de Esopo, aproveitando o fato de que o mercado editorial, voltado para
Obras Gerais, ou seja, livros de entretenimento, demonstrou crescimento a partir
2020 após as restrições da pandemia. Este também tem como estratégia de
lançamento, o retorno das bienais de livros presenciais, como por exemplo a Comic
Con Experience, a Flip, a FLITI, entre outras.

4.3 Objetivo Sociocultural

O objetivo sociocultural deste projeto é além de dar visibilidade às fábulas de Esopo,


gênero que possui enorme influência no mundo contemporâneo, é também gerar
reflexões sobre os valores morais na atualidade, fator que vem tornando-se cada
vez mais individualista fazendo da moral algo pessoal/relativo, o que pode muitas
vezes ser visto como problema quando o assunto se trata de viver em sociedade.
Sendo assim o objetivo maior é trazer outras perspectivas aos leitores sobre o
assunto da moral e ética através das fábulas, a fim de estimular uma individualidade
responsável, resgatando uma visão sobre os valores antigos que eram mais
voltados para os deveres com a civilização do que com o sucesso pessoal e
prazeres do indivíduo, no intuito de trazer um equilíbrio para a moral individualista.
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5 CONCEITO DE PROJETO

Tendo em vista que o antropomorfismo presente nas fábulas de Esopo é baseado na


nossa percepção sobre o reino animal, pode se afirmar que essas histórias são
‘reflexos’ do ser humano na sociedade. Uma das características mais marcantes nas
fábulas de Esopo é que os animais presentes nelas, passam por situações que se
espelham em nosso cotidiano a fim de gerar críticas e reflexões sobre o assunto
trazendo consigo também, lições de cunho moral. Sendo assim, define-se como
conceito deste projeto Reflexos, que de acordo com as classes gramaticais, esta
palavra pode possuir diferentes acepções, por exemplo, segundo dicionário Aurélio a
palavra como adjetivo significa:

“re.fle.xo (cs) [Lat. reflexu.] adj. 1. Que se volta sobre si mesmo; que tem a si como
objeto de ação ou observação. sm. 2. Luz refletida ou efeito dela. 3. Fisiol. Reação
involuntária motora ou secretora, desencadeada pelo sistema nervoso, em
consequência de estímulos captados.” (AURÉLIO, 2017, p. 649)

Segundo o mesmo, a palavra como verbo significa:

“re.fle.tir [Lat. reflectere. 1C] vtd. 1. Fazer retroceder, desviando da direção


inicial. 2. Reproduzir a imagem de. ti. 3. V. meditar (2). int. 4. Fazer
reflexão(2 e 3). p. 5. Reproduzir-se, espelhar-se. 6. Repercutir-se.”
(AURÉLIO, 2017, p. 649)

A palavra em substantivo feminino também é definida pelo mesmo como:

“re.fle.xão (cs) [Lat. reflexione. 2] sf. 1. Ato ou efeito de refletir(-se). 2.


Análise mental sobre si mesmo; autoexame. 3. Ponderação, observação. 4.
Fís. Modificação da direção de propagação duma onda que incide sobre
uma interface entre 2 meios e retorna ao meio inicial..” (AURÉLIO, 2017, p.
649)

Apesar de ‘reflexo’ possuir diversos significados, pode-se afirmar que todos se


baseiam no fenômeno físico, onde uma onda em encontro com alguma superfície
muda ou retorna com a mesma direção ou ângulo.

O conceito de reflexos permeia este projeto em todos os aspectos, tendo em vista


que ele visa retornar às fábulas de Esopo, e possui como objetivo apresentá-las aos
22

jovens contemporâneos através de uma nova perspectiva/narrativa, para que


reflitam sobre os valores morais de tempos passados e os atuais.

É importante ressaltar que, a percepção do reflexo depende diretamente do ponto de


vista, ou seja, a mesma superfície pode espelhar formas, objetos e lugares
diferentes de acordo com a posição do observador, então é impossível que duas
pessoas vejam o mesmo reflexo ao mesmo tempo, pois cada um estará vendo
aquilo que o seu ângulo de visão permite, o que possibilita relacionar com a
definição de pós moralismo proposta por Lipovetsky (2003), na qual presencia-se o
relativismo/individualismo moral onde cada indivíduo segue seus próprios valores
baseados na sua percepção do mundo, sendo esses um reflexo de quem são. O
conceito de reflexo também pode ser relacionado à modernidade líquida explicada
por Bauman (2001), onde o autor fala sobre o indivíduo ser moldável e se adaptar às
situações em que se situa assim como o reflexo se adequa aos olhos do observador.
Ainda seguindo o pensamento de Lipovetsky (2003) e Bauman (2001), onde ambos
afirmam respectivamente que um dos problemas das moral contemporânea são o
individualismo irresponsável e a liquidez impensada da sociedade atual, o conceito
de reflexo, apresenta-se como solução do projeto, tendo em vista que visa-se que os
jovens comecem a pensar mais sobre si mesmos e os reflexos de suas escolhas e
ações na vida e na sociedade.

Em 2017, a artista Anindita Agarwal, desenvolveu o livro chamado ‘Reflections’,


tratando-se de uma peça única, o livro é construído utilizando o aspecto reflexivo
dos espelhos, assim, o livro só pode ser lido através de sua reflexão e contém a
seguinte citação inscrita “Life is only a reflection of what we allow ourselves to see.”
(VESTROTSKY, 2013), que significa em tradução livre: ‘A vida é apenas um reflexo
do que nos permitimos ver.’

Figura 09 - Reflections de Anindita Agarwal, 2017


23

Fonte: site Behance Anindita Agarwal

A Collective Studionessuno em 2016, desenvolveu o livro “COLLECTING MYSELF”,


se trata de um álbum de auto retratos de grandes mestres da pintura e da fotografia
a partir do século XVI. A capa do editorial possui um alumínio polido que representa
um espelho. O reflexo do leitor/observador ao contemplar a capa do livro simula a
ideia de auto retrato presente na obra, assim incluindo-o na própria coleção, sendo o
livro um reflexo de seus desejos e gostos pessoais.

Figura 10 - Collecting Myself, 2016


24

Fonte: Site Behance Collective Studionessuno

Devido às restrições da pandemia em 2020, todas as apresentações de graduação


do BIFT - Beijing Institute of Fashion Technology, foram feitas online. O diretor de
arte e designer gráfico Zhu Chao, ao analisar a situação em que segundo o mesmo
as formas de viver, estudar, habitar e viver foram redefinidas, pensou em trabalhar
espelhos como linguagem visual do portfólio, pensando na ideia da ligação entre o
virtual e a realidade.

Figura 11 - Livro BIFT Graduation Works BA, 2020


25
26

Fonte: site Behance Zhu Chao

Em 2015, a designer Olesia Li, desenvolveu o projeto 'identity=identical', onde ela se


baseia em uma reportagem que explora a construção de identidades através do
consumo de moda, que segundo a mesma é uma construção de identidade
superficial, a capa do livro remete a um espelho, sendo inteiramente espelhada na
frente e na parte de trás do editorial preta, a obra ainda conta com marcações de
páginas e capítulos espelhadas reforçando ainda mais a ideia de reflexo e
superficialidade tendo em vista que os números só podem ser vistos no sentido
convencional se estiverem em frente ao espelho ou superfície reflexiva.

Figura 12 - Livro Identity=identical, 2015


27

Fonte: Site Behance Olesia Li

Em 2020 a artista gráfica Selin Alara, desenvolveu o projeto ‘Akis’, que se trata de
um editorial que possui uma série de fotos em que a artista explora o reflexo do
espelho, em que segundo a mesma, busca explorar os contrastes que estão na base
da existência, mostrando através do espelho o que não é visível, ou seja, o que não
estaria no foco da câmera se não fosse a presença do reflexo na imagem.

Figura 13 - Livro Akis, 2020


28

Fonte: site Behance Selin Alara Dalgiç

Com base nos exemplos apresentados acima, é possível afirmar que os diferentes
significados de reflexo podem ser implementados de diversas maneiras diferentes
em peças de design editorial, agregando valor e significado a mensagem a ser
transmitida pela obra, além de exigir a experiência com a mídia física para a
apreciação total dos projetos. Portanto, o uso do reflexo como conceito deste
projeto, apresenta-se como potencial de agregar e enfatizar os objetivos e a
29

mensagem da obra, trazendo a cada leitor uma experiência única dotada de


significados.

6 FUNDAMENTAÇÃO

6.1 Técnico Teórica

Este projeto concerne ao desenvolvimento do design editorial das fábulas de Esopo,


apresentando a figura do 'lobo', como protagonista da obra, a fim de trazer ao tema
uma nova narrativa para o mundo contemporâneo. A ilustração narrativa será base
para a representação imagética deste projeto, para isso deve ser levado em
consideração também a importância das cores e as emoções/sensação que elas
podem provocar. Tratando-se de um livro ilustrado, deve ser levado em
consideração a organização da disposição dos elementos na página para isso
estudo do grid será essencial. A escolha do formato e do substrato desse projeto
será um fator crucial para a valorização das imagens e ergonomia do projeto.

Sendo assim, as escolhas feitas pelo designer, após análises e embasamentos


teóricos do design e sua aplicação, serão fundamentais para o desenvolvimento
deste projeto a fim de trazer uma comunicação clara e coerente com o conceito e
público alvo.

6.1.2 Ilustração

De acordo com Oliveira (2008, p. 114), “Ilustrar é a arte de sugerir narrativas”, a


ilustração e a pintura apesar de terem o mesmo instrumental técnico, como
aquarela, acrílica, guache, tela, etc., possuem suas diferenças, enquanto o Ilustrador
tem sempre o objetivo de narrar uma história, vinculando em elementos visuais a
temporalidade dos fatos, aos momentos marcantes, por outro lado, a pintura,
apresenta-se puramente como contemplativa, sendo que essa, não precisa
necessariamente de possuir uma narrativa. Ainda segundo o autor, a ilustração tem
o papel de trazer uma nova visão para a narrativa do texto, trazendo consigo
sub-narrativas que podem ampliar ainda mais o universo em que se passa a história.
30

“São muitos os olhares que podemos ter diante de uma ilustração.


Nenhuma ilustração possui uma leitura absoluta do texto, muito menos o
leitor da imagem. A leitura será sempre parcial, segmentada e
particularizada. Vemos aquilo que esperamos ver”. (OLIVEIRA, 2008, p. 32).

De acordo com com Haslam (2007) a combinação entre texto e palavra presentes
nos livros ilustrados, tem o objetivo de estimular a imaginação dos leitores. Como
pode ser visto na citação a seguir:

“Uma área em que houve uma grande expansão nas últimas décadas foi a
de livros de histórias para crianças. Esses livros podem revelar um mundo
de fantasia no qual existem personagens míticos com poderes
extraordinários e onde façanhas impossíveis são realizadas : a combinação
de palavras e imagens deve capturar a imaginação do jovem leitor. Muitos
livros infantis trabalham com o princípio da repetição, permitindo assim, que
a criança antecipe os eventos futuros.” (HASLAM, 2007, p. 156)

A ilustração da capa do livro infantil “O pequeno príncipe” segundo Haslam (2007), é


ilustrada com uma linguagem semelhante às imagens que apoiam a narrativa
pungente do autor, e devido a essa boa combinação entre texto e imagem,
transformou o livro em um clássico da literatura infantil.

Figura 14 - O Pequeno príncipe - Antoine de Saint-Exupéry

Fonte: Site Amazon


31

De acordo com Haluch (2013), o grid é um elemento fundamental diagramação de


um livro de imagens:

“O livro ilustrado é composto de textos e imagens, as quais poderão ser


fotografias ou ilustrações. Para esse tipo de livro a complexidade aumenta,
principalmente a necessidade de fazer a imagem acompanhar o texto, pois
esse é o sentido - a mensagem visual reforça a imagem verbal. Para esse
livro o grid, que é essencial para qualquer livro, se torna imprescindível"
(HALUCH, 2013, p. 20)

Portanto, pode-se afirmar que a ilustração apresenta-se como um recurso capaz de


enriquecer a narrativa da história e estimular a imaginação do leitor e quando
aplicada, ou seja, possuindo uma linguagem sólida e coerente, são capazes elevar o
nível e popularidade da obra a outro patamar.

6.1.3 A função das Cores no livro ilustrado

Segundo Heller (2013), os profissionais que trabalham com cores como artistas,
cromoterapeutas, designers, etc., precisam saber como as cores afetam as pessoas,
pois, embora cada profissional trabalhe de sua forma individualmente, os efeitos
provocados por elas devem ser universais. A autora ainda afirma que a relação de
sentimentos e cores não se dá ao acaso, elas são o resultado de vivências comuns,
que nos acompanham desde a infância e ficam profundamente enraizadas no nosso
pensamento e linguagem. A autora ainda afirma:

"Conhecemos muito mais sentimentos do que cores. Dessa forma, cada cor
pode produzir muitos efeitos, frequentemente contraditórios. Cada cor atua
de modo diferente, dependendo da ocasião. O mesmo vermelho pode ter
efeito erótico ou brutal, nobre ou vulgar. O mesmo verde pode atuar de
modo salutar ou venenoso, ou ainda calmante. O amarelo pode ter um
efeito caloroso ou irritante. Em que consiste o efeito especial? Nenhuma cor
está ali sozinha, está sempre cercada de outras cores. A cada efeito
intervêm várias cores – um acorde cromático.” (HELLER, 2013, p. 17,18)

O ilustrador canadense Garrett Hanna, evidencia em sua obra a emoção com o uso
de cores, o vermelho vibrante ao fundo do quadro destaca o azul frio e melancólico
aplicado à personagem, dando ainda mais força à expressão e sentimentos
32

representados na obra. Esse contraste de cores se dá devido ao conceito de cores


psicológicas opostas explicado por Heller (2013), são pares de cores que baseados
em nossas sensações dão a impressão de se oporem com máxima intensidade, o
que explica o fato do verde e o vermelho serem cores complementares, mas na
nossa percepção o azul e o vermelho contrastam com mais força. Como pode ser
visto na figura abaixo:

Figura 15 - Ilustração de Garrett Hanna 2018

Fonte: Site Character Design References

O quadro “A Alegria de Viver” apresentado abaixo, foi pintado por Matisse (1905). o
artista utiliza predominantemente cores quentes, uma combinação que segundo
Heller (2013) formam o acorde da alegria e do divertimento composto por:
vermelho-laranja-amarelo. A seleção da paleta de cores para a obra é fundamental
para enriquecer as sensações causadas por ela, dessa forma, as cores influenciam
diretamente na interpretação e compreensão da obra.

Figura 16 - Matisse - A Alegria de Viver, 1905


33

Fonte: Site Vicio da Poesia

No livro ‘Lampião & Lancelote’ (2006) o autor Fernando Vilela, opta o uso de
tonalidades para marcar os personagens da história, utilizando a tinta especial prata
arremetendo a figura do Lancelote e utiliza a tinta metálica cobre para arremeter a
figura do Lampião, desta forma a simples aparição das cores já identifica o
personagem, mesmo que ele não esteja presente na imagem, funcionando como
uma espécie de símbolo atribuída a cada figura na obra.

Figura 17 - Fernando Vilela - Lampião & Lancelote, 2006


34

Fonte: site Amazon

É possível afirmar que o uso da cor, explorando suas tonalidades e interferências


como no caso das tintas metálicas, é um fator relevante para transmissão de uma
mensagem clara, influenciando diretamente na percepção do observador com a
obra. Portanto, o designer deverá levar em consideração os aspectos e sentimentos
que as cores podem causar, para que haja uma coerência entre seleção de uma
paleta de cores e os objetivos de comunicação deste projeto.

6.1.4 O Formato do livro ilustrado

De acordo com Halluch (2013), independentemente do método que o profissional


utilizar para a produção de um design editorial, decidir o formato de livro é sempre o
primeiro passo, pois é a partir dele que define-se a estrutura do livro: modulação,
grid e margens. Ainda segundo a autora, ao definir o formato do livro deve ser
levado em consideração as margens adequadas para que ofereça-se uma leitura
confortável e apreciação de todos os elementos que irão compor o livro. A autora
ainda afirma que, os livros podem ter qualquer forma física, entretanto, o formato
retângulo vertical tornou-se padrão devido ao costume e a praticidade, isso ocorre
pois desde a época de Gutenberg, os livros são feitos neste formato e seguem
aproximadamente o Número Áureo (1:1,618), partindo do conceito renascentista de
proporção ideal. Sobre o formato do livro Collaro (2012) afirma:

“A forma do livro pressupõe uma série de decisões que influenciam o design


e o acabamento da página e do volume. O formato mais comum no
35

mercado mundial, por hábito e facilidade de manuseio por parte do leitor, é o


vertical, determinado pela altura maior que a largura.” (COLLARO, 2012, p.
92)

Devido a essa padronização, os formatos alternativos tornam-se mais caros, outro


fator que deve ser levado em consideração é o desperdício de papel, que influencia
diretamente no valor da obra. O que pode ser evidenciado na seguinte citação:

“Qualquer elemento que varie um pouco influenciará no custo final.


Dependendo do livro, vale a pena investir num acabamento especial,
formato, corte etc.

Os formatos mais usuais no mercado editorial brasileiro são: 13,8x21cm


(14x21cm),15,7x23cm (16x23cm), 16,8x24cm (17x24cm), 21x28cm. Há
também formatos quadrados, 18x18cm, 21x21cm etc.” (HALLUCH, 2013, p.
35)

De acordo com Collaro (2012), o formato horizontal e o quadrado apresentam-se


como alternativa de inovação entre os designers, justamente por fugir do padrão
vertical quebrando a monotonia dos livros tradicionais, tornando-se alternativas
interessantes para uma edição, desde que haja uma pesquisa de mercado para
viabilizar o projeto. O “Livro da Arte” apresentado na figura abaixo, é um dos
exemplos que COLLARO (2012) apresenta que evidenciam o formato quadrado um
diferencial que dá destaque para um livro.

Figura 18- O Livro da Arte - Publifolha, 2010.

Fonte: Site Amazon


36

Na análise de Haslam (2007), o formato demasiadamente horizontal do livro


Touching North (1989) do escultor Andy Goldsworthy, apresentado abaixo, reflete a
vastidão do horizonte constantemente visível nas fotografias feitas de suas
esculturas em cima do território descampado do Círculo Polar Ártico.

Figura 19 - Touching North - Andy Goldsworthy, 1989

Fonte: site Amazon

O livro “Este é o lobo” de Alexandre Rampazo, é uma evidência de como a escolha


de formato pode enriquecer na narrativa da obra, a escolha por um formato
demasiadamente vertical traz a tona a dimensão que a figura do lobo possui na
narrativa e evidencia a solidão do animal a medida que as páginas vão passando e
sua figura reduz em um fundo completamente branco/vazio.

Figura 20 - Este é o lobo - Alexandre Rampazo, 2016

Fonte: site Amazon


37

Figura 21 - Spider-Man: Into the Spider-Verse -The Art of the Movie

Fonte: Site Amazon

Como pode ser visto no livro apresentado acima “Spider-Man: Into the Spider-Verse
-The Art of the Movie”, a editora traz em evidência a importância do formato e como
ele é relevante para experiência e visualização do leitor com a obra. Optando pelo
formato horizontal valoriza-se as imagens do livro que são majoritariamente nessa
dimensão, pois já que se trata de um livro com o objetivo de expor os bastidores da
criação do filme, boa parte das imagens possuem o formato horizontal replicando o
38

formato widescreen das telas. Pensamento que pode ser confirmado por Haslam
(2007) no seguinte trecho:

“Alguns formatos não são determinados pela geometria ou estruturas


internas de grade: eles são diretamente resolvidos pela natureza ou
proporção do conteúdo, por exemplo: muitos livros de fotografia refletem o
formato do negativo original” (HASLAM, 2007, p. 39)

Sendo assim, é possível considerar que o formato é um fator primordial para o


processo de editoração do livro e deve ser levado em consideração neste projeto,
tendo em vista os objetivos de linguagem, a valorização das ilustrações e a
experiência do leitor com a obra e evite ao máximo o desperdício de de papel para
que não encareça o projeto desnecessariamente.

6.1.5 O grid e o projeto do livro ilustrado

De acordo com Haslam (2007) o uso de grids proporcionam a consistência do livro e


torna coerente toda sua forma, ou seja, todos os elementos que compõem a página,
possuem entre si uma relação visual.

“Os sistemas básicos de grade determinam as larguras das margens: as


proporções da mancha; o número, comprimento e profundidade das
colunas; além da largura dos intervalos entre elas. Os sistemas de grade
mais complexos definem uma grade para as linhas de base sobre a qual as
letras serão assentadas e podem determinar o formato das imagens, além
da disposição dos títulos, números das páginas, notas de rodapé etc.”
(HASLAM, 2007, p. 42)

Segundo Ambrose e Harris (2009) o grid é a base da construção de um design, ele


possibilita que o designer organize de modo eficiente vários elementos em
elementos em uma página. Segundo os mesmos, é importante enxergar o grid como
algo adaptável, levando em consideração as limitações físicas e exigências da mídia
ou formato do projeto.
39

Figura 22 -David Gentleman: Watercolours From Andalusia To Zanzibar, 2004

Fonte: Site Amazon

Os autores Ambrose e Harris (2009), apresentam um exemplo de como o grid foi


pensado de acordo com o público alvo, no livro apresentado acima, o estúdio Webb
& Webb responsável pelo projeto, optou por um grid simples e direto para estruturar
a informação. Possuindo uma tipografia que utiliza do mesmo tamanho em todo
texto principal, utilizando as cores para gerar a hierarquia da informação.

Portanto, se tratando de um projeto editorial ilustrado, pode se afirmar que o grid


exerce um papel fundamental para que haja uma hierarquização lógica e disposição
harmônica dos elementos na página.

6.1.6 O substrato para um projeto editorial ilustrado

Segundo Haslam (2007) é importante que o designer conheça as propriedades


físicas e os diferentes tipos de papéis disponíveis no mercado onde atua, pois ele é
o material que compõe a forma física do livro, a superfície impressa e as páginas.

“O papel tem sete características-chave: o formato, a gramatura, o corpo, o


sentido da fibra, a opacidade, o acabamento e a cor. Todas devem ser
consideradas, junto com o custo e a disponibilidade, no processo de decisão
sobre o papel adequado a ser usado no processo industrial do livro. Outras
40

propriedades que o designer deve conhecer são a absorção do pH e o


conteúdo de fibras recicladas.” (HASLAM, 2007, p. 191)

Figura 23 - Het Beste Van - Wim T. Schippers, 1997

Fonte: Site Amazon

No livro Het Beste Van, de Wim T. Schipepens, exemplificado na figura acima, o


autor utiliza de tipos vermelhos e verdes impressos um sobre o outro, o que deveria
torná-lo ilegível, porém o livro dispõe de duas peças em acetato (material
transparente) que servem como filtros, ou seja o acetato verde esconde o texto
impresso em verde e deixa o texto em vermelho em evidência, o acetato vermelho
tem a mesma função, porém com ele o verde é quem fica em destaque, conforme
afirma Haslam (2007).

Sendo assim, pode-se afirmar que a escolha de papéis é um fator que deverá ser
selecionado com cautela, já que é a partir dele que será materializado o livro. O
papel é também o diferencial do projeto, tendo em vista a possibilidade de explorar
suas características físicas, como textura, opacidade, cor e acabamentos.
41

6.2 Metodológica

● Selecionar e ler as fábulas em que a figura do lobo aparece;


● Pesquisar as e analisar diferentes representações do lobo dentro das fábulas;
● Pesquisar e analisar os simbolismos por trás da figura do lobo;
● Determinar uma sequência lógica para as fábulas junto com o orientador;
● Fazer a ficha de personalidade do personagem (lobo);
● Iniciar os esboços do lobo como personagem central das fábulas;
● Analisar as melhores alternativas ilustradas;
● Selecionar, junto ao orientador, a melhor alternativa;
● Explorar as poses e emoções do personagem;
● Fazer o design dos outros personagens da história;
● Fazer as ilustrações de inserção de cada personagem nas fábula;
● Selecionar uma paleta de cor para o projeto;
● Decidir o formato do livro;
● Fazer o estudo do grid;
● Definir o grid e o layout das páginas;
● Selecionar tipografias;
● Planejar as sequências de ilustração nas páginas;
● Diagramar o texto;
● Escanear as ilustrações;
● Tratar as imagens;
● Testar composições de ilustração e texto nas páginas de acordo com o grid,
layout definido;
● Fazer storyboard das ilustrações digitais que serão aplicadas na Realidade
aumentada;
● Finalizar as ilustrações digitais e aprovar junto ao orientador;
● Animar e sonorizar as ilustrações para a Realidade Aumentada;
● Aplicar Realidade Aumentada no livro;
● Fazer testes de capa para o livro;
● Selecionar a melhor alternativa de capa;
● Finalizar a capa;
42

● Analisar os resultados;
● Fazer os ajustes/correções necessárias;
● Escolher o substrato e o tipo de impressão que será feito;
● Fechar o arquivo para impressão;
● Pesquisar uma gráfica que atenda a demanda do projeto;
● Fazer a primeira impressão teste e ajustar o necessário;
● Fazer as impressões finais do livro;
● Fotografar o livro impresso;
● Criar peças gráficas para a divulgação do livro;
● Montar a apresentação final para a banca;
● Apresentar o projeto final para avaliação da banca;
43

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cv2K0AmFw_AnTkdVsxqElQFS5qbEVLtsrEGFFkRU-waAjKwEALw_wcB&hvadid=59
5885698605&hvdev=c&hvlocphy=1032126&hvnetw=g&hvqmt=e&hvrand=50492354
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https://www.amazon.com.br/Spider-Man-Into-Spider-Verse-Movie/dp/1785659464/ref
=sr_1_1?keywords=spiderman+into+the+spiderverse&qid=1654453173&sprefix=spid
erman+into+%2Caps%2C228&sr=8-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.fcd6d665-32ba-4
479-9f21-b774e276a678 > Acesso em 20, maio, 2022.

Touching North - Andy Goldsorthy, 1989. 2022. Disponível em:<


https://www.amazon.com.br/Touching-North-Andy-Goldsworthy/dp/0948274069>
Acesso em: 20, maio, 2022.

TSCHICHOLD, Jan. A Forma do Livro. Cotia: Atelier Editorial, 2007.


48

8 ANEXOS

O Lobo e O Cordeiro

Um lobo estava bebendo água num riacho.

Um cordeirinho chegou também

E começou a beber um pouco mais para baixo

O lobo arrebanhou os dentes e disse ao cordeiro:

- Como é que você tem a ousadia de vir sujar a água que eu estou bebendo?

- Como sujar? - respondeu o cordeiro -à água corre dai pra cá, logo eu não posso
estar sujando sua água.

- Não me responda! -tornou o lobo furioso -há seis meses seu pai me fez a mesma
coisa!

- Há seis meses eu nem tinha nascido, como é que eu posso ter culpa disso? -
respondeu o cordeiro

- Mas você estragou todo o meu pasto - tornou o lobo.

- Como é que eu posso ter estragado seu pasto se nem dentes eu tenho?

O lobo, não tendo mais como culpar o cordeiro, não disse mais nada, pulou sobre
ele e comeu.

Moral da história : Contra a força não há argumentos


49

O Lobo e as ovelhas

Havia uma guerra entre os Lobos e as Ovelhas; estas, embora fossem

mais fracas, como tinham a ajuda dos cães levavam sempre a melhor. Os

Lobos então pediram paz, com a condição de que dariam de penhor os

seus filhos, se as Ovelhas também lhes entregassem os cães.

As ovelhas aceitaram estas condições e foi feita a paz. Contudo, os filhos

dos Lobos, quando se viram na casa das ovelhas, começaram a uivar

muito alto. Acudiram logo os pais, a pensar que isso significava que a paz

havia sido quebrada, e recomeçaram a guerra.

Bem quiseram defender-se as Ovelhas; mas como a sua principal força

consistia nos cães, que havia entregado aos Lobos, foram facilmente

vencidas por eles e acabaram degoladas.

Moral da história: Nunca entregue os seus aliados e nem confie nos seus inimigos.
50

O garoto do “olha o lobo”

Um pastorzinho que cuidava de seu rebanho perto de um povoado gostava de se


distrair de vez em quando gritando:

— Olha o lobo! Socorro! Olha o lobo!

Deu certo umas duas ou três vezes. Todos os habitantes do povoado vinham
correndo ajudar o pastorzinho e só encontravam risadas diante de tanto esforço. Um
dia apareceu um lobo em carne e osso. O menino gritou desesperado, mas os
vizinhos acharam que era só brincadeira e nem prestaram atenção. O lobo pôde
devorar todas as ovelhas sem ser perturbado.

Moral da história: Os mentirosos podem falar a verdade que ninguém acredita.


51

O lobo e a cegonha

Um lobo devorou sua caça tão depressa, com tanto apetite que acabou ficando com
um osso entalado na garganta. Cheio de dor, o lobo começou a correr de um lado
para o outro soltando uivos, e ofereceu uma bela recompensa para quem tirasse o
osso de sua garganta. Com pena do lobo e com vontade de ganhar o dinheiro, uma
cegonha resolveu enfrentar o perigo. Depois de tirar o osso, quis saber onde estava
a recompensa que o lobo tinha prometido.

— Recompensa? — Berrou o lobo. — Mas que cegonha pedinchona! Que


recompensa que nada! Você enfiou a cabeça na minha boca e em vez de arrancar
sua cabeça com uma dentada deixei que você a tirasse de lá de dentro sem um
arranhãozinho. Você não acha que tem muita sorte, seu bicho insolente? Dê o fora e
se cuide para nunca mais chegar perto de minhas garras!

Moral da história: Não espere gratidão ao mostrar caridade para com um inimigo.
52

O lobo e o burro

Um burro estava comendo quando viu um lobo escondido espiando tudo o que ele
fazia. Percebendo que estava em perigo, o burro imaginou um plano para salvar sua
pele. Fingiu que era aleijado e saiu mancando com a maior dificuldade. Quando o
lobo apareceu, o burro todo choroso contou que tinha pisado num espinho pontudo.

— Ai, ai, ai! Por favor, tire o espinho de minha pata! Implorou.

— Se você não tirar, ele vai espetar sua garganta quando você for me engolir.

O lobo não queria se engasgar na hora de comer seu almoço, por isso quando o
burro levantou a pata ele começou a procurar o espinho com todo cuidado. Nesse
momento o burro deu o maior coice de sua vida e acabou com a alegria do lobo.
Enquanto o lobo se levantava todo mundo dolorido, o burro galopava satisfeito para
longe dali.

Moral da história: Cuidado com os favores inesperados.


53

A porca e o lobo

Uma porca acabava de parir os seus porquinhos, quando um lobo veio visitá-la.

No fundo, este só pensava em devorar um dos porquinhos, mas não sabia bem o
que fazer. Então, perguntou à porca como estava de saúde, dizendo-lhe:

— “Se alguma vez te puder ser prestável, procura-me. Talvez necessites de fazer
exercício e apanhar um pouco de ar puro. Se quiseres, tenho muito gosto em tomar
conta da tua família.”

Contudo, a porca tinha percebido o plano do lobo.

— “Muito obrigada, Sr. lobo”, disse ela, “percebo-te muito bem, e o maior favor que
podes fazer aos meus porquinhos é ficares bem longe!”.

Moral da história: Não há ardil tão perigoso como o que é tramado por uma pessoa
que se faz passar por amiga.
54

O cordeiro e o lobo

Andava um Cordeiro entre as cabras, e chegou um Lobo que lhe disse:

— Não é este o teu rebanho, vem comigo, vou levar-te à tua mãe.

Respondeu o Cordeiro:

— Não quero, porque esta cabra gosta muito de mim e dá-me mais mimos do que
ao seu próprio filho.

— Contudo — replicou o Lobo —, estarás melhor com a tua mãe.

— Bem estou aqui — disse o Cordeiro —, não quero meter-me em

aventuras, que por bem que me suceda, não deixará o pastor de me tirar

a lã e ficarei a morrer de frio.

Moral da história: Quem está quieto, contente-se com a sua sorte e guarde-se de
empiorar.
55

O lobo e o burro doente

Estando o Burro maldisposto, foi o Lobo visitá-lo, fazendo-se muito seu amigo.
Tomou-lhe o pulso, passou-lhe a mão pelo rosto e disse que queria curá-lo. O Burro
estava quieto, bem desejoso de se ver a cem léguas do Lobo, o qual lhe apalpava
os membros todos. Perguntou onde lhe doía, e apertava-o e arrepelava-o tanto, que
disse o Burro: — Onde quer que me pões a mão, logo aí me dói; mas rogo-te que te
vás embora e que não me cures, que quanto tu te fores, ficarei logo bom.

Moral da história: Nunca são os maus tão peçonhentos como quando encobrem a
peçonha debaixo de mostras de amor.
56

O lobo e a cabra

Um lobo viu uma cabra pastando em cima de um rochedo escarpado e, como não
tinha condições de subir até lá, resolveu convencer a cabra a vir mais para baixo.

— Minha senhora, que perigo! — disse ele numa voz amistosa. — Não seja
imprudente, desça daí! Aqui embaixo está cheio de comida, uma comida muito mais
gostosa.

Mas a cabra conhecia os truques do esperto lobo.

— Para o senhor, tanto faz se a relva que eu como é boa ou ruim! O que o senhor
quer é me comer!

Moral da história: Cuidado quando um inimigo dá um conselho amigo.


57

O cão e a ovelha

O cão pediu à Ovelha uma certa quantidade de pão, que dizia haver-lhe
emprestado. A Ovelha negou ter recebido tal coisa. O Cão apresentou então três
testemunhas a seu favor, as quais havia subornado: um Lobo, um Abutre e um
Milhafre. Estes juraram ter visto a Ovelha receber o pão que o Cão reclamava.
Perante isso, o Juiz condenou a Ovelha a pagar, mas não tendo ela meios de o
fazer, foi forçada a ser tosquiada antes de tempo para que a lã fosse vendida como
pagamento ao Cão. Pagou então a Ovelha pelo que não comera e ainda ficou nua,
padecendo as neves e frios do inverno.

Moral da história: Não interessa se a acusação é justa ou injusta quando o juiz e os


jurados conspiram contra o acusado.
58

O veado, o lobo e a ovelha

Um Veado exigia à Ovelha uma certa quantidade de trigo, que falsamente

dizia haver-lhe emprestado. A Ovelha pensou em negar-lho, mas receou,

porque o Veado estava acompanhado de um Lobo. Assim, com

dissimulação, respondeu a Ovelha:

— Peço-te, pela tua vida, que esperes alguns dias e então faremos as

nossas contas e pagar-te-ei quanto te dever.

O Veado foi-se embora todo contente. Porém quando ambos se

encontraram sem o Lobo estar presente, a Ovelha desenganou-o, disse-lhe que não
lhe devia trigo nenhum e que, portanto, nada lhe pagaria.

Moral da história: Prudência dilatar a vida até nos vermos numa situação em que
possamos livremente defender a nossa opinião.
59

O Lobo em pele de Cordeiro

Certo dia, um Lobo decidiu alterar a sua aparência como estratagema para
conseguir comida com fartura. Vestiu uma pele de cordeiro e acompanhou o
rebanho para o pasto, enganando o pastor com o seu disfarce. Ao fim da tarde, o
pastor fechou o Lobo no curral com o resto das ovelhas. Mas, por querer carne para
a sua refeição do dia seguinte, à noite o pastor regressou ao curral e, confundindo o
lobo com uma ovelha,apanhou-o e matou-o.

Moral da história: Fingir aquilo que não se é traz sempre problemas.

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