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Sylvio de

Vasconcellos
Um arquiteto para além da forma
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
REITORA Sandra Regina Goulart Almeida
VICE-REITOR Alessandro Fernandes Moreira

EDITORA UFMG
DIRETOR Flavio de Lemos Carsalade
VICE-DIRETORA Camila Figueiredo

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Luiz Alex Silva Saraiva
Marco Antônio Sousa Alves
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Renato Assis Fernandes
Ricardo Hiroshi Caldeira Takahashi
Rita de Cássia Lucena Velloso
Rodrigo Patto Sá Motta
Weber Soares
Vanessa Borges Brasileiro

Sylvio de
Vasconcellos
Um arquiteto para além da forma
© 2023, A autora
© 2023, Editora UFMG

Este livro, ou parte dele, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita do Editor.

B823s Brasileiro, Vanessa Borges.


Sylvio de Vasconcellos: Um arquiteto para além da forma /
Vanessa Borges Brasileiro – Belo Horizonte: Incipit, 2023.

401 p.: il. .


Originalmente apresentada como tese de doutorado junto ao
Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, em 2008.
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-88592-16-8

1. Vasconcellos, Sylvio de, 1916-1979. 2. Arquitetura brasileira.


3. Arquitetura moderna. 4. Arquitetura. I. Título.

CDD: 720.981
CDU: 72(81)

Elaborada por Vilma Carvalho de Souza – Bibliotecária – CRB-6/1390

COORDENAÇÃO SELO INCIPIT Jerônimo Coelho


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ASSISTÊNCIA EDITORIAL Eliane Sousa
REVISÃO DE TEXTOS Ana Luiza Franco
COORDENAÇÃO GRÁFICA Fernando Freitas
FORMATAÇÃO E MONTAGEM DA CAPA Ederson Ciriaco
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Tel: + 55 31 3409-4650 – www.editoraufmg.com.br – editora@ufmg.br
Para Mariana e Guilherme, tempos que, em mim,
se fizeram presentes.
“O vento, vindo de longe para a cidade, oferece a ela dons
insólitos, dos quais se dão conta somente poucas almas
sensíveis, como quem sofre de febre de feno e espirra por
causa do pólen de flores de outras terras.”

Ítalo Calvino, 1994


SUMÁRIO

Prefácio11
Celina Borges Lemos

O homem alto 17

“A casa é uma máquina de morar” 25

Sylvio relê Sylvio I


“a casa é uma máquina de morar”?73

O mundo em transformação aos olhos do menino Sylvio  107

Sylvio relê Sylvio II


“morte e vida de grandes cidades”153

Como se constrói um arquiteto? 195

“Bene beateque vivendum” 247

“Tempo sempre presente” 299

O arquiteto para além da forma 343

Biografia 351

Referências355

Lista de obras de Sylvio de Vasconcellos 385

Caderno de imagens 391

Sobre a autora401
PREFÁCIO

A obra, agora publicada, de autoria da arquiteta, urbanista e professora Va-


nessa Borges Brasileiro, apresenta um excepcional trabalho originário da sua
tese de doutoramento em História. O homenageado desta contribuição im-
portante se apresenta como ninguém menos do que o fundamental mestre,
arquiteto, historiador, pensador, ensaísta, cronista e promotor das artes Syl-
vio Carvalho de Vasconcellos, belo-horizontino, nascido em 14 de outubro
de 1916.

Sylvio de Vasconcellos 11
Aborda, nesta complexa trama, assim definida por ela, argumentos crí-
ticos e relatos sobre fatos relevantes da vida e obra do memorável mineiro.
O trabalho muito bem editado, além de analisar momentos da vida do ar-
quiteto, realiza um estudo valioso sobre seu legado ensaístico crítico sobre
arquitetura, cidades, entre outros temas, no sentido de encontrar detalhes
peculiares dotados, muitas vezes, de raridade. Toda essa complexidade deu
vida ao, até então, personagem ainda pouco estudado, mas responsável por
parte substantiva da renovação da paisagem arquitetônica moderna belo-
-horizontina e da reflexão crítica e histórica mineira, e mesmo brasileira.
Nesta saga, a importância e riqueza do trabalho da autora não se restrin-
gem apenas a desvelar parte pouco conhecida da vida do arquiteto, profes-
sor e ensaísta. Seu trabalho também aborda reflexão sobre a modernização
do processo criativo e conceitual da arquitetura referenciados em estudos
e publicações realizadas por Vasconcellos ao longo de sua intrincada vida
profissional. Na condição de historiadora, mas também de professora e pes-
quisadora de análise crítica e histórica da arquitetura, Vanessa assume para
si, nesta publicação, a missão de discorrer sobre o arquiteto, a arquitetura e a
cidade em sua complexidade filosófica e cultural. Análise essa que revela sua
argúcia investigativa e acadêmica ao percorrer incansavelmente arquivos, bi-
bliotecas, entre outras fontes diversas, em busca de dados sobre as inúmeras
contribuições deixadas por esse fundamental mestre.
Este cenário, pelas inúmeras informações, referências colhidas, orga-
nizadas e dispostas em capítulos, comprova sua grande capacidade, par-
cimônia e habilidade como interlocutora, historiadora e agora escritora
consolidada. Complementa o seu livro, entre a pesquisa e a escrita final do
texto, uma inquirição para além das fontes primárias próprias do arcabouço
de Vasconcellos. Na sequência do texto, demonstra uma visita às fontes ou-
tras, conjunturas históricas, culturais, estudos críticos sobre arquitetura e
vida urbana moderna, além de, segundo ela, um rastreio pelas “escritas de
outros personagens”. Tudo isso atribui ao livro uma abundância de ideias e
questões a serem debatidas sobre um período pouco divulgado ou mesmo
conhecido no contexto da literatura acadêmica local.
A partir de uma introdução instigante, a autora inicia o estudo pela
metáfora do lendário arquiteto franco-suíço Le Corbusier (1887-1965): “A
casa é uma máquina de morar”. Neste tomo, examina vários ensaios orga-
nizados em livros, revistas e similares, em que arquiteto aborda questões
vinculadas à história e à crítica da arquitetura em Minas e, muitas vezes, es-
pecificamente em Belo Horizonte. Como muito bem analisa, o arquiteto elege
o estado para traduzir e divulgar a denominada por ele “nova arquitetura”,

12 Vanessa Borges Brasileiro


que edifica o “novo mineiro” e o “novo habitat”. No caminho, Vanessa parte
de um introito voltado para as vanguardas europeias para alçar os textos de
Vasconcellos configurado nas primeiras paisagens da cinquentenária capital
mineira. Munido de um contundente exame sobre essa paisagem cultural, o
autor ostenta um caráter antitético ao ecletismo e ao neocolonial identifica-
dos nesses cenários. A autora explica e demonstra, pelas passagens escritas
por Vasconcellos, uma verdadeira desvalorização do ecletismo, por exemplo,
em nome de referendar o modernismo arquitetônico. Neste rastro, deixa-se
para o leitor mergulhar no capítulo e descobrir por si próprio o desenvolvi-
mento do pensamento vasconcellosiano tão bem abordado pela autora. Para
isso, seu estudo reúne algumas contribuições europeias e aponta a relação
dessas com os ensaios do mineiro arquiteto.
Entre asserções inéditas, Vanessa desvenda como o arquiteto dialogou
com algumas contribuições corbusianas e as suas concepções arquitetôni-
cas. Como se não bastasse, consegue detalhar e comentar partes dos estudos
feitos pelo arquiteto sobre a questão. Destaca suas publicações sobre arte e,
por fim, a sua participação no manifesto denominado “Inquérito Nacional
de Arquitetura”, publicado em 1963. São diversas as reflexões ali contidas
e realizadas pelo arquiteto, neste capítulo minuciosamente apresentado e
detalhado.
Na terceira parte da publicação, nomeada “Sylvio relê Sylvio I: A casa
é uma máquina de morar?”, a autora retoma o pensamento de Vasconcellos
sobre as moradias e suas configurações, lembranças dos idos anos da Belo
Horizonte cinquentenária. Pelo seu texto memorialístico, ela detalha como
as lembranças das casas se coadunam com concepções e soluções arquitetô-
nicas. Neste ponto do estudo, contempla textos do arquiteto, que igualmente
remontam ao século XVIII, a casa, seus detalhes técnicos e construtivos, tipo-
logias no interior e fora de Minas Gerais. Enfatiza aspectos, atribuições fun-
cionais, mobiliários, materiais construtivos e cotidianos desses memoráveis
modos do morar. Ao singularizar o cotidiano, a autora retoma as contribui-
ções europeias e estabelece um diálogo rico com as ideias do arquiteto e de
como ele, efetivamente, através do tempo, se relacionou com os princípios
da “máquina de morar”, entre outros pontos por ele abordados. No final,
Brasileiro demonstra com propriedade como o arquiteto defendeu adequar
os “princípios da arquitetura moderna” ao tema da “tradição” e, ao mesmo
tempo, fazer desta “tradição” uma “síntese das experiências históricas”.
No capítulo “O Mundo em transformação aos olhos do menino Sylvio”,
a autora percorre inicialmente publicações acerca do urbanismo e arquite-
tura no âmbito internacional e retoma o diálogo crítico com as publicações

Sylvio de Vasconcellos 13
do homenageado. A “Carta de Atenas”, elaborada em 1933, no IV Congresso
Internacional de Arquitetura Moderna, representou um parâmetro inicial
para sua verificação. Demonstra, neste tomo, o entusiasmo e a intensidade
de estudos realizados pelo ensaísta sobre a questão do urbanismo na his-
toriografia dos séculos XIX e início do XX. E, no avanço das ponderações,
Vanessa se depara com um pensador saudoso, nostálgico, que não conse-
gue deixar de rememorar o passado. O que seria o nostálgico senão, como
ensina o filósofo Mark Lilla, “um exilado de um tempo presente”. Sim, este
representou um outro tempo de Vasconcellos, mais maduro e distante de
tudo que construiu com tanto afinco, trabalho, família, Minas Gerais. Nesta
perspectiva, a autora retrata o “menino Sylvio”, seu tempo revisto pelas
memórias. Sem perder a instigante competência analítica e historiográfica,
ela consegue trazer leveza e delicadeza ao percurso. Cria um simbólico do
lembrar pelas madeleines proustianas configuradas nos bairros, localidades,
pontos de encontro principalmente encenados por ele na Capital mineira.
Desses, emergem as minúcias do cotidiano de vários tempos presentes no
“mundo imaginário da infância”, conforme finaliza a análise.
Com ajuda da autora, testemunha-se uma consonância neste percurso
com o título de suas memórias: “Tempo sempre presente”, publicadas em
1976. Como contraponto, ao final, o destaque realizado por ela particula-
riza a defesa do escritor pela “ideia de uma cultura moderna, que incor-
pore novas possibilidades”. E nesse olhar, as cidades seriam predestinadas
à transformação e se transmutam em lugares de um habitar do novo homem.
São acepções que viriam a ser visitadas e mesmo algumas retificadas por
Vasconcellos, como se verá adiante nas páginas do livro.
Na continuidade da obra, e apoiada em circunstanciados detalhes con-
tidos nas suas memórias, Vanessa retoma o desafio de analisar o “Sylvio
relê Sylvio II: ‘Morte e vida de grandes cidades’”. Nesta fase, discorre sobre
a filosofia benjaminiana da flânerie, entre outros relevantes pensadores, e a
articula com os percursos protagonizados por Vasconcellos na sua juven-
tude. Aborda conjuntamente alguns ensaios e crônicas dos anos de 1970,
em que aponta para as vivências, problemas, conflitos e injustiças presentes
na sociedade urbana. Neste passo, a autora ressalta como ele reavaliou, se
assim se pode pensar, naquele momento algumas reflexões registradas an-
teriormente. Ao mesmo tempo, destaca as considerações do autor sobre a
cidade americana para depois chegar à Brasília e seu urbanismo. Todo esse
trânsito para na sequência enaltecer as “cerejeiras de Washington”, até certo
ponto uma alegoria para enfatizar o meio ambiente, a ordem, tranquilidade
e dignidade da capital americana.

14 Vanessa Borges Brasileiro


A partir dessas abordagens mais próximas de um verdadeiro “rito
de passagem”, em que a autora demonstra o lado mais humanista de
Vasconcellos, adentra os meandros da arquitetura. As formulações presen-
tes nos capítulos “Como nasce um arquiteto” e “Bene Beateque Vivendum”
representam, no seu precioso estudo, a parte mais conhecida dos acadêmicos
advindos da Escola de Arquitetura. Provavelmente sejam esses apontamen-
tos, mencionados em seu instigante texto, os que mais se aproximam da ins-
tituição e mesmo dele como professor. Para isso, ela volta às suas memórias,
seu passado distante de estudante e sua saga até alçar a carreira de docente.
Curiosamente, pondera a ausência nos registros de sua autoria com detalhes
de sua presença na fase de estudante na Escola de Arquitetura.
Vale destacar a ênfase que a autora atribui aos seus textos em defesa de
uma escola livre, haja vista sua federalização em 1949. Seria este um aspecto
que teria fortalecido sua notória saga como pesquisador, uma vez conside-
rada, nesse contexto, a base do fomento fundamental para a constituição do
conhecimento. Passo a passo a autora avança no seu esforço investigativo e
inaugura a análise sobre o papel profissional do arquiteto. Seu argumento
adquire consistência ao mencionar seu substantivo discurso de posse na di-
reção da Escola de Arquitetura, em 1963.
São cenários consideráveis para retomar o mundo das lembranças e as
minúcias do cotidiano apartado, mas muito caro para ele. Neste trilhar, Va-
nessa se aproxima das partes conclusivas do seu livro. As páginas refletem
consistente abordagem crítica sobre patrimônio, memória e suas nuances nos
textos de Vasconcellos. No seu exílio voluntário em Washington, o arquiteto
deixa transparecer o lado ficcional de suas memórias. A autora, muitas ve-
zes, identifica um deslocamento dos fatos históricos facultado a um mineiro
errante. Afinal, observa-se, neste processo, que o ato de lembrar poderia
representar a sua libertação do passado rumo ao esquecimento.
Vanessa Borges Brasileiro constrói uma teia de reflexões em que ex-
plora criteriosamente os registros diversos que atualizam e contribuem no
desvelamento do pensamento e da pessoa Sylvio de Vasconcellos. Esta obra
representa um passo importante na sua carreira como pesquisadora, em que
demonstra capacidade crítica e circunspecção ao abordar tão intrincada e
diversa narrativa. Que ela não demore muito a contribuir com novos e bri-
lhantes estudos e livros.

Celina Borges Lemos


Arquiteta, Urbanista, Doutora em Ciências Sociais,
Professora Titular da Escola de Arquitetura da UFMG

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