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A LINGUAGEM LÓGICO-
MATEMÁTICA E A
ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO
CONTEXTUALIZANDO
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Cavalcanti (2001, p. 121) acredita que devemos dar mais atenção às
estratégias de solução que permitem o desenvolvimento do pensamento. Desse
modo, a criança passaria a ter mais “autonomia e confiança em sua capacidade
de pensar matematicamente.”
É preciso considerar que o conhecimento matemático, que muitos alunos
possuem, faz com que sejam “capazes de dar respostas orais e realizar cálculos
mentalmente; mas muitas crianças não conseguem fazer esses cálculos quando
solicitadas a colocar isso no papel” (Freitas, 2005, p. 2).
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Freitas (1999, p. 72) afirma que o trabalho de resolução de problemas deve
ser o eixo condutor da matemática em sala de aula. Para que o processo de
aprendizagem ocorra, “deve haver condições para que o aluno realize ele mesmo
suas aproximações, mobilize seus conhecimentos e seja capaz de explicitar seus
procedimentos e raciocínios utilizados”.
A linguagem do problema;
O nível de representação dos dados fornecidos;
A lógica do problema, que são as relações estabelecidas.
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mais” e “a menos” que aparecem frequentemente em problemas; “de 50 crianças,
somente uma declarou não saber o que significava ‘a mais’ e pediu explicação”
(Freitas, 2005, p. 13). As outras crianças inventavam a solução para encontrar
uma correta. Schliemann (1990, citado por Freitas, 2005, p. 13) aponta que um
problema pode ser apresentado à criança em diferentes níveis de representação.
“Ele pode ser expresso verbalmente, de forma oral ou escrita, ou pode ser
apresentado concretamente com objetos que podem ser contados, combinados e
comparados”.
As atividades diárias dos nossos alunos com situações que envolvem
problemas parecem ser muitas. E as crianças conseguem resolvê-las sem lápis e
papel. Freitas (2005) verificou, durante o recreio escolar, que as crianças
costumavam levar uma determinada quantia de moedas para comprar seu lanche.
Anteriormente faziam pesquisas para no dia seguinte trazer a quantia certa para
a compra. A resolução de problemas com crianças em período de alfabetização
permite que o conhecimento parta das experiências que elas já possuem para a
elaboração dos procedimentos de solução. Sabe-se que uma tarefa de
aprendizagem pode ser a mesma, mas se a circunstância em que ela deverá ser
feita mudar, as formas ou estratégias de solução podem ser diferentes. (Freitas,
2005).
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que descubra, no decorrer das atividades, se seu pensamento está correto ou se
terá que seguir outro caminho.
Vejamos alguns exemplos numa brincadeira de “mercadinho” com crianças
de 2º ano. A criança tinha que calcular o dinheiro que ela tinha depois da compra
e descobrir a diferença com o dinheiro que seu colega tinha ao entrar no mercado.
Criança 1: Prof.: Seu amigo tem dez reais e você tem cinco. Quantos reais
seu amigo tem a mais que você? Criança: Cinco. Prof.: Por quê? Criança:
Porque ele tem dez reais e eu tenho cinco e daí dez divididos por cinco é
cinco. Prof.: Não entendi, repete pra mim! Criança: É porque daí ele tem
dez, daí eu tiro cinco daí ele fica com dez e eu fico com cinco. Prof.: Ah!
Isso mesmo, agora eu entendi! Muito bem! Feedback: Para este caso, em
que a diferença é 10-5, a criança justificou o resultado mediante a forma de
compor a matemática entre os valores.
Criança 2: Prof.: Sua amiga vai começar a compra com dez reais. E você
tem quatro. Quantos reais a sua amiga tem a mais que você? Criança:
Quatro. Prof.: Ela tem quatro reais a mais que você? Criança: Tem. Prof.:
Como você descobriu isso? Criança: Porque cinco mais cinco é dez, tirei
um ficou quatro. Prof.: Da onde o cinco mais cinco? Eu não entendi! Me
explica de novo? Ela tem dez e você tem quatro. Quantos reais a mais ela
tem que você? Criança: Quatro. Prof.: Por que ela tem quatro reais a mais?
Criança: (pensa, movimenta os lábios) Prof.: Conta pra mim, pense alto!
(risos) Olha. você tem quatro, ela tem dez. Quem tem mais dinheiro?
Criança: Ela. Prof.: Quanto dinheiro a mais ela tem? Criança: Quatro. Prof.:
E você não consegue dizer pra mim porque ela tem quatro a mais que
você? Criança: Porque eu ganhei troco, porque eu comprei. Prof.: Quanto
de troco você ganhou? Criança: Quatro. Prof.: Então você acha que ela tem
quatro reais a mais que você? Criança: (acena com a cabeça). Feedback:
Para este caso, em que a diferença é 10-4, a criança deu outra justificativa
para a ação do problema – comprar indica menos. E o troco que ela
recebeu era a diferença entre 10-4.
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Algumas crianças começam seus registros com desenhos e depois passam a
empregar números e sinais.
Quando desenham, as crianças “explicitam mais facilmente os significados
presentes no texto – palavras, cenas, informações, operações, etc. – e assim
constroem uma representação mental dos mesmos” (Cavalcanti, 2001, p.128).
Cavalcanti (2001), relata que, segundo estudos realizados por Zunino, há
três estratégias diferentes que indicam a resolução de um problema com
desenhos:
Figura 1 – Desenho n. 1
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Quanto ao Desenho n. 1, vejamos a explicação da criança: “Eu dividi a
folha em quatro partes. A parte maior foi para desenhar o que eu comprei que foi
o açúcar e o biscoito. Na parte menor escrevi a quantidade de reais que eu tinha
e ao lado o troco que recebi”.
Figura 2 – Desenho n. 2
Figura 3 – Desenho n. 3
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em forma de palitinho que eu recebi de troco. Somei tudo e deu doze. (pausa para
pensar) Eu não sei porque deu 12”.
Os três desenhos nos mostram representações matemáticas diferentes
umas das outras. Cada criança representou de uma maneira diferente: história em
sequência (1, 2, 3); outra fez algo semelhante a uma tabela; outra representou a
sala e grupos de 12 e 2. Muitas vezes, durante a explicação do que desenhou, a
criança percebe sua construção e consegue organizar novamente seu
pensamento. Algumas vezes não consegue.
Cabe ao professor trabalhar com a resolução por meio de desenhos para
orientar o pensamento matemático da criança, para que desenvolva cada vez
mais seu raciocínio lógico.
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Freitas (2005) utilizou a palavra circunstância para denominar os diferentes
contextos para se trabalhar com problemas matemáticos. A primeira circunstância
ocorreu numa sala onde havia um minimercado montado com sucatas. Em cada
produto havia um valor, e a criança iniciava a brincadeira com dinheirinho de papel
(10 reais). Comprava seus produtos e no “caixa” fazia seus cálculos. Na segunda
circunstância, as crianças desenhavam registros da primeira e na terceira
circunstância resolviam problemas em sala de aula.
Selecionamos o seguinte problema para análise:
“Você tem R$ X,00. Seu colega tem R$10,00. Então quantos reais seu
colega tem a mais que você? Como você descobriu?” (Freitas, 2005, p. 34). A
circunstância 1 consistia em escolher, por exemplo, dois produtos de sua
preferência e resolver oralmente os problemas apresentados pela professora.
Para a diferença entre 10 e 4: Prof.: Quantos reais ele tem a mais que
você? Criança: Seis! Prof.: Porque ele tem seis reais a mais que você?
Criança: Porque eu tenho quatro. Prof.: Como você descobriu isso?
Criança: Só porque eu tenho quatro.
Para a diferença entre 10 e 2: Prof.: Quanto dinheiro a mais ela tem?
Criança: (abaixa a cabeça e conta nos dedos) dez! Prof.: Ela tem dez reais
a mais que você? Como você descobriu isso? Criança: (sorri e conta nos
dedos) oito! Prof.: Oito reais, como você descobriu isso? Criança: Porque
eu tenho dois reais ela tem a mais do que mim oito.
Para a diferença entre 10 e 3: Criança: (pensa) Sete. Prof.: Como é que
você descobriu isso? Criança: somando. Prof.: Como é que você somou?
Criança: Pensando. Prof.: E como você pensou? Criança: Pensei no sete
mais três.
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Figura 4 – Desenho das embalagens com o valor representando o preço de cada
produto
4. “De conta escolar com colunas para dezena e unidade” (Freitas, 2005, p.
50).
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5. “Justapondo um valor ao outro” (Freitas, 2005, p. 50).
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Figura 6 – Cérbero
“O trabalho com problemas com duas ou mais soluções faz com que o
aluno perceba que resolvê-los é um processo de investigação do qual ele participa
como ser pensante e produtor de seu próprio conhecimento” (Stancanelli, 2001,
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p. 109). Vejamos o exemplo: “Eu e você temos juntos 9 reais. Quanto dinheiro eu
tenho?”.
Tabela 1 – Resolução
Eu Você Total
0 9 9
1 8 9
2 7 9
3 6 9
4 5 9
5 4 9
9 0 9
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TEMA 5 – CRIANÇAS FORMULAM PROBLEMAS
Figura 7 – Problemas
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FINALIZANDO
“No dia a dia das escolas, em geral, as crianças não têm oportunidade de
criarem suas estratégias. É comum na aula de matemática que todos resolvam os
problemas usando o mesmo tipo de estratégia anteriormente ensinado” (Freitas,
2005, p. 61). Falta também a oportunidade de representarem a matemática por
meio de desenhos.
Com esta aula, esperamos ter contribuído, no que diz respeito ao contexto
escolar:
LEITURA COMPLEMENTAR
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REFERÊNCIAS
CHICA, C. H. Por que formular problemas? In: SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (Org.).
Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender
matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001.
SAIZ, I. Dividir com dificuldade ou a dificuldade de dividir. In: PARRA, C.; SAIZ, I.
(Org.). Didática da matemática: reflexões psicopedagógicas. Porto Alegre:
Artmed Editora, 2001. p.156 -185.
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SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (Org.). Ler, escrever e resolver problemas:
habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001.
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