A Saúde Pública é uma área que concentra muitos profissionais de
Psicologia, no Brasil. Estes estão difundidos e atuam em instituições de saúde mental, Unidades Básicas de Saúde e hospitais. Desde a sua regulamentação como profissão, no Brasil, a Psicologia tem conquistado e expandido o seu espaço na Saúde Pública, especialmente após a Reforma Sanitária e a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS), que foi um marco para um novo olhar sobre o conceito de saúde e doença. O que antes era visto apenas como a ausência de doença física, começou a ponderar aspectos sociais e culturais do indivíduo. Com esse novo programa de saúde, passou-se a dar valor a transdiciplinaridade, ou seja, o trabalho em equipes multiprofissionais. Dessa forma a Psicologia ganhou um novo campo de atuação. Entretanto, apesar de a Saúde Pública compreender um percentual relevante de psicólogos, nota-se uma grande complexidade de atuação nessa área, em virtude da ausência de conhecimento sobre o SUS e do uso restrito de técnicas, como efeito de uma formação inadequada, que não aparelha o profissional para esse trabalho. Verifica-se que a atuação profissional nessa área não é uma tarefa fácil. O psicólogo se defronta com várias dificuldades, como a desistência prematura dos tratamentos por parte dos usuários, grande número de faltas e demoras frequentes e dificuldade de se inserir nas equipes multiprofissionais. Existem também fatores como a discrepância salarial, a precariedade das instalações físicas, a falta de material e a ausência de apoio das instituições públicas para ampliar o trabalho almejado. Porém, as dificuldades para a atuação profissional não se restringem somente a esses aspectos. O ponto mais expressivo, do qual derivam os demais obstáculos, é a inadequação da formação acadêmica para laborar na Saúde Pública. Os psicólogos ainda são formados, majoritariamente, dentro de uma proposta de clínica tradicional, dentro de uma formação costumeira, que os deixa sem ferramentas teóricas, técnicas e críticas para trabalhar no SUS. Como agravantes desse quadro, existem os modelos curriculares da maioria dos cursos de Psicologia que, influenciados pelo modelo cartesiano, direcionam a formação de seus alunos para um trabalho voltado à clínica individual e, estes, ao entrarem em contato com o trabalho em saúde pública, reproduzem o modelo. O ensino de Psicologia tem ficado direcionado à preparação do exercício autônomo da profissão, com a priorização de somente um modelo de atendimento, que independentemente de suas linhas de fundamento teórico, tem beneficiado os segmentos psicoterápicos sucessivos. Diante dessa realidade, desde 2006, há um grande investimento do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde com o objetivo de preparar os futuros psicólogos para trabalhar no SUS. Existe um movimento para que os cursos de Graduação valorizem e invistam nesse tipo de formação, com modificações curriculares voltadas para as exigências da Saúde Pública. Pode-se afirmar que a Psicologia tem potencial para contribuir na consolidação de diferentes modelos e práticas sociais. O próprio movimento da categoria ao buscar discutir e compreender como o psicólogo tem atuado nos espaços inseridos as inúmeras construções teóricas e as discussões nos cursos de graduação são exemplos do potencial da Psicologia na busca por consolidar novas práticas condizentes com os paradigmas atuais.