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Filosofia 11ano

 O que é o conhecimento?

 Epistemologia
A epistemologia é a disciplina filosófica que aborda, sobre tudo, os problemas da
natureza da possibilidade do conhecimento. Neste sentido constitui-se como uma das
mais importantes disciplinas filosóficas.

 Conhecimento
Quando procuramos clarificar ou definir um conceito, o que procuramos são condições
necessárias e condições suficientes.
O conhecimento é o objetivo de estudo da epistemologia. Desde Platão, define-se
como crença verdadeira justificada.
Todas as afirmações envolvem o conhecimento de factos e expressam conteúdos ou
pensamentos que são portadores de valor de verdade.

 Tipos de conhecimento

-- Conhecimento Prático (conhecimento por aptidão ou saber-como)

Conhecimento de atividades ou ações, relativo à capacidade, aptidão ou competência


para fazer alguma coisa.

Objetivo: atividades ou ações

Exemplos: saber cozinhar, saber conduzir, saber consertar, saber dançar

-- Conhecimento Proposicional

Conhecimento que tem por objeto proposições ou pensamentos verdadeiros. É o


conhecimento de verdades.

Objeto: proposições verdadeiras

Exemplos: saber que “3+53=56”, saber que “Augusto foi um imperador romano”, saber
que “os ovos têm proteínas”

--Conhecimento por Contacto

Conhecimento direto de alguma realidade: pessoas, lugares, estados mentais, etc.

Objeto: realidades concretas

Exemplos: conhecer pessoalmente o Dalai Lama, conhecer Madrid no sentido de ter


visitado esta cidade, conhecer uma dor por tê-la experimentado
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 O Conhecimento Proposicional

Proposições verdadeiras Proposições falsas

Relação adequada entre o


sujeito cognoscente e a
realidade
Condição necessária do
CRENÇA conhecimento

Atitude de adesão a uma O verdadeiro e o falso de


Saber é acreditar determinada proposição, qualquer crença
naquilo que se sabe. tomando-a como dependem de algo
verdadeira exterior à própria crença

 A Teoria Tradicional do Conhecimento

Platão apresenta-nos uma proposta de definição de conhecimento proposicional que


assenta na ideia de que há três condições necessárias para o conhecimento: crença,
verdade e justificação. Separada ou individualmente, cada uma destas condições não é
suficiente para haver conhecimento, mas as três condições necessárias são,
conjuntamente, suficientes para o conhecimento.

o Tese
Conhecer é ter uma crença verdadeira justificada;

Esta é a definição tradicional de conhecimento, também chamada definição tripartida


de conhecimento: conhecer é ter crenças verdadeiras e boas razões, ou justificações,
para as sustentar.
Verdade
S sabe que P se e somente se:
1. S acredita que P
Conhecimento
2. P é verdadeira
3. S tem uma justificação
Crença Justificação
para acreditar em P

o Crença
A crença é uma condição necessária para haver conhecimento: quando sei algo,
acredito nesse algo. Mas a crença não é uma condição suficiente para o
conhecimento: saber e acreditar são coisas distintas.

o Verdade
Para haver conhecimento, as nossas crenças têm de ser verdadeiras.
A verdade é uma condição necessária para haver conhecimento. O conhecimento é
factivo, o que significa que não podemos saber algo que é falso: saber algo implica a
verdade daquilo que sabemos. Mas a crença verdadeira não é uma condição suficiente
para o conhecimento.
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o Justificação
Para haver conhecimento não basta termos uma crença verdadeira, a nossa crença tem
de estar justificada.
A justificação é uma condição necessária para o conhecimento. No entanto, a
justificação não é uma condição suficiente para o conhecimento, porque ter boas
razões para acreditar em algo não garante que essa crença seja verdadeira.

Na definição tradicional de conhecimento, a crença verdadeira justificada é aquilo


que define o conhecimento: crença, verdade e justificação tomadas em conjunto são
suficientes para o conhecimento. Se alguém tiver uma crença, se essa crença for
verdadeira e, se alem disso, houver boas razões a favor da verdade dessa crença, então
essa pessoa tem conhecimento.

 Críticas à Teoria Tradicional do Conhecimento

o Edmund Gettier
Edmund Gettier refuta a definição tradicional de conhecimento de Platão. Os
contraexemplos de Edmund mostram que, apesar de a crença em causa ser verdadeira
e estar justificada, a justificação que o sujeito tem para essa crença não se baseia nos
aspetos relevantes da realidade que tornam a sua crença verdadeira.

Tese
Ter uma crença verdadeira justificada é condição necessária, mas não é condição
suficiente para o conhecimento;

o Alvin Goldman
Segundo Goldman, uma crença verdadeira só pode constituir conhecimento se estiver
justificada e tiver sido adquirida através de uma relação causal entre o sujeito que
conhece e os aspetos da realidade que tornam a sua crença verdadeira.

Tese
Conhecer é ter uma crença verdadeira justificada a partir de um processo fiável de
obtenção de crenças;

o Timothy Williamson
Williamson propõe uma abordagem epistemológica inovadora e distinta. Segundo ele,
a definição tradicional assenta erradamente nos pressupostos de que o conhecimento
é analisável em elementos epistémicos mais básicos (crença, verdade, justificação) e é
um estado híbrido entre um estado mental associado à crença e á justificação e um
estado não mental associado à verdade.
Ele propõe que o conhecimento é o estado epistémico mais básico, indefinível e
inanalisável.

Tese
O conhecimento é um estado inteiramente mental em que nos encontramos se os
nossos pensamentos representarem corretamente o mundo;
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 A Priori

Um conhecimento é a priori se o podemos adquirir recorrendo apenas ao


pensamento.
Neste tipo de conhecimento, a fonte de justificação das nossas crenças é o
pensamento ou a razão, na medida em que é um conhecimento que se pode obter
independentemente dos sentidos. Para sabermos que “A metade de quatro é dois”,
não precisamos de recorrer aos sentidos, é possível usarmos apenas o raciocínio.

 A posteriori

Um conhecimento é a posteriori se só o podemos adquirir pela experiência.


Neste tipo de conhecimento, a fonte de justificação das nossas crenças é a experiência-
a informação que obtemos a partir de sentidos. É também chamado de conhecimento
empírico. Não é possível sabermos, por exemplo, que “A neve é branca” através apenas
do pensamento ou do raciocínio. Precisamos de recorrer a sentidos para obter e
justificar esta crença.

 Perspetiva racionalista face ao problema da origem conhecimento

o Racionalismo
A razão (entendimento) é a fonte principal do conhecimento. Só através da razão é que
se pode encontrar um conhecimento seguro, o qual se apoia em princípios evidentes,
sendo totalmente independente da experiência sensível.

Tal conhecimento, que é a priori, é considerado necessário- tem de ser assim e não
pode ser outro modo, de contrário entraríamos em contradição lógica- e universal- tem
de ser assim sempre e em toda a parte.

O modelo do conhecimento ou do saber é-nos dado pela matemática.

Ideias inatas:
As ideias fundamentais do conhecimento já nascem connosco;

Intuição e dedução:
As ideias fundamentais descobrem-se por intuição intelectual. O conhecimento
constrói-se de forma dedutiva (privilegia-se o raciocínio dedutivo);

Desconfiança dos sentidos:


Os racionalistas não negam a existência do conhecimento empírico, mas este não pode
ser considerado universal e necessário. As crenças e informações que se obtém através
dos sentidos são, muitas vezes, confusas ou incertas;

Otimismo racionalista:
Há uma correspondência entre a ordem do pensamento e a ordem da realidade,
existindo conhecimentos a priori acerca do mundo;
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o Empirismo
A experiência é a fonte principal do conhecimento. Não existem ideias, conhecimentos
ou princípios inatos. O entendimento humano é, antes de qualquer experiência, como
uma tábua rasa ou uma folha de papel em branco.

Todas as ideias têm uma base empírica, ate as mais complexas. O conhecimento do
mundo obtém-se através de impressões sensoriais.

Rejeição do inatismo:
Nada, à nascença, se encontra escrito na mente. Só com a experiência isso se tornará
possível;

Primazia da indução:
Privilegia-se o raciocínio indutivo;

Desvalorização do conhecimento a priori:


Embora neguem os conhecimentos inatos, os empiristas não negam o conhecimento a
priori. Esse conhecimento existe, só que nada nos diz de importante ou de substancial
acerca do mundo;

Significado da experiência:
É nela que o conhecimento tem o seu fundamento e os seus limites;

o Possibilidade do conhecimento
Racionalistas e empiristas admitem, portanto, que o conhecimento (proposicional) é
possível. Mas será que o conhecimento é mesmo possível? Será possível ter uma
crença verdadeira devidamente justificada acerca de alguma realidade?

--O dogmatismo é uma perspetiva que considera que o conhecimento é possível,


confiando sobretudo na razão.

--O ceticismo, na sua forma radical, nega que o conhecimento seja possível.

Dogmatismo

Quatro aceções do termo

Posição própria do Confiança absoluta num Completa submissão, sem Exercício da razão, em
realismo ingénuo - órgão determinado de exame pessoal, a certos domínios metafísicos,
ausência de exame conhecimento, princípios ou à autoridade sem uma crítica
crítico das aparências. sobretudo a razão. que os impõe ou revela. prévia do seu poder
ou da sua capacidade.

É o dogmatismo O conhecimento é possível. Expressando uma Opõe-se ao


ingénuo. Não coloca Esta perspetiva opõe-se, de ausência de espírito criticismo (Kant)
o problema do certo modo, ao ceticismo. crítico, esta atitude não
conhecimento. Não é própria da filosofia
ocorre propriamente
na filosofia.
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o Ceticismo
Importante no nosso desenvolvimento intelectual. Inconformismo perante as soluções
apresentadas e busca de novas soluções.

Ceticismo absoluto ou radical


Pode ser considerado autocontraditório ou autorrefutante. Afirma que o conhecimento
é impossível, mas, ao afirmar isso, já exprime um conhecimento.

Mesmo que as nossas crenças sejam verdadeiras, não temos justificações suficientes
para mostrar essa verdade. Nem a razão nem a experiência justificam devidamente e
de modo satisfatório as nossas crenças.

Argumentos para a suspensão do juízo

--A discordância e a divergência de opiniões. Se existem opiniões divergentes, então


nenhuma se encontra adequada ou suficientemente justificada, o que torna impossível
que nos decidamos por uma ou outra.

--Os enganos e as ilusões dos sentidos. Existem, relativamente ao mesmo objeto,


sensações e perceções diferentes, e até incompatíveis; e os objetos, pelas diversas
formas como nos surgem, desencadeiam ilusões e aparências.

--Nada se pode compreender por si. Nada pode ser compreendido com base noutra
coisa: para justificar uma crença tem de se recorrer a outra, e assim ou caímos num
círculo vicioso ou temos de recorrer a outras crenças, numa cadeia de justificação até
ao infinito - regressão infinita da justificação.

Ceticismo mitigado ou moderado

Não estabelece a impossibilidade do conhecimento, mas sim a impossibilidade de um


saber rigoroso.
Não podemos afirmar se este ou aquele juízo é ou não verdadeiro, se corresponde ou
não à realidade, apenas podemos dizer se é ou não provável ou verosímil.

Contradição: o conceito de «probabilidade» pressupõe o de «verdade».

 O Racionalismo de Descartes

Descartes é um filósofo racionalista. A razão a fonte principal do conhecimento: fonte


de um conhecimento caracterizado pela universalidade e pela necessidade.

Descartes procurou na razão os fundamentos do conhecimento. Há crenças que a


razão, e apenas a razão, é capaz de justificar.
Tentativa de superação dos argumentos dos céticos radicais.
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Proposições da matemática

Tem origem racional e a priori

Método inspirado na matemática

Regras do método

Evidencia Analise Síntese Enumeração/ revisão

Não aceitar nada como Dividir cada uma das Conduzir por ordem os Fazer enumerações
verdadeiro se não se dificuldades em pensamentos, começando tão completas e
apresentar à consciência tantas partes quantas pelo mais simples e fácil de revisões tão gerais,
como claro e distinto, as necessárias para compreender e subir que tivesse a certeza
sem qualquer margem melhor as resolver. gradualmente para o mais de nada omitir.
para dúvidas. complexo.

Regas do método
Permitem guiar a razão (o bom senso), orientando duas operações fundamentais:

--Intuição
Representação da mente pura e atenta, tão fácil e distinta que nenhuma dúvida nos
fica acerca do que compreendemos. Ato puramente intelectual ou racional de
apreensão direta e imediata de noções simples e indubitáveis.

--Dedução
«O que se conclui necessariamente de outras coisas conhecidas com certeza.»
Encadeamento e sucessão de intuições, implicando um movimento contínuo do
pensamento, desde as ideias simples e evidentes até às consequências necessárias

 O Papel da Dúvida em Descartes

o Dúvida
Recusar todas as crenças em que se note a mínima suspeita de incerteza. É um
instrumento da luz natural ou razão, posto ao serviço da verdade e da procura de uma
justificação para as nossas crenças.

o Características da dúvida

--Metódica e provisória
É um meio para atingir um conhecimento seguro, a certeza e a verdade, não
constituindo um fim em si mesma. Mantém-se apenas até se descobrir algo
indubitável;
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--Universal e radical
Incide sobre o conhecimento em geral, sobre os seus fundamentos e suas raízes, pondo
em causa a possibilidade de o construir (as faculdades do conhecimento são postas em
causa);

--Hiperbólica
É uma dúvida levada ao extremo. Considera como falso tudo aquilo em que se note a
mínima suspeita de incerteza;

--Voluntária
Não é uma dúvida sofrida em termos psicológicos, mas sim artificial e estabelecida
livremente.

o Suspensão do juízo
Tem uma função catártica, já que liberta o espírito dos erros que o podem perturbar ao
longo do processo de indagação da verdade. Abre caminho à possibilidade de
reconstruir, com fundamentos sólidos, o edifício do saber.

o Deus enganador e/ou génio maligno


Não existe consenso entre os comentadores no tocante a saber se se trata ou não da
mesma figura.

A hipótese da existência do Deus enganador e a hipótese da existência do Génio


maligno conferem um carácter metafísico à dúvida.

Trata-se de admitir que o entendimento humano é de tal natureza que se engana


sempre, mesmo quando pensa captar a verdade.

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