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Nossa Relação com o Ambiente: Uma Tarefa Científica
Lucelmo Lacerda

Tudo o que os seres humanos fazem é comportamento e há muitas


formas de falar sobre as inúmeras possibilidades de agir no mundo, mas a
perspectiva mais consolidada e útil é pensar em termos de Comportamento
Respondente e Comportamento Operante, cujo conhecimento vai permitir que
sigamos aprendendo sobre as possibilidades de modificação do comportamento
das pessoas para melhorar sua qualidade de vida.
Não vamos fugir da ordem clássica de apresentação, tratando
primeiramente do Comportamento Respondente, ou reflexo, ou inato, que
constituem a base dos comportamentos mais fundamentais e de nossas
emoções.
O Comportamento Respondente é aquele que é eliciado por estímulos do
ambiente, ou seja, o Respondente ou Reflexo é uma relação específica
estabelecida entre um evento físico do ambiente que afeta o organismo, através
de seus sentidos (estímulo), provocando um certo comportamento (eliciação) de
maneira automática. Quando falamos sobre este tipo de comportamento,
usamos um esquema visual para comunicarmos do que estamos falando, neste
caso, é usual se usar o S para cumprir o papel do estímulo (do inglês Stimulus)
e o R para cumprir o papel da ação propriamente do organismo, sua Resposta
(no inglês também começa com a mesma letra, Response) entre um e outro, a
relação estabelecida não é óbvia, é uma eliciação, uma relação direta e
automática, por isso usamos uma seta, ficamos então desta forma:
S R
Sim, é a famosa formulazinha que todo mundo confunde com a Análise
do Comportamento, o Estímulo-Resposta, que é parte do conhecimento desta
ciência gigantesca, mas não se confunde com ela.
Uma pergunta muito pertinente aqui é a seguinte: por que este estímulo
específico elicia esta resposta específica? O Comportamento Respondente foi
selecionado na história de algo muito maior do que eu ou você, mas sim de nossa
espécie. Vamos dar alguns exemplos de comportamento respondente:
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Diante de mais luz Contraímos as Permite ver mais rápidos em
pupilas mudanças de luz e se proteger
rapidamente em situações de perigo
Diante da visão da Salivamos A comida é digerida muito melhor
carne no estômago
Diante de um Ficamos pálidos Uma ferida superficial sangrará
predador menos em curto prazo (enquanto
fugimos)
Diante da visão de Ficamos Possibilidade de reprodução
um parceiro excitados

Veja, não se trata da “mãe natureza” criando regras e benefícios para


equilibrar as coisas ou “caprichar” em nosso corpo, é uma questão evolutiva,
todos nós temos diferenças mútuas, elas vêm tanto de nossa coleção única de
genes, nossa história e seu impacto na expressão dos genes que possuímos e
especialmente, das mutações genéticas que possuímos, cada um de nós. Na
maior parte das vezes, essas mutações não possuem impacto positivo ou
negativo, são simplesmente diferenças que, não trazendo nenhum benefício
específico, não devem prosperar expressivamente, quando esta alteração traz
um prejuízo, então ela provavelmente cria as circunstâncias em que eu portador
dificilmente passa à frente seus genes.
Então imagine, no Paleolítico, algum ser humano que empalidecia sempre
que era perseguido por um animal selvagem, por uma mutação ou por herança
genética dos pais. Em ambos os casos, ele sangraria muito menos do que outros
membros do mesmo grupo que não possuíssem esta genética, de modo que
tinham muito mais possibilidades de sobrevivência, deixando mais filhos com
suas características genéticas, que acabam se tornando praticamente universais
na nossa espécie.
Esses estímulos que eliciam em nós comportamentos respondentes não
têm nenhuma relação com nossa história particular e sim com a história da nossa
espécie. Chamamos estes estímulos de ESTÍMULOS INCONDICIONADOS, ou
seja, não aprendidos, eles eliciam essas respostas porque herdamos esta
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sensibilidade já em nosso organismo. A palavra Incondicionado que dizer não
aprendido, enquanto condicionado quer dizer aprendido.
Uma resposta respondente não pode ser ensinada, uma pessoa não
passa a apresentar uma resposta respondente porque aprendeu em sua história
de vida, ou seja, a resposta em si é sempre incondicionada, mas o estímulo que
a elicia não, ele pode ser aprendido. Podemos ter, portanto, ESTÍMULOS
CONDICIONADOS, ou seja, aprendidos, estímulos que em princípio não eliciam
nada, mas passam a eliciar.
Mas na história da humanidade, aqueles nossos antecessores também se
movimentavam em diversos ambientes distintos e nossa história biológica, a
Filogenética também selecionou aqueles que em princípio não tinham nenhum
comportamento eliciado por um certo estímulo, mas aprendiam esta relação por
meio do pareamento de estímulos, isto é, da apresentação contínua de um
estímulo eliciador incondicionado (ou seja, um estímulo do ambiente que
elicia uma certa resposta “naturalmente”) com um outro estímulo que não elicia
nada, aquilo que chamamos de estímulo neutro.
Esta relação foi muito bem demonstrada pelo médico Ivan Pavlov, em um
experimento clássico, em que o pesquisador expôs cachorros a dois estímulos
diferentes, a visão da carne e o som de uma sineta. A visão da carne eliciou a
salivação e o som da sineta era neutro, não eliciou resposta alguma.

Estímulo Resposta eliciada Conclusão


Visão da carne Salivação Visão da carne é estímulo
eliciador incondicionado da
salivação

Som da sineta Nenhuma Som da sineta é estímulo neutro

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Após esta testagem, Pavlov expôs os cães aos dois estímulos de maneira
simultânea:

Estímulo Resposta eliciada Conclusão


Visão da carne + Som Salivação Cão saliva em função da visão
da sineta da carne. Ou seja, a visão da
carne elicia a salivação.

Após um certo tempo (60 exposições), ocorreu um aprendizado interessante:


Estímulo Resposta Conclusão
eliciada
Som da Salivação Cão saliva em função do som da sineta. Ou seja, o
sineta som da sineta passou a eliciar a salivação.
Som da sineta se tornou, portanto, um Estímulo
Eliciador CONDICIONADO (ou seja, aprendido)

Muita atenção a este ponto em particular, que vou colocar em tópicos aqui para
fixação:
• Não se aprende uma nova resposta respondente, a resposta é sempre uma
daquelas já instalada em nossa biologia, mas aprende-se um novo contexto em
que esta resposta aparece;
• Portanto, temos novos comportamentos respondentes, não porque a
resposta seja diferente, mas porque “comportamento” diz respeito à relação
entre estímulo e resposta e não somente a resposta;
• Ou seja, o comportamento respondente original do caso exemplificado é
Visão da carne elicia salivação e o comportamento respondente aprendido é
Som da sineta elicia a salivação;
• A visão da carne era, portanto, um estímulo eliciador incondicionado;
• O som da sineta se tornou, portanto, um estímulo eliciador condicionado;
• O comportamento de salivar diante da carne era, portanto, um
comportamento respondente incondicionado;

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• O comportamento de salivar diante do som da sineta era, portanto, um
comportamento respondente condicionado.

Se algo foi aprendido, chamamos de Condicionamento, neste caso, um


médico realizou um experimento em que isto ocorreu, mas este
Condicionamento ocorre a todo momento em nossa vida, independentemente
de alguém ter feito isso de maneira planejada.
Nós, por exemplo, passamos a salivar, quando estamos privados de
comida, ao ouvir o som de talher batendo no prato. É claro que nenhum de nós
come pratos, mas durante nossa vida, o barulho dos talheres batendo nos pratos
ocorreu não 60, mas milhares de vezes, enquanto nós ou outras pessoas comem
com esses talheres.
Existem algumas “regras” importantes para compreender como e quando
esses condicionamentos respondentes acontecem em maior frequência ou
velocidade e vou aqui sumarizar esses elementos importantes:

Lei da Magnitude-Intensidade
Quanto maior a magnitude do estímulo, tanto maior será a intensidade do
comportamento eliciado. Ou seja, há uma relação de proporcionalidade entre o
comportamento que será eliciado, que pode ser medido em termos de distensão
da perna no reflexo patelar, em milímetros de líquido no comportamento de suar,
ou de saliva no comportamento salivar, na proporção da contração da pupila em
relação à magnitude do estímulo a que o organismo é exposto, à pressão no
joelho, ao calor, à quantidade de luz, que são os fatores eliciadores.

Lei da Latência
Além de aumentar a intensidade do comportamento respondente, a
magnitude do estímulo eliciador também impacta do tempo decorrido entre sua
apresentação e o comportamento eliciado, a este intervalo chamamos de
“latência”, de modo que o reflexo patelar é mais imediato tanto maior for a
pancada no joelho, assim como o suor ou a contração da pupila quanto maior
também a magnitude dos estímulos que os eliciam.

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Lei do Limiar, Somação Subliminar e Fadiga Respondente
Um estímulo, no entanto, precisa ocorrer com um mínimo de magnitude
para que seja capaz de eliciar uma resposta. Por exemplo, um único fóton a mais
(exagerando para ficar bem claro) não seria capaz de eliciar uma resposta de
contração da pupila, assim como um toque suave no joelho não elicia o reflexo
patelar e assim por diante, é preciso que haja um mínimo de magnitude para que
a resposta ocorra.
No entanto, há muito mais a se saber sobre isso, a primeira coisa é que
este nível que é o limiar a partir do qual o comportamento é eliciado não é um
valor fixo, ele pode variar entre diferentes contextos do organismo. Em um
determinado dia ou situação, podemos estar mais sensíveis ao frio e nos
arrepiarmos mais, a um estímulo sexual e termos mais probabilidade de uma
ereção ou lubrificação, assim como a qualquer outro estímulo.
Estimulações subliminares, isto é, de magnitude inferior ao mínimo
necessário para a eliciação de um comportamento respondente podem, no
entanto, se acumularem, produzindo o que é chamado de Somação Temporal
Subliminar, eliciando também o comportamento respondente por este processo
de muitas estimulações consecutivas.
Também ocorre de um respondente ser eliciado continuamente por um
estímulo acima do limiar e após um certo tempo de eliciação consecutiva, então
haver uma fadiga do organismo, um cansaço que faz com que aquele mesmo
estímulo não elicie o comportamento respondente, ele só será eliciado, neste
caso, com uma maior intensidade do estímulo, é a chamada Fadiga
Respondente. Basta imaginar que fiquemos dando pequenas marteladas no
joelho de uma pessoa para assistir a sua perna se distendendo e que façamos
isso dezenas ou até centenas de vezes de maneira consecutiva, depois de certo
tempo será necessária uma pressão muito maior para que o comportamento
aconteça, ao menos na mesma intensidade.

Habituação e Potenciação
Também é possível que o organismo se transforme, no decorrer do tempo
de sua relação com o ambiente e na relação entre a magnitude do estímulo e a

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intensidade da resposta através dos fenômenos da habituação e da potenciação,
que indicam uma maior ou menor sensibilidade aos estímulos eliciadores.
No fenômeno da habituação, o organismo se torna mais insensível ao
estímulo eliciador, isto quer dizer que diante de um certo estímulo, com uma
magnitude constante, o organismo pode passar a não apresentar mais o mesmo
comportamento ou apresentá-lo em menor intensidade, pois com o passar do
tempo de exposição frequente, ele se habituou a ele.
O fenômeno da potenciação é o contrário, trata-se das situações em que,
pelo mesmo motivo, o da exposição frequente, o organismo não se tornou mais
insensível ao estímulo, pelo contrário, passou a ser mais sensível a ele, de modo
que um estímulo com a mesma magnitude provoque um comportamento mais
intenso.
Agora vamos apresentar também brevemente alguns aspectos que
interferem na efetividade da aprendizagem respondente, isto é, no processo por
meio do qual um indivíduo passa a se comportar diante de um estímulo neutro
de modo que ele passa a ser um estímulo eliciador condicionado.

Frequência e Magnitude do Estímulo


Se eu ou você formos expostos a um estímulo neutro ao mesmo tempo
que a um estímulo que é eliciador de algum respondente em nós, isto ocorrerá
em um certo tempo, mas qual tempo? Isto varia, mas pode-se dizer que quanto
maior a frequência em que ocorre a apresentação, tanto mais provável dela
ocorrer (no caso dos cachorros de Plavlov, a relação se completou com 60
exposições, por exemplo) e quanto maior a magnitude do estímulo, tanto mais
rápido isto deve ocorrer, até o ápice em que este condicionamento respondente
acontece com uma única exposição com uma magnitude extraordinariamente
grande, como nos exemplos que se seguem:

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Estímulo neutro Respondente Situação de pareamento
Visão do carro Dor Após uma batida violenta, uma
pessoa pode passar a apresentar
respondentes da dor ao “ver” o carro.
Visão de espaços Coração Após sofrer um assalto violento, uma
abertos acelerado, fôlego pessoa pode apresentar esses
curto comportamentos em quaisquer
espaços abertos

Contiguidade do Estímulo Eliciador para com o Estímulo Neutro e Sua


Permanência no Ambiente
Quando o organismo é exposto ao estímulo neutro antes do estímulo
eliciador e este é apresentado depois, então a probabilidade de aprendizagem
respondente é maior. Especialmente se após a apresentação do estímulo
eliciador, o estímulo neutro permanecer no ambiente.
Vamos dar o exemplo dos cães de Pavlov, se a sineta era tocada ANTES
da carne ser apresentada, então é maior a probabilidade de ocorrer a
aprendizagem respondente e se a sineta continuava a ser tocada ao mesmo
tempo em que os cães viam a carne, então era ainda maior a efetividade deste
pareamento respondente.
Vamos dar outro exemplo, vamos imaginar que uma criança com autismo
fique “muito animada” com a Galinha Pintadinha, isto é, que ela sinta coisas
extraordinárias, emoções maravilhosas diante deste desenho, então eu desejo
produzir uma relação de aprendizagem respondente entre o desenho e o
Aplicador em ABA, ou seja, quero que esta criança sinta o que ela sente diante
da Galinha Pintadinha também diante deste aplicador, o que chamaríamos
usualmente de “vínculo”. Então se este aplicador aparecer AO MESMO TEMPO
que a Galinha Pintadinha, teremos este pareamento respondente e isto será
mais efetivo quanto mais bacana for o episódio que estiver passando, quanto
mais vezes esta concomitância ocorrer e especialmente se o Aplicador já estiver

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presente antes do episódio começar e permanecer no ambiente ao mesmo
tempo que o episódio estiver passando.
Predictibilidade Na Relação Entre Estímulo Neutro E Eliciador.
Ok, mas vamos continuar com o exemplo citado acima e está criança
assistir a 60 episódios por dia e o aplicador só estiver presente em 6 deles?
Então este pareamento será mais lento. Também ocorre o mesmo se o Aplicador
estiver durante 6 horas diárias com esta criança e só por uma hora houver a
Galinha Pintadinha e ainda assim em dias aleatórios. Ou seja, a visão do
episódio não é capaz de prever a presença do Aplicador, assim como a presença
dele nada nos diz sobre a disponibilidade do episódio da Galinha Pintadinha,
mas quando um for “sinônimo” do outro, isto é, mesmo que o indivíduo assista
menos à Galinha Pintadinha, mas se todas as vezes que isto ocorrer, o Aplicador
esteja presente ou o contrário, ainda que o Aplicador não fique tanto com esta
criança, mas sempre que ela esteja presente, a Galinha Presente também
estiver, então podemos dizer que estes estímulos possuem relação preditiva
entre si, SE o Aplicador está presente, ENTÃO a Galinha Pintadinha também
estará ou o inverso, SE a Galinha Pintadinha está no ambiente, ENTÃO o
Aplicador também estará e neste caso, tão maior é a efetividade da
aprendizagem respondente.

Comportamento Operante, o Império das Consequências


No caso do Comportamento Respondente, há um esquema bem
simples em que um comportamento é eliciado por um estímulo do ambiente, o
que é selecionado na história de evolução da espécie. No caso do
Comportamento Operante, não estamos falando de um comportamento
selecionado na história da espécie, mas na história do indivíduo, trata-se de um
comportamento que não é simplesmente eliciado por um estímulo do ambiente,
mas sim de um comportamento que deve ser emitido pelo organismo. Em
princípio, Skinner usava a palavra espontâneo para adjetivar o comportamento
operante, o que entrou em desuso depois, pelas possibilidades de confusão que
a palavra indicava, mas o fato é que não se trata de uma relação automática em
que o comportamento ocorre pela simples presença do estímulo, mas uma

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relação muito mais complexa, em que o comportamento ocorre se ele tiver sido
vantajoso para o organismo no passado.
Anteriormente, já trabalhamos o conceito de Comportamento Operante,
mas aqui vamos nos aprofundar um pouco mais em sua análise em uma unidade
mínima, que é a Contingência, este conceito fundamental que trata da relação
de dependência entre eventos, em geral visualizado sob o esquema de uma
relação tríplice, entre Antecedentes (Antecedent - A), Resposta (Behavior - B) e
Consequência (Consequence - C), que também pode ser representada por S –
R – C, em que o S vem do inglês, Stimulus e o R de Response. Eu vou usar o A
– B – C por motivos didáticos, mas é importante lembrar que em outros textos é
possível encontrar a outra nomenclatura descrita.

Neste campo se encontram todos É a ação do São os efeitos no


os aspectos do ambiente que organismo em si, ambiente
antecedem e exercem influência isto é, que NÃO é produzidos pela
sobre o comportamento, incluindo eliciada pelo resposta que
os estímulos que sinalizam a estímulo, mas exercem efeitos
possibilidade de Reforço (e ativamente emitida sobre a
Estímulo Discriminativo, que será pelo organismo probabilidade de
explicado depois) e as Operações emissão desta
Motivadoras (também trabalhadas resposta no futuro.
mais à frente)
A B C

Para que esta relação seja uma contingência, é preciso que haja uma
relação de dependência entre eventos, eles precisam estar realmente
relacionados, um aspecto do ambiente que em nada influencie a emissão de um
certo comportamento não é um antecedente de fato e nem mesmo uma
consequência, não tem relação com o comportamento e não faz parte da
contingência, ainda que esteja no ambiente em que o comportamento ocorre.
Tudo aquilo que não é a resposta, é ambiente para que ela ocorra. Se eu
estou analisando a resposta de uma pessoa de tomar água em meio a uma
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corrida, minha tarefa como Analista do Comportamento é colocar esta resposta
em uma contingência, que é a unidade mínima de análise do comportamento
dos organismos, então eu teria que dizer que “correr” é ambiente no qual esta
pessoa bebe água. Mas se eu estou analisando o comportamento de correr do
atleta, então eu diria que “tomar água” é parte do ambiente deste
comportamento.
Deste modo, é preciso dizer que tudo o que se apresenta no contexto de
ocorrência de um comportamento, exceto ele mesmo, é ambiente para sua
existência, inclusive o comportamento de outras pessoas, da própria pessoa que
se comporta, além de seu corpo, o ambiente químico e orgânico do organismo.
Seu dormi bem à noite, se acabei de brigar com a namorada, se estou
bêbado ou com dor de cabeça, tudo isto interfere diretamente em como me
comporto, daí que todos os estímulos de meu corpo que incidam sobre meu
comportamento sejam estímulos antecedentes desta contingência, assim como
a privação de água, comida, sexo, exposição ao sol, à dor ou outros processos
ambientais que alterem o valor de outros estímulos (Operações Motivadoras).
A resposta é a ação do organismo, mas neste caso, não há nenhum
mecanismo biológico que recepciona o estímulo e produz automaticamente a
resposta, ela NÃO É ELICIADA, É EMITIDA, ou seja, é preciso um processo
ativo do organismo para que ela ocorra. Em princípio, na constituição inicial da
coleção de comportamentos do organismo, o que chamamos de Repertório, as
respostas são aleatórias ou ocorrem somente como respondentes ou derivações
dele, mas certas destas respostas são selecionadas pelo ambiente por meio das
consequências, é a operação das contingências de reforçamento.
Algumas respostas operam mudanças no ambiente que opera sobre o
organismo uma modificação, este organismo se torna um organismo modificado,
alterado, com maior probabilidade de emitir aquela mesma resposta ou, ao
contrário, com menor probabilidade de emiti-la, daí que o repertório dos
organismos seja algo dinâmico, mutável, e sejamos transformados, dia após dia
por nosso ambiente.
Vamos a um exemplo simples, imagine uma criança brincando em um
cômodo qualquer, explorando o ambiente, ela emite respostas de tocar com a

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mão, dedo, pés, língua todas aquelas superfícies novas, exploração que já foi
reforçada no passado, mas há um novo estímulo neste ambiente, uma tomada,
e ela se dirige a ela com o dedo em riste. Esta resposta, a depender do ambiente
em que ocorre, pode não produzir consequência alguma, pode ser uma
estimulação proprioceptiva sem graça e pronto, acabou-se, não se realizou uma
contingência. Mas pode acontecer duas outras coisas interessantes para nossa
análise, é possível que o ambiente em que o comportamento ocorre, a tomada,
esteja molhado e uma poderosa corrente de 110v corra pelo corpo do bebê,
estimulando gravemente os receptores de dor de seu corpo e esta estimulação
transforme o bebê no sentido de que ele se torna menos provável de emitir o
mesmo comportamento, esta consequência foi provocada pelo comportamento
em si, mas diminuiu a probabilidade de que ele volte a ocorrer no futuro. Também
pode ocorrer de a mãe ver este bebê se arriscando e imediatamente pegá-lo no
toco e tascar-lhe um beijinho e mudá-lo de ambiente, isto é uma consequência
vantajosa para o bebê e pode, portanto, modificá-lo no sentido oposto e ele se
tornar um bebê com maior probabilidade de pegar na tomada, mas aqui alguém
poderia dizer que não foi uma consequência provocada pelo comportamento
dele e sim por outra pessoa. Atenção a este ponto, com exceção da resposta em
si, tudo é ambiente e a mãe e o comportamento da mãe É AMBIENTE para o
comportamento deste indivíduo e foi o comportamento dele que produziu aquela
alteração no ambiente, a mãe não o teria pegado e mudado de lugar se ele não
tivesse colocado o dedo na tomada, de modo que foi sim, seu comportamento,
o produtor daquelas consequências, ainda que elas tenham sido
SOCIALMENTE MEDIADAS.
Podemos aplicar a fórmula SE...ENTÃO, para avaliar se estamos de fato
falando de uma contingência. Em uma situação, SE o bebê coloca o dedo na
tomada, ENTÃO ele toma um choque (contingência de punição) ou SE o bebê
coloca o dedo na tomada, ENTÃO a mãe o pega e retira do local
(contingência de reforçamento). Mas também poderia acontecer uma coisa
totalmente diferente, exatamente quando o bebê tocasse na tomada, o seu
papai, que não estava em casa, chega no ambiente e corre para fazer carinho
em seu filhote. Neste caso, o papai não chegou EM FUNÇÃO de o bebê estar

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com o dedo na tomada, foi somente uma coincidência, não foi colocar o dedo na
tomada que provocou a mudança no ambiente CHEGADA DO PAPAI. Mas ainda
assim, é possível que o organismo passe a se comportar com um aumento de
probabilidade deste comportamento, colocar o dedo na tomada, devido a um
evento do ambiente que aconteceu logo após a ele, mas não provocado por ele,
esse é o chamado Comportamento Supersticioso.
Comportamento Supersticioso é aquele aprendido por meio da
modificação do organismo por um evento do ambiente que foi contíguo a uma
resposta, isto é, seguiu imediatamente uma resposta no tempo, mas não foi
produzida por ela. Talvez você mesmo conheça pessoas que usem uma mesma
camisa em dias de jogo de seu time, porque em algum dia no passado o time
ganhou após ele colocar a camisa, use uma cueca em dia de prova, porque foi
muito bem em alguma prova no passado usando aquela mesma cueca e assim
por diante.
Este mesmo comportamento foi observado em pombos, colocados em
Caixas de Skinner programadas para liberar comida a cada 10 segundos, o que
coincidia com comportamentos como girar ou dar uma cabeçada, fazendo com
que estes comportamentos se estabelecessem como comportamentos
supersticiosos.

Reforço Positivo e Reforço Negativo


Uma contingência não é considerada Reforçadora ou Punidora se ela é
boa ou ruim, se é agradável ou desagradável, isto tem nenhum papel nesta
definição. Uma contingência de reforçamento é uma outra coisa completamente
diferente, trata-se de números, de matemática, uma contingência é
reforçadora se ela aumenta a probabilidade de uma resposta voltar a
ocorrer no futuro. Vamos falar um pouco desta história.
Thorndike realizou as pesquisas que são consideradas como
antecessoras diretas do trabalho sobre comportamento operante de Skinner. O
equipamento utilizado por Thorndike foi o que ele chamou de Caixa Quebra-
Cabeças, em que trabalhou especialmente com gatos. Nestas caixas, havia um
mecanismo de destravar a porta, o que daria acesso ao ambiente externo, que

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tinha comida. Em princípio, os gatos faziam inúmeras coisas dentro da caixa,
basicamente todos os movimentos que já faziam em sua vida, mas
aleatoriamente, em algum momento, pressionavam o mecanismo e ele abria. A
grande questão colocada é que ao serem novamente inseridos na caixa, eles
demoravam menos tempo para fazer o mesmo movimento para sua abertura e
isto ocorria progressivamente, até que o gato entrava na caixa e imediatamente
se comportava abrindo o mecanismo.
Thorndike opôs os sentimentos de agradável a desagradável e
interpretou que comportamentos que levavam a condições mais agradáveis
aumentavam de probabilidade, o que ele chamou de Lei do Efeito, que
influenciou decisivamente Skinner no conceito de reforçamento.
A oposição entre agradável e desagradável estabelecia um julgamento
subjetivo que não tinha papel no processo objetivo do comportamento, além de
uma série de outras inferências antropomorfizastes dos animais presentes em
seu trabalho (e na maior parte também dos outros pesquisadores da época), mas
lançou as bases do trabalho de Skinner, que em 1931 publicou sua tese sobre o
Comportamento Respondente e se preparava para ampliar enormemente a
compreensão teórica do comportamento dos organismos com o conceito de
Comportamento Operante.
Imagine uma situação clássica, um rato jovem, ingênuo, sem história de
vida pregressa com nenhuma caixa, nenhuma barra, nada, só comida à vontade
até esse momento. Agora ele foi deixado privado de comida e colocado em uma
caixa jamais vista, jamais sentida, tudo é novo para ele, o jovem ratinho está na
Caixa de Skinner.
O rato, em sua breve história de vida, aprendeu a fazer algumas coisas
simples, ele sabe cheirar os lugares, arrastar a pata no chão e em superfícies
laterais e é exatamente isto que ele faz nesta caixa, tudo o que sabe, ele está
com fome e o tempo está passando. A caixa é pequena, mas imagine quantos
desses movimentos é possível de se fazer lá dentro, vamos chutar que seja
possível fazer 100 movimentos, incluindo arrastar as patinhas ou o focinho em
todos os lugares. Se não há qualquer história prévia do rato naquela caixa e em
nada parecido, então podemos dizer a probabilidade de cada um desses

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movimentos ocorrer é de 1/100, mas quando ele faz um deles, aleatoriamente e
ele não produz consequência alguma, este mesmo movimento se torna mais
improvável, talvez 1/300 e os outros movimentos ainda não testados se tornam
cada vez mais prováveis de acontecer, porque as possibilidades vão diminuindo.
Desses 100 movimentos possíveis, imaginemos que o ratinho já fez 60 e
nenhuma consequência foi dada a nenhum deles, este dia não está fácil.
Mas o que o rato não tinha como saber, é que o Tio Skinner programou
aquela caixa com uma barra, cuja pressão é um dos 100 comportamentos
possíveis, para disparar um impulso elétrico que faz um registro em uma folha e,
ao mesmo tempo, aciona um mecanismo que libera uma pelota de comida para
o rato. O movimento de número 61 do ratinho é justamente pressionar a barra e
quando a comida sai, ele a come imediatamente. A partir de agora, o rato tem
60 movimentos sem consequência, 39 movimentos ainda não realizados e 1
movimento que produziu uma consequência poderosa, comida. Este
comportamento (pressão à barra) se torna mais provável de ocorrer, porque a
consequência gerada pelo comportamento no ambiente operou uma mudança
sobre este organismo, uma consequência reforçadora.
Se o rato fosse o Mickey, um baita bichinho inteligente e falastrão, com
uma história de aprendizado pela observação e por regras (que vão aprender
mais à frente), ele provavelmente só iria pressionar a barra daqui por diante, mas
não é este o caso do rato e nem do pombo e nem de um ser humano como um
bebê, sem história de aprendizagem por regras e observação. O rato continua
fazendo vários comportamentos, mas como o comportamento de pressão à
barra aumentou de probabilidade, não demora muito a ele voltar a esta resposta.
Quando o ratinho volta a pressionar a barra, novamente isto produz a
consequência “comida” e o comportamento aumenta de probabilidade, enquanto
todas as outras respostas emitidas na caixa não produzem resposta alguma e
diminuem progressivamente de probabilidade. Depois de um certo tempo o rato
simplesmente pressiona a barra, come, volta a pressionar a barra, come e assim
por diante. É simples assim, o comportamento de pressionar a barra foi
reforçado, os demais não.

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É claro que aqui eu estou dando um exemplo bem simples para efeito
didático, mas a mesma coisa acontece conosco, os seres humanos também
aprendem por contingências de reforçamento, é assim que aprendemos a comer
à mesa, a falar, a fazer carinho nos animais, a assistir filmes e assim por diante.
É verdade que no caso dos seres humanos, o estabelecimento da
linguagem leva ao comportamento governado por regras e à aprendizagem por
observação, que são formas mais complexas de aprendizagem, mas que
também partem das contingências de reforçamento, em princípio (isso será
tratado à frente), mas a base de tudo são as contingências diretas de reforço.
Este reforçamento, isto é, a consequência do ambiente que seleciona um
certo comportamento, fazendo-o aumentar de probabilidade no futuro, pode
ocorrer por meio da retirada de um estímulo do ambiente, um estímulo aversivo,
isto é, que é vantajoso para o organismo se livrar dele, neste caso chamamos
este processo de Reforço Negativo, como nos exemplos abaixo:

A B C Probabilidade do
comportamento no futuro
Dor no dedão Para e tira A dor é Da próxima vez que estiver
do pé, uma eliminada na mesma situação, tem
andando de pedrinha de maior probabilidade de
tênis dentro do novamente parar e retirar
tênis uma pedrinha que esteja
incomodando
Dor forte de Toma um Dor é Da próxima vez que estiver
cabeça remédio eliminada na mesma situação, tem
maior probabilidade de tomar
o mesmo remédio
Entra no Coloca o O apito é Da próxima vez que entrar no
carro e cinto de silenciado carro, tem maior
começa a segurança probabilidade de colocar o
ouvir um cinto
apito cada
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vez mais
forte
Vizinho Pede ao Vizinho baixa Maior probabilidade de pedir
coloca o som vizinho para a música, que ao vizinho para baixar a
altíssimo, baixar a fica inaudível música quando estiver muito
doendo seus música em sua casa alta
tímpanos
Privação de Vai ao Sede é Maior probabilidade de ir ao
água bebedouro eliminada bebedouro e tomar água na
pegar água próxima vez que estiver com
e tomar sede

Observe no caso acima que a questão NÃO é de reforço de


comportamentos negativos, comportamentos ruins, nem nada disso, uma
análise científica do processo não faz este tipo de julgamento, se algo é bom ou
ruim, isto é um julgamento valorativo e não científico. Também não se trata de
dizer que a consequência é ruim, ou “negativa”, aqui as palavras Positivo e
Negativo não tem qualquer relação com Bom ou Ruim e sim com Adição e
Subtração, é uma questão matemática, de retirar ou adicionar um estímulo ao
ambiente. Há também outro aspecto matemático que é o fato de a consequência
ser reforçadora, isto é, que aumenta a probabilidade de o comportamento voltar
a acontecer no futuro, ou punidora, em que se diminui a probabilidade de ele
ocorrer no futuro. Mas como aqui estamos falando de Reforço Positivo e
Reforço Negativo, estamos nos limitando aqui a consequências que aumentam
a probabilidade de um comportamento ocorrer no futuro, embora isso possa
ocorrer como decorrência da adição de um estímulo ao ambiente ou a subtração
de um estímulo ao ambiente.

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Mas quando a consequência no ambiente não é a retirada de um estímulo,
mas a adição de um, então chamamos este processo de Reforço Positivo:
A B C Probabilidade do
comportamento no futuro
Na praça, à Toma um O gosto é Da próxima vez que estiver na
noite sorvete adicionado ao mesma situação, tem maior
paladar probabilidade de novamente
tomar um sorvete
Junto aos Utiliza Sensações Da próxima vez que estiver na
amigos cocaína alteradas mesma situação, tem maior
probabilidade de novamente
cheirar cocaína
Privado de Posta uma Dezenas de Da próxima vez que estiver na
atenção foto no likes e mesma situação, tem maior
Instagram comentários probabilidade de publicar outra
(atenção) foto
Durante o Trabalha Recebe o Aumenta a probabilidade de
mês em uma salário que me manter me comportamento
empresa troca por trabalhando.
aluguel, luz,
água, roupas...
De manhã, Vai à Sente-se bem Maior probabilidade de voltar à
acabando de academia disposto OU academia
acordar encontra
amigos OU o
corpo malhado
permite tirar
fotos que
gerem atenção
OU
oportunidades

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sexuais OU
mais saúde...
Em sala de Bagunça Professora dá Maior probabilidade de
aula, em bronca “bagunçar” em sala na próxima
privação de (atenção) aula
atenção

Observe que nem todas as consequências descritas podem ser


consideradas como “boas” ou “agradáveis” e nem todas elas aumentaram
comportamentos “adequados”, mas para compreendermos esta operação não é
isto que importa e sim a probabilidade aumentada desses comportamentos no
futuro e que isso se dê por meio da adição de um estímulo ao ambiente.
Também é importante destacar alguns outros aspectos fundamentais da
relação de reforçamento:
1. Um estímulo ser ou não reforçador não constitui uma propriedade particular
do estímulo em si, mas uma relação estabelecida entre ele e um comportamento
em um certo contexto. Veja, um estímulo pode seguir um comportamento e
aumentá-lo de probabilidade no caso de uma pessoa, mas não de outra. Uma
pessoa se comporta por drogas, outras as rejeitam completamente, algumas vão
à academia todos os dias às seis da manhã para sentirem as estimulações
corporais do exercício outros ficam de mau humor só em pensar nisso (ok, isso
foi um testemunho) e assim por diante, então não existe uma coisa que é um
reforçador e outra que não é, o que existe são estímulos do mundo que exercem
a função de reforçamento ou não em certas condições específicas;
2. Um estímulo pode inclusive ser reforçador agora, para uma certa pessoa e
não ser amanhã ou não ser daqui a meia hora, isto porque nós variamos nossa
sensibilidade ao ambiente, seja porque deixamos de apreciar algo, seja porque
estamos momentaneamente saciados daquela coisa, como a comida, a água ou
de dormir, por exemplo.
3. Existem fatores que exercem influência em quanto uma consequência é capaz
de reforçar um comportamento como: privação do organismo daquele estímulo
ou exposição a um estímulo aversivo (Operação Motivadora Estabelecedora);
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Imediaticidade da consequência (consequências atrasadas têm efeito diminuído
ou eliminado); Magnitude do reforçador (sua quantidade ou intensidade); O
esquema de reforçamento (ou seja, se produz as consequências reforçadoras
todas as vezes ou às vezes, em que proporcionalidade), entre outros;
4. Mesmo quando um comportamento é abundantemente reforçado e mesmo
que o ambiente seja exatamente o mesmo, nunca é possível garantir, com 100%
de certeza, que o indivíduo irá se comportar da mesma forma naquela situação,
isto porque o comportamento não é eliciado pelo estímulo, ele deve ser
ativamente emitido pelo organismo. Assim, nós podemos dizer com certeza que
se um comportamento foi reforçado, ele irá ocorrer na maior parte das vezes
em que aquele mesmo contexto se repetir, mas não que ele irá ocorrer todas
as vezes em que o contexto se repetir.

Respostas, Estímulos E Suas Classes


Digamos que uma pessoa esteja na escola, na posição de estudante, seu
nome é “Alane” e tenha uma dúvida durante a aula de matemática, ela levanta a
mão e a Professora diz “Pois não, Alane, qual sua dúvida?”, a Alane pergunta
algo referente ao conteúdo e a Professora responde com um sorriso no rosto e
uma explicação que tornou tudo mais fácil daqui por diante. Vejamos que
contingência foi essa:
A B C Probabilidade do
comportamento no futuro
Na sala, com Levantou a A Professora Da próxima vez que estiver
uma dúvida mão e respondeu na mesma situação, tem
sobre adição perguntou à maior probabilidade de
de 2 Professora novamente perguntar
algarismos

Ocorre o seguinte, da próxima vez que esta ocasião se repetir, os


estímulos que compõem o antecedente não serão exatamente os mesmos, ela
pode estar na aula de matemática, bem-disposta, diante de certa professora,
com uma dúvida, mas esta dúvida não será exatamente a mesma. A Professora
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pode dar a mesma consequência, isto é, responder à pergunta, com um sorriso
no rosto, explicar direitinho, mas usará outras palavras, talvez esteja em outra
posição, com um tom de voz com outra oscilação e com o sorriso com uma ligeira
diferença de envergadura. Da mesma forma que a própria Alane vai levantar seu
braço talvez um milímetro abaixo ou acima da vez anterior e formular de maneira
diferente esta nova dúvida. Se há assim tantas diferenças, como podemos dizer
que esses casos tratam do mesmo comportamento? Aí é que entra a noção de
classe.
Os estímulos não são avaliados por sua forma exata, mas pela relação
funcional que estabelecem com o organismo, assim como as respostas não são
classificados por sua forma, sua topografia, como chamamos, que é o percurso
físico em que ocorre, mas pela relação funcional com os estímulos do ambiente.
Imaginemos uma certa contingência que segue abaixo:
A B C Probabilidade do
comportamento no
futuro
No Usa o dedo A luz se espalha Da próxima vez que
escuro indicador para pelo ambiente, estiver no escuro neste
mover o possibilitando que ambiente, tem maior
interruptor e o indivíduo veja o probabilidade de
acender a luz que o cerca novamente pressionar o
interruptor

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Ocorre que esta mesma resposta pode ocorrer de muitas diferentes
formas, como por exemplo as que seguem:
A B C Probabilidade do
comportamento no
futuro
No Usa o dedo A luz se espalha Da próxima vez que
escuro indicador para pelo ambiente, estiver no escuro neste
mover o possibilitando que ambiente, tem maior
interruptor e o indivíduo veja o probabilidade de
acender a luz que o cerca novamente pressionar o
Pressionar o interruptor
interruptor com
o polegar
Pressionar o
interruptor com
o anelar
Pressionar o
interruptor com
o mindinho
Dizer “Alexa,
acender a luz”
Dizer “Ok
Google, acenda
a luz”
Pressionar a
pera-interruptor
(só os mais
velhos vão
entender essa)
Girar a lâmpada
mal encaixada

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Nesse caso descrito acima, estamos tratando de uma mesma
contingência, mas a forma do comportamento é o que varia, o que chamamos
de Topografia da resposta. No entanto, quando temos uma mesma contingência,
essas variações de forma são naturais, são variações topográficas e não
variações de função, em todos os casos a resposta exerce a mesma relação com
o ambiente, daí que todas essas respostas sejam o que chamamos de uma
Classe de Respostas, variações topográficas com a mesma função.
Neste caso, o conceito pode até não estranhar ao leitor, mas outro
exemplo pode colocá-los a pensar mais seriamente a respeito:
A B C Probabilidade do
comportamento no
futuro
Em Pega um cartão Mãe dá a Da próxima vez que está
qualquer com uma mamadeira e a em privação do leite, faz
lugar, pessoa com a fome é afastada o mesmo
diante da mão levantada comportamento
mãe, em com a escrita
privação “Eu quero” e
da cola em uma
mamadeira faixa de velcro,
depois pega
outro cartão
escrito “Leite” e
com a imagem
de uma garrafa
de leite e cola
logo à frente na
mesma faixa e
entrega à mãe
Fala “Mamãe,
quero leite”

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Se joga no não
e grita

Neste caso acima a criança emite respostas completamente diferentes


uma da outra, na primeira oportunidade ela entrega cartões de comunicação
alternativa, na segunda ela pede por meio da fala e na terceira ela simplesmente
se joga no chão e grita, mas nos 3 casos o comportamento ocorre diante de um
antecedente específico que é a privação de leite – sentindo fome (Operação
Motivacional) e diante da mãe (Estímulo Discriminativo) e tem uma consequência
específica que é o leite. Nos 3 casos, o que vemos é uma criança pedindo por
leite, ainda que o faça de 3 formas completamente distintas, este é um casos
também de uma Classe de Respostas, porque a resposta não é compreendida
por sua forma, sua topografia, isto é, pelas instâncias físicas em que ocorre, seja
movimentando os braços e cartões, pela produção da vibração do som pelas
pregas vocais e modulada pela boca ou friccionando o corpo contra o chão
enquanto produz sons agudos e indistinguíveis de choro, nada disso é o
fundamental para esta classificação e sim a relação da resposta com os
antecedentes e os consequentes.
A mesma coisa se pode dizer dos estímulos. É claro que eles podem ser
classificados, a depender do objetivo que os estamos tratando, a partir de sua
forma física, sua topografia, como, por exemplo a classificação em termos de
estímulos auditivos, visuais, proprioceptivos, olfativos, entre outros, mas quando
estamos falando em análise de contingências, então o que é fundamental é a
função exercida por esses estímulos e não sua topografia.
Digamos que uma professora deu atenção a um aluno na forma de um
elogio, ou uma esculhambação ou um toque e que esta atenção reforçou um
comportamento que ele tenha emitido, não importa que julguemos esta
consequência de boa ou ruim ou qualquer outra avaliação, o que importa para
fins de análise do comportamento é que a Professora deu atenção a este
comportamento e que esta consequência operou sobre este comportamento
uma transformação específica que foi o aumento de probabilidade. Esta

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“atenção”, em geral, nas variadas formas que pode ocorrer, também participa,
portanto, de uma Classe de Estímulos.

Reforçadores Naturais e Arbitrários


Na vida real, em uma situação não controlada em que as coisas
acontecem fora de um processo específico e controlado de ensino, os
comportamentos acontecem e produzem certas consequências, que podem ser
diferentes daquelas que utilizamos de maneira “artificial” para favorecer a
aprendizagem e esta constitui a diferença fundamental entre reforçadores
naturais e arbitrários.
Qual é o reforçador natural de um xaveco bem dado? Uma relação de
intimidade.
No entanto, eu posso arranjar um ambiente de um Grupo de Habilidades Sociais
em que as pessoas simulam situações de xavecos, a partir de certos
pressupostos fundamentados no respeito aos Direitos Humanos do xavecado e
receber outras consequências, como feedback descritivo das habilidades
demonstradas, elogio dos parceiros de grupo, talvez palmas até, são
reforçadores arbitrários, isto é, que não ocorrerão em uma situação natural de
ocorrência do comportamento.
Qual é o reforçador natural de discriminar cores? Atender a um pedido
dos pais para pegar um objeto ou roupa ou ainda um brinquedo
No entanto, eu posso arranjar um ambiente em que um indivíduo aponta
para a cor que nomeei e recebe um elogio, um comestível, uma estrelinha, que
não é a consequência que ocorrerá no dia a dia.
Mais à frente este tópico será muito mais trabalhado, mas o que é
importante dizer neste contexto é que na maior parte das vezes nós usamos o
reforçamento arbitrário e não há qualquer problema nisso, mas é preciso que
haja o planejamento do que chamamos de transferência de função de estímulo,
por meio do qual um comportamento que ocorre em função de um reforço
arbitrário vai sendo modificado de modo a ocorrer em função do reforço natural
ao fim do processo de ensino.

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Vamos de um exemplo bem corriqueiro, a mãe entre no elevador com o
filho e lá tem um homem ou uma mulher, ela diz ao filho “Dá bom dia para a
moça!” e uma leve cotovelada, o filho diz “Bom dia!” e a mãe diz “Isso mesmo,
tem que ser educado”. Este menino do exemplo está aprendendo um
comportamento sob controle (expressão muito usual em Análise do
Comportamento para designar as relações funcionais do comportamento com o
ambiente) da mãe, sua cotovelada, instrução e elogio. Este elogio da mãe é uma
consequência arbitrária e quando damos “Bom dia” para as pessoas no elevador,
elas não nos elogiam, elas simplesmente respondem “Bom dia”, de modo que
este é o reforçador natural do comportamento de dar “Bom dia” e é o que deve,
ao final, controlar nosso comportamento e é por isso que aos poucos as mães
reduzem as cotoveladas, instruções e elogios e o comportamento passa a
ocorrer sob controle das contingências naturais.
Da mesma forma não lemos textos para tirar nota azul na realidade, não
fazemos um desenho para não sermos tirados de sala, não jogamos futebol para
ficar com presença e assim por diante, a escola é um grande arranjo de
contingências arbitrárias com o objetivo de transformar quem por lá passa, de
modo que essas pessoas se comportem de certa maneira em sua vida social
cotidiana.

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