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3. Como se deu a expansão imperialista europeia ao final do século XIX.

Nesse
contexto, qual importância das questões econômicas para a repartição da África
entre as potências europeias?
O contexto do século XIX desenvolve-se a partir de duas ideias, ainda que
contraditórias, que acabam por encorajar a formação de uma economia internacional: o
mercado autorregulado, dando suporte ao livre comércio e criando a necessidade da
criação de um sistema monetário internacional - que viria a ser o Padrão Ouro. E, em
contraponto, o ideal nacionalista cresce e se modela fortemente, estimulando as
industrializações nacionais e o uso de políticas protecionistas. Desta forma, há uma
mudança no caminho para a industrialização pela ação do Estado ou do Capital
Financeiro Interno, o que leva a justificação do Imperialismo e Colonialismo, além de
criar condições políticas e econômicas da Primeira Guerra Mundial. Entretanto, a
expansão imperialista europeia não é um processo uniforme para todos os países
europeus.
Na década de 1860, o Cobden-Chevalier marcou o fim do protecionismo francês.
Napoleão III, imperador através do golpe de estado de 1851, introduz a política de
nação mais favorecida. Logo, a França assinou vários acordos com outros países e
aumentou as vantagens comerciais para a Grã-Bretanha, ampliando o comércio intra-
europeu rapidamente e estruturando um livre comércio. Porém, em 1873, houve um
pânico financeiro que se espalhou por países industrializados, com preços entrando em
queda e taxas de lucro caindo. O período é conhecido como a Grande Depressão do
Século XIX. O que resulta na volta das barreiras alfandegárias, uma medida
protecionista. Em 1870, a Europa já vinha expandindo o investimento em outros lugares
do mundo. Investimentos esses financiados por instrumentos financeiros altamente
lucrativos, abrindo espaço para novos negócios de empresas nacionais em novos
mercados, aumentando a infraestrutura e o comércio. Esse movimento produz um
estímulo para a emigração de europeus para as Américas, mas também de africanos
escravizados e trabalhadores compulsórios.
As causas do imperialismo são complexas e não apenas econômicas, mas também
políticas no âmbito doméstico e internacional. Ao final do século XIX, cresce a
necessidade de estruturar as finanças internacionais, para que seja possível o
investimento entre países, por exemplo. O imperialismo, como dominação de um Estado
a outro relativamente mais fraco ou a tentativa de fazê-lo, se realiza através de tratados
comerciais, subordinação informal aos interesses do Estado mais forte ou até no livre
comércio, com relações econômicas desiguais e abusivas. Seu renascimento veio em
alguns países da Ásia e África, que possuíam pequena participação no comércio
internacional, até serem forçados a aumentar sua integração com coação/intervenção
militar a fim de alimentar a demanda e recursos para a produção. Algumas regiões
tinham pouco contato com o comércio ocidental e tentaram derrubar o livre comércio
em suas fronteiras. Já no continente africano, havia a limitação de acesso por conta dos
rios, que não eram navegáveis em grandes extensões, problema esse que só seria
resolvido na construção do Canal de Suez.
A partir de 1879, a França expandiu seus postos de comércio na África Ocidental,
formando um grande território chamado de África Ocidental Francesa. A partir daí, as
parcelas ocupadas pelas potências europeias aumentaram, como forma de protetorado.
Em 1869, a França abre o Canal de Suez e em 1875 a Inglaterra compra ações do Canal.
Encontrando resistência no Egito, a Inglaterra promove um bombardeio e ocupa-o,
depois expandindo para mais regiões. Até o momento em que encontra a expansão
francesa, em Fashoda, em 1898. Negociando (a primeira barganha?), criam o Sudão
Anglo-Egípcio. No norte da África estava Trípoli, hoje Líbia, com os italianos.
O Scramble for Africa ocorreu ao final do século XIX, com os países correndo para a
ocupação e repartição do continente africano, consolidado através de encontros entre
representantes de Estado onde se barganhava os territórios, em esferas de influência e
interesse. Muitas dessas divisões foram feitas com linhas retas sobre o mapa e formaram
fronteiras artificiais, não considerando o grande número de monarquias tradicionais,
tribos e chefes tribais e outras sociedades africanas que existiam nessas regiões. Muitas
vezes os novos territórios coloniais da Europa englobavam centenas de grupos
independentes sem história, cultura, língua ou religião comum. Inclusive, povos
inimigos, grupos islâmicos e não-islâmicos foram vinculados à mesma unidade colonial.
Quando a divisão da África terminou, o continente, ora composto por grande
diversidade de grupos, foi reduzido em 40 colônias e os protetorados europeus, onde a
administração europeia era imposta por tratado ou por conquista e como resultado,
inúmeros casos de resistência e aniquilamento de povos.

➢ Chandler, Alfred D. - “Creating Competitive Capability: Innovation and


investment in the United States, Great Britain and Germany from 1870s to World
War I”, in Higonnet, Landes & Rosovsky, Favorites of Fortune, Harvard
University Press, 1995, pp.432-458.
➢ Eichengreen, Barry – Globalizing Capital: A History of the International Monetary
System, Second Edition, Princeton University Press, 2008., Cap 2, pp.24-42.
➢ Cameron, Rondo - A Concise Economic History of the World, Second Edition,
Oxford University Press, 1993., Cap 11, pp. 275-302
➢ Clark, Gregory, A Farewell to Alms: A Brief Economic History of the World,
Princeton University Press, cap. 2, pp. 19-39
➢ Nester, William R. – Globalization, A Short History of Modern World, Palgrave-
McMillan, 2010, Cap 8, pp.57-66.
➢ Kuznet, Simon – “Modern Economic Growth: Findings and Reflections”, American
Economic Review, Vol. 63, No. 3 (Jun., 1973), pp. 247-258
➢ Webster, Richard A. – Western Colonialism- The New Imperialism c 1875-1914,
Encyclopaedia Britannica, published 9 December 2020.

4. Porque a economia europeia encontrou tanta dificuldade para sua recuperação


econômica depois da Primeira Guerra Mundial e, ao contrário, a economia norte-
americana passou por um período de rápido crescimento até sua desaceleração nos
meses que antecederam o início da Grande Depressão?
No período entre guerras, de 1918 a 1939, a Europa sofreu uma crise econômica e
passou por um longo processo até sua estabilização, processo esse acompanhado por
crises, caos econômico, desaceleração do crescimento e uma interrupção da
globalização, marcado por alguns episódios de hiperinflação, no imediato pós-guerra, e
uma deflação generalizada, ao final dos anos 1920. Apesar do boom no pós-Guerra
seguida por sérias crises em 1920 - 1921, nesse cenário há graves problemas de dívidas
soberanas e instabilidade política. O breve período de estabilidade entre 1925 - 1929
não pode ser sustentado e o mundo entrou em uma severa depressão que só foi
interrompida por uma nova Guerra Mundial.
Na década de 1930, houve a desintegração do Padrão Ouro, assim como a cooperação
monetária internacional, partindo o mundo em blocos econômicos hostis. Esse cenário é
agravado por sucessivas desvalorizações, imposições de barreiras ao comércio,
restrições à mobilidade da mão-de-obra, colapso de preços dos produtos primários e
contração do comércio internacional. E assim, o crescimento da economia mundial
desacelerou-se em comparação com o século anterior, que foi marcado pela intensa
globalização e cooperação entre países. Isso porque fatores determinantes para o
aquecimento da economia, como um sistema monetário internacional e cooperação fora
enfraquecido: o Padrão Ouro era incompatível com o cenário que se instaura, pois
diversos países instituíram medidas legais e práticas que suspendiam várias regras do
Padrão Ouro, além de políticas protecionistas. Porém, essas medidas eram tidas como
provisórias e, nominalmente, as moedas continuavam vinculadas ao ouro a uma certa
taxa de câmbio. Assim, a expectativa era sua restauração logo após o fim da Guerra.
No imediato pós-Guerra ocorreu uma rápida recuperação econômica, um boom,
interrompida por inflação ascendente. A infraestrutura europeia tinha sido afetada
principalmente em quatro países: França, Bélgica, Rússia Ocidental e Polônia. Mas
apesar da maior parte da Guerra ocorrer em território europeu, a maior dificuldade da
Europa não foi a recuperação física, mas sim a perda de mercados, com a entrada de
novos competidores em suas áreas de influência, os Estados Unidos e o Japão.
Outro ponto difícil para a recuperação europeia foi a financeira: a dívida entre os
Aliados ao final da Guerra aos norte-americanos. As reparações e dívidas de guerra
foram determinantes para a condição e tempo prolongado de estabilização europeia,
pois a Alemanha ficou com a maior parte das responsabilidades pela reparação, em
valores exorbitantes e irreais. Assim, as condições financeiras da Alemanha se
deterioraram continuamente e o país começa a ter uma inflação crescente que irá se
transformar em hiperinflação nos próximos anos e, em julho de 1922, o governo alemão
negocia o “vencimento” do pagamento, negociando o prazo, porém negado postergação.
O não pagamento resultou na ocupação e confisco de produtos industriais do Vale do
Ruhr pelos franceses e belgas. O conflito só se resolve em 1923, quando é proposto o
Rentenmark, uma moeda lastreada em bens reais (devido à escassez de ouro para
sustentar a moeda) emitida em outubro de 1923 para impedir a hiperinflação da
Alemanha de Weimar. Implementado em setembro de 1924, o Plano Dawes era uma
medida provisória para viabilizar o pagamento das dívidas alemãs. Assim, os
pagamentos persistiram até 1929, quando se percebeu que os valores eram
insustentáveis para a Alemanha e o plano foi substituído pelo Plano Young, para
liquidar as reparações alemãs.
Logo, o potencial inflacionário europeu tem como principais causas os problemas
fiscais, as políticas monetárias, problemas no balanço de pagamentos, além de seus
problemas administrativos e a instabilidade política em algumas regiões. Para o
processo de estabilização, cada nação deveria retornar ao Padrão Ouro, ou seja, para
uma taxa de câmbio fixa entre a moeda doméstica e o ouro, com conversibilidade. O
nível absoluto da taxa de paridade deveria ser decidido por cada país, sendo vista como
uma questão de soberania e privilégio, sendo essencial que essa taxa de câmbio pudesse
ser sustentada.
Em contraponto ao pós-Guerra europeu, os Estados Unidos traça um caminho diferente,
tanto por seu contexto histórico pré-Guerra quanto por sua atuação durante o conflito.

Em um processo de industrialização, surge um grupo de empresários norte-americanos


que desenvolveram os negócios com a criação de grandes corporações, os Big Business.
Assim, no início do século XX, os norte-americanos passaram por uma era progressiva
e pela consolidação do status de grande potência.
O crescimento da corporação foi fundamental para a consolidação do país como o
principal produtor industrial do mundo, beneficiando-se de seu imenso e protegido
mercado doméstico e ao final do século XIX, os EUA consolidaram-se como grande
potência em uma guerra vitoriosa contra a Espanha. Logo, passam a atuar como
potência imperialista: com o Tratado de Paris, em 1898, adquirem da Espanha as
Filipinas, Guam e Porto Rico. Assim, Cuba se transforma em um protetorado dos EUA.
Com a tomada do projeto do Canal do Panamá (1904 - 1914) pelos norte-americanos, o
transporte foi facilitado, permitindo que essas regiões se tornassem mais integradas à
economia mundial. Em 1895, houve uma revolta em Cuba contra o domínio espanhol e
assim o comércio com os EUA foi reduzido, em função do conflito, e propriedades de
norte-americanos em Cuba foram afetadas. Um agravo no conflito na baía de Havana
foi o estopim para a intervenção dos EUA. O presidente McKinley tentou comprar Cuba
da Espanha, que recusou. Em 19 de abril de 1898 os EUA entraram em Guerra com a
Espanha. Com a derrota da Espanha (em apenas 4 meses), o tratado de paz concedeu
aos EUA as ilhas espanholas de Porto Rico, Guam e a colônia das Filipinas. Em troca,
os EUA pagaram 20 milhões de dólares. Cuba deveria receber a independência sob
certas circunstâncias, ficando sob tutela dos EUA.
Em 12 de Fevereiro de 1873, o Coinage Act , assinado pelo presidente Ulysses S. Grant
desmonetizou a prata e fez do ouro o único padrão monetário dos EUA. Com o
Resumption Act todas as notas deveriam ser obrigatoriamente trocadas por ouro a partir
de 1º de Janeiro de 1879. Entre a década de 1870 e as descobertas de ouro no Alasca, na
África do Sul e na Austrália os preços caíram nos EUA, como em outros lugares do
mundo. O Sistema Bancário Norte-Americano era muito desregulado, sendo que entre
1890-1925 os bancos de investimento foram dominados por um oligopólio. Não havia
exigência de separação das operações de bancos comerciais e bancos de investimentos.
Assim, o movimento progressista defendia que o comportamento irresponsável dos
ricos deveria ser contido. Apoiavam uma agenda de reformas: Lei Antitrust, regulação
econômica, combate à corrupção, melhoria na educação, imposto de renda, eleição
direta para o Senado.
Na década de 20, temos a introdução de novas tecnologias, produção em massa atrelada
a mecanização e padronização, o conhecido Fordismo. Além de novos produtos e novos
mecanismos de crédito. A indústria automobilística cresce em poucos anos e constrói
um grande estoque de carros. A introdução da linha de produção fordista, o que exigia a
produção em massa, a padronização e partes intercambiáveis; A fragmentação das
tarefas e dos processos significava que os pontos de estrangulamentos podiam ser
facilmente detectados e enfrentados pelos engenheiros da empresa. A tecnologia podia
ser incorporada discretamente com melhorias incrementais sem alterar o Sistema
completo; Ou seja, o sistema rígido de fabricação foi quebrado em partes e reconstruído
de forma racional, permitindo maior flexibilidade e menor qualificação da força de
trabalho. A integração vertical da produção e a padronização eram elementos centrais
desse processo. As relações de trabalho foram alteradas com a separação do trabalho
qualificado e do não qualificado e, ainda, a perda da autonomia do antigo artesão.
Depois da recessão pós-Guerra (1921), a estabilidade e a prosperidade da década de
1920 pareceu extraordinária para os observadores contemporâneos nos EUA. Parte
desse crescimento pode ser atribuído ao surgimento das empresas comerciais e
industriais de grande porte que introduziram novas tecnologias e beneficiaram-se de
economias de escala e escopo. Algumas fragilidades eram perceptíveis na economia
norte-americana, na agricultura, no setor bancário e no mercado de capitais. No meio-
oeste havia preponderância de fazendas de médias, com proprietários de rendas médias,
que empregam poucas pessoas. Os ganhos eram muito influenciados por preços,
enquanto a mecanização da agricultura beneficiou os fazendeiros maiores e mais
capitalizados. Em 1920, existia uma diversidade de bancos, porém, como eram
pequenos, estavam sempre sujeitos a corridas bancárias. Em 1914, é implementado o
Federal Reserve System, decorrente do Crash de 1907, onde, entre as causas primárias
desta corrida, incluem-se a retração da liquidez do mercado por alguns bancos de Nova
Iorque e uma perda de confiança entre os depositantes, exacerbada pelas apostas
paralelas e bucket shops não regulamentadas. Em 1923, foi introduzida a política de
operações de open market, com o Federal Reserve System comprando e vendendo
securities, mas a regulação bancária norte-americana não facilitava que bancos
comerciais fizessem financiamento de longo prazo. Esse financiamento dependia do
reinvestimento dos lucros das empresas e dos lançamentos de bônus e ações no mercado
de capitais. O mercado de títulos para investimentos industriais (industrial securities)
surgiu na década de 1880, mas consolidou-se na década de 1920 quando antigas e novas
empresas lançaram títulos para financiar suas novas fábricas e equipamentos. Os bancos
comerciais passaram a comprar papéis comerciais, mas não podiam operar com ações.
Para superar as limitações legais, criaram empresas afiliadas que permitiram a eles
entrar em todos os aspectos dos bancos de investimento e do negócio de corretagem.
Os investidores de menor posse tinham como opção aplicar nos chamados Investment
Trust que faziam o papel que hoje fazem os Fundos Mútuos. No auge do mercado em
agosto de 1929, já havia grande preocupação com a especulação excessiva e as
primeiras indústrias que entraram em queda foram aquelas sensíveis à taxa de juros,
como a construção civil e a de automóveis. A causa do aumento da taxa de juros foi
principalmente doméstica (o mercado de ações), mas também internacional – a
crescente remessa de ouro para a França, uma vez que o franco francês estava
desvalorizado. Mas, havia uma preocupação com os chamados brokers loans –
empréstimos para compra de ações, com garantia das próprias ações insustentáveis.

➢ Aldcroft, Derek H.- The European Economy, Routledge, 4a Edição, 2001, cap.2,
pp.30-60.
➢ Eichengreen, Barry & Temin, Peter – “The Gold Standard and The Great
Depression”, Contemporary European History, Vol 9, Issue 2, pp.183-207, July
2000.
➢ Kemp, Tom - The Climax of Capitalism: The US Economy in the XXth Century,
Longman, 1990.cap.2 e 3, pp.20-92.
➢ Rothermund, Dieter – The Global Impact of the Great Depression 1929-1939,
Routledge, 2003, cap.5 e 6, pp.48-73

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