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Aula 1

● Por que diagnosticar?


• Prós e contras dos manuais de classificação
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PRÓS E CONTRAS DOS MANUAIS DE CLASSIFICAÇÃO

“A psiquiatria é, entre outras coisas, a negação institucionalizada da natureza


trágica da vida” (SZASZ, 1991).

● O sofrimento humano é inerente à existência, e a psiquiatria e psicologia


viriam tentar aplacar o que é da natureza humana (o sofrimento, a dor,
angústia, ansiedade, etc).

● Isso deflagra a relação problemática que se estabelece entre a psiquiatria e


aqueles que apresentam um comportamento desviante na sociedade. Na
história da psiquiatria, os indivíduos que não se enquadravam eram
exilados ou internados em asilos.

ZORZANELLI, R. BEZERRA, Benilton. A criação de diagnósticos na psiquiatria contemporânea. Rio de Janeiro. Garamond, 2014.
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PRÓS E CONTRAS DOS MANUAIS DE CLASSIFICAÇÃO

● A psicologia e a psiquiatria têm como missão diminuir o sofrimento que é


próprio da condição humana e, portanto, muito se questiona a
classificação do sofrimento que seria então natural dessa existência.

● A dicotomia entre o biológico e o existencial também perpassa a história


da psiquiatria.

● Sigmund Freud defendia uma psiquiatria psicodinâmica, da mente. Emil


Kraepelin se opôs a essa ideia, sugerindo um tratamento biológico e
“cerebralizado”, ou seja, voltado para descobrir as disfunções biológicas
do transtorno mental.

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PRÓS E CONTRAS DOS MANUAIS DE CLASSIFICAÇÃO

● A tentativa de nomear e categorizar o comportamento desviante e o


sofrimento humano é a tentativa de compreender o fenômeno, já que para
estudarmos e entendermos algum objeto de estudo é necessário
anteriormente classificá-lo.

● O DSM não é a primeira tentativa de classificação de transtornos mentais


existente em Psicopatologia, mas os anteriores não eram tão bem
organizados quanto à classificação da APA.

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PRÓS E CONTRAS DOS MANUAIS DE CLASSIFICAÇÃO

● Em Psicopatologia, Canguilhem afirma que o PATHOS precede o LOGOS, ou


seja, a dor vem antes da razão e da lógica.

● O DSM classifica transtorno mental como uma disfunção prejudicial, onde


a pessoa não consegue desempenhar uma função natural, conforme
designado pela evolução, trazendo consequências negativas para a própria
pessoa ou para a sociedade na qual ela está inserida.

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PRÓS E CONTRAS DOS MANUAIS DE CLASSIFICAÇÃO

● No entanto, essa definição é ampla e subjetiva, abrindo possibilidades para


vários questionamentos e críticas. Algumas delas são:

1. Não está claro como definir a funcionalidade e a disfuncionalidade do


comportamento.
2. Argumenta-se que muitos critérios são rótulos que a sociedade atribui à
experiência humana.
3. Os transtornos mentais podem ser revistos e por isso transitam nos
manuais de classificação, sendo inseridos ou retirados.

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PRÓS E CONTRAS DOS MANUAIS DE CLASSIFICAÇÃO

● Ainda como definição de transtorno mental, o DSM-5 compreende que:

“Um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por


perturbação clinicamente significativa na cognição, na
regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo
que reflete uma disfunção nos processos psicológicos,
biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao
funcionamento mental" (p.20).

● O DSM-5 compreende que os transtornos mentais são multifatoriais. O


conceito de multifatorialidade considera que muitas variáveis influenciam no
surgimento e na manutenção de um transtorno mental.

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PRÓS E CONTRAS DOS MANUAIS DE CLASSIFICAÇÃO

● Em seu livro “As palavras e as coisas”, Michel Foucault tornou conhecido um


conto de Jorge Luís Borges chamado “O idioma analítico de John Wilkins".
Borges afirma que: “Sabidamente não há classificação do universo que não
seja arbitrária e conjectural. A razão para isso é simples: não sabemos o que
é universo.”

● Classificações não são espelhos da realidade, mas construções, arranjos, que


configuram um domínio da realidade, sistematizando sua multiplicidade de
maneira inteligível.

● O objetivo da classificação é tornar algo compreensível e inteligível.


Classificar é uma forma de tentar entender agrupando semelhanças e
diferenças.

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ENTENDENDO A HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES (DSM)


DENTRO DA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

DSM-I e DSM-II - Décadas de 50 e 60:

● Menos pluralidade de teorias;


● Mais próximo da filosofia e psicanálise: a ideia do transtorno mental
originado a partir do evento traumático da infância;
● Psiquiatria como especialidade médica no início do século XIX;
● Paradigma clínico e descritivo: compreensão não-biológica e existencial;
● A história de vida do indivíduo justificando o aparecimento e a
manutenção dos transtornos mentais.

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ENTENDENDO A HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES (DSM)


DENTRO DA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

● Na história da Psiquiatria aparecem os dois grandes nomes: Emil


Kraepelin e Sigmund Freud, que dividem a compreensão da
Psicopatologia, apresentando visões opostas dos transtornos mentais.

● Kraepelin defende uma base constitucional e biológica nos estados


psicopatológicos, que embasa a psicopatologia ateórica de hoje e
considera o sintoma como um sinal, uma manifestação daquele
transtorno. Já o Freud se baseava na psicanálise e na descrição dos
sintomas, considerava as três estruturas fundamentais (neurose, psicose
e perversão) e compreendia o sintoma como signo (um significado
oculto no inconsciente para entender aquele transtorno).

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ENTENDENDO A HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES (DSM)


DENTRO DA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

● Outra referência na história da Psiquiatria é Karl Jaspers, que


compreende a psicopatologia fenomenológica existencial, onde o ser
humano é visto como único e integrado. Aqui há a proposta de não
classificação dos transtornos para uso sistemático na psiquiatria e
psicologia.

● Ao final da Segunda Guerra Mundial, aumenta a preocupação com a


saúde mental dos veteranos. O que levou a APA a reunir grupos de
especialistas e criar o DSM-I.

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ENTENDENDO A HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES (DSM)


DENTRO DA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

O DSM-I:

● É a primeira classificação com 106 categorias diagnósticas;


● 145 páginas;
● Categorias hierárquicas;
● Divididas entre neuroses e psicoses;
● Forte influência da psicanálise.

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ENTENDENDO A HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES (DSM)


DENTRO DA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

O DSM-II é a extensão dessa versão:

● Classificação diagnóstica aumentou para 180;


● Categorias hierárquicas;
● Pautado também na teoria psicodinâmica;
● Inaugura o capítulo dedicado à infância e à adolescência;
● Nova seção de desvios sexuais que incluía a homossexualidade na lista
de transtornos mentais.

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ENTENDENDO A HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES (DSM)


DENTRO DA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

O DSM-III e a Revolução da Psiquiatria (1980):

● Adotou uma classificação puramente descritiva ateórica;


● Definição de critérios específicos para cada categoria diagnóstica;
● Introdução de um sistema multiaxial;
● DSM-III tinha como objetivo modificar o panorama da Psiquiatria;
● Componente científico (menos filosófico)
● Distanciamento da psicanálise.

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ENTENDENDO A HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES (DSM)


DENTRO DA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

● EVENTO DSM-III: Rompe com o fim da “psicossomática”.

● “Não implica que os transtornos mentais não orgânicos são de algum


modo independentes de processos cerebrais”. “Ao contrário,
presume-se que todos os processos psicológicos, normais ou
anormais, dependem da função cerebral” (APA, 1980, p. 101).

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ENTENDENDO A HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES (DSM)


DENTRO DA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

Alguns pontos e correntes se opõem à mudança desse contexto da


psicopatologia mais biológica defendido pela APA a partir de 1980:

● O movimento antipsiquiatria fazia críticas ao regime psiquiátrico e à


fragilidade dos diagnósticos.

● A baixa confiabilidade dos diagnósticos e o experimento Rosemann.

● DSM-5 x National Institute of Mental Health (NIMH) - Classificação


Research Domain Criteria (RDoC)

KAPLAN, HI; SADOCK, BJ. Comprehensive Glossary of Psychiatry and Psychology. Williams & Wilkins, USA, 1991.

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DENTRO DA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

● Especificidades do diagnóstico em psicopatologia:

● Diagnóstico fundamentalmente clínico;


● Baseado na apreensão intersubjetiva;
● Relato do paciente/familiares;
● Observação e discernimento clínico.

KAPLAN, HI; SADOCK, BJ. Comprehensive Glossary of Psychiatry and Psychology. Williams & Wilkins, USA, 1991.

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ENTENDENDO A HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES (DSM)


DENTRO DA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

● Diagnóstico nosográfico e nosológico:

● Classificação como mapa;


● Uma cartografia: ajuda a chegar em algum lugar;
● Vários são os caminhos e rotas que levam a um lugar.

● “Inflação Diagnóstica” no DSM:

● Aumento do conhecimento científico x expansão das categorias


diagnósticas.

KAPLAN, HI; SADOCK, BJ. Comprehensive Glossary of Psychiatry and Psychology. Williams & Wilkins, USA, 1991.

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