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Literatura Pré-modernista

Prof. Jorge Alessandro


Texto 1 O falecimento de uma criança é um dia de festa. Ressoam
O Morcego as violas na cabana dos pobres pais, jubilosos entre as
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. lágrimas; referve o samba turbulento; vibram nos ares,
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: fortes, as coplas dos desafios, enquanto, a uma banda,
Na bruta ardência orgânica da sede, entre duas velas de carnaúba, coroado de flores, o anjinho
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. exposto espelha, no último sorriso paralisado, a felicidade
suprema da volta para os céus, para a felicidade eterna —
“Vou mandar levantar outra parede...” que é a preocupação dominadora daquelas almas
Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho ingênuas e primitivas.
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, (CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. Edição
Circularmente sobre a minha rede! comemorativa do 90.º ano do lançamento. Rio de Janeiro: Ediouro, 1992, p.
78)

Pego de um pau. Esforços faço. Chego


02. (2009.3) Nessa descrição de costume regional, é
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
empregada:
Que ventre produziu tão feio parto?!
A) variante linguística que retrata a fala típica do povo
A Consciência Humana é este morcego! sertanejo.
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra B) a modalidade coloquial da linguagem, ressaltando-se
Imperceptivelmente em nosso quarto! expressões que traduzem o falar de tipos humanos
(ANJOS, A. Obra completa. Rio de Jan: Aguilar, 94) marginalizados.
C) variedade linguística típica da fala doméstica, por meio
Texto 2 de palavras e expressões que recriam, com realismo, a
O lugar-comum em que se converteu a imagem de um atmosfera familiar.
poeta doentio, com o gosto do macabro e do horroroso, D) linguagem literária, na modalidade padrão da língua,
dificulta que se veja, na obra de Augusto dos Anjos, o por meio da qual é mostrado o Brasil não-oficial dos
olhar clínico, o comportamento analítico, até mesmo caboclos e do sertão.
certa frieza, certa impessoalidade científica. E) a linguagem científica, por meio da qual o autor
(CUNHA, F. Romantismo e modernidade na poesia. Rio de Janeiro) denuncia a realidade brasileira.
01. (2009.1) Em consonância com os comentários do
Negrinha
texto 2 acerca da poética de Augusto dos Anjos, o poema
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não;
O morcego apresenta-se, enquanto percepção do
fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos
mundo, como forma estética capaz de:
assustados.
A) reencantar a vida pelo mistério com que os fatos
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros
banais são revestidos na poesia.
anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre
B) expressar o caráter doentio da sociedade moderna por
velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a
meio do gosto pelo macabro.
patroa não gostava de crianças.
C) representar realisticamente as dificuldades do
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo,
cotidiano sem associá-lo a reflexões de cunho existencial.
amimada dos padres, com lugar certo na igreja e
D) abordar dilemas humanos universais a partir de um
camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas
ponto de vista distanciado e analítico acerca do cotidiano.
no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali
E) conseguir a atenção do leitor pela inclusão de
bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências,
elementos das histórias de horror e suspense na estrutura
discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma –
lírica da poesia.

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“dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião 04. (2010.1) A experiência urbana é um tema recorrente
e da moral”, dizia o reverendo. em crônicas, contos e romances do final do século XIX e
Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. início do XX, muitos dos quais elegem a rua para
Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. explorar essa experiência. Nos fragmentos I e II, a rua é
[...] vista, respectivamente, como lugar que:
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de A) desperta sensações contraditórias e desejo de
crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos – reconhecimento.
e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e B) favorece o cultivo da intimidade e a exposição dos
estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo – dotes físicos.
essa indecência de negro igual. C) possibilita vínculos pessoais duradouros e encontros
LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos casuais.
brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento). D) propicia o sentido de comunidade e a exibição pessoal.
E) promove o anonimato e a segregação social.
03. (2010.1) A narrativa focaliza um momento histórico-
social de valores contraditórios. Essa contradição infere- — Adiante... Adiante... Não pares... Eu vejo. Canaã!
se, no contexto, pela Canaã!
A) falta de aproximação entre a menina e a senhora, Mas o horizonte da planície se estendia pelo seio da
preocupada com as amigas. noite e se confundia com os céus.
B) receptividade da senhora para com os padres, mas Milkau não sabia para onde o impulso os levava: era o
deselegante para com as beatas. desconhecido que os atraía com a poderosa e magnética
C) ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa força da Ilusão. Começava a sentir a angustiada sensação
com as crianças. de uma corrida no Infinito...
— Canaã! Canaã!... suplicava ele em pensamento,
D) resistência da senhora em aceitar a liberdade dos
pedindo à noite que lhe revelasse a estrada da Promissão.
negros, evidenciada no final do texto.
E tudo era silêncio, e mistério... Corriam... corriam. E o
E) rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia mundo parecia sem fim, e a terra do Amor mergulhada,
tratá-los com castigos. sumida na névoa incomensurável... E Milkau, num
sofrimento devorador, ia vendo que tudo era o mesmo;
Texto I horas e horas, fatigados de voar, e nada variava, e nada
Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima lhe aparecia... Corriam... corriam...
não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões (ARANHA, G. Canaã. São Paulo: Ática, 1998)
não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e
assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos 05. (2011.2) O sonho da terra prometida revela-se como
irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, valor humano que faz parte do imaginário literário
nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a brasileiro desde a chegada dos portugueses.
dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, Ao descrever a situação final das personagens Milkau e
nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o Maria, Graça Aranha resgata esse desejo por meio de
sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, uma perspectiva:
como a própria vida, resiste às idades e às épocas. A) realista, pois traz dados de uma terra geograficamente
(RIO, J. A rua. In: A alma encantadora das ruas. São Paulo: Companhia das situada.
Letras, 2008 - fragmento)
B) idealizada, pois relata o sonho de uma pátria
acolhedora de todos.
Texto II
C) crítica, pois retrata o desespero de quem não alcançou
A rua dava-lhe uma força de fisionomia, mais consciência
sua terra.
dela. Como se sentia estar no seu reino, na região em que
D) simbólica, pois descreve o amor de um estrangeiro
era rainha e imperatriz. O olhar cobiçoso dos homens e o
pelo Brasil.
de inveja das mulheres acabavam o sentimento de sua
E) subjetiva, pois valoriza a visão exótica da pátria
personalidade, exaltavam-no até. Dirigiu-se para a rua do
brasileira.
Catete com o seu passo miúdo e sólido. [...] No caminho
trocou cumprimento com as raparigas pobres de uma
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia
casa de cômodos da vizinhança. [...] E debaixo dos olhares
e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe
maravilhados das pobres raparigas, ela continuou o seu
importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em
caminho, arrepanhando a saia, satisfeita que nem uma
que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos
duquesa atravessando os seus domínios.
(BARRETO, L. Um e outro. In: Clara dos anjos. Rio de Janeiro: Editora Mérito) heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse
sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das coisas do tupi, do

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folclore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso 07. (2014.1) A poesia de Augusto dos Anjos revela
tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! aspectos de uma literatura de transição designada como
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem
mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a temática presentes no soneto, identificam-se marcas
agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não dessa literatura de transição, como
era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando A) a forma do soneto, os versos metrifica dos, a presença
o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? de rimas e o vocabulário requintado, além do ceticismo,
Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele que antecipam conceitos estéticos vigentes no
não a viu combater como feras? Pois não a via matar Modernismo.
prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era B) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia
uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de simbolista, manifesta em metáforas como “Monstro de
decepções. A pátria que quisera ter era um mito; um escuridão e rutilância” e “influência má dos signos do
fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. zodíaco”.
(BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma) C) a seleção lexical emprestada ao cientificismo, como se
lê em “carbono e amoníaco”, “epigênesis da infância” e
06. (2012.1) O romance Triste fim de Policarpo “frialdade inorgânica”, que restitui a visão naturalista do
Quaresma, de Lima Barreto, foi publicado em 1911. No homem.
fragmento destacado, a reação do personagem aos D) a manutenção de elementos formais vinculados à
desdobramentos de suas iniciativas patrióticas estética do Parnasianismo e do Simbolismo,
evidencia que: dimensionada pela inovação na expressividade poética, e
A) a dedicação de Policarpo Quaresma ao conhecimento o desconcerto existencial.
da natureza brasileira levou-o a estudar inutilidades, mas E) a ênfase no processo de construção de uma poesia
possibilitou-lhe uma visão mais ampla do país. descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que incorpora
B) a curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-o valores morais e científicos mais tarde renovados pelos
ao ideal de prosperidade e democracia que o personagem modernistas.
encontra no contexto republicano.
C) a construção de uma pátria a partir de elemento A sua concepção de governo [do Marechal
míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza do solo e Floriano Peixoto] não era o despotismo, nem a
a pureza linguística, conduz à frustração ideológica. democracia, nem a aristocracia; era a de uma tirania
D) a propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica doméstica. O bebê portou-se mal, castiga-se. Levada a
a reação de decepção e desistência de Policarpo coisa ao grande o portar-se mal era fazer-lhe oposição,
Quaresma, que prefere resguardar-se em seu gabinete. ter opiniões contrárias às suas e o castigo não eram mais
E) a certeza da fertilidade da terra e da produção agrícola palmadas, sim, porém, prisão e morte. Não há dinheiro
incondicional faz parte de um projeto ideológico no tesouro; ponham-se as notas recolhidas em circulação,
salvacionista, tal como foi difundido na época do autor. assim como se faz em casa quando chegam visitas e a
sopa é pouca: põe-se mais água.
Psicologia de um vencido (BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Brasiliense, 1956)
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância, 08. (2014.3) A obra literária de Lima Barreto faz uma
Sofro, desde a epigênesis da infância, crítica incisiva ao período da Primeira República no
A influência má dos signos do zodíaco. Brasil. No fragmento do romance Triste fim de Policarpo
Profundíssimamente hipocondríaco, Quaresma, a expressão "tirania doméstica", como
Este ambiente me causa repugnância... concepção do governo florianista, significa que:
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia A) o regime político era omisso e elitista.
Que se escapa da boca de um cardíaco. B) a visão política de governo era infantilizada.
C) o presidente empregava seus parentes no governo.
Já o verme — este operário das ruínas — D) o modelo de ação política e econômica era patriarcal.
Que o sangue podre das carnificinas E) o presidente assumiu a imagem populista de pai da
Come, e à vida em geral declara guerra, nação.
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
ANJOS. A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

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TEXTO I com educação, mas que a falta de recursos e proteção
Versos de amor atira naquela geena social.
A um poeta erótico (BARRETO, L. Diário do hospício e O cemitério dos vivos. São Paulo: Cosac &
Naify, 2010)

Oposto ideal ao meu ideal conservas. 10. (2017.2) No relato de sua experiência no sanatório
Diverso é, pois, o ponto outro de vista onde foi interno, Lima Barreto expõe uma realidade
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta social e humana marcada pela exclusão. Em seu
Modo de ver, consoante o qual, o observas. testemunho, essa reclusão demarca uma:
A) medida necessária de intervenção terapêutica.
Porque o amor, tal como eu o estou amando, B) forma de punição indireta aos hábitos desregrados.
É Espírito, é éter, é substância fluida C) compensação para as desgraças dos indivíduos.
É assim como o ar que a gente pega e cuida, D) oportunidade de ressocialização em um novo
Cuida, entretanto, não o estar pegando! ambiente.
E) conveniência da invisibilidade a grupos vulneráveis e
É a transubstanciação de instintos rudes, periféricos.
Imponderabilíssima, e impalpável,
Que anda acima da carne miserável Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário
Como anda a garça acima dos açudes! público, certo de que a língua portuguesa é emprestada
(ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996)
ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o
TEXTO II escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se
Arte de amar veem na humilhante contingência de sofrer
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. continuamente censuras ásperas dos proprietários da
A alma é que estraga o amor. língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os
Só em Deus ela pode encontrar satisfação. autores e os escritores, com especialidade os gramáticos,
Não noutra alma. não se entendem no tocante à correção gramatical,
Só em Deus — ou fora do mundo. vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os
As almas são incomunicáveis. mais profundos estudiosos do nosso idioma — usando do
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o
Porque os corpos se entendem, mas as almas não. Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua
(BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993) oficial e nacional do povo brasileiro.
BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em:
09. (2015.2) Os Textos I e II apresentam diferentes www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 26 jun. 2012.
pontos de vista sobre o tema amor. Apesar disso, ambos
definem esse sentimento a partir da oposição entre: 11. (2020.1) Nessa petição da pitoresca personagem do
A) satisfação e insatisfação. romance de Lima Barreto, o uso da norma-padrão
B) egoísmo e generosidade. justifica-se pela
C) felicidade e sofrimento. A) situação social de enunciação representada.
D) corpo e espírito. B) divergência teórica entre gramáticos e literatos.
E) ideal e real. C) pouca representatividade das línguas indígenas.
D) atitude irônica diante da língua dos colonizadores.
Chamou-me o bragantino e levou-me pelos E) tentativa de solicitação do documento demandado.
corredores e pátios até ao hospício propriamente. Aí é
que percebi que ficava e onde, na seção, na de indigentes, Na sua imaginação perturbada sentia a natureza toda
aquela em que a imagem do que a Desgraça pode sobre agitando-se para sufocá-la. Aumentavam as sombras. No
a vida dos homens é mais formidável. O mobiliário, o céu, nuvens colossais e túmidas rolavam para o abismo
vestuário das camas, as camas, tudo é de uma pobreza do horizonte... Na várzea, ao clarão indeciso do
sem par. Sem fazer monopólio, os loucos são da crepúsculo, os seres tomavam ares de monstros... As
proveniência mais diversa, originando-se em geral das montanhas, subindo ameaçadoras da terra, perfilavam-se
camadas mais pobres da nossa gente pobre. São de tenebrosas... Os caminhos, espreguiçando-se sobre os
imigrantes italianos, portugueses e outros mais exóticos, campos, animavam-se quais serpentes infinitas... As
são os negros roceiros, que teimam em dormir pelos árvores soltas choravam ao vento, como carpideiras
desvãos das janelas sobre uma esteira esmolambada e fantásticas da natureza morta... Os aflitivos pássaros
uma manta sórdida; são copeiros, cocheiros, moços de noturnos gemiam agouros com pios fúnebres. Maria quis
cavalariça, trabalhadores braçais. No meio disto, muitos fugir, mas os membros cansados não acudiam aos

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ímpetos do medo e deixavam-na prostrada em uma C) adotar uma perspectiva complacente em relação aos
angústia desesperada. desvios gramaticais.
ARANHA, J. P. G. Canaã. São Paulo: Ática, 1997. D) invalidar os usos da língua pautados pelos preceitos da
gramática normativa.
12. (2020.1) No trecho, o narrador mobiliza recursos de E) desconsiderar diferentes níveis de formalidade nas
linguagem que geram uma expressividade centrada na situações de comunicação.
percepção da
A) relação entre a natureza opressiva e o desejo de
libertação da personagem.
B) confluência entre o estado emocional da personagem
e a configuração da paisagem.
C) prevalência do mundo natural em relação à fragilidade
humana.
D) depreciação do sentido da vida diante da consciência
da morte iminente.
E) instabilidade psicológica da personagem face à
realidade hostil.

Não que Pelino fosse químico, longe disso; mas era


sábio, era gramático. Ninguém escrevia em Tubiacanga
que não levasse bordoada do Capitão Pelino, e mesmo
quando se falava em algum homem notável lá no Rio, ele
não deixava de dizer: “Não há dúvida! O homem tem
talento, mas escreve: ‘um outro’, ‘de resto’…” E contraía
os lábios como se tivesse engolido alguma cousa amarga.
Toda a vila de Tubiacanga acostumou-se a respeitar o
solene Pelino, que corrigia e emendava as maiores glórias
nacionais. um sábio…
Ao entardecer, depois de ler um pouco o Sotero, o
Candido de Figueiredo ou o Castro Lopes, e de ter
passado mais uma vez a tintura nos cabelos, o velho
mestre-escola saía vagarosamente de casa, muito
abotoado no seu paletó de brim mineiro, e encaminhava-
se para a botica do Bastos a dar dous dedos de prosa.
Conversar é um modo de dizer, porque era Pelino avaro
de palavras, limitando-se tão-somente a ouvir. Quando,
porém, dos lábios de alguém escapava a menor
incorreção de linguagem, intervinha e emendava. “Eu
asseguro, dizia o agente do Correio, que…” Por aí, o
mestre-escola intervinha com mansuetude evangélica:
“Não diga ‘asseguro’, Senhor Bernardes; em português é
garanto”.
E a conversa continuava depois da emenda, para ser
de novo interrompida por uma outra. Por essas e outras,
houve muitos palestradores que se afastaram, mas
Pelino, indiferente, seguro dos seus deveres, continuava
o seu apostolado de vernaculismo.
BARRETO, L. A Nova Califórnia.

13. (2021.1) Do ponto de vista linguístico, a defesa da


norma-padrão pelo personagem caracteriza-se por
A) contestar o ensino de regras em detrimento do
conteúdo das informações.
B) resgatar valores patrióticos relacionados às tradições
da língua portuguesa.

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