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1 © Geimar de Lima – Instituto Reformado de São Paulo – www.institutoreformado.com.

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TH06 – A História da Igreja Contemporânea- Texto 8

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UM ÚLTIMO DESAFIO PARA A IGREJA DO SÉCULO 21: NÃO
REPETIR OS ERROS DO PASSADO

Introdução
Os estudiosos constantemente divergem sobre qual é a origem de Igreja. Para muitos, a Igreja
começou quando o Espírito Santo foi derramado sobre aqueles que durante o Pentecostes estavam em
Jerusalém a cerca de 2000 anos atrás (cf. At 2). Para outros, seu início remonta a alguns dias anteriores
a este evento, quando Jesus comissionou seus discípulos a irem pelo mundo fazendo discípulos de
Cristo entre as nações. Outros, preferem datar a origem da Igreja ao momento em que Jesus chamou
doze pessoas para caminhar com ele. Creio que a Igreja começou quando Deus perguntou a Adão
onde ele estava (cf. Gn 3.8), expulsando-o depois, redimido de seus pecados, para um mundo que
tinha sido amaldiçoado.
No entanto, independente da origem ou da quantidade de anos que a Igreja tenha, algo é certo,
a história da Igreja ainda não acabou, isso, porque a Igreja, a noiva de Cristo, não acabará.
Fundamentada sobre a doutrina dos profetas e dos apóstolos, o cristianismo permanecerá como
responsável pela propagação e preservação da verdade. Por mais que forças hostis se levantem contra
a Igreja ela as tem superado e continuará as superando, pois o mesmo que a comissionou a estar no
mundo, enfrentando toda esta oposição, também prometeu que estaria com ela até a consumação dos
séculos.
Porém, apesar desta certeza de triunfo a Igreja deve se preparar para enfrentar seus inimigos
mantendo a sua pureza. Por isso, nesta última palavra da disciplina TH06 – História da Igreja
Contemporânea, gostaria de lembrar quais os principais desafios que a igreja enfrentou no passado,
deixando-se, infelizmente, contaminar para que nós como cristãos identifiquemos ameaças
semelhantes no futuro. Estudar história para os cristãos vai além do simples ato de conhecer suas
raízes. Seu objetivo também é transformar este conhecimento como instrumento a ser utilizado no
cumprimento de nossa missão.
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A Igreja deve tomar cuidado ao se relacionar com o Estado


Os cristãos dos três primeiros séculos e aqueles que atualmente vivem em países hostis ao
Cristianismo conheceram a face mais horrenda que o Estado pode ter. Cristãos experimentaram e tem
experimentado prisões e a morte debaixo de sentenças proferidas por estruturas estatais que ao longo
da história enxergaram a fé cristã como tumultuadora, deturpadora e até mesmo como inimiga
“número 1” do bem-estar da sociedade que regem. Neste sentido, as palavras de Plínio ao imperador
romano Trajano, durante uma das perseguições do século 2 detalham bem como muitas vezes os
cristãos são vistos pelas autoridades civis:

“Nunca participei em Roma de nenhum processo contra os cristãos. Desconheço por isso qual
é o crime do qual os acusam, quais punições merecem, qual procedimento deve regular o
inquérito e quais limites devem colocar-se a eles. [2] Assim, tive as mais sérias dúvidas sobre
se devem estabelecer-se diferenças entre as idades dos réus ou se, pelo contrário, os mais
jovens, por mais tenra que seja sua idade, em nada se diferenciam dos mais velhos; sobre se
deve conceder-se a absolvição à retratação, ou pelo contrário, àquele que tenha sido cristão
em nada lhe beneficia a renúncia; por fim, se o castigo é pelo mero nome de cristão, inclusive
na ausência de quaisquer tipos de crimes, ou se o que se castiga são os crimes associados ao
dito nome. Eis de que modo me comportei até o momento com aqueles que foram conduzidos
diante de mim e acusados de ser cristãos. [3] Perguntei diretamente a eles se são cristãos. Ao
responder-me que sim, pergunteilhes uma segunda e até uma terceira vez, advertindo-lhes
que o reconhecimento de algo assim expressaria a morte. Aos que mantiveram sua
declaração, ordenei que os executassem. A razão disso foi que não me cabia dúvida de que,
qualquer que fosse a natureza do crime que confessavam, certamente este fanatismo e esta
obstinação intransigente merecia a morte. [4] Houve outros que, apesar de mostrarem uma
irracionalidade semelhante, sendo cidadãos romanos, os incluí nas listas daqueles que devem
ser enviados ao julgamento em Roma."

Porém, ao estudarmos a História da Igreja nos deparamos com momentos em que a fé cristã
além de enfrentar a oposição do Estado como inimigo (cf. ), também viveu como aliada do Estado,
sem fazer as críticas devidas a este, colhendo frutos maus tempos depois. O grande exemplo que
temos foi a da aproximação intensa entre Igreja e Império Romano nas décadas e séculos posteriores
a Constantino (com o Édito de Milão) e Teodósio (Édito de Tessalônica). A Igreja viria a
experimentar uma estrutura terrena, como o Estado, influenciando muito além de questões como
posse de propriedades da Igreja, mas também em questões que são celestiais. Quantas vezes, como
no caso dos imperadores do Sacro Império Romano Germânico a Igreja não se viu diante da questão
a quem ser leal à Igreja ou ao Imperador? Cenário ainda mais caótico foi evidenciado quando a igreja
católica se viu com três papas, com o Estado distorcendo aquilo que já era distorcido pela própria
igreja.
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Diante disso destacamos que a Igreja deve se envolver com as questões do Estado. Cristãos
devem se envolver com políticas e instituições estatais. Porém, também devem ter a consciência de
que o Estado, quer seja um perseguidor declarado, quer seja aparentemente um aliado, ainda estará
sempre mais preocupado com seus objetivos terrenos. Ele não medirá esforços, nem mesmo custando
bens espirituais, para alcançá-los. O Estado tem em si um espírito idólatra que muitas vezes
questionará os cristãos a respeito do porque são leais a outro Senhor.

A Igreja deve tomar cuidado com os falsos mestres


Uma das estratégias mais comuns utilizadas por Satanás para que os cristãos e a igreja não
cumpram sua missão é por meio da promoção do engano. As palavras de João em Apocalipse
demonstram como Satanás (o dragão) delega sua autoridade à besta que emerge do mar (reinos e
estados inimigos), mas também à besta que emerge da terra (falsa religião) com o intuito de vencer
os cristãos.
Infelizmente, a história revelou que em vários momentos Satanás obteve vitórias temporárias
sobre a igreja, porque esta tolerou em seu meio aqueles que “parecendo cordeiro falavam como
dragão” (cf. Ap 13.12-13). Uma longa lista de seitas e heresias surgidas no seio da verdadeira Igreja
podem ser listadas, a maioria delas, se não todas, caracterizadas por um apego intenso ao presente e
ao mundano em detrimento daquilo que é espiritual e futuro.

Sempre reformando
Um dos lemas da Reforma Protestante foi “ecclesia reformata, semper reformanda”, isto é,
“igreja reformada, sempre se reformando”. Isso não significa que a Igreja deve de tempos em tempos
passar por uma nova Reforma Protestante como a do século 16. Tal momento viu a necessidade de
um movimento drástico devido a corrupção das estruturas da Igreja Católica naquela época. Porém,
seu significado está atrelado à ideia de uma reforma contínua por conta do contínuo voltar da Igreja
a sua fonte de autoridade, isto é, a Palavra de Deus. Stephen Nichols destaca que

Os Reformadores não se viam como inventores, descobridores ou criadores, ao contrário,


viam seus esforços como a redescobrir. Não estavam fazendo algo a esmo, mas estavam
reavivando o que jazia morto. Fizeram uma retrospectiva da Bíblia e da era apostólica, e
também dos pais da igreja primitiva, tais como Agostinho (354–430), usando-os como o
molde pelo qual pudessem formar a igreja e dar-lhe uma transformação. Os Reformadores
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cunharam um dito, “Ecclesia reformata, semper reformanda”, ou, seja, “a igreja reformada,
sempre se reformando”.1
Ou comoArmstrong destaca:

A igreja, em cada época, está em constante necessidade de reforma. Os seguidores de


Martinho Lutero no século XVI reconheceram essa necessidade ao falarem de semper
reformanda (sempre reformando). Calvino e os teólogos de Genebra também reconheciam
essa necessidade. Esses teólogos não buscaram “reinventar a roda”. Não eram radicais, pelo
menos no sentido em que esse termo vem sendo comumente usado. Estavam resolvidos a
expressar o evangelho apropriadamente, crendo que a justificação pela fé somente era
articulus cadentis et stantis ecclesiae (“o artigo pelo qual a igreja se firma ou cai”). Para eles,
todo o movimento de reforma dependia de recuperá-la. Aqui estava a matéria do evangelho.
Aqui se definia verdadeiramente a religião evangélica.2

Se nos séculos anteriores ao século 16, a Igreja se afastou das Escrituras. A Reforma
Protestante enfatizou o Sola Scriptura. Para evitar o engano, acima mencionado, a Igreja primeiro
precisa conhecer a verdade para que, então, toda mentira seja claramente discernível e evitada.

1
Citado por Lawson, S. J. (2013). Pilares da Graça (AD 100–1564). (T. J. Santos Filho, Org., V. G. Martins,
Trad.) (Primeira Edição, Vol. 2, p. 495). São José dos Campos, SP: Editora FIEL.
2
Armstrong, J. H. (2013). A Justificação pela Fé Somente: (A Suficiência da Fé para a Justificação). In D. Kistler
(Org.), H. Gordon (Trad.), Justificação pela Fé Somente: A Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja (2a edição, p. 114).
São Paulo: Editora Cultura Cristã.

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