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O Que É Ciência Afinal - Adriano Alves - 2008a
O Que É Ciência Afinal - Adriano Alves - 2008a
Durante muito tempo o homem iniciou uma jornada em busca do conhecimento para
buscar possíveis respostas a certas questões referentes a problemas do seu dia-a-
dia. Algumas destas respostas eram, muitas vezes, explicadas de forma mística à
medida que utilizavam a mitologia para explica-las. Quando o homem passou a
questionar estas respostas e a buscar explicações mais plausíveis, por meio da
razão, excluindo suas emoções e suas crenças religiosas, passou-se a obter
respostas mais realistas que, demonstradas, muitas vezes ingenuinamente, se
aproximavam mais da realidade das pessoas e por isto, talvez, passaram a ser bem
aceitas pela sociedade. Podemos dizer que essa nova forma de pensar do homem
foi que criou a possibilidade do surgimento da idéia de ciência e que sua tentativa
de explicar os fenômenos, por meio da razão, foi o primeiro passo para se fazer
ciência. Mas o que é ciência afinal?
Antes de chegar a alguma concepção sobre o que vem a ser ciência primeiramente
analisaremos algumas concepções que possa fornecer dados relevantes para a
elaboração de uma definição sobre o que vem a ser ciência. Iniciarei então com a
idéia de Rubem Alves que considera a ciência como uma hipertrofia de capacidades
que todos têm e como uma especialização, um refinamento de potenciais comuns a
todos na qual sua aprendizagem é um processo de desenvolvimento do senso
comum.
Senso comum é aquilo que não é ciência [...] a ciência é uma metamorfose do
senso comum. Sem ele, ela não pode existir. (Rubem: 1981, p. 14)
Estou tentando mostrar que existe uma continuidade entre o pensamento científico
e o senso comum [...].(Rubem: 1981, p. 17).
A comunidade científica pode ter criado a expressão "senso comum" , como uma
forma de diferenciar o cientista do cidadão comum, causando uma certa polêmica,
mas o que nos interessa é que, atualmente, essa mesma comunidade científica,
procura enveredar os caminhos a busca do conhecimento científico para possibilitar
um maior avanço da ciência. Isto porque, segundo eles, devemos aprender a
inventar soluções novas abrindo portas até então fechadas e a descobrir novas
trilhas, devemos procurar a aprender maneiras novas de sobrevivência.
Pessoas que aprendem a inventar soluções novas são aquelas que abrem portas
até então fechadas e descobrem novas trilhas. A questão não é saber uma solução
já dada, mas ser capaz de aprender maneiras novas de sobreviver (Rubem: 1981,
p. 23).
Para buscar essa ordem tem-se que observar e criar uma lógica, imaginar uma
possível solução para um problema norteador, pois embora a observação ofereça
dados para a construção de uma ordem é a imaginação que lapida, dar forma, a
uma matéria bruta e uniforme. Analogicamente podemos dizer que;
É estranho falar em começar uma busca partindo do final, daquilo que se quer
alcançar, principalmente quando se está procurando algo invisível "a ordem". Mas é
isso que os cientistas fazem para poderem comprovar ou negar suas teorias,
buscam o invisível.
Nós olhamos não para as coisas que são vistas, mas para as coisas que não são
vistas. Porque as coisas que são vistas são transitórias, mas as coisas que não são
vistas são eternas [...] a ciência se inicia com problemas [...] seu objetivo é descobrir
uma ordem invisível que transforme os fatos de enigma em conhecimento. [...] os
cientistas só buscam os fatos que são decisivos para a confirmação ou negação de
suas teorias (Rubem, Alves: 1981, pp. 39-42).
Isto torna possível dizer que talvez haja uma certa dependência da observação em
relação à teoria. Pois como é possível elaborarmos todo um procedimento para
prepararmos um laboratório experimental e fazermos uma experiência sem que
tenhamos uma idéia do que queremos investigar, por que investigar ou para que
investigar? Montar um laboratório é um ato instintivo separado do pensamento, da
lógica e da razão? Um indutivista ingênuo acredita que a observação cuidadosa e
sem preconceitos produz uma base segura da qual pode ser obtido verdades ou
conhecimento científico.
Existem duas suposições importantes na posição indutivista ingênua em relação à
observação. Uma é que a ciência começa com a observação. A outra é que a
observação produz uma base segura da qual o conhecimento pode ser derivado.
(Chalmers: 1929, p. 46).
Mas há quem discorde desta concepção e mostre que estes indutivistas estão
equivocados, pois de acordo com a explicação indutivista da ciência, a base segura
sobre a qual as leis e teorias que constituem a ciência se edificam é constituída de
proposições de observação públicas e não de experiências subjetivas, privadas, de
observadores individuais. A explicação indutivista requer a derivação de afirmações
universais a partir de afirmações singulares, por indução. Pode-se dizer que
experiências perceptivas são acessíveis a um observador, mas proposições de
observação não o são. É notório que as proposições de observação como
formadora da base da ciência pode ver alguma teoria que precede todas as
proposições de observação e que elas são sujeitas a falhas quanto as teorias que
pressupõe.
Assim, o relato indutivista ingênuo da ciência foi solapado pelo argumento de que as
teorias devem preceder as proposições de observação, então é falso afirmar que a
ciência começa pela observação. As proposições de observação são tão sujeitas à
falhas quanto às teorias que elas pressupõem e, portanto, não formam uma base
segura para a construção de leis e teorias científicas. Isto quer dizer que;
A ciência não começa com proposições de observação porque algum tipo de teoria
as precede; as proposições de observação não constituem uma base firme na qual
o conhecimento científico possa ser fundamentado porque são sujeitas à falhas.
Contudo, não quero afirmar que as proposições de observação não deveriam ter
papel algum na ciência. Não estou recomendando que todas elas devam ser
descartadas por serem falíveis. Estou simplesmente argumentando que o papel que
os indutivistas atribuem às proposições de observação na ciência é incorreto.
(Chalmers: 1929, p. 58).
Diante do que foi exposto até aqui posso afirmar que a observação depende sim da
teoria, pois;
O falsificacionista exige que as hipóteses científicas sejam falsificáveis [...] Uma lei
ou teoria científica idealmente nos daria alguma informação sobre como o mundo de
fato se comporta, eliminando assim as maneiras pelas quais ele poderia (é lógico)
possivelmente se comportar [...] (Chalmers: 1929 p. 67).
Diante de tudo que foi exposto podemos chegar a uma noção do que vem a ser
ciência através de algumas concepções aqui abordadas sobre a produção do
conhecimento científico. Assim, posso dizer que "ciência" é à busca de ordem
através de paradigmas que possibilite conhecer como o mundo se comporta em
busca de soluções, por meio da razão, de questões de enigmas que possam ser
transformadas em conhecimentos que possibilite novas maneiras de sobrevivência
do homem.