Você está na página 1de 11

Leal et al.

Revista Rios Saúde 2018, 1:4


http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

ARTIGO DE REVISÃO

INTERAÇÕES FÁRMACO NUTRIENTE: CARACTERIZAÇÃO E MÉTODOS


INOVADORES DE AVALIAÇÃO

NUTRIENT DRUG INTERACTIONS: CHARACTERIZACION AND INNOVATIVE


METHODS OF EVALUATION

Mayse Manuele Freitas Viana Leal1, Janilson José da Silva Júnior2.

Resumo
Os fármacos possuem o potencial de interagir com nutrientes, podendo resultar
em redução na eficácia da terapia farmacológica, aumento dos efeitos adversos,
depleção de nutrientes específicos e alterações no estado nutricional. Em con-
formidade com os riscos que essas interações podem oferecer, faz-se necessário
maior atenção e intervenção clínica por parte dos profissionais que estão em con-
tato direto com esses pacientes, tais como farmacêuticos, médicos, enfermeiros e
nutricionistas. Apesar de ser uma temática de interesse por parte da comunidade
científica, muitas interações fármaco-nutriente continuam sendo um mistério.
Assim, novos métodos computacionais vêm se destacando por propiciar um
maior entendimento da dinâmica de interação entre das moléculas envolvidas.
Portanto, o presente trabalho propõe uma visão geral, bem como a categorização
das interações fármaco-nutriente, mostrando desde interações habitualmente ci-
tadas àquelas com significância clínica significativa e pouco conhecidas. Desta
forma, este trabalho contribui substancialmente com a popularização da temáti-
ca, principalmente no âmbito das regiões mais afastadas das capitais.
Palavras-Chave: interação. Fármaco. Nutriente.

Abstract
Drugs have the potential to interact with nutrients, which may result in reduced
pharmacological efficacy, increased adverse effects, depletion of specific nu-
trients, and changes in nutritional status. In accordance with the risks that these
interactions may offer, greater attention and clinical intervention is required from
professionals who are in direct contact with these patients, such as pharmacists,
doctors, nurses and nutritionists. Despite being a topic of interest on the part
of the scientific community, many drug-nutrient interactions remain a mystery.

Autor para correspondência: janilson_jose@hotmail.com


1
Doutor em Inovação Terapêutica UFPE. Biomédico pela UFPE.
38
Leal et al. Revista Rios Saúde 2018, 1:4
http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

Thus, new computational methods have been highlighted by providing a better


understanding of the interaction dynamics between the involved molecules. The-
refore, the present work proposes an overview, as well as the categorization of
the drug-nutrient interactions, showing from interactions usually cited to those
with significant clinical significance and little known. In this way, this work con-
tributes substantially to the popularization of the thematic, mainly in the scope of
the regions farthest from the capitals.
Keywords: Interaction. Drug. Nutriente.

INTRODUÇÃO Portanto, quando se trata de interação fárma-


A devida relevância científica sobre as in- co-nutriente, deve ser levado em consideração
terações fármaco-nutriente é recente, e passou os efeitos dos nutrientes sobre os fármacos e
a ganhar destaque a partir de estudos clássicos as potenciais intercorrências nutricionais cau-
envolvendo achados como: influência do fer- sadas pelos fármacos, quando são ingeridos si-
ro sobre a absorção da tetraciclina; influência multaneamente3.
dos barbitúricos sobre a deficiência de vitami- Nessa diretriz, este artigo propõe uma abor-
na C; bem como os impactos da mal nutrição dagem sistemática e descritiva da interação
sobre a absorção, distribuição e eliminação de fármaco-nutriente no que concerne à definição,
fármacos1,2. Apesar disso, atualmente, a suba- classificação e apontando os novos métodos
valiação e a negligência com que são tratadas que descrevem em detalhes essas interações
essas interações persistem3, principalmente ao nível molecular. Além disso, discorrer so-
por parte dos protocolos clínicos e nutricio- bre a influência mútua dos nutrientes sobre os
nais. Como consequência, a população em fármacos e dos fármacos sobre os nutrientes,
geral não segue um padrão adequado para o visando desse modo promover a um controle
consumo de alimentos durante uma terapia mais efetivo da administração do medicamen-
farmacológica específica, salvo exceções ha- to e da ingestão de alimentos, favorecendo,
bituais, como, por exemplo, a contraindicação desta forma, a eficácia das terapias adotadas.
do consumo de leite concomitante à terapia
medicamentosa com ciprofloxacino4. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO
É notória a tendência, por partes dos estu- Definição
dos, na abordagem dos efeitos que os nutrien- A interação fármaco-nutriente pode ser
tes causam na farmacocinética dos fármacos, definida como uma interação resultante da
contudo, a recíproca deve ser considerada, relação física, química, fisiológica, patológi-
uma vez que a adequação do estado nutricional ca ou fisiopatológica entre um fármaco e um
é um fator indispensável à saúde do indivíduo. nutriente ou estado nutricional5. Uma intera-

39
Leal et al. Revista Rios Saúde 2018, 1:4
http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

ção pode ser considerada clinicamente signifi- nutriente, descritas na tabela 1. Muitos tipos
cativa quando ela altera a resposta terapêutica de interação podem estar contidas nas cate-
ou compromete o estado nutricional. Como gorias de acordo com a identificação do fa-
consequência clínica, observa-se alterações tor de precipitação e do objeto de interação
na absorção, distribuição e eliminação de um (6). Assim, a depender do caso, o fármaco
fármaco ou nutriente, por meio de alterações pode participar da interação como fator de
em transportadores fisiológicos ou enzimas precipitação (quando, por exemplo, ele al-
responsáveis pela metabolização. Outro efei- tera o estado nutricional) ou como objeto de
to clínico significativo dessas interações está interação (quando, por exemplo, há altera-
relacionado à alteração na ação fisiológica do ções na biodisponibilidade do fármaco re-
fármaco ou nutriente2. sultante um nutriente ou estado nutricional).
Assim, a interação fármaco-nutriente será
Classificação clinicamente importante se o fator de preci-
Existem basicamente 5 amplas categorias pitação produz alterações significativas no
de classificação para as interações fármaco- objeto de interação5.

Tabela 1. Classificação das interações fármaco-nutriente quanto ao fator de precipitação e ob-


jeto de interação.
Fator de precipitação Objeto de Interação Potencial Consequência
Falha no tratamento ou toxicidade
Estado nutricional Fármaco
do fármaco
Alimento ou componente do Falha no tratamento ou toxicidade
Fármaco
alimento do fármaco
Nutriente específico ou outro in- Falha no tratamento ou toxicidade
Fármaco
grediente de suplemento dietético do fármaco
Fármaco Estado Nutricional Estado nutricional alterado
Fármaco Nutriente específico Estado do nutriente alterado
Fonte: Referência (5)

As interações fármaco-nutriente podem ainda Como consequências dessas atividades, observa-


ser classificadas de acordo com o mecanismo de se alterações na biodisponibilidade, efeito, distri-
interação físico-química. Dessa forma, o fárma- buição e eliminação desses compostos (fármaco
co ou o nutriente podem alterar mutuamente uma ou nutriente). Esse tipo de classificação está dire-
função enzimática, transportadores, inativar uma tamente relacionada com a sua localização, como
reação físico-química ou modular a eliminação2. por exemplo, a mucosa gastrointestinal e órgãos

40
Leal et al. Revista Rios Saúde 2018, 1:4
http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

de excreção. Desta forma, fármacos podem inter- ca gerada. Dessa forma, a consequência da
ferir a absorção de nutrientes a nível de mucosa interação pode ser a alteração na absorção,
gastrointestinal ou reciprocamente2,6. alterações pós-absortivas ou alterações na
Outra forma de classificação está rela- eliminação do fármaco/nutriente7, como des-
cionada com a consequência farmacocinéti- crito na tabela 2.

Tabela 2. Classificação das interações fármaco-nutriente quanto à consequência farmacocinética


Tipo de interação Breve comentário Exemplos
Alteração na absorção A interação fármaco-nutriente pode Tetraciclina, tem absorção re-
ocorrer por exemple quando são duzida com alimentos ricos
administrados por via oral. Nesses em cálcio, como leite; suco
casos a biodisponibilidade oral do de uva reduz a absorção de
fármaco ativo pode aumentar ou carbamazepina. Ácido acetil-
diminuir como um resultado da in- salicílico diminui a absorção
teração. de vitamina C.
Alteração pós-absortiva Ocorre após o fármaco ou o cons- Alimentos ricos em vitamina
tituinte nutricional atingir a circu- K (ou sua suplementação) al-
lação sistêmica. Pode resultar em teram a farmacodinâmica do
alteração da distribuição para dife- varfarina
rentes tecidos, no metabolismo sis-
têmico (biotransformação), ou na
penetração em um local específico.
Alteração na eliminação Numerosas vias podem estar envol- Dietas hiperpoteicas aumen-
vidas, como o antagonismo, modu- tam eliminação do propranolol;
lação, ou diminuição do transporte ácido acetilsalicílico aumenta a
renal ou entero-hepático eliminação de ácido fólico
Fonte: Adaptado da referência (7)

INFLUÊNCIA DO ESTADO NUTRICIO- assim, o estado nutricional (obesidade, desnu-


NAL OU DE NUTRIENTES ESPECÍFI- trição, ou escassez/excesso de um micronu-
COS SOBRE OS FÁRMACOS. triente) pode alterar a biodisponibilidade ou a
Muito se escreve a respeito influência das toxicidade de um fármaco, em consequência de
interações entre fármacos sobre eficiência tera- alterações na farmacocinética dos fármacos8.
pêutica, mas a toxicidade do fármaco também Um exemplo clássico da influência do es-
pode ser alterada pelo estado nutricional. Sendo tado nutricional sobre a farmacocinética dos

41
Leal et al. Revista Rios Saúde 2018, 1:4
http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

fármacos é demonstrado na alteração da ab- renal desses antibióticos, diminuindo a efici-


sorção, distribuição e excreção das penicilinas ência terapêutica e consequente insucesso no
em pacientes obesos, como descrito na figu- tratamento. Além disso, o aumento na elimina-
ra 1. Penicilinas são antibióticos de caráter ção renal do fármaco aumenta a probabilidade
hidrofílico, essencialmente eliminados por de lesão e comprometimento da função renal8.
via renal, baixa penetração intracelular e nos Nesses casos recomenda-se uma alteração na
tecidos, principalmente adiposo9. Assim, em dosagem administrada, de forma a minimizar
obesos, devido ao maior percentual de tecido os efeitos adversos e aumentar a eficácia anti-
adiposo, há um aumento na taxa de eliminação microbiana10.

Figura 1 – Alteração da farmacocinética das penicilinas em obesos. As setas indicam a ingestão


de penicilinas por obesos e os respectivos efeitos na farmacocinética.

Fonte: Desenvolvida pelos autores

Outro perfil de interação fármaco-nutriente cientes tratados com tetraciclina, que ingerem
é caracterizado pela alteração da biodisponibi- alimentos ricos em cálcio ou suplementação
lidade/toxicidade de um fármaco causada por deste mineral11. A tetraciclina forma quelatos
um nutriente específico. Um exemplo clássico estáveis com cátions metálicos polivalentes,
é a diminuição da eficácia terapêutica em pa- tais como Ca++, Mg++ e Fe+++. O complexo for-
42
Leal et al. Revista Rios Saúde 2018, 1:4
http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

mado entre a tetraciclina e o cátion é insolúvel A influência dos fármacos sobre um nu-
ou apresentam baixa absorção no trato gas- triente específico também pode ser multifa-
trointestinal, interferindo assim na biodisponi- torial, uma vez que, como já foi mencionado,
bilidade da tetraciclina e consequentemente na os fármacos podem influenciar a absorção,
eficácia do tratamento12. Portanto, é contrain- distribuição, metabolismo e excreção de um
dicada a ingestão de alimentos, suplementos nutriente. Por exemplo, o ácido acetilsalicíli-
ou mesmo fármacos à base desses minerais. co diminui significativamente a absorção gas-
A recomendação é o intervalo de 2 a 3 horas trointestinal de vitamina C15,16.
entre a administração do fármaco e a ingestão Documenta-se uma intensa relação entre o
desses nutrientes. consumo de fármacos anticonvulsivantes e a
fragilidade da saúde óssea. Sabe-se que os anti-
INFLUÊNCIA DOS FÁRMACOS SOBRE convulsivantes como carbamazepina, fenobar-
O ESTADO NUTRICIONAL GLOBAL bital e fenitoína, interferem no metabolismo da
OU NUTRIENTE ESPECÍFICO. vitamina D e consequentemente do cálcio. Al-
A influência dos fármacos sobre o estado guns estudos apontam que esses fármacos são
nutricional pode ser multifatorial, uma vez que indutores da enzima Citocromo P450, principal
eles podem influenciar a ingestão, digestão, responsável pela hidroxilação hepática e conse-
absorção de alimentos e função metabólica, quente inativação da Vitamina D17.
gerando assim uma alteração geral no estado
nutricional. Alterações na função metabólica MÉTODOS COMPUTACIONAIS NA
(ganho de peso, hiperglicemia, dislipidemias, AVALIAÇÃO DAS INTERAÇÕES FÁR-
etc) geradas por fármacos têm sido amplamente MACO-NUTRIENTE.
documentadas6. Alguns estudos documentaram As interações fármaco-nutriente compõem
a associação entre o ganho de peso e hipergli- uma temática de interesse global. No entanto,
cemia ao uso de antipsicóticos de segunda gera- muitas interações ainda são tidas como des-
ção, tais como olanzapina e risperidona, geran- conhecidas. Isso torna nítida a necessidade de
do riscos ao tratamento do diabetes13. métodos cada vez mais sofisticados para o es-
Há também os fármacos relacionados com clarecimento dessas interações18.
a perda de peso. Alguns inibidores de recapta- Atualmente, métodos computacionais estão
ção de serotonina, noradrenalina e dopamina, sendo utilizados para caracterizar as interações
como a sibutramina, causam perda de peso por fármaco-nutriente. Dentre eles, destacam-se os
promoverem sensação de saciedade14. Desta métodos quânticos, que utilizam as leis da mecâ-
forma, caracteriza-se a influência do fármaco nica quântica para avaliar o comportamento de
sobre o estado nutricional. pequenas moléculas e íons e os métodos clássicos,

43
Leal et al. Revista Rios Saúde 2018, 1:4
http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

como a dinâmica molecular, que utiliza as leis da protonadas na molécula da tetraciclina, mais pre-
mecânica clássica newtoniana para descrever o cisamente localizados nas regiões periféricas das
comportamento temporal de moléculas maiores. moléculas (Figura 2). Esse estado protonado é
Esses métodos permitem uma compreensão a gerado pelas hidroxilas presentes nessas regiões
nível molecular dessas interações19. Estudos en- da molécula (regiões de protonação destacas por
volvendo métodos quânticos mostraram detalhes círculos vermelhos)20. Atualmente, sabe-se que
da complexação envolvida na interação entre as tetraciclinas formam complexos com diversos
tetraciclinas e cátions divalentes, como o cálcio, íons, bem como os mecanismos moleculares de
descrita anteriormente. Nestes estudos, formam interação, tais como Ca++, Fe++, Co++, Cu++, Pd++,
propostos sítios de interação em diversas formas entre outros21.

Figura 2 – Representação estrutural da molécula da tetraciclina. Foi ilustrada utilizando o


software VMD (visual molecular dynamics)22, onde carbonos são representados em azul claro,
hidrogênios em branco, oxigênios em vermelho e nitrogênios em azul escuro.

Fonte: Desenvolvida pelos autores

Muito se discutia a respeito da ineficácia do 3 horas após a ingestão leite. Isso ocorre devido
tratamento para alguns tipos de leucemia com 6- à presença da enzima xantina oxidase, que hidro-
mecaptopurina (antineoplásico muito utilizado xila o fármaco, diminuindo significativamente a
no tratamento desse tipos de leucemia), quando biodisponibilidade e a eficácia do tratamento. A
ingerida simultaneamente com leite. A recomen- xantina oxidase está presente no leite, principal-
dação é tomar a 6-mercaptopurina 1 hora antes ou mente leite de vaca. Hoje, já se conhece a dinâ-

44
Leal et al. Revista Rios Saúde 2018, 1:4
http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

mica e os detalhes moleculares dessa interação do molibdênio presente na enzima23. Portanto,


entre a enzima e o fármaco, graças a técnicas torna-se incontestável o fato de que os métodos
computacionais sofisticadas23. A figura 3 mostra computacionais são ferramentas de suporte, que
o sítio ativo da enzima ocupado pela 6-mercap- colaboram com técnicas experimentais para a
topurina. Os principais resíduos presentes no sí- compreensão de eventos ao nível molecular, es-
tio ativo da enzima são os resíduos E802, R880, clarecendo desta forma o mecanismo molecular
T1010 e E1261, localizados próximos ao centro das interações fármaco-nutriente19.

Figura 3 – Representação do sítio ativo da enzima xantina oxidase ocupado pela 6-mercap-
topurina (6-MP). Resíduos presentes no sítio de interação estão representados em superfície
descontinuada e a 6-MP está representada em alcaçuz, na parte superior da figura. Na parte in-
ferior, a região do sítio ativo representado em new cartoon. Foi utilizado o software VMD para
a representação, com o código PDB do complexo – 3ns1.pdb.

Fonte: Desenvolvida pelos autores

Em casos de alterações no estado de nu- norteia a conscientização do paciente por parte


trientes específicos causadas por fármacos, ou dos profissionais como médicos, farmacêuticos
de alterações na biodisponibilidade dos fárma- e nutricionistas. Portanto, a depender do tipo e
cos causadas por nutriente/estado nutricional, dos riscos que essa interação fármaco-nutrien-
faz-se necessário uma abordagem clínica que te oferece, recomenda-se informar e/ou montar

45
Leal et al. Revista Rios Saúde 2018, 1:4
http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

um protocolo de ação clínica que garanta o su- envolvendo as algumas das principais classes
cesso terapêutico e nutricional, sem riscos24. A de fármacos utilizados, nutriente/alimentos,
tabela 3 traz um apanhado geral das interações mecanismo/efeitos e recomendações.

Tabela 3 - Análise das possíveis interações fármaco-nutriente categorizado por classe de fárma-
cos, bem como as recomendações que minimizam os efeitos.
Fármacos Alimentos/nutrientes Mecanismos/efeitos Recomendações
Anti-hipertensivos
Captopril Alimentos em geral Diminuição de 30% Administrar uma hora
a 40% na absorção antes ou duas horas após
do fármaco as refeições
Hidroclorotiazi- Queijo, ovo frito e car- Aumenta a absorção Administrar com alimen-
da ne do fármaco e depleta tos gordurosos
Anti-inflamatórios
Ácido acetilsali- Vitamina C e ácido fó- Diminuição da ab- Ingerir alimentos ricos
cílico lico sorção da vitamina C em vitamina C e ácido
e aumento da excre- fólico ou suplementos 2
ção do ácido fólico horas antes ou depois do
fármaco
Paracetamol Cenoura e alface (fi- Diminui a absorção Evitar alimentos ricos em
bras) do fármaco fibras junto ou próximo à
administração do medi-
camento
Anticonvulsivantes
carbamazepina Vitamina D Inativação da vitami- Suplementar vitamina D
na D duas horas antes da in-
gestão do fármaco
Antineoplásicos
6-Mercaptopuri- Leite Hidroxilação do fár- Ingerir o fármaco 1 hora
na maco antes ou 3 horas após a
ingestão leite
Antibióticos
Alimentos ricos em íons Formação de quela- Ingerir os alimentos/su-
Tetraciclinas divalentes, como cálcio tos. Redução da ab- plementação duas horas
e ferro, ou suplementa- sorção do fármaco antes ou duas horas de-
ções desses íons pois do fármaco
Fonte: Adaptado da referência (24)

46
Leal et al. Revista Rios Saúde 2018, 1:4
http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

A tabela 3 deixou evidente a variabilidade 2. Boullata JI, Armenti VT. Handbook of Drug-Nu-
trient Interactions. vol. 53. 2010. doi:10.1007/978-
farmacológica das interações fármaco-nu- 1-60327-362-6.
3. Péter S, Navis G, de Borst MH, von Schacky C, van
triente. Desta forma, é notório que paciente Orten-Luiten ACB, Zhernakova A, et al. Public he-
hipertensos, obesos, psiquiátricos, portado- alth relevance of drug–nutrition interactions. Eur J
Nutr 2017;56:23–36.
res de câncer, e portadores de processos in- 4. Lombardo M, Eserian JK. Fármacos e alimentos:
interações e influências na terapêutica. Infarma Ci-
flamatórios, entre outros acometimentos pa- ências Farmacêuticas 2014. 26:3: 188-192.
5. Santos CA, Boullata JI. An approach to evalua-
tológicos, estão sob risco dos efeitos danosos ting drug–nutrient interactions. Pharmacotherapy
dessas interações. 2005;25:1789–1800.
6. Boullata JI, Hudson LM. Drug-Nutrient Interac-
tions: A Broad View with Implications for Practice.
J Acad Nutr Diet 2012;112:506–17.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 7. Heldt T, Loss SH. Interação fármaco-nutriente em
unidade de terapia intensiva: revisão da literatura
A interação fármaco-nutriente vem sendo
e recomendações atuais. Rev Bras Ter Intensiva
cada vez mais notória. Apesar disso, há muito 2013;25:162–7.
8. Abbott IJ, and Cairns KA. Drug Dosing in Obesity.
a se esclarecer sobre diversas interações ain- Vol. 2. 2016. doi: 10.1007/978-3-319-44034-7_2.
9. Janson B, Thursky K. Dosing of antibiotics in obe-
da desconhecidas e inexploradas. Além disso, sity. Curr Opin Infect Dis 2012;25:634–49.
muitos protocolos de clínica médica e proto- 10. Tucker CE, Lockwood AM, Nguyen NH. Antibio-
tic dosing in obesity: the search for optimum dosing
colos nutricionais negligenciam essas intera- strategies. Clin Obes. 2014;4(6):287–95.
11. Nelson ML, Levy SB. The history of the tetracycli-
ções. Portanto, estudos como este são indis- nes. Ann N Y Acad Sci 2011;1241:17–32.
12. Neuvonen PJ. Interactions with the Absorption of
pensáveis para a popularização das interações Tetracyclines. Drugs 1976;11:45–54.
fármaco-nutriente, proporcionando assim a 13. Citrome LL, Holt RIG, Zachry WM, Clewell JD, Orth
PA, Karagianis JL, et al. Risk of treatment-emergent
disseminação e facilitando a tomada de deci- diabetes mellitus in patients receiving antipsychotics.
Ann Pharmacother 2007;41:1593–603.
são clínico-nutricional no que concerne à tera- 14. Hofmann FB, Beavo J a, Barrett JE, Ganten D, Ge-
ppetti P, Michel MC, et al. Appetite Control. Handb
pêutica adotada.
Exp Pharmacol 2012;209:469.
15. Basu TK. Vitamin C-aspirin interactions. Int J Vi-
Detalhes dos autores: tam Nutr Res Suppl 1982;23:83–90.
1
Doutor em Inovação Terapêutica UFPE. Biomédico 16. Nafisi S, Bagheri Sadeghi G, Panahyab A. Interaction
pela UFPE. Autor para correspondência: Rua da Boa of aspirin and vitamin C with bovine serum albumin.
Hora, nº 140, Bairro Varadouro, Olinda – PE. Brasil J Photochem Photobiol B Biol 2011;105:198–202.
CEP: 53020110 janilson_jose@hotmail.com, 17. Verrotti A, Coppola G, Parisi P, Mohn A, Chiarelli
2
Acadêmica Bacharelado em Nutrição pela UNIBRA F. Bone and calcium metabolism and antiepileptic
(Centro Universitário Brasileiro). drugs. Clin Neurol Neurosurg 2010;112:1–10.
18. Mason P. Important drug-nutrient interactions. Proc
Conflitos de interesse: Nutr Soc 2010;69:551–7.
Não há conflitos de interesse. 19. Ma C, Bhattacharya S, Yoo J, Wells D, Aksimentiev
A. Modeling and Simulation of Ion Channels. Chem
Recebido: 18 Setembro 2017. Aceito: 06 Dezembro Rev 2012;112:6250–84
2017. Publicado: 30 Março 2018. 20. Carlotti B, Cesaretti A, Elisei F. Complexes of te-
tracyclines with divalent metal cations investigated
by stationary and femtosecond-pulsed techniques.
REFERÊNCIAS Phys Chem Chem Phys 2012;14:823–34.
1. Krishnaswamy K. Drug metabolism and pharma- 21. Bagheri A. Thermodynamic Studies of Metal Com-
cokinetics in malnutrition. Clin Pharmacokinet plexes of Tetracycline and its Application in Drug
1978;3:216–240. Analysis. Pharm Chem J 2015;48:765–9.

47
Leal et al. Revista Rios Saúde 2018, 1:4
http://www.fasete.edu.br/revistariossaude

22. Humphrey W, Dalke A, Schulten K. Journal of mo- uric acid. J Biol Chem 2010; 285(28):44–53.
lecular graphics 1996. 14 (1), 33-38 24. Lopes EM, Carvalho RBN De, Freitas RM De. Aná-
23. Cao H, Pauff JM, Hille R. Substrate orientation and lise das possíveis interações entre medicamentos e
catalytic specificity in the action of xanthine oxida- alimento / nutrientes em pacientes hospitalizados.
se: The sequential hydroxylation of hypoxanthine to Einstein. 2010;8 :298–302.

48

Você também pode gostar